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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

ARIEL MOREIRA SALES VIEIRA

AS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS E ECONÔMICAS DO


MUNICÍPIO DE JEQUIÉ / BA ENTRE OS ANOS DE 1960 E 2010.

Jequié / BA
2022
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

ARIEL MOREIRA SALES VIEIRA

AS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS E ECONÔMICAS DO


MUNICÍPIO DE JEQUIÉ / BA ENTRE OS ANOS DE 1960 E 2010.

Trabalho de Conclusão de Curso


(Artigo Científico) apresentado à
Universidade Estácio de Sá
como requisito para conclusão e
graduação no curso de licenciatura
plena em História.
Orientadora: Adriana de Souza
Carvalho.

Jequié / BA
2022
RESUMO

Palavra chave: Jequié, crescimento populacional, industrialização tardia, área


urbana.

Este artigo tem como pretensão, mostrar as transformações sociais e


econômicas que o município de Jequié, localizado no Estado da Bahia a 365
quilômetros da capital deste Estado, Salvador, sofreu entre a década de 1960 do
século XX e a primeiras décadas do século XXI.
Buscaremos analisar como, no decorrer desse período, os impactos do
crescimento populacional, da industrialização tardia e da concentração da maior
parte da população na área urbana deste município, transformou de forma drástica o
cenário desta cidade. Ao mesmo tempo tentaremos demonstrar as consequências
deste processo e quais problemas e desafios as novas gerações terão que enfrentar
pra construir um futuro de forma minimamente satisfatória.
SUMMARY

Keywords: Jequié, population growth, late industrialization, urban area.

This article intends to show the social and economic transformations that the
municipality of Jequié, located in the State of Bahia, 365 kilometers from the
capital of this State, Salvador, sufered between the 1960s of the 20th century
and the first decades of the 21st century'
We will seek to analyze how, during this period, the impacts of population
growth, late industrialization and the concentration of most of the population in
the urban area of this municipality, drastically transformed the scenario of this
city while we will try to demonstrate the consequences of this process' and what
problems and challenges the new generations will have to face to build a future
in a minimally satisfactory way'
1.0 – Introdução

Antes de iniciarmos as observações sobre o desenvolvimento do município de Jequié


no espaço temporal proposto, se faz necessário realizar um breve histórico dessa cidade
que se desenvolveu de forma acelerada entre o período de sua fundação e a primeira
metade do século XX.
O município de Jequié é localizado no sudoeste baiano a 365 quilômetros de
Salvador, capital do Estado da Bahia. Sua origem é ligada diretamente a uma
movimentada feira que ocorria nos fins do século XIX que fazia com que vários
comerciantes da região sul e sudoeste da Bahia se deslocassem ao local que hoje é a
sede do município para comercializar seus produtos.
A intensa movimentação comercial ligada ao fato da localidade ser ladeada com o rio
de Contas, fez com que gradativamente mais pessoas procurassem se estabelecer ali pra
construir seus sonhos e viver suas vidas nesta localidade
Entre os anos de 1860 e 1897, o município de Jequié foi um distrito do município de
Maracás. Sua emancipação política foi realizada pelo então governador do Estado da
Bahia, Luiz Viana (1846-1920) através de ato governamental publicado em diário oficial
no dia 25/10/1897.
Entre o período de sua emancipação e o período inicial de nosso estudo, Jequié
alcançou rapidamente um elevado crescimento econômico e demográfico. A partir desse
momento, a cidade começa a apresentar os efeitos desse processo.
Veremos no decorrer desse artigo, como década após década, o crescimento
populacional e demográfico concentrado, de forma desordenada, na zona urbana do
município, acarretou graves problemas de ordem ambiental tendo o rio de Contas sua
principal vítima.
Do ponto de vista econômico e social, veremos que a rápida expansão econômica
ocorrida nas décadas inicias do período temporal de nosso estudo, não foi suficiente para
garantir um desenvolvimento social da população de forma plena. Na verdade, veremos
que houve uma estagnação econômica que consequentemente gerou e gera enormes
desafios para o desenvolvimento sócio econômico do município e a consequente melhora
de vida da população. No entanto, veremos que Jequié possui inúmeras potencialidades
para se desenvolver de forma sustentável e apontar algumas dessas potencialidades é
também um dos objetivos deste artigo.
2.0 – Jequié entre os anos de 1960 e 2010

Praça Ruy Barbosa, Jequié, década de 1960

Milton Santos nos fala em “A Cidade de Jequié e sua Região” o quanto a cidade
pulsava crescimento econômico e se desenvolvia de forma acelerada nos fins dos anos
de 1950. De fato, analisando os dados apresentado por ele, nos chama atenção o número
de veículos que trafegavam pelo município e a quantidade de Bancos que possuíam
agências na cidade de Jequié. Segundo Santos, Jequié possuía mais de quatrocentos
veículos registrados no respectivo órgão de trânsito da época e possuía também cinco
agências bancárias de instituições diferentes. Emerson Pinto de Araújo em seu livro “
Nova História de Jequié” nos fala que a agência bancária do Banco do Brasil existente até
hoje no município, foi a de número sessenta no Brasil e a de número quatro no Estado da
Bahia. Esse fato, mostra que Jequié estava naquela quadra da história, em um momento
de desenvolvimento que colocava o município entre os mais desenvolvidos do Estado da
Bahia e bem situado também no cenário nacional.
Os motivos para que esse cenário se tornasse possível, se justifica pela boa
localização geográfica que o município de Jequié possuí fazendo com que o mesmo se
tornasse um importante entreposto comercial entre vários municípios vizinhos que
naturalmente precisavam escoar suas produções agrícolas e necessitavam passar por
Jequié para realizar seus objetivos comerciais. Nos fica claro que a construção da rodovia
BR-116 que passa diretamente no município de Jequié, foi um fator primordial para que
isso ocorresse de forma ainda mais incisiva.
A cidade de Jequié possuía então na década de 60 do século XX, as principais vias
de escoação de produção agrícola de sua região. A estrada de ferro que cortava o
município, já se encontrava naquele momento em franca retração e seu uso era cada vez
mais restrito uma vez que os produtores agrícolas preferiam escoar suas produções
usando cada vez mais os veículos rodoviários e a BR 116 conhecida como “Rio – Bahia”
que se tornou uma das principais vias rodoviárias em utilização. De qualquer forma,
independentemente do meio de transporte utilizado, Jequié detinha em seus domínios as
duas únicas formas de escoar as produções regionais e isso dava ao município uma
vantagem de ordem logística considerável frente a outros municípios do sudoeste e sul
baiano.

Mapa da estrada de Ferro de Nazaré que ligava Jequié ao Recôncavo Baiano. A ferrovia foi
desativada no município de Jequié na década de 1970.
Naturalmente, com as vantagens logísticas que o município de Jequié detinha frente a
outros municípios circo vizinhos, a cidade se tornou um importante atrativo para os mais
variados fornecimentos de serviços e isso fez com que o município se desenvolvesse em
torno da necessidade de atender a demanda por serviços especializados. Por ser cortada
por uma rodovia nacional que integrava e integra o nordeste brasileiro aos grandes
centros industrializados do sudoeste do país, o volume de tráfego de veículos de grande
porte aumentava ano após ano e com isso várias pessoas eram atraídas ao município
com o objetivo de oferecer serviços de reparos no ramo automotivo e várias casas
comerciais do ramo de autopeças foram instaladas em Jequié para atender a uma
demanda que a cada dia crescia mais.
De fato, se olharmos Jequié nos dias de hoje, iremos perceber que vários bairros
populosos do município como o bairro Kenedy por exemplo que também é conhecido
como bairro “Cidade Nova”, nasceram da necessidade de atender as demandas que
surgiram com o o advento da “Rio –Bahia” e essas demandas não se resumiam somente
a serviços relativos ao setor automotivo, uma vez que com o intenso tráfego de veículos e
pessoas, outras necessidades também apareciam. Dessa forma, restaurantes, bares,
pensões, pousadas, hotéis e outros serviços foram criados e oferecidos no decorrer
desse período para atender a demanda natural que a rodovia causava e ainda causa no
município.
No entanto, de nada adiantaria ser bem localizado do ponto de vista logístico se o
município não possuísse recursos naturais que permitissem a produção agrícola de forma
satisfatória. Por ser localizada entre a zona limítrofe entra a caatinga e a zona da mata,
Jequié tem uma produção agrícola diversa e dessa diversidade podemos destacar o
cultivo do café, cacau, cana de açúcar, maracujá e melancia . Possuí também grande
destaque no ramo pecuário, bem como na produção de caprinos, equinos e suínos. Por
conta da importância econômica que o setor agropecuário detinha nesse período,
naturalmente as camadas mais abastadas da população seriam as que pertencem as
famílias detentoras e possuidoras de grandes quantidades de terra e que possuem uma
grande capacidade de produção, principalmente na produção de gado, café e cacau. Mas
apesar disso, Jequié não ficou imune ao êxodo rural e naturalmente viu sua população
urbana aumentar gradativamente conforme demonstrado no quadro abaixo extraído de
censos demográficos realizados pelo IBGE de 1970 a 2010.
Vemos, através desses dados, como o êxodo rural se intensificou de tal forma no
município de Jequié a ponto de menos de 10% da população residir na zona rural, de
acordo com o último censo demográfico.
As razões para esse fenômeno são muitas e dentre os principais motivos apontados,
a industrialização sempre surgi como principal motivo. De fato, Jequié possui uma
produção industrial considerável, tendo o setor calçadista e o setor alimentício como
principais ramos das indústrias instaladas na cidade e certamente muitos dos operários
que trabalham nessas fábricas são originários de famílias oriundas da zona rural. No
entanto, apontar a industrialização como principal motivo do êxodo rural, pelo menos no
caso do município de Jequié, seria um equívoco pois a taxa de urbanização cresceu em
um nível que o setor industrial do município por si só não conseguiria acompanhar para
absorver tamanha mão de obra no período.
A história nos mostra que quando o homem do campo deixa a zona rural e se muda
definitivamente para a zona urbana, ele faz isso por dois motivos primordiais: Por falta de
escolha ou para tentar “melhorar de vida” em busca de emprego e melhores
oportunidades para os seus familiares. A falta de escolha pode ser apontada como
incapacidade de conseguir produzir por conta de uma questão climática ou alguma
intempérie que faça com que seja necessário se desfazer de sua pequena propriedade
rural. Já buscar melhores condições de vida, pode ser entendido como uma tentativa de
conseguir melhores empregos pois é sabido que o trabalho na zona rural sempre foi
marcado como uma atividade em que o empregado sofre grandes explorações e o
município de Jequié, dentro de seu contexto de relações sócio culturais e econômicas não
difere disso. Dessa forma, as populações oriundas da zona rural vieram para a sede do
município visando “dias melhores” e um futuro melhor para seus descendentes pois os
mesmos teriam acesso a Educação formal e oportunidades que seus antepassados não
tiveram. Essas eram as motivações principais.
Ao se falar em acesso a Educação formal, nota-se que Jequié, ao ser comparada com
as cidades circo vizinhas, possuí uma posição privilegiada pois desde períodos temporais
anteriores aos destacado por esse artigo, Jequié já detinha instituições públicas de
ensino. O primeiro estabelecimento público de instrução regular do município foi
inaugurado pelo então interventor federal do Estado da Bahia, Juracy Magalhães, no ano
de 1934. Já nas décadas posteriores o município viu a oferta pelo ensino regular Público
aumentar com a criação do Ginásio Estadual de Jequié que posteriormente se tornaria o
Instituto de Educação Regis Pacheco e a com a criação na década de 1970, da Fundação
Faculdade de Educação de Jequié, que oferecia o curso de “Ciências e Letras” e se
tonaria mais tarde parte da UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
instituição de nível superior de ensino que possui três campis sendo um deles sediado na
cidade de Jequié. O campus pertencente a cidade de Jequié, possui 16 cursos e se
destaca por possuir grande atuação na área das ciências relacionadas ao atendimento da
saúde humana oferecendo vários cursos dentre os quais podemos destacar medicina,
enfermagem, fisioterapia, farmácia e odontologia. Além desses cursos o campus
pertencente a Jequié fornece cursos de licenciatura plena tanto em disciplinas
relacionadas as ciências humanas como também de ciências exatas. Obviamente, a
expansão universitária do campus pertencente a Jequié não ocorreu de forma imediata,
mas sim de forma gradativa ao longo das últimas décadas. A presença da UESB na
cidade de Jequié foi primordial não somente para a construção e o fornecimento do
conhecimento para a sociedade local mas também para fomentar o surgimento de novas
instituições de ensino superior, transformando de forma definitiva o município de Jequié
em uma “cidade universitária” tendo estudantes de várias partes do país que buscam
uma vaga no ensino superior nas instituições sediadas no município para realizar seus
sonhos de ascensão intelectual e profissional.
Ao longo do espaço temporal demarcado entre as décadas definidas para a
realização desse artigo, a cidade de Jequié foi gradativamente aglutinando várias áreas
de atuações comerciais e do fornecimento de serviços, especializados ou não, fazendo
com que Jequié se firmasse definitivamente como uma cidade central perante os
municípios próximos ou que fazem fronteira com a mesma. Dessa forma, a cidade se
transformou em um corredor comercial regional em que produtores rurais de cidades
vizinhas se deslocam a Jequié para vender sua produção, ao mesmo tempo que
moradores de outros municípios a procuram também para realizar compras e procurar
serviços sejam eles especializados como o atendimento médico em clínicas que oferecem
serviços médicos e a realização de exames de média e alta complexidade, ou
simplesmente para buscar no comércio local de Jequié, algum produto ou mercadoria que
não é encontrado em sua localidade.
Embora, com o aumento gradativo do acesso a internet a prática do comércio
eletrônico tenha crescido nos últimos anos, O comércio presencial de caráter regional de
Jequié permanece com um grande volume. Setores comerciais como o setor automotivo e
de comércio de autopeças, confecções, calçados, moveis e eletrodomésticos possuem
forte clientela regional. Não por acaso, o setor terciário é o principal polo empregador do
município.
No entanto, apesar de todas as condicionantes existentes na primeira metade do
século XX, que deram a Jequié os meios necessários para que se desenvolvesse a ponto
de se tornar uma das mais importantes cidades do Estado da Bahia, o nível de
crescimento econômico do município não foi suficiente para atender as necessidades
básicas de sua população, causando como consequência disso, um cenário de
estagnação e desemprego. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística:

“Em 2019, o salário médio mensal era de 1.8 salários mínimos. A


proporção de pessoas ocupadas em relação à população total era
de 17.5%. Na comparação com os outros municípios do estado,
ocupava as posições 177 de 417 e 32 de 417, respectivamente. Já
na comparação com cidades do país todo, ficava na posição 3125
de 5570 e 1765 de 5570, respectivamente. Considerando domicílios
com rendimentos mensais de até meio salário mínimo por pessoa,
tinha 43% da população nessas condições, o que o colocava na
posição 385 de 417 dentre as cidades do estado e na posição 2367
de 5570 dentre as cidades do Brasil”. IBGE, 2022,

Ao analisarmos esses números de forma mais detalhada através de uma ótica


social, percebemos claramente que a economia do município não consegue gerar
empregos formais suficientes para atender a população fazendo com que boa parte
da mesma tenha uma dependência de auxílios sociais para sobreviver fazendo com
que parte considerável da população viva na pobreza. Embora, segundo o IBGE, o
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal da cidade esteja em 0,665,
considerado de médio desenvolvimento e a renda per capita esteja em R$
17.263,38, percebesse claramente um fosso entre a população jequieense pois
somente 17,5% está formalmente ocupada o que joga a maioria da população
economicamente ativa na informalidade e na consequente precaridade econômica.
Apesar desses fatores, não podemos negar os avanços que o município teve nas
últimas décadas em seu índice de desenvolvimento humano, o que evidencia um
esforço dos poderes públicos constituídos em melhorar o acesso da população a
Educação formal, ao atendimento a saúde e a consequente redução da mortalidade
infantil e o acesso a saneamento básico.

Gráfic apcntaa melhcra nc IDHr da iddade de eeuidi entare a lltadma


diiada dc siiilc XX e c anc de 2010. Fcntae IBGE

Ao longo do espaço temporal analisado, percebemos que em Jequié, na medida


em que a taxa de urbanização de sua população aumentava, o nível de degradação
ambiental do rio de Contas também crescia na mesma proporção. Nos dias de hoje,
a parte do rio que corta a área urbana da cidade sofre com assoreamento
decorrente da destruição das matas ciliares das margens do rio. A ocupação
desordenada de áreas próximas ao rio de Contas, quer seja para atividade industrial
ou para a construção de residências, ocorreu durante o período temporal analisado,
sem nenhum critério técnico ou planejamento urbano. Dessa forma, o acúmulo de
resíduos sólidos no trecho urbano jequieense do rio de Contas é uma constante.

Pelo fato de existir no município a Barragem de Pedra, que de forma contínua,


libera água represada, esse fator de certa forma ajuda a “limpar” o trecho do rio que
corta a área urbana de Jequié.

Apesar dos debates existentes nos mais variados setores do poder público, as
ações para recuperação do rio de Contas tem sido pouco efetivas até aqui. As
consequências do desmatamento e da ocupação desordenada das áreas próximas
as margens do rio já são sentidas pela população pois no período das chuvas, várias
casas são alagadas por se encontrarem próximas ao rio e seus moradores são
constantemente retirados dessas áreas no período chuvoso. No entanto, com a
estiagem, tornam a voltar novamente para os mesmos locais anteriormente
ocupados. Por mais que o poder público evite lhe dar com essa problemática que
envolve tanto a questão ambiental como o acesso a moradia por parte da população
que vive nas áreas próximas as margens dos rios, É necessário enfrentar o
problema, caso contrário ele irá somente crescer e a resolução será cada vez mais
difícil e as consequências serão ainda mais danosas e duradouras.

Vdstaa da Barragem de Pedra - eeuidi BA


3.0 – Possíveis caminhos para um melhor desenvolvimento sócio
econômico de Jequié

Ao olharmos para a História de Jequié no período temporal destacado neste


trabalho, é inegável reconhecer que, em um primeiro momento, o município soube
aproveitar as oportunidades que foram dadas para alavancar seu desenvolvimento e
consequente crescimento econômico e social. No entanto, nos fica claro também
que ao adentrar no século XXI, o município se estagnou economicamente e com
isso houve também uma estagnação no desenvolvimento social de sua população e
na qualidade de vida da mesma. Sabemos que Jequié não está fora de uma
realidade macro econômica pois pertence ao Estado da Bahia que faz parte da
República Federativa do Brasil e assim como os demais municípios brasileiros, sofre
os impactos das políticas econômicas adotadas por parte da União. No entanto, as
realidades dos municípios brasileiros são bastantes distintas do ponto de vista
econômico e social e apontar as motivações destas diferenças não é tarefa fácil pois
envolve vários aspectos mas, olhando puramente os dados coletados pelo IBGE
podemos concluir que uns aproveitam totalmente as oportunidades que surgem,
outros não possuem os meios necessários para o seu pleno desenvolvimento e
alguns acabam não utilizando todas as suas potencialidades e é nesse grupo que se
encaixa o município de Jequié. Obviamente algumas das medidas que listaremos
aqui não depende única e exclusivamente do município de Jequié para a sua plena
execução mas apontá-las e buscar meios para a sua realização deve ser dever não
só dos poderes políticos constituídos do município mas sim de toda a sua sociedade
civil organizada.

Um fator pouco explorado por parte da classe dirigente do município é a busca


da ampliação do parque industrial existente na cidade. Jequié possui todas as
condicionantes para a realização desse objetivo uma vez que o município tem
excelente localização para escoamento de produção além de ter em seus domínios
instituições de ensino técnico e superior que formam profissionais das mais variadas
áreas que vão desde a informática, eletromecânica, eletroeletrônica e elétrica.
Lamentavelmente, o município não possui nenhuma fábrica que atue nesses
campos mesmo possuindo mão de obra especializada para isso. O aumento da
atividade industrial é vital para a geração de empregos formais de melhor valor
agregado pois como visto nos dados oficiais do último censo do IBGE, a cidade de
Jequié possui mais de 90% de sua população em área urbana e somente 17,5% de
sua população economicamente ativa se encontrava empregada formalmente o que
inevitavelmente joga a maioria para a informalidade e consequente precaridade nas
relações de trabalho e produção. Segundo Alan Azevedo Pereira dos Santos:

“…..Dentro do total da população ocupada, o município


apresentava grau de informalidade de 55,9% (35.338 hab.), ou
seja, uma parcela bastante significativa do trabalhador ocupado
era informal (empregado sem carteira assinada, por conta
própria, não remunerado, em ajuda a membro de domicílio e
trabalhador para o próprio consumo)” (SANTOS 2013, p 30)

Com esses números, nos fica claro que para que Jequié inicie um novo ciclo de
crescimento econômico e consequente melhora de vida de sua população, a atração
de novas indústrias se torna algo essencial pois a criação de empregos diretos cria
um movimento em cascata que influencia diretamente no aumento do consumo no
comércio local o que acaba acarretando na geração de novos empregos no setor
comercial e de serviços. Além disso, a geração de empregos no ramo tecnológico
industrial tende naturalmente a atrair novos investimentos para o município pois
naturalmente empresas terceirizadas se instalam para fornecer suprimentos
específicos para a fabricação o que consequentemente gera mais emprego e renda.

Vdstaa airea de partae dc Ddstardtac Indistardal de eeuidi


Outra área pouco explorada na cidade de Jequié é a possibilidade da
exploração, de forma organizada, do turismo ecológico. A cidade ocupa uma área
territorial de 3.313,45 km2 e possui grande potencial de aproveitamento hídrico para
o lazer seja na região da Barragem de Pedras, seja através da exploração de
cachoeiras existentes, oriundas de afluentes do rio de Contas, nas mais variadas
localidades da zona rural dentre as quais podemos citar as cachoeiras do Humaitá,
Corda, Itajuru, Marcela, Alta, Km 19, Km 17, Campo Largo, Atanázio e Frizuba,

Por possuir temperaturas elevadas na maior parte do ano, Jequié é apelidada de


“Cidade Sol” e devido a esse fator, a procura por esses locais tanto para a diversão
quanto pelo busca de apaziguar o calor é uma constante não só pela população
local mas também por moradores de cidades vizinhas a Jequié.

Por não haver a mínima organização e regulamentação por parte dos poderes
públicos constituídos, ocorrem situações que vão desde a degradação do meio
ambiente através do descuido com o lixo que é produzido nos locais procurados
para o lazer e que ficam expostos no meio ambiente, até mesmo situações que
envolvem a ocorrência de acidentes pela não observância de riscos existentes no
local escolhido que vão desde o não conhecimento da profundidade dos locais
escolhidos para se banhar o que eventualmente causa afogamentos ou ferimentos
causados pelas pedras e rochedos que se encontram nas cachoeiras decorrentes de
quedas da própria altura ou de mergulhos mal calculados que culminam em
acidentes.

O Corpo de Bombeiros Militar da Bahia, através do 8° Grupamento de


Bombeiros Militar, que fica sediado em Jequié, realiza, durante o verão, campanhas
de prevenção e vigilância das áreas procuradas pelos banhistas afim de evitar
acidentes e cumprir sua missão constitucional de salvar vidas.

Percebesse que apesar de não haver nenhum investimento de atração de


público para o turismo, ele naturalmente já existe. Esse fato abre a possibilidade de
investimento nas mais variadas áreas do turismo que vão desde o estabelecimento
regulamentado de restaurantes e quiosques até o fornecimento de passeios
programados. Como dito anteriormente, mais uma vez há o desperdício de
oportunidades que podem influenciar na geração de emprego, renda e consequente
melhora sócio econômica para o município de Jequié.
Sede dc 8° Gripamentac de Bcmbedrcs Mdldtaar em eeuidi.
Imóvel taambim fcd a estaaçãc de tarem da iddade

Caihcedra dc Bcuiedrãc seddada nc ddstardtac de Itaajirl


- eeuidi BA
4.0 – Conclusão

Este presente artigo buscou analisar alguns aspectos da história


recente de um município considerado de médio porte do Estado da Bahia,
buscando demonstrar como problemas nacionais se repetem no ponto de
vista da realidade local' Essa tarefa pretendida é de difícil realização pois
sabemos que a construção de uma historiografia local das pequenas e
médias cidades brasileiras é em certa medida, algo novo e pouco
explorado' No entanto entendemos que esse é um exercício necessário
para compreendermos como as especificidades locais carregam
movimentos que coincidem com a história nacional' Dessa forma,
podemos enxergar o que nos une a uma identidade brasileira e de que
forma nós nos encaixamos nela'

Não buscamos realizar esse trabalho dentro de uma perspectiva


bibliográfica sobre os feitos dos “grandes homens” e da importância que
cada personagem teve em determinado momento da história local de
Jequié no período temporal destacado, período esse aliás em que o Estado
da Bahia teve dois governadores que são oriundos da cidade de Jequié'
Não que não haja importância nessa linha de pesquisa mas é que
seguindo por esse modelo, não poderíamos traçar paralelos entre décadas
diferentes e consequentemente não conseguiríamos realizar uma ponte de
ligação entre o personagem analisado bibliograficamente e a realidade
local da população do município de Jequié no período destacado e por isso
não citamos nomes de prefeitos, benfeitores empresariais ou quaisquer
“autoridade local” do município de Jequié por entendermos que o objetivo
pretendido acabaria sendo desvirtuado'

Não queremos ter a pretensão de dizer que conseguimos realizar de


forma detalhada o que foi proposto pois sabemos que é possível ampliar
ainda mais o campo de pesquisa seja usando como ferramenta mais
fontes e instrumentos estatísticos bem como detalhar mais precisamente
os ramos das atividades econômicas do município de Jequié e também
ampliando o leque de investigação dos problemas descritos' No entanto,
entendemos que esse artigo cumpriu o dever de traçar de forma coesa as
bases pretendidas pois, dentro do período temporal proposto, listamos os
elementos que formaram a cidade de Jequié o que ela é nos dias de hoje
bem como conseguimos através de dados concretos coletados nas fontes
bibliográficas adotadas para a realização desse trabalho, mostrar os
problemas que afetam o município nas mais variadas áreas além de em
parte, denunciar a pouca ou nenhuma ação das autoridades civis
constituídas para ao menos tentar amenizá-los'

Concluímos que os problemas centrais enfrentados pela sociedade


jequieense é em grande parte, os mesmos problemas enfrentados por
quase todo o restante da população nacional'

Em suma, somos uma nação cuja população se urbanizou de forma


profunda a partir da segunda metade do século XX e o que percebemos é
que esse movimento não foi algo que ocorreu de forma ordenada e com
isso temos uma sequência de problemas gerados que afige de forma
significativa as populaçees de grande parte das cidades brasileiras '

Os problemas são graves' No entanto há um que nos preocupa de


forma mais aguda que é a necessidade de gerar emprego e renda para a
população visto que nos dias de hoje, não somente os moradores do
município de Jequié sofrem com a informalidade mas sim, quase metade
da população economicamente ativa do Brasil (IBGE 2021)' De certa
forma, esse problema acaba contribuindo diretamente para a geração de
todas as demais mazelas que atingem não somente Jequié mas quase que
a totalidade dos municípios brasileiros, pois a precarização nas relaçees
de trabalho e os baixos ganhos salariais infuenciam diretamente na
qualidade de vida da população que se encontra nessa situação de
vulnerabilidade econômica' Dessa forma, por não possuir meios
econômicos para construir suas moradias em uma área sem riscos, muitas
famílias brasileiras acabam vivendo em áreas de risco e
consequentemente degradando o meio ambiente' Não por acaso,
choramos todos os anos a perda de várias famílias em enchentes e
desabamentos que ocorrem em decorrência de fortes temporais' A origem
dessas situaçees de desastre possuem as mesmas motivaçees em todo
território brasileiro'

Somente com um verdadeiro projeto nacional de desenvolvimento, em


que as realidades locais com suas especificidades e potencialidades
estejam de fato inseridas , é que poderemos de fato traçar uma melhora
na nossa realidade socioeconômica nacional e consequentemente projetar
um futuro melhor para as novas geraçees quer seja em Jequié na Bahia ou
no restante de nosso país' Só assim poderemos mudar o curso de nossa
própria história'
Bibliografia:

SANTOS, Alan Azevedo Pereira dos. Diagnóstico Municipal de Jequié. Instituto de


Pesquisas Geográficas & Gasparetto Pesquisas e Estatísticas. Jequié, 2013

FERNANDES, Elielma Santana. A degradação do rio das contas na zona urbana da


cidade de jequié – ba. Anais II WIASB... Realize Editora, Campina Grande, 2015.
Disponível em: <https://www.editorarealize.com.br/index.php/artigo/visualizar/17137>.
Acesso em: 02/05/2022

ARAÚJO, Emerson Pinto de. A Nova História de Jequié, ALBA. Salvador, 2018

SANTOS, Milton. A cidade de Jequié e sua região. Revista Brasileira de Geografia, Rio de
Janeiro, v. 18, n. 1, p. 71-112, 1956

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. IBGE Cidades


(Dados 2022). Disponível em:<http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 09/05/2022

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