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Teoria de Voo de
Alta Velocidade
UnisulVirtual
Palhoça, 2019
Copyright © UnisulVirtual 2019
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.
Livro Didático
Professor conteudista Projeto Gráfico e Capa
Sandro Francalacci de Castro Faria Equipe UnisulVirtual
Designer Instrucional Diagramação
Lis Airê Fogolari Fernanda Vieira Fernandes
Revisão Ortográfica
Diane Dal Mago
F23
Faria, Sandro Francalacci de Castro
Teoria de voo de alta velocidade : livro didático / Sandro Francalacci de Castro
Faria. – Palhoça : UnisulVirtual, 2019.
218 p. : il. ; 28 cm.
Inclui bibliografia.
Teoria de Voo de
Alta Velocidade
Livro didático
UnisulVirtual
Palhoça, 2019
Sumário
Introdução | 7
Capítulo 1
Aerodinâmica de Alta Velocidade | 9
Capítulo 2
Fatores Limitantes na Performance de
Aeronaves | 85
Considerações Finais | 213
Referências | 215
Acontece que tais conceitos básicos são aplicáveis ao estudo de somente uma
parte da aerodinâmica – a reservada ao deslocamento de objetos em baixas
velocidades, inferiores à velocidade do som, num regime tecnicamente definido
como “subsônico”.
Bons estudos!
Seção 1
Compressibilidade e Viscosidade do Ar
Atmosférico
Os estudos sobre os efeitos da compressibilidade e da viscosidade do ar sobre
um objeto em movimento surgiram, antes da década de 1940, da necessidade
do entendimento de alguns dos fenômenos então observados nas aeronaves.
À medida em que os engenheiros aerodinâmicos projetavam aeronaves mais
rápidas e que voavam mais alto, efeitos indesejados começaram a surgir em
voo, e que afetavam o controle e a segurança das aeronaves. Àquela época,
tais efeitos eram classificados como “flutter”, apesar de alguns cientistas já os
associarem aos efeitos de compressibilidade do ar.
Flutter é uma vibração cíclica, de alta frequência, causada pela interação das forças
aerodinâmicas e das forças elásticas que agem sobre as asas, ou sobre as superfícies
de controle de uma aeronave. (SAINTIVE, 2009)
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Capítulo 1
Entretanto, a camada limite pode se separar do corpo e criar uma forma diferente
da forma física original, da superfície do objeto. Ainda, as condições de fluxo dentro
e perto da camada limite são muitas vezes instáveis e se alteram com o tempo.
Podemos fazer uma analogia, para compreender como se forma a Camada Limite.
Imagine um baralho de cartas, que é atirado sobre uma mesa. As primeiras cartas, em
contato com o atrito da superfície da mesa, percorrem uma pequena distância e logo
param. Isso ocorre somente com as primeiras cartas do baralho. As demais, acima
das cartas iniciais, não “tocam” a mesa, e deslizam sobre as cartas abaixo delas,
experimentando um atrito menor. Assim, as cartas superiores tendem a se deslocar a
maiores distâncias, até finalmente pararem. (MOCHO, 1985).
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Capítulo 1
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Capítulo 1
Seção 2
Número Mach, Impulsos de Pressão
Os efeitos da compressibilidade do ar sobre um corpo dependem, basicamente,
da relação entre a velocidade do corpo em movimento na atmosfera e a
velocidade do som para uma mesma temperatura.
V = Vo√T/T0
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
Onde:
M=V/a
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Capítulo 1
Como sabemos da física, o som viaja pelas ondas, usando um meio de propagação
(como a atmosfera). Essas ondas, denominadas ondas de pressão, desenvolvem-se
de maneira similar a quando jogamos uma pedra sobre um lago. Uma onda circular
se forma no ponto em que a pedra atinge o lago e se afasta, expandindo-se a uma
velocidade constante. A pedra provocará um movimento ondulatório, que tenderá
a se afastar do ponto onde caiu com velocidade constante, em todas as direções.
Se atirarmos várias pedras no mesmo ponto em intervalos iguais, formaremos várias
ondas (impulsos) concêntricas, partindo de um mesmo ponto, que se afastarão com
velocidades constantes e com distâncias igualmente constantes entre si.
Isso também ocorre com um emissor sonoro como o avião, que produz as
mais variadas vibrações, essas se manifestam em vários impulsos de ar (ondas
de pressão), gerados ao longo de sua estrutura física (asas, fuselagem etc.).
Entretanto, diferentemente das pedras atiradas ao lago, um objeto se deslocando
no ar está em movimento. Igualmente com o que ocorre ao comprimirmos uma
mola em intervalos regulares, essa se comprime e estica alternadamente, os
impulsos gerados a partir de um avião em movimento na atmosfera provocam a
compressão e a rarefação do ar.
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
1. Subsônico
2. Mach 1
3. Supersônico
4. Ondas de Choque
Figura 1.3 – Ondas de Pressão formadas por uma aeronave voando em regime subsônico
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Capítulo 1
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
Entretanto, se o avião acelerar para uma velocidade igual à do som (Mach 1),
ou seja, acelerar até a velocidade de deslocamento de suas próprias ondas de
pressão, estará comprimindo o ar à sua frente e acompanhando as suas próprias
ondas de pressão com a mesma velocidade de sua propagação. Isso resultará no
acúmulo de ondas no nariz do avião. Se o avião persistir com essa velocidade por
algum tempo, à sua frente se formará uma espécie de “muralha” de ar, pois todas
as ondas formadas ainda continuariam no mesmo lugar em relação ao avião. Esse
fenômeno é conhecido como Barreira Sônica.
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Capítulo 1
Um avião só pode atingir velocidades supersônicas se, entre outras coisas, a sua
aceleração permitir uma passagem rápida pela velocidade de Mach 1, evitando a
formação da Barreira Sônica.
Seção 3
Regimes de Voo e Ondas de Choque
Já comentamos que, quando o ar em fluxo supersônico é comprimido, sua
pressão e densidade aumentam, formando uma “onda de choque”. Em voo
supersônico (com velocidades acima de Mach 1), o avião produz inúmeras ondas
de choque, sendo mais intensas as que se originam no nariz do avião, nas partes
dianteira (bordo de ataque) e posterior (bordo de fuga) das asas, e na parte
terminal da fuselagem.
Nessa condição, uma vez que o ar à frente da aeronave não foi influenciado pelos
impulsos de pressão gerados pela própria aeronave, esse terá que se adaptar
instantaneamente ao impacto com ela, experimentando variações de velocidade,
temperatura, pressão e densidade, para que possa escoar de forma tangente
ao perfil do objeto em movimento. Tais variações de densidade geram ondas de
choque à frente da aeronave, denominadas “ondas de proa”.
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Capítulo 1
Com a criação das asas com formato em “V” (também denominadas “asas
enflechadas”), que reduzem o arrasto, junto à adoção dos motores a jato capazes
de produzir a potência necessária, nos anos 1950 diversas aeronaves já eram
capazes de realizar voos supersônicos com relativa facilidade. Mais adiante,
veremos em detalhes a questão das asas com enflechamento e outras soluções
propostas pelos engenheiros aeronáuticos, para reduzir os efeitos negativos da
compressibilidade do ar e das consequentes ondas de choque provocadas a
partir dos voos transônicos.
Você sabia que Chuck Yeager (então um major da Força Aérea dos Estados Unidos), é
reconhecido como a primeira pessoa a quebrar a barreira do som? Isso ocorreu em um
voo horizontal, em 14 de outubro de 1947, pilotando um Bell X-1 experimental, ocasião em
que alcançou Mach 1 a uma altitude de 15000m (cerca de 45000 pés). (YEAGER, 2017).
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
Bem, mas quais velocidades caracterizam cada um desses regimes de voo? Quais
parâmetros os definem?
Assim, até o limite de Mach Crítico (e cada aeronave possui o seu), convenciona-
se chamar o voo de “Subsônico”, pois ao longo de toda a estrutura da aeronave o
fluxo de ar desloca-se abaixo da velocidade do som. Esse regime é geralmente
caracterizado por velocidades de deslocamento inferiores a Mach 0,75.
Então, perceba que o Mach Crítico é considerado como a fronteira entre o voo
subsônico e o voo transônico, e os problemas advindos da compressibilidade do
ar sobre a aeronave só ocorrem acima desse limite de velocidade. Esse regime
é geralmente caracterizado por velocidades de deslocamento superiores a Mach
0,75 e inferiores a Mach 1,2.
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Capítulo 1
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
As típicas aeronaves movidas por motores a pistão usualmente lidam com dois
tipos de limites de velocidade máxima, a saber:
Bem, de uma maneira geral, tais limites não representam uma grande
preocupação para os pilotos desses tipos de avião, em termos de regime de voo
de cruzeiro ou mesmo de descida, pois as aeronaves movidas a motores a pistão
geralmente apresentam grande arrasto, e seus limitados propulsores as impedem
de acelerar rapidamente e de alcançar regimes de velocidade muito grandes, que
se enquadrem nos conceitos dos limites definidos acima.
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Capítulo 1
À medida que a aeronave ganha altitude e acelera, a velocidade indicada cai (por
conta da redução da densidade do ar), mas também observamos uma redução na
velocidade do som (devido à queda na temperatura do ar). Assim, prosseguindo
em subida na atmosfera, existe um momento em que a aeronave dificilmente
terá condições de extrapolar o seu limite de velocidade VMO, mas por conta da
redução da velocidade do som, poderá sim avançar e ultrapassar facilmente o
seu limite de velocidade MMO, e alterar significativamente a sua controlabilidade.
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
Uma analogia similar que podemos fazer é a de uma pessoa que tenta subir uma
escada rolante que desce. Apesar de se movimentar, a pessoa não se desloca, pois
caminha na mesma velocidade que a escada, porém, em sentido contrário.
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Capítulo 1
Mas, afinal, quais são as principais características de uma Onda de Choque Normal?
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Capítulo 1
Seção 4
Efeitos das Ondas de Choque Normais nos voos
Transônicos
Conforme comentamos, os modernos aviões cargueiros e de transporte de
passageiros são projetados para operar em velocidades acima do Mach Crítico,
até o limite operacional denominado MMO. Entretanto, também sabemos que a
partir do Mach Crítico começam a surgir as Ondas de Choque Normais, e com
elas os efeitos de compressibilidade do ar.
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
À medida em que uma aeronave acelera acima do Mach Crítico, tais efeitos
de compressibilidade tornam-se cada vez mais perceptíveis e aumentam
substancialmente a produção de arrasto, e afetam a capacidade dos aerofólios
em gerar a sustentação necessária, até mesmo para manter uma aeronave em
voo nivelado. Haverá um momento, então, em que tais efeitos serão tão intensos
que tornarão o voo inviável em determinada altitude.
Uma vez que o CP das asas está atrás do CG, a força resultante do estabilizador
horizontal de uma aeronave deve ser negativa (ou seja, no mesmo sentido que
a força resultante do peso total do avião), para se contrapor ao desequilíbrio do
momento gerado pelo braço (pela distância) entre o CG e o CP das asas.
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Capítulo 1
Figura 1.14 – Ocorrência de “Tuck Under” – Relação entre “força no manche” e Número Mach
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
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Capítulo 1
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
4.3 Vibrações
Conforme já comentado anteriormente, o turbilhonamento dos filetes da Camada
Limite, e o seu posterior descolamento gerado pelas Ondas de Choque, causam
vibrações em diversas partes da aeronave, como nas asas, cone de cauda e até
na própria fuselagem.
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Capítulo 1
4.5 RollOff
É quando o rolamento da aeronave ocorre para o lado oposto ao que foi
comandado pelos pedais (leme de direção). Voando próximo ao MMO, a guinada
de uma aeronave pode provocar o estol de choque na asa externa à guinada,
ocasionando um rolamento no sentido oposto.
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
Assim, o estol ocorre sempre que um aerofólio alcança e supera o seu “Ângulo de
Ataque Crítico”, independente da velocidade da aeronave. Nas modernas aeronaves,
com o velocímetro existe a indicação de proximidade desse ângulo, o que permite ao
piloto evitá-lo. Também, sistemas automatizados como o “Stick Shaker” alertam o
piloto da iminência da condição do estol, “sacudindo” a coluna do manche e gerando
avisos sonoros específicos. Ainda, algumas aeronaves de asas fixas contam com um
dispositivo hidráulico ou eletromecânico denominado “Stick Pusher”, cuja função é a
de impedir que a aeronave entre em uma situação de estol.
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Capítulo 1
O AOA da asa tem o maior efeito na indução do buffet de Mach, tanto na alta
quanto nos limites de baixa velocidade do avião. As condições do aumento do
AOA e, consequentemente, da elevação da velocidade do fluxo de ar sobre a asa
e as chances de ocorrência de buffet de Mach são:
Assim, perceba que uma aeronave capaz de voar em regime transônico pode
experimentar as típicas vibrações que indicam a proximidade do estol (buffet), tanto em
baixa quanto em altas velocidades. Segundo Saintive (2009), nas baixas velocidades,
para contrapor-se ao estol o piloto deve reduzir o ângulo de ataque e aumentar a
velocidade da aeronave. Nas altas velocidades, ao pressentir sinais de estol (caso o
ângulo de ataque não se encontre elevado), o piloto deverá reduzir a velocidade da
aeronave (e, consequentemente, reduzir os efeitos das Ondas de Choque).
Porém, em uma situação de estol, o ângulo de ataque é tão alto que o fenômeno
se inverte. Ao afundar em uma situação de estol, o ar proveniente das asas,
completamente desestruturado e turbilhonado, agora incide diretamente sobre a
“cauda em T”, tornando praticamente impossível o comandamento do profundor.
Tal fenômeno é chamado por alguns autores de “deep stall” (estol profundo), e
é extremamente perigoso para uma aeronave. Essa situação é exemplificada na
figura a seguir.
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Capítulo 1
Seção 5
Medidas para minimizar os efeitos de
compressibilidade do ar
Agora você já sabe que o ar é compressível, e que tal característica se manifesta
em elevadas velocidades, produzindo efeitos que prejudicam o voo das
aeronaves e podem colocá-las em situação de perigo. Sabemos também que as
antigas aeronaves eram limitadas em potência, e por isso não experimentavam
frequentemente tais efeitos negativos, pois simplesmente não conseguiam
acelerar ou subir o suficiente para que eles pudessem ocorrer.
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
estrutura dos aviões), entre outros. Entre esses outros fatores, podemos citar
aspectos relacionados ao desenho dos novos aviões (muito mais “limpos”
e aerodinâmicos) e de seus aerofólios, e do emprego de algumas medidas
e dispositivos que “retardam” o aparecimento dos efeitos negativos da
compressibilidade e da viscosidade do ar. Nos aviões mais modernos, o arrasto
induzido representa entre 25% a 40% do arrasto total, e os arrastos parasita e de
compressibilidade somam o total restante (SAINTIVE, 2009).
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Capítulo 1
Quando se pretende projetar uma asa que irá operar em regimes de altas
velocidades, o primeiro requisito que deve ser satisfeito é o de economicidade
nos voos de cruzeiro. Entretanto, uma vez que um avião não opera somente nesse
regime do voo, as asas também devem ser capazes de gerar bom rendimento em
baixas velocidades, principalmente para as fases de decolagem e de aproximação.
Ainda, seu desenho deve levar em conta a possibilidade de solucionar a questão de
lidar com diferentes e, por vezes, severas cargas estruturais, e ainda deve ser capaz
de carregar grandes quantidades de combustível.
Lembre-se de que, para poder ser certificada para operações comerciais, as aeronaves
passam por rigorosos testes e devem, nas mais diversas condições, atender a
requisitos específicos de segurança e de desempenho. Trataremos de alguns desses
requisitos no próximo capítulo, quando falaremos de performance e de fatores
limitantes nas fases de decolagem, subida, cruzeiro e pouso.
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
Saintive (2009) também esclarece que os primeiros aerofólios estudados com essa
finalidade foram chamados de aerofólios laminares (NACA, série 6), e permitiam
um suave aumento de velocidade no extradorso da asa. Posteriormente, verificou-
se que esses não eram os melhores aerofólios para altas velocidades, porque o
escoamento laminar não depende apenas da forma do aerofólio, mas também de
outros fatores como o número de Reynolds (como visto anteriormente, uma relação
entre as forças de inércia e as forças de viscosidade do ar), da rugosidade da
superfície e da turbulência inicial dos filetes de ar.
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Capítulo 1
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
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Capítulo 1
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
Figura 1.25 – Desenho da aeronave Boeing 747-400, onde se observa o enflechamento de suas asas
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Capítulo 1
De acordo com Saintive (2009), a Regra da Área constata que o menor arrasto
nos regimes transônico e supersônico é obtido quando as áreas das sessões
retas do avião, ao longo do seu eixo longitudinal, formam uma curva contínua,
sem mudanças bruscas ao longo do seu comprimento.
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
Figura 1.27 – Imagem de duas versões da aeronave F-102 – a segunda com o emprego da Regra da
Área
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Capítulo 1
Figura 1.28 – Esquema de distribuição da área transversal nas aeronaves F-102 e F-102A
Na figura acima, note que o segundo gráfico à direita apresenta uma distribuição
mais suave, em relação ao contorno onde a fuselagem é recuada. Assim,
recuando a fuselagem (reduzindo o seu volume) na cintura, a área da seção
transversal é mantida a mais lisa possível, proporcionando uma área quase
uniforme e contínua, de interação suave com o fluxo de ar.
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
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Capítulo 1
Quanto maior o deslocamento do CP para trás, maior será a força necessária para
manter a aeronave em voo nivelado. Essa força maior é obtida por uma maior
deflexão do profundor, o que também acaba provocando maior arrasto no aerofólio.
Ao variar sua incidência como um todo, os estabilizadores horizontais com
incidência variável acabam gerando menor arrasto, tornando-se mais eficientes.
Figura 1.31 – Esquema do Estabilizador Horizontal da aeronave EMB-145, com incidência variável
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
Figura 1.32 – Ação dos Geradores de Vórtice – retardam o descolamento e reduzem a espessura da
Camada Limite
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Capítulo 1
Figura 1.33 – Funcionamento dos Geradores de Vórtices posicionados no extradorso de uma asa
Figura 1.34 – Disposição de Geradores de Vórtices na asa de uma aeronave de combate, próximo à
região dos ailerons
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
Figura 1.35 – Esquema de Geradores de Vórtices posicionados próximos ao Flap de uma asa
Figura 1.36 – Posicionamento de Gerador de Vórtice (denominado “Strake”) na carenagem do motor de um B737
Figura 1.37 – Gerador de Vórtice (Strake) em ação, fornecendo energia cinética ao Slat de uma aeronave comercial
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Capítulo 1
Pois bem. Quando abordamos a questão dos efeitos das Ondas de Choque nos
voos transônicos, bem como quando falamos sobre a influência do desenho
dos aerofólios, especificamente na questão do emprego das asas enflechadas,
pontuamos como um de seus problemas justamente uma maior tendência de
provocar Tuck Under.
Assim, por exemplo, para uma determinada asa enflechada, entre o Mach 0.79
e Mach 0.86 é necessário empurrar o manche para a frente, para manter o avião
nivelado (por conta do aumento na resultante de sustentação). A partir daí é
necessário puxar muito o manche para manter o avião nivelado, até próximo ao
Mach 0.95 (agora por conta do deslocamento do CP para trás, em direção ao
bordo de fuga, decorrente da formação de Ondas de Choque Normais). Para
eliminar essa instabilidade, alguns dos aviões a jato contam com um dispositivo
denominado Mach Trimmer.
Vimos há pouco que uma das principais formas de retardar o aparecimento das
Ondas de Choque consiste no emprego de asas enflechadas. Na atualidade,
será difícil encontrar uma aeronave de alto desempenho que não tenha essa
característica aplicada em sua estrutura aerodinâmica. Entretanto, o uso de asas
enflechadas também gera um preço a ser pago, e sobre esse assunto é que
falaremos na próxima Seção.
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
Seção 6
Consequências Adversas, Advindas do
Enflechamento das Asas
No item anterior, abordamos os benefícios gerados a partir da utilização de algum
grau de enflechamento das asas. Basicamente, tais ganhos focam na capacidade
dessas asas em retardar o aparecimento das Ondas de Choque, e com elas
os seus efeitos negativos ao voo. Ainda, podemos mencionar outro aspecto
positivo do uso das asas enflechadas – elas proporcionam maior estabilidade
para os voos realizados em zonas de turbulência, haja vista que tais perfis reagem
menos às mudanças de AOA. Assim, diante de rajadas ou penetração em ar
turbulento, a aeronave sofrerá menores esforços estruturais e menor também será
o desconforto percebido pelos passageiros (Saintive, 2009).
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Capítulo 1
Você já deve ter visto, em voo, que uma asa se enverga em determinadas
situações (por exemplo, quando a aeronave sai do solo, ou quando passa
por uma zona de turbulência). Pois é, e saiba que isso é normal e que ela foi
construída para reagir exatamente dessa forma. Ou seja, ela é construída de
maneira suficientemente elástica, para poder oscilar (MOCHO, 1985). Assim,
quando submetida a tais forças de pressão que a empurram para cima, a asa
enverga ou deflexiona, tomando um formato que, visto de frente, assemelha-se ao
de um ângulo de diedro de uma asa (como na figura abaixo).
Esse efeito de deflexão em uma asa convencional não traz maiores problemas
ao voo. Entretanto, não se pode dizer o mesmo quando ocorre em uma asa
enflechada. Nesses tipos de aerofólio, a deflexão causa uma torça na asa,
resultando em uma sensível diminuição no ângulo de incidência, em direção às
pontas das asas. Em algumas circunstâncias, se pudéssemos olhar de frente para
uma asa enflechada produzindo sustentação, perceberíamos que o bordo de fuga
estaria mais alto do que o bordo de ataque.
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
Figura 1.39 – Deslocamento do Centro de Pressão, causado pela perda de sustentação nas pontas de
uma asa enflechada
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Capítulo 1
Figura 1.40 – Esquema de distribuição do Coeficiente de Sustentação ao longo da asa, para diferentes
geometrias
Para eliminar essa tendência prematura de estol das pontas das asas, são usados
os seguintes métodos clássicos: torção de asa, com menor ângulo de incidência
nas pontas; emprego de Slots próximos às pontas das asas; uso de aerofólios
com maior curvatura nas pontas das asas (para aumentar a velocidade do fluxo
de ar e retardar o estol) – esses três chamados de Washout estrutural; emprego
de geradores de vórtices ou vortilons; emprego de Wing Fences (estes últimos
denominados Washout aerodinâmico) etc.
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
Figura 1.42 – Exemplo da utilização de Wing Fences nas asas de uma aeronave de alta performance.
Figura 1.43 – Esquema mostrando a redução do descolamento da Camada Limite – asa sem e com
Wing Fence
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Capítulo 1
Testes em túnel de vento revelaram um aumento de dois graus (para o EMB 145)
no ângulo de ataque de estol da asa, melhorando a sua capacidade de gerar
sustentação e, como resultado, aumentaram a carga útil da aeronave. Ainda
segundo o fabricante, com o uso desses recursos aerodinâmicos o EMB 145/135
tem controle total de rolagem, ao longo da faixa de operação normal, até as
velocidades mais baixas onde o Stick Pusher é acionado. (EMBRAER, 2001).
Para reduzir tais efeitos são empregados os dispositivos vistos na letra anterior,
denominados Wing Fences, ou mesmo os próprios pilones dos motores das
aeronaves (quando localizados sob as asas).
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
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Capítulo 1
Uma vez que tais asas possuem menor Coeficiente de Sustentação Máximo
(CLMAX), é de se esperar que as aeronaves que as empregam tenham
desempenhos deteriorados em operações de decolagem e pouso – ou seja em
baixas velocidades, já que a redução do CLMAX penaliza a velocidade de estol – ou
seja, asas enflechadas apresentam velocidades de estol maiores.
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
Figura 1.46 – Diferentes projeções das envergaduras das asas com enflechamento
Isso é causado pelo chamado Efeito Diedro. Quando as asas são projetadas
de modo que sejam “dobradas” para cima, diz-se que elas possuem um diedro
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Capítulo 1
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
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Capítulo 1
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
Seção 7
Efeitos Aeroelásticos
Segundo Serrano, 2010, a Aeroelasticidade é o estudo do efeito das forças
aerodinâmicas em corpos elásticos. A teoria clássica da elasticidade lida com a
tensão e a deformação de um corpo elástico, no qual incidem forças externas ou
deslocamentos, e a estabilidade de uma estrutura exposta a um fluxo de ar é um
dos problemas mais interessantes de se analisar em aeroelasticidade.
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Capítulo 1
1 https://www.integrandoconhecimento.com/single-post/2016/05/06/Flutter-o-efeito-
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
Nessa região da asa, a rigidez à torção é menor do que na raiz; com isso, em
altas velocidades, uma deflexão no aileron pode gerar uma força tão grande a
ponto de torcer toda a ponta da asa. Essa torção altera o ângulo de ataque no
sentido de diminuir o rolamento na asa. Dependendo da intensidade da torção, o
controle pode perder eficiência e até reverter-se.
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Capítulo 1
Figura 1.50 – Esquema de superfícies aerodinâmicas na asa de uma aeronave Boeing 727, com destaque
para os Spoilers
Figura 1.51 – Uso de Spoilers em uma aeronave comercial, durante uma curva em voo
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
denominadas Buffeting. Pois bem, Serrano 2010 explica que o Buffeting também
é caracterizado como um efeito aeroelástico, sendo uma resposta estrutural à
excitação produzida pelo choque induzido por separação do escoamento, ou
seja, a separação causada por movimentos turbulentos das camadas de ar em
torno da própria aeronave. O Buffeting pode aparecer durante manobras em
velocidade de cruzeiro e afetar diferentes partes da aeronave, sendo o mais
importante aquele que se manifesta nas asas. Dependendo do ângulo de ataque,
o fluxo pode conter separações, que constituem excitações aerodinâmicas com
potencial risco à estabilidade do voo.
Seção 8
Conceitos básicos sobre escoamento em
regime supersônico
Já comentamos que o foco deste material didático é a abordagem do voo
transônico (realizado em velocidades acima do regime subsônico, esse último
empregado por aviões de baixa performance), haja vista tratar-se do regime
utilizado pelas aeronaves comerciais.
Você sabe que o mundo da aviação experimentou imensos avanços ao longo das
últimas décadas, refletindo no aumento da eficiência e da segurança dos voos.
Mas, se perceber, em relação à velocidade com que os aviões cruzam os céus,
podemos afirmar que, desde a década de 1960, os aviões comerciais a jato não
tiveram muitos ganhos em termos de velocidade de voo. Uma aeronave Airbus
A320, um Boeing 777 ou um Embraer 190 voam atualmente com velocidades
de cruzeiro similares à empregada pelos antigos Boeing 707, por exemplo. O
que vemos, entretanto, é a engenharia aeronáutica cada vez mais capaz de
produzir aeronaves eficientes, essas capazes de retardar o surgimento das
nocivas consequências dos efeitos de compressibilidade do ar, já estudados
anteriormente aqui neste livro.
73
Capítulo 1
pouco econômico. É por isso que, atualmente, não existem mais em produção
aviões de uso comercial que operem nesse regime. Então, nos tempos atuais,
ainda não foi possível desenvolver aeronaves de linhas aéreas que, voando acima
da velocidade do som, sejam capazes de ser comercialmente vantajosas. Ou
seja, para que haja um pequeno incremento na velocidade em relação ao voo
transônico dos jatos atuais, há um custo de produção e de operação da aeronave
que não se faz compensar economicamente.
Você já sabe, de tudo o que estudamos até aqui, que a velocidade do som
(que varia com a temperatura ambiente) é muito importante no estudo do
escoamento de ar de alta velocidade. Na medida em que uma asa se desloca
pelo ar, ocorrem mudanças na velocidade local as quais criam perturbações no
fluxo de ar ao redor desse aerofólio, e essas perturbações são transmitidas por
meio do ar à velocidade do som, preparando as partículas de ar à frente, antes
de sua chegada. Se uma aeronave estiver se deslocando em baixa velocidade,
as perturbações serão transmitidas e estendidas em todas as direções. Segundo
Saintive (2009), a aceleração e a força necessárias para movimentar tais
partículas, e desviá-las de acordo com o perfil da asa, são sempre menores do
que nos casos de inexistência desse “aviso”.
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
Assim, o fluxo de ar à frente de uma asa não é influenciado até que as moléculas
de ar sejam repentinamente desviadas pela asa. Dos conceitos já abordados,
repare na figura abaixo: ela aborda o resultado do deslocamento de uma aeronave
em três situações – velocidades inferiores a Mach 1, voando a Mach 1 e acima
dessa velocidade.
Agora repare na mesma figura, porém, para o caso da aeronave que voa na
velocidade do som. Voando nessa velocidade, as ondas de pressão produzidas
pelo próprio avião não conseguem se afastar (pois viajam na mesma velocidade,
ou seja, a velocidade do som), acumulando-se no nariz. Esse acúmulo de
ondas gera o que se conhece por “Onda de Choque”, que nada mais é do
que uma onda de pressão perpendicular ao deslocamento do voo (também
denominada “Onda de Proa”, pois ocorre na proa do avião). A pressão é elevada
em toda a região atrás da onda, “empurrando” o avião para trás. Ao passar
pela Onda de Choque, a temperatura, a pressão e a densidade dos filetes de
ar são aumentados, reduzindo-se a sua velocidade (Saintive, 2009). A figura
abaixo exemplifica o surgimento da Onda de Proa bem como da Onda de
Choque oblíqua no bordo de fuga do perfil aerodinâmico, em escoamentos com
velocidades superiores às do som.
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Capítulo 1
76
Teoria de Voo de Alta Velocidade
77
Capítulo 1
Você já sabe que as Ondas de Choque Normais são visualizadas nos escoamentos
em regimes de voo transônico, mas tais efeitos também podem ser observados em
escoamentos supersônicos, a depender da forma do objeto em movimento (segundo
Saintive 2009, isso ocorre usualmente quando o objeto não é suficientemente
pontiagudo). Lembre-se de que Ondas de Choque Normais são grandes dissipadoras
de energia (causam arrasto), e por isso sua ocorrência deve ser evitada ou retardada
ao máximo. É por essa razão que aviões e outros objetos voadores que pretendem se
deslocar acima da velocidade do som, com mais eficiência, devem apresentar nariz e
bordos de ataque dos aerofólios em forma pontiaguda.
Por outro lado, as Ondas de Choque Oblíquas são formadas de forma similar
que as Normais, e costumam “acompanhar” a forma do objeto. Em voos
supersônicos, ocorrem tanto no bordo de ataque quanto no bordo de fuga do
aerofólio, e também representam fonte de dissipação de energia, porém, inferior
às ondas normais.
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
79
Capítulo 1
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
81
Capítulo 1
Síntese
Bem, neste momento é importante avançarmos no estudo, iniciando um novo
Capítulo.
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
Neste momento, utilizaremos tudo o que você já aprendeu sobre aerodinâmica até
aqui, e aprofundaremos um tema que já estudou superficialmente, no tocante a um
grupo de fatores que devem ser considerados para realizar um voo seguro, e que
correspondem aos limitantes a serem seguidos nas fases de decolagem, subida,
descida, cruzeiro e pouso, que caracterizam a “Performance” de uma aeronave.
83
Capítulo 2
Você sabia que o Brasil é um dos poucos países no mundo habilitado a promover
a certificação aeronáutica de aeronaves? Assim, como nos EUA ou na Europa (dois
exemplos de países / continentes com autoridades certificadoras, cujas exigências são
contempladas respectivamente nas FAR (Federal Aviation Regulations) e JAR (Joint
Aviation Regulations)), o Brasil também possui a sua legislação para a certificação
aeronáutica – os chamados RBAC, que se traduzem em uma série de requisitos
a serem atendidos por diferentes tipos de aeronaves, para que possam voar em
segurança no espaço aéreo de nosso país. No Brasil, a ANAC é a autoridade que
homologa os ensaios das aeronaves aqui fabricadas ou modificadas, para que
atendam a tais requisitos de segurança e de performance.
85
Capítulo 2
86
Teoria de Voo de Alta Velocidade
No caso de uma companhia de linha aérea, por exemplo, que opera somente em um
determinado número de localidades, os pilotos podem previamente dispor a bordo
das análises de decolagem e de pouso para cada uma delas, agilizando a operação
do dia a dia e fornecendo mais segurança às tomadas de decisão da tripulação.
87
Capítulo 2
um QNH de 1020 hPa (em relação à atmosfera ISA) é de (-)200 pés (quanto maior
a pressão atmosférica, melhor o rendimento dos motores). Assim, como o desvio
de pressão em relação à ISA (1013 hPa) é para mais, a altitude pressão desse
aeroporto, neste dia em particular, será de: 2000 – 200 = 1800 ft.
Seção 1
Performance de Decolagem de Aeronaves
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
Figura 2.1 – Quadro de Velocidades empregadas numa decolagem (e as suas interrelações), para fins
de certificação
Você já deve ter ouvido falar nas três velocidades que estão destacadas na
figura acima (V1, VR e V2). Essas são as velocidades indicadas (IAS) que o piloto
utiliza no momento de decolagem, lidas a partir de seu velocímetro. Todas as
demais velocidades descritas são utilizadas somente para efeitos de ensaio e de
certificação da aeronave, e são apresentadas para que você conheça a relação
entre elas e a V1, VR e V2.
89
Capítulo 2
Nota: Motor crítico é aquele que possui maior impacto na performance e controle
da aeronave. Num quadrimotor, por exemplo, os motores críticos são os externos.
90
Teoria de Voo de Alta Velocidade
Nota: é procedimento usual que o a V1 seja anunciada pelo PNF (Pilot Not Flying –
piloto que não está voando a aeronave) com 5 Kt IAS de antecedência. Dessa forma,
se uma falha de motor ocorrer logo após o anúncio da velocidade, garante-se que a
decisão de prosseguir na decolagem será adotada, pois provavelmente a aeronave já
deverá ter acelerado os “5 Kt” de diferença e atingido/ultrapassado a V1.
É a velocidade na qual o piloto inicia a ação para elevar o trem de pouso do nariz
fora do chão. Não pode ser menor do que a V1 e menor do que 1,05 VMCA.
91
Capítulo 2
É a velocidade mais alta na qual o avião pode ser parado, sem exceder o limite
máximo de capacidade de absorção de energia dos freios (a energia cinética
do avião é transformada em calor, pelos freios, no processo de frenagem). A
V1 não pode exceder a VMBE. Ela é crítica em decolagens com pouco Flape
(pois nessa condição o avião precisa de velocidades maiores para decolar), em
elevadas altitudes, com elevados pesos de decolagem e na presença de elevadas
temperaturas do ar (SAINTIVE, 2011).
É a velocidade na qual, acima dela, a aeronave pode deixar o solo (despegar) com
segurança e continuar a decolagem sem mostrar características perigosas. A VMU
é normalmente definida quando o profundor da aeronave tem força suficiente
para levar a aeronave para uma atitude em que possa prosseguir na decolagem.
Uma aeronave é definida como de “geometria limitada” quando a sua cauda entra
em contato com o solo, antes da atitude necessária para que o profundor gere a
sustentação necessária para retirar a aeronave do solo. Nesse caso, a cauda da
aeronave irá derrapar no chão até que acelere a uma velocidade suficiente para
sair do chão (EMBRAER, 2001). A VMU é ensaiada para as situações de AEO (All
Engine Operating) e OEI (One Engine Inoperative).
92
Teoria de Voo de Alta Velocidade
VMCA – “Minimum Control Speed on the Air” – Velocidade Mínima de Controle no Ar:
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Capítulo 2
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
95
Capítulo 2
Vamos agora tecer considerações sobre cada uma dessas fases, desde o instante
em que a aeronave inicia a rolagem, até o momento em que atinge ao menos
1.500 pés de altura.
a. Distância de Decolagem:
Os requisitos são determinados com base no princípio de que a aeronave é
acelerada para a VEF, momento em que o motor crítico se torna inoperante e
permanece inoperante pelo resto da decolagem, e de que a velocidade de
segurança de decolagem V2 é atingida antes da aeronave atingir 35 pés de altura.
Os segmentos seguintes de voo se iniciam no final da Distância de Decolagem
(TOD), na altura de 35 pés.
Você já deve ter ouvido falar que uma pista de decolagem e de pouso não é
composta somente pelo seu segmento asfaltado ou de concreto. Essa afirmação
é verdadeira por algumas razões. Em tese, analisando-se somente a questão do
comprimento de uma pista (sem levarmos em conta a possibilidade de existência
de obstáculos após a decolagem, ou a altitude do campo), podemos afirmar que
uma aeronave que decola de uma pista com maior comprimento poderá levar
mais carga do que outra que decola de uma pista menor, nas mesmas condições.
O mesmo pensamento é válido para o pouso.
Você compreenderá mais adiante que essa afirmativa é parcialmente correta, sendo
válida somente quando o peso de decolagem for limitado pelo comprimento da pista.
A partir de um dado comprimento de pista, dependendo de qual fator limitante de
decolagem seja mais restritivo (por exemplo, se o peso for limitado pela capacidade
dos freios, pelo desempenho dos pneus, pelo desempenho de subida nos segmentos
de subida, ou pela existência de obstáculos), de nada adiantará estender a pista de
decolagem após um certo comprimento. Mesmo com uma pista considerada “infinita”,
o peso de decolagem continuaria sendo limitado por outros fatores.
Bem, é possível compreender que nem sempre é possível “construir” uma pista
com o tamanho necessário para a operação de todas as categorias de aeronaves,
seja por questões de custo ou mesmo por quesitos técnicos ou de espaço físico.
Assim, para “estender” o comprimento de uma pista, utilizam-se dois artifícios: a
construção das chamadas “Stopway” e “Clearway”, largamente empregadas na
maioria das pistas dos aeroportos. Vejamos do que se tratam:
96
Teoria de Voo de Alta Velocidade
STOPWAY:
A STOPWAY nada mais é do que uma área além do final da pista, com as
seguintes características:
Ou seja, a Stopway não precisa ser construída com o mesmo material da pista,
desde que suporte o peso da aeronave sem causar danos a ela. Importante
observar que o trecho da Stopway não pode ser utilizado pelo piloto como
parâmetro para efeitos de decolagem ou de pouso, nos seguintes sentidos – a
aeronave não pode usar a Stopway como um acréscimo no comprimento da pista
destinado a acelerar e decolar, tampouco para desacelerar após o pouso, mas
somente para desaceleração em caso de uma rejeição de decolagem.
CLEARWAY:
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Capítulo 2
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
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Capítulo 2
b. Primeiro Segmento:
É a fase temporal desde a VLOF até o ponto onde o trem de pouso é totalmente
retraído. O Gradiente bruto necessário de subida deve ser positivo em todos os
momentos, para aeronaves de dois motores, não inferior a 0,3% para aeronaves
de três motores, e não inferior a 0,5% para aeronaves de quatro motores.
c. Segundo Segmento:
Esse segmento começa quando o trem de pouso é totalmente recolhido e pode
estender-se a qualquer ponto em que a aeronave nivele para iniciar uma aceleração
(para recolhimento dos Flapes, sempre acima da altura mínima de 400 pés –
esta altura de nivelamento pode ser maior, a depender da necessidade de
livrar obstáculos no perfil da subida). O Segundo Segmento termina quando a
aeronave atinge a altura planejada para o início da aceleração para recolhimento
dos dispositivos hipersustentadores, ainda mantendo-se a potência de decolagem
nos motores remanescentes. A redução da potência ocorrerá ao longo ou ao final
do Terceiro Segmento, como será visto a seguir.
100
Teoria de Voo de Alta Velocidade
Esta é uma das fases que mais impõem limites ao peso de decolagem
de uma aeronave. A depender, principalmente, da altitude do campo, da
temperatura e da seleção de Flapes de decolagem, os critérios de subida no
Segundo Segmento podem restringir seriamente o limite de peso de decolagem
de uma aeronave.
d. Terceiro Segmento:
Também conhecido como Segmento de Aceleração, é o primeiro dos segmentos
«opcionais». Pode ser usado quando os obstáculos permitem à aeronave voar
em atitude nivelada, para possibilitar a sua aceleração. Durante esse segmento, a
aeronave é acelerada até a Velocidade Mínima de Recolhimento dos Flapes (VFR)
– ou mais de uma VFR – o recolhimento pode ser sequencial, ou seja, a depender
da configuração de Flapes empregada na decolagem, cada recolhimento deverá
obedecer a um limite de velocidade específico.
e. Quarto Segmento:
Também chamado de Segmento de Subida Final de Decolagem, compreende o
segmento existente a partir da altura de aceleração escolhida, até uma altitude
de ao menos 1500 pés. Os gradientes brutos de subida para este segmento não
podem ser inferiores a 1,2% para aeronaves bimotoras, 1,5% para aeronaves
trimotoras e 1,7% para aeronaves quadrimotoras, voados a uma velocidade
não inferior a 1,25 Vs.
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Capítulo 2
102
Teoria de Voo de Alta Velocidade
103
Capítulo 2
Figura 2.10 – Esquema simplificado – Requisitos para definição da Accelerate and Go Distance.
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
A figura a seguir mostra um esquema de ensaio da ASD (letra “b” anterior, sem
especificar a questão dos dois segundos).
Figura 2.11 – Esquema simplificado – Requisitos para definir a Accelerate and Stop Distance.
a. Altitude Pressão:
Você já sabe que, quanto maior a altitude, menor a densidade do ar. Também
tem conhecimento de que, quanto menor a densidade do ar, menor é a tração
desenvolvida pelo motor da aeronave. Assim, a altitude tem efeito negativo
no desempenho do avião, e isso também se reflete na corrida de decolagem.
Assim, uma aeronave operando em grandes altitudes levará mais tempo para
acelerar até a V1 Min, por exemplo, e consumirá mais pista para tal. Assim,
sobrará menos pista para prosseguir numa decolagem, em caso de pane de um
motor, e menos pista para abortá-la, resultando na necessária redução do peso
máximo de decolagem. A V1, a VR e a V2 aumentam com o aumento da altitude
(SAINTIVE, 2011).
105
Capítulo 2
b. Temperatura:
O aumento da temperatura possui efeito similar à altitude, reduzindo a densidade
do ar. Assim, quanto maior a temperatura, menor o peso máximo disponível
para a decolagem, e maiores serão as velocidades V1, VR e V2.
c. Vento:
A velocidade do vento relatada pela torre do aeroporto é medida a uma altura
de 10 metros. Os pesos de decolagem limitados por comprimento de pista, por
energia dos freios, por velocidade dos pneus e aqueles limitados por obstáculos
(veremos mais adiante este conceito), são afetados pelo vento durante a
decolagem. Os ventos de proa melhoram o desempenho de decolagem,
devido às menores distâncias necessárias para a aceleração da aeronave,
devido ao emprego de velocidades mais baixas em relação ao solo e devido
às subidas com maiores gradientes. Já os componentes de vento de cauda
degradam o desempenho de decolagem devido à maior distância necessária
para aceleração da aeronave, às velocidades mais elevadas em relação ao solo e
à adoção de gradientes de subida degradados.
Um vento de cauda muito forte pode, por exemplo, penalizar o peso máximo
de decolagem, por conta da VMBE e da VMAX TIRE. Nesses casos, a velocidade em
relação ao solo será maior do que a velocidade indicada – assim, a aeronave
pode alcançar os limites dos freios ou dos pneus, principalmente em caso de
necessidade de abortiva. Para evitar isso, os gráficos de análise de decolagem
reduzem o valor da V1 para impedir o alcance da VMBE, por exemplo, isso implica
em reduzir o peso máximo de decolagem (a decolagem passa a ser limitada pela
capacidade máxima de frenagem da aeronave).
106
Teoria de Voo de Alta Velocidade
107
Capítulo 2
No caso do gradiente negativo, você pode imaginar que ele poderia influenciar
negativamente na capacidade de frenagem da aeronave, em caso de abortiva. Esse
pensamento é correto, porém, o efeito de aceleração até a V1 é superior ao impacto
na frenagem, e o balanço acaba sendo positivo e permitindo um aumento no peso
máximo de decolagem (comparativamente a uma pista sem Gradiente).
f. Condições da Pista:
Os requisitos de performance, para fins de ensaio, consideram que a pista de
decolagem é de superfície dura e seca, sem buracos. Ou seja, nos casos de
operação em pistas não pavimentadas, ou na ocorrência de gelo, neve, slush
(mistura de neve e sujeira), pista molhada ou contaminada, o peso máximo de
decolagem encontrado nas análises deverá ser penalizado, corrigido para valores
menores (os fabricantes incluem esse percentual de “penalidade” em suas
publicações e nos softwares).
• Pista Molhada:
Uma pista é considerada “molhada” quando seu pavimento está completamente
encharcado, brilhante na aparência e com profundidade menor do que 1/8 de
polegada (3 mm) de água. Uma pista molhada não é considerada uma pista
contaminada. Até 1998, a FAA (Estados Unidos) não exigia ensaios em pistas
molhadas. Porém, agora tais ensaios são necessários para aviões certificados após
a alteração 25-92 do FAR 25 (aplicável, por exemplo, na certificação das aeronaves
brasileiras ERJ-170/190). Já a JAA (Joint Aviation Authorities -Europa) exige a
realização de ensaios com pista molhada para todos os modelos de aeronaves.
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
• Pista Contaminada:
Uma pista é considerada contaminada quando mais de 25% da superfície a
ser utilizada é coberta por água parada com mais de 3 mm de profundidade.
As pistas cobertas de neve e lama também são consideradas contaminadas,
dependendo da profundidade do agente contaminante.
• Pista Escorregadia:
Uma pista é considerada escorregadia se apresentar um acúmulo de neve
ou de gelo compactado, que causam menor eficiência de frenagem durante
a desaceleração da aeronave. “Forças de Retardo” durante a aceleração
da aeronave (causadas por arrasto de precipitação) são insignificantes em
pistas escorregadias. A JAA exige a certificação para desempenho em pistas
escorregadias, mas a FAA não cobra tal requisito.
• Pistas contaminadas:
• Redução na capacidade de frenagem devido à água / lama /
neve acumulada na pista, causando um aumento na distância
necessária para desacelerar e parar a aeronave a partir da V1.
• Maior arrasto de precipitação (arrasto do deslocamento do trem
de pouso e do impacto da água / lama / neve acumulada na pista),
causando um aumento na distância para acelerar para a V1,
aumento na Accelerate and Go Distance – AGD e aumento
na Distância de Decolagem AEO, mas redução na distância
necessária para desacelerar e parar a aeronave a partir da V1.
109
Capítulo 2
Já comentamos que depósitos de água, lama ou neve podem fazer com que uma
pista seja considerada contaminada. Como cada um desses contaminantes tem
características diferentes, seria necessário desenvolver gráficos individuais nos
AFM, para cada tipo de contaminante. Além disso, a neve pode estar presente em
vários estágios, aumentando ainda mais o número de cartas de AFM necessárias.
110
Teoria de Voo de Alta Velocidade
Assim, levando em conta outros fatores vistos anteriormente, devemos considerar que
decolagens efetuadas em situações extremas e desfavoráveis, como em pistas com
elevada altitude, com elevada temperatura, com declive (slope) negativo, com vento
de cauda ou com pouco Flape, poderão acarretar na necessidade de redução da V1
(para não ultrapassar a VMBE) e de redução da VLOF (para não alcançar a velocidade
máxima dos pneus). Ambas as reduções de velocidade (V1 e VLOF) implicam na
necessidade de redução do peso máximo de decolagem (SAINTIVE, 2011).
111
Capítulo 2
Quando a V1 Otimizada (veremos esse conceito adiante) tem que ser reduzida
para não exceder a VMBE, há degradação no peso limite da decolagem. Esse peso
degradado é então chamado de Peso Máximo de Decolagem Limitado pelos
Freios (ou Maximum Brake EnergyLimited Takeoff Weight, em inglês).
Quando a VLOF tiver que ser reduzida para não exceder a VMAX TIRE, haverá
degradação no limitante de peso de decolagem. Esse peso degradado é então
chamado Peso de Decolagem Limitado pelos Pneus (ou Tire Speed Limited
Takeoff Weight, em inglês).
112
Teoria de Voo de Alta Velocidade
Figura 2.13 – Representação gráfica da relação entre a V1 e o Peso de Decolagem, para um comprimento
de pista fixo.
113
Capítulo 2
114
Teoria de Voo de Alta Velocidade
115
Capítulo 2
Figura 2.16 – Relação entre Peso Máximo de Decolagem, V1, Stopway e Clearway
Como regra geral, V1 CWY será sempre menor que V1 BAL, e V1 SWY será sempre
maior que V1 BAL (o uso da Clearway diminui a V1 e o uso da Stopway aumenta a V1).
Agora, repare na próxima figura. Nela, é possível observar que existe uma faixa
de V1 válida, que pode ser usada se o peso real de decolagem for menor do
que o Peso Máximo de Decolagem Limitado Pelo Comprimento de Pista.
O uso da menor V1 da faixa resultará na aeronave atingindo a altura de 35 pés
(prosseguir na decolagem) no final da pista, mas parando a aeronave antes do
final da pista (no caso de abortiva na V1).
O uso de uma V1 entre o menor e o maior valor resultará em uma AGD e uma
ASD inferiores ao comprimento total da pista.
116
Teoria de Voo de Alta Velocidade
117
Capítulo 2
118
Teoria de Voo de Alta Velocidade
Bem, nesse ponto você pode estar se perguntando: ora, ocorrendo a perda de um
motor durante a decolagem, o fato de utilizar uma potência reduzida não comprometerá
o desempenho da aeronave para prosseguir na decolagem e, posteriormente,
comprometer também o desempenho nos segmentos de subida? A resposta é não. As
aeronaves que operam com regimes de potência de decolagem degradada, que são
definidos automaticamente por sistemas computacionais, possuem uma lógica que
comanda o emprego de potência máxima de decolagem nos motores em operação,
sempre que ocorre a perda de um dos motores nessa fase. Assim, ao perder um motor,
por exemplo, os motores restantes são acelerados automaticamente para a potência
máxima de decolagem, para garantir adequado desempenho nas fases seguintes. Na
ocorrência de falha ou inexistência de automação, ou no caso de emprego do Método de
Temperatura Assumida, os pilotos podem a qualquer momento avançar os manetes de
potência até o máximo do regime de decolagem.
119
Capítulo 2
Bem, até o momento abordamos quadro dos sete fatores de ensaio que podem
limitar o peso de uma decolagem. Foram eles: Limitante por Pista, Limitante por
Freios, Limitante por Pneus e Limitante por V1 Mínima. Para complementar o
nosso estudo, passaremos a tratar dos demais limitantes de decolagem, quais
sejam: Limitante por Trajetória de Decolagem, Limitante por Obstáculos e
Limitante por tempo de uso da Potência Máxima de Decolagem.
120
Teoria de Voo de Alta Velocidade
121
Capítulo 2
Importa observar que, uma aeronave que decola sem problemas no motor, ou
qualquer outra emergência grave que prejudique seriamente seu desempenho, fará
uma subida constante (sem necessidade de nivelamento para recolher os Flapes)
durante os segmentos de decolagem até 1500 pés, quando iniciará sua subida em
rota, sempre com gradientes muito superiores aos mínimos que vimos há pouco.
122
Teoria de Voo de Alta Velocidade
Embora a altura que uma aeronave deva atingir ao fim da pista, durante uma
decolagem em pistas molhadas / contaminadas / escorregadias seja de 15 pés,
a trajetória de decolagem é considerada como partindo de 35 pés (demais casos
de operação, ou seja, pistas secas). Na verdade, no caso de operação nas pistas
prejudicadas, a trajetória de decolagem pode ser considerada a partir da altura de
15 pés, mas a altura necessária para livrar os obstáculos será de 15 pés, ao invés
de 35 pés. A figura abaixo esclarece essa questão.
123
Capítulo 2
124
Teoria de Voo de Alta Velocidade
125
Capítulo 2
Nesse ponto, cabe uma outra consideração a ser feita, no tocante à possibilidade
de modificarmos o valor inicial da V2 para conseguirmos um rendimento
ainda melhor da aeronave no Segundo Segmento de decolagem. O efeito da
variação da V2 é similar ao observado quando da variação de Flapes para a
decolagem, tratado anteriormente. Então, surge o conceito de “Improoved Climb
Performance” – ou Performance Melhorada de Subida, que se encontra disponível
para algumas aeronaves e possibilita incremento no seu gradiente de subida, no
Segundo Segmento de decolagem.
126
Teoria de Voo de Alta Velocidade
127
Capítulo 2
Você já compreendeu que uma aeronave pode abortar qualquer decolagem antes
da V1, teoricamente com segurança. Entretanto, a história nos conta que muitas
abortivas de decolagem, iniciadas no limite superior do regime de alta velocidade,
resultaram em acidentes com a aeronave, ultrapassando os limites da pista,
com danos estruturais à aeronave ou aos seus passageiros, até mesmo com a
ocorrência de fogo (incêndio originado nos sistemas de freios).
Segundo Saintive (2011), das 230 milhões de decolagens ocorridas entre 1959
e 1990, 400 pessoas morreram em 74 acidentes / incidentes aeronáuticos,
originados em abortivas de decolagem. Parcela significativa dessas abortivas
foram realizadas em situações onde o limitante de decolagem não era o
comprimento da pista, ou seja, havia excesso de pista entre 10% e 300% além
do mínimo necessário. Ainda segundo o autor, no mesmo período não houve
relato de nenhum acidente aéreo por conta de uma aeronave ter prosseguido na
decolagem, após uma falha durante a corrida no solo.
Analisemos outro dado interessante: até o ano de 2000, cerca de 76% dos
motivos que levaram aeronaves da Boeing Co a efetuar uma abortiva / rejeição
de decolagem (RTO – Rejected Takeoff), em regime de alta velocidade, não
estavam relacionados com falhas de motor. Isso indica que, muito provavelmente,
a maioria dessas RTO poderia ter sido evitada. Ainda com respeito a essas
estatísticas, 58% de todas as aeronaves envolvidas em acidentes, em virtude de
uma RTO, decidiram pela abortiva acima da V1.
128
Teoria de Voo de Alta Velocidade
Santive (2011) também afirma que o NTSB – agência de segurança de voo norte-
americana – concluiu que 80% dos acidentes ocorridos após uma abortiva de
decolagem poderiam ter sido evitados das seguintes maneiras: 55% continuando
a decolagem; 16% empregando técnicas corretas de desaceleração e parada; e
9% por meio de um melhor preparo do brifim de decolagem. Como orientação
geral, a decolagem de um aeródromo em que o peso seja limitado pelo
comprimento da pista é um “recado” para que o piloto seja muito criterioso, ao
decidir por uma abortiva de decolagem.
Então, de uma forma resumida, e considerando que na maioria das vezes é mais
seguro prosseguir na decolagem do que abortá-la, as seguintes considerações
podem ser feitas, oriundas de consenso de recomendações repassadas pelos
fabricantes de aeronaves em seus manuais operacionais. Tenha em mente o que
já expusemos anteriormente – a decisão de abortar uma decolagem deve ser feita
antes da V1 – qualquer tentativa de RTO acima de V1 pode causar acidentes, a
depender do comprimento e das condições da pista:
129
Capítulo 2
Perceba que os motivos que justificam uma abortiva em High Speed restringem-
se a situações realmente críticas. Muitos pilotos imaginam que seja recomendado
abortar uma decolagem nesse regime por outros motivos, por conta, por
exemplo, do estouro de um pneu. Entretanto, a tripulação precisa considerar que,
para efetuar uma RTO em segurança, a aeronave deve ter o sistema de freios,
das rodas e pneus em perfeitas condições de uso, ou poderá não ser possível
parar nos limites da pista. Nessa situação, normalmente o melhor a fazer é
prosseguir na decolagem. Um pneu estourado trará menos riscos no pouso, após
a aeronave consumir combustível e reduzir o seu peso, numa situação na qual
o piloto poderá dispor de todo o comprimento da pista para efetuar o pouso e a
desaceleração e parada.
Bem, nesse ponto chegamos ao final do estudo dos limitantes que caracterizam
uma decolagem. Você deve se recordar que abordamos de maneira rápida os
sete diferentes fatores que podem limitar uma decolagem, para os quais as
certificações de operação das aeronaves devem cumprir determinados requisitos.
Os limitantes aqui abordados foram: Limitante pela Pista (Field Limit), Limitante
por Freios (Brake Energy Limit), Limitante por Pneus (Tire Limit), Limitante
por V1 Mínima (V1 Min Limit); Limitante por Trajetória de Decolagem (Takeoff
Climb Limit), Limitante por Obstáculos (Obstacle Limit) e Limitante por tempo
de uso da Potência Máxima de Decolagem (5 / 10 Minutes Takeoff Thrust
Limit). Considerando apenas a fase de decolagem, o peso máximo disponível
para a decolagem deverá ser o MENOR dos sete – ou seja, o mais restritivo.
130
Teoria de Voo de Alta Velocidade
131
Capítulo 2
Definições:
ACN – número que indica o efeito relativo de uma aeronave sobre um pavimento
de determinado grau de resistência, sendo esse número fornecido pelo fabricante
da aeronave à autoridade certificadora do país onde opere.
132
Teoria de Voo de Alta Velocidade
Exemplo: PCN 50 / F / A / X / T
1 2 3 4
1 – Tipo de Pavimento:
R = Rígido / F = Flexível
2 – Resistência do Subleito:
133
Capítulo 2
4 – Método de Determinação:
T = Avaliação Técnica;
U = Avaliação experimental.
Mas, como podemos consultar, e de que maneira são definidos esses índices?
Os pilotos e operadores de aeronaves encontram as informações de PCN
de uma determinada pista nas documentações aeronáuticas emitidas pelas
autoridades aeronáuticas do país, e as informações de ACN nas publicações
operacionais do fabricante da aeronave (ou também em publicações oficiais
das autoridades aeronáuticas). No Brasil, as informações de PCN encontram-
se listadas no AIP/ROTAER, segundo a codificação padrão definida pela ICAO
exemplificada anteriormente.
134
Teoria de Voo de Alta Velocidade
Por fim, segundo Saintive (2011), as operações das pistas de pouso e decolagem
podem considerar uma margem de segurança, para as chamadas “operações
com sobrecarga”. Assim, é estabelecido que em pavimentos rígidos o PCN
poderá ser extrapolado em 5% de seu valor e, em pavimentos flexíveis, em 10%.
Tais operações com sobrecarga não podem representar mais do que 5% do
número total de operações regulares anuais da pista. As operações de sobrecarga
com uma diferença de 50% ou mais no ACN em relação ao PCN só devem ser
realizadas em caso de emergência.
Seção 2
Performance de Subida, Cruzeiro, Descida e
Pouso de Aeronaves
A fase de subida é sempre realizada com potência inferior àquela utilizada para a
decolagem. Durante a decolagem, procuramos ganhar velocidade o mais rápido
possível e temos que vencer a inércia e o atrito, mas o custo é uma exigência do
motor que não pode ser mantida por um longo período. Já estudamos que as
modernas aeronaves a jato possuem sistemas computacionais que controlam
a potência de seus motores para cada fase do voo, não permitindo que sejam
excedidos limites de temperatura que lhes possam causar danos irreversíveis.
135
Capítulo 2
Abreu e Pires (2016) relembram que a decolagem exige mais do motor do que
o voo nivelado, pois a força de sustentação deve ser maior do que o peso, mas
o regime utilizado deve ser adequado para a operação do motor por tempo
prolongado, sem prejuízos ao seu funcionamento ou ao seu tempo de vida.
A figura a seguir representa duas aeronaves que iniciam uma subida a partir de um
mesmo ponto. Uma delas usa a velocidade de melhor ângulo de subida; a outra,
a velocidade de maior razão de subida. É também representado na figura um
obstáculo em algum ponto adiante da rota, como uma montanha por exemplo.
136
Teoria de Voo de Alta Velocidade
Figura 2.25 – Melhor Ângulo de Subida (Vx) x Melhor Razão de Subida (Vy)
137
Capítulo 2
Já a razão de subida é maior com alta densidade do ar, baixo peso, alta
potência disponível e menor área da asa. Densidade, peso e potência
interferem igualmente na sustentação – em linhas simples, a área da asa tem
influência direta na sustentação, porém, prejudica a velocidade.
Assim, uma vez escolhido o nível de cruzeiro a ser alcançado (que dependerá,
como veremos mais adiante, de alguns fatores como o peso da aeronave, os
ventos reinantes em altitude, as condições meteorológicas, a distância a ser
percorrida na rota, as elevações a serem sobrevoadas, e a disponibilidade
daquela altitude em termos de tráfego aéreo), restará ao piloto decidir de que
maneira irá realizar a subida.
138
Teoria de Voo de Alta Velocidade
139
Capítulo 2
Suponha que esse mesmo jato esteja na configuração de subida – trem de pouso
e Flapes recolhidos, com um determinado peso “X”. Com essa configuração e
peso “X”, ao consultarmos o manual de operação da aeronave, constatamos
que a velocidade de Estol com asas niveladas é de 152 KIAS, ao nível do mar.
Em uma atmosfera padrão, isso corresponde a uma Velocidade Verdadeira de
140
Teoria de Voo de Alta Velocidade
152 KTAS e a um número Mach de 0,23. Agora vejamos como fica essa relação
quando a aeronave atinge 38.000 Ft (FL 380). Nessa altitude, a aeronave ainda
deverá Estolar a aproximadamente 152 KCAS, mas agora com uma Velocidade
Verdadeira de cerca de 287 KTAS e com um número Mach de 0,50!
141
Capítulo 2
142
Teoria de Voo de Alta Velocidade
143
Capítulo 2
Como regra geral, os operadores das aeronaves de transporte têm por objetivo
minimizar os custos operacionais das suas aeronaves. Nesse sentido, buscam
voar em regimes que proporcionem o menor consumo de combustível, aliado ao
menor tempo de voo possível. De certo você já percebeu que não é possível obter
a máxima velocidade da aeronave com o menor consumo de combustível, e para
tal os fabricantes desenvolvem regimes que possam maximizar tais fatores.
Assim como nos automóveis, onde temos como padrão de leitura de eficiência, o
quesito de “quilometragem percorrida por litro de combustível” para uma determinada
velocidade, no caso dos aviões, essa relação é denominada de “alcance específico”, e é
empregada como uma referência para se determinar o regime de voo mais adequado.
144
Teoria de Voo de Alta Velocidade
Bem, você já deve estar percebendo que não é tão simples se determinar qual o
melhor regime de cruzeiro a ser empregado em rota, haja vista que muitos fatores
estão envolvidos nessa conta. Por exemplo, se voarmos da forma mais econômica
possível economizaremos combustível, mas também realizaremos um voo mais
demorado, e isso também tem impacto nos custos. Isso porque, ao analisarmos
com mais calma, veremos que muitas peças e sistemas da aeronave possuem
manutenções programadas em função do número de horas voadas, assim como as
tripulações possuem regulamentações que limitam o número máximo de horas na
jornada diária, e ainda temos a questão do leasing (aluguel) da aeronave.
145
Capítulo 2
146
Teoria de Voo de Alta Velocidade
Figura 2.29 – Diagrama demonstrando as velocidades dos regimes de Máxima Autonomia, Máximo
Alcance e Cruzeiro de Longo Alcance
147
Capítulo 2
Saintive (2011) lembra que é mais importante operar num regime de baixos
custos do que num regime que simplesmente consuma menos combustível. O
custo do combustível pode ser minimizado se o regime de cruzeiro escolhido
for o MRC (Cruzeiro de Máximo Alcance), já os custos com o “tempo de voo”
decrescem na medida em que se consegue empregar uma velocidade maior.
148
Teoria de Voo de Alta Velocidade
a. Altitude Pressão:
Nos voos de cruzeiro, a tração deve ser igual ao arrasto, para que a aeronave se
mantenha nivelada em uma velocidade constante. Para os aviões que cruzam
em regime subsônico, ou seja, aeronaves de baixa performance, Santive 2011
afirma que ao fixarmos o peso e o ângulo de ataque, o arrasto será independente
da altitude de voo, haja vista que em altitudes maiores o arrasto será reduzido
pela menor densidade do ar, mas também será compensado pelo aumento da
velocidade da aeronave.
Nos aviões a jato o alcance específico cresce nas grandes altitudes. Nessas
altitudes, uma mesma tração é obtida com menor consumo de combustível,
o que lhe proporciona maiores velocidades e consequente maior alcance
específico. Entretanto, conforme já estudamos, aeronaves de alta performance e
que operam em regime transônico estão sujeitas aos efeitos de compressibilidade
do ar (quando voam acima do Mach Crítico). Uma aeronave voando com
149
Capítulo 2
150
Teoria de Voo de Alta Velocidade
A altitude ideal, definida de acordo com o peso da aeronave, também não leva
em conta o consumo total de combustível durante um voo inteiro. Para voos de
menor alcance, faz mais sentido definir a altitude ideal de cruzeiro como a altitude
em que a totalidade da queima de combustível de voo é minimizada (isto é,
minimizando o combustível Subida + Cruzeiro + Descida).
Assim, deve ser observado que em voos muito curtos o segmento de cruzeiro
nivelado pode ser pequeno ou até inexistente (descida iniciando imediatamente
após a subida). Nesse caso, a fim de permitir a ocorrência de ao menos uma
pequena etapa do voo nivelado (para o serviço de bordo, ou para que os
passageiros possam usar o toilete, por exemplo), o operador deve levar em conta
que isso implicará uma queima total de combustível maior. Como exemplo, a
EMBRAER publica no Manual de Operações (AOM) da aeronave ERJ 145 uma
tabela de altitude de cruzeiro baseada no consumo mínimo de combustível de
voo, e outra com pelo menos 40% do tempo total de voo em cruzeiro nivelado.
Ventos fortes de proa podem fazer com que o piloto seja obrigado a escolher um
nível de voo teoricamente não tão econômico, em termos de alcance específico,
mas que fornecerá um alcance específico melhor do que aquele inicialmente
escolhido e que continha componentes de vento de proa muito fortes. Os
fabricantes de aeronaves costumam publicar em seus manuais as chamadas
tabelas de “Wind-Altitude Trade”, que fornecem indicações para a escolha
de altitudes de voo alternativas, para os casos de existência de ventos não
favoráveis na altitude ótima de voo para o peso da aeronave (EMBRAER 2001).
151
Capítulo 2
b. Peso da Aeronave
Sabemos que, para manter-se nivelada, uma aeronave deve ter compensadas as
forças que agem sobre si, mantendo um equilíbrio. Quanto maior o peso, maior
deve ser a sustentação gerada pelas asas, o que se consegue somente por
meio do incremento na tração, o que gera aumento de consumo de combustível.
Assim, para uma mesma altitude, uma aeronave com peso menor apresentará um
Alcance Específico maior. A figura abaixo exemplifica isso.
152
Teoria de Voo de Alta Velocidade
Figura 2.33 – Gráfico que destaca a influência do peso sobre os regimes de cruzeiro
153
Capítulo 2
Já para uma dada velocidade, peso e empuxo, existe uma altitude máxima
na qual o voo reto e nivelado é possível, e essa “altitude máxima” também é
chamada de “teto de serviço”. A fim de fornecer alguma margem de desempenho
para as aeronaves que voam na altitude máxima, o Teto de Serviço é usualmente
definido como a altitude máxima para uma determinada velocidade, peso e
empuxo, na qual a aeronave ainda tem uma taxa residual de subida de, por
exemplo, 100 a 300 pés por minuto (ou seja, um pouco abaixo do Teto Absoluto).
154
Teoria de Voo de Alta Velocidade
155
Capítulo 2
O piloto em transição para uma aeronave a jato deve ter em mente que a
manobrabilidade desse tipo de avião é particularmente crítica, especialmente nas
elevadas altitudes. Alguns aviões a jato têm intervalo estreito entre os Buffets de
alta e baixa velocidade. Uma velocidade que o piloto deve ter firmemente fixada é
a de penetração em ar turbulento, recomendada pelo fabricante para o modelo do
avião. (USA, 2016, pilot flying handbook).
Apenas para relembrar um conceito básico sobre aerodinâmica, que você já deve
ter estudado, e esclarecer o que falamos acima sobre carga “G”. O fator de carga
é a relação entre uma força (uma carga) gerada pela asa, para contrapor-se ao
peso da aeronave. Uma aeronave em voo reto e nivelado está sujeita a um fator de
carga “G” de valor igual a 1, pois a sustentação (a força gerada pela asa) é igual ao
peso da aeronave. Ao efetuar uma curva, por exemplo, a aeronave deve produzir
mais sustentação – caso deseje manter o voo nivelado. Como exemplo, um avião
156
Teoria de Voo de Alta Velocidade
Segundo Saintive (2011), o órgão regulador dos EUA (FAA) publica, em sua
documentação FAR 25.207, que o piloto deve receber da aeronave um aviso claro e
distinto da aproximação de uma situação de Estol, com uma antecedência mínima
de 7% (a legislação brasileira ainda complementa, alertando que esse sinal não
pode ser somente visual, mas também sim sonoro). Muitos aviões possuem perfis
aerodinâmicos de asas que acabam “informando” ao piloto sobre a proximidade
do Estol, antes mesmo da margem exigida de 7%. Na ocorrência dos primeiros
descolamentos de filetes de ar dessas asas, a consequência é uma leve trepidação
que pode ser sentida pelos pilotos e servir como um sinal de alerta.
Entretanto, como bem pontua Saintive (2011), as complexas asas das modernas
aeronaves comerciais são dotadas de dispositivos e perfis que tendem a retardar
o descolamento dos filetes de ar, e muitas vezes não são capazes de, por si só,
“informarem” aos pilotos sobre a proximidade do Estol – ou seja, os pilotos não
podem reconhecer a proximidade do Estol em tempo adequado para uma efetiva
reação – a menos que um sistema específico os alerte.
Nas aeronaves comerciais, esse sistema é o Stick Shaker (e o Stick Pusher) – para
rever esse assunto, sugerimos que retorne ao Capítulo 1, quando tratamos sobre
os “Efeitos das Ondas de Choque Normais nos voos Transônicos”, especificamente
no item que trata do “Estol de Mach”. Saintive (2011) também relembra que as
aeronaves dotadas de Sidestick (um manche na lateral do painel de voo de cada
piloto, como nas aeronaves da família Airbus) não operam os sistemas Stick Shaker
e Pusher. Ao invés, essas são dotadas de um sistema que limita o ângulo de ataque
(AOA) a valores em que não seja possível ocorrer o Estol.
157
Capítulo 2
Comentamos anteriormente que alguns aviões a jato têm intervalo estreito entre
os Buffets de alta e de baixa velocidade. Por esse motivo, uma velocidade
que o piloto deve ter firmemente fixada é a de penetração em ar turbulento,
recomendada pelo fabricante para o modelo do avião. Mas, quais as
características dessa velocidade específica?
158
Teoria de Voo de Alta Velocidade
159
Capítulo 2
160
Teoria de Voo de Alta Velocidade
EMBRAER (2001) ainda pontua que é possível utilizar as curvas de Driftdown para
definir procedimentos operacionais. Antes da partida, uma análise detalhada deve
ser feita usando mapas do terreno, com a plotagem dos pontos mais altos dentro
da largura do corredor prescrito ao longo da rota (normalmente um corredor de 5
NM para cada lado da rota). O próximo passo é determinar se é possível manter o
voo nivelado com um motor inoperante, a pelo menos 1000 pés acima do ponto
mais alto de cruzamento ao longo de toda a rota. Se isso não for possível, ou
se as penalidades de peso associadas forem inaceitáveis, um procedimento de
Driftdown deve ser elaborado, assumindo-se a perda do motor no ponto mais
crítico da rota, de maneira a garantir que os obstáculos serão ultrapassados em
ao menos 2000 pés durante a descida.
Suponha que você esteja iniciando a operação ao longo de uma rota que sobrevoa
o perfil de terreno a seguir:
161
Capítulo 2
O ponto em que a linha tracejada toca o terreno é o primeiro ponto (A) mais distante
ao longo do trajeto, onde o piloto pode decidir por permanecer na rota.
Continuando a partir de qualquer lugar antes desse ponto, resultaria na passagem
da aeronave muito perto do terreno ou até mesmo colidindo com ele.
162
Teoria de Voo de Alta Velocidade
Figura 2.37 – Cruzamento das Curvas de Driftdown – Ponto de Não Retorno e Altitude Mínima de Voo
Voos em altitudes inferiores à Altitude Mínima de Voo não são permitidos, uma
vez que não garantem que a aeronave seja capaz de livrar as elevações do
terreno com segurança. A figura abaixo descreve a manobra de Driftdown, tanto
para subir quanto para descer com um ou dois motores inoperantes, seguindo os
critérios de trajetória bruta e líquida comentados anteriormente.
163
Capítulo 2
Por fim, Saintive (2011) ainda observa outra situação. Podem existir
circunstâncias em que as curvas de Driftdown não se encontrem. Então, teremos
uma nova figura – o “Ponto de Continuar” – ponto da rota no qual é possível
continuar o voo em descida, até atingir a altitude líquida e prosseguir mantendo
separação vertical de ao menos 2000 pés sobre os obstáculos.
164
Teoria de Voo de Alta Velocidade
2.3.1 Descida
Os regimes de descida (potência, velocidade e gradiente de descida) empregados
pelas companhias de transporte comercial levam em conta aspectos técnicos e
operacionais (limitantes da aeronave, por exemplo), e aspectos essencialmente
econômicos. A descida é uma fase que dura entre 15 a 25 minutos, e pode não
representar uma grande influência de custos para uma etapa total de dez horas de
voo, mas certamente contribuirá para a economicidade de voos de menor duração.
Assim, Saintive (2011) destaca alguns dos aspectos que determinam o tipo de
regime a ser empregado durante a fase de descida:
a. o peso da aeronave;
b. o vento ao longo da descida;
c. o conforto dos passageiros;
d. a pressurização da aeronave;
e. a existência de zonas de turbulência.
165
Capítulo 2
Assim, você pode perceber que existe uma grande e variada gama de aspectos
que influenciam no tipo de descida que uma aeronave irá utilizar. Ainda, devemos
considerar se a aeronave se encontra em uma situação de emergência ou não
(o que a pode obrigar a ter que livrar rapidamente uma altitude, para níveis mais
baixos de voo, ou ainda emergências estruturais que restringem a velocidade
e a razão de descida a ser empregada – por exemplo e respectivamente, uma
despressurização de emergência ou uma colisão em voo com algum objeto).
Mais uma vez, e assim como ocorre na questão dos regimes de cruzeiro, o
fator econômico é levado em consideração. Assim, as aeronaves comerciais
costumam descer em regimes de máxima economia. Saintive (2011) relembra
que, para fins de planejamento, as descidas são planejadas (mas não executadas)
com velocidades cerca de 20 a 30 Kt maiores do que as de custo mínimo, e isso
fornece uma margem de segurança para eventuais necessidades de espera, por
exemplo. Em termos de economia e conforto, o regime mais adequado para a
descida é aquele que fornece uma rampa única, sem variantes, em regime de
marcha lenta, do ponto inicial de descida até o ponto em que a aeronave inicia
o procedimento para pouso – esse regime é conhecido como CDA – Continuous
Descent Approach ou OPD – Optimized Profile Descent.
166
Teoria de Voo de Alta Velocidade
Figura 2.40 – Descida otimizada, contínua (CDA), em comparação a uma descida convencional
Acima, repare que para cada perfil de descida, de acordo com a velocidade
haverá um gradiente de descida distinto. Segundo o peso da aeronave e os
ventos em altitude previstos para a descida, o piloto poderá adiantar ou atrasar o
início da descida, corrigindo o perfil ao longo da rampa por meio da velocidade,
evitando o emprego de potência nos motores.
167
Capítulo 2
a. Configuração de Aproximação:
· um motor inoperante;
· regime de potência de arremetida nos motores disponíveis;
· aeronave configurada com Flapes para aproximação;
· Trem de Pouso recolhido;
· velocidade igual à velocidade de aproximação perdida (VAPPCLB
ou VGA – Approach Climb Speed ou Go-Around Speed) –
ao menos 1,5 VS (sendo VS a velocidade de Estol para a
configuração de aproximação).
b. Configuração de Pouso:
· todos os motores em operação;
· regime de potência de arremetida em todos os motores;
· aeronave configurada com Flapes para pouso;
· Trem de Pouso baixado; e
· Velocidade igual à velocidade de subida de pouso (VLDGCLB,
geralmente igual a VREF) – ao menos 1,3VSO (sendo VSO a
velocidade de Estol para a configuração de pouso).
168
Teoria de Voo de Alta Velocidade
Figura 2.42 – Esquema representativo – Approach Climb e Landing Climb, com as respectivas
configurações e gradientes mínimos exigidos
169
Capítulo 2
negativa. Para a última fase do voo, o pouso, também há que se analisar todas
as condições da pista de pouso e da meteorologia, para verificar se haverá pista
suficiente para promover o pouso seguro e a completa parada da aeronave.
170
Teoria de Voo de Alta Velocidade
171
Capítulo 2
Ao tocar na pista:
Agora, veja a figura a seguir, que traz um resumo sobre os principais conceitos de
Distâncias Declaradas de pista, tanto para decolagem quanto para aterragem.
Repare que as distâncias declaradas de Clearway e Stopway não são utilizadas,
para fins de certificação, na composição do comprimento de pista LDA.
172
Teoria de Voo de Alta Velocidade
Figura 2.43 – Quadro resumo de Distâncias Declaradas de decolagem e pouso, para pistas.
Repare na Figura anterior, mais especificamente nas pistas “D” e “E”. Você pode
observar que, diferentemente das demais pistas, essas possuem cabeceiras ditas
como “deslocadas”, com um trecho inicial indisponível para operações de pouso. Isso
pode ocorrer por alguns motivos (obra, defeito no pavimento etc.), mas normalmente
são fruto da existência de obstáculos em uma determinada distância e gradiente
em relação àquela cabeceira. Sempre que um obstáculo “interferir” na rampa de
aproximação de uma pista, a autoridade aeroportuária poderá empregar essa medida
restritiva, limitando a LDA.
Assim, com respeito ao que já abordamos sobre “Limitante de Peso para Pouso
definido pelo Comprimento da Pista” ou “Landing Field Length Limited Weight”,
esse limitante é o peso máximo com que uma aeronave é capaz de aterrissar,
utilizando no máximo 60% do comprimento de pista disponível.
173
Capítulo 2
174
Teoria de Voo de Alta Velocidade
Seção 3
Peso e Balanceamento
3.1 Introdução
A segurança de voo e o desempenho são os fatores mais importantes que devem
ser levados em consideração no projeto e na operação de uma aeronave. Até o
momento, estudamos as características aerodinâmicas dos voos transônicos,
bem como nos debruçamos sobre diversos aspectos que caracterizam a
performance de um avião.
175
Capítulo 2
3.2 Pesos
Abreu e Pires (2016), Saintive (2011) e EMBRAER (2001) assim o definem, dividido
em duas categorias – Pesos Estruturais e Pesos Operacionais:
176
Teoria de Voo de Alta Velocidade
Peso Máximo Zero Combustível (PMZC) – Maximum Zero Fuel Weight (MZFW).
Na figura a seguir, repare na primeira aeronave que, para efeitos de instrução, não
está abastecida. As forças de sustentação geram um momento fletor elevado,
forçando a raiz da asa. Já na segunda aeronave, o efeito fletor é minimizado
quando as asas se encontram abastecidas.
177
Capítulo 2
Figura 2.46 – Peso Máximo Zero Combustível, momentos fletores com e sem abastecimento nas asas
b. Pesos Operacionais:
Peso Vazio Equipado / Peso de Fábrica Vazio – Equipped Empty Weight ou
Manufacturer Empty Weight (EEW ou MEW) é o peso da estrutura do avião, motores,
instrumentos, poltronas na versão considerada, equipamentos portáteis (como os
de emergência) e equipamentos fixos considerados parte integral da aeronave. É
essencialmente um peso “seco”, incluindo apenas os fluidos contidos em sistemas
fechados como os de oxigênio, de extinção de incêndio e dos amortecedores
dos trens de pouso etc. Tal peso é fornecido pelo fabricante e consta na ficha de
pesagem da aeronave. Deve ser periodicamente atualizado por razão de repinturas,
instalação de novos equipamentos, modificações estruturais etc.
Peso Básico (PB) – Basic Weight, Empty Weight ou Basic Empty Weight (BW,
EW ou BEW) é o Peso Vazio Equipado (EEW / MEW), acrescido de fluido
hidráulico, óleo dos motores e APU, e de combustível não drenável.
Peso Básico Operacional (PBO) – Operational Empty Weight, Basic Operational Weight
ou Dry Operating Weight (OEW, BOW ou DOW) é o Peso Básico (PB) acrescido do
peso de itens operacionais que incluem: a tripulação com bagagem, serviço de copa,
178
Teoria de Voo de Alta Velocidade
kit de navegação da cabine (mapas, cartas etc.), jornais e revistas, água e produtos
químicos dos lavatórios. Duas aeronaves que saem da fábrica com o mesmo PB podem
ter PBO bem distintos, em virtude de seus operadores as equiparem diferentemente.
Peso Zero Combustível (PAZC) – Actual Zero Fuel Weight (AZFW) é o peso da
aeronave carregada e sem combustível. Pode-se dizer que o PZC = PBO + carga paga.
Peso de Pouso (PAP) – Landing Weight (LW) é o peso que a aeronave terá no
pouso. Desconsiderados casos especiais, como o lançamento de paraquedistas,
alijamento de carga ou de combustível, ou abastecimento em voo, temos PAP =
PAD – consumo de combustível da etapa (trip fuel).
179
Capítulo 2
Peso Máximo de Pouso (PMP) – Maximum Landing Weight (MLW) – O Peso Máximo
de Pouso é calculado pelas limitações estruturais da aeronave, especialmente do
trem de pouso, mas também considera as limitações de performance, tais como
comprimento da pista, temperatura, altitude, umidade do ar e outros.
180
Teoria de Voo de Alta Velocidade
181
Capítulo 2
Peso disponível = PMD – PBO – Abastecimento (take off fuel) = 180.000 – 90.000
– 45.000 = 45.000 lb.
Agora que já sabemos que é possível “carregar” a aeronave com 45.000 lb, resta-
nos saber se todo esse peso pode ser levado como carga, ou se haverá restrições
para tal. Para fazer essa avaliação, temos que considerar o PMZC.
182
Teoria de Voo de Alta Velocidade
mais adiante que, para a segurança e melhor performance da aeronave, não basta
apenas seguir os seus limitantes de peso, mas também determinar como será sua
distribuição ao longo da aeronave, de acordo com os limites do Centro de Gravidade.
De tudo o que já estudamos até aqui, observe que o piloto também deve considerar as
consequências de uma aeronave com excesso de peso, para os casos de operação
em condições climáticas adversas que degradam a performance (turbulência ou
rajadas de vento, por exemplo, ocasiões em que a aeronave é submetida a esforços
por cargas aerodinâmicas (cargas ‘G”). Ainda, é necessário sempre imaginar a
possibilidade de se deparar com diversas condições de emergência ou de inoperância
de algum sistema da aeronave. Se um motor falhar na decolagem ou em caso de
formação de gelo na fuselagem ou nas asas a baixa altitude, geralmente será muito
tarde para tentar reduzir o peso de uma aeronave para mantê-la no ar.
183
Capítulo 2
Se isso for aceito como indicativo dos fatores de carga que podem ser impostos
durante as operações para as quais a aeronave se destina, uma sobrecarga de 100
libras impõe uma potencial sobrecarga estrutural de 380 libras. A mesma consideração
é ainda mais impressionante no caso das aeronaves utilitárias e da categoria
acrobática, que possuem requisitos de fatores de carga de 4,4 e 6,0, respectivamente.
184
Teoria de Voo de Alta Velocidade
De acordo com USA (2016, pilot`s handbook), as falhas estruturais que resultam
de uma sobrecarga podem afetar progressivamente os componentes de uma
aeronave, de uma maneira difícil de ser detectada e muito cara de ser reparada. A
sobrecarga habitual tende a causar estresse cumulativo e danos que podem não
ser identificados durante as inspeções prévias, e culminam mais tarde em falhas
estruturais “aparentemente” sem causas, durante operações completamente
normais. Ou seja, a tensão adicional aplicada nas peças estruturais por
sobrecarga acelera a ocorrência de falhas por fadiga.
185
Capítulo 2
3.3 Balanceamento
Agora já sabemos que é necessário respeitar os limites de peso de uma aeronave,
determinados pelos seus fabricantes, dessa forma, é preciso reconhecermos como
distribuir o peso pelos diversos compartimentos da aeronave (sejam eles advindos
de combustível, carga, passageiros, material de apoio de bordo etc.), a fim de que
ela apresente condições de voo estáveis, dentro de sua capacidade de equilíbrio.
Entretanto, para efeitos de nosso estudo neste momento, vamos nos ater
em mais detalhes à questão do equilíbrio vertical (longitudinal) da aeronave.
Para garantir que o carregamento de tripulantes, passageiros e cargas (e
eventualmente de combustível na fuselagem – que tem comprimento bem maior
do que a largura e a altura), a preocupação diz respeito à posição longitudinal
dessas massas, ou seja, se estão muito à frente ou muito atrás de uma posição
definida como Centro de Gravidade (CG).
186
Teoria de Voo de Alta Velocidade
Neste momento, sugerimos que o aluno leia o conteúdo do Item 2.2 do livro didático
de Abreu e Pires (2016), o qual será parcialmente apresentado a seguir, para que sejam
compreendidos alguns conceitos básicos sobre o balanceamento das aeronaves.
187
Capítulo 2
Figura 2.48 – Corda Média Aerodinâmica, obtida a partir de um aerofólio retangular imaginário,
equivalente ao original
Lembre-se de que a sustentação gerada por uma asa é obtida a partir da integração
de todas as pressões exercidas sobre ela, e tal resultante ocorre em um determinado
ponto denominado Centro de Pressão (CP). Assim como o CG, a localização do CP
também é expressa em termos de percentual da Corda Média Aerodinâmica, medida
a partir do bordo de ataque do perfil. A próxima figura exemplifica a questão tratada
anteriormente, com respeito às asas que não possuem perfil retangular. No Capítulo 1
já estudamos as asas enflechadas, e você deve se lembrar de como elas são.
188
Teoria de Voo de Alta Velocidade
De acordo com Saintive (2011), as asas enflechadas possuem seções que diferem
em comprimento, mas existirá um segmento em cada metade de asa cujas
características aerodinâmicas refletem a média da metade da asa, possibilitando
assim a localização do Centro de Pressão.
189
Capítulo 2
190
Teoria de Voo de Alta Velocidade
191
Capítulo 2
Por fim, para facilitar os cálculos dos momentos, alguns fabricantes recomendam
a adoção de índices que, aplicados para todos os cálculos, possibilitam que se
trate com números resultantes menores (ao multiplicarmos determinados pesos
pelos braços correspondentes, muitas vezes encontramos valores com grandezas
de alguns dígitos). São os chamados Index System (sistemas de indexação), uma
convenção para apresentar os valores dos momentos. Os valores são convertidos
para um sistema de medida diferente, apenas para facilitar os cálculos e propiciar
o trabalho com grandezas mais reduzidas (alguns fabricantes simplesmente
recomendam dividir os momentos por 100, 1.000 ou 10.000, por exemplo).
192
Teoria de Voo de Alta Velocidade
Importa também lembrar que uma aeronave deve ser capaz de voar em
condições distintas, com velocidades baixas nas fases de decolagem e de pouso,
e com velocidades superiores em regimes de subida, descida e cruzeiro. Ainda, à
medida que consome combustível, as condições de equilíbrio se alteram.
Para todas essas situações, a posição do CG deve permitir que o profundor seja
capaz de gerar sustentação (negativa ou mesmo positiva) para compensar o
desequilíbrio longitudinal gerado pela diferença de posicionamento entre o CG
e o CP. Nesse sentido, é que os fabricantes delimitam uma gama de localização
do CG – denominada “passeio do CG”, para cada peso e fase do voo. Caso
não sejam respeitados esses limites, poderá ocorrer uma condição em que o
profundor não seja capaz de gerar força suficiente para estabilizar o voo (ou para
desestabilizá-lo, nos casos de necessidade de aumento ou diminuição do AOA,
na decolagem e pouso por exemplo) e contrapor-se ao momento gerado pela
sustentação das asas. Para pequenas correções, os profundores são dotados de
superfícies de compensação (Trim), que aliviam a força necessária a ser feita pelo
piloto ou pelo sistema de automação de controle de voo.
193
Capítulo 2
Agora repare nas figuras a seguir. Na primeira, duas massas iguais equilibram-
se sobre um apoio, equidistantes dele. Ou seja, ambas as massas apresentam
momentos iguais (2.000 m x Kgf) em relação ao ponto de apoio. Nessa condição,
observa-se um equilíbrio e a gangorra não se move.
194
Teoria de Voo de Alta Velocidade
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Capítulo 2
ferramentas computacionais práticas, que podem ser utilizadas por pessoal de terra ou
mesmo pelos pilotos (tais aplicativos funcionam em tablets ou notebooks), e que realizam
os cálculos de balanceamento da aeronave de maneira rápida, intuitiva e segura. As
figuras a seguir apresentam imagens de exemplo desses aplicativos.
Figura 2.58 – Exemplo de aplicativo para cálculo de carregamento e de CG de uma aeronave executiva –
EMBRAER Phenom
Figura 2.59 – Exemplo de aplicativo para cálculo de carregamento e de CG de uma aeronave da Airbus
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
Suponha que tenhamos medido três setores de uma aeronave. Nesse caso, n=3 e
vamos somar m1.b1 + m2.b2 +m3.b3 para obter a soma dos momentos.
O CG com peso vazio, ou CGPV, já definido pelo fabricante, foi obtido dessa
forma e pode ser usado para calcular a mudança de posição do CG ao se
acrescentar mais carga.
197
Capítulo 2
Então, 40.200 Kg.m é a soma dos momentos que deve ser igual ao momento total
M.bCG.
Esses dados representam acréscimos, tanto nos momentos quanto no peso total.
Assim:
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
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Capítulo 2
Observe que o CG foi deslocado para uma posição muito traseira, o que pode
causar problemas. Algumas vezes, para resolver problemas de carregamento
usam-se lastros, que são pesos inertes colocados para equilibrar a aeronave.
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
201
Capítulo 2
De maneira similar, o piloto não tem controle direto sobre a localização das
forças longitudinais que atuam na aeronave em voo, exceto ao controlar a
sustentação por meio da alteração do AOA. Tal mudança, entretanto, envolve
imediatamente mudanças em outras forças. Portanto, o piloto não pode alterar
independentemente a localização de uma força sem alterar o efeito de outras.
Por exemplo, uma mudança na velocidade aerodinâmica envolve alterar a
sustentação, assim como o arrasto e a força para cima ou para baixo na cauda.
Igualmente, forças oriundas de turbulência e rajadas atuam para deslocar a
aeronave, e o piloto deve reagir fornecendo adequado controle opositor de forças,
para neutralizar tais desequilíbrios.
Bem, agora que você já sabe que existem limites dianteiro e traseiro para o
posicionamento do Centro de Gravidade, vejamos quais as principais influências
de cada um deles no comportamento da aeronave, e as consequências de se
operar fora desses limites de Passeio do CG.
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
M estab (2) = 20 ton x 20 m = 400 ton.n ≥ M peso (2) = 100 ton x 4 m = 400 ton.m.
Ou seja, o Momento M peso (2) deve ser menor ou igual a M estab (2) para
garantir a controlabilidade do avião.
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Capítulo 2
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
Saintive (2011) pontua que, à medida que o CG se desloca para a frente, ocorre
um aumento na estabilidade longitudinal da aeronave, mas um decréscimo na
sua controlabilidade, por conta do aumento progressivo da força necessária para
que o piloto se contraponha à tendência de “nariz pesado”. Após um determinado
limite do CG à frente, o piloto não terá mais como comandar o profundor para
posicionar a aeronave nas atitudes de decolagem e de pouso.
205
Capítulo 2
Fruto do aumento do AOA do estabilizador, esse irá gerar uma força extra ΔF para
cima, tendendo a baixar o nariz do avião por meio do Momento ΔF x d. Devido
aos pequenos braços da asa e da fuselagem em relação ao CG, seus Momentos
tornam-se desprezíveis e a estabilidade da aeronave torna-se dependente da
ação do estabilizador horizontal.
Saintive (2011) relembra que em tal situação a aeronave estabelece uma condição de
equilíbrio neutro ou indiferente, com o CG dito em posição “neutra”. Ou seja, em
caso de perturbações que gerem desequilíbrio (turbulência, por exemplo), a aeronave
não mais retornará por conta própria à atitude anterior. Quanto mais o CG seja
localizado para trás do ponto neutro, a aeronave se tornará cada vez mais instável.
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
Segundo USA, 2016 (pilot handbook), outro fator importante a ser considerado
diz respeito à capacidade de uma aeronave em se recuperar de uma situação de
Estol. À medida que o CG se desloca para trás, a recuperação de um Estol tende
a ser progressivamente mais difícil. Isso é particularmente importante na
recuperação de parafusos (manobrados intencionalmente ou não), já que há um
ponto em que o recuo do CG é tal que provoca a progressão do parafuso comum
para um parafuso dito como “chato” (flat spin). Um parafuso chato ocorre quando
a força centrífuga, atuando por meio de um CG localizado muito para trás, puxa a
cauda da aeronave para longe do eixo do giro, impossibilitando a queda do nariz
e a consequente recuperação do giro.
Isso ocorre porque, com o carregamento para a frente, é necessário que ocorra
uma compensação contínua do estabilizador horizontal / profundor, no sentido
de elevar o “nariz”, para manter o voo nivelado de cruzeiro. Tal compensação
envolve a movimentação das superfícies da cauda para produzir uma maior carga
para baixo, na parte traseira da fuselagem, o que aumenta a carga da asa e a sua
sustentação total necessária, caso a altitude deva ser mantida. Isso requer um
AOA mais elevado, o que resulta em mais arrasto e, por sua vez, aumenta a
velocidade de Estol da aeronave.
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Capítulo 2
aeronave, a sua asa deverá produzir mais sustentação para manter o voo
nivelado, o que só é possível de se conseguir com um aumento do AOA. Com
o incremento do AOA haverá mais sustentação, mas também mais arrasto e
consequentemente maior consumo de combustível.
Nos voos de cruzeiro, uma força neutra nas superfícies da cauda teoricamente
produziria o desempenho geral mais eficiente, e a velocidade de cruzeiro mais
rápida, mas também resultaria em instabilidade. Aeronaves modernas são
projetadas para exigir uma força para baixo na cauda, para fins de estabilidade
e de controlabilidade. Uma indicação “zero” no controle de compensador do
estabilizador horizontal não é necessariamente o mesmo que uma “compensação
neutra”, devido à força exercida pelo downwash das asas e da fuselagem nas
superfícies da cauda (USA, 2016).
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
Outro fator que afeta a controlabilidade, que se tornou mais importante nos
projetos atuais de aeronaves de grande porte, é o efeito de braços de longa
distância nas posições de equipamentos pesados e de cargas. Uma mesma
aeronave pode ser carregada até o peso bruto máximo, dentro de seus limites
de passeio do CG, concentrando combustível, passageiros e carga perto do CG
projetado, ou por exemplo dispersando combustível em tanques de ponta de asa
e cargas em compartimentos à frente ou atrás da cabine de passageiros.
Para algumas aeronaves, os limites de CG para a frente e para trás podem ser
especificados para variar com mudanças bruscas de peso. Eles também podem
ser alterados para determinadas operações como acrobacia aérea, retração do
trem de pouso ou instalação de cargas e dispositivos especiais que alteram as
características do voo.
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Capítulo 2
Relembramos que a localização real do CG pode ser alterada por muitos fatores
variáveis, e é em parte controlada pelo piloto. A alocação de itens de bagagem
e de carga tem papel determinante na localização do CG, e a atribuição de
lugares aos passageiros também pode ser utilizada como meio de se obter um
equilíbrio favorável. Nas aeronaves menores, na presença de uma condição
de cauda pesada, é esperado que se posicionem passageiros pesados em
assentos dianteiros. A queima de combustível também pode afetar o CG, com
base na localização dos tanques de combustível. Assim, a maioria das pequenas
aeronaves transporta combustível nas asas muito perto do CG, e a queima de
combustível tem pouco efeito no CG carregado.
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Teoria de Voo de Alta Velocidade
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Capítulo 2
Síntese
Neste Capítulo, coroamos o nosso estudo a respeito dos Fatores Limitantes da
Performance de Aeronaves por meio do aprendizado de importantes fatores que
influenciam e podem limitar a performance das aeronaves.
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Considerações Finais
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Referências
BRISTOW, Garry V. ACE The Technical Pilot Interview. McGraw Hill eBook,
2009. Disponível em: https://www.theairlinepilots.com/forumarchive/pilotslounge/
ace-technical-pilot-interview.pdf. Acesso em: 14 ago. 2018.
CUNHA, Rudnei. 2019. História da Força Aérea Brasileira. Disponível em: http://
www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/br/c-99.html. Acesso em: 14 maio 2019.
MOCHO, Milton B. Teoria de Voo de Alta Velocidade. Rio de Janeiro: EAPAC, 1985
215
RODRIGUES, Luis Eduardo. Fundamentos de Engenharia Aeronáutica. 2014.
Disponível em: http://www.engbrasil.eng.br/livro/cap2.pdf. Acesso em: 29 maio 2019.
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Sobre o Professor Conteudista
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