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Universidade Estadual do Goiás (UEG)

Câmpus Nordeste – Sede: FORMOSA


Departamento de Matemática

Plano de Aula
Dados de Identificação
Professor: Hudson Rodrigues Armando
Disciplina: Geometria Não-Euclidiana
Tema: Geometria Hiperbólica – Disco de Poincaré
Data: 12/01/2021
Duração da aula: 50 minutos

1 Objetivos
1.1 Geral
Introduzir as coordenadas polares como ferramenta no cálculo de integrais duplas.

1.2 Específicos

2 Conteúdos
• O que é Geometria Hiperbólica? – Principais conceitos e teoremas;

• A existência de d-linhas;

• A inversão preserva os pontos inversos.

3 Procedimentos metodológicos
Apresentação expositiva do conteúdo e aplicação em exemplos selecionados.

4 Recursos didáticos
• Pincel e quadro.

Referências
[1] BRANNAN, David A.; ESPLEN, M. F.; GRAY, J. J. Geometry 2𝑛𝑑 , 2012.
5 Aula 1
Nesta aula, nos concentraremos em um modelo de geometria hiperbólica do matemático francês Henri
Poincaré. Neste modelo (que geralmente chamaremos de "geometria hiperbólica"para simplificar), o
espaço de pontos é o interior do disco unitário D = 𝑧 : |𝑧| < 1. Todas as figuras nesta geometria serão
desenhadas como aparecem neste disco.

5.1 O que é Geometria Hiperbólica?


Os pontos ou d-pontos (onde 00 𝑑 00 representa ”disco”) na versão de Poincaré da geometria hiperbólica
consistem nos pontos no disco unitário

D = 𝑧 : |𝑧| < 1 = (𝑥, 𝑦) : 𝑥 2 + 𝑦 2 < 1




O contorno de D é representado pelo conjunto de pontos C


que não pertencem à geometria:

C = 𝑧 : |𝑧| < 1 = (𝑥, 𝑦) : 𝑥 2 + 𝑦 2 = 1




A principal característica desta geometria é o conceito de uma 𝑑−𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎, ou uma linha em geometria
hiperbólica.

Definição 1. Uma 𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 é a parte de um círculo generalizado (euclidiano) que encontra C em


ângulos retos e que se encontra em D.

Cada 𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 é parte de um círculo generalizado (euclidiano) que encontra o círculo de fronteira
em dois pontos. Chamamos esses dois pontos de pontos limites da 𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎. Observe que os pontos
de fronteira de uma 𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 não são 𝑑 − 𝑝𝑜𝑛𝑡𝑜𝑠, pois não são pontos em D.

A ilustração ao lado mostra várias 𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎. Algumas delas


são arcos de círculos (euclidianos); alguns são segmentos de
linha (euclidianos), na verdade, diâmetros de D.

Na verdade, qualquer 𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 que faça parte de uma linha


euclidiana deve ter um diâmetro de D, caso contrário, ela não
pode encontrar C em ângulos retos.

Por outro lado, qualquer 𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 que seja um arco de um círculo euclidiano não pode passar pela
origem. Pois se encontra C em um ponto 𝑃, então a tangente a em 𝑃 é um raio de C e então passa
pela origem 𝑂, que é o centro de C. Mas então há uma linha tocando o círculo euclidiano em 𝑃 e,
como os círculos estão inteiramente de um lado de suas tangentes, não podem se encontrar novamente.
Portanto, não pode passar por 𝑂.
Observe também que se uma 𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 é parte de um círculo
euclidiano que encontra 𝐶 nos pontos 𝑃 e 𝑄, então seu centro
é o ponto 𝑅 onde as tangentes a C em 𝑃 e 𝑄 se encontram.
Portanto, o ponto 𝑅 está fora do círculo C.

Às vezes fica claro a partir de uma ilustração (razoavelmente precisa) se parte de um círculo
generalizado é ou não uma 𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎. Por exemplo, considere

˜l = (𝑥, 𝑦) : 𝑥 2 + 𝑦 2 − 4𝑦 = 0 ∩ D.


sabendo que

𝑥 2 + 𝑦 2 − 4𝑦 = 0
𝑥 2 + (𝑦 − 2) 2 = 4
podemos esboçar e deduzir que não é uma 𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎, uma vez que claramente não encontra C ângulos
retos. (As tangentes em seus pontos limites em C não passam pela origem.)
Problema 1. Esboce as seguintes partes de círculos generalizados e determine quais delas são
𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎𝑠.
˜l1 = {(𝑥, 𝑦) : 𝑦 = 3𝑥} ∩ D.

˜l2 = {(𝑥, 𝑦) : 3𝑥 + 𝑦 = 1} ∩ D.

˜l3 = (𝑥, 𝑦) : 𝑥 2 + 𝑦 2 + 2𝑥 + 2𝑦 + 1 = 0 ∩ D.


Para evitar sermos induzidos ao erro por uma ilustração, fornecemos um critério analítico para
identificar as 𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎.

Lema 1. A equação de uma 𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 tem uma das seguintes formas:

• 𝑎𝑥 = 𝑏𝑦 = 0, quando 𝑎 e 𝑏 não são ambos iguais a zero;

• 𝑥 2 + 𝑦 2 + 𝑓 𝑥 + 𝑔𝑦 + 1 = 0, quando 𝑓 2 + 𝑔 2 > 4.

Assim, por exemplo, seja C um círculo em ℝ cuja equação é dada por


𝑥 2 + 𝑦 2 + 3𝑥 − 2𝑦 + 1 = 0,
e seja a parte de C que está em D. Então é uma 𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎, pois sua equação tem a forma exigida pelo
lema 1, com 𝑓 = 3 e 𝑔 = −2 e 𝑓 2 + 𝑔 2 = 32 + (−2) 2 = 13 > 4.
Corolário 1. Seja 𝛼 = 𝑎 + 𝑖𝑏 um ponto fora do círculo unitário C. Então a 𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 que faz parte
de um círculo euclidiano com centro 𝛼 tem a equação

𝑥 2 + 𝑦 2 − 2𝑎𝑥 − 2𝑏𝑦 + 1 = 0.

Podemos agora nos voltar para a questão do paralelismo, a noção que deu origem à descoberta das
geometrias não euclidianas em primeiro lugar.

Definição 2. Duas 𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 que não se encontram em D são:

• Paralelas se os círculos euclidianos generalizados dos quais fazem parte se encontram em um


ponto em C;

• Ultra-paralelo se os círculos euclidianos generalizados dos quais fazem parte não se encontram
em C.

Observações

1. Segue-se que dada qualquer 𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 e qualquer ponto


𝑃 em 𝐷 que não esteja ligado, existem exatamente duas
𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 através de 𝑃 que são paralelas a, como mostra a
próxima figura. Uma prova rigorosa de que tais 𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎
existem será encontrada abaixo (Problema 5).

2. Similarmente, correspondendo a qualquer 𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 dada


e qualquer ponto 𝑃 em 𝐷 que não esteja ligado, existem
infinitas 𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 através de 𝑃 que são ultra paralelas a ˜l.

Problema 2. Os seguintes conjuntos representam 𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎:

˜l1 = {(𝑥, 𝑦) : 𝑦 = 𝑥} ∩ D.

˜l2 = (𝑥, 𝑦) : 𝑥 2 + 𝑦 2 − 4𝑥 + 1 = 0 ∩ D.


n √ o
˜l3 = (𝑥, 𝑦) : 𝑥 2 + 𝑦 2 − 2 2𝑥 + 1 = 0 ∩ D.

˜l4 = (𝑥, 𝑦) : 𝑥 2 + 𝑦 2 + 2𝑥 + 2𝑦 + 1 = 0 ∩ D.


Esboce-os e decida de sua figura quais das 𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 se cruzam, quais são paralelas e quais são
ultra-paralelas.

Problema 3. Esboce três 𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 ˜l1 , ˜l2 e ˜l3 com a propriedade de que ˜l1 é paralelo a ˜l2 , e ˜l2 é
paralelo a ˜l3 , mas ˜l1 não é paralelo a ˜l3 .
Na geometria euclidiana e na geometria inversa, a reflexão e a inversão desempenharam papéis
importantes; este também é o caso na geometria hiperbólica. Obviamente, o reflexo do disco unitário
D em um diâmetro mapeia D sobre si mesmo; na verdade, o mesmo ocorre com a inversão de D em
uma 𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 que não passa pela origem.

Teorema 2. Seja uma ˜l que é parte de um círculo euclidiano C. Então a inversão em C mapeia C
em C, e D em D.

Agora sabemos que a inversão em uma 𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 mapeia o disco D sobre si mesmo. Também
sabemos que a composição de uma inversão consigo mesma é o mapa de identidade. Como as
propriedades análogas são verdadeiras para as reflexões euclidianas, fazemos a seguinte definição.

Definição 3. Uma reflexão hiperbólica em uma 𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 é a restrição a D da inversão no círculo


generalizado do qual ˜l faz parte.

Observações

1. Se a 𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 é parte de um círculo euclidiano C encon-


trando a fronteira do círculo C nos pontos 𝑃 e 𝑄, então
o ponto 𝑅 onde as tangentes a C em 𝑃 e 𝑄 se encontram
é o centro da inversão.
2. Observe que o Teorema 1 pode ser reformulado da
seguinte maneira: a reflexão hiperbólica em qualquer
𝑑 − 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 mapeia o disco unitário D sobre si mesmo.

As reflexões hiperbólicas são os blocos de construção das transformações na geometria hiperbó-


lica. Os compostos de um número finito de reflexões hiperbólicas são chamados de transformações
hiperbólicas. O conjunto de todas essas transformações sob a operação de composição de funções
forma um grupo, denominado grupo hiperbólico, 𝐺 D .

Definição 4. A Geometria Hiperbólica consiste na unidade de disco, D, junto com o grupo 𝐺 D de


transformações hiperbólicas.

Observações
1. Observe, em particular, que o mapeamento identidade de D sobre si mesmo pertence a 𝐺 D , uma
vez que pode ser expresso como a composição finita 𝑟 ◦ 𝑟 −1 para qualquer reflexão hiperbólica
𝑟. Além disso, se 𝑡1 ◦ 𝑡2 ◦ · · · ◦ 𝑡 𝑛 é qualquer transformação hiperbólica, então seu inverso é outra
transformação hiperbólica 𝑡 𝑛−1 ◦ · · · ◦ 𝑡2−1 ◦ 𝑡1−1 .

6 Avaliação
Os alunos deverão demonstrar uma compreensão suficiente para, por exemplo, responder questões
como:
1. Qual os valores de 𝜌 e 𝜑 delimitam uma determinada região 𝐷?
2. Dada uma função escrita em termos das coordenadas cartesianas 𝑥 e 𝑦, qual sua expressão em
coordenadas 𝜌 e 𝜑?
3. Qual o valor da integral dupla de uma função 𝑓 (𝜌, 𝜑) numa região 𝐷 dada?

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