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Jequié / BA
2022
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
Jequié / BA
2022
RESUMO
This article intends to show the social and economic transformations that the
municipality of Jequié, located in the State of Bahia, 365 kilometers from the
capital of this State, Salvador, sufered between the 1960s of the 20th century
and the first decades of the 21st century'
We will seek to analyze how, during this period, the impacts of population
growth, late industrialization and the concentration of most of the population in
the urban area of this municipality, drastically transformed the scenario of this
city while we will try to demonstrate the consequences of this process' and what
problems and challenges the new generations will have to face to build a future
in a minimally satisfactory way'
1.0 – Introdução
Milton Santos nos fala em “A Cidade de Jequié e sua Região” o quanto a cidade
pulsava crescimento econômico e se desenvolvia de forma acelerada nos fins dos anos
de 1950. De fato, analisando os dados apresentado por ele, nos chama atenção o número
de veículos que trafegavam pelo município e a quantidade de Bancos que possuíam
agências na cidade de Jequié. Segundo Santos, Jequié possuía mais de quatrocentos
veículos registrados no respectivo órgão de trânsito da época e possuía também cinco
agências bancárias de instituições diferentes. Emerson Pinto de Araújo em seu livro “
Nova História de Jequié” nos fala que a agência bancária do Banco do Brasil existente até
hoje no município, foi a de número sessenta no Brasil e a de número quatro no Estado da
Bahia. Esse fato, mostra que Jequié estava naquela quadra da história, em um momento
de desenvolvimento que colocava o município entre os mais desenvolvidos do Estado da
Bahia e bem situado também no cenário nacional.
Os motivos para que esse cenário se tornasse possível, se justifica pela boa
localização geográfica que o município de Jequié possuí fazendo com que o mesmo se
tornasse um importante entreposto comercial entre vários municípios vizinhos que
naturalmente precisavam escoar suas produções agrícolas e necessitavam passar por
Jequié para realizar seus objetivos comerciais. Nos fica claro que a construção da rodovia
BR-116 que passa diretamente no município de Jequié, foi um fator primordial para que
isso ocorresse de forma ainda mais incisiva.
A cidade de Jequié possuía então na década de 60 do século XX, as principais vias
de escoação de produção agrícola de sua região. A estrada de ferro que cortava o
município, já se encontrava naquele momento em franca retração e seu uso era cada vez
mais restrito uma vez que os produtores agrícolas preferiam escoar suas produções
usando cada vez mais os veículos rodoviários e a BR 116 conhecida como “Rio – Bahia”
que se tornou uma das principais vias rodoviárias em utilização. De qualquer forma,
independentemente do meio de transporte utilizado, Jequié detinha em seus domínios as
duas únicas formas de escoar as produções regionais e isso dava ao município uma
vantagem de ordem logística considerável frente a outros municípios do sudoeste e sul
baiano.
Mapa da estrada de Ferro de Nazaré que ligava Jequié ao Recôncavo Baiano. A ferrovia foi
desativada no município de Jequié na década de 1970.
Naturalmente, com as vantagens logísticas que o município de Jequié detinha frente a
outros municípios circo vizinhos, a cidade se tornou um importante atrativo para os mais
variados fornecimentos de serviços e isso fez com que o município se desenvolvesse em
torno da necessidade de atender a demanda por serviços especializados. Por ser cortada
por uma rodovia nacional que integrava e integra o nordeste brasileiro aos grandes
centros industrializados do sudoeste do país, o volume de tráfego de veículos de grande
porte aumentava ano após ano e com isso várias pessoas eram atraídas ao município
com o objetivo de oferecer serviços de reparos no ramo automotivo e várias casas
comerciais do ramo de autopeças foram instaladas em Jequié para atender a uma
demanda que a cada dia crescia mais.
De fato, se olharmos Jequié nos dias de hoje, iremos perceber que vários bairros
populosos do município como o bairro Kenedy por exemplo que também é conhecido
como bairro “Cidade Nova”, nasceram da necessidade de atender as demandas que
surgiram com o o advento da “Rio –Bahia” e essas demandas não se resumiam somente
a serviços relativos ao setor automotivo, uma vez que com o intenso tráfego de veículos e
pessoas, outras necessidades também apareciam. Dessa forma, restaurantes, bares,
pensões, pousadas, hotéis e outros serviços foram criados e oferecidos no decorrer
desse período para atender a demanda natural que a rodovia causava e ainda causa no
município.
No entanto, de nada adiantaria ser bem localizado do ponto de vista logístico se o
município não possuísse recursos naturais que permitissem a produção agrícola de forma
satisfatória. Por ser localizada entre a zona limítrofe entra a caatinga e a zona da mata,
Jequié tem uma produção agrícola diversa e dessa diversidade podemos destacar o
cultivo do café, cacau, cana de açúcar, maracujá e melancia . Possuí também grande
destaque no ramo pecuário, bem como na produção de caprinos, equinos e suínos. Por
conta da importância econômica que o setor agropecuário detinha nesse período,
naturalmente as camadas mais abastadas da população seriam as que pertencem as
famílias detentoras e possuidoras de grandes quantidades de terra e que possuem uma
grande capacidade de produção, principalmente na produção de gado, café e cacau. Mas
apesar disso, Jequié não ficou imune ao êxodo rural e naturalmente viu sua população
urbana aumentar gradativamente conforme demonstrado no quadro abaixo extraído de
censos demográficos realizados pelo IBGE de 1970 a 2010.
Vemos, através desses dados, como o êxodo rural se intensificou de tal forma no
município de Jequié a ponto de menos de 10% da população residir na zona rural, de
acordo com o último censo demográfico.
As razões para esse fenômeno são muitas e dentre os principais motivos apontados,
a industrialização sempre surgi como principal motivo. De fato, Jequié possui uma
produção industrial considerável, tendo o setor calçadista e o setor alimentício como
principais ramos das indústrias instaladas na cidade e certamente muitos dos operários
que trabalham nessas fábricas são originários de famílias oriundas da zona rural. No
entanto, apontar a industrialização como principal motivo do êxodo rural, pelo menos no
caso do município de Jequié, seria um equívoco pois a taxa de urbanização cresceu em
um nível que o setor industrial do município por si só não conseguiria acompanhar para
absorver tamanha mão de obra no período.
A história nos mostra que quando o homem do campo deixa a zona rural e se muda
definitivamente para a zona urbana, ele faz isso por dois motivos primordiais: Por falta de
escolha ou para tentar “melhorar de vida” em busca de emprego e melhores
oportunidades para os seus familiares. A falta de escolha pode ser apontada como
incapacidade de conseguir produzir por conta de uma questão climática ou alguma
intempérie que faça com que seja necessário se desfazer de sua pequena propriedade
rural. Já buscar melhores condições de vida, pode ser entendido como uma tentativa de
conseguir melhores empregos pois é sabido que o trabalho na zona rural sempre foi
marcado como uma atividade em que o empregado sofre grandes explorações e o
município de Jequié, dentro de seu contexto de relações sócio culturais e econômicas não
difere disso. Dessa forma, as populações oriundas da zona rural vieram para a sede do
município visando “dias melhores” e um futuro melhor para seus descendentes pois os
mesmos teriam acesso a Educação formal e oportunidades que seus antepassados não
tiveram. Essas eram as motivações principais.
Ao se falar em acesso a Educação formal, nota-se que Jequié, ao ser comparada com
as cidades circo vizinhas, possuí uma posição privilegiada pois desde períodos temporais
anteriores aos destacado por esse artigo, Jequié já detinha instituições públicas de
ensino. O primeiro estabelecimento público de instrução regular do município foi
inaugurado pelo então interventor federal do Estado da Bahia, Juracy Magalhães, no ano
de 1934. Já nas décadas posteriores o município viu a oferta pelo ensino regular Público
aumentar com a criação do Ginásio Estadual de Jequié que posteriormente se tornaria o
Instituto de Educação Regis Pacheco e a com a criação na década de 1970, da Fundação
Faculdade de Educação de Jequié, que oferecia o curso de “Ciências e Letras” e se
tonaria mais tarde parte da UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
instituição de nível superior de ensino que possui três campis sendo um deles sediado na
cidade de Jequié. O campus pertencente a cidade de Jequié, possui 16 cursos e se
destaca por possuir grande atuação na área das ciências relacionadas ao atendimento da
saúde humana oferecendo vários cursos dentre os quais podemos destacar medicina,
enfermagem, fisioterapia, farmácia e odontologia. Além desses cursos o campus
pertencente a Jequié fornece cursos de licenciatura plena tanto em disciplinas
relacionadas as ciências humanas como também de ciências exatas. Obviamente, a
expansão universitária do campus pertencente a Jequié não ocorreu de forma imediata,
mas sim de forma gradativa ao longo das últimas décadas. A presença da UESB na
cidade de Jequié foi primordial não somente para a construção e o fornecimento do
conhecimento para a sociedade local mas também para fomentar o surgimento de novas
instituições de ensino superior, transformando de forma definitiva o município de Jequié
em uma “cidade universitária” tendo estudantes de várias partes do país que buscam
uma vaga no ensino superior nas instituições sediadas no município para realizar seus
sonhos de ascensão intelectual e profissional.
Ao longo do espaço temporal demarcado entre as décadas definidas para a
realização desse artigo, a cidade de Jequié foi gradativamente aglutinando várias áreas
de atuações comerciais e do fornecimento de serviços, especializados ou não, fazendo
com que Jequié se firmasse definitivamente como uma cidade central perante os
municípios próximos ou que fazem fronteira com a mesma. Dessa forma, a cidade se
transformou em um corredor comercial regional em que produtores rurais de cidades
vizinhas se deslocam a Jequié para vender sua produção, ao mesmo tempo que
moradores de outros municípios a procuram também para realizar compras e procurar
serviços sejam eles especializados como o atendimento médico em clínicas que oferecem
serviços médicos e a realização de exames de média e alta complexidade, ou
simplesmente para buscar no comércio local de Jequié, algum produto ou mercadoria que
não é encontrado em sua localidade.
Embora, com o aumento gradativo do acesso a internet a prática do comércio
eletrônico tenha crescido nos últimos anos, O comércio presencial de caráter regional de
Jequié permanece com um grande volume. Setores comerciais como o setor automotivo e
de comércio de autopeças, confecções, calçados, moveis e eletrodomésticos possuem
forte clientela regional. Não por acaso, o setor terciário é o principal polo empregador do
município.
No entanto, apesar de todas as condicionantes existentes na primeira metade do
século XX, que deram a Jequié os meios necessários para que se desenvolvesse a ponto
de se tornar uma das mais importantes cidades do Estado da Bahia, o nível de
crescimento econômico do município não foi suficiente para atender as necessidades
básicas de sua população, causando como consequência disso, um cenário de
estagnação e desemprego. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística:
Apesar dos debates existentes nos mais variados setores do poder público, as
ações para recuperação do rio de Contas tem sido pouco efetivas até aqui. As
consequências do desmatamento e da ocupação desordenada das áreas próximas
as margens do rio já são sentidas pela população pois no período das chuvas, várias
casas são alagadas por se encontrarem próximas ao rio e seus moradores são
constantemente retirados dessas áreas no período chuvoso. No entanto, com a
estiagem, tornam a voltar novamente para os mesmos locais anteriormente
ocupados. Por mais que o poder público evite lhe dar com essa problemática que
envolve tanto a questão ambiental como o acesso a moradia por parte da população
que vive nas áreas próximas as margens dos rios, É necessário enfrentar o
problema, caso contrário ele irá somente crescer e a resolução será cada vez mais
difícil e as consequências serão ainda mais danosas e duradouras.
Com esses números, nos fica claro que para que Jequié inicie um novo ciclo de
crescimento econômico e consequente melhora de vida de sua população, a atração
de novas indústrias se torna algo essencial pois a criação de empregos diretos cria
um movimento em cascata que influencia diretamente no aumento do consumo no
comércio local o que acaba acarretando na geração de novos empregos no setor
comercial e de serviços. Além disso, a geração de empregos no ramo tecnológico
industrial tende naturalmente a atrair novos investimentos para o município pois
naturalmente empresas terceirizadas se instalam para fornecer suprimentos
específicos para a fabricação o que consequentemente gera mais emprego e renda.
Por não haver a mínima organização e regulamentação por parte dos poderes
públicos constituídos, ocorrem situações que vão desde a degradação do meio
ambiente através do descuido com o lixo que é produzido nos locais procurados
para o lazer e que ficam expostos no meio ambiente, até mesmo situações que
envolvem a ocorrência de acidentes pela não observância de riscos existentes no
local escolhido que vão desde o não conhecimento da profundidade dos locais
escolhidos para se banhar o que eventualmente causa afogamentos ou ferimentos
causados pelas pedras e rochedos que se encontram nas cachoeiras decorrentes de
quedas da própria altura ou de mergulhos mal calculados que culminam em
acidentes.
ARAÚJO, Emerson Pinto de. A Nova História de Jequié, ALBA. Salvador, 2018
SANTOS, Milton. A cidade de Jequié e sua região. Revista Brasileira de Geografia, Rio de
Janeiro, v. 18, n. 1, p. 71-112, 1956