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37ª Jornada Acadêmica Integrada

BIOPOLÍTICA E VIDA NUA NO ESTADO ARGENTINO NO FINAL


DO SÉCULO XIX: UMA ANÁLISE A PARTIR DO PERIÓDICO LA
VOZ DE LA MUJER

Gabriela Schwengber1 (PG); Semíramis Corsi Silva² (O).


1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal de Santa
Maria; 2Professora Adjunta do Departamento de História e do Programa de Pós-
graduação em História, Universidade Federal de Santa Maria.

O presente trabalho objetiva refletir sobre as políticas adotadas pelo estado argentino no
final do século XIX em relação aos imigrantes europeus e grupos indígenas a partir dos
conceitos de biopolítica, de Michel Foucault, e de vida nua, de Giorgio Agamben, Para
isto, utilizou-se enquanto fonte de pesquisa o periódico La Voz de La Mujer para abordar
as condições de vida de parte das e dos imigrantes, em diálogo com outras produções
bibliográficas para abarcar a questão indígena. O periódico La Voz de La Mujer foi
publicado de 1896 a 1897, na cidade de Buenos Aires, na Argentina, por um grupo de
mulheres anarquistas, imigrantes ou filhas destes, configurando-se enquanto um espaço de
debate sobre o movimento anarquista, a situação socioeconômica das e dos operários, bem
como sobre os atravessamentos de ser mulher nesta sociedade e movimento social no final
do século XIX. Desse modo, ao longo das oito edições do jornal que se possui acesso
atualmente, as redatoras se dedicam a tecer críticas a respeito das suas condições de vida,
rebelam-se em relação ao Estado, aos burgueses, a Igreja e a alguns homens anarquistas,
por explorarem, serem violentos ou desvalidarem as pautas das suas companheiras e
mulheres libertárias. A partir de algumas de suas publicações, pode-se pensar elementos de
biopolítica, compreendida aqui enquanto as práticas e mecanismos utilizadas para
disciplinar as populações, e do conceito de “vida nua”, que refere-se àquela vida que é
matável e facilmente descartada, conforme coloca Giorgio Agamben. Ambos os conceitos
contribuem para pensar a condição e status frágil das vidas destas e destes operários. No
entanto, este grupo ainda se constituem enquanto vidas úteis e produtivas para o Estado,
afinal ocupam um lugar de trabalhadores/as em uma sociedade que, a partir da segunda
metade do século XIX, incentivou ondas migratórias de países europeus – como Itália,
França e Espanha, com o intuito de ter disponibilidade de mão de obra, pois passava por
um momento de expansão econômica, além de garantir a influência da cultura europeia na
nação. Dessa forma, apesar dos tensionamentos causados pelos movimentos organizados
por trabalhadores e trabalhadoras, das condições de existência frágeis, como a questão da
fome, exploração e vulnerabilidade, aspectos relatados nas publicações do La Voz de La
Mujer, ainda havia um interesse biopolítico para a manutenção dessas vidas. Entretanto,
tais aspectos se diferem das políticas destinadas aos grupos indígenas no mesmo recorte
temporal, em que o Estado argentino adotou políticas de extermínio, definindo tais grupos
enquanto aquela vida que não contribui na construção da nação ideal, concepção
mergulhada em eurocentrismo e que, desta forma, não merece ser vivida.

Trabalho apoiado pelo programa CAPES

37ª Jornada Acadêmica Integrada - JAI


Universidade Federal de Santa Maria, 07 a 11 de novembro de 2022.

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