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CONSIDERAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DA UHE BELO MONTE

David Salomão Pinto Castanho Bizarro


Matrícula 01532745
Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental

TEXTO:
A origem dos estudos do aproveitamento do Rio Xingu remete a 1975 quando
consultores da Eletronorte iniciaram Inventário Hidrelétrico da Bacia
Hidrográfica com propósito de estudos para viabilidade do Complexo
Hidroelétrico Babaquara-Kakaraô, esse relatório final teve aprovação pelo
Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE), mas no mesmo
ano teve promulgada a Constituição Federal de 1988 tornando esse projeto
inviável em função do reconhecimento e da demarcação das Terras Indígenas,
inclusive tal situação teve protesto no Encontro dos Povos Indígenas ocorrido
em 1989 pela ausência de participação dos indígenas em decisões executivas.
No entanto, esse projeto foi retomado como prioridade pelo Conselho Nacional
de Política Energética (CNPE) com reconhecimento pelo desenvolvimento da
hidroeletricidade, cuja preferência pelo local teve pauta nas características
físicas e naturais do território, as questões tecnológicas e o custo-benefício,
somado pela crise energética do Brasil em 2000 devido à insuficiência nos
reservatórios em hidroelétricas levando a debates da geração de energia e sua
matriz energética, e ainda pela reorientação do governo nas privatizações
estimuladas em setores estratégicos principalmente no campo de distribuição
da energia elétrica. Não obstante, importante acentuar que apesar de existirem
várias outras maneiras de gerar energia (solar, eólica, biomassa), as usinas
hidrelétricas são mais utilizadas no Brasil por conta da grande quantidade de
rios que existem no país com as características necessárias para a construção
de barragens e pelo custo mais baixo que outras alternativa tão viáveis.
Em oposição, segundo análises críticas em estudos de impactos ambientais,
não apenas a segurança hídrica da região estava ameaçada, e a redução da
vazão a jusante da usina acarretaria diversos impactos nos habitats aquáticos,
como também afetaria as populações ribeirinhas, pescadores e agricultores
familiares que viviam naquela região e dependiam de forma exclusiva do
extrativismo vegetal, da pesca e das plantações de subsistência. Como
exemplo, devem observar-se as análises críticas realizadas pelo “Painel de
Especialistas” divulgado pela UFPA em 2009 com apresentação de falhas e
omissões no projeto básico, como questões sustentabilidade social e
ambiental.
Outrossim, diversos pleitos das populações indígenas foram atendidos por
intervenção do Ministério Público Federal do Pará, incluindo a alteração do
nome para Usina Hidroelétrica Belo Monte, várias vezes os estudos
socioambientais e culturais foram ajustados, e cujos desmembramentos
implicaram num arcabouço de compensações e mitigações que assim
transformaram o processo num maior dos casos de licenciamento ambiental da
história do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais (IBAMA).
Como exemplos, devem observar-se: a primeira suspensão em 2001
principalmente por motivos da necessidade de autorização pelo Congresso
Nacional e da obrigação de consultar os indígenas afetados, e uma das últimas
suspensões em 2009 pela necessidade de mais audiências públicas de forma
que as populações atingidas pudessem de verdade participar devido a vários
obstáculos (grande distância das comunidades e estradas precárias que ligam
municípios, tempo curto para exposição de dúvidas e interesses, linguagem
inapropriada que dificultava entendimento).
Cabe ressaltar que nesse curso o projeto que teria uma capacidade instalada
de cerca de 14 mil MW e área inundada de mais de 7.200 km 2, teve mudanças
que se estenderam no projeto à medida de encontro com ambientalistas,
comunidades e indígenas, organizações da sociedade civil, exigências do
poder público como Ação Civil Pública do Ministério Público. Essencialmente o
projeto foi adaptado para alcançar a sustentabilidade junto com estudos e
contribuições em audiências públicas, seu modelo de estruturação da Usina foi
revisto com exclusão do reservatório de regularização e acumulação de água,
inclusive havendo o deslocamento do barramento principal de modo a
assegurar o não alagamento de Terras Indígenas. Também foi prevista a
implantação de Canal de Derivação e de sistemas de transposição de
embarcações e da bióta aquática que garantissem a navegação e a migração
dos peixes na Volta Grande do Xingu. Em resumo, tal formato transformou a
Usina Hidroelétrica Belo Monte numa usina a fio d’água que dispensa o uso de
reservatório de regularização de água, cujo modelo alcançou a redução da
área inundada para 478 km2 e cerca de metade disso correspondendo ao
próprio leito do rio, e embora essa mudança tenha promovido a redução da
capacidade de geração de energia também colocou no projeto considerável
ganho socioambiental, especialmente considerando a diminuição da magnitude
dos impactos quando comparado com sua primeira versão.
O debate do licenciamento ambiental da UHE Belo Monte estendeu-se ainda
num contexto amplo da sustentabilidade com controvérsias sociais e
ambientais pelo descumprimento de diversas condicionantes, observando a
concessão de Licença Prévia em 2010 junto com um total de 40
condicionantes, depois a concessão de Licença de Instalação em 2011 com
mais 23 condicionantes, e ainda a concessão de Licença de Operação em
2015 com mais 34 condicionantes, as quais configuravam condições definidas
pelo IBAMA com principal objetivo de buscar a mitigação dos impactos
ocasionados pelo empreendimento na área de abragência, apontados no
Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e seu respectivo Relatório de Impacto
Ambiental (RIMA), e para os quais a Norte Energia SA teria que implementar
um conjunto de programas/projetos que compõem o plano ambiental do
empreendimento.
Finalizando, salvo melhor juízo, atualmente as circunstâncias do licenciamento
ambiental são favoráveis ao empreendimento, considerando todas as
adequações realizadas no projeto básico da UHE Belo Monte, bem como pela
criação de projetos de indicadores pelo Plano de Desenvolvimento Regional
Sustentável do Xingu (PDRSX) com acompanhado pela Câmara Técnica de
Monitoramento (CT5), cujo objetivo principal envolve monitorar e acompanhar
as condicionantes previstas nas licenças ambientais de implantação do projeto
executivo, informar a população em geral sobre eficácia das políticas públicas e
outras ações que se relacionam com essas medidas e medir a efetividade no
desenvolvimento da região que recebeu o empreendimento, especialmente sob
os temas: educação, saúde, saneamento básico, deslocamentos compulsórios
do ambiente rural e fiscalização ambiental, e ainda outras questões específicas
das comunidades indígenas: proteção das terras indígenas, regularização
fundiária e comitês de participação social.
REFERÊNCIAS:
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TeleSapiens, Brasil, 2021.
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LEME ENGENHARIA; Aproveitamento Hidroelétrico Belo Monte: Relatório de
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ERNST & YOUNG Auditores Independentes SS. Relatório de Sustentabilidade 2021:
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Painel de Especialistas: análise crítica do estudo de impacto ambiental do
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Editora: Painel de Especialistas sobre a Hidrelétrica de Belo Monte, Brasil, 2009.

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