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410 [CAP.

VII: INTEGRAIS DE SUPERFÍCIE

é um espaço
 vetorial de dimensão 2m (soma dos coeficientes bino-
m
miais r quando r varia de 0 a m), ao qual o produto ω ∧ ω̄, acima
definido, pode ser obviamente estendido, de modo a dotar Λ(E ∗ ) de
uma multiplicação associativa (não-comutativa). Com essa operação,
Λ(E ∗ ) torna-se uma álgebra, conhecida como a Álgebra de Grassmann
do espaço vetorial E ∗ .

2 Formas diferenciais
As formas diferenciais de grau r, que estudaremos agora, serão os
integrandos das integrais de superfı́cie. Elas generalizam as formas dife-
renciais de grau 1, consideradas no Capı́tulo IV, não apenas por serem
as suas análogas de dimensão superior, como por estarem definidas em
superfı́cies, em vez de somente abertos do espaço euclidiano.
Encerrado o prelúdio algébrico feito no parágrafo 1, voltaremos a
usar a notação {dx1 , . . . , dxm } para indicar a base canônica de (Rm )∗ ,
dual da base {e1 , . . . , em } ⊂ Rm , onde e1 = (1, 0, . . . , 0), etc.
Para cada conjunto I = {i1 < · · · < ir } ⊂ {1, 2, . . . , m}, escrevere-
mos
dx1 = dxi1 ∧ · · · ∧ dxir .
As formas r-lineares alternadas dxI constituem a base canônica do espaço
vetorial Ar (Rm ). Dada uma lista de r vetores v1 , . . . , vr ∈ Rm , obtemos
uma matriz a = (aij ), com m linhas e r colunas, na qual a j-ésima
coluna é o vetor vj = (a1j , . . . , amj . Neste caso,

dxI (v1 , . . . , vr ) = det(aI ),

onde aI é a matriz r×r obtida de a selecionando-se as linhas cujos ı́ndices


pertencem ao conjunto I. Geometricamente, dxI (v1 , . . . , vr ) é o volume
r-dimensional (orientado) da projeção do paralelepı́pedo [v1 , . . . , vr ] so-
bre o subespaço r-dimensional de Rm que tem {ei1 , . . . , eir } como base
positiva. (Veja Exercı́cio 2.2.)
Consideremos m = 3. A base canônica de (R3 )∗ = A1 (R3 ) é formada
pelos funcionais dx, dy, dz, enquanto que {dx ∧ dy, dy ∧ dz, dx ∧ dz} é
a base canônica de A2 (R3 ). Dados os vetores u = (a1 , a2 , a3 ) e v =
(b1 , b2 , b3 ) em R3 , temos (dx ∧ dy)(u, v) = a1 b2 − a2 b1 = área orientada
da projeção do paralelogramo [u, v] sobre o plano x, y. Também (dy ∧
dz)(u, v) = a2 b3 − a3 b2 e (dx ∧ dz)(u, v) = a1 b3 − a3 b1 têm interpretações
[SEC. 2: FORMAS DIFERENCIAIS 411

análogas. Note que {dx ∧ dy, dy ∧ dz, dz ∧ dx}, por exemplo, também é
uma base de A2 (R3 ) mas estamos chamando canônica a base anterior,
pois em dxI = dxi1 ∧ · · · ∧ dxir os ı́ndices i1 < · · · < ir são sempre
tomados na ordem crescente. Finalmente, a base canônica de A3 (R3 ) é
formada pelo único elemento dx ∧ dy ∧ dz. Dados u, v, w ∈ R3 , (dx ∧
dy ∧ dz)(u, v, w) é o valor do determinante da matriz 3 × 3 cujas colunas
são os vetores u, v, w.
Uma forma diferencial de grau r num aberto U ⊂ Rm é uma aplicação
ω : U → Ar (Rm ). A cadaPponto x ∈ U , ω faz corresponder a forma
r-linear alternada ω(x) = aI (x)dxI . Assim, a forma diferencial ω de-
I
termina (e é determinada por) funções aI : U → R, chamadas as coorde-
nadas de ω. Para cada subconjunto I = {i1 < · · · < ir } ⊂ {1, 2, . . . , m},
e cada ponto x ∈ U , temos aI (x) = ω(x) · (ei1 , . . . , eir ).

Exemplo 11. Seja U ⊂ R3 um aberto. As formas diferenciais em U


são:
1o¯ ) As funções f : U → R (formas de grau zero).
2o¯ ) As formas de grau 1, ω = adx + bdy + cdz, onde a, b, c são
funções reais definidas em U . Toda forma de grau 1 em U pode ser
identificada a um campo de vetores em U , com as mesmas coordenadas.
3o¯ ) As formas de grau 2, ω = adx∧dy +bdy ∧dz +cdx∧dz. Em geral,
uma forma de grau 2 num aberto U ⊂ Rm é definida por m(m − 1)/2
coordenadas, de modo que não corresponde necessariamente a um campo
de vetores. No caso particular de R3 , temos 3(3 − 1)/2 = 3, por isso é
possı́vel associar a ω o campo de vetores de coordenadas a, b, c. Isto faz
com que na Análise em R3 não haja necessidade de Álgebra Multilinear.
4o¯ ) As formas de grau 3, ω = adx ∧ dy ∧ dz, que também correspon-
dem a funções a : U → R.
Diz-se que a forma ω é de classe C k quando cada coordenada aI
é uma função de classe C k . A fim de que ω ∈ C k , é necessário e
suficiente que, dados arbitrariamente v1 , . . . , vr ∈ Rm , a função x 7→
ω(x)(v1 , . . . , vr ) seja de classe C k no abertoPU . Com efeito, pondo cI =
dxI (v1 , . . . , vr ), temos ω(x) · (v1 , . . . , vr ) = aI (x) · cI , logo a condição
I
é necessária. Reciprocamente, como aI (x) = ω(x) · (ei1 , . . . , eir ), a
condição é suficiente.
Uma forma diferencial de grau r numa superfı́cie m-dimensional
412 [CAP. VII: INTEGRAIS DE SUPERFÍCIE

M ⊂ Rn é uma aplicação

ω : x ∈ M 7→ ω(x) ∈ Ar (Tx M ),

que associa a cada ponto x ∈ M uma forma r-linear alternada ω(x) no


espaço vetorial tangente Tx M .
Se r = 0, uma forma diferencial de grau zero em M é simplesmente
uma função real ω : M → R.
Seja ϕ : U0 → U uma parametrização  de um aberto U ⊂ M . Em
∂ϕ ∂ϕ
cada ponto x = ϕ(u) ∈ U , temos a base (u), . . . , (u) ⊂ Tx M .
∂u1 ∂um
Usaremos a notação {du1 , . . . , dum } ⊂ (Tx M )∗ para indicar a base dual.
Na realidade, du1 , . . . , dum são formas diferenciais de grau 1 em U :
para cada ponto x ∈ U , temos os funcionais lineares du1 (x), . . . , dum (x),
pertencentes a (Tx M )∗ . Usamos a notação simplificada dui , em vez de
dui (x), pois não há perigo de confusão.
Em cada ponto x = ϕ(u) ∈ U , as r-formas duI = dui1 ∧ · · · ∧ duir ,
com I = {i1 < · · · < ir }, constituem uma base de Ar (Tx M ). Dada uma
forma diferencial ω, de grau r em M , podemos então escrever, para cada
ponto x = ϕ(u) ∈ U :
X
ω(x) = ω(ϕ(u)) = aI (u)duI .
I

Assim, a forma ω define, para cada parametrização


 ϕ : U0 → U em
M , as funções aI : U0 → R, em número de m r . Elas são chamadas as
coordenadas da forma ω relativamente à parametrização ϕ. Pondo, por
∂ϕ
simplicidade, wi = (u), temos aI (u) = ω(ϕ(u)) · (wi1 , . . . , wir ), para
∂ui
todo u ∈ U0 .
Seja agora ψ : V0 → V outra parametrização em M , com U ∩ V 6= ∅.
Para todo x = ϕ(u) = ψ(v) ∈ U ∩ V , temos as bases duais
 
∂ψ ∂ψ
(v), . . . , (v) ⊂ Tx M e {dv1 , . . . , dvm } ⊂ (Tx M )∗ ,
∂v1 ∂vm

que se relacionam com as bases determinadas por ϕ do seguinte modo:


m
X ∂vi ∂ψ m
X
∂ϕ ∂vi
= · e dvi = duj .
∂uj ∂uj ∂vi ∂uj
i=1 j=1
[SEC. 2: FORMAS DIFERENCIAIS 413

Nas igualdades acima, (∂vi /∂uj ) é a matriz jacobiana da mudança de


parametrização ψ −1 ◦ ϕ, calculada no ponto u, a derivada ∂ϕ/∂uj é
tomada no ponto u e ∂ψ/∂vi no ponto v = ψ −1 (ϕ(u)).
A parametrização ψ determina em Ar (Tx M ) a base constituida pelas
r-formas dvI = dvi1 ∧ · · · ∧ dvir .
PeloPque vimos noP parágrafo 1, se x = ϕ(u) = ψ(v) ∈ U ∩ V e
ω(x) = aJ (u)duJ = bI (v)dvI então
J I

X  
∂vI
(*) aJ (u) = det bI (v),
∂uJ
I

∂vi
onde (∂vI /∂uJ ) é a matriz r × r formada pelos elementos (v) tais
∂uj
que i ∈ I e j ∈ J.
Nos termos do Cálculo Tensorial clássico, uma forma diferencial de
grau r numa superfı́cie M seria uma aplicação que a cada parametrização
ϕ : U0 → U em M associaria m r funções aJ : U0 → R, chamadas as
coordenadas da forma relativamente a ϕ, de tal modo que se à parame-
trização ψ : V0 → V correspondem as funções bI : V0 → R e ϕ(u) = ψ(v),
então valem as igualdades (*), chamadas as “fórmulas de mudança de
coordenadas”.
Convém destacar o importante caso particular em que r = m, ou
seja, o grau da forma é igual à dimensão da superfı́cie. Neste caso, a
forma tem apenas uma coordenada em cada parametrização. Assim,
para todo ponto x = ϕ(u) = ψ(v) ∈ U ∩ V , temos

ω(x) = a(u)du1 ∧ · · · ∧ dum = b(v)dv1 ∧ · · · ∧ dvm ,

onde as funções a : U0 → R e b : V0 → R cumprem


 
∂vi
(**) a(u) = det · b(v).
∂uj

Acima, u ∈ ϕ−1 (U ∩ V ), v = (ψ −1 ◦ ϕ)(u) e det. (∂vi /∂uj ) é o determi-


nante jacobiano do difeomorfismo ψ −1 ◦ ϕ, calculado no ponto u.
Seja M uma superfı́cie de classe C s . Uma forma diferencial ω, de
grau r em M , diz-se de classe C k (k < s) quando M pode ser coberta por
imagens U de parametrizações ϕ : U0 → U , de classe C k , relativamente
às quais se tem ω = Σ aI duI , as funções aI : U0 → R sendo todas de
414 [CAP. VII: INTEGRAIS DE SUPERFÍCIE

classe C k . As fórmulas de mudança (*) mostram que se as coordenadas


de ω numa parametrização ψ ∈ C s são funções de classe C k (k < s)
então elas ainda serão de classe C k em qualquer outra parametrização
ϕ ∈ C s com Im(ϕ) ∩ Im(ψ) 6= ∅. Uma forma de grau zero e classe C k
em M é simplesmente uma função f : M → R, de classe C k .
As fórmulas de mudança de coordenadas exprimem a “invariância”das
formas diferenciais. Seu caso mais simples (**), por exemplo, assegura
que a integral de uma forma de grau m esteja bem definida sobre uma
superfı́cie orientada de dimensão m, como será visto agora.
Consideraremos apenas um caso particular dessa noção de integral de
superfı́cie. A situação geral será reduzida a esta, mediante as partições
da unidade, no parágrafo 6.
O suporte de uma forma diferencial ω numa superfı́cie M é o fecho
(relativamente a M ) do conjunto dos pontos x ∈ M tais que ϕ(x) 6=
0. Escreveremos supp.ω para representar o suporte de ω. Assim, x ∈
supp.ω significa que toda vizinhança de x contém pontos y tais que
ω(y) 6= 0. Contrariamente, x ∈ / supp.ω quer dizer que existe uma vizi-
nhança V de x em M tal que ω(y) = 0 para todo y ∈ V . Por definição,
o suporte de ω é sempre um subconjunto fechado de M . Se a forma
ω é contı́nua e ω(x) 6= 0 então ω é diferente de zero numa vizinhan-
ça de x, logo x pertence ao interior de supp. ω (relativamente a M ).
Noutras palavras, se ω ∈ C 0 e x é um ponto da fronteira de supp. ω
então ω(x) = 0, embora seja x ∈ supp. ω.
Definiremos agora a integral de uma forma contı́nua ω, de grau m,
com suporte compacto, sobre uma superfı́cie orientada M , de dimensão
m, no caso particular em que supp. ω está contido na imagem U de uma
parametrização positiva ϕ : U0 → U .
Em termos dessa parametrização, tem-se ω(x) = a(u)du1 ∧ · · · ∧ dum
para todo x = ϕ(u) ∈ U , onde a função contı́nua a : U0 → R tem suporte
compacto, igual a ϕ−1 (supp. ω). Por definição, pomos
Z Z
ω= a(u)du,
M K
onde K ⊂ Rm é qualquer compacto J-mensurável, contido em U0 e
contendo o suporte de a. (Por exemplo: cubra o compacto supp. a com
um número finito de cubos fechados, contidos em U0 , e chame de K
a reunião desses cubos.) Se quisermos, poderemos retirar a exigência
K ⊂ U0 (mantendo supp. a ⊂ K!), desde que consideremos a como
uma função contı́nua definida em K, igual a zero nos pontos de K − U0 .
[SEC. 2: FORMAS DIFERENCIAIS 415

Evidentemente, a escolha
R do conjunto K nas condições acima não
afeta o valor da integral K a(u)du. R
Resta entretanto mostrar que M ω, definida da maneira acima, não
depende da escolha da parametrização positiva ϕ.
Com efeito, seja ψ : V0 → V outra parametrização positiva em M ,
com supp. ω ⊂ V e ω(x) = b(v)dv1 ∧ · · · ∧ dvm para todo x = ψ(v) ∈ v.
A função b : V0 → R é contı́nua, seu suporte é igual a ψ −1 (supp. ω) e,
para todo u ∈ ϕ−1 (U ∩ V ), tem-se a(u) = J(u) · b(v), onde J(u) é o
valor do determinante jacobiano de ψ −1 ◦ ϕ no ponto u e v = ψ −1 ϕ(u).R
Observemos que J(u) > 0 para todo u ∈ ϕ−1 (U ∩V ). Para calcular M ω
em termos da parametrização ϕ, usemos um compacto J-mensurável
R K,
−1 −1
com ϕ (supp. ω) ⊂ K ⊂ ϕ (U ∩ V ) e, para calcular M ω em termos
de ψ, usemos o compacto J-mensurável L = ψ −1 ϕ(K). Pelo Teorema
de Mudança de Variáveis,
Z Z Z
b(v)dv = b(ψ −1 ϕ(u)) · J(u)du = a(u)du.
L K K
R
Isto mostra que a integral de superfı́cie M ω está bem definida, sem-
pre que ω seja uma forma diferencial contı́nua de grau m, com suporte
compacto, contido numa vizinhança parametrizada em uma superfı́cie
orientada m-dimensional M . R
No parágrafo 6 definiremos a integral M ω sob condições mais gerais
para a forma ω.
Mostraremos agora que toda aplicação diferenciável f : M → N in-
duz uma transformação linear ω 7→ f ∗ ω, a qual leva formas de grau
r na superfı́cie N em formas de grau r na superfı́cie M . Essa trans-
formação é uma das coisas que tornam úteis as formas diferenciais como
instrumentos para o estudo das aplicações de uma superfı́cie noutra.
Seja, então, f : M → N de classe C k (k ≥ 1). Dada a forma ω, de
grau r sobre N , definiremos a forma f ∗ ω, de grau r sobre M , pondo
para cada x ∈ M e cada r-lista de vetores w1 , . . . , wr ∈ Tx M ,

[(f ∗ ω)(x)](w1 , . . . , wr ) = ω(f (x)) · (f ′ (x) · w1 , . . . , f ′ (x) · wr ).

Como sabemos, a aplicação f : M → N possui, em cada ponto


x ∈ M , uma derivada, que é uma transformação linear f ′ (x) : Tx M →
Tf (x) N . Esta, por sua vez, induz uma transformação linear
′ ∗
[f (x)] : Ar (Tf (x) N ) → Ar (Tx M ), como foi visto no parágrafo 1. De
acordo com a definição dada ali, temos (f ∗ ω)(x) = [f ′ (x)]∗ · ω(f (x)).
416 [CAP. VII: INTEGRAIS DE SUPERFÍCIE

No caso de uma forma de grau zero, isto é, de uma função g : N → R,


temos f ∗ (g) = g ◦ f .
As propriedades abaixo resultam imediatamente dos fatos análogos
sobre formas r-lineares alternadas:
1. f ∗ (ω + ω̄) = f ∗ ω + f ∗ ω̄;
2. f ∗ (c · ω) = c · f ∗ ω, c ∈ R;
3. f ∗ (ω ∧ ω̄) = f ∗ ω ∧ f ∗ ω̄;
4. (g ◦ f )∗ ω = f ∗ (g ∗ ω).
No caso 4), temos três superfı́cies M , N , P , duas aplicações f : M →
N , g : N → P , e uma forma ω em P . Como caso particular de 3), tem-se
o produto λ·ω de uma forma ω em N por uma função λ : N → R. Então
f ∗ (λ·ω) = f ∗ λ·f ∗ ω = (λ◦f )·f ∗ ω. Resulta de 4) que se f : M → N é um
difeomorfismo, cujo inverso é g : N → M , então ω 7→ f ∗ ω é uma bijeção
das formas em N sobre as formas em M , cuja inversa é a aplicação
α 7→ g ∗ α.
Em termos de coordenadas:
Sejam ϕ : U0 → U ⊂ M , ψ : V P0 → V ⊂ N parametrizações de classe
k
C , com f (U ) ⊂ V , e ω(y) = bI (v)dvI para todo y = ψ(v) ∈ V .
I P
Então, para qualquer x = ϕ(u) ∈ U , temos (f ∗ ω)(x) = aJ (u)duJ ,
J
onde as coordenadas aJ : U0 → R são determinadas a partir das coorde-
nadas bI : V0 → R pelas igualdades

X  
∂vI
(*) aJ (u) = det (u) bI (v),
∂uJ
I

onde u ∈ U0 , v = (ψ −1 ◦ f ◦ ϕ)(u), (∂vi /∂uj ) é a matriz jacobiana da


derivada ψ −1 ◦ f ◦ ϕ : U0 → V0 no ponto u, enquanto que det(∂vI /∂uJ )
é o determinante da submatriz r × r obtida tomando-se os ∂vi /∂uj com
i ∈ I e j ∈ J.
A fórmula acima resulta do cálculo análogo que fizemos no parágrafo 1
para o caso algébrico, se observarmos que a matriz da transformação li-
near f ′ (x) : Tx M → Ty N , y = f (x), relativamente às bases
   
∂ϕ ∂ϕ ∂ψ ∂ψ
(u), · · · , (u) ⊂ Tx M e (v), · · · , (v) ⊂ Ty N,
∂u1 ∂um ∂v1 ∂vn

onde y = ψ(v), é precisamente a matriz (∂vi /∂uj ).


[SEC. 2: FORMAS DIFERENCIAIS 417

Em particular, para cada I, temos


X  
∗ ∂vI
f (dvI ) = det duj .
∂uJ
J

Assim, para passar de ω =  Σ bI dvI para f ∗ ω = Σ aj duJ , basta substituir


P ∂vI
cada dvi por det duJ . Isto significa que, do ponto de vista
J ∂uJ
computacional, a operação ω 7→ f ∗ ω é simplesmente uma mudança de
variáveis y = f (x), ou v = (ψ −1 f ϕ)(u).
Segue-se da fórmula de passagem das coordenadas bI para as aJ que,
se ω é uma forma de grau ≥ 1 e classe C k em N e f : M → N é uma
aplicação de classe C k+1 , então f ∗ ω é uma forma de classe C k em M .
Observações: 1. Nas fórmulas (*), a fim de obter a expressão de cada
aJ como uma função em U0 , podemos substituir v por (ψ −1 f ϕ)(u),
resultando assim as funções b̄I (u) = bI ((ψ −1 f ϕ)(u))= bI (v) no segundo
membro.
2. A forma f ∗ ω chama-se às vezes o pull-back da forma ω por meio
de f .
Exemplo 12. Como primeiro exemplo de forma induzida por uma
aplicação, seja ω uma forma de grau r na superfı́cie M . Seja ϕ : U0 → U
uma parametrização em M . Em cada ponto x = ϕ(u) ∈ U , os veto-
∂ϕ ∂ϕ
res (u), . . . , (u) constituem uma base do espaço vetorial tan-
∂u1 ∂um
gente Tx M , cuja dual é {du1 , . . . , dum } ⊂ (Tx M )∗ . Escrevendo duI =
dui1 ∧ · · · ∧ duir , com I = {i1 < · · · < ir }, temos ω(x) = Σ aI (u)duI .
Se considerarmos ϕ como uma aplicação diferenciável ϕ : UP 0 → M , afir-
−1
mamos que, para todo u = ϕ (x) ∈ U0 , vale (ϕ ω)(u) = ∗ aI (u)dxI .
I
Aqui dxI = dxi1 ∧ · · · ∧ dxir , onde {dx1 , . . . , dxm } é a base canônica de
∂ϕ
(Rm )∗ , dual de {e1 , . . . , em } ⊂ Rm . Sabemos que ϕ′ (u) · ei = (x).
∂ui
Portanto:
  (
∂ϕ 0 se i 6= j
(ϕ∗ dui )(ej ) = dui (ϕ′ (u) · ej ) = dui = .
∂uj 1 se i = j

Isto mostra que ϕ∗ dui = dxi . Mais geralmente, se I={i1<· · · < ir }, vale:
 
∗ ∂ϕ ∂ϕ
[(ϕ ω)(u)](ei1 , . . . , eir ) = ω(x) (u), . . . , (u) = aI (u).
∂ui1 ∂uir
418 [CAP. VII: INTEGRAIS DE SUPERFÍCIE

Logo ϕ∗ ω = Σ aI dxI , como querı́amos mostrar.


Exemplo 13. Outro exemplo de forma induzida (com as mesmas
notações do Ex. 12) é o seguinte. Se ω|U = Σ aI duI na parametrização
ϕ, ω|V = Σ bJ dvJ na parametrização ψ e ξ = ψ −1 ◦ ϕ : ϕ−1 (U ∩ V ) →
ψ −1 (U ∩V ) é a mudança de parametrização, então ξ ∗ (Σ bJ dxJ )=Σ aI dxI .
Com efeito, temos ϕ = ψ ◦ ξ, ϕ∗ ω = Σ aI dxI e ψ ∗ ω = Σ bJ dxJ . Logo,

Σ aI dxI = ϕ∗ ω = ξ ∗ ψ ∗ ω = ξ ∗ (Σ bJ dxJ ).

Exemplo 14. Sejam M , N superfı́cies com M ⊂ N . Indiquemos com


i : M → N a aplicação de inclusão, i(x) = x para todo x ∈ M . Se ω é
uma forma em N , i∗ ω é uma forma em M , chamada a restrição de ω
a M . Para todo x ∈ M , temos Tx M ⊂ Tx N e (i∗ ω)(x) é a restrição de
ω(x) a r-listas de vetores pertencentes a Tx M . Por exemplo, se N = R3 ,
M = {(0, y, z) ∈ R3 } e ω = dx∧dy, então i∗ ω = 0. Outro caso particular
de restrição: seja ω = ady∧dz+bdz∧dx+cdx∧dy uma forma contı́nua de
grau 2, definida no aberto A ⊂ R3 . Seja M uma superfı́cie orientada (bi-
dimensional) contida em A. Em termos de uma parametrização ϕ : U0 →
U em M , com ϕ(u, v) = (x(u, v), y(u, v), z(u, v)), a restrição i∗ ω assume
a expressão
 
∗ ∂(y, z) ∂(z, x) ∂(x, y)
i ω = ā · det. + b̄ · det. +c̄ · det. du∧dv,
∂(uv) ∂(u, v) ∂(u, v)
 
∂y ∂z
∂(y, z)   ∂u ∂u 

onde ā = a ◦ ϕ, = , etc.
∂(u, v)  ∂y ∂z 
∂v ∂v
O coeficiente de du ∧ dv é o produto interno do vetor F = (ā, b̄, c̄)
∂ϕ ∂ϕ
pelo vetor normal N (u, v) = × (vide Exemplo 4). Por definição,
R R ∗ ∂u ∂v

põe-se M ω = M i ω se i ω tem suporte compacto, contido em U ).
Então Z Z
ω= hF, N idudv,
M U0

como nos livros de Cálculo. R


De um modo geral, a definição que demos para M ω, onde ω tem
suporte compacto, contido na imagem da parametrização positiva
[SEC. 2: FORMAS DIFERENCIAIS 419

ϕ : U0 → U , permite que escrevamos (considerando U e U0 como su-


perfı́cies m-dimensionais):
Z Z Z
ω= ω= ϕ∗ ω.
M U U0

Exemplo 15. (A forma elemento de volume.) Seja M uma superfı́cie


orientada. Para todo ponto x ∈ M , o espaço vetorial tangente Tx M
possui um produto interno (já que é um subespaço de Rn ) e é orien-
tado: se ϕ : U0 → U é umaparametrização positiva  em M , em cada
∂ϕ ∂ϕ
ponto x = ϕ(u) ∈ U a base (u), . . . , (u) define a orientação
∂u1 ∂um
positiva de Tx M . Logo podemos introduzir uma forma diferencial ω,
de grau m = dim M pondo, para cada x ∈ M , ω(x) = elemento
de volume do espaço vetorial Tx M , nos termos do Exemplo 9. Para
x ∈ M e w1 , . . . , wm ∈ Tx M , temos ω(x)(w1 , . . . , wm ) = volume ori-
entado do paralelepı́pedo [w1 , . . . , wm ]. Se M ∈ C k e ϕ : U0 → U é
uma parametrizaçãopde classe C k em M então, para cada x = ϕ(u) ∈
U , temos ω(x) = g(u)du1 ∧ · · · ∧ dum , onde g(u) = det(gij (u)),
∂ϕ ∂ϕ
gij (u) = h (u), (u)i, e {du1 , . . . , dum } ⊂ (Tx M )∗ é a base dual
 ∂u
 i ∂u j
∂ϕ
de (u) . Isto mostra que a forma ω é de classe C k−1 . No caso
∂ui
particular em que m = 2, escrevemos (u, v) ∈ U0 , em vez de (u1 , u2 ).
∂ϕ ∂ϕ ∂ϕ ∂ϕ
Nesta situação, é tradicional pôr E = h , i, F = h , i e
∂u ∂u ∂u ∂v
∂ϕ ∂ϕ
G = h , i. Então o elemento de área da superfı́cie M se es-
∂v ∂v √
creve como ω = EG − F 2 du ∧ dv. Quando m = 1, uma parame-
trização positiva da curva orientada M tem a forma ϕ : J0 → J, onde
J0 é um intervalo aberto da reta. Em cada ponto x = ϕ(t) ∈ J, te-
mos ω(x) = |ϕ′ (t)|dt, onde ϕ′ (t) ∈ Tx M é o vetor básico associado
à parametrização ϕ e {dt} ⊂ (Tx M )∗ é a base dual de {ϕ′ (t)}. A
forma ω = |ϕ′ (t)|dt chama-se o elemento de arco da curva M . Para
todo vetor tangente w ∈ Tx M , podemos escrever w = α · ϕ′ (t), donde
|α| = |w|/|ϕ′ (t)|. Então ω(x) · w = |ϕ′ (t)|dt(w) = |ϕ′ (t)| · α = ±|w|,
o sinal sendo positivo se α > 0, isto é, se w tem a mesma orientação
de ϕ′ (t), e negativo no caso contrário. Mencionemos, finalmente, que se
U ⊂ Rm é um aberto, munido de sua orientação natural, o elemento de
volume de U é a forma diferencial ω = dx1 ∧ · · · ∧ dxm .
420 [CAP. VII: INTEGRAIS DE SUPERFÍCIE

Exemplo 16. (Elemento de volume de uma hiperfı́cie.) Seja M ⊂ Rm+1


uma hiperfı́cie orientada, de classe C k . Existe um campo unitário de ve-
tores normais v : M → Rm+1 , de classe C k−1 , tal que {w1 , . . . , wm } ⊂
Tx M é uma base positiva se, e somente se, det(v(x), w1 , . . . , wm ) > 0.
[Aqui, (v(x), w1 , . . . , wm ) é a matriz (m + 1) × (m + 1) cujas colunas
são os vetores indicados.] Se w1 , . . . , wm são m vetores quaisquer do
espaço vetorial tangente Tx M , como v(x) é perpendicular a Tx M e
tem comprimento 1, o volume do paralelepı́pedo [w1 , . . . , wm ] é igual
a | det(v(x), w1 , . . . , wm )|. Se ω é o elemento de volume de M , temos
então, para todo x ∈ M e quaisquer w1 , . . . , wm ∈ Tx M :

ω(x)(w1 , . . . , wm ) = det(v(x), w1 , . . . , wm ),

já que o sinal do determinante coincide com aquele da definição de ω.


Desenvolvendo esse determinante ao longo de sua primeira coluna v(x) =
(v1 (x), . . . , vm+1 (x)), obtemos
m+1
X
ω(x)(w1 , . . . , wm ) = (−1)i+1 vi (x) · Ai ,
i=1

onde Ai é o determinante da matriz m×m, obtida omitindo-se a i-ésima


linha da matriz (m+1)×m cujas colunas são w1 , . . . , wm . Se escrevermos
ci ∧· · ·∧dxm+1 em vez de dx1 ∧· · ·∧dxi−1 ∧dxi+1 ∧· · ·∧dxm+1 ,
dx1 ∧· · ·∧ dx
veremos imediatamente que
ci ∧ · · · ∧ dxm+1 )(w1 , . . . , wm ).
Ai = (dx1 ∧ · · · ∧ dx

Por conseguinte
ω(x) · (w1 , . . . , wm ) =
"m+1 #
X
= ci ∧ · · · ∧ dxm+1 (w1 , . . . , wm ).
(−1)i+1 vi (x)dx1 ∧ · · · ∧ dx
i=1

Isto significa que


ci ∧ · · · ∧ dxm+1 .
ω(x) = Σ(−1)i+1 vi (x) · dx1 ∧ · · · ∧ dx

Para calcular a normal unitária v(x) em casos particulares, é con-


veniente observar que se ϕ : U0 → U é uma parametrização positiva em
∂ϕ
M e x = ϕ(u), então v(x) = N (x)/|N (x)|, onde N (x) = (u) × · · · ×
∂u1
[SEC. 2: FORMAS DIFERENCIAIS 421

∂ϕ
(u), pois este produto vetorial é perpendicular ao espaço tangente
∂um
Tx M e tem o sentido de v(x). Em termos dos parâmetros u1 , . . . , um ,
temos, na realidade,

∂ϕ ∂ϕ
ω(x) = (u) × · · · × (u) du1 ∧ · · · ∧ dum , x = ϕ(u),
∂u1 ∂um

pois o comprimento do produto vetorial de m vetores é o volume do


paralelepı́pedo que tem esses vetores como arestas e sabemos que ω(x) =
a(u)du1 ∧ · · · ∧ dum , onde
 
∂ϕ ∂ϕ
a(u) = ω(x) · (u), . . . , (u) =
∂u1 ∂um
 
∂ϕ ∂ϕ
= volume do paralelepı́pedo (u), . . . , (u) .
∂u1 ∂um
Em particular, seja M = {x ∈ Rm+1 ; |x − a| = r} a esfera de centro
a ∈ Rn+1 e raio r > 0. Então, para cada ponto x ∈ M , podemos tomar
x−a x−a
v(x) = = (normal unitária exterior). Neste caso, obtemos
|x − a| r

m+1
X xi − ai ci ∧ · · · ∧ dxm+1 .
ω= (−1)i+1 dx1 ∧ · · · ∧ dx
r
i=1

A expressão acima define uma forma diferencial de grau m, cujo domı́nio


é todo o espaço euclidiano Rm+1 . Sua restrição à esfera de centro a =
(a1 , . . . , am+1 ) e raio r é o elemento de volume dessa esfera. Quando
m = 3, e S é a esfera de centro no ponto (a, b, c) e raio r em R3 , o
elemento de volume de S é a restrição a S da forma diferencial

x−a y−b z−c


ω= dy ∧ dz + dz ∧ dx + dx ∧ dy.
r r r

Suponhamos agora que M = f −1 (c) seja a imagem inversa de um


valor regular c ∈ R por uma função f : U → R, de classe C k no aberto
U ⊂ Rm+1 . Neste caso, a orientação de M pode ser definida pelo campo
unitário de vetores normais v(x) = grad f (x)/| grad f (x)|, de modo que
s  
∂f P ∂f 2
vi (x) = , as derivadas parciais sendo calculadas no
∂xi i ∂xi
422 [CAP. VII: INTEGRAIS DE SUPERFÍCIE

ponto x. Então o elemento de volume de M é a forma


m+1
X ∂f /∂xi ci ∧ · · · ∧ dxm+1 ,
ω= (−1)i+1 p dx1 ∧ · · · ∧ dx
Σ(∂f /∂x )2
i=1 i

restrita a M .
Finalmente, a superfı́cie M pode ser o gráfico de uma função g : U →
R, definida no aberto U ⊂ Rm . Então M = f −1 (0), onde f : U × R → R,
definida f (x, t) = t − g(x) tem 0 como valor regular. Neste caso, para
m = 2, por exemplo, vemos que o elemento de área da superfı́cie M ,
gráfico da função z = g(x, y) é dado pela forma de grau 2

∂g ∂g
dz ∧ dy + dx ∧ dz + dx ∧ dy
∂x ∂y
ω= s   2
∂g 2 ∂g
+ +1
∂x ∂y
 
∂g ∂g
pois grad f = − , − , 1 .
∂x ∂y
Uma forma ω de grau m numa superfı́cie orientada m-dimensional
M diz-se positiva quando, para todo ponto x ∈ M e toda base positiva
{w1 , . . . , wm } ⊂ Tx M , tem-se ω(x)(v1 , . . . , vm ) > 0.
Neste caso, dada qualquer parametrização positiva ϕ : U0 → U em
M , tem-se ω(x) = a(u)du1 ∧ · · · ∧ du  m , com a(u) > 0 para todo
∂ϕ ∂ϕ
u = ϕ−1 (x) ∈ U0 , pois a(u) = ω(x) · (u), . . . , (u) e a base
  ∂u 1 ∂u m
∂ϕ
(u) é positiva. Reciprocamene, se a(u) > 0 para toda parame-
∂ui
trização positiva ϕ, então, dada arbitrariamente uma base positiva de
P ∂ϕ
vetores wj = αij ∈ Tx M , tem-se
i ∂u i
 
∂ϕ ∂ϕ
ω(w)(w1 , . . . , wm ) = det(αij ) · ω(x) ,..., =
∂u1 ∂um
= det(αij ) · a(u) > 0,

logo a forma ω é positiva.


Em toda superfı́cie orientada de classe C k existe uma forma positiva
de classe C k−1 , a saber, o elemento de volume.
[SEC. 2: FORMAS DIFERENCIAIS 423

Reciprocamente, se existe numa superfı́cie m-dimensional M uma


forma contı́nua ω, de grau m, tal que ω(x) 6= 0 para todo x ∈ M então
M é orientável (e há uma orientação de M que torna ω positiva). Com
efeito, seja A o conjunto das parametrizações ϕ : U0 → U em M tais
que, para todo x = ϕ(u) ∈ U tem-se ω(x) = a(u)du1 ∧ · · · ∧ dum , com
a(u) > 0. Pela continuidade de ω (e portanto de a), se U0 é conexo
e a(u) > 0 em algum ponto u ∈ U0 então a > 0 em todos os pontos
de U0 . Daı́ resulta imediatamente que A é um atlas. Além disso, se
ϕ : U0 → U e ψ : V0 → V pertencem a A, com U ∩ V 6= ∅ então
a(u) = det(ψ −1 ◦ϕ)(u)·b(v), para todo u ∈ ϕ−1 (U ∩V ) e v = (ψ −1 ◦ϕ)(u).
Como a(u) > 0 e b(v) > 0, segue-se que det(ψ −1 ◦ ϕ)(u) > 0 para todo
u ∈ ϕ−1 (U ∩ V ), logo o atlas A é coerente.

Exemplo 17 (O elemento de ângulo sólido.) Definimos agora uma


forma diferencial de grau m em Rm+1 − {0}, a qual desempenha um
papel análogo ao da forma elemento de ângulo δθ em R2 − {0} e, na
realidade, reduz-se a ela quando m = 1.
Para começar, consideremos a aplicação f : Rm+1 − {0} → S m que
x
chamaremos de projeção radial e definiremos por f (x) = ·
|x|
Em cada ponto x 6= 0 de Rm+1 , a derivada de f é uma transformação
linear f ′ (x) : Rm+1 → Tf (x) S m , cujo valor f ′ (x) · w num vetor arbitrário
w ∈ Rm+1 vamos determinar.
Se w é múltiplo de x então f ′ (x) · w = 0 pois f é constante (igual a
x/|x|) na semi-reta 0x.
Como todo w ∈ Rm+1 é soma, w = c · x + w0 , de um múltiplo de x
e um (único) vetor w0 , perpendicular a x (chamado a “projeção de w
perpendicularmente a x ”), vemos que f ′ (x) · w = f ′ (x) · w0 . Mas w0 ,
sendo perpendicular a x, é da forma w0 = λ′ (0), onde λ é um caminho
com λ(0) = x e |λ(t)| constante, igual a |x|. Então (f ◦ λ)(t) = λ(t)/|x|,
donde

λ′ (0) w0 w−c·x
f ′ (x) · w = f ′ (x) · w0 = (f ◦ λ)′ (0) = = = ·
|x| |x| |x|

Chamaremos elemento de ângulo sólido a forma diferencial α = f ∗ ω


em Rm+1 − {0}, induzida pelo elemento de volume ω da esfera S m (ori-
entada pela normal externa) através da projeção radial f .
424 [CAP. VII: INTEGRAIS DE SUPERFÍCIE

Por definição, para x ∈ Rm+1 −{0} e w1 , . . . , wm ∈ Rm+1 arbitrários:


 
x
α(x)(w1 , . . . , wm ) = ω (f ′ (x) · w1 , . . . , f ′ (x) · wm ) =
|x|
 
x w1 − c 1 · x wm − cm · x
= det. , ,..., =
|x| |x| |x|
1
= · det(x, w1 , . . . , wm ),
|x|m+1

pois o valor de um determinante não se altera quando se soma a uma


de suas colunas um múltiplo de outra. Daı́ (como no Exemplo 16) vem:

m+1
X
1 ci ∧ · · · ∧ dxm+1 .
α(x) = (−1)i+1 xi dx1 ∧ · · · ∧ dx
|x|m+1
i=1

xdy − ydx
Em particular, para m = 1, obtemos α(x, y) = , que é a forma
x2 + y 2
elemento de ângulo R2 − {0}, já conhecida desde o Capı́tulo 4.
Com exceção do fator 1/|x|m+1 , a forma α coincide com a forma ω
do Exemplo 16, a qual, restrita a S m , dá o elemento de volume da esfera.
Mas a semelhança acaba aı́. As propriedades de α, como veremos no que
se segue, são bem diferentes das de ω.

3 A diferencial exterior
Há três teoremas clássicos em AnáliseR que generalizam o Teorema
b
Fundamental do Cálculo, segundo o qual a df = f (b) − f (a). Eles são
os seguintes:

Teorema de Green. Seja M ⊂ R2 um compacto cujo bordo é uma


curva ∂M . Se a, b : M → R são funções de classe C 1 então vale a
igualdade
ZZ   Z
∂b ∂a
− dxdy = adx + bdy.
M ∂x ∂y ∂M

Teorema de Stokes. Seja M ⊂ R2 uma superfı́cie compacta cujo bordo


é a curva ∂M . Se a, b, c : M → R são funções de classe C 1 então

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