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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO


DIRETORIA DE PESQUISA

RELATÓRIO FINAL DOS PROGRAMAS DE INICIAÇÃO


CIENTÍFICA

MODALIDADE:
()PIBIC/CNPq ( )PIBIT/CNPq ( )PIBIC/AF/CNPq
(X)PIBIC/UFAC ( ) PIVIC

CENTRO:
( ) CCBN ( ) CCJSA (x) CFCH ( ) CCSD ( ) CELA
( ) CEL ( ) CMULTI ( ) CCET

UNIDADE INTEGRADORA:

Título do Projeto de Pesquisa


A produção do espaço urbano em Rio Branco/AC: conflitos por terra,
transição rural urbano e discurso sobre a cidade a partir da década de 2000.
Subprojeto
A transição rural-urbano em Rio Branco/AC: Vila Acre do rural ao urbano.

Orientador (a) Assinatura


Maria de Jesus Morais

Bolsista Assinatura

Sherman Alencar Castelo

Período do relatório: 01 de agosto de 2016 a 17 de julho de 2017

Rio Branco – Acre, 2017


Título do Projeto de Pesquisa
A transição rural-urbano em Rio Branco/AC: Vila Acre do rural ao urbano.

Resumo do Projeto
O presente relatório teve como objetivos compreender e elucidar a questão das
estratégias dos agentes fundiários no que diz respeito à transformação da terra rural em
urbana; identificar e analisar a tipologia dos estabelecimentos comerciais e de serviços
da Vila Acre; discutir o sentido do urbano e do rural na Vila Acre; e, discutir a evolução
da Vila Acre de zona rural para zona urbana. Do ponto de vista dos procedimentos
metodológicos: fizemos revisão de bibliografia sobre o rural e urbano. Realizamos
trabalhos de campo para identificar a tipologia dos equipamentos de características
urbana e rural. E, entrevistas com moradores com mais tempo na localidade, para
entender a evolução da Vila Acre. Hoje, grande parte da Vila já está na categoria de
urbano, principalmente os trechos próximos à rodovia e as áreas mais “para dentro”
continuam com atividades tipicamente rurais, como criação de animais e cultivo de
gêneros alimentícios.

The purpose of this report was to understand and clarify the issue of land tenant
strategies with regard to the transformation of rural to urban land; Identify and analyze
the typology of Vila Acre commercial and service establishments; Discuss the meaning
of urban and rural in Vila Acre; And, to discuss the evolution of Vila Acre from rural to
urban. From the point of view of methodological procedures: we have revised the
bibliography on rural and urban. We carried out fieldwork to identify the typology of
equipment of urban and rural characteristics. And, interviews with locals with more
time in the locality, to understand the evolution of Vila Acre. Today, much of the Vila is
already in the urban category, especially the stretches close to the highway and the more
"in" areas continue with typical rural activities, such as animal husbandry and food
crops.

Introdução

Para que haja uma melhor reflexão sobre o tema campo/cidade e rural/urbano
devemos saber que desde sempre houve a existência do campo, mas com os avanços
industriais e afins, a cidade acabou se estabelecendo em terras e aldeias de uma forma
maior que a esperada. Os camponeses produzem com o objetivo de comercializar na
cidade. E com o avanço das cidades houve a necessidade de uma grande divisão do
trabalho, com isso o campo recebeu a caracterização de uma melhor qualidade de vida,
com alimentos saudáveis e com ares de um local tranquilo.
Sendo assim, a cidade se mostra como um lugar de indústrias e comércios,
dando a impressão que seja um local sem qualidade de vida e o campo um ótimo local
para se viver e mesmo com o grande crescimento do lado urbano, o mesmo nunca
deixou de depender do lado campestre, pois a cidade depende amplamente do que é

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produzido no campo.
A temática deste projeto foi discutir a questão da transição entre o rural e o
urbano em Rio Branco/AC, com enfoque na Vila Acre. Esta, está localizada na saída de
Rio Branco para Senador Guiomard, pela BR 317. Esta pesquisa teve como objetivos
compreender e elucidar a questão das estratégias dos agentes fundiários no que diz
respeito à transformação da terra rural em urbana; identificar e analisar a tipologia dos
estabelecimentos comerciais e de serviços da Vila Acre; discutir o sentido do urbano e
do rural na Vila Acre; e, discutir a evolução da Vila Acre de zona rural para zona
urbana. Do ponto de vista dos procedimentos metodológicos: fizemos revisão de
bibliografia sobre a rural e urbano. Realizamos trabalhos de campo para identificar a
tipologia dos equipamentos de características urbana e rural. E, entrevistas com
moradores com mais tempo na localidade, para entender a evolução da Vila Acre.
Também foram feitas entrevistas com moradores antigos do Bairro Vila Acre,
moradores que ainda residem no mesmo bairro por uma longa data, que puderam
presenciar e vivenciar como o bairro estudado têm evoluído e se desenvolvido infra
estruturalmente, sendo muito mais almejado por populares e empresários que desejam
se instalar na Vila Acre, devido ao crescimento do mesmo.

Objetivos (Geral e Específicos)

Identificar, discutir e mapear as ações dos agentes produtores da cidade no que diz
respeito à produção do espaço da cidade de Rio Branco e as estratégias da população de
baixa renda no que diz respeito à aquisição da moradia.

Específicos do subprojeto

Discutir sobre a formação e evolução da cidade de Rio Branco;


Discutir as estratégias dos agentes fundiários no que diz respeito à transformação
da terra rural em urbana;
Identificar e analisar os estabelecimentos comerciais e de serviços da Vila Acre;
Discutir o sentido do urbano e do rural na Vila Acre;
Discutir a evolução da Vila Acre de zona rural para zona urbana;

Metodologia
1 - Pesquisa bibliográfica e documental;

Pesquisa bibliográfica sobre a temática do urbano e da relação cidade campo.

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2 – Pesquisa de base empírica;

No que se refere a este item, foi efetuado um registro fotográfico dos principais espaços
culturais da Vila Acre. O objetivo foi montar um banco de dados com informações dos
estabelecimentos públicos e privados da Vila e da relação desta com a cidade de Rio
Branco.

Neste percorreremos as principais ruas da Vila realizando o registro fotográfico das


escolas, mercados, entre outros espaços públicos, privados ou mesmo espaços culturais
utilizados pela população com o intuito de mapear a estrutura existente bem como traçar
um paralelo sobre o seu processo de ocupação. Ressaltando a perspectiva temporal, ou
seja, o processo de transição do rural para o urbano.

3 – Análise dos dados e escrita do relatório final;

Resultados e Discussão

A Vila Acre após a Lei Municipal n. 2222 de 26 de janeiro de 2016, encontra-se


inserida no perímetro urbano de Rio Branco. O que significa dizer, que a Prefeitura
classifica as atividades comerciais e de serviços prevalecem. Na figura 01, vemos o
croqui do perímetro urbano de Rio Branco, o qual engloba toda a Vila Acre.

Figura 01a – Croqui do perímetro urbano de Rio Branco.

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Figura 01b – Croqui da Vila Acre
Fonte: SMDGU (Secretária municipal de Desenvolvimento e Gestão Urbana)

Um dos nossos entrevistados foi seu José Carlos Aragão, 47 anos de idade. Este,
chegou na Vila Acre na década de 1970, mais precisamente em 1974. Seu José conta
que a área que hoje é o bairro Vila Acre, era uma grande colocação, a qual ele não se
recorda o nome, nessa região existia e predominavam os “marreteiros”, pessoas que
comercializa quinquilharias. Seu José possui mãos calejadas e pele marcada pelo sol,
marcas de uma vida de trabalho braçal. Na caracterização da área, nosso entrevistado,
ressalta: aqui “não existia asfalto, tudo era tomado pelo mato e existia lama em todos os
cantos da colocação, era quase impossível fazer alguma coisa nos tempos que chovia”.
Essas palavras explicitam como era difícil a vida dos primeiros moradores, das
pessoas que precisavam passar pela Vila Acre com outros destinos. Ele conta que a
partir do momento em que foi chegando mais moradores pelas redondezas, foi que a
Rodovia AC-40 foi sendo aberta. Em alguns momentos a Vila foi sendo vista com mais
cuidado pelas autoridades, como ocorreu nos anos de 1982 e 1983. Foi nesta época, diz
seu José, “que asfaltaram a rua principal, que é a AC40 e foi chegando gente e foram
abrindo as ruas que hoje se chama bairro Vila Acre”, “e hoje está tudo moderno, tudo!
Até as ruas tão asfaltada”.
Na questão da energia e da luz, o morador conta que a energia era fornecida para
as outras casas, pelo seu pai, que tinha um motor e através disso, recarregava as baterias
dos moradores, que o pagavam para isso. Ressaltando que a energia era somente para as
lâmpadas, não tinha força o suficiente para ligar uma geladeira. Na questão da água, a
comunidade era abastecida pelo famoso igarapé do almoço, onde a água era muito

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limpa, havia a prática da pesca no igarapé, é surpreendente que atualmente, o mesmo
igarapé é altamente poluído.
Sobre o dia a dia do bairro, seu José ressalta que é altamente evidente que há
uma grande melhoria no modelo social do bairro, isso é relatado pelo morador, quando
fala: “eu praticamente não preciso ir mais ao centro da cidade, aqui a gente tem de tudo
já, supermercado, lanches, farmácia, campo de jogar bola, igrejas, restaurantes e tudo! O
que falta aqui é um banco e uma loteria (casa lotérica), de resto, não saio pro centro pra
nada!” Essas palavras deixam ainda mais evidente o avanço do bairro, em várias
perspectivas, sendo ela social, econômica.

Os principais equipamentos públicos e comerciais da Vila

O Bairro Vila Acre, atualmente, possui alguns equipamentos públicos básicos e


essenciais para a população de uma determinada comunidade. Assim como os
estabelecimentos comerciais e privados, que cada vez mais, apontam seus destinos rumo
ao bairro, muito devido ao grande aumento populacional, a modificação dos tipos de
moradores, já que é muito comum, esse tipo de mudança nos bairros.
No quadro 01 podemos ver vários e alguns dos equipamentos públicos e
privados existentes na Vila Acre, dentre eles estão Escolas, Posto de Saúde, Sede da
Prefeitura, entre os privados estão: Farmácia, Supermercado, etc. Este quadro é uma
demonstração de como o bairro vem crescendo economicamente e estruturalmente,
sendo que isso não se via e ocorria há pouco tempo atrás.

ITEM NOME DO ESTABELECIMENTO ESPECIFICIDADE


1 Centro de Distribuição Supermercados Araújo Comercial Privado
Importação e Exportação
2 Centro de Triagem de Animais Silvestres – Órgão Federal
IBAMA/AC
3 Cooperativa Central de Comercialização Órgão Comercial Parceria Público
Extrativista do Acre - COOPERACRE Privado - Cooperativa
4 Drogaria Vila Acre Comercial Privado
5 Escola Carmelita B. Montenegro Órgão Municipal
6 Escola Estadual Leôncio de Carvalho Órgão Estadual
7 Escola de Ensino Fundamental Benfica Órgão Municipal
8 Parque Ambiental Chico Mendes Órgão Municipal
9 Sede Recreativa do Sindicato dos Trabalhadores Sede Recreativa / Órgão Privado
de Saúde do Acre - SINTESAC
10 Sede da Regional Vila Acre – Secretaria Mun. Órgão Municipal
Articulação Comunitária e Social
11 Unidade Básica de Saúde Mara Sebastiana Órgão Municipal
Bernardo
Quadro 01 - Principais Equipamentos Público e Privados no Bairro Vila Acre.

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As fotos de alguns dos principais equipamentos, públicos ou privados, da Vila
Acre, demonstram o porte destes equipamentos. A 01 e 02 são duas das três escolas
existentes na Vila Acre.

Foto 01 - Escola Municipal de Ensino Infantil Foto 02 - Escola Estadual de Ensino Fundamental e
Médio Carmelita B. Montenegro. Fonte: próprio autor Leôncio de Carvalho. Fonte: próprio autor

A foto 03 é do Parque Ambiental Chico Mendes, uma das áreas verdes da cidade
e a área de lazer dos moradores da Vila. O Parque foi construído, em 2003 pelo
Governo do Estado como uma alternativa para a comercialização do artesanato acreano.
Administrada pela Cooperativa de Produtos e Serviços Econômicos e Solidários do
Acre – COOESA como apoio do Governo do Estado por intermédio da SETUL e
SEBRAE-AC. Segundo o site do governo do estado do Acre, atualmente 100 artesões
comercializam e expõem seus produtos, oferecendo peças de marchetaria, entalhe em
madeira, cerâmica, bijuterias de sementes, cestaria em cipó, miniaturas em látex,
trabalhos manuais, camisetas regionais.

Foto 03-Parque Ambiental Chico Mendes. Fonte: próprio autor

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As fotos de 04 a 07 são das atividades comerciais.

Foto 04- Comercial Paraná. Fonte: próprio autor Foto 05-Churrascaria Via Parque. Fonte: próprio autor

Foto 06- Atacadão de Madeiras. Fonte: próprio autor Foto 07 - Posto de Gasolina Petrobrás. Fonte: autor

É essencial o entendimento do que é o rural e o urbano, onde começa um e


termina o outro, os aspectos e definições que cada um apresenta e se representa em meio
à uma sociedade, para que possamos entender em qual meio vivemos e também em qual
contexto o Bairro Vila Acre se encaixa, tentando elucidar o porquê tantas pessoas e
empresários estão escolhendo migrar para a Vila Acre, consequentemente aumentando,
assim, sua população, que sofre com a dificuldade e ausência do poder público no
quesito regularização de terras.
O assunto em questão é motivo de grandes discussões, existindo sobre o mesmo,
várias interpretações e afirmativas sobre a relação entre o rural/urbano e campo/cidade e
também as dificuldades de regularização de terras no bairro Vila Acre, situado em Rio
Branco-AC, devido ao grande aumento populacional na região do bairro, onde cada vez
mais pessoas desejam residir e mais empresários alocam seus estabelecimentos.
O Poder Público do Estado tem se atentado um pouco mais para a parte do
chamado segundo distrito da Capital Rio Branco, especificamente no Bairro Vila Acre,
podemos ver um maior cuidado com a infraestrutura, saneamento, etc., mas, deixa ainda
muito a desejar nas condições de vida de algumas comunidades lá existentes,
principalmente naquelas mais afastadas do centro urbano, onde pouco se ver

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policiamento, terrenos regularizados, entre outros problemas. Sabe-se bem que isso
poderia ser sanado se o poder estatal tivesse mais zelo por essas regiões.
Esse assunto é muito debatido e discutido de diferentes formas. Uma delas,
como e de que forma o Poder Público poderia agir na Vila para que houvesse melhores
condições de vida, tendo em vista o grande avanço social do bairro e o crescimento bem
visível de empreendimentos no mesmo? Qual ou quais seriam as soluções para que
houvesse menos invasões e consequentemente mais facilidade para a regularização de
terras na Vila Acre?. Essas questões têm como pano de fundo a diferenciação do que é
urbano e do que é rural.
Alguns autores têm debatido a questão.
O livro “Cidade e campo relações e contradições entre urbano e rural”,
organizado por Spósito (2010), traz uma discursão dos conceitos de cidade e de campo,
de urbano e de rural. Este livro resultou de um seminário realizado pelo grupo de
pesquisa “Produção do espaço e Redefinições Regionais” da Universidade Estadual
Paulista (UNESP), Campus de Presidente Prudente ocorrido em junho de 2003.
Esta obra reúne textos de vários pesquisadores da temática, tais como, Ângela
Maria Endlich, Maria Lúcia Falconi da Hora Bernardelli, Oscar Sobarzo, Priscila Bagli,
Maria Encarnação Beltrão Sposito, Arthur Magon Witachen, Marcos Aurélio Saquet,
Lucelina Rosseti Rosa e Darlene Aparecida de Oliveira Ferreira, Antônio Firmino de
Oliveira Neto. Este livro me ajudou a entender os dos conceitos.
Endlich, no capítulo “Perspectivas sobre o urbano e o rural” faz uma discursão
sobre o conceito de rural e urbano no âmbito das pequenas cidades, abordando critérios
tais como: patamar geográfico, densidade demográfica e ocupação econômica da
população. Apresenta também uma problematização sobre o uso incorreto dos critérios
de rural e urbano sem uma análise da historicidade dos fatos.
Tendo em vista que a autora aborda que sobre o fato do Brasil ser urbano ou não,
deve-se levar em conta as diversas transformações que ocorreram quer seja na
sociedade, economia ou no território. A autora cita também que é preciso problematizar
sobre o que vem a ser “novo” rural, em que pese que novas atividades estejam sendo
desenvolvidas também no campo.
Já Bernadelli, no capítulo “Contribuição ao debate sobre o urbano e o rural”,
faz uma discursão dos conceitos de cidade, rural e urbano trazendo um embasamento
teórico das obras de Ângulo e Domingues (1991), J.E da Veiga (2002) que faz uma
crítica e questionamento ao conceito de cidade utilizado no País que segundo o autor é

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obsoleto; R. Abramovay (2000), que fornece aspectos convergentes na discursão sobre
o conceito de rural; e Santos (1993), que propõe uma substituição da antiga divisão rural
e urbana no Brasil por dois grandes subtipos: os espaços agrícolas e os espaços urbanos.
Segundo a autora ao falar de espaço urbano ou rural é sempre necessário reforçar que
este apresenta especificidades que são decorrentes de sua construção histórica.
Sobarzo, no trabalho “O urbano e o rural em Henri Lefebvre”, também traz a
discursão sobre os conceitos de urbano e rural no Brasil e também críticas de alguns
autores sobre os conceitos com é o caso de Carlos (2004) e, sobretudo Veiga (2002) que
fez dura críticas às reflexões de Lefebvre. No entanto o trabalho de Oscar Sobarzo tem
como propósito refletir as ideias de Lefebvre sobre o urbano e o rural de forma a superar
a visão formal de Veiga (2002) que faz uma crítica ao fato de não se pensar o rural
como uma extensão do espaço urbano e da vida urbana, pois o urbano não se restringe a
parcela da população que vive na cidade.
O capítulo de Silva, “Reflexões em torno do urbano no Brasil”, fraz uma
discursão sobre o conceito de urbano tomando como base dados demográficos buscando
compreender as relações sociais no campo e na cidade. O autor utiliza como
embasamento teórico para suas reflexões as obras de Caio Prado Junior (espaço rural) e
Manuel Castells (urbano) além do forte uso de conceitos Marxistas. Ambos os autores
utilizados consideram o espaço apenas como meio em que as relações sociais e
econômicas se realizam e se desenvolvem.
O capítulo de Bagli, “Rural e urbano: Harmonia e conflito na cadência da
contradição” é dividido em dois momentos: no primeiro a autora ressalta o tempo lento
rural e o cotidiano urbano construído sobre um tempo mecânico e como tais tempos são
apropriados pelas pessoas que vivem nesses espaços. E posteriormente o texto aborda as
relações cotidianas.
O texto relata que no rural as pessoas estão imbuídas de temporalidades
diferenciadas: do plantio, da colheita, da poda e da entressafra. São horários que seguem
outras rotinas e normas, portanto, que expressam outro modo de vida, porém não há a
determinação de um tempo ditado pela lógica capitalista afirma a autora. A autora cita
também a questão das relações cotidianas que são construídas no espaço rural tendo
como base uma intensa relação que se estabelece entre a terra e criação de animais.
Porém no urbano, o trabalho não está fundamentado na relação com a terra, em sua
exploração para sustento ou comercialização.

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Sobre os hábitos urbanos e rurais a autora destaca que as condições de cada
espaço impõem modos de vida com hábitos dessemelhantes. A constituição de hábitos
rurais tem como base a ligação com a terra, em que pese que os hábitos urbanos criam
múltiplas relações através de condições específicas de trabalho e de vida.
No capítulo, “A questão cidade-campo perspectiva a partir de cidade”, de
Maria Encarnação Beltrão Sposito é abordado as relações que se estabelecem entre
cidade e campo e entre urbano e rural a partir da urbanização e dos espaços urbanos. O
texto retorna as origens das cidades ao longo do percurso de urbanização a fim de
observar atributos associados aos espaços urbanos e que permaneceram como marcos
das cidades, de acordo com os diferentes modos de produção e em diversas formações
socioespaciais. Os atributos são: concentração demográfica, diferenciação social e
unidade espacial sendo que a autora utiliza estes atributos para explicar a questão cidade
e campo.
No capítulo de Arthur Whitacker, “Cidade imaginada. Cidade concebida” o
objetivo é compreender o significado do par urbano e rural através da compreensão das
funções e ações entre cidade e campo e para isto o autor busca compreender os
conceitos de cidade e urbano, campo e rural. Segundo o autor, compreender o urbano e
o rural, em um nível analítico, implica em se compreender a produção espacial e a
morfologia, existe a necessidade de uma contextualização da urbanização e da cidade.
No capítulo “Por uma abordagem territorial das relações urbano-rurais no
sudoeste paranaense” do autor Marcos Aurélio Saquet, a ideia central é buscar
compreender os aspectos da formação territorial desta região destacando sinais da
relação urbano-rural. O autor destaca a não definição do rural somente pela agricultura e
do urbano somente pela indústria, em que pese que a delimitação e classificação
administrativa usada no Brasil entre as zonas urbanas e rurais não dá conta de mostrar
as articulações que se processam historicamente entre esses espaços, que são diferentes,
mas não excludentes. O autor critica o uso de palavras como rubarno e afirma ser
fundamental explicar as relações sem eliminar as peculiaridades de cada espaço.
Lucelina Rosa e Darlene Ferreira em “As categorias rural, urbano, campo,
cidade: a perspectiva de um continuum”, buscam compreender como as categorias
campo, cidade, rural, urbano foram trabalhadas pelas Ciências Sociais, através do
resgate de trabalhos representativos das décadas de 1960, 1970 e 1980 quando
intensificou-se as relações entre campo e cidade no País. O texto busca organizar de
forma sistematizada embasamentos teóricos já produzidos a esse respeito no Brasil,

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retomando a noção de “Continuum” rural-urbano. O texto aponta também estudos que
enfatizam apenas o ponto de vista econômico e que as transformações estariam
homogeneizando o campo.
O capítulo “A incorporação do modo de vida urbano na região de fronteira do
Sul Mato Grossense no início do século XX” de autoria de Antônio Firmino de Oliveira
Neto, é discutido como a expansão do modo capitalista de produção e a ocupação da
fronteira motivou o surgimento de cidades em Mato Grosso, e que no início do século
XX a região sul deste Estado estava ainda muito desabitado, e que havia pouca
definição de papéis urbanos exercidos pelos moradores dos vilarejos existentes. O autor
faz o uso de conceitos de Karl Marx e Friedrich Engels para explicar “a oposição entre
cidade e campo que restringe a vida e a consciência do homem, convertendo-o ou em
um limitado animal rural ou em um limitado animal urbano”.
O capítulo “O caráter urbano das pequenas cidades da região canavieira da
Catanduva – SP” da autora Maria Lúcia Bernardelli encerra este livro abordando as
transformações decorrentes do processo de urbanização no último meio século que
promoveram complexas alterações no nível intraurbano das cidades como também com
a mesma intensidade na rede urbana oriundas de nova divisão técnica social e territorial
do trabalho, e que em decorrência dessas transformações algumas cidades concentraram
papéis enquanto outras perderam funções.
O texto ressalta também que grande parte dos municípios que compõe essa rede
surgiu mais em decorrência de interesses públicos do que em função de terem grande
contingente populacional ou de desempenharem papéis e atividades econômicas que
geram receitas tributárias, emprego e renda aos seus habitantes. O presente livro traz
uma ampla discursão e debates sobre o uso dos conceitos de campo-cidade e rural-
urbano, destacando os equívocos em considerar cidade como urbano e campo como
rural, em que pese que campo e cidade possuam suas diferenças e especificidades. Os
Textos presentes neste livro deixam claro que as relações entre rural/urbano e
campo/cidade são complexas, pois envolvem também as relações sociais e a
historicidade dos fatos.
Diante destas leituras é possível compreender que a linha que separa o rural do
urbano é tênue e tem a ver com as iniciativas do mercado e da atuação do Estado,
enquanto agente produtor do espaço urbano. O que significa dizer no caso do Vila Acre,
que esta começa a se desenvolver na medida que foram construídas as casas de segunda

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residência da classe média de Rio Branco. Isso contribuiu para a valorização do solo
urbano e, justifica a localização dos principais estabelecimentos comerciais na rodovia.

Conclusões

Em virtude dos fatos mencionados, somos levados à acreditar que o tema do que
é urbano e o que é rural, ainda é um tema muito discutido entre os estudiosos no
assunto. Com mundo globalizado e com um alto grau de dinamismo, a transição que
ocorre entre rural para o urbano, acontece de forma muito mais rápida e eficaz.
O bairro Vila Acre, atualmente é caracterizado como um bairro urbano, ou pelo
menos, um bairro que está em um avançado processo de urbanização. Isso ocorre
devido à um planejamento urbano feito para a Vila Acre, juntamente com, no passado, a
facilidade de compras de terrenos no bairro, com isso houve o aumento populacional e
as melhorias na estrutura do bairro, permitindo a chegada de muitos empreendedores.
Enfim, é certo que regiões que outrora eram rurais, estão cada vez mais se
urbanizando em um processo de evolução social e estrutural.

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Referências
ELIAS, Denise. Relações campo-cidade, reestruturação urbana e regional no Brasil.
XII colóquio internacional de Geocrítica, 2012
LÉFÈBVRE, Henri. A Revolução Urbana. Belo Horizonte: EDUFMG, 2004
LÉFÈBVRE, Henri. De lo rural a lo urbano. 2 ed. Barcelona: Edicciones Península,
1973
LÉFÈBVRE, Henri. O fim da história. Lisboa: Publicações Dom Quixote. 1971
LÉFÈBVRE, Henri. A vida cotidiana do mundo moderno. São Paulo: Ática, 1991
SPOSITO, Maria encarnação Beltrão, WITACHER, Arthur Magon. Cidade e campo:
relações e contradições entre urbano e rural. São Paulo: Expressão Popular, 2010.

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