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Departamento de Matemática (Seção de Álgebra) LMATE (2022/2023)

ISEL Álgebra e Geometria (AG)

TRABALHO DE GRUPO

Isometrias e semelhanças lineares

Informações:

1. O trabalho deve ser realizado por grupos registados no Moodle da UC (2 a 4 alunos);

2. O trabalho, manuscrito e com participação de todos os elementos do grupo, deve ser


entregue em papel até o inı́cio do exame de AG da Época Normal (dia 12 de janeiro);

3. O trabalho deve incluir todos os cálculos e desenvolvimentos matemáticos necessários para a


sua resolução e, caso seja usado apoio computacional, deve incluir também em anexo uma
cópia dos scripts e dos resultados obtidos computacionalmente.

Semelhanças e isometrias lineares

Sejam E e F espaços vetoriais euclidianos. Uma aplicação linear f : E → F diz-se uma semelhança
linear de razão k, com k > 0, se

kf (u)k = kkuk, ∀u ∈ E

As semelhanças lineares de razão 1 dizem-se isometrias lineares.

Representação gráfica de:


• f isometria;
• g semelhança de razão 2.

Exemplo: As homotetias vetoriais de razão λ, hλ : E → E, com λ ∈ R, λ 6= 0, definidas por

hλ (u) = λu, ∀u ∈ E

são semelhanças lineares de razão |λ|.


p p p p
Demonstração: Efetivamente, khλ (u)k = hλ (u) · hλ (u) = (λu) · (λu) = λ2 (u · u) = |λ| (u) · u) = |λ|kuk
Propriedade: f é uma semelhança linear de razão k, k > 0, se e só se

f (u) · f (v) = k 2 (u · v), ∀u, v ∈ E

Em particular, f é uma isometria linear se e só preserva o produto escalar.


Demonstração: Seja f uma semelhança linear de razão k. Se E é um espaço vetorial euclidiano, a partir de ku+vk2 = (u+v)·(u+v)
deduz-se a igualdade:
1
ku + vk2 − kuk2 − kvk2

u·v =
2
Então, aplicando esta igualdade, como f é uma semelhança linear de razão k, ou seja, verifica kf (w)k = kkwk para todo o vetor
w, obtem-se:

1 1 2
kf (u + v)k2 − kf (u)k2 − kf (v)k2 = k ku + vk2 − k 2 kuk2 − k 2 kvk2 = k 2 (u · v)
 
f (u) · f (v) =
2 2

Reciprocamente, se f é uma aplicação tal que f (u) · f (v) = k 2 (u · v), com k > 0, então obtemos diretamente:
p p √
kf (u)k = f (u) · f (u) = k 2 (u · u) = k u · u = kkuk, ∀u ∈ E

Propriedade (representação matricial de isometrias e semelhanças lineares):


Sejam f : E → E uma semelhança linear de razão k, k > 0, com E um espaço vetorial euclidiano e
B uma b.o.n. de E. Então, a representação matricial M de f na base B verifica:

MM T = k 2 In e M T M = k 2 In

Em particular, se f é uma isometria, a representação matricial M de f numa b.o.n. é uma matriz


ortogonal.
Demonstração: Se B = (e1 , . . . , en ) é uma base de E, as colunas da matriz M de f na base B são as coordenadas de
f (e1 ), . . . , f (en ) em B. Se B é uma b.o.n., a entrada (i, j) do produto M T M é o produto escalar f (ei ) · f (ej ). Como f é uma
semelhança de razão k, tem-se que 
0 se i 6= j
f (ei ) · f (ej ) = k 2 ei · ej =

k2 se i = j
1
e portanto M T M = (k 2 )In . Como M é quadrada, esta igualdade implica que M −1 = k2
MT donde MM T = (k 2 )In .

Propriedade (semelhanças lineares em dimensão 2):


Sejam E um espaço vectorial euclidiano de dimensão 2 e f : E → E uma semelhança linear de razão
k, com k > 0. A representação matricial de f numa b.o.n. de E é:
 
a −b
M=
b a

com a, b tais que a2 + b2 = k 2 ,  = 1 (semelhanças diretas) ou  = −1 (semelhanças inversas).

Exemplo: As homotetias vetoriais de razão λ, hλ : R2 → R2 , que são semelhanças lineares diretas


de razão |λ|, têm como representação matricial (em qualquer base!):
 
λ 0
Hλ =
0 λ

Note-se que a homotetia de razão −1, definida por h−1 (x, y ) = (−x, −y ) é de facto uma isometria.
Corolário (isometrias lineares em dimensão 2):
Sejam E um espaço vectorial euclidiano de dimensão 2 e f : E → E uma isometria. A representação
matricial de f numa b.o.n. de E será:
   
a −b a b
(∗) M = ou (∗∗) M = com a2 + b2 = 1
b a b −a
No caso (*) a isometria f representa uma rotação de ângulo θ tal que cos θ = a e sin θ = b (isometria
direta, preserva a orientação dos ângulos).
No caso (**) a isometria f representa uma reflexão na reta vetorial que forma um ângulo 2θ com o
eixo e1 , onde θ é tal que a = cos θ e b = sin θ (isometria inversa, inverte a orientação dos ângulos).

Estudo de isometrias em dimensão superior.


O estudo e classificação de isometrias em dimensão superior pode realizar-se a partir da análise dos
seus valores e subespaços próprios:
Propriedade (valores próprios das isometrias): Seja f : E → E uma isometria. Se λ é um valor
próprio de f (real ou complexo), então |λ| = 1. Em particular, os únicos valores próprios reais que
pode ter uma isometria vetorial são λ = 1 ou λ = −1.
Demonstração Sejam f : E → E uma isometria vetorial e u 6= 0, um vetor próprio de f associado ao valor próprio λ. Então,
kuk = kf (u)k = kλuk = |λ|kuk donde |λ| = 1.

Corolário (isometrias lineares em dimensão 3): Se f : E → E é uma isometria vetorial, com


dim E = 3, então f é uma das seguintes transformações geométricas:
1. Uma rotação de ângulo θ em torno a um eixo dirigido por um vetor u;
Neste caso, f admite como valor próprio real λ = 1 e o subespaço próprio associado, E1 , tem dimensão 1, sendo o eixo
da rotação. O ângulo de rotação θ é tal que cos θ ± i sin θ são os valores próprios complexos (conjugados) de f . Também
é considerada uma rotação, de ângulo 0, o caso em que f admite como valor próprio real λ = 1 com subespaço próprio
associado dim E1 = 3, que corresponde a f = I3 (identidade).

2. Uma reflexão ortogonal num plano vetorial S;


Neste caso, f admite como valores próprios reais λ = 1 e λ = −1, com dim E1 = 2 e dim E−1 = 1. O plano da reflexão
é S = E1 e o eixo de reflexão é E−1 (que é perpendicular a E1 ).

3. Uma reflexão rotatória, que consiste em realizar uma reflexão ortogonal num plano e uma
rotação no eixo ortogonal ao plano;
Neste caso, f admite como valor próprio real λ = −1 e o subespaço próprio associado E−1 tem dimensão 1. O subespaço
E−1 = span(u) é o eixo de rotação, o plano da reflexão é perpendicular ao eixo E−1 e o ângulo de rotação θ é tal que
cos θ ± i sin θ são os valores próprios complexos (conjugados) de f . Também é considerada uma reflexão rotatória, de
ângulo π, o caso em que f admite como valor próprio real λ = −1 com subespaço próprio associado dim E−1 = 3, que
corresponde a f = −I3 .
I. Propriedades básicas das isometrias e semelhanças lineares
Prove, a partir da definição, que:
(a) Toda semelhança linear f : E → F é injetiva. Deduza que f : E → E é bijetiva, se E é de
dimensão finita.
(b) Toda semelhança linear preserva ângulos, isto é, cos(f (u), f (v)) = cos(u, v), ∀u, v ∈ E.
(c) Se f : E → E é uma semelhança linear de razão k > 0, então f −1 : E → E é uma semelhança
linear de razão k1 . Deduza que, se f : E → E é uma isometria, então f −1 é uma isometria.

II. Isometrias e semelhanças lineares num plano euclidiano


Seja R2 o espaço vetorial euclidiano usual.
(a) Determine se a isometria linear f1 : R2 → R2 cuja matriz canónica é:
cos π5 − sin π5
" #
M=
sin π5 cos π5
é uma rotação ou uma reflexão, indicando o ângulo de rotação ou a reta da reflexão.
(b) Prove que a aplicação linear g : R2 → R2 definida por:
g(x, y ) = (4x + 2y , 2x − 4y )
é uma semelhança vetorial. Qual a razão k esta semelhança?
(c) Seja h 1 : R2 → R2 a homotetia definida por h 1 (u) = k1 u, com k > 0 a razão da semelhança
k k
g definida na alı́nea anterior.

(a) lndique as representações matriciais canónicas de g, h 1 e da composição h 1 ◦ g.


k k
(b) Justifique que f = h 1 ◦ g uma isometria do plano e indique o tipo (rotação, reflexão).
k
A igualdade implica que g = hk ◦ f , ou seja, que g é a composição de uma isometria com uma homotetia.

(d) Indique, justificando sucintamente, um exemplo de uma aplicação linear bijectiva f2 : R2 → R2


que não seja uma semelhança linear.

III. Classificação de uma isometria vetorial em dimensão 3


Sejam R3 o espaço vetorial euclidiano usual tridimensional e f3 : R3 → R3 a aplicação linear cuja
matriz canónica é:
 √ 
5 2
0 − 3 − 3
 2√5 √
 √5 − 2√155 1 
3 
5 4 5
5 15 − 23
(a) Verifique que f3 é uma isometria.
(b) Verifique que λ = 1 e/ou λ = −1 são valores próprios de f3 .
NÃO calcule o polinómio caracterı́stico de f3 !!!!!

(c) Calcule a multiplicidade geométrica de λ = 1 e/ou λ = −1, caso sejam valores próprios e
classifique a isometria f3 .

[Projeto2223-GRUPO2]

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