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São Rafael: o progresso que não veio

Jalison Barbosa de Araújo

As transformações urbanas em São Rafael se relaciona


diretamente com as mudanças sociais. Desde o projeto Baixo Açu na
década de 1980, quando a cidade é obrigada a se deslocar para outra
localidade. Então se estabelece uma ruptura na própria história do
município causado pela interferência humana, pois, nossa história é
contada em dois momentos: São Rafael antiga e a Nova São Rafael.
Focaremos aqui em alguns aspectos relacionados a São Rafael a
partir dos anos 80, portanto a nova cidade. Podemos analisar diversos
problemas que este projeto trouxe para o município, tanto no campo
econômico como também no campo social. No econômico podemos
destacar a agricultura, que desempenhava um papel fundamental na
produção de renda da nossa cidade. Com o deslocamento as terras
produtoras dessa atividade agraria é coberta pelas águas da Barragem
Eng. Aramando Ribeiro Gonçalves a população se desloca para um
local inapropriado para essa atividade e a produção cai
consideravelmente.
Ainda mais grave e em decorrência destes fatores o campo social
também é afetado diretamente, famílias perdem sua principal fonte de
renda, mas não só isso, perdem a liberdade de viver na terras onde
nasceram e tem uma ligação afetuosa com aquela localidade. Um
sentimento de pertencimento é submerso pelas águas do ”progresso”.
Mas não para por ai, a nova São Rafael apesar de ser a que mais
sofre diretamente com esse projeto mal elaborado e mal executado por
parte do poder público na época, não consegue se tornar uma cidade
prospera, o projeto praticamente mata nossa economia. Hoje o que
podemos usufruir do reservatório é a pesca, principal atividade
econômica e fonte de renda do município hoje. O poder público
municipal de mão atadas não consegue até hoje resolver este problema
econômico, pois, não geramos outros tipos de atividade econômica.
Então um projeto que interrompe um a vivencia e a prosperidade de uma
cidade com argumento de progresso para uma microrregião (Vale do
Açu).
No último censo do Instituto Brasileiro Geográfico de Estatística
(IBGE) aponta São Rafael como o município que menos produz receita
na microrregião, produzimos apenas 4,1% de toda nossa receita, isso
quer dizer que 95,9% vem de fontes externas. Então a microrregião é
beneficiaria do projeto Baixo Açu, menos São Rafael, que parou de
produzir nos anos 80. Deixamos de ser prósperos para dar prosperidade
a uma região.
Embora todos esses fatores se apresente de uma forma
dramática e até mesmo injusta, nossa sociedade hoje em minimamente
tem noção destes fatos, porém, a participação da comunidade em ações
com intuito de discutir estas questões se coloca como necessárias. A
sociedade organizada e voltadas para as causas sociais se apresentam
por meio da Associação de moradores são-rafaelenses que hoje atua no
município, buscando solucionar algumas demandas existentes, sem
esperar pelo poder público municipal, dando voz aos moradores. Uma
importante luta travada pela Associação beneficiou centenas de famílias,
que foi a concessão de uma adutora que resolveria o problema do
abastecimento de água em São Rafael. Uma contradição histórica,
apesar de termos dado lugar para a construção do maior reservatório de
água do Estado nossa cidade sofria com o abastecimento, um problema
que a Companhia de Águas e Esgoto do Rio Grande do Norte (CAERN)
nunca conseguiu solucionar. A Associação fez frente ao Governo do
Estado e consegue este projeto da adutora. Vemos a força da sociedade
organizada, o poder público municipal foi mero telespectador neste
processo encabeçado pelos movimentos sociais.
Esteticamente o projeto da nova São Rafael se iguala ao da
antiga, buscou-se preservar a identidade do município em suas
edificações como é o exemplo da igreja matriz, do mercado público e do
quadrangular central que preservam os mesmos traços.
No entanto, qual o sentido desta preservação se as pessoas
perderam a esperança da prosperidade?
Hoje buscamos meios de manter nossa história viva, nossa
sociedade organizada mostra sua força e faz frente ao poder público.
Temos esperança de dias melhores e que a prosperidade volte a fazer
parte da nossa realidade. São Rafael não foi, mas ainda pode ir!

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