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Mecânica Quântica - Lista 2

Prof. Alexandre Suaide


September 22, 2022

1. Um estado de um sistema quântico de dois nı́veis é escrito em termos de


autoestados de um operador hermitiano Â, de tal modo que Â|i⟩ = ai |i⟩, com
i = 1, 2. O operador  comuta com o Hamiltoniano do sistema. Seja um
observável representado pelo operador B̂, de tal modo que [Ĥ, B̂] ̸= 0.

a) Dado o estado inicial do sistema |ψ0 ⟩ = |i⟩, calcule o valor esperado para
B̂ em um instante de tempo t > 0. Discuta os resultados em termos da
dependência desse valor esperado com o tempo.
b) Para um estado inicial do sistema |ψ0 ⟩ = √1 (|1⟩ − |2⟩), calcule o valor
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esperado de B̂ para um instante de tempo t > 0. Compare esse resultado
ao obtido no item anterior. Calcule a probabilidade de encontrar esse
estado, em um instante de tempo t > 0, no estado |2⟩.

2. Empregue as relações de comutação entre o momento p e a posição x para


obter as equações que descrevem a dependência temporal de ⟨x⟩ e ⟨p⟩ para
os seguintes Hamiltonianos (somente H, x e p são operadores nas expressões
abaixo):
p2
a) H = 2m + 12 (ω12 x2 + ω2 x + ϵ)
p2
b) H = 2m + 12 mω 2 x2 − A
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3. Dois operadores hermitianos anti-comutam, ou seja {A, B} = AB + BA =


0. É possı́vel encontrar simultaneamente autoestados desses dois operadores?
Prove ou discuta sua resposta.

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4. Obtenha a representação do operador posição no espaço de momentos em
uma dimensão, ou seja, os elementos de matriz ⟨p′ |x̂|p⟩.

5. Seja um operador hermitiano Â, na representação de Schrödinger. Na rep-


resentação de Heisenberg esse operador é escrito como Â(H) . Mostre que, se
[Ĥ, Â] = constante (dica: expanda as exponenciais em séries de Taylor na
definição do operador na representação de Heisenberg):

Â(H) = Â + i h̄t [Ĥ, Â]

6. Considere o operador posição em uma dimensão x̂(t) na representação de


Heisenberg. Avalie o valor do comutador [x̂(t), x̂(0)].

7. Considere uma partı́cula presa em uma caixa unidimensional rı́gida (poço in-
finito) de comprimento L. Em um instante qualquer realiza-se uma medida da
posição da partı́cula e encontra-se, exatamente, x = L/4. Qual a probabilidade
relativa de encontrar a partı́cula em cada autoestado de energia?

8. Mostre que para as matrizes de Pauli, σi , [σi , σj ] = 2iσk , para permutações


ciclicas de i, j, k = 1, 2, 3.

9. Seja um oscilador harmônico unidimensional centrado na origem, cujos au-


toestados de energia são representados por |n⟩, com n = 0, 1, 2, ...

a) Usando a definição do operador de abaixamento â e sabendo que â|0⟩ = 0,


encontre a função de onda (normalizada) do estado fundamental desse
oscilador ψ0 (x) = ⟨x|0⟩.
b) Usando a definição do operador de levantamento ↠, encontre a função de
onda do primeiro estado excitado do oscilador.

c) Esboce o gráfico da densidade de probabilidade de encontrar uma partı́cula


em uma dada posição caso ela se encontre no estado fundamental ou no
primeiro estado excitado desse oscilador.

10. A transição vibracional para a molécula de HCl entre o estado fundamental e


primeiro estado excitado ocorre quando uma radiação de frequência f = 8, 66 ×
1013 Hz é absorvida pela molécula.

a) calcule a energia do estado fundamental e do primeiro estado excitado


para essa molécula na unidade de elétron-Volt (eV).

b) Assumindo que o átomo de cloro é muito mais pesado que o do hidrogênio


e, portanto, esse átomo ”não se move”, estime o valor da constante da mola
equivalente, na unidade N/m, caso esse sistema pudesse ser representado
por um sistema massa-mola clássico.

11. Considere um oscilador harmônico unidimensional simples de frequência ω.


Usando os operadores â e ↠, calcule os valores esperados de momento e posição
para o estado fundamental e primeiro estado excitado desse oscilador. Calcule
também as respectivas variâncias. Discuta os resultados pensando no princı́pio

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da incerteza.

12. Considere uma caixa contendo, no seu interior, uma partı́cula. Essa caixa
é dividida por uma parede fina na metade, resultando em duas partes, uma à
direita e outra à esquerda. Se a partı́cula estiver do lado direito com certeza,
seu estado é dado velo vetor |D⟩. Se estiver do lado esquerdo, |E⟩. Um estado
genérico para uma partı́cula pode ser escrito como |ψ⟩ = c|D⟩ + s|E⟩, onde
c = ⟨D|ψ⟩ e s = ⟨E|ψ⟩. O sistema é dinâmico e a partı́cula pode se mover
de um lado para o outro da caixa, tunelando pela parede, de acordo com o
Hamiltoniano:

H = ∆ (|E⟩⟨D| + |D⟩⟨E|)

onde ∆ é um número real com dimensão de energia.

a) Encontre os autoestados e autovalores de energia para esse sistema.


b) No nosso problema, os estados |D⟩ e |E⟩ são fixos e ortogonais. Assuma
que uma partı́cula esteja no estado |ψ⟩ no instante inicial, t = 0. Encontre
o vetor de estado |ψ(t)⟩ para um instante de tempo qualquer, t > 0.
c) No instante t = 0 a partı́cula é colocada, com certeza, do lado direito da
caixa. Qual é a probabilidade de encontrar a partı́cula do lado esquerdo
em um instante de tempo qualquer, t > 0?

d) Suponha que, por um motivo qualquer, alguém quisesse modelar esse prob-
lema da partı́cula na caixa e fez a hipótese de que o Hamiltoniano pudesse
ser escrito como H = ∆|E⟩⟨D|. Resolvendo o problema de evolução tem-
poral de sistemas quânticos mostre que essa forma de escrever o Hamilto-
niano viola a conservação de probabilidade.

13. Considere uma partı́cula de massa m sujeita à ação de um potencial unidi-


mensional da forma V (x) = 12 kx2 para x > 0 e V (x) = ∞, para x < 0.

a) Qual é a energia do estado fundamental desse sistema?


b) Qual é o valor esperado para o momento e posição dessa partı́cula no
estado fundamental?
14. Um problema bem interessante de fı́sica de partı́culas elementares está
relacionado a uma partı́cula chamada kaon. Há um tipo de kaon que é eletri-
camente neutro, chamado de K 0 e é sobre esse kaon que vamos elaborar essa
questão. Na segunda metade do século XX uma série de fenômenos envolvendo
os kaons acabou rotulando-os de partı́culas estranhas, dai vem o nome para um
dos quarks do modelo padrão, o quark estranho.

Na natureza existe matéria e antimatéria. Da mesma forma, existem os


kaons e anti-kaons. Um fenômeno intrigante que foi observado é que, para essas
partı́culas, um kaon pode se transformar em anti-kaon e vice-versa. Chamamos
isso de oscilação entre matéria e antimatéria. Além disso, essas partı́culas são
instáveis, elas não sobrevivem muito tempo na natureza.

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Há duas interações fundamentais que influenciam a dinâmica do kaon. A
interação forte e a interação fraca. A interação forte é responsável por manter
os quarks dentro dos kaons unidos, mas a interação fraca é responsável por per-
turbar esse sistema e causar o seu decaimento radioativo.

Uma coisa interessante acontece quando vamos estudar como esses decai-
mentos acontecem. Percebe-se que, quando olhamos o decaimento do kaon, ou
do anti-kaon, cada um deles mostra a existência de duas vidas-média de decai-
mento, ou seja, alguns kaons decaem rapidamente, outros levam mais tempo
para decair. Costumamos chamar os kaons que decaem rápido como kaons-
curtos (ou, em inglês, kaon-short, KS ) e os kaons que decaem devagar como
kaons-longos (ou, em inglês, kaon-long, KL ). Se separarmos os kaons-longos e
kaons-curtos em dois grupos distintos, percebemos que estes são autoestados de
um Hamiltoniano de interação fraca, HW , ou seja:

HW |KS,L ⟩ = mS,L |KS,L ⟩

onde mS,L são as massas (em unidade de energia, lembre que E = mc2 ) dos
kaons curtos e longos, respectivamente.

Analisando evidências experimentais em fı́sica de partı́culas, chegamos à


conclusão que os estados de kaon, |K⟩, e anti-kaon, |K̄⟩ não são autoestados de
HW e podem ser escritos usando essa base, da seguinte forma:

|K⟩ = √1 (|KS ⟩ − |KL ⟩)


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|K̄⟩ = − √12 (|KS ⟩ + |KL ⟩)

Para lidar com o decaimento dessas partı́culas, contudo, precisamos criar um


Hamiltoniano que faça com que o número de partı́culas não seja conservado no
tempo já que, após o decaimento, ela deixa de existir. Uma forma de fazer isso
é de definir um Hamiltoniano efetivo, Hef f , cujos estados |KL ⟩ e |KS ⟩ também
sejam autoestados desse Hamiltoniano. Em geral escrevemos ele dessa forma:

Hef f = (mL − 2i γL )|KL ⟩⟨KL | + (mS − 2i γS )|KS ⟩⟨KS |

sendo γL,S reais e positivos. Para um estado |ψ⟩ qualquer, a evolução tem-
poral do sistema será dada pela equação de Schrödinger dependente o tempo:

ih̄ ∂t |ψ⟩ = Hef f |ψ⟩

com base nisso:

a) Mostre que Hef f não é hermitiano. O que torna Hef f não hermitiano?
b) Para um estado qualquer, cuja configuração no estado inicial é |ψ(t =
0)⟩ = |KL ⟩, mostre que a probabilidade de encontrar esse estado em qual-
quer instante de tempo não se conserva e isso acontece por conta do termo
que torna Hef f não hermitiano. Dica: calcule ⟨ψ(t)|ψ(t)⟩.

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c) Um fenômeno intrigante em fı́sica de partı́culas é o de oscilação entre
matéria e antimatéria para kaons. Seja um feixe de partı́culas composto
inicialmente de uma amostra pura de matéria, ou seja, em t=0, |ψ(t =
0)⟩ = |K⟩. Mostre que a probabilidade de encontrar anti-kaon em um
instante t > 0 não é nula. Dica: calcule |⟨K̄|ψ(t)⟩|2 . Mostre que essa
probabilidade oscila no tempo com frequência que depende da diferença
entre as massas do kaon-longo e kaon-curto.
d) Faça um gráfico da probabilidade obtida no item anterior em função do
tempo. Use: h̄/γS = 0.89×10−10 s, h̄/γL = 5.1×10−8 s e (mL −mS )/h̄ =
0.53×1010 s−1 . O que aconteceria se a diferença entre as massas dos kaons
curto e longo fosse 10 vezes maior?

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