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220/2017-3
RELATÓRIO
Transcrevo a seguir, com alguns ajustes de forma pertinentes, a análise empreendida pela
equipe de auditoria, cuja proposta de encaminhamento contou com a anuência do escalão dirigente da
SecexSaúde (peça 57):
“I. Apresentação
1. O presente trabalho trata de auditoria de conformidade no processo de Certificação das
Entidades Beneficentes de Assistência Social na área da saúde (CEBAS Saúde).
2. Este trabalho integra a Fiscalização de Orientação Centralizada (FOC) sob a
supervisão e coordenação da Secretaria de Macroavaliação Governamental (Semag), TC
015.940/2017-9 (registro Fiscalis 201/2017), que tem por objetivo verificar a regularidade do
processo de concessão de renúncias tributárias relacionadas à área social e de
desenvolvimento.
3. No âmbito dessa FOC, serão avaliadas a regularidade: do processo de Certificação das
Entidades Beneficentes de Assistência Social para entidades que possuem atuação na área da
saúde, da educação e da assistência social; dos procedimentos administrativos para concessão e
a manutenção dos benefícios fiscais previstos na Lei de Informática, e; da atuação da
Superintendência da Zona Franca de Manaus na detecção de fraudes fiscais decorrentes da
simulação de vendas para empresas fantasmas e/ou montadas na Região Norte, com o objetivo
de se beneficiar dos incentivos da Zona Franca de Manaus, por se tratar de requisitos básicos
para que as entidades façam jus ao benefício fiscal previsto no §7º do art. 195 da Constituição
Federal de 1988.
II. Introdução
II.1. Deliberação que originou o trabalho
4. Esta Auditoria de Conformidade tem por objetivo avaliar a regularidade do processo de
Certificação das Entidades Beneficentes de Assistência Social na área da saúde (CEBAS Saúde).
Foi autorizada por meio de despacho do Ministro Relator Augusto Nardes, datado de 13/6/2017,
no processo administrativo TC 014.866/2017-0 (peça 4). O processo de Certificação das
Entidades Beneficentes de Assistência Social é o principal requisito para o usufruto da renúncia
tributária prevista no §7º do art. 195 da Constituição Federal de 1988.
5. A principal motivação para realização da auditoria do CEBAS Saúde está diretamente
relacionada à materialidade dos recursos financeiros dispendidos com a renúncia fiscal, os
quais foram estimados para 2016 na quantia de R$ 6,34 bilhões e para 2017, R$ 6,58 bilhões,
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segundo os Demonstrativos dos Gastos Tributários Bases Efetivas - Série 2012-2017, de março
de 2017.
6. Embora a materialidade tenha direcionado o início da fiscalização, cabe assinalar que
a avaliação do processo de Certificação das Entidades Beneficentes de Assistência Social na
área da saúde não envolveu questões relacionadas às competências da Secretaria da Receita
Federal do Brasil (SRFB) no que se refere à fiscalização da regularidade dos benefícios fiscais
usufruídos.
7. Ressalta-se, ainda, que este trabalho foi realizado de acordo com as Normas para
Auditoria de Conformidade da Organização Internacional das Entidades Fiscalizadoras
Superiores (Intosai), ISSAI 4000 (Normas Internacionais das Entidades Fiscalizadoras
Superiores). Trata-se de um trabalho de asseguração razoável, que utilizou a metodologia de
auditoria de conformidade baseada em riscos, num trabalho de relatório direto, cujo objetivo foi
emitir uma conclusão sobre o objeto auditado com um nível de asseguração razoável
estabelecido previamente, em consonância com os requisitos da ISSAI 4000.
II.2. Visão geral do objeto
II.2.1 - Renúncia de Receitas
8. As renúncias de receitas (ou gastos tributários) são despesas indiretas do governo,
realizadas por intermédio do sistema tributário, visando a atender objetivos econômicos e
sociais. São incentivos governamentais, em que o Estado deixa de arrecadar parte dos tributos
ao efetuar um pagamento indireto a uma política pública específica (Demonstrativos dos Gastos
Tributários – PLOA 2017).
9. No Brasil, a obrigatoriedade de acompanhar os gastos tributários está inscrita na
Constituição Federal e na Lei de Responsabilidade Fiscal, por se tratar de recursos estatais que
também financiam políticas públicas com ou sem contrapartidas. Neste contexto, cabe ao
Tribunal de Contas da União (TCU) a fiscalização sobre a aplicação das renúncias de receitas.
10. A mensuração da renúncia da arrecadação fiscal é realizada pela SRFB, por meio dos
‘Demonstrativos dos Gastos Tributários’ publicados anualmente, cujo objetivo é estimar o
montante dos gastos tributários com vista a atender o §6º do art. 165 da CF/88. As estimativas
da SRFB são realizadas com base em dados agregados e consistem em simular a apuração
normal do tributo, a partir das declarações e escriturações apresentadas pelos contribuintes.
11. Com base nos demonstrativos, publicados em março de 2017 pela SRFB, extraíram-se
as informações da tabela 1. Nela, a função saúde figura na terceira colocação das estimativas
calculadas dos gastos tributários para 2017.
Tabela 1 – Evolução dos gastos tributários por Função Orçamentária
Série 2012-2017 em reais
Estimativas
seq Função orçamentária
2015 % 2016 % 2017 %
1 Comércio e Serviços 74.307.452.842,00 27% 75.942.371.068,00 28% 79.786.839.441,00 29%
2 Trabalho 50.141.982.835,00 18% 40.733.990.197,00 15% 41.863.627.565,00 15%
3 Saúde 32.414.802.943,00 12% 34.223.680.262,00 13% 35.681.097.835,00 13%
4 Indústria 32.603.602.988,00 12% 32.288.193.403,00 12% 33.417.615.510,00 12%
5 Agricultura 24.106.455.682,00 9% 24.896.314.425,00 9% 25.291.869.547,00 9%
6 Educação 12.601.959.901,00 5% 13.112.412.773,00 5% 13.661.402.476,00 5%
7 Assistência Social 12.131.447.257,00 4% 12.541.451.406,00 5% 13.072.192.583,00 5%
Outras funções
... 38.832.136.292,00 14% 37.134.760.080,00 14% 33.095.932.100,00
governamentais 12%
Total 277.139.840.740,00 100% 270.873.173.614,00 100% 275.870.577.057,00 100%
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12. A maior parte dos gastos tributários na saúde tem caráter compensatório, seja para
compensar serviços não atendidos pelo Estado ou compensar ações complementares às funções
típicas de Estado desenvolvidas por entidades civis.
13. Apesar de serem considerados gastos públicos, os controles sobre a renúncia de
receita ocorrem à margem do orçamento público federal, inclusive a da função orçamentária
saúde. Assim, cabe à legislação regulamentar o direito ao benefício fiscal e os controles da
administração pública para que os gastos tributários atinjam os objetivos para os quais foram
estabelecidos e obedeçam aos requisitos definidos para concessão.
14. Segundo os Demonstrativos dos Gastos Tributários elaborado pela SRFB, as
renúncias de receitas na Saúde estão distribuídas em nove modalidades de gastos:
Tabela 2 – Modalidade de Gasto Tributário – Função Saúde
Seq. Modalidade do Gasto 2015 % 2016 % 2017 %
1 Despesas Médicas 11.587.797.279 36% 11.993.528.680 35% 12.456.318.205 35%
2 Entidades Filantrópicas 6.126.626.102 19% 6.341.141.815 19% 6.585.824.934 18%
Entidades sem Fins Lucrativos - Assist.
3 3.387.625.140 10% 3.551.269.370 10% 3.718.900.405 10%
Social e Saúde
4 Medicamentos 4.724.659.088 15% 4.952.890.717 14% 5.186.682.669 15%
Assist. Médica, Odonto e Farmacêutica a
5 4.538.823.419 14% 4.758.077.981 14% 4.982.674.162 14%
Empregado
6 Produtos Químicos e Farmacêuticos 1.894.410.121 6% 2.464.527.585 7% 2.580.861.005 7%
Programa Nacional de Apoio à Atenção
7 72.727.055 0% 76.184.127 0% 79.742.607 0%
Oncológica (Pronon)
8 Água Mineral 70.340.000 0% 73.737.877 0% 77.218.536 0%
Programa Nacional de Apoio à Atenção da
9 Saúde da Pessoa com Deficiência 11.794.737 0% 12.322.109 0% 12.875.312 0%
(Pronas/PCD)
Totais 32.414.802.941 100% 34.223.680.261 100% 35.681.097.835 100%
Fonte: Demonstrativo do Gasto Tributário - Base efetiva 2014, série 2012 a 2017, Secretaria
da Receita Federal do Brasil.
Celebrar contrato, convênio ou instrumento congênere Aplicar todas rendas e recursos de volta na própria instituição (art.
com o gestor do Sistema Único de Saúde - SUS (art. 4º, I) 29, II)
Apresentar certidão negativa ou certidão positiva com efeito de
Ofertar a prestação de seus serviços ao SUS (art. 4º, II) negativa de débitos dos tributos federais e certificado do FGTS (art.
29, III)
Comprovar, anualmente, da forma regulamentada pelo
Manter escrituração contábil regular (art. 29, IV)
Ministério da Saúde, a prestação dos serviços (art. 4º, III)
Não distribuir resultados, dividendos, bonificações, participações ou
parcelas do seu patrimônio (art. 29, V)
Conservar em boa ordem, pelo prazo de 10 (dez) anos, contado da
data da emissão, os documentos que comprovem a origem e a
aplicação de seus recursos (art. 29, VI)
Cumprir as obrigações acessórias estabelecidas na legislação
tributária (art. 29, VII)
Apresentar as demonstrações contábeis e financeiras devidamente
auditadas por auditor independente, quando for o caso (art. 29, VIII)
A remuneração dos dirigentes estatutários deve ser inferior, em seu
valor bruto, a 70% do limite para a remuneração dos servidores do
Poder Executivo Federal (art. 29, §1º, II)
Nenhum dirigente remunerado poderá ser cônjuge ou parente até
(terceiro grau, inclusive afim, de instituidores, sócios, diretores,
conselheiros, benfeitores ou equivalentes da instituição (art. 29, §2º,
I)
A remuneração da pessoa do dirigente estatutário ou diretor que,
cumulativamente, tenha vínculo estatutário e empregatício, somente
poderá ocorrer se houver compatibilidade de jornadas de trabalho
(art. 29, §3º)
19. A Lei 12.101/2009 estabelece que somente serão certificadas as entidades que
cumprirem todos os requisitos previstos, pelo prazo de 3 a 5 anos, devendo a entidade solicitar
renovação do certificado em até 360 dias antes do fim da vigência do CEBAS anterior.
20. Entretanto, para um dos requisitos, a lei elenca alternativas ao seu cumprimento.
Trata-se do requisito relativo à oferta de prestação de seus serviços ao SUS, no percentual
mínimo de 60% (sessenta por cento), contido no art. 4º, II.
21. Considerando a diversidade de entidades e serviços prestados, a legislação
disponibiliza formas diversas de prestação de serviços de saúde ao SUS:
Condição 1: Prestação de no mínimo 60% de ações e serviços ao SUS (serviços de internação
hospitalar e/ou ambulatoriais), (art. 4º, II; 6º e 6º-A).
Condição 2: Prestação de percentual inferior a 60% de ações e serviços ao SUS, com
complementação em gratuidade (art. 8º).
Condição 3: Aplicação de no mínimo 20% da receita bruta em ações e serviços em
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gratuidade, quando não houver interesse do gestor local de saúde em contratar (art. 8º).
Condição 4: Aplicação exclusiva das ações na promoção da saúde, conforme ações
definidas em lei (art. 8º-A).
Condição 5: Prestação de serviços de atendimento e acolhimento voltados para pessoas
dependentes de substâncias psicoativas (art. 7º-A).
Condição 6: Aplicação de no mínimo 20% de sua receita bruta na prestação de ações
exclusivamente de promoção da saúde para pessoas dependentes de drogas (art. 8º-B).
Condição 7: Execução de Projetos de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS
(Proadi-SUS) (art. 11).
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53. O risco de auditoria foi então fixado em 5%, o que significa afirmar que as conclusões
extraídas da aplicação dos procedimentos de auditoria estão, com 95% de certeza, em relação
aos certificados concedidos/renovados e supervisionados, referentes ao período de 2010 a 2017
e cujos processos encontravam-se concluídos, em conformidade com a Lei 12.101/2009. Ou
seja, há 95% de segurança razoável de que as informações e análises não contém desvios
relevantes.
54. A fixação do risco de auditoria em 5% teve implicações na extensão dos
procedimentos de auditoria que foram realizados na fase de execução. Assim, a definição tanto
do tamanho da amostra de processos a serem analisados quanto dos tipos de testes aplicados
levou em consideração esse percentual de risco de auditoria.
55. Esquematicamente, a essência da auditoria baseada em risco resume-se na
identificação e avaliação de riscos e controles, conforme as cinco grandes etapas abaixo:
Figura 1 – Etapas da identificação e avaliação de riscos e controles
Identificação de eventos que podem representar risco ao alcance dos objetivos para a
política/programa/processo.
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aspectos relevantes para o alcance dos objetivos, não apenas do ponto de vista dos processos de
trabalho em si, mas considerando questões que permeiam todo o processo de certificação das
entidades beneficentes de assistência social na área da saúde. A SWOT encontra-se registrada
no mencionado PT1- Entendimento do Objeto (peça 38).
59. De posse desses papéis de trabalho, a equipe de auditoria passou às atividades
relativas à identificação dos eventos de riscos que poderiam comprometer o alcance dos
objetivos para os dois principais processos de trabalho do DCEBAS, já mencionados nos
parágrafos anteriores. O método da abordagem baseada em risco preconiza ainda que se
defina, para todos os eventos de riscos, suas causas e suas consequências.
60. Passada a fase de identificação dos eventos de risco, teve início a fase de avaliação.
Nesse momento, estimou-se o chamado risco inerente. Segundo o Glossário de Controle
Externo, risco inerente é aquele risco intrínseco à natureza do negócio, da atividade ou do
processo da entidade, na ausência de controles para reduzir a probabilidade do evento ou o seu
impacto nos objetivos (INTOSAI, 2007);
61. A estimativa do risco inerente é feita com base na atribuição de um conceito
qualitativo para a probabilidade da sua ocorrência e para o seu impacto no alcance dos
objetivos. Em seguida, utiliza-se a seguinte fórmula: RI = I x P (risco inerente = impacto nos
objetivos x probabilidade de ocorrência do risco). A tabela 6 apresenta os possíveis resultados,
considerando que para as duas variáveis a escala é a mesma: Muito Baixa, Baixa, Média, Alta e
Muito Alta.
Tabela 6 – Avaliação de Impacto e Probabilidade para cálculo do Risco Inerente
Probabilidade
Muito Baixa (0,1) Baixa (0,2) Média (0,5) Alta (0,8) Muito Alta (1)
Muito alto (1) Médio 0,10 Médio 0,20 Alto 0,50 Extremo 0,80 Extremo 1
Alto (0,8) Baixo 0,08 Médio 0,16 Alto 0,40 Alto 0,64 Extremo 0,80
Impacto
Médio (0,5) Baixo 0,05 Médio 0,10 Médio 0,25 Alto 0,40 Alto 0,50
Baixo (0,2) Baixo 0,02 Baixo 0,04 Médio 0,10 Médio 0,16 Médio 0,20
Muito Baixo (0,1) Baixo 0,01 Baixo 0,02 Baixo 0,05 Baixo 0,08 Médio 0,10
Fonte: Manual de Auditoria Financeira do TCU.
62. As células marcadas com avaliação a inferior a 0,10 possuem risco baixo; aquelas
compreendidas no intervalo entre 0,10 até 0,25, risco médio; acima de 0,25, mas abaixo de 0,80,
risco alto; e a partir 0,80, risco extremo.
63. Após a avaliação dos riscos inerentes, tem início, ainda na fase de planejamento, a
identificação e avaliação das respostas adotadas pela administração para prevenir/mitigar os
eventos de risco identificados. Para essa finalidade, a equipe preliminarmente aplicou um
questionário de avaliação de controles internos (QACI), que permitiu um entendimento dos
controles internos sob uma perspectiva mais geral.
64. O QACI incorpora as cinco dimensões do Modelo COSO (Committee of Sponsoring
Organizations of the Treadway Commission) para controles internos: ambiente de controle,
avaliação de riscos, atividades de controle, informação e comunicação e atividades de
monitoramento. Para cada um desses ambientes, há critérios de avaliação sob os quais a equipe
de auditoria se manifestou com um conceito de 1 a 5, em uma ordem constante de concordância.
Importante destacar que alguns desses critérios não puderam ser avaliados. A avaliação
preliminar dos controles internos do DCEBAS encontra-se no PT2 - Questionário de Avaliação
do Controle Interno (peça 39). A tela a seguir exemplifica o QACI utilizado.
65. Após a aplicação do QACI, a equipe adentrou especificamente nos dois processos de
trabalho do DCEBAS e procurou identificar os eventos de risco, bem como as respostas que o
departamento adotou para prevenir/reduzir sua ocorrência e/ou seu impacto para o alcance dos
10
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objetivos.
66. Feita essa identificação, a equipe de auditoria consultou um pequeno número de
processos administrativos – um de certificação, um de renovação e um de supervisão. O objetivo
era fazer uma avaliação preliminar da eficácia dos controles adotados, para assim, definir o
chamado risco de controle (RC).
67. Nesse momento, já com as avaliações do risco inerente e do risco de controle
disponíveis, a equipe adquiriu conhecimento para mensurar o risco de distorção relevante
(RDR) ou risco residual (RR). Esse pode ser definido como aquele que é resultado da eficácia da
atuação dos controles sob os riscos inerentes. Sinteticamente, é o risco que permanece após a
mitigação pelos controles internos.
68. A figura 3 apresenta de forma resumida o cálculo do risco de auditoria, considerando
as suas três dimensões: inerente, controle e detecção. Por sua vez, a tabela 7 detalha o nível do
risco residual obtido a partir da interação entre RI e RC.
Figura 2 – Modelo de risco de auditoria
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 017.220/2017-3
Atributos de interesse 15
Nível de confiança 95%
Desvio Tolerável (erro tolerável) 5%
Desvio esperado na população – inicial 1%
Desvio esperado na população – final 0%
Amostra inicial 93
Amostra após ajuste no desvio esperado 59
Fonte: PT 5 - Plano Amostral
75. Além das informações relativas a esses testes de controle, o plano amostral também
orienta a respeito do teste de controle e do teste substantivo relacionado à produção de
serviços em saúde, disponíveis nas bases de dados do Departamento de Informática do SUS
(Datasus), utilizados pelo DCEBAS para conceder a certificação.
Quadro 4 – Informações dos testes de controle /substantivo para produção de serviços em
saúde
Coletar evidências sobre a efetividade de parte dos controles internos
Objetivo dos testes de
relacionados ao processo de concessão e supervisão das Entidades
controle/substantivo
Beneficentes de Assistência Social na área da saúde.
Período coberto
2010 a 2017 (31 de agosto de 2017)
pelos testes
Elemento 2490 processos de concessão e renovação e 898 processos de
População amostral supervisão
Todos os processos de concessão/renovação e todos os processos de
Completude da
supervisão do Certificado das Entidades de Assistência Social na área
população
da saúde (iniciados de 2012 até a agosto de 2017).
Atributos de interesse 2
Nível de confiança 95%
Desvio Tolerável (erro tolerável) 5%
Desvio esperado na população 0%
59 (41 processos de concessão/renovação e 18 processos de
Amostra
supervisão)
Fonte: PT 5 - Plano Amostral
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43), PT 7 - Tabulação dos resultados dos testes de controle no processo de supervisão (peça 44)
e PT 8 - Conferência da produção de serviços saúde (peça 45).
78. Necessário destacar que, tanto para os processos de concessão/renovação como para
os de supervisão, houve necessidade da elaboração de uma amostra para reposição, já que nem
todos os processos tinham as condições necessárias para se submeterem a avaliação de todos os
atributos de interesse.
79. Uma situação comum, que ilustra essa necessidade de suplementação da amostra,
refere-se a processos iniciados em 2017. Em geral, nesses processos não havia qualquer
manifestação do DCEBAS, o que inviabilizava a identificação de evidências da atuação do
controle pelo departamento.
80. O objetivo final deste trabalho foi emitir uma conclusão, com asseguração razoável
(95% de confiança) em relação aos certificados concedidos/renovados e supervisionados,
referentes ao período de 2010 a 2017 e cujos processos encontravam-se concluídos, sobre a
regularidade do processo de certificação das entidades beneficentes de saúde. Ou seja, se o
processo de trabalho oferece segurança razoável de que somente entidades que cumpriram os
requisitos legais sejam certificadas e/ou se mantenham certificadas.
81. Trata-se de trabalho de relatório direto, segundo a ISSAI 4000. Ressalta-se que a
metodologia do trabalho foi a de auditoria baseada em risco e obedeceu tanto aos requisitos das
normas de auditoria do TCU (Portaria-TCU 280, de 8 de dezembro de 2010, alterada pela
Portaria-TCU 168, de 30 de junho de 2011) e com observância aos Padrões de Auditoria de
Conformidade estabelecidos pelo TCU (Portaria-Segecex 26, de 19 de outubro de 2009), quanto
das normas de auditoria da INTOSAI (ISSAI 100, 200 e 4000).
II.5. Limitações
82. Não foram identificadas limitações.
II.6. Volume de recursos fiscalizados
Tabela 8 – Materialidade: Modalidade de Gasto Tributário – Função Saúde
Modalidade do Gasto 2016 2017
Entidades Filantrópicas 6.341.141.815 6.585.824.934
Fonte: Demonstrativo do Gasto Tributário - Base efetiva 2014, série 2012 a 2017, Receita
Federal do Brasil.
II.7. Benefícios estimados da fiscalização
83. O benefício estimado desta auditoria, em relação à conclusão, com asseguração
razoável, pela regularidade do processo de certificação das entidades beneficentes de saúde, se
traduz na confirmação da confiabilidade dos processos de trabalhos realizados pelo DCEBAS e,
consequentemente, na aplicação dos requisitos legais ao se conceder ou manter um certificado a
determinada entidade.
84. Além disso, vislumbra-se a utilização das estratégias e dos mecanismos utilizados pelo
Ministério da Saúde desde 2010 para cumprir a Lei 12.101/2009 como boas práticas a serem
adotadas, desde que aplicáveis, para os outros ministérios certificadores, MDS e MEC.
Ademais, em relação à existência de elevado passivo de certificados concedidos com vigência
até 2016 ainda não supervisionados, o benefício estimado consiste na possibilidade de
reorganização da força de trabalho do DCEBAS de modo a permitir que as supervisões dos
certificados sejam mais tempestivas e orientadas por critérios de riscos.
II.8. Processos conexos
85. Foram constatados os seguintes processos conexos a este trabalho:
a) TC 015.940/2017-9: Fiscalização de Orientação Centralizada (FOC) - Renúncia de
Receita - TC Consolidador;
b) TC 023.387/2017-3: Auditoria de conformidade com o objetivo de analisar a
regularidade da concessão da Certificação de Entidades Beneficentes de Assistência Social na
área de educação;
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significa que para todos os processos analisados o percentual de serviços calculado pela equipe
de auditoria estava igual ou muito próximo ao calculado pelo DCEBAS e, em todos os casos,
permaneceram acima do mínimo exigido pela lei, conforme consta registrado no PT 8 (peça 45).
86.4 Em alguns poucos casos, houve divergência não significativa desse percentual de
prestação de serviços. Tais divergências estavam relacionadas aos atendimentos/internações
particulares (dados extraídos do Sistema de Comunicação de Informações Hospitalar e
Ambulatorial - CIHA), que foram alimentados e/ou retificados posteriormente à análise pelo
DCEBAS. Isso pode ser explicado pelo fato dessas informações terem passado a ser exigidas
para fins de certificação das entidades de saúde a partir da publicação da Lei 12.101/2009, não
havendo até então habitualidade por parte das entidades de saúde na sua alimentação. Em
razão da lei, foi necessário que o Ministério da Saúde constituísse um programa nos sistemas de
informações do SUS para registrar os atendimentos realizados a particulares (tanto desembolso
direto, como planos de saúde). Desse modo, os números da CIHA nos exercícios de 2010 e 2011
foram os que mais apresentaram inconsistências em relação aos encontrados pela auditoria.
86.5 Alguns exemplos de alimentação posterior dessas informações da CIHA, constatada
durante a conferência dos dados de produção de serviços por essa equipe de auditoria, se
encontram acostados à peça 31.
86.6 Os testes demonstraram que nenhuma entidade da amostra, cuja prestação de
serviços ao SUS foi recalculada, apresentou percentual inferior ao mínimo exigido pela Lei
12.101/2009. Todas as diferenças encontradas tiveram impacto não significativo no total de
atendimentos/internações, e não chegaram a alterar o percentual mínimo exigido de serviços
prestados ao SUS, bem como não alteraram a decisão tomada pelo DCEBAS quanto à
certificação.
86.7 Esses procedimentos foram realizados de modo a complementar os testes de controles
efetuados.
87. Objetos nos quais o achado foi constatado: Processos administrativos de concessão,
renovação e supervisão do CEBAS Saúde listados nos planos amostrais (peça 43 - PT6 e peça
44 - PT7).
88. Critério de auditoria:
a) Lei 12.101/2009, art. 1º; art. 3º, inciso II; art. 4º, incisos I, II e III, §1º a 3º; art. 5º; art.
6º; art. 6-A; art. 8º; art. 34, § 1º;
b) Portaria 834/2016, art. 30, II e XI; e
c) Decreto 8.242/2014 art. 4º, § 1º.
89. Evidências:
a) Testes de controle realizados em 71 processos administrativos de concessão/renovação,
selecionados aleatoriamente, cobrindo 23 atributos de controle relacionados aos requisitos
legais referentes a estatuto da entidade, contrato com o gestor local de saúde (secretário
municipal ou estadual de saúde) e produção de serviços (peça 43 - PT6). Apesar de, em
conformidade com o plano amostral, ser suficiente a análise de 59 processos de
concessão/renovação, a equipe de auditoria analisou 71 processos;
b) Testes de controle realizados em 59 processos administrativos de supervisão,
selecionados aleatoriamente, cobrindo quinze atributos de controle relacionados aos requisitos
legais referentes a estatuto da entidade, contrato com o gestor local de saúde e produção de
serviços (peça 44 - PT7);
c) Testes substantivos realizados em 59 processos administrativos (41 de concessão e 18
de supervisão), utilizando dados de produção de serviços de saúde constantes dos sistemas
informatizados utilizados pelo DCEBAS para o cálculo do percentual de serviços prestados ao
SUS pela entidade (SIA, SIH e CIHA) (peça 45 - PT8).
90. Causas: O sistema de controles estruturado para os processos de
concessão/renovação e supervisão do CEBAS Saúde baseia-se na adoção de políticas e
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Portaria SAS/MS 118, de 18/2/2014, o que auxilia na manutenção da qualidade das informações
do cadastro. Em caso de entidade cujo cadastro esteja desatualizado, o DCEBAS somente defere
o pedido de concessão ou renovação CEBAS Saúde depois de diligenciar a entidade e o gestor
local.
91. Efeitos reais e potenciais: Certificar e/ou manter certificadas apenas as entidades que
fazem jus à certificação contribuem para assegurar a oferta de serviços de saúde à população.
Outro importante efeito decorrente do processo de certificação regular consistiu na melhora da
qualidade e da atualização dos dados ambulatoriais e de internações nos sistemas
informatizados de saúde (SIA, SIH, CIHA), uma vez que para a análise dos processos pelo
DCEBAS esses dados são exigidos e as entidades/gestores de saúde são diligenciados sempre
que identificadas lacunas no preenchimento desses dados ou no caso de dúvidas sobre os
números apresentados.
91.1 Além disso, considera-se que o processo de certificação/supervisão do CEBAS Saúde,
ao exigir, em conformidade com a lei, que haja contratação entre a entidade beneficente e o
gestor de saúde local (secretaria municipal ou estadual de saúde), fortaleceu a participação da
instância local no controle das entidades beneficentes para fins de planejamento da oferta de
serviços de saúde, bem como de fiscalização desses serviços.
92. Conclusão: Ante o exposto, concluiu-se que os processos de concessão/renovação e de
supervisão do CEBAS Saúde funcionam adequadamente e estão em conformidade, em todos os
aspectos relevantes, com os critérios aplicáveis, qual sejam, os requisitos da Lei 12.101/2009.
De modo que a certificação e/ou manutenção do certificado ocorre apenas para entidades que
cumprem os requisitos previstos na legislação, contribuindo, assim, para assegurar a oferta de
serviços de saúde à população. A conclusão expressa tem um nível de asseguração de 95% de
confiança (asseguração razoável) em relação aos certificados concedidos/renovados e
supervisionados, referentes ao período de 2010 a 2017 e cujos processos encontravam-se
concluídos, e está em consonância com as normas e auditoria estabelecidas pelo TCU e pela
INTOSAI.
93. Proposta de encaminhamento: Não aplicável a este caso.
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94.3 Segundo a gestora responsável pela supervisão, o primeiro requisito para se iniciar
uma supervisão é ter portaria publicada e ter um período passível de supervisão. Embora a
certificação seja concedida para períodos de 3 ou 5 anos, a verificação do cumprimento dos
requisitos é anual, por isso é preciso que se tenha decorrido pelo menos um exercício para que
se possa iniciar o processo de supervisão.
94.4 Contudo, a regra geral é que o processo de supervisão seja aberto ao final do
período de vigência do certificado. As exceções são entidades que tenham apresentados riscos
decorrentes das análises no momento da renovação, ou de denúncia, ou processos judiciais,
representações e demandas de órgão de controle e fiscalização (tais como TCU, CGU,
Departamento Nacional de Auditoria do SUS - Denasus, Ministério Público), conforme extrato
de entrevista datada de 17/8/17 (peça 30).
95. Objetos nos quais o achado foi constatado: Estoque de processos de supervisão não
iniciados (peça 34, p. 1-2, Relatório de Desempenho Operacional da área técnica de
supervisão).
96. Critério de auditoria:
a) Lei 12.101/2009, art. 25 e 36;
b) Decreto 8.242/2014, art. 3º, §3º e art. 15 e 16; e
c) Portaria 834/2016, art. 51 a 53 e art. 59.
97. Evidências: O Relatório de Desempenho Operacional, de 1/8/2017, da área técnica de
supervisão do DCEBAS, informa que de um total de 898 processos de supervisão autuados, 567
foram concluídos e 328 estão em aberto. Há ainda outros 644 certificados com vigência até
2016 passíveis de supervisão e que, no entanto, os processos de supervisão ainda não foram
iniciados (peça 34, p.1-2).
97.1 De acordo com os dados do Relatório de Gestão 2016 da área técnica de supervisão,
referente a 2016, a equipe concluiu de 2012 a 2016, anualmente, uma média de 100 processos
de supervisão (peça 35, p. 2).
98. Causas: Com a aprovação da Lei 12.101, de 27/11/2009, a responsabilidade pela
certificação das entidades beneficentes, anteriormente a cargo do Conselho Nacional de
Assistência Social (CNAS), foi transferida a três ministérios: da Saúde, da Educação, e do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome, de acordo com a respectiva área de atuação da
entidade.
98.1 Tendo em vista a complexidade dessa nova competência, o Ministério da Saúde
instituiu, no âmbito da SAS, o DCEBAS, com a atribuição de conduzir os processos relativos à
certificação das entidades beneficentes de assistência social na área de saúde, conforme já
explicitado no tópico II.2.4.
98.2 Em 2010, o passivo de processos do CNAS recebido no Ministério da Saúde foi de
aproximadamente 2.000 processos pendentes de análise, entre concessão, renovação,
reconsideração, recurso, revisão administrativa e representação. Nesse ano e no seguinte, 2011,
foi o período de organização dos processos recebidos e da própria estrutura do DCEBAS. A
área técnica de supervisão do DCEBAS somente foi estruturada no final de 2012.
98.3 Segundo a diretora do DCEBAS, a criação do departamento no MS deu-se com a
publicação do Decreto 7.336, de 19/10/2010 (atualmente revogado pelo Decreto 8.901, de
10/11/2016), sem, contudo, contar com equipe técnica suficiente e com conhecimento na área de
certificação, nem de supervisão, para atendimento da demanda, inclusive pela especificidade do
assunto (peça 26, p. 3).
98.4 Estruturou-se, então, duas coordenações: a Coordenação-Geral de Análise e Gestão
de Processos e Sistemas e a Coordenação-Geral de Certificação. Como não foi estruturada uma
coordenação específica para supervisão, na prática, alguns servidores da Coordenação de
Certificação foram destacados para realizarem as supervisões e, para isso, foram lotados no
Gabinete do DCEBAS. Dessa forma, pretendeu-se preservar a segregação de funções (quem
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pela Coordenação-Geral de Auditoria Interna, com base nas informações prestadas pela área
técnica responsável, a solicitação foi negada sob a alegação de sigilo fiscal, por entender ‘não
ser possível encaminhar dados fiscais individualizados de contribuintes’ (peça 20, p. 12).
106. Destaque-se que o art. 70 da Constituição Federal de 1988 e o §1º do art. 1º da Lei
8.443/1992, Lei Orgânica do TCU, preveem a competência deste Tribunal para fiscalizar as
renúncias de receitas, opinando sobre sua legalidade, legitimidade e economicidade. No
entanto, a negativa da SRFB em fornecer informações que estão sob seu domínio impede esta
Corte de Contas de desempenhar plenamente suas competências constitucionais e legais.
107. Ainda no Ofício 643/2017-RFB/Gabinete, a SRFB informou que, no exercício base de
2015, existiam 2.330 CNPJ de entidades da área de saúde gozando do benefício fiscal previsto
no §7º do art. 195 da Constituição Federal (peça 20. p. 13). Já segundo a Declaração de
Benefícios Fiscais (DBF), encaminhadas pelo MS à SRFB em razão de obrigação acessória,
consta que, também em 2015, existiam 2.083 entidades certificadas com o CEBAS Saúde (peça
20, p. 21).
108. Comparando-se as informações repassadas pela SRFB com as informações da DBF,
verifica-se que, em 2015, os quantitativos de entidades que teriam usufruído do benefício
tributário estão em número significativamente maior que o número de entidades certificadas.
Cabe ressaltar que somente foi possível fazer essa comparação para o ano de 2015, uma vez que
a SRFB somente forneceu informações referentes àquele exercício.
109. Considerando que a SRFB não encaminhou a este Tribunal a listagem das entidades
beneficiárias da imunidade, alegando sigilo fiscal, não foi possível cotejar as diferentes listas
para identificar as possíveis diferenças e as justificativas para as discrepâncias verificadas.
110. Quando questionada sobre a utilização do CEBAS como requisito para concessão do
benefício tributário, a SRFB informou, por meio do Ofício 643/2017-SRFB/Gabinete, de forma
genérica, que ‘procedimentos de fiscalização com vistas a verificar a correta regularidade para
um dado contribuinte usufruir do benefício fiscal correspondente vem sendo realizados, dentro
da gestão de risco de competência desta Secretaria’, e citou que a SRFB realizou procedimento
que permitiu a constituição de crédito tributário referente à contribuição previdenciária total de
R$ 8,5 bilhões e de outros tributos da ordem de R$ 2,0 bilhões, valores referentes a 399
entidades (peça 20, p. 13).
111. Em reunião da equipe de auditoria com representantes da Receita Federal em
1º/11/2017, realizada para complementar informações do ofício citado no parágrafo anterior,
foi informado que as fiscalizações das entidades beneficiárias das imunidades são realizadas
pelas unidades regionais da SRFB.
112. Segundo os técnicos da SRFB, o primeiro critério utilizado para seleção das
entidades submetidas à fiscalização é a materialidade. As entidades são listadas por valor da
folha de pagamento (base de cálculo da contribuição previdenciária) e, em seguida, aplica-se o
corte de materialidade, abaixo do qual nenhuma entidade passará por fiscalização da SRFB, a
não ser em casos de denúncia.
113. Outros critérios considerados relevantes pelos auditores da SRFB direcionam o
planejamento e a execução das fiscalizações tributárias, como histórico das entidades,
denúncias, solicitações de órgãos de controle ou da Polícia Federal.
114. Desse modo, percebeu-se que não existe um procedimento automático para verificar
se todas as entidades que usufruíram do benefício tributário possuem CEBAS. Tampouco há
disponibilização de dados agregados que informem à sociedade e aos ministérios certificadores
a quantidade ou o percentual de entidades que usufruíram do benefício e que, por meio de
fiscalização da SRFB, identificou-se que não possuíam CEBAS. A não disponibilização desses
dados, resultantes das fiscalizações da SRFB, a este Tribunal, impossibilita um posicionamento
sobre a atuação da Receita Federal sobre os indícios de usufruto indevido do CEBAS.
115. Sobre esse aspecto, convém mencionar que o relatório do Acórdão 1.205/2014-
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SUS.
V.3 Monitoramento de decisão anterior
138. Trata-se de monitoramento de itens do Acórdão 2.826/2011-TCU-Plenário, de
relatoria do Ministro Aroldo Cedraz; e do Acórdão 6.844/2015-TCU-1ªCâmara, de relatoria do
Ministro Benjamin Zymler.
139. O primeiro acórdão trata de auditoria realizada com o objetivo de verificar a
regularidade dos atos de concessão/renovação de registro e certificado de entidade beneficente
de assistência social. Os trabalhos de auditoria foram realizados na Secretaria de Atenção à
Saúde do Ministério da Saúde (SAS/MS) e na Secretaria Nacional de Assistência Social do
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (SNAS/MDS), unidades integrantes da
clientela da antiga 4ª Secex. O acórdão expediu diversas determinações, recomendações e
orientações, três das quais encontram-se reproduzidas abaixo e que versam sobre questões
relacionadas ao CEBAS Saúde. Em virtude da correlação entre as deliberações exaradas nesse
trabalho de auditoria anterior e os resultados apresentados no presente trabalho, passa-se a
avaliação do cumprimento dos dispositivos da decisão abaixo relacionada, apenas no que
concerne ao CEBAS Saúde (o cumprimento das deliberações por parte do MDS foi monitorado
no âmbito do TC 014.026/2013-9 e TC 030.240/2015-8).
Acórdão 2.826/2011-TCU-Plenário: 9.1. Recomendar aos Ministérios da Saúde e do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome a urgente adoção de medidas destinadas a corrigir
as seguintes impropriedades:
Recomendação 9.1.1. Ausência de análise e de apreciação de processos de concessão e de
renovação de certificados de entidade beneficente de assistência social após as mudanças
promovidas pela Lei 12.101/2009, regulamentada pelo Decreto 7.237/2010, com
descumprimento do prazo de seis meses para análise dos requerimentos fixado no art. 4º, §1º, do
aludido decreto.
140. Situação: implementada.
141. Comentários: conforme já descrito no item II.2.4 deste relatório, uma série de
medidas foram adotadas pelo Ministério da Saúde, incluindo o aperfeiçoamento da dinâmica
interna de trabalho, especialmente no que se refere à padronização do parecer sobre a
certificação com o uso de check-list, bem como sua atuação junto aos gestores e entidades
beneficentes para a qualificação do processo de certificação. Além disso, houve a elaboração e
a execução de um plano de contingência, em 2014, conforme recomendação da Controladoria-
Geral da União (CGU). Os resultados apresentados na tabela 3 (item II.2.4) mostram a
evolução da análise de processos do DCEBAS, especialmente nos exercícios de 2016 e 2017.
Dessa forma, cabe assinalar que até 8/8/2017 havia no DCEBAS 400 processos pendentes ainda
de análises, ou seja, 13% do total dos 2.940 CNPJ requerentes. Dos 400 processos aguardando
análise, 136 foram protocolados no exercício de 2017 (até agosto), o restante refere-se a
exercícios anteriores. Dessa forma, conclui-se que o MS reduziu os estoques de processos, com
o objetivo de se adequar aos prazos definidos na Lei 12.101/2009. Contudo, há de se destacar
que não seja possível que 100% os processos de certificação ou de renovação sejam encerrados
dentro desse prazo, pois há casos em que a primeira análise é realizada dentro do prazo, mas
depende de diligência às entidades, ao gestor local ou mesmo de pronunciamento do MEC e/ou
MDS, situações externas ao controle do gestor.
Recomendação 9.1.2. Ausência de supervisão ministerial sobre as entidades beneficentes
de assistência social certificadas, conforme previsto nos arts. 14 e 15 do Decreto 7.237/2010,
com vistas a zelar pelo cumprimento das condições que ensejaram a certificação, nos termos do
art. 24 da Lei 12.101/2009;
142. Situação: em implementação.
143. Comentários: O processo de supervisão do DCEBAS saúde iniciou-se no exercício de
2012. Até agosto de 2017, o DCEBAS tinha supervisionado 898 certificados, dos quais 567
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supervisões foram encerradas e 328 estão em curso. Além desse total, ainda há 644 supervisões
a serem iniciadas. Outras informações e uma análise mais específica sobre o estoque de
processos a serem supervisionados pelo DCEBAS encontra-se no item IV, deste relatório. Lá
foram apresentadas propostas de encaminhamento no sentido de que o DCEBAS se organize de
forma a reduzir o número de supervisões pendentes, com objetivo de realizá-las mais
tempestivamente.
Recomendação 9.1.3. Insuficiência do quadro de pessoal das unidades responsáveis pela
análise dos processos de concessão e de renovação dos certificados de entidade beneficente de
assistência social, o que acarreta atraso na análise dos requerimentos apresentados;
144. Situação: implementada.
145. Comentários: O DCEBAS foi estruturado em duas coordenações: a de Análise e
Gestão de Processos e Sistemas e a de Certificação. Cabe à primeira o papel de monitoramento
e apoio de Tecnologia da Informação e à segunda a de certificar e renovar os certificados das
entidades. No total, o DCEBAS tem 53 servidores, sendo doze concursados de carreira, três
cedidos de outros órgãos, quatro funcionários terceirizados, dois estagiários e 32 outros
colaboradores, chamados de bolsistas, segundo os gestores do DCEBAS (dados de agosto de
2017). Independentemente do quantitativo de recursos humanos disponibilizados para
atividades do DCEBAS, o que se deve destacar é o fato de que o departamento reduziu
significativamente o estoque de processos de concessão e renovação do certificado, nos
exercícios de 2016 e 2017. Quanto às supervisões, o capítulo IV deste relatório discorre sobre o
elevado estoque de certificados a serem supervisionados e propõe recomendações para que o
Ministério da Saúde apresente medidas para solução do problema.
146. O segundo acórdão (Acórdão 6.844/2015-TCU-1ªCâmara) decorreu de análise de
Prestação de Contas Anual da Secretaria de Atenção à Saúde (SAS/MS), referente ao exercício
de 2013. O acórdão expediu diversas determinações, recomendações e orientações entre as
quais se encontram as reproduzidas abaixo, que versam sobre questões relacionadas ao CEBAS
Saúde. Em virtude da correlação entre as deliberações exaradas no referido processo de contas
anual e os resultados apresentados neste trabalho de auditoria, passa-se avaliar o cumprimento
dos dispositivos da decisão abaixo relacionada:
Acórdão 6.844/2015-TCU-1ª Câmara: 1.7.1. Determinar à Secretaria de Atenção à
Saúde, com fundamento no art. 208, § 2º, do RI/TCU, que:
Determinação 1.7.1.3. Identifique e adote os controles necessários, ao apreciar os
processos de concessão ou renovação do Certificado de Entidade Beneficente de Assistência
Social na Área de Saúde, para garantir que as entidades atendam às condições necessárias para
a certificação da entidade como beneficente de assistência social, confirmando que as
exigências estão sendo atendidas por ocasião da apreciação do pedido de concessão ou
renovação do certificado, em conformidade com arts. 3º, 21, § 3º e 24 da Lei 12.101/2009,
combinados com o art. 4º, §1º, do Decreto 7.237/2010 (vigente durante o exercício de 2013) ou
art. 4º, §1º, do Decreto 8.242/2014, encaminhando a este Tribunal, no prazo de 90 (noventa)
dias, relatório acerca do tratamento a ser dispensado à questão;
147. Situação: cumprida.
148. Comentários: o objetivo do presente trabalho foi avaliar a regularidade do processo
de Certificação das Entidades Beneficentes de Assistência Social na área da saúde (CEBAS
Saúde). O tópico III deste relatório discorre sobre os resultados do trabalho, que concluiu que
os processos de concessão/renovação e de supervisão do CEBAS Saúde funcionam
adequadamente e estão em conformidade, em todos os aspectos relevantes, com os critérios
aplicáveis, qual sejam, os requisitos da Lei 12.101/2009.
Determinação 1.7.1.4. Elabore Relatório Circunstanciado acerca dos pedidos deferidos
de concessão e renovação do Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social na Área
de Saúde, aferindo se as instituições interessadas efetivamente atendiam aos requisitos previstos
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modelo de Supervisão baseado em riscos, a Área Técnica já havia adotado medidas para incluir
mais um parâmetro de seleção das entidades a serem supervisionadas, justamente, um segundo
parâmetro de risco com base no porte da entidade/valor do benefício fiscal obtido pelo CEBAS,
conforme consta no Relatório de Gestão de 2016, como meta/desafio para 2017. Todavia,
somente em novembro/17 foi possível o levantamento das entidades certificadas segregadas por
porte (número de leitos), o qual vem sendo analisado tanto para a seleção dos estabelecimentos
de saúde a serem supervisionados, como também para a base de um estudo sobre a avaliação da
efetividade da política de renúncia fiscal decorrente de CEBAS, no âmbito da Saúde. De acordo
com o entendimento da Área Técnica de Supervisão, o ideal é que essa atividade seja
desenvolvida utilizando-se, de forma associada, os 3 parâmetros de seleção citados,
considerando-se que abandonar, ocasionalmente, o parâmetro de ordem cronológica, poderia
provocar um aumento do passivo de entidades com CEBAS de vigências mais antigas e não
supervisionadas e, ainda, a hipótese de descartar o parâmetro de risco com base em evidências
de descumprimento de requisito (as supervisões prioritárias), poderia ocasionar a ocorrência de
entidades que, embora portadoras de CEBAS, descumprem os requisitos exigidos pela Lei
12.101/09. Todavia, tais parâmetros a serem utilizados serão mantidos e aperfeiçoados, porém
deverão obedecer como premissa básica, a avaliação imediata da vigência dos seus certificados,
para que haja a abertura de processo de supervisão a fim de evitar e afastar possíveis prejuízos
ao erário em razão da perda de prazo prescricional, conforme o item 153. (grifo nosso)
155. Desse modo, constata-se que não foram apresentadas pelos gestores novas
informações e argumentos que alterassem o entendimento da equipe disposto no relatório
preliminar, mas sim Plano com as ações que estão sendo implementadas naquele departamento
com intuito aprimorar os processos de trabalho, ações essas em consonância com as propostas
de recomendações a serem expedidas nesta auditoria, após deliberação desta Corte de Contas.
156. Entretanto, deve-se destacar que apesar do DCEBAS já ter apresentado nos seus
comentários um Plano de Ação, a apresentação dessas informações deverá ser realizada após o
julgamento destes autos, com a expedição do respectivo acórdão, no prazo a ser por ele definido
e de forma atualizada. A adoção destas ações também deverá passar por monitoramento, a fim
de avaliar a efetividade das medidas a serem implementadas pelo DCEBAS.
157. Com relação às considerações apresentadas pela área de supervisão, propõe-se
ajustes no texto da proposta de encaminhamento (item VIII) de forma a esclarecer que o
aprimoramento do modelo de supervisão atual não implica em abandono dos parâmetros já
utilizados. Diante de todo exposto, entende-se que o texto inicial elaborado no relatório
preliminar deve ser mantido, adotando-se a nova redação constante do item VIII, 163.1, b, deste
relatório.
VII. Conclusão
158. O presente trabalho teve por objetivo avaliar a regularidade do processo de
Certificação das Entidades Beneficentes de Assistência Social na área da saúde (CEBAS Saúde).
Para isso, foram formuladas duas questões de auditoria: (questão 1) verificar se o processo de
concessão/renovação oferecia segurança razoável de que somente as entidades beneficentes da
área da saúde que atendem os requisitos exigidos nos normativos legais sejam
certificadas/renovem o certificado; e (questão 2) se o processo de supervisão oferece garantia
razoável de que somente as entidades beneficentes da área da saúde que atendem aos requisitos
exigidos nos normativos legais durante todo o período de vigência mantenham o certificado.
159. Com base nos procedimentos realizados, descritos no capítulo sobre a metodologia,
concluiu-se que os processos de concessão/renovação e de supervisão do CEBAS Saúde
funcionam adequadamente e estão em conformidade, em todos os aspectos relevantes, com os
requisitos exigidos pela Lei 12.101/2009.
160. Isso significa que a certificação e/ou manutenção do certificado ocorre para
entidades que cumprem os requisitos previstos na legislação. A conclusão tem um nível de
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VOTO
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em tagDataSessao.
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1. Processo nº TC 017.220/2017-3.
2. Grupo: I; Classe de Assunto: V – Relatório de Auditoria.
3. Interessados/Responsáveis: não há.
4. Órgão/Entidade: Ministério da Saúde (vinculador).
5. Relator: Ministro Augusto Nardes.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo da Saúde (SecexSaúde).
8. Representação legal: não há
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de auditoria de conformidade realizada com o
objetivo de avaliar a regularidade dos processos de concessão, renovação e supervisão do Certificação
das Entidades Beneficentes de Assistência Social na Área da Saúde (CEBAS Saúde),
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão Plenária,
ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. recomendar ao Ministério da Saúde que avalie a conveniência e a oportunidade de
adotar os seguintes procedimentos:
9.1.1. redução do passivo de certificados das entidades beneficentes de assistência social
na área da saúde concedidos com vigência até 2016 ainda não supervisionados (item IV do relatório de
auditoria, parágrafos 94/101);
9.1.2. aprimoramento do modelo de supervisão baseado em riscos da Certificação das
Entidades Beneficentes de Assistência Social na área da saúde, levando em conta, além dos demais
parâmetros já considerados, a materialidade do benefício fiscal obtido pela entidade beneficente, ainda
que para tanto se utilize de critérios indiretos de aferição, tais como o quantitativo de leitos ou o valor
pago às entidades em função da prestação de serviços ao SUS (itens IV e VI do relatório de auditoria,
parágrafos, 94/101 e 154/157);
9.2. determinar ao Ministério da Saúde que elabore e apresente a este Tribunal, no prazo de
90 dias, plano de ação para a implementação das recomendações proferidas, informando, no mínimo,
as medidas a serem adotadas, os prazos e as unidades responsáveis pela implementação de cada
recomendação considerada conveniente e oportuna, além de justificativa para a não implementação de
cada medida considerada não conveniente ou não oportuna;
9.3. determinar à SecexSaúde que monitore a implementação das recomendações
constantes dos subitens anteriores;
9.4. dar ciência desta decisão ao Ministério da Saúde e à Secretaria da Receita Federal do
Brasil;
9.5. arquivar os presentes autos.
32
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 017.220/2017-3
Fui presente:
(Assinado Eletronicamente)
LUCAS ROCHA FURTADO
Procurador-Geral, em exercício
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