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MULHERES EMPILHADAS

De Patrícia Melo
Por Isaac Daniel Santana Nascimento
MULHERES E LITERATURA: IDENTIDADES,
REPRESENTATIVIDADES DE GÊNERO - PIBIC 2022/2023
COPES/POSGRAP/UFS
● Lançado em 2019, pela editora LeYa;
● Literatura contemporânea;
● Narrado em 1° pessoa;
● Estruturado em 3 eixos discursivos;
● Capa por Kiko Farkes: junção de O
nascimento de Vênus de Botticeli + O
nascimento de Oshun de Harmonia
Rosales
PATRICIA MELO
Escritora, roteirista, dramaturga e artista
plástica brasileira, Patrícia Melo Neschling é
aclamada como uma das principais vozes
contemporâneas da literatura no Brasil.

Estreou na literatura em 1994, com Acqua


Toffana, e ganhou, em 2001, o Prêmio Jabuti de
Literatura pelo romance Inferno, além de ter
sido contemplada em diversas premiações
internacionais. Em 1999, foi incluída pela revista
Time entre os cinco melhores autores
latino-americanos do novo milênio.

Disponível em: https://www.acritica.net/editorias/cultura/realidade-das-ruas-inspira-novo-romance-de-patricia-melo/602103/


ENREDO

1° 2° 3°
A história propriamente Fragmentos de notícias Encontro com o onírico através das
dita, com uma dicção e relatos, com textos jornadas de contato que a protagonista
estabelece com a aldeia dos Ch’askas,
realista e violenta onde que retratam mortes e
através dos sonhos ou delírios que
se desenvolve um histórias reais de acontecem durante o ritual do cipó, que
enredo de um romance mulheres vítimas de traz memórias de traumas do passado
policial. feminicídio. da protagonista, além de uma
compreensão sobre a necessidade da
fala, do apoio, da cum-plicidade para as
mulheres.
“Essa foi a conclusão a que cheguei na
minha segunda semana no tribunal: nós,
mulheres, morremos como moscas. [...]
Trabalhamos o dia inteiro. Somos
independentes. Temos amantes.
Gargalhamos alto. Sustentamos a casa.
Mandamos tudo para o caralho. O curioso
é que não matamos. Incrível como
matamos pouco. Deveríamos, dadas as
estatísticas do quanto morremos, matar
muito mais. Mas, por algum problema
talvez glandular, talvez estrutural, talvez
ético, talvez físico, preferimos não matar. E
assim, acabamos jogadas num terreno
baldio, como a Chirley. “
- MELO, 2019, p. 69
“Nada mais fácil do que aprender a odiar as
mulheres. O que não falta é professor. O pai
ensina. O Estado ensina. O sistema legal ensina.
O mercado ensina. A cultura ensina. A
propaganda ensina. Mas quem melhor ensina,
segundo Bia, é a pornografia”
- Melo, 2019, p. 88)
“Não importa onde você esteja. Não importa sua
classe social. Não importa sua profissão. É
perigoso ser mulher.”
- MELO, 2019. p. 72
Descaso e negligência com os
indígenas
Na verdade, estavam se lixando para Txupira. “– Os indígenas não são invisíveis na
Txupira não era branca, não se encaixava na nossa sociedade, como os negros. Não é
categoria de vítima que a imprensa gosta de disso que estamos falando. É diferente. É
explorar. Era indígena ainda por cima. E outra coisa. Eles simplesmente não
indígena, no nosso sistema de castas, cujo topo existem. Eles foram dizimados. Estão
é dominado por ricos e brancos, fica abaixo de sendo dizimados. Vai lá ver no Ministério
preto, que está abaixo de pobre, que está da Igualdade Social: não há uma única
abaixo de mulher. A vida dos indígenas, no política indígena. Eles simplesmente não
nosso sistema de castas, tem o mesmo valor
pertencem à nossa sociedade. Eles não
que a vida dos loucos em hospícios ou das
existem. É por isso que a morte de
crianças que ficam paradas em semáforos
Txupira” – disse – “é ainda mais
pedindo esmola. Estamos cagando para os
inaceitável. É a morte do unicórnio.”
nossos índios.
- MELO, 2019, p. 73
- MELO, 2019, p. 153
Silenciamento
Pego meu caderno de mulheres empilhadas e No romance, pode-se perceber
começo a ler a acusação. – Quando uma mulher uma crítica ao auto
morre, sua história deve ser contada e recontada
silenciamento esperado das
mil vezes. Txupira nunca mais vai mergulhar com
Naia. Nem cantar as canções aprendidas com a avó. mulheres, frente à conquista de
Txupira nunca será mãe. Nem terá netos. Txupira espaços onde não costumavam
não vai ver mais garças, nem mutuns ou araras estar.
amarelas. Nem comer miojo, como ela gostava de
A superação das estratégias de
fazer, ao voltar da escola. Txupira não vai mais
dormir no chão de paxiúba. Nem ter aulas de
silenciamento inclui enfrentar
português. Ou catar piolhos do irmão mais novo. um certo tipo de opressor
Alguém tem que pagar por esse déficit vital. disposto a matar, o que
- MELO, 2019, p. 144 aconteceu com Txupira.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZdpZ-93uUnY
REFERÊNCIAS
● SANTOS, Julia Natália Araújo. CARVALHO Felipe Rodolfo de. Direito de viver
sem violência: proteção e desafios dos direitos das mulheres indígenas no
Sistema Interamericano de Direitos Humanos. Revista Brasileira de Políticas
Públicas. Vol.10, N°2, p. 418-436, Ago. 2020.
● COUTINHO, I. Trajetórias de (des)aprendizagens em Mulheres empilhadas, de
Patrícia Melo. Veredas: Revista da Associação Internacional de Lusitanistas, n.
37, p. 24-40, 4 set. 2022.
● MELO, Patrícia. Mulheres Empilhadas.. São Paulo: LeYa, 2019.
● Mulamba - P.U.T.A (haistudio). Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=ZdpZ-93uUnY
● Violência contra mulheres em 2021. Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Disponível em:
https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2022/03/violencia-contra
-mulher-2021-v5.pdf

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