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Revista AMAzônica, LAPESAM/GMPEPPE/UFAM/CNPq

ISSN 1983-3415 (versão impressa) - eISSN 2558 – 1441 (Versão digital)

Vol. 14, número 1, jan-jun, 2022, pág. 168-204.

PSICOLOGIA DA MORTE E FENOMENOLOGIA: NOTAS PARA A


PESQUISA EMPÍRICA EM TEMPOS DE COVID-19

Alexsandro Medeiros do Nascimento


Antonio Roazzi
Henrique Augusto Brust de Jesus
Laís Virgínia de Araújo Mendes
Luís Roberto Ramos Beltrão de Melo
Pedro Vinícius Gomes Silva

Resumo: A pandemia de Covid-19 trouxe ao mundo novas apresentações da


morte, suscitando na sociedade reformulações em seus rituais mortuários,
trazendo também o pesar do luto e o persistente temor da finitude. No ano de
2020, o Brasil testemunhou um conturbado combate à pandemia de Covid-19
que elevou a taxa de óbitos e desnorteou a população. O presente artigo discute
sobre uma ampliação das agendas de pesquisas empíricas de base
fenomenológica de forma que sejam capazes de explicitar as cicatrizes
deixadas pela mortandade por Covid-19 em nosso necrossistema. São
apresentadas propostas teóricas de relevância no campo da psicologia da morte,
um breve esboço de metodologias fenomenológicas e seu uso no campo da
fenomenologia da morte brasileira e, por fim, ponderações a respeito da
pandemia de COVID-19 e seus impactos sobre o sentido dado a experiências
de morte e morrer no Brasil em tempo pandêmico.
Palavras-chave: Pandemia Covid-19, morte e morrer, psicologia da morte,
fenomenologia pesquisa fenomenológica.

Abstract: The Covid-19 pandemic brought new presentations of death to the


world, raising society reformulations in its mortuary rituals and bringing the
grief of mourning and the persistent fear of finitude. In 2020, Brazil witnessed
a turbulent fight against the Covid-19 pandemic that raised the death rate and
bewildered the population. This article discusses an expansion of empirical
research agendas with a phenomenological basis so that they can explain the
scars left by the Covid-19 mortality in our necrosystem. Relevant theoretical
proposals are presented in the field of psychology of death will be presented, a
brief outline of phenomenological methodologies and their use in the field of
the phenomenology of Brazilian death and, finally, considerations about the
COVID-19 pandemic and its impacts on the given meaning to experiences of
death and dying in Brazil in a pandemic time.
Keywords: Pandemic, Covid-19, death and dying, psychology of death,
phenomenology, phenomenological research.

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No primeiro semestre de 2021, o Brasil tem disputado o maior número
de óbitos diários por COVID-19 em todo o mundo, além da baixa taxa de
vacinação no país, baixa adesão ao distanciamento social e UTIs lotadas 1. A
crise sanitária instaurada atualmente escancara as fragilidades e a ineficácia do
poder público em assegurar a saúde da população. São cenas de caixões e
corpos dispostos em conjunto, às pressas, fechados, sem respeitar o ritual
habitual do luto, que provocam profundo pesar a familiares e pessoas
próximas2. Relatos de quem vivencia a chegada da morte são reportados
diariamente nos meios de comunicação, traduzindo o abalo psíquico
vivenciado pelos brasileiros. Neste cenário mórbido, novos contextos do luto
surgem, novos rituais fúnebres se estabelecem, a ansiedade de morte se faz
saliente com os boletins diários, os suicídios crescem em número e, por vezes,
a rotina de profissionais da saúde os drena ao nível da exaustão. Estas
alterações na base da sociedade convidam a explorar como é existir na situação
de confronto diário com a morte e quais os sentidos atuais da morte e do
morrer para os brasileiros. Cabe, então, em meio a este novo contexto, propor
uma agenda da psicologia da morte com o papel de investigar e acessar os
fenômenos ocorridos hoje no brasil e abri-los ao exame do público.
Kastenbaum e Aisenberg (1983), proponentes do campo da psicologia
da morte, nos demonstram a existência de um intricado sistema de vocábulos e
ações orientadas à morte na sociedade que podem ou não exercer o propósito
de facilitar aos indivíduos o entendimento da morte na dimensão coletiva e
privativa do cotidiano: um necrossistema. A existência consolidada deste
sistema se atesta nos mecanismos da sociedade para gerenciar e amenizar os
terrores da morte, instituir papéis sociais mortuários, estabelecer rituais
fúnebres, entre outras particularidades de cada cultura. Sendo os
necrossistemas localizados num determinado tempo histórico, seus arranjos

1
Barrucho, 2021, 3º parágrafo. Disponível em < https://www.bbc.com/portuguese/brasil-
56414769>
2
Jiménez, 2020. Disponível em: https://brasil.elpais.com/opiniao/2020-04-03/cemiterio-em-
sao-paulo-a-foto-que-jamais-gostariamos-de-publicar.html

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mudam de acordo com as configurações presentes na sociedade, e neste ponto
onde a morte e o morrer já se arrastam há mais de um ano no cotidiano, impera
entender como o necrossistema brasileiro tem sido perturbado por conflitos
políticos, modelado por novos protocolos científicos e asseverado pela
constante iminência da morte. Se incumbem de realizar esta tarefa as ciências
do campo da tanatologia, especialmente a psicologia, antropologia e sociologia.
De acordo com o reforçado por Andrade e Holanda (2010), a pesquisa
qualitativa surge no contexto acadêmico enquanto uma via de resgate das
subjetividades e a fenomenologia como metodologia qualitativa capaz de
acessar as vivências dos indivíduos, descrevê-las e amplificá-las, obtendo
acesso aos sentidos da experiência individual e à essência do fenômeno (Smith
et al., 2009; Andrade & Holanda, 2010; Giorgi, 2006; Giorgi et al., 2017; Gill,
2020). Desta forma, faz-se muito oportuno adentrar o novo necrossistema
brasileiro através da leitura das vivências em tempos de COVID-19,
permitindo-nos um novo olhar em detalhes para o que se deflagra hoje e quais
soluções podem ser pensadas para o amanhã.
Ao longo deste trabalho, objetiva-se introduzir algumas propostas
teóricas de relevância do campo da psicologia da morte, demonstrar o terreno
demarcado pela fenomenologia da morte no Brasil e explicitar a necessidade de
atenção às vivências atuais ocorridas no necrossistema em meio a pandemia de
COVID-19. Posto isto, é sugerida uma agenda fenomenologicamente orientada
que aspire desvendar os sentidos das experiências no campo da morte,
assumindo a investigação de seus diversos temas.

Psicologia da Morte: história, objeto, metodologias, temas de pesquisa e


contribuições brasileiras
Passadas seis décadas desde a estreia do movimento intelectual de
Conscientização para a Morte americano (death awareness movement) (Feifel,
1974), já é possível atestar com segurança que a tanatologia vagarosamente
atingiu algum reconhecimento na Academia, recebendo inclusive atenção em

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laboratórios brasileiros, revistas especializadas, seminários e workshops
(Kovács, 2008). Como aferido por Feifel (1990), o movimento que apresentou
a morte em primeiro plano trouxe à reflexão uma variedade de perspectivas,
como: a necessidade de assegurar a dignidade ao paciente terminal; o olhar
mais atento às implicações futuras e prospectos de nossas mortes; a
importância de nos sentirmos confortáveis com o mistério da morte; a morte
simbólica e os pequenos lutos do cotidiano; a transdisciplinaridade dos
assuntos da morte; e a educação para a morte não só para os profissionais de
saúde, mas também para a sociedade. Enquanto um dos proponentes do estudo
da morte na psicologia, Feifel (1990) nos situa que a ciência da morte e do
morrer não é um culto de fixação pelo macabro, mas sim uma proposta de
apreciação da vida em sua preciosidade, elevando-se os valores, prioridades e
objetivos.
Alguns antecedentes históricos contribuíram para que houvesse um
maior interesse da psicologia pela questão da morte. Kastenbaum e Aisenberg
(1983), relataram os contextos e acontecimentos que propiciaram essa mudança
de paradigma entre a relação do construto da morte com a psicologia. No
parágrafo seguinte, será realizada uma breve descrição de alguns desses
processos a partir da concepção destes autores.
Um dos pontos a serem ressaltados é que desde a segunda guerra
mundial as pessoas tiveram que lidar com o prospecto da morte de maneira
muito intensa. Na segunda guerra houveram extermínios em uma quantidade
bem maior em comparação com a primeira guerra mundial, além do grande
progresso em escala mundial no desenvolvimento de instrumentos que
objetivavam a exterminação em massa. Todo este prospecto propiciou que a
sociedade refletisse sobre aspectos mais existenciais, como o significado da
vida. Outra questão relevante é que já não há mais um distanciamento da morte
cruel ou de forma abrupta. A denominada morte “natural” não gera grandes
dificuldades para um possível afastamento, no entanto, a morte violenta e
repentina não permite essa fuga com tanta facilidade. Os próprios meios de

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comunicação de massa, como a televisão, por exemplo, submergem o
indivíduo em um mar de horror e que infelizmente denota a realidade vigente.
Então, constata-se que já não há tantas possibilidades para esse distanciamento.
A maior experiência dos higienistas mentais também configurou-se como um
fator importante. Havia uma enorme gama de profissionais de psicologia e
psiquiatria mais experientes e envelhecidos em comparação a outros tempos.
Muitos deles, inclusive, já tinham vivenciado momentos de luto e experiências
bastante dolorosas, como campos de concentração, cárceres e guerras.
O projeto da psicologia da morte (ver Kastenbaum & Costa, 1977)
desejou entre seus objetivos transformar várias suposições comuns à época em
perguntas reais que podem ser elucidadas por meio da observação empírica. No
século passado, por exemplo, várias hipóteses que abordam a ligação da
criança com a morte foram testadas. Kastenbaum e Costa (1977) mencionam a
conjectura de que as crianças não compreendessem a morte, sendo algo
compreendido apenas pelos adultos; esse tipo de concepção era marcada pelo
pressuposto de que não seria saudável para os infantes que houvesse
preocupações referentes às questões da morte, convergindo para a proposta de
manter o período da infância associado com um momento ameno e feliz, sem
levar em consideração os percalços que podem surgir na realidade. O propósito
dessas suposições é o de amenizar a ideia de que o significado da morte exerce
influência na criança, no que se refere ao desenvolvimento cognitivo, social e
da personalidade.
No que tange aos métodos já há muito tempo utilizados nas pesquisas
da morte, pode-se citar o caminho de prospectos firmados em estudos de casos
clínicos, entrevistas, experimentos, questionários, análise de comportamentos
expressivo-projetivos, observações naturalistas e medidas de desempenho
(Kastenbaum & Costa, 1977). Do polo qualitativo, a tanatologia muitas vezes
opta por metodologias advindas de bricolagem para melhor acessar os vários
lados de um objeto e torná-lo claro, reduzindo limitações (Carvernhill, 2002).
Em revisão (ver Wittkowskia, Doka, Neimeier e Vallerga, 2015) pesquisadores

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encontram a pesquisa quantitativa como principal paradigma metodológico
escolhido entre os estudos nas principais revistas de tanatologia do mundo, a
Death Studies e a Omega Journal of Death, com a prevalência temática de
estudos do luto, atitudes diante da morte, suicidiologia e fim de vida,
respectivamente. Entretanto, embora haja o protagonismo da pesquisa
quantitativa, estudos com a perspectiva qualitativa cresceram bastante na
última década, contribuindo para uma análise mais descritiva dos aspectos
relacionados à morte. Há também um predomínio de pesquisas empíricas de
acordo com as análises realizadas. Revisões de literaturas e metanálises
permaneceram de maneira bastante frequente em um nível muito baixo de
produções.
Atualmente estabelecida, a psicologia da morte já possui uma coleção
de temas muito próprios da disciplina, marcados por uma maior
representatividade em pesquisas e teorizações. Entre estes, mencionam-se o
fim de vida, luto, significados da morte, suicídio, eutanásia e educação para a
morte.
Elizabeth Kübler-Ross (1996/1969) surge como uma das principais
teóricas do fim de vida e do luto. Em seu trabalho, identifica-se em pacientes
terminais cinco estágios diferentes do processo de morrer: negação, raiva,
barganha, depressão e aceitação. A autora explica que nem todos os pacientes
vão passar pelos 5 estágios, alguns se detém em apenas um deles, outros em
mais de um. Também este mesmo processo pode servir de modelo para
explicar as fases do enlutamento daqueles que perderam alguém. Neto et al.
(2017), constatam a validade destas teorias ao concluírem que a compreensão
dos estágios de luto e antecipação da morte de Klüber-Ross é fundamental
entre estudantes de medicina e médicos, visto que os auxiliarão não só a
comunicarem a má notícia de maneira mais branda, como também a
entenderem melhor o funcionamento de cada paciente.
As pesquisas em tanatologia fazem enfática a necessidade de se
trabalhar a educação para a morte enquanto tema de especial interesse na

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formação em saúde. Oliveira-Cardoso e Santos (2017) detectam pertinência
desse conhecimento coletando a percepção de alunas sobre um grupo voltado
ao tema. É reconhecida a importância da atividade na preparação para lidar
com pacientes terminais, ressignificar subjetivamente a morte e o morrer e
construir uma melhora da conduta profissional. Em outro estudo, Santos e
Pintarelli (2019) investigaram a educação sobre o processo da morte e do
morrer em estudantes de medicina e médicos residentes. Descobriu-se que a
interação com pacientes em processo de morte propiciou sentimentos diversos
nos participantes, tais como angústia, maior sensibilidade, esfriamento, tristeza,
amadurecimento profissional, entre outros.
O tema dos significados da morte tem sido abordado em diversos
contextos sociais, disseminando um acervo de pesquisas com grande variedade
de amostras. Tomamos por exemplo o trabalho de Santos e colaboradores
(2020) que buscam os significados da morte e do morrer em profissionais de
uma unidade de terapia intensiva na cidade de Salvador. Na pesquisa, constata-
se que a vivência desses profissionais é fundamentada na adaptação ao
contexto, e a morte é compreendida como um fenômeno característico à vida;
e, no que concerne ao processo de morrer, existem obstáculos para o
enfrentamento em virtude do vínculo formado entre profissionais e pacientes.
Numa outra variedade amostral, Magalhães e Nascimento (2018) buscam
entender como a morte é subjetivada entre fãs de heavy metal, encontrando
significações da morte voltadas à cultura ocidental, havendo tensões entre a
abstração da morte e a sua concretude.
Kovács (1992) destaca que as ideações suicidas apresentam alguns
graus de intencionalidade, que vão desde desejos, repressões e tentativas até ao
ato em si. Ribeiro et al. (2018), ao avaliar o perfil epidemiológico dos suicídios
e também das tentativas de suicídio, perceberam que este tem uma prevalência
entre jovens adultos e adolescentes, as taxas mais altas são comuns no período
de 30 a 49 anos e as mulheres tendem a realizar mais tentativas que os homens,
estes, utilizando-se de estratégias menos violentas.

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Carcélen (2020) realizou um estudo investigando as opiniões da
população e de médicos clínicos a respeito da eutanásia. Constatou-se que o
apoio a essa prática médica aumentou bastante não só entre profissionais da
medicina, como também entre os habitantes do país. Em 2021, a Espanha
regulamentou a eutanásia para residentes e pacientes espanhóis. Dessa forma,
os pacientes possuem legitimidade para, caso assim desejarem, buscar meios,
através da medicina, com o intuito de ceifar a própria vida3.
A psicologia da morte, trazida ao Brasil já há algumas décadas 4, tem
como um de seus proponentes Maria Júlia Kovács, livre-docente do Instituto de
Psicologia da USP onde coordena o Laboratório de Estudos sobre a Morte
(LEM), que dedicou-se a temas como suicídio, luto, pacientes terminais e
educação para a morte. Em relação a este último tema, Kovács (2008),
verificou como estão sendo trabalhados os conteúdos associados à morte e o
morrer trazendo ao exemplo uma universidade pública nacional. De acordo
com os alunos, constatou-se que esses temas são abordados de forma bastante
rasa em outras disciplinas e que eles não se consideram aptos para lidar com
questões referentes à morte. Além disso, observou-se que os discentes
manifestaram bastante indignação com o déficit de informações na grade
curricular.
Wilma da Costa Torres é também uma das expoentes na área e pioneira
nos estudos da morte no país. Desenvolvimentista, realizou estudos sobre
suicídio, pacientes terminais, religiosidade dentre outros, no entanto, dedicou a
maioria das suas pesquisas ao tema de conceito de morte na criança. Torres
(2002), examinou a associação existente entre conceito de morte e nível da
cognição em crianças diagnosticadas com doenças crônicas, estabelecendo uma
comparação com crianças sadias que possuem situação socioeconômica e nível

3
1º Parágrafo. Disponível em <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/03/18/parlamento-da-
espanha-aprova-legalizacao-da-eutanasia.ghtml >
4
Cumpre trazer à memória e prestar o devido tributo aos trabalhos da pioneira Wilma da Costa
Torres (In memoriam) que deixou um rico legado em pesquisas desenvolvimentais de
inspiração piagetiana sobre o desenvolvimento do conceito de morte em crianças de diferentes
contextos socioeconômicos. Seus trabalhos fornecem o alicerce histórico para o posterior
desenvolvimento de uma psicologia da morte genuinamente brasileira.

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cognitivo semelhantes. Utilizou-se as tarefas para avaliação do nível de
desenvolvimento cognitivo e o instrumento de sondagem do conceito de morte
(Torres, 1979). Os resultados mostraram que a defasagem cognitiva que foi
detectada em crianças carentes, no que tange aos padrões piagetianos, não se
mostraram com um nível maior nas crianças com doenças crônicas (Torres,
2002).
É válido ressaltar também a contribuição de Alexsandro Medeiros do
Nascimento, pesquisador, no âmbito da Psicologia da Morte. Em um de seus
estudos sobre significados da morte, Nascimento e Roazzi (2008) avaliaram a
estrutura da representação social da morte em profissionais de saúde, através de
um questionário com perguntas abertas e fechadas. A pesquisa baseou-se no
método de “variáveis externas como pontos'', além de um procedimento
multidimensional não métrico (SSA). Os resultados indicaram que existe uma
grande probabilidade de que houve dificuldades não só em se estabelecer
consensos, como também na representação da morte.
Maíra Monteiro Roazzi é outra autora com trabalhos relevantes na área.
Em seu estudo, Roazzi et al. (2010) analisaram o período no qual manifestam-
se nas crianças significados religioso-metafísicos e secular-biológicas, no que
concerne ao conceito de morte. Entrevistou-se noventa e duas crianças, entre 6-
8 e 10-12 anos, de escolas privadas e públicas. As crianças examinaram dois
textos que explicavam a morte de uma avó ou avô e, a partir disso, respondiam
se alguns processos mentais e corporais perdiam ou não a funcionalidade
depois da morte. Verificou-se então, que as crianças possuíam subjetividades
baseadas vigorosamente na perspectiva secular-biológica da morte. Acrescenta-
se ainda que, no que tange às diferenças mentais e corporais, elas elaboraram
justificativas fundamentadas na visão religiosa-metafísica para funções mentais
e secular-biológicas em relação às funções corporais.

A fenomenologia da morte brasileira

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Sob um olhar epistemológico, a morte é um objeto complexo,
decomposta enquanto fenômeno em suas diversas apresentações, como nos
estudos do luto, da antecipação do morrer, do suicídio, da morte hospitalizada,
entre outros; estes temas emplacam a composição dos estudos psicológicos da
morte no Brasil. Por ser multifacetada, a perspectiva metodológica dada aos
fenômenos da morte varia de acordo com o objeto a ser trabalhado, e segue-se
que desvendar este fenômeno nos coloca no lugar de também investigar o que
esta morte nos suscita. “O que penso sobre a morte?”, “como é morrer em
minha cultura?”, “como vivencio o morrer do outro?”, “como vivenciarei a
minha morte?”. A curiosidade em conhecer os sentidos destas vivências abre
espaço para a fenomenologia enquanto ferramenta investigativa capaz de
capturar o sentido de uma experiência humana da maneira como ela se
apresenta (Amatuzzi, 1996; Moran, 2000; Smith et al., 2009; Giorgi, 2006;
Giorgi et al., 2017; Gill, 2020), e, por consequência, através de pesquisa,
chegar ao encontro das diversas faces da morte na sociedade, constituintes de
um necrossistema.
A fenomenologia empregada enquanto uma abordagem metodológica
qualitativa, possui sua própria epistemologia filosófica e se desdobra em
métodos variados para acessar os fenômenos vivenciados pelo indivíduo (Gill,
2020). Nela, busca-se com rigor ir de encontro à experiência interior mais
própria e única, onde o fenômeno de fato acontece, sendo assim, a proposta é
tornar acessível a essência do ocorrido na experiência de um indivíduo. Por
este motivo, é importante esclarecer que: na fenomenologia, o fenômeno é
compreendido pela maneira como ele se mostra, respeitando sua apresentação
evitando inicialmente compreendê-lo através de preconcepções ou pelo
entendimento inicial através de teorias explicativas (Moran, 2000; Amatuzzi,
1996). Assim, na pesquisa qualitativa fenomenológica são exploradas as raízes
das vivências (Creswell, 2013). A fenomenologia enquanto disciplina para a
pesquisa em psicologia se desdobra em duas correntes proeminentes, a

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fenomenologia descritiva seguindo a tradição de Husserl e a fenomenologia
interpretativa fundamentada em Heidegger (ver Gill, 2020), a seguir discutidas.
O projeto de Edmund Husserl representou uma mudança de paradigma
na filosofia do século XX, antes ancorada na tradição da metafísica, e
encontrou o terreno fértil da fenomenologia, que trouxe enfoque ao
conhecimento originado da experiência consciente do indivíduo (Moran, 2000).
Neste novo contexto, argumenta-se que aquilo que se pode conhecer sem
dubiedades é o que se apresenta na consciência quando esta olha para os
conteúdos despida da atitude natural (preconcepções da vida cotidiana sobre o
objeto), na famosa expressão Husserliana, um “retorno as coisas mesmas”. Só
assim, o conteúdo do pensamento será apresentado empiricamente enquanto
um dado puro (Husserl, 2000). A proposta de uma fenomenologia
metodológica voltada para a psicologia é propriamente estabelecida por
Amadeo Giorgi (2006; Giorgi et al., 2017). Em seu trabalho, Giorgi sugere
uma tradição descritiva, onde o pesquisador se desfaz de suas preconcepções,
da proposta positivista e do senso comum diante do fenômeno da consciência,
e se coloca em primeira pessoa na postura de uma atitude fenomenológica
psicológica, desejando conhecer em profundidade a essência psicológica
pertencente ao fenômeno e descobrindo os seus sentidos, bem como
posteriormente descrevendo a estrutura psicológica do que foi relatado.
A proposta de Husserl, onde a experiência acontece na interface com
um mundo pré-reflexivo e afetivo, o mundo da vida (Lebenswelt), é desafiada
por Martin Heidegger, ao contestar a relação sujeito-objeto por assumir que
somos seres que sempre estão existindo no mundo (in-der-Welt-sein), um ser
com o objeto. Entende-se que tudo pensamos apenas pelo arcabouço adquirido
da nossa vivência no mundo, vivemos nele e por ele, e constituímos este
mundo através de nossas experiências individuais. Sem ter escolha, somos uma
amálgama de mundo e indivíduo; o ser humano está lançado no mundo, sendo-
o (Heidegger, 2013/1927; Moran, 2000). Porque a vida do ser humano
acontece sempre num contexto, ele é um ser que está aí em algum lugar, num

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determinado espaço e tempo; o ser humano é um ser-aí (Dasein). Este ser-aí
também é constituído de linguagem, a qual emprega para interpretar sua
existência através de uma hermenêutica (uma leitura de si) (Heidegger,
2013/1927). A premissa heideggeriana tirou a fenomenologia do foco na
consciência e a lançou no enfoque sobre a mundanidade do ser humano,
pensada como uma experiência na existência em vez da experiência consciente
(Gill, 2020).
O interesse heideggeriano por uma fenomenologia dos fatos vividos
(facticidade), considerada numa cultura e historicidade, abre caminho para
diversas metodologias interpretativas que podem ser utilizadas pela psicologia
(Gill, 2020). Smith, Flowers e Larkin (2009) sugerem que a metodologia da
pesquisa fenomenológica interpretativa parta do princípio de que o ser-humano
cria o sentido de sua experiência, auto-interpretando-se. Instaurado como tal,
há uma dupla hermenêutica no método interpretativo de Smith et al. (2009),
onde o pesquisador tenta fazer sentido do dito pelo participante, que está
tentando fazer sentido de sua própria experiência. Assim, o papel do
pesquisador é ir de encontro da experiência subjetiva relatada pelo participante
e amplificá-la.
Neste terreno epistêmico são sugeridas também outras abordagens para
análises de cunho fenomenológico. Para dar alguns exemplos: a fenomenologia
hermenêutica de Van Manen, a fenomenologia interpretativa de Benner, a
fenomenologia social de Van der Schültz, a fenomenologia para pesquisas em
organizações de Sanders, entre outras. Porém, grosso modo, estas propostas se
deslocam entre os pólos epistêmicos interpretativo e/ou descritivo, segundo
avaliação de Gill (2020). Apesar da experiência ser um conceito complexo, não
podemos nos furtar de contemplar maneiras de descrever o que vivenciamos
quando estamos imersos nos instantes mais corriqueiros, que transitam num
contínuo que vai desde os acontecimentos irrefletidos aos mais conscientes,
além de cogitar como poderíamos transcrever essas vivências demonstradas em
seus próprios termos (Smith et al., 2009). A vista empírica dos fenômenos

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como os percebemos, tirando de cena as teorias inicialmente explicativas, abre
espaço ao singular e a novas reformulações explicativas (Amatuzzi, 1996;
Andrade & Holanda, 2010). Seguindo estes princípios, a morte ainda é um
objeto de estudo vasto no campo das experiências idiográficas, sua
documentação fenomenológica é escassa, em nível mundial, e em contexto
brasileiro.
Em revisão recente de Gomes e Sousa (2017), revela-se que no Brasil a
pesquisa fenomenológica sobre a morte tem priorizado pressupostos
heideggerianos em seu aporte teórico, seguido por fenomenologias de outros
autores como a de Merleau-Ponty, a fenomenologia psicológica de Giorgi e a
fenomenologia social5. Entre os trabalhos, cabe a ressalva de que alguns são
criticados por não terem diretrizes definidas na etapa de análise de dados. Os
principais temas abordados até então foram as experiências de pessoas com
câncer e seus familiares, a família e a morte, a perspectiva da morte em
graduandos e profissionais e, por último, luto e suicídio. Para representar o tom
dos trabalhos fenomenológicos no Brasil, seguiremos mencionando
brevemente alguns artigos a seguir.
Observada enquanto modelo, a tese de Fujisaka (2014) utiliza da
fenomenologia psicológica (Giorgi, 2006; Giorgi et al., 2017) para encontrar os
sentidos de vivências e a estrutura da experiência em um público de cuidadores
de pessoas em leito de morte. Acessando os sentidos das vivências dos
participantes, percebe-se que cuidar está intimamente relacionado à experiência
de amenizar a dor de entes queridos, junto a experiência de se entregar a este
propósito mesmo que implique em esgotamento. Para os participantes, a
estrutura da experiência envolvia também aproximar-se dos médicos e com
maior intimidade do enfermo, havendo grande empatia. Para dois dos
participantes, houve o sentido de, por vezes, tornar-se um só com o doente e

5
Especialmente àquela inspirada nas ideias de Schütz, em sua síntese magistral entre
fenomenologia e o pensamento sociológico de Weber (ver Schütz, 2012, para uma
apresentação abrangente em língua portuguesa do Brasil dos principais aspectos da síntese
schütziana).

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suas dores. Um outro sentido da vivência foi o de que cuidar do paciente é
difícil se há pouca comunicação com os médicos, pois isto desorganiza a
preparação para a perda; a morte parecia mais iminente. Por fim, passado
algum tempo após a morte do familiar, a estrutura psicológica da experiência
foi a de dor e saudade em transformação: diluiu-se a dor e restou a saudade.
Isto ressignificou o vínculo do cuidador para com o falecido, criando um tipo
de relação diferente, pois se pauta nos sentidos de uma presença na ausência.
A tese de Fujisaka acessa os sentidos e identifica as estruturas da experiência
olhando para além das teorias convencionais do luto e antecipação da morte,
sem, contudo, deixar de dialogar com estes saberes. Isto é conquistado por
meio de seu foco empírico na apresentação do fenômeno aberto em
profundidade, possibilitando encontrar a facticidade do cuidador. Chega-se,
então, às raízes da vivência – o proprium do empreendimento científico da
fenomenologia.
No tema do luto materno, Silva e Melo (2013) identificam
hermeneuticamente como o acontecimento da perda de uma filha evidencia o
lugar central da maternidade na vida e, após a perda, a vida passa a ter maior
valor, diminuindo o tamanho das novas dificuldades. Também é analisado no
caso um posicionamento duplo quanto à postura da participante quando o
mesmo processo ocorre em outra mãe: transmite-se esperança às mães que
passam pela mesma tarefa de cuidar de um filho doente, porém, quando a
morte dessa criança é anunciada, não se é possível consolar e surge o silêncio
como um discurso autêntico (Heidegger, 2013/1927).
As vivências de profissionais de saúde e graduandos ao confrontar a
morte também foram temas fenomenológicos. Através da hermenêutica
heideggeriana, afere-se em médicos os sentidos de estranhamento frente a
morte, que sofrendo da angústia de se perceber enquanto um ser-para-a-morte
tal qual seu paciente, evitam-na, aliviando-se na impessoalidade para continuar
o seu trabalho. Tal atitude se estabelece desde a formação (Mello & Silva,
2012). Estes sentidos dialogam com o achado de Santos, Porto e Batista

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(2020), onde profissionais de saúde na unidade de terapia intensiva significam
a experiência da morte no local de trabalho como algo natural por ser rotineira;
uma naturalidade vista como necessária para a continuidade do trabalho. Há
também os sentidos de ressalva, onde o cuidado emocional é visto como
importante para o profissional, a fim de evitar que um modo de proteção não
camufle sentimentos reais pesarosos.
Quando a fenomenologia da morte reflete o tema da formação e o êxito
dos futuros médicos, Silva e Ayres (2010) identificam entre alunos os temas do
desamparo e necessidade de modelos profissionais no preparo para lidar com a
morte, a fim de construir uma atitude mais adequada e trabalhar suas emoções.
Já no polo da formação em psicologia, Nascimento, Jesus e Roazzi (2021)
mapeiam o fenômeno dos sentidos de morte dados por estudantes; trabalho este
que resulta em uma riqueza de sentidos distintos entre si, acompanhados
juntamente de suas estruturas psicológicas. Observa-se que para os alunos a
estrutura psicológica daquilo que é a morte se traduz das seguintes maneiras:
um dar-se conta da finitude do fluxo de experiência; um fim dado a vida
através da disfuncionalidade e interrupção do corpo físico; uma continuidade
da vida e/ou novas formas de vida na dimensão espiritual; a morte como uma
ideia ansiogênica e prejudicial ao indivíduo; a morte como um processo de
elaboração afetiva após uma perda; e, por fim, a morte como componente
motivador que valoriza e dá sentido ao existir. Enfatiza-se com o trabalho a
amplitude do conceito da morte no imaginário em formação destes estudantes,
que não demorarão a se depararem com a morte em sua profissão.
Aplicando a metodologia fenomenológica em uma população que
tentou suicídio, Ming-Wau et al. (2020) encontram nos sentidos desta decisão o
exercício da liberdade ontológica frente a presença de angústia como uma
possibilidade de escolha para cessar os conflitos existenciais. Também foi
aferida a unidade de sentido da morte enquanto uma escolha melhor do que
viver este mundo, uma forma de afastar os problemas externos por meio do
confronto entre viver de acordo com os valores dos outros ou abdicar de seus

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ideais. Ainda nesta unidade de sentido, o suicídio surge como uma forma de
encerrar adversidades vindas do mundo, como a perda da família e a dura
sintomatologia da psicose.
Buscando compreender o aspecto misterioso e espiritual envolvido na
morte, Rabelo e Mahfoud (2020) empreenderam um estudo sobre a percepção
de coveiros sobre o referido tema. As estruturas das experiências destes
homens demonstram o cemitério entendido enquanto um território misto,
ambíguo, onde a fronteira do mundo dos mortos pode ser cruzada; um espaço
de diálogo entre os dois mundos, o aquém e o além. Durante a noite, ouvem-se
passadas sem dono, recebe-se a visita dos sepultados e o homem que estava
vivo se vê morto. No aspecto estrutural do fenômeno vivenciado, o cemitério
não possui dono, e é necessário negociar com a entidade cuidadora dos mortos,
o “Caveirão”, para ganhar a proteção ao entrar no território. É identificado
também em um dos coveiros o sentido de um aquém radical, onde nada existe
no além-do-túmulo.
O corpo das pesquisas fenomenológicas da morte demonstra o empenho
em conhecer a morte e privilegiá-la pelo olhar em primeira pessoa. Busca-se a
raiz do fenômeno (Creswell, 2013), e a comunicação dos sentidos tão únicos à
vida cotidiana (Smith et al., 2009). É para verificar este grau de empirismo que
a fenomenologia é desejável como uma disciplina de pesquisa com caráter
exploratório, capaz de encontrar com profundidade os sentidos da finitude,
amplificando-os, pois apenas o próprio indivíduo pode informar aquilo que
intenta da vida e da morte.

Pandemia COVID-19 no Brasil: impactos societários e enfrentamento


No ano de 2019, a China se deparou com uma nova emergência
sanitária. O que inicialmente foi identificado como uma pneumonia de origem
desconhecida entre pessoas que frequentavam comércios de animais selvagens
dentro da cidade de Wuhan, posteriormente foi analisado e reconhecido como
um novo coronavírus (Chaves & Bellei, 2020). Tal nomenclatura, cujo termo

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“corona” no latim significa “coroa”, surge por tratar-se de um tipo de vírus que
tem morfologia parecida com uma coroa solar e apresenta subfamílias alfa,
beta, gama e delta; estas, variam de acordo com a classe do animal que o abriga
(mamífero, ave, etc.) (Velaven & Meyer, 2020).
Existem evidências de que o vírus foi provocado através do contato
entre humanos e animais selvagens e pelo consumo destes, principalmente pela
cultura fortemente influente na China de que “animais vivos recém abatidos
são mais nutritivos” (Chaves & Bellei, 2020). Esse tipo de costume alimentar
pode contribuir para a proliferação de zoonoses, isto é, doenças transmitidas de
animais para pessoas, e têm o potencial de trazer sérios danos infecciosos a
humanos (Chaves & Bellei, 2020). É válido destacar também que o agente
patogênico citado é causador de sintomas com diferentes níveis de gravidade
nos sujeitos, leve em alguns, e fatal em outros (Velavan & Meyer, 2020).
Nesse sentido, é importante acrescentar ainda que, ao final de 2020,
identificou-se uma outra variação da COVID-19 no contexto brasileiro, mais
especificamente na capital do Amazonas. Esta, tem um potencial maior de
transmissão e pode se instalar em indivíduos já infectados e que já apresentam
anticorpos contra a doença6.
Considerando o perigo desse vírus de alta infectividade, medidas de
contenção e prevenção foram tomadas inicialmente na China e sugeridas ao
resto do mundo na medida em que o patógeno progrediu de um surto
epidêmico para uma pandemia global. Entre as atitudes tomadas por esse país,
estão: fechamento do mercado de Huanan para desinfecção ambiental, rigorosa
quarentena e também o feito da construção de hospitais em menos de 10 dias
(Chaves & Bellei,2020).
No Brasil não foi diferente. Apesar das iniciativas de prevenção não
terem sido imediatas na mesma proporção que no território Chinês, governos
estaduais e municipais decretaram estado de calamidade pública e tomaram

6
Fonseca, 2021, 1º parágrafo. Disponível em
<https://www.uol.com.br/vivabem/reuters/2021/03/01/variante-brasileira-do-coronavirus-pode-
driblar-sistema-imune-diz-pesquisa.htm>

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medidas de alcance individual, ambiental e comunitário (Malta & Gracie,
2020). Tais determinações vão desde lavar as mãos, utilizar máscaras e limpar
superfícies, até restrições sociais diversas, como: proibição do funcionamento
de escolas, universidades, eventos com aglomeração, redução de frotas, e,
finalmente, o período de quarentena (Malta & Gracie, 2020).
A partir deste cenário, é concebível considerar de perto as diferentes
vivências autenticamente brasileiras de como temos lidado com este novo
modo de vida (e de se morrer) a que somos atravessados cotidianamente. Para
se debruçar de forma mais concreta a esta situação, estudos e pesquisas estão
sendo desenvolvidos nacional e internacionalmente para contemplar este novo
vírus que, até então, ainda não é conhecido em todas as suas especificidades e
nas amplas dimensões com que está chegando até nós. Da mesma forma, é de
suma importância considerarmos o modo como a pandemia tem alcançado
diferentes populações em um país marcado pela desigualdade, além dos
percalços para estratégias de enfrentamento e transformações no necrossistema
em meio a este contexto.
A esse respeito, é relevante endossar que a realidade brasileira tem sido
fragilizada nos últimos anos por cortes nos investimentos sociais, de saúde e
em pesquisas após aprovação da Emenda Constitucional nº 95 (Werneck &
Carvalho, 2020). Ademais, medidas estratégicas para cuidar da saúde da
população através da prevenção da propagação da COVID-19 tem sido
fortemente criticadas e desqualificadas por representantes do governo
brasileiro, destacando-se o próprio Presidente da República (Campos, 2020). O
discurso inicialmente feito para depreciar critérios de isolamento social foi de
que devemos pensar na economia do país. Assim, não deveríamos colaborar
com restrições para o funcionamento de atividades fora do ambiente doméstico
(Campos, 2020). Além disso, iniciativas como uso de máscara, álcool em gel,
evitar aglomerações, entre outras, foram preteridas, apesar de sabermos através
de nossa própria vivência e de dados divulgados pelas mídias e pesquisas que a
situação de pandemia não cessou de se alastrar e o número de mortos, a subir.

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Campos (2020) atenta ainda para o termo utilizado pelo próprio
Presidente de “imunidade de rebanho”. Esse termo, que se refere ao conjunto
de pessoas imunizadas naturalmente ou por meio da vacina, é endossado pelo
pensamento falacioso do Presidente, defendendo que continuemos nossas vidas
normalmente para que no momento em que setenta por cento da população for
afetada, a pandemia seja controlada; e assim muitas vidas seriam perdidas
propositalmente (só em um estado dos entes federados, esse número pode
chegar a 150.0007). Esta colocação claramente vai de encontro às
recomendações da comunidade científica e as medidas de outros países que
obtiveram mais sucesso no controle do vírus, como a Nova Zelândia, China e
Holanda (Campos, 2020).
Desta forma, o mesmo governante despreza cada indivíduo morto pela
doença e o sofrimento de seus parentes, familiares e amigos. Se tomássemos
esta medida proposta por nosso atual presidente, chegaríamos a
aproximadamente 7 milhões de mortes. Esta quantidade de pessoas seria
majoritariamente a população mais pobre e vulnerável do nosso país (Campos,
2020). Nesse sentido, os impactos decorrentes da pandemia e de nosso
despreparo para lidar com ela estão sendo sentidos também à nível individual,
na medida em que este surto tangencia o ponto da mudança drástica nas formas
de vivenciar variadas demandas do nosso dia-a-dia, tanto relativas às pessoas
próximas, quanto no que concerne aos sentidos que temos dado frente a essa
doença.
Dentre os estudos elaborados para contemplar como a população está
lidando com este cenário nas dimensões objetivas e subjetivas, podemos citar o
trabalho de Malta et al. (2020) numa importante pesquisa acerca do cotidiano
da população, acusando os impactos negativos relativos à saúde quando no
contexto de quarentena e restrição social, apesar, obviamente, de reconhecerem
que estas medidas são essenciais para diminuir a curva de transmissão da
COVID-19. Observando as mudanças documentadas no padrão de vida de
7
Machado et. al, 2020, 6° parágrafo. Disponível em
<https://coronavirus.saude.mg.gov.br/blog/100-imunidade-de-rebanho>

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estadunidenses (aumento de sedentarismo, consumo de bebidas alcoólicas e
alimentos ultraprocessados), as autoras elaboraram um estudo transversal
contemplando participantes brasileiros maiores de 18 anos, na tentativa de
conhecer possíveis mudanças no que se refere ao consumo de bebidas
alcoólicas, tabaco, alimentação e atividades físicas no ínterim da restrição
social.
O estudo, que contou com uma amostra final de 45.161 indivíduos,
elucida que a pandemia teve impactos em mudança no consumo de álcool,
tabaco e prática de exercícios físicos, chegando a valores diferentes de acordo
com gênero e faixa etária. No grupo dos fumantes, 34% expuseram que
aumentaram o número de cigarros por dia; entre a população adulta, a
prevalência do consumo de bebidas alcoólicas foi maior que em idosos; o
consumo de alimentos saudáveis diminuiu, e o consumo de alimentos não-
saudáveis aumentou em aproximadamente 4% a 6%; a prática de atividade
física reduziu entre ambos os sexos (especialmente no feminino), já nos
adultos-jovens e idosos, o número diminuiu em mais da metade entre aqueles
que já faziam atividades físicas; a soma de horas em frente à TV também teve
uma aumento de aproximadamente 1 hora e 40 minutos nos adultos e 1 hora
entre os idosos; quanto à utilização de computadores ou tablets, os adultos
jovens tiveram um aumento de 3 horas. As conclusões expostas, assim, nos
alertam para um importante recorte de como temos vivenciado o período de
quarentena e restrição social.
De acordo com Pfefferbaum e North (2020), as medidas conduzidas
para contenção desta emergência sanitária podem influenciar, além de
comportamentos não saudáveis (como os corroborados pela pesquisa citada
acima), uma série de reações emocionais e riscos de não obediência às
diretrizes de saúde pública, como vacinação e confinamento domiciliar. As
autoras apontam ainda que, em pesquisas que estudam a saúde mental em
situações de desastres, o sofrimento é onipresente. Também é indicado que
alguns grupos podem ser mais vulneráveis emocionalmente do que outros na

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situação da pandemia pela COVID-19. Entre eles, estão os que têm maior
chance de desenvolverem formas graves, como idosos e pessoas que têm
imunidade comprometida. Somado a estes, os indivíduos com problemas
médicos, psiquiátricos e que costumam abusar de substâncias, além dos
prestadores de cuidados em saúde, por se preocuparem com fatores como a
exposição ao vírus e o medo de infectar seus entes queridos, e ainda
presenciarem e atuarem em meio de demandas delicadas que podem dispor de
inúmeras perdas de vida e, não raramente, ausência de recursos necessários
para a saúde dos pacientes.
Um dos fatores que não pode deixar de ser considerado, é o crescente
número de mortes pelo COVID-19. Apesar das medidas de contenção da
propagação do vírus, a quantidade de indivíduos que vieram a óbito no
território brasileiro registrados pelo acompanhamento diário neste território
está em 605.1398 (mais de meio milhão!). Além da perda em massa, o país
atualmente enfrenta situações que dificultam a realidade dos infectados, como
a escassez de leitos e de profissionais qualificados para prestar serviços de
saúde9. Somada à essa realidade, o processo fúnebre também está se dando de
forma distinta. Por causa do vírus de alta infectividade, familiares estão
mantendo contato por meio de tablets ou telefones celulares e são impedidos de
realizarem rituais funerários, o que torna a experiência do luto ainda mais
delicada e de resolutividade incerta (Crepaldi et al., 2020).
Um outro agravante é a falta de oxigênio em algumas regiões do país
pela alta ocupação de leitos. Uma das regiões que foi gravemente afetada é o
estado do Maranhão, onde os pacientes foram transferidos para outra unidade
hospitalar por falta do gás oxigênio suficiente à todos10. Outro caso
emblemático causado no decorrer da pandemia aconteceu na cidade de Manaus

8
Dados relativos ao compilado até o presente (22.10.21). Disponível em
<https://qsprod.saude.gov.br/extensions/covid-19_html/covid-19_html.html>
9
Satie, 2021, 4º parágrafo. Disponível em
<https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2021/03/13/covid-19-no-brasil-13-3-2021>
10
1º parágrafo. Disponível em
<https://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2021/03/12/pacientes-com-covid-19-sao-
transferidos-apos-falta-de-oxigenio-em-hospital-de-bacabal.ghtml>

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(AM), onde profissionais de saúde precisaram recorrer à ventilação manual
para suprir a oxigenação na ausência de cilindros apropriados, causando o óbito
de muitos pacientes. É sabido que situações similares a estas se repetem em
outros estados do Brasil. Sobre isso, a Frente Nacional de prefeitos projeta que,
ao menos 76 municípios de 15 estados estão em estado crítico no que se refere
a quantidade de oxigênio hospitalar11.
Dado este cenário de calamidade pública e suas repercussões, podemos
dizer que, dentre os maiores desejos do povo brasileiro está o antídoto para a
pandemia, ou a própria vacina contra o vírus. Segundo matéria da BBC Brasil
(por James Gallagher, 2020), os cientistas da Universidade de Oxford, com
parceria da farmacêutica AstraZeneca, desenvolveram em tempo recorde a
vacina contra a COVID-19. Em adição a essa vacina específica, outras foram
desenvolvidas também num intervalo de tempo muito curto, e atualmente
existem mais de 6 tipos de variedades.
No território brasileiro, a vacinação teve início no fim de Janeiro de
2021, com dez milhões de doses administradas12 e distribuídas de acordo com
os grupos mais vulneráveis a contrair o vírus (priorizando-se idosos e
trabalhadores da saúde). Entretanto, o número de pessoas vacinadas está
progredindo lentamente, e, segundo matéria jornalística de março (Garcia,
2021) no jornal G1, “ainda temos poucas doses disponíveis e vacinamos menos
de 5% dos grupos prioritários”. Além destas informações, sabemos também
que o número de doses previstas está sendo reduzido, e estima-se que, num
cenário positivo, apenas 70% da população acima de 18 anos será vacinada em
202113.
É importante mencionar também as atitudes negacionistas do Presidente
da República que inicialmente tinha influenciado, por meio de discursos

11
Sampaio, 2021, 6º parágrafo. Disponível em
<https://www.brasildefato.com.br/2021/03/20/alerta-de-falta-de-oxigenio-em-sp-e-no-df-
amplia-mapa-do-colapso-nacional>
12
2° parágrafo. Disponível em < https://www.bbc.com/portuguese/internacional-56024504 >
13
Garcia, 2021, 3º e 4º parágrafo. Disponível em
<https://g1.globo.com/bemestar/vacina/noticia/2021/03/12/vacinacao-contra-a-covid-19-
quando-o-brasil-comecara-a-ver-os-efeitos-positivos.ghtm >

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públicos, redes sociais e outros, parte da população a duvidar do caráter
benéfico da vacina. Ele é, de acordo com a BBC News Brasil, "o primeiro líder
político da história a desencorajar a vacinação”. Apesar deste cenário, é válido
destacar que a luta contra a pandemia ainda está acontecendo individual e
comunitariamente, e as principais medidas públicas que estão sendo tomadas
nas regiões do país tomadas enquanto a vacina não chega a todos, são: restrição
de circulação de pessoas, decreto do toque de recolher e veiculação de
informações que endossam a importância de como se portar frente a essa
realidade, lavando sempre as mãos, fazendo uso de máscara, álcool em gel e
respeitando o distanciamento social14.

Psicologia da Morte e Pandemia COVID-19: Fenomenologia e descrição


das vivências emergentes no necrossistema brasileiro em tempo pandêmico
- Notas para uma agenda de pesquisa
A fenomenologia pode ser uma importante ferramenta de pesquisa para
compreender as vivências experienciadas durante esse período tão sombrio da
humanidade. A escuta e entendimento dos sentidos produzidos a partir dessas
experiências são de vasta utilidade à pesquisa nacional, permitindo a melhor
compreensão e manejo da situação instaurada. O irrompimento de importantes
fraturas simbólicas no sistema funerário e as novas demandas decorrentes disto
produzem também novas formas de vivenciar os processos de perda, os quais
precisam ser atendidos, documentados e estudados pela pesquisa nacional.
A COVID-19 colocou não só as estruturas da sociedade, mas o próprio
humano diante de sua fragilidade. As profundas mudanças causaram impacto
psicológico, com aumento dos níveis de estresse, depressão e ansiedade (Wang
et al., 2020), ademais outros tantos fatores que vinham com as drásticas
mudanças. O medo da contaminação, e o medo da finitude aparecem agora
também escancarados, em uma sociedade que evita a morte. De acordo com a
obra do historiador da morte Philippe Ariés (1977) vivemos hoje na era da
14
Nascimento, 2021. Disponível em <https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2021-
02/governos-estaduais-adotam-medidas-restritivas-para-combater-covid-19>

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morte interdita, isolada aos hospitais e ao sistema funerário. Onde por meio dos
conhecimentos técnico-científicos, a morte é tratada como um fracasso, e é
prontamente silenciada no discurso social.
A vivência experienciada pela humanidade, de perdas vastas e rápidas
devido a COVID-19, traz cenas que remetem aos registros da peste negra no
Medievo Ocidental. A busca de tratamentos, cuja eficácia, não é comprovada
cientificamente, como o uso da cloroquina e ivermectina (Siemieniuk et al.,
2020), nos faz lembrar as experiências de sangria realizadas pelos médicos da
época, na tentativa desesperada de obter uma cura para deter o avanço da
doença. Repetem-se as cenas de abertura de valas coletivas, onde os mortos
acumulam-se às centenas. O medo da morte, representado largamente em obras
artísticas do período medieval, se apresenta latente mais uma vez. Apesar do
abismal avanço tecnológico, social e cultural em relação ao período da peste
negra, as cenas ainda se assemelham, e rememoram a humanidade de outro
momento sombrio de sua história.
Os rituais funerários têm como sua função principal a simbolização do
processo de despedida do ente querido, além da socialização entre os
enlutados. A irrupção desses costumes, para evitar novas contaminações e
aglomerações, dificulta o processo de luto e aumenta as chances da formação
do luto complicado. Pessoas que perdem entes queridos na pandemia de
COVID-19 podem ao mesmo tempo estar convivendo entre contaminados, às
vezes sendo a situação de famílias inteiras (Bajwah et al., 2020). Em
concordância, sentimentos de culpa podem aumentar quando o indivíduo tem a
percepção que foi a responsável pela contaminação e a consequente morte
daquele ente querido (Taylor, 2019). Ainda de acordo com o autor, a expressão
do luto também pode ser diretamente afetada, visto que as necessidades de
isolamento social dificultam a promoção de redes de apoio. Devido também ao
risco de contaminação, familiares e amigos foram impedidos de acompanhar os
doentes nos seus momentos finais, marcado pela presença de frequentes
reconciliações, pedidos de desculpas e mudanças nas formas de se relacionar.

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A falta dessas experiências facilita o afloramento de sentimentos de culpa e
dor, e de ter perdido alguém sem ter feito as pazes em seus momentos finais.
De acordo com Taylor (2019), em observações feitas com pandemias
anteriores como a de Ebola, do vírus H1N1 e da SARS no Oriente Médio,
pandemias causam níveis elevados de estresse psicológico em função do
aumento considerável no número de mortes em um curto espaço de tempo.
Esse aumento expressivo no número de mortes é estressor não só pela sua
quantidade, mas também pela forma que se dão os processos da morte e do
morrer. Em contexto de mortes causadas por doenças infecciosas, os rituais de
despedida e funerários são profundamente modificados. Lisboa e Crepaldi
(2003) configuram os rituais de despedida como experiências ocorridas quando
há consciência da iminência da morte por parte dos familiares, pessoas
próximas e do próprio sujeito, enquanto organizadores do processo de perda.
Esses momentos tendem a ser marcados pelo resgate de memórias e momentos
vividos, despedidas, resoluções, pedidos de desculpas e reorganizações de
estruturas familiares. Comumente, os rituais de despedida são marcados pela
comunicação verbal e não-verbal, a última, de fundamental importância, por
ser uma forma de expressão quando já não há mais palavras. Nessa forma de
comunicação, estão inclusos também abraços, carinhos e o toque, como formas
de expressão afetiva. De acordo com os autores, esses momentos prévios ao
falecimento, de contato, diálogo, troca e resoluções são importantes para a
melhor elaboração do luto e da própria percepção sobre a morte do sujeito.
Costantini et al. (2020) reforçam que os momentos de despedida são também
marcados por uma forte necessidade de acolhimento espiritual, serviço
realizado por figuras de profundo conhecimento espiritual e religioso, como
padres, rabinos e pastores. No contexto da pandemia de COVID-19 essa
necessidade pode acabar por não ser atendida, marcando uma falta que pode
dificultar a elaboração da experiência da perda pelos familiares e pelo próprio
sujeito moribundo.

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Levantam-se questões importantes em relação à vivência destes
momentos finais para os enfermos da COVID-19 em ambiente hospitalar. As
dificuldades de comunicação com os familiares, ou sua realização em meio
virtual, trazem novas experiências para o sujeito face à morte e a sua família. A
morte, antes já isolada nos hospitais, agora se vê como um processo ainda mais
solitário. As percepções das famílias que não puderam ter seus rituais de
despedida, com o familiar ainda em vida, devido ao adoecimento por COVID-
19, podem trazer à tona cenas verdadeiramente terroríficas de solidão e
abandono no momento da morte. As vivências dos enlutados que perderam
pessoas próximas nesse contexto traz à tona a necessidade da escuta e
compreensão desses fenômenos, para melhor entender os impactos nos
processos de morte e no luto posterior dos sobreviventes.
A alta infecciosidade do novo coronavírus traz também experiências de
diversos sujeitos dentro de um mesmo núcleo familiar contaminados pelo
patógeno. Essa questão traz um fator estressor a mais. Segundo Taylor (2019),
múltiplas infecções e perdas simultâneas ou em um curto espaço de tempo
durante uma pandemia trazem mais dificuldades à elaboração e expressão das
perdas. Papéis familiares precisam ser repensados e a perda de figuras
cuidadoras pode trazer outras dificuldades que a família precisa se ajustar.
Ainda segundo o autor, a perda de familiares jovens é também marcada por
grande sofrimento. Embora no contexto da COVID-19 a população mais jovem
possua menor grau de fatalidade, as mortes ainda acontecem, especialmente
quando o sujeito possui comorbidades como hipertensão e diabetes, por
exemplo (Walker et al., 2020). O quadro de COVID-19 pode evoluir
rapidamente, e assim a morte pode acontecer de maneira inesperada. Segundo
Bajawal et al. (2020) esse tipo de morte impede a expressão do luto
antecipatório, em que há uma preparação por parte dos familiares e pessoas
próximas para a perda, facilitando o processo.
O processo funerário em si é também profundamente modificado no
contexto da pandemia de COVID-19. Devido a necessidade de distanciamento

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social e a possibilidade de infecção pelo corpo do falecido, os rituais
precisaram ser repensados e adaptados. A recomendação do Ministério da
Saúde (2020) é de que os caixões contendo corpos de mortos com suspeita ou
confirmação da COVID-19 precisam ser lacrados e mantidos fechados. As
cerimônias de velório são realizadas também com o caixão fechado, reduzidas
para a duração máxima de uma hora e com a drástica redução de pessoas
presentes, limitadas aos parentes mais próximos do falecido.
Segundo Taylor (2019), essas novas experiências do processo funerário
em contexto pandêmico trazem novas dificuldades para a família, podendo
dificultar a elaboração do luto. Por conseguinte, os impactos da pandemia e das
medidas protetivas sanitárias precisam ser devidamente documentados, em
especial, àqueles sobre os ritos fúnebres e o processamento posterior do luto
familiar, sendo tais estudos preciosos quando alicerçados em metodologias
fenomenológicas que retém o vivido destas amargas experiências, e as
testemunham pelo prisma deste olhar em 1ª pessoa.
É importante destacar o uso de tecnologias para tentar aproximar a
experiência atual com os processos de despedida que a sociedade está
acostumada. A Fiocruz (2020) recomenda o uso de computadores, tablets e
smartphones em funerais e processos de despedida na pandemia do COVID-19,
visto que há um impedimento sanitário à prática dos costumes funerários
convencionais. No estado americano do Texas, por exemplo, o enterro de um
pediatra querido pela comunidade local foi transmitido ao vivo pelo Facebook,
com cerca de quatrocentos espectadores (Hernández & Beckman, 2020). Esses
recursos são fundamentais para tentar amenizar as consequências dos funerais
em contexto pandêmico. Contudo, Ingravallo (2020) aponta que mesmo com o
uso dessas novas tecnologias, os rituais virtuais de despedida não possuem a
mesma capacidade de satisfazer as necessidades do enlutado. É preciso
destacar também que muitas pessoas podem não ter acesso a essas tecnologias,
e principalmente a população idosa pode ter mais dificuldade de acessá-las.

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Segundo Wallace et al. (2020), o luto é um processo de perda marcado
por comportamentos normativos, em que ocorre a adaptação a um novo
contexto, envolvendo emoção, cognição, sensações físicas e mudanças de
comportamento. Freud (1915/2010) fez importantes considerações sobre o luto,
comparando-o ao quadro da melancolia, percebendo profundas semelhanças,
com o luto, este, contudo, tendo a característica de ser normatizado pela
sociedade. As dificuldades na elaboração do luto e a forma como se deu a
perda podem levar ao surgimento do luto complicado, que segundo Worden
(2018) envolve a intensificação do sofrimento por um período prolongado, de
forma a sobrecarregar o sujeito e provoca o surgimento de comportamentos
mal-adaptativos, como o abuso de álcool e drogas, por exemplo. No luto
complicado estão presentes também sentimentos de tristeza intensos,
pensamentos intrusivos, afastamento de outras relações e a percepção de falta
de sentido na vida. Esse contexto traz importantes questões para a pesquisa
nacional, visando uma melhor compreensão das vivências e experiências
daqueles que tiveram de viver o luto em meio a pandemia de COVID-19. A
necessidade se faz presente ao se compreender a dimensão das mudanças e
eventos estressores simultâneos acontecendo no desenrolar da pandemia no
Brasil.
A pandemia de COVID-19 nos traz diariamente lembretes de nossa
mortalidade e dos outros. Este memento mori involuntário se faz presente
especialmente nos acontecimentos mais drásticos, na perda de pessoas
próximas pelo vírus e, no cotidiano, em jornais apontando as novas mortes
diárias. Em um estudo na China, ainda no início da pandemia, Wang et al.
(2020) reportaram que as pessoas que se percebiam com maior chance de vir
ao óbito pelo coronavírus sofrem de maiores níveis de estresse e depressão no
desenrolar da pandemia. Em estudo na Austrália, Newton-John et al. (2020)
encontraram uma correlação positiva entre a ansiedade de morte, pensamentos
e comportamentos ansiosos e maior estresse psicológico durante a pandemia
atual. No mesmo estudo, foi reportado que os australianos estimavam a própria

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fatalidade caso contaminados pelo vírus em número onze vezes maior que a
real fatalidade do vírus no país. Este cenário aponta a necessidade de se
investigar o papel dos pensamentos e o medo sobre a própria morte por
COVID-19 no contexto brasileiro, no impacto psicológico que surge quando há
a percepção de que a morte pode estar mais próxima. A fenomenologia mais
uma vez se mostra como uma ferramenta de pesquisa frutífera, a fim de
compreender os sentidos que os sujeitos atribuem a percepção da morte no
contexto da pandemia atual.
O contato com a morte se tornou ainda mais intenso dentro dos
hospitais. Como apontado no tópico anterior, profissionais da saúde
trabalhando na linha de frente no combate a COVID-19 estão constantemente
expostos à morte de pacientes e colegas de trabalho pela doença. Médicos e
enfermeiros lutam diariamente para tentar salvar as vidas de pacientes
infectados, frequentemente em contextos de ausência de recursos suficientes.
Nesse contexto, foram reportados diversos momentos em que a equipe médica
se via diante de difíceis decisões, em que foram postos na posição de fazer
escolhas em relação a que pacientes priorizar, e onde deveriam ser alocados os
recursos disponíveis. Outro fator importante se refere a experiências de
presenciar a morte diretamente dos pacientes. Kovács (2005) nota que existe
um déficit na formação dos profissionais de saúde para lidar com a morte. No
contexto pandêmico, onde todo o sistema hospitalar é implicado, recursos são
escassos e a demanda de trabalho aumenta, os profissionais de saúde se veem
ainda com o desafio de ver a morte de perto. Presenciar a morte de pacientes é
um fator de risco para desenvolvimento do transtorno do estresse pós-
traumático em qualquer situação (Lee et al., 2017).
Em estudo com profissionais da linha de frente no combate ao
coronavírus em Israel, Mosheva et al. (2020) encontraram uma forte correlação
entre o testemunho da morte de pacientes por coronavírus e o desenvolvimento
de sintomas de estresse pós-traumático. É importante demarcar que além do
testemunho da morte desses pacientes, a equipe de saúde frequentemente

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também precisa desempenhar a função de comunicar a morte à família do
paciente. A capacidade do quadro de COVID-19 de se agravar rapidamente
traz também um fator que pode trazer dificuldades na vivência dessa morte
(Mosheva et al., 2020). Dessa forma, urge a comunidade acadêmica de
compreender a natureza dessas vivências, e os sentidos que são construídos
para estas mortes, visto a potencialidade de trazer graves implicações para a
saúde mental dos profissionais envolvidos.
Assim, fica clara a necessidade de um mapeamento da morte no
contexto da pandemia de COVID-19, em suas vivências, sentidos e
experiências, tanto a nível mundial, quanto em contexto brasileiro, estudos
psicológicos qualitativos são de grave escassez relacionados a momentos
pandêmicos. O necrossistema como um todo foi profundamente modificado,
suspeitando-se que de maneira muito mais rápida do que a capacidade humana
de se adaptar aos novos processos. As implicações psicológicas que as
mudanças nas vivências da morte propiciam são de largo impacto, e precisam
ser melhor compreendidas em sua natureza. A pesquisa psicológica
fenomenológica demonstra-se como uma excelente metodologia a fim de
compreender melhor os sentidos dados a experiência pelos sujeitos. Em um
país em que a morte se tem feito cada vez mais presente no cotidiano, a
produção científica nacional deve se debruçar profundamente sobre as questões
da morte e do morrer e suas novas expressões pandêmicas.

Considerações finais
A situação da pandemia COVID-19 tem sido preocupante no país, visto
a negligência de governantes e a consequente proliferação voluntária do vírus.
Devido às novas normas de biossegurança, o colapso dos sistemas funerário e
de saúde, e de unidades de tratamento intensivo, a intensificação dos papéis
assumidos por profissionais de saúde, o necrossistema, da maneira que
conhecemos, está profundamente modificado. É importante considerarmos o
que foi legado pela tanatologia e buscarmos as epistemologias da morte como

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ferramenta para entender aquilo que é próprio da pandemia, tais como os
velórios virtuais, os ritos de despedida daqueles que foram intubados, as
preocupações surgidas pela exposição às notícias mórbidas, o impacto causado
em profissionais de saúde pelo elevado número de morte de pacientes, a
estrutura da experiência do luto causado por Covid-19, as novas reflexões de
prospecto de morte e os novos memento mori, entre outras apresentações da
morte e do morrer rotineiras.
Exposto desta forma, é fundamental que a psicologia da morte
investigue com rigor quais sentidos os indivíduos têm dado às novas vivências
tanáticas próprias de nosso tempo. Para isto, a fenomenologia se apresenta
como uma metodologia de pesquisa extremamente frutífera, com uma sólida
base teórica e métodos consistentes. Assim, torna-se possível pensar uma
perspectiva complementar aos estudos já estabelecidos, nos trazendo mais uma
peça para montar o quebra-cabeças da compreensão psicológica do
necrossistema da pandemia no Brasil. Propõe-se, então, o acesso à experiência
interna do sujeito, amplificando-a, a fim de conhecê-la da forma em que esta se
apresenta. Com o contexto de distanciamento social, entretanto, cabe a ressalva
da necessidade de experimentação nas metodologias já estabelecidas, para
adaptá-las às formas possíveis de produção de dados onde caiba o interesse da
tanatologia, resguardando-se os cânones de cientificidade do marco
fenomenológico escolhido para alicerce da investigação.

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Recebido: 20/8/2021. Aceito:24/12/2021.

Sobre autores e contato:

Alexsandro Medeiros do Nascimento


Doutor, Departamento de Psicologia – Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE) – Coordenador do Laboratório de Estudos de Autoconsciência,
Consciência, Cognição de Alta Ordem e Self (LACCOS)
E-mail: alexmeden@gmail.com
http://orcid.org/0000-0002-9981-8384

Antonio Roazzi
Ph.D., Departamento de Psicologia – Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE)
E-mail: roazzi@gmail.com
https://orcid.org/0000-0001-6411-2763
http://lattes.cnpq.br/6108730498633062
https://www.researchgate.net/profile/Antonio_Roazzi

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Revista AMAzônica, LAPESAM/GMPEPPE/UFAM/CNPq
ISSN 1983-3415 (versão impressa) - eISSN 2558 – 1441 (Versão digital)
Henrique Augusto Brust de Jesus
Mestrando em Psicologia Cognitiva (UFPE), Membro do LACCOS
E-mail: henrique.augustobrust@ufpe.br

Laís Virgínia de Araújo Mendes


Graduação em Psicologia pela UFPE (Bacharelado)

Luís Roberto Ramos Beltrão de Melo


Graduando em Psicologia pela UFPE (Bacharelado)

Pedro Vinícius Gomes Silva


Graduando em Psicologia pela UFPE (Bacharelado)

Nota sobre o trabalho: Artigo oriundo da componente Trabalho


Supervisionado (TS), do Curso de Graduação em Psicologia da Universidade
Federal de Pernambuco, que teve na edição de 2020.2 o foco na sistematização
dos dados empíricos relacionados a sentidos de morte da pesquisa intitulada
“Autoconsciência, Imagens Mentais e Experiências Místicas: a Religiosidade
nos processos de (re)construção do Self” de autoria do Prof. Dr. Alexsandro
Medeiros do Nascimento, supervisor do TS nesta edição citada.

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