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O Teorema da aplicação de Riemann

SMA-Funções de uma variável complexa

ICMC-USP
Verão de 2021

December 23, 2021

SMA-Funções de uma variável complexa (ICMC-USP)


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Convergência uniforme em compactos

Dado um aberto U ⊂ C, denotamos por C (U) o espaço das funções


contı́nuas em U com valores em C.
Teorema: Existe uma distância ρ : C (U) × C (U) → R em C (U) tal que:
Uma sequência em C (U) converge uniformemente nas partes
compactas de U se, e somente se, converge segundo a distância ρ;
O espaço métrico (C (U), ρ) é completo;
H(U) é um subconjunto fechado de C (U).

A última afirmação do teorema acima é equivalente à seguinte:

“Se uma sequência (fn )n∈N de funções holomorfas converge uniformemente


nas partes compactas de U para uma função f , então f é holomorfa.”

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Teorema: Se a sequência (fn )n∈N de funções holomorfas converge
uniformemente nas partes compactas de U para uma função f , então a
sequência (fn0 )n∈N de suas derivadas converge uniformemente nas partes
compactas de U para f 0 .

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Um subconjunto S de um espaço métrico M é relativamente compacto se
o fecho S̄ de S é compacto.

Equivalentemente, S é relativamente compacto se, e somente se, toda


sequência em S possui uma subsequência convergente (cujo limite não
pertende necessariamente a S).

Por exemplo, os subconjuntos relativamente compactos de Rn são os


subconjuntos limitados.

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Os subconjuntos relativamente compactos de C (K , M), em que K e M
são espaços métricos, com K compacto, são caracterizados pelo Teorema
de Arzelá-Ascoli:
Teorema: Um subconjunto F ⊂ C (K , M), em que K é compacto, é
relativamente compacto se, e somente se, satisfaz as seguintes condições:
F é equicontı́nuo;
Para todo z ∈ K , o conjunto F(z) = {f (z) : f ∈ F} é relativamente
compacto em M.

Lembramos que um subconjunto F ⊂ C (M1 , M2 ), em que M1 e M2 são


espaços métricos arbitrários, é equicontı́nuo em z0 ∈ M1 se, para todo
 > 0, existe δ > 0 tal que, se z ∈ M1 e d(z0 , z) < δ, então
d(f (z), f (z0 )) <  qualquer que seja f ∈ F.
Diz-se que F é equicontı́nuo em X ⊂ M1 se F é equicontı́nuo em
qualquer ponto de X .
Corolário: Se K ⊂ C é compacto, então F ⊂ C (K ) é relativamente
compacto se, e só se, é equicontı́nuo e F(z) é limitado para todo z ∈ K .
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O Teorema de Montel

Se F ⊂ H(U) é relativamente compacto, diz-se que F é uma famı́lia


normal de funções holomorfas.
Um subconjunto F ⊂ C (U) é localmente limitado se, para todo z0 ∈ U,
existem uma vizinhança V de z0 em U e M = M(V ) > 0 tais que
kf kV ≤ M para qualquer f ∈ F.

Teorema (Montel): F ⊂ H(U) é uma famı́lia normal se, e somente se, é


localmente limitado.

Corolário: Se todos os elementos de F ⊂ H(U) tomam valores em


D(0, K ), K > 0, então F é uma famı́lia normal.

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O Teorema da aplicação de Riemann

Teorema: Todo subconjunto aberto e simplesmente conexo U ⊂ C,


U 6= C, é holomorficamente equivalente ao disco unitário aberto D(0, 1),
ou seja, existe uma bijeção holomorfa h : U → D(0, 1) (cuja inversa
h−1 : D(0, 1) → U é necessariamente holomorfa).

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A única propriedade dos subconjuntos abertos e simplesmente conexos
U ⊂ C que será utilizada na demonstração é a seguinte
Propriedade (∗): Se U ⊂ C é aberto e simplesmente conexo e f : U → C é
uma função que não se anula em U, então f possui uma raiz quadrada
holomorfa em U, ou seja, existe g : U → C holomorfa tal que g 2 = f .

Demonstração do Teorema da aplicação de Riemann:


Seja Σ a classe de todas as aplicações ψ ∈ H(U) tais que ψ é injetiva em
U e ψ(U) ⊂ D(0, 1).
Queremos mostrar que existe ψ ∈ Σ tal que ψ é sobrejetiva.

Mostremos inicialmente que Σ 6= ∅.

Seja w0 ∈ C \ U.
Pela Propriedade (∗), existe ϕ ∈ H(U) tal que ϕ2 (z) = z − w0 para todo
z ∈ U.

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A aplicação ϕ é injetiva:
Se ϕ(z1 ) = ϕ(z2 ), então z1 − w0 = ϕ2 (z1 ) = ϕ2 (z2 ) = z2 − w0 , logo
z1 = z2 .

O mesmo argumento mostra que não podem existir z1 , z2 ∈ U tais que


ϕ(z1 ) = −ϕ(z2 ), ou seja, ϕ(U) não contém pontos antı́podas.

Como ϕ é uma aplicação aberta, ϕ(U) contém um disco aberto D(a, r ),


com 0 < r < |a|.

Como ϕ(U) não contém pontos antı́podas, ϕ(U) não intersecta D(−a, r ).
r
Segue-se que ψ = ∈ Σ.
ϕ+a

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O próximo passo é mostrar que
Fato (∗∗): Se ψ ∈ Σ não é sobrejetiva, dado z0 ∈ U existe ψ1 ∈ Σ tal que
|ψ10 (z0 )| > |ψ 0 (z0 )|.
Demonstração: Seja ϕα : D(0, 1) → D(0, 1), α ∈ D(0, 1), dada por
z −α
ϕα (z) = .
1 − ᾱz
Então ϕα é uma bijeção de D(0, 1) sobre D(0, 1) cuja inversa é ϕ−α .
Suponha que ψ ∈ Σ, α ∈ D(0, 1) e α 6∈ ψ(U).
Então ϕα ◦ ψ ∈ Σ e ϕα ◦ ψ não tem zeros em U;
Logo existe g ∈ H(U) tal que g 2 = ϕα ◦ ψ.
Como na demonstração de que Σ 6= ∅, vemos que g é injetiva; logo g ∈ Σ.

Segue-se que ψ1 = ϕβ ◦ g ∈ Σ, em que β = g (z0 ).

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Denotando w 2 = s(w ), temos

ψ = ϕ−α ◦ s ◦ g = ϕ−α ◦ s ◦ ϕ−β ◦ ψ1 .

Como ψ1 (z0 ) = 0, a regra da cadeia implica que

ψ 0 (z0 ) = F 0 (0)ψ10 (z0 ),

em que F = ϕ−α ◦ s ◦ ϕ−β .


Como F (D(0, 1)) ⊂ D(0, 1),

F (0) = (ϕ−α ◦ s ◦ ϕ−β )(0) = ϕ−α (s(β)) = ϕ−α (s ◦ g (z0 ))


= ϕ−α (ϕα ◦ ψ(z0 )) = ψ(z0 )

e ψ(z0 ) ∈ D(0, 1), temos que |F 0 (0)| ≤ 1 − |ψ(z0 )| < 1.


Portanto |ψ 0 (z0 )| < |ψ10 (z0 )|.

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Fixe z0 ∈ U e defina

η = sup {|ψ 0 (z0 )| : ψ ∈ Σ}.

Pelo Fato (∗∗), se h ∈ Σ é tal que |h0 (z0 )| = η então h é sobrejetiva.


Portanto, a demonstração estará concluı́da se provarmos que uma tal h
existe.
Como |ψ(z)| < 1 para quaisquer ψ ∈ Σ e z ∈ U, a famı́lia Σ é normal pelo
Teorema de Montel.
Pela definição de η, existe uma sequência {ψn } ⊂ Σ tal que |ψn0 (z0 )| → η.
Como a famı́lia Σ é normal, existe uma subsequência de {ψn }, que
denotaremos também por {ψn }, que converge uniformemente nos
subconjuntos compactos de U a uma função h ∈ H(U).
Então {ψn0 } também converge uniformemente a h0 nos subconjuntos
compactos de U. Em particular, |h0 (z0 )| = η.
Como Σ 6= ∅, η > 0, logo h não é constante.

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Como ψn (U) ⊂ D(0, 1) para todo n ∈ N, segue que h(U) ⊂ D(0, 1), e do
Teorema da Aplicação aberta decorre que h(U) ⊂ D(0, 1). Resta mostrar
que h é injetiva.
Fixemos dois pontos distintos z1 , z2 ∈ U.
Sejam α = h(z1 ) e αn = ψn (z1 ), n ∈ N.
Seja D̄ um disco fechado em U com centro em z2 tal que z1 6∈ D̄ e tal que
h − α não se anula no bordo de D̄.
Isto é possı́vel porque os zeros de h − α não têm pontos de acumulação
em U.
As funções ψn − αn convergem para h − α uniformemente em D̄.
Elas não se anulam em D, pois são injetivas e se anulam em z1 .
Decorre do Teorema de Rouché que h − α não se anula em D; em
particular, h(z2 ) 6= h(z1 ).

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