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UNISUAM
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO
RIO DE JANEIRO
2022.1
CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA
UNISUAM
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO
RIO DE JANEIRO
2022.1
AGRADECIMENTOS
A Dagvaldo Andrade Santana, meu pai, maior incentivador dos meus estudos, a quem
busco dar o orgulho de ver seu filho mais novo formado;
À Sandra Maria dos Santos, minha mãe, pessoa que me ensinou que, como homem
negro, eu precisava ser ao menos duas vezes melhor e que, por mais que não fosse o melhor
de todos, precisava estar entre os melhores. Mal sabia ela que, mesmo sem conhecer o
movimento Hip-Hop, recitava para mim o prelúdio de A vida é Desafio, do Racionais Mc’s,
canção que hoje marca a vida de diversos outros jovens negros;
À Airan Gomes Costa, pessoa a quem considero como uma segunda mãe;
A Bruno dos Santos da Silva, meu irmão e responsável por me apresentar o Rap e a
cultura hip-Hop;
A Ícaro dos Anjos Santos Santana, meu filho e principal motivo para que eu jamais
desistisse.
Aos professores e professoras da Escola Municipal Nilo Peçanha, do Colégio Estadual
Professor Ernesto Faria e, em especial, do Centro Universitário Augusto Motta;
A todos os amigos e amigas que, de alguma forma, colaboraram para a minha
formação e para a conclusão deste trabalho de conclusão de curso;
Ao Rap;
Ao Movimento Hip-Hop;
A todos os jovens negros, de periferia e favelas, que encontraram no Rap o incentivo e
o apoio negados pela sociedade e o poder público.
RESUMO
A cultura do Rap/Hip-Hop cresceu nas periferias americanas e alcançou o Brasil por meio das
comunidades. Desde o seu surgimento, a principal vertente do Rap está ligada à crítica acerca
do Estado no que diz respeito à população que vive em comunidades, expondo o preconceito
e o desleixo que atinge essas pessoas. O ritmo e a poesia têm uma influência na vida dos
jovens favelados, principalmente por dar voz a suas agonias, ocupando por muitas vezes o
papel de comunicador social e comunitário, sendo o único capaz de falar diretamente com e
por essa população na busca de substituir a visão marginalizada comumente narrada pela
grande mídia. Diante desta percepção, a ideia desta revisão bibliográfica é colocar luz sobre
esse papel social, comunicador e influenciador do Rap, com base em estudos e teorias da
comunicação e conceitos jornalísticos, em busca de estabelecer a ligação entre a comunicação
Social e o Hip-Hop. para mostrar que o movimento de fato se comunica e influência jovens
periféricos no Brasil e no mundo.
AGRADECIMENTOS........................................................................................................3
RESUMO..............................................................................................................................4
SUMÁRIO............................................................................................................................5
INTRODUÇÃO...................................................................................................................6
1.2. É o Rap: o papel do ritmo musical como expressão cultural das comunidades.....11
3.2. “Quer ser o melhor? Vai ser o melhor pra tua comunidade”.................................23
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................25
REFERÊNCIAS.................................................................................................................27
INTRODUÇÃO
6
O movimento Hip-Hop reconhece este seu papel transformador e influente nas
comunidades e esse estudo buscará revelar também o seu papel como espelho da realidade -
tal qual estudado nas teorias da comunicação - e influência positiva sob a juventude
marginalizada. Graças às letras de Rap e seus projetos sociais, muitos vislumbram a
possibilidade de melhora socioeconômica, vendo o ritmo como arma de transformação e de
fuga da violência.
Para estabelecer uma análise conclusiva sobre o tema e evidenciar a importância do
movimento Hip-Hop como um comunicador social e comunitário, esta revisão bibliográfica
se baseará na metodologia descritiva com a intenção de apresentar, por meio de conceitos
expressos por estudiosos como Paul Lazarsfeld, Marshall McLuhan e Cicilia Peruzzo, a
importância de dar espaço midiático a movimentos culturais que interferem de maneira tão
expressiva nas opiniões de jovens das comunidades brasileiras,
7
Coincidência ou não, a Jamaica, mais especificamente Trenchtown, favela do subúrbio
da capital Kingston, foi o local onde nasceram Bob Marley, citado na passagem e mais
famoso representante do Reggae, e Kool Herc, que hoje é reconhecido como o primeiro Disc
Jockey (DJ) do movimento Hip-Hop. Em suma, Rap e Reggae não são apenas parentes. São
irmãos de luta, vindos das mesmas vielas, baseados nos mesmos ideais, mesma cultura urbana
e em busca de conquistar um mundo novo.
Somente em 1973, de fato, o Rap começou a conhecer o formato pelo qual é famoso
nos dias atuais. Na festa realizada na Sedgwick Avenue (hoje conhecida como Hip-Hop
Boulevard), em Nova York, o jovem Clive Campbell revolucionou o mundo da música ao
levar para o Bronx a ideia da mixagem de discos. Com sua coleção de vinis trazida da
Jamaica e um toca disco duplo, apresentou ao público o ‘Scratch 1’, ritmo que iniciou o
movimento ‘Break2’ e, por consequência, a cultura Hip-Hop. A mistura única havia chegado
ao espaço onde cresceria a partir de uma sinergia e osmose únicas.
Tanto Jeff Chang “Can't Stop Won't Stop: A History of the Hip-Hop Generation ” quanto
Nelson George em “Hip Hop America” destacam em suas obras que os ‘Samples 3’ criados por
Kool Herc e outros DJs nas festas de bairro do Bronx surgiam, quase sempre, de discos de
ritmos musicais com grande influência negra como Jazz, Disco Music e o Funk, onde a
melodia e a batida costumavam se estender. Com o tempo e o surgimento de novos DJs
tiveram início as batalhas que colocavam equipes de som frente a frente para escolher quem
fazia o melhor sample. Aos poucos, esse espaço reservado apenas ao ritmo e à dança realizada
pelos BBoys, passou a ser ocupado pelas rimas, trazidas pelos MCs. Essa evolução é retratada
na série “The Get Down” (2016). Em entrevista ao site Uol, GrandMaster Flash, um dos
precursores do Hip-Hop nos anos 1970 e 1980 e que atuou como consultor na produção da
série, conta um pouco sobre o crescimento do movimento e as batalhas de DJs, antes ainda
das batalhas de rima tão populares hoje.
Quando pedem para eu tocar um set de hip hop, tem pop, rock, jazz, blues, funk,
disco, R&B. Toco breaks de 20 gêneros diferentes. Isso é Hip-Hop. Essa era a
ferramenta que existia nos anos 70: para estar no topo, tínhamos de ter os discos. Se
eu tivesse os hits, mais pessoas iriam à minha festa. Se fosse Kool Herc que tinha os
discos quentes, as pessoas iriam à festa dele. O mesmo acontecia com (Afrika)
1 Técnica que consiste em reiniciar o instrumental ou uma parte específica do disco girando-o no
sentido contrário, causando arranhões (em inglês, scratch)
2 Dança com passos característicos do movimento Hip-Hop. O nome surge do ato de “quebrar” o ritmo
a partir do scratch feito pelo DJ durante as músicas. Conhecido também como Breakdance.
3 Técnica em que o DJ ou beatmaker recorta parte de uma música ou melodia e remonta-a em outro
ritmo, normalmente formando uma nova melodia em looping.
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Bambaataa. Como DJ, não havia nada mais importante do que comprar discos,
porque os beats vinham de todos os lugares do mundo. (FLASH, 2016)
A novidade foi ganhando espaço em outros guetos americanos e com isso surgiram
novos adeptos. George destaca que o Bronx da década de 1970 era um local que vibrava em
criatividade e mistura racial, o que serviu de alicerce para a popularização do movimento e do
quarteto de elementos que ainda hoje representam o RAP: DJ, responsável pela batida;
Rapper (MC), responsável pelas rimas; BBoys, responsáveis pela dança; e o grafite, expressão
visual da arte das ruas e dos apelos comumente gritados nas letras. Mas tudo isso ainda não
tinha nome. (1998)
George também é quem pontua que, quando o Rap ainda vivia apenas de batida, Keith
Wiggins deu início aos gritos que chamavam a plateia por todos os cantos. “Cowboy”, como
ficou conhecido o jovem DJ que integrava o grupo “GrandMaster Flahs and the Furius Five”,
fazia questão de subir aos palcos e pedir para que todos levantassem e balançassem as mãos,
dando movimento às festas e seguindo a batida das músicas. Não à toa Cowboy é reconhecido
por muitos como o primeiro Master of Ceremonies, traduzido no Brasil para Mestre de
Cerimônias, o famoso MC.
Conta-se que Cowboy e Grand Master Flash, por motivos diferentes, foram os
responsáveis por batizar o gênero musical de Hip-Hop. Flash utilizava o termo ao brincar com
um amigo que havia entrado há pouco para as forças armadas, fazendo referência à marcha
dos soldados (hip, hop. hip, hop). Ao mesmo tempo, Cowboy referenciava a movimentação
dos braços e da cabeça do público, assim como a batida produzida pelo DJ. Ainda hoje,
grande parte das bases de Hip-Hop utilizam essa cadência (hip, hop. hip, hop).
A palavra “Hip” também é comum no vocabulário de gírias afro-americanas. O termo
é normalmente relacionado a coisas que estão na moda, coisas novas e que chamam atenção.
Hip também pode ser traduzido como ‘quadril’, em referência ao movimento do corpo
durante a música. Ao mesmo tempo, Hop é uma palavra que referencia a dança, mas que
também pode ser traduzida como ‘saltitar’, o que tem contato direto com o agito das festas
movidas pelo som do Hip-Hop. Já o termo “Rap” surgiu anos depois, quando o assunto ficou
mais sério. A sigla deriva da frase “Rhythm And Poetry”, traduzida para o português como
Ritmo e Poesia.
Batizado o ritmo, em 1979 o grupo The Sugarhill Gang lançou a música "Rapper 's
Delight”, que seria a responsável por popularizá-lo. O hit foi criado a partir de um Sample de
“Good Times”, lendária canção da Disco Music lançada pelo grupo ‘Chic’, no mesmo. No
9
Brasil “Rapper’s Delight” também é considerada até hoje um marco do movimento Hip-Hop,
tendo seu beat 4utilizado nas músicas "Melô do Tagarela”, do cantor Miele, lançada em 1980
e “2345meia78”, do rapper Gabriel, O Pensador, lançada em 1998, além de ter a letra
referenciada no refrão de Ragatanga, música do grupo Rouge, lançada em 2002.
Apesar do ritmo ter se estabelecido apenas na década de 1990, 30 anos antes o Brasil
já havia encontrado seu primeiro rapper: Jair Rodrigues (1939-2014). O cantor é reconhecido
até hoje como o primeiro artista a declamar em suas músicas, deixando de lado o clássico
estilo lírico do cantor, seguindo a melodia, e dando espaço às palavras versadas junto da
batida. A música “Deixa isso pra lá”, lançada por Jair em 1964, é vista por muitos como a
primeira composição do Rap Nacional justamente por ter essa levada falada que viria a ser
inspiração para inúmeros outros artistas deste e de outros gêneros.
Jair era um homem negro, de voz potente, nascido no interior de São Paulo, em uma
família humilde. Uma representação quase perfeita do lugar onde o Hip-Hop encontra ainda
hoje seu espaço. Assim como em seu surgimento na Jamaica e durante sua ascensão nos
Estados Unidos, longe das classes mais altas da sociedade, o Rap veio ao Brasil para
representar a população marginalizada, se permitindo falar, no sentido mais literal da palavra,
sobre a sua existência e a de seus adeptos.
Sobre esse surgimento, em entrevista ao programa Roda Viva, o rapper Emicida
pontua seu entendimento sobre como o Hip-Hop começou a ser produzido no Brasil:
Para mim o Rap é um fruto do que o samba já estava produzindo. A música falada,
em cima de uma batida é uma coisa que o samba já vinha produzindo, tanto que o
“deixe que digam”, do Jair Rodrigues, antecede 1973 com GrandMaster Flash.
“Deixa isso para lá” é um Rap e o Jair Rodrigues foi quem me disse isso. Quando
ele chegou no estúdio ele não falou que era um Rap, mas ele mostrou a música e os
caras falaram “eu não sei o que fazer com isso porquê eu não sei fazer arranjo para
conversa”. Se você pegar a primeira versão da música, não tem harmonia na parte do
“deixa isso para lá, vem para cá, o que é que tem”. Tem uma batida, seca. O ritmo e
a poesia já estavam ali. (EMICIDA, 2020)
É claro que, como toda teoria histórica, existem controvérsias sobre o primeiro rapper
brasileiro. Entre outros nomes cotados ao posto, o cantor Fausto Fawcett, com a música
“Kátia Flávia, A Godiva do Irajá”, de 1987, também costuma ser citado como o vanguardista
4 Batida criada para músicas de rap. Normalmente utiliza-se um sample, feito de uma melodia já
existente, incluindo nele as batidas de instrumentos de percussão.
10
que popularizou o Hip-Hop, mesmo tendo surgido 20 anos depois do sucesso de Jair
Rodrigues.
Há também quem defenda que o Rap iniciou sua caminhada no Brasil em tempos
ainda mais remotos, mesmo que as pessoas ainda não tivessem conhecimento sobre a
existência deste ritmo. Nelson Triunfo, pioneiro do Breakdancing no país, está entre esses
defensores. Em entrevista dada em 2018 ao Canal SescTV, Nelson afirma que a Coco
Embolada, ritmo característico do nordeste brasileiro, já reunia características do Hip-Hop
como a levada, mais conhecida no mundo do Rap como Flow5, técnica em que o rapper
adapta o ritmo de suas falas à batida da música.
Sobre isso, na mesma entrevista ao Roda Viva, Emicida destaca que manifestações
semelhantes às que surgiram em 1973 já aconteciam por todo o continente americano: “O que
explica nós termos no Nordeste um estilo de música que se chama repente, onde inclusive as
três primeiras letras são semelhantes à de Rap, com uma base rítmica e a música falada?”
(2020)
De toda forma, assim como na história do surgimento do Rap nos Estados Unidos, no
Brasil o ritmo se popularizou alguns anos depois de sua chegada. A coletânea “Hip-Hop
Cultura de Rua”, lançada em 1988, marca o primeiro álbum de rap brasileiro. Com músicas de
Thaide, Mc Jack, Código 13 e O Credo, o disco deu início à popularização que havia
começado em São Paulo, a partir de batalhas de Breakdance. A grande explosão veio nos anos
1990 e 2000, com o surgimento de rappers e grupos clássicos, onde destacam-se Racionais
Mc’s, 509-E, Sabotage, Thaide, RZO, Tribo da Periferia, MV Bill, Visão de Rua, Marcelo
D2, Facção Central e diversos outros.
Para começarmos a compreender onde este trabalho pretende chegar, antes de tudo
precisamos entender que o Rap é um movimento cultural importante para as comunidades
brasileiras. Falando diretamente do Rio de Janeiro, isso fica claro a partir do Funk, patrimônio
5 Técnica focal e levada única de cada rapper. Forma como versam em cima dos beats e samples. As palavras
precisam caber no tempo da música, mas cada MC faz isso com seu flow exclusivo, o que permite que, na
mesma melodia, um MC consiga falar 20 frases e outro apenas 10 palavras,
11
imaterial do Estado, que é um estilo musical intimamente ligado de maneira histórica e até
mesmo rítmica ao Hip-Hop.
O Rap surge diretamente da ligação entre a música e as questões sociais da população
marginalizada pelo poder público, logo, seu papel é falar pelo povo e para o povo, tal qual um
líder comunitário. O que poderia falar melhor sobre a representatividade do que “Negro
Drama”, canção mais famosa do Racionais Mc’s e, provavelmente, música que melhor
representa os jovens negros das comunidades brasileiras?
Isso pode colocar o Hip-Hop como uma das primeiras iniciativas a compreender que a
favela é lugar de potência, termo replicado hoje por inúmeros movimentos sociais.
Compreender que “até no lixão nasce flor” é justamente o que permite ao ritmo musical se
comunicar como representante dessa parcela da sociedade.
De meados dos anos 2010 até a atualidade vivemos um contexto mundial de
identificação e representatividade. Os grupos minoritários da sociedade - nem sempre tão
minoritários assim - anseiam cada vez mais por se enxergar em todos os lugares, o que inclui,
por exemplo, a mídia jornalística e a música. A evolução do movimento Hip-Hop e sua
chegada a espaços de maior repercussão midiática carrega esta representatividade, que é
justamente a referência positiva a ser destacada nos próximos capítulos e que possibilita a
influência social que enquadra o Rap nos conceitos da comunicação.
Quando Carolina Maria de Jesus lançou o livro “Quarto de Despejo” (1960), toda a
mídia da época exaltou que jamais seria capaz de replicar com tamanha maestria o que se
passava dentro das comunidades brasileiras como aquela mulher, preta, pobre, mãe, favelada,
catadora de lixo e escritora havia feito. O talento de Maria Carolina foi exaltado até mesmo
por Clarice Lispector, também escritora, quem lhe atribuiu o título de escritora da verdade6.
A partir de sua origem e proximidade de vivências, este viés da comunicação
comunitária que envolve o Rap pode ser compreendido em um espaço similar ao da obra de
Carolina Maria de Jesus. Para isso é necessário fazer a conexão entre o ritmo e as teorias da
13
destacado na análise de Machado e Vilhena (2019). Outro ponto dos estudos de McLuhan que
pode ser destacado é a ideia de que os meios de comunicação são uma extensão do corpo
humano (1974). No caso deste objeto de estudo, o meio traduz-se na forma de Rap.
Levando essa compreensão para o cenário da comunicação comunitária, precisamos
primeiro conceituar o que é a comunicação comunitária. Segundo Peruzzo:
14
dessa democratização possibilitada pela internet, aumentou também a responsabilidade do
Hip-Hop.
Posicionar-se politicamente e socialmente é algo tradicional do movimento desde os
primórdios do Rap brasileiro. Ainda em 1999 o rapper MV Bill lançou seu primeiro álbum,
intitulado "Traficando Informação". A chegada de Bill na cena Hip-Hop virou os holofotes
para a vivência das comunidades do Rio, usando a música para informar sobre a situação das
favelas cariocas, alertar sobre a falta de atuação do poder público em relação à violência e ao
cuidado com as periferias, além de apresentar as comunidades de dentro para fora, o que não é
costumeiro dentro dos grandes veículos midiáticos. Na primeira música do disco, homônima
ao álbum, o rapper reafirma isso ao dizer que encontrou sua salvação para o estereótipo dado
ao jovem negro das comunidades na cultura Hip-Hop, ao tempo em que desafia a população a
observar o a si mesma e ao poder público deixando estas comunidades e lado: “Se você tiver
coragem vem aqui para ver/a sociedade dando as costas para a CDD8” (1999)
Baseando-se nos conceitos expostos, podemos compreender que por muitas vezes a
comunidade só é ouvida e representada por pessoas que venham do mesmo lugar. Isso é
justamente o que encaixa o Rap como um comunicador social e comunitário alternativo, pois,
apesar de não ser de fato um veículo de mídia, trabalha com a representação da realidade das
favelas, dando voz a territórios silenciados.
16
O Rap é alvo deste preconceito a partir das mídias, com matérias pejorativas; dos
mecanismos da lei, com interrupção de shows 9 e rodas de rima 10; e até mesmo do mundo da
música, como nota-se na entrevista dada por Chico Buarque à Folha de São Paulo em 2004:
``Quando você vê um fenômeno como o Rap, isso é de certa forma uma negação da canção tal
como a conhecemos. Talvez seja o sinal mais evidente de que a canção já foi, passou”.
Buarque ainda conclui dizendo: “O pessoal da periferia se manifestava quase sempre pelas
escolas de samba, mas não havia essa temática social acentuada, essa quase violência na
forma que a gente vê no Rap”.
Voltando à entrevista de Emicida no Roda Viva, programa que carrega o mesmo
nome de uma das canções mais famosas do próprio Chico Buarque, o rapper também foi
questionado sobre essa “conivência” do Rap com o crime, ao que respondeu dizendo:
Isso é uma análise que eu acho bastante preconceituosa. Desde quando narrar
determinada situação que está vinculada ao crime faz de você um apologista daquela
situação? Se isso fizer de você um apologista, então vocês têm que começar a pegar
o Datena, que faz isso todo dia e é entendido como jornalismo por mais nojento que
seja. A música faz um retrato do lugar onde as pessoas vivem. Apologia ao crime é a
forma como as pessoas vivem. Qualquer coisa que tente ligar o movimento cultural
a isso é tirar o foco de onde ele deve estar. (EMICIDA, 2020)
Para entender melhor porque o Rap fala tão bem sobre as comunidades, podemos
iniciar a partir da análise da música “Rap é compromisso”, de Sabotage. O rapper sempre
defendeu a ideia de que o Hip-Hop devia falar da realidade, dores e conquistas da
comunidade, justamente por ser um representante dela. Como o próprio destaca na canção
citada, o Rap não é viagem, é um compromisso e isso faz com que esse estilo musical vá
muito além do entretenimento, principal motivação de diversos outros ritmos. O fato é que
Sabotage, assim como muitos MCs, reconhecia o poder que o movimento Hip-Hop trazia para
a periferia e aceitou seu papel de dar voz à sua e a muitas outras comunidades.
Tupac Amaru Shakur (1971 - 1996), considerado por grande parte do público do Rap
como o maior rapper de todos os tempos, é também visto como criador de uma filosofia que
se encaixa perfeitamente na ideia da influência. A frase “The Hate U Give Lil’ Infants
Além das pesquisas apresentadas anteriormente, aqui vale ressaltar uma sequência de
estudos que também buscam compreender essa influência do movimento Hip-Hop, como por
exemplo, a tese de mestrado do professor Juarez Dayrell, mestre em Educação, cultura,
movimentos sociais e ações coletivas, além de fundador e integrante do Observatório da
Juventude da UFMG11. Em seu estudo, ele analisa não só a influência do Rap, mas também do
Funk e da cultura de rua nos jovens:
É lógico que, dentro do mundo do Rap, assim como em qualquer área, existem os bons
e maus exemplos, e compreendendo os conceitos aplicados pelos pesquisadores citados,
podemos afirmar que diversos fatores interferem no impacto que cada letra tem sobre os
respectivos indivíduos, algo já compreendido há muitos anos pelos estudos de comunicação
de massa. Contudo, o que não pode ser negado ou ignorado é justamente essa influência do
Hip-Hop dentro das comunidades e com os jovens dessas localidades, criando uma sensação
de pertencimento em cada letra.
Quando se cita "Isso não pode se perder", música lançada pelo rapper Emicida, em seu
álbum Emicídio (2010), cujo verso dá nome a este subcapítulo, é justamente sobre pessoas
como Cristiane que se fala. Em entrevista ao Roda Vida, o rapper explicou a fundo os
significados por trás da frase:
Isso tá muito ligado ao que eu disse que o Hip-Hop é enquanto movimento de base,
que conecta gente à um monte de projeto social. E o que ele faz antes da gente
perceber a importância de um desses projetos é incrível. Ele faz a gente se organizar
em posse, organizar uma aula de break, de grafitti. A sociedade civil se organiza
orientada por valores que são pulverizados pelo Hip-Hop. É a isso que a gente se
refere quando diz que o Rap salvou mais moleque do que qualquer projeto social.
(EMICIDA, 2020)
19
debatida nas faculdades de comunicação e disputaria prêmios. Mas sendo financiado pelo
Rap, abrem-se outros precedentes baseados em um pré-conceito.
Desde o boom do ritmo musical e sabendo-se que as classes mais humildes são as
maiores consumidoras, nota-se que a popularização do ritmo andou lado a lado com as
favelas, assim como a popularização da comunicação comunitária, que cresce desde o início
dos anos 2000, por exemplo.
São inúmeras as músicas de jovens rappers que citam a mudança possibilitadas pelo
Hip-Hop na sua vida a partir de conquistas pessoais, o que alcança as comunidades como
forma de incentivo, o que também está muito distante da ostentação comumente associada ao
ritmo pela mídia. Não que o exibicionismo não coexista, mas há grande diferença entre
esbanjar riquezas e esbanjar conquistas. Quando um rapper vence, a favela vence e o
movimento se torna um grito de libertação, um hino que permite a outros sonharem que
também podem vencer.
É evidente a necessidade de cada rapper reconhecer a sua importância social a partir
das mudanças que ele é capaz de proporcionar na vida de quem está próximo e isso começa
em pequenos passos. Para citar exemplos de pequenas mudanças podemos começar falando
de Renato Menezes Barreto, rapper mineiro conhecido no Brasil como Froid. Em sua música
“Sk8 do Matheus”, de 2017, o refrão deixa claro o motivo pelo qual o artista procurou o Hip-
Hop: “eu só tô aqui porque minha mãe ainda paga aluguel”. Dois anos depois do lançamento
da canção, Froid usou as redes sociais para fazer um importante anúncio: ‘minha mãe não
paga mais aluguel’13. Kayuá, rapper carioca, é outro dos expoentes do Rap Nacional que
encontrou esta “salvação” por meio da música. Em 2018 ele divulgou um vídeo do primeiro
presente que deu à sua mãe: uma televisão comprada com o dinheiro de suas primeiras
canções14. L7nnon é outro dos músicos que presenteou sua família, com a compra de uma
casa própria para sua tia15.
Essas vitórias, que parecem pessoais, mostram-se muito maiores quando refletem em
um jovem, de apenas 11 anos à época, que viu sua família ser despejada de casa. Essa é a
história de Kauê de Queiroz Menezes, conhecido no rap como MC Caverinha. O menino, que
começou a escrever enquanto a mãe trabalhava no lixão para sustentar oito pessoas, hoje não
13 Froid tira sua mãe do aluguel com dinheiro do Hip Hop. Disponível em: https://bit.ly/3MT7eBo
14 Kayua compra televisão para sua mãe com dinheiro do rap. Disponível em:
https://bit.ly/3xydXLc
15 Rapper L7nnon chora e emociona web ao dar apartamento para tia: `Dia mais feliz da minha
vida`. Disponível em: http://glo.bo/3HpQC2V
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só tirou todos os seus parentes da pobreza como também possibilitou uma moradia digna e até
alguns luxos para os seus pais16. Em sua música “Meu Corre” (CAVERINHA, 2020), ao lado
do rapper Djonga, destacam-se alguns versos que reforçam a crença do menino de que o rap é
o caminho para uma vida melhor:
Prometi pra minha mãe que nunca ia pegar no revólver/Mesmo quando eu sentir
fome/Por que lá de onde em vim/Eu vi vários morrendo nessa vida louca/Vários
menor que já trampou na boca/Eu muito novo, fazendo meu corre/Pra dar uma ajuda
pra minha coroa /E alimentava umas oito boca/Mesmo quando a comida era
pouca/Mesmo quando era só um barraquinho/Que faltava água para lavar uma roupa
/É que a conta de casa a gеnte quitou, mãe/Mеrecedora demais/Faltou luz, faltou
dinheiro, mas nunca faltou fé. (CAVERINHA, 2020)
16 MC Caveirinha vira fenômeno mirim do rap e compra casa para mãe aos 12 anos. Disponível em:
http://glo.bo/3aY7KAM
17 Música de verso livre (sem tema) composta e cantada por diversos rappers
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serviços sociais, capacitação profissional, além de um estúdio e uma biblioteca comunitária.
Em entrevista ao Flow Podcast, DK fala um pouco sobre a importância desse movimento:
Emicida, que conta em seu primeiro disco sua história de vida pobre, disputando
comida com cachorros, hoje é fundador do selo musical e de moda Laboratório Fantasma que,
em 2016 e 2017, esteve presente nos desfiles do maior evento de moda da América Latina: o
São Paulo Fashion Week. Seu trabalho, composto de grande representatividade ao colocar nas
passarelas uma variedade enorme de tipos corporais e, principalmente, modelos negros e
negras em um ambiente de extrema maioria branca, é destacado por ele na música “Inácio da
Catingueira”, de 2018: “Só no Fashion Week, nós empregou uma preta pra cada textão/(fora o
resto)”.
Assim como tudo que envolve o Rap e a ascensão social em uma sociedade capitalista,
a marca de roupa também já foi alvo de polêmicas, devido aos valores das peças, Emicida foi
questionado durante o programa Roda Viva sobre o preço das roupas não ser compatível com
a faixa monetária das comunidades que ela busca representar, ao que respondeu dizendo:
EdiRock também fala sobre esse dilema em sua entrevista ao PodPah. O rapper
destaca que, na época em que o Racionais MC’s começou a fazer sucesso e ganhar dinheiro,
as pessoas também achavam que aquilo não representava mais a periferia já que as
comunidades não vivem isso. O rapper respondeu dizendo: “Não vive, mas vai ter que viver.
Tem que viver, tem que correr, tem que ir atrás e tem que fazer”. Em resumo, seu pedido não
é para que o favelado ostente, mas sim para que a sociedade deixe de limitar o potencial que
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vem das favelas e, mais do que isso, para que as novas gerações usufruam dos direitos
conquistados por pessoas como ele, que asfaltaram o caminho.
Esses e diversos outros casos dentro e fora do Rap sem dúvida são os motivadores da
frase de Emicida utilizada como título deste subcapítulo. Hoje é comum que rappers utilizem
seu espaço em entrevistas para falar sobre a mudança que a música proporcionou nas suas
vidas e de suas comunidades, além do quanto é gratificante ver seus shows lotados de pessoas
repetindo que uma canção salvou sua vida. Como ressalta EdiRock, hoje o Rap se permite
falar sobre alegrias e, mais do que isso, sobre vida, e é preciso se responsabilizar pelo papel
assumido: “você está falando de vidas, de superação. Você está falando para outras vidas e
você pensa: vou falar o que para quem? É muita responsa” (ROCK, 2021).
3.2. “Quer ser o melhor? Vai ser o melhor pra tua comunidade”
Assim como no subcapítulo anterior, é preciso destacar o rapper que versou a frase
utilizada como título deste. O verso faz parte da canção “Griot” e representa bem o
compromisso que o rapper assume e acredita que todos do movimento Hip-Hop devem
assumir. Na cultura africana um Griot é um sábio, aquele que conta histórias aos mais jovens
e dá conselhos aos mais velhos. O detentor do conhecimento. Algo como um oráculo da
mitologia grega ou um profeta do cristianismo.
Foi com essa crença que Marechal fundou a Batalha do Conhecimento (BDC),
disputas entre MCs com temáticas sugeridas pela plateia ou pelos organizadores. Diferente
das batalhas de Rap comuns, com tema livre onde os MCs costumam se atacar, esse tem como
principal pilar o saber e quanto mais conhecimento o rapper tiver, melhor ele será. Não à toa o
Mc Estudante é conhecido como o principal representante desse movimento.
O Rap está em tudo e tudo vira Rap. Hoje, o ritmo que foi por muito tempo
marginalizado, já encontra algum espaço na grande mídia por meio de matérias em jornais,
23
participação nas trilhas sonoras de novelas, em programas e reality shows de tv, além, é claro,
de estar presente nas mídias do futuro como o YouTube.
O hip-Hop tomou, sozinho, o seu lugar no palanque e essa expansão fica clara, por
exemplo, quando ligamos a televisão e nos deparamos com Emicida como apresentador do
programa “Papo de Segunda”, ou quando vemos a Linn da Quebrada comandando o
“Transmissão”. Na internet, o canal da Budweiser no YouTube tem um conteúdo quase
inteiro voltado ao Rap, incluindo a realização de um reality show para novos músicos.
Além disso, quando analisamos os dados de consumo dos podcast no Brasil em 2021,
notamos ainda mais essa presença do Rap como comunicador social e comunitário. O "Mano
a Mano", programa de entrevistas de Mano Brown, foi o segundo podcast mais ouvido do
Spotify no Brasil no último ano, mesmo tendo sido lançado em agosto. Seu terceiro episódio,
com a participação do ex-presidente Lula, foi o mais ouvido do país.
Outro exemplo é o Podpah, podcast brasileiro com maior número de inscritos no
YouTube, também foi o segundo podcast mais ouvido na plataforma Deezer 18 no ano de 2021
e apoia assiduamente o Hip-Hop. De seu lançamento em setembro de 2020 até o fim de maio
de 2022, foram publicados 405 episódios do programa no YouTube, Deezer, Spotify e outros
agregadores. Deste, 130 convidados (32%) estão ligados ao Rap, Hip-Hop e ao Funk, sejam
MCs, DJs, produtores, beatmakers19, empresários e etc. Muitos deles foram citados neste
trabalho, inclusive.
Quando se diz que o Rap tem uma responsabilidade social, não fala-se apenas de
influenciar pelo exemplo, mas também pela prática. É necessário que os exemplos como os
apresentados durante toda a extensão deste trabalho, financiados por grandes nomes da cultura
Hip-Hop, sejam ainda mais comuns para possibilitar a escalada de outros.
O caminho para gritar que a favela venceu se inicia com a mudança na vida do próprio
rapper e no seu olhar sob o mundo, mas a vitória só é de fato alcançada quando aqueles que
conseguiram se movimentar na pirâmide social olham para o lugar de onde vieram. Citando
Emicida “jamais volte pra sua quebrada de mão e mente vazias” (2014).
É fato que o Rap possibilita ao jovem favelado sonhar, e se o poder público não
possibilita a realização de sonhos, o Rap surge novamente como facilitador. É sobre acordar
com a responsabilidade de ser espelho também do sucesso, para que os jovens das
18 De Marília Mendonça a João Gomes: Deezer divulga ranking dos cantores e hits mais ouvidos
em 2021. Disponível em: https://bit.ly/3xUzijI
19 Produtor musical que cria os samples e beats
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comunidades tenham uma nova oportunidade, como dito por Djonga (2019). Isso comprova
que o ritmo e a poesia podem transformar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Hoje eu voltei para a faculdade por causa do final da música `AmarElo`. Quando ele
diz “com a fúria da beleza do Sol, você vai atrás desse diploma. A gente se vê no pódio” (...).
Eu estou seguindo firme para que quando ele olhe para o pódio eu esteja lá, formada”. A frase
da empresária e hoje professora, Cristiane Oliveira, marcou uma das edições do quadro
“Quem quer ser um milionário”, apresentado por Luciano Huck na Rede Globo 20. Mulher,
negra, nascida em Nova Iguaçu, município da Baixada Fluminense do Rio de Janeiro e filha
de uma empregada doméstica, Cristiane é parte do perfil do jovem das periferias brasileiras
que encontra no Rap o diálogo comumente negado pela sociedade.
Existe um provérbio africano que normalmente é resumido à palavra “Ubuntu”, e pode
ser traduzido como “Eu sou porque nós somos”. O Hip-Hop é um dos maiores representantes
dessa filosofia e sua origem negra permite a utilização deste ditado para guiar o entendimento
do seu papel. Ele não fala só por si, fala por todos.
O Rap não é sobre o “eu”, é sobre o “nós”. Um “nós” que engloba periferias e seus
jovens em todas as suas peculiaridades e individualidades. “O Rap é nós”, “A rua é nós”, “é
nós por nós”. Como cantado por Choice, foi a própria rua - aqui entendida como sociedade
civil menos favorecida - quem elegeu o ritmo musical como seu representante (2018).
Compreendemos ao estudar a filosofia Thug Life, de Tupac, a construção do indivíduo
favelado não depende apenas do seu núcleo familiar ou das suas referências positivas, mas
sim de tudo que está à sua volta. Como dito também no continente africano, “é preciso uma
aldeia inteira para educar uma criança”. Quando o poder público entrega às favelas a
repressão, tende a receber a repressão de volta, mas quando transforma o seu potencial em
potência, possibilitando espaços de socialização, aprendizado e atenção aos jovens, isso tende
a evoluir de maneira positiva para toda a sociedade. É justamente esse papel que projetos
20 Participante do 'Milionário' agradece Emicida: 'Voltei para a faculdade por conta da música
AmarElo'. Disponível em: http://glo.bo/3GSzrGV
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sociais como a CUFA, o Centro Cultural Favela Cria, a Laboratório Fantasma, a Batalha do
conhecimento e muitos outros projetos ocupam.
Drik Barbosa versa e Load 21transforma em arte a ideia de que o Rap é um raro super-
herói. Oriundos dos becos, vielas e comunidades e faz parte da construção do entendimento
de que a vitória de uma pessoa da periferia representa não só ela, mas toda comunidade da
qual ela origina, pois, esta pessoa se torna um marco dos sonhos alcançáveis. Ser a primeira
pessoa com curso superior na sua família é uma vitória, assim como anos atrás era uma vitória
ser a primeira pessoa da sua família a aprender a ler ou, voltando ainda mais no tempo, era
uma vitória ser a primeira pessoa liberta da sua família. Tudo isso representa um pequeno
passo para cada indivíduo, mas um gigantesco passo para sua comunidade.
Ao falar “por nós”, o super-herói Hip-Hop foi capaz de alcançar voos mais altos. Hoje,
o ritmo não só movimenta uma quantidade inimaginável de fãs, como se comunica ainda mais
e melhor com pessoas de todas as classes sociais e idades, sem nunca esquecer de sua origem
e é esse conquistado pelo Rap que tende transforma-lo em um comunicador ainda mais
importante.
Em desalinho com o pensamento de Chico Buarque e muitos outros, nota-se que o Rap
talvez seja o ritmo musical com maior poder de influência, sendo capaz de modificar a visão
de mundo das pessoas. Ao versar sobre lutas o Hip-Hop se torna veículo de comunicação para
diversos movimentos sociais.
Podemos musicalizar a negritude e a luta antirracista nas vozes de Djonga, Emicida,
Mano Brown, Negra Li e diversos outros exemplos citados ou não neste trabalho, mas
também podemos ressaltar a luta indígena na voz de Souto Mc; a luta LGBTQIAP+ nas vozes
de Glória Groove, Linn da Quebrada e Rico Dalassam; a xenofilia através de Baco Exu do
Blues, Luiz Lins, RAPadura e Diomedes Chinaski. Seja qual for a sua luta, o Rap terá alguém
disposto a representá-la e ele é a voz dessa população, é trabalho da comunicação
compreender o porquê.
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