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Ana Paula Alves, Bruna Rosa, Denise Chierighini, Gustavo Chuang, Jéssica Silva, Josiane Artuso
Resumo: O presente trabalho objetiva avaliar as condições de conforto térmico e acústico do Centro Cultural São
Paulo (CCSP), localizado na Rua Vergueiro, próximo à estação de metrô de mesmo nome na Cidade de São Paulo,
capital. A partir de nossas avaliações, bem como considerações fundamentais dos próprios usuários e funcionários,
propomos algumas soluções projetuais para os eventuais problemas diagnosticados.
Abstract: This work aims to evaluate the conditions of thermal and acoustic comfort of São Paulo (CCSP) Cultural
Center, located in Vergueiro Street, near metro station of the same name in the city of São Paulo, the capital. From our
evaluations, as well as key considerations of the users and employees, we propose some design solutions to any
problems identified.
1 – Introdução
O Centro Cultural São Paulo, fundado em 13 de Maio de 1982, é projeto de uma Comissão formada pelo
Departamento de Bibliotecas Públicas do Município de São Paulo em 1975, coordenadas pelos arquitetos Eurico Prado
Lopes e Luiz Telles. A Biblioteca Sérgio Milliet, nosso objeto de estudos, inaugurada alguns meses mais tarde (março
de 1983), funciona de terça à domingo, das 10 às 20h em dias úteis e das 10 às 18h aos finais de semana. Tem
capacidade para receber 800 usuários, onde grande parte dos mesmos são universitários ou alunos de cursinhos que
ficam nas proximidades. Fica localizada entre a Rua Vergueiro e Avenida Vinte e Três de Maio, duas importantes e
conhecidas vias de ligação da Cidade. Esta localização torna-se mais privilegiada ainda quando levamos em conta sua
proximidade com estações do metrô (Vergueiro e Paraíso), bem como a facilidade de acesso ao transporte público
coletivo nas vias. Sua área construída é de aproximadamente 46.500m² e está implantado num terreno de 22.000m². A
proposta projetual engloba um novo conceito para a época de sua efetivação: a política do ”livre acesso”. A idéia é
permitir ao usuário que utilize o espaço sem nenhum tipo de restrição. Isso se reflete num ambiente amplo, aberto,
quase sem paredes e nenhuma divisória. O acesso pode ser efetuado pela Rua Vergueiro ou pela própria estação do
Metrô Vergueiro, de modo que em ambos os casos o usuário entra num espaço coberto, aberto e livre. Para chegar à
Biblioteca em questão, é necessário atravessar um grande pátio e entrar no subsolo, onde a mesma se localiza. As
paredes externas voltadas para a Avenida Vinte e três de Maio são bastante espessas, justamente para funcionar como
uma barreira sonora devido aos transtornos do tráfego de veículos motorizados e assim como as demais paredes, são de
concreto. O sistema estrutural é metálico e sustenta as rampas de acesso, bem como as vigas do piso superior. A
Biblioteca propriamente dita não possui área verde ou um programa de circulação complexo e elaborado; Inclusive é
bem viável a mudança de “layout” das mesas, livros e estações de trabalho dos funcionários.
A fim de avaliar as condições de conforto para seus usuários e funcionários, elaboramos um sucinto
questionário e o aplicamos randomicamente durante o período de nossa estadia, bem como efetuamos algumas
incursões exploratórias para identificar alguns pontos projetuais importantes e a relação projeto/usuário. Anotamos e
resumimos todas as opiniões que interferem de forma direta nos aspectos estudados por este trabalho. Seguem as
questões:
a.) Na sua opinião aqui é muito barulhento ou os níveis de ruído são aceitáveis?
Frequentadores: Grande parte dos frequentadores se incomodam com os barulhos/ruídos do ambiente interno
de Biblioteca. Alguns fizeram comparações com outras bibliotecas e disseram que este nível de ruído se deve
aos próprios usuários e funcionários, não à ambientes externos. Uma situação que foi enfatizada é a de
proximidade de ambientes, onde por exemplo, durante uma de nossas visitas, um grupo de leitores realizava
atividades de canto e interpretação de texto muito próximo e sem nenhum tipo de separação dos leitores que se
encontravam sentados nas mesas, lendo.
Funcionários: Por ser uma biblioteca consideram o local barulhento, e as atividades externas à área de
Biblioteca (música, dança, teatro) também interferem no barulho.
Frequentadores: A maioria das pessoas está satisfeita com a iluminação, mas alguns dizem que apesar de estar
boa, pode melhorar. Houve inclusive uma sugestão para a mistura de luz quente e luz fria.
Frequentadores: Houve muitas reclamações quanto a este aspecto. De modo geral, os usuários classificam a
Biblioteca como “quente”, “abafada”, “sem correntes de ar”. O clima dentro da biblioteca varia conforme o
clima fora dela. No inverno as grandes aberturas geram uma corrente de ar forte, que circula em alguns pontos
específicos. No verão, estas mesmas correntes carregam o “ar quente” externo, tornando a temperatura na
Biblioteca bastante elevada.
Frequentadores: A proximidade ao metrô, o acervo de livros e o local agradável para estudos, leitura e
diversão.
Para avaliação das condições de conforto, aferimos os níveis de ruído e luminosidade da Biblioteca conforme
Tab. 1. Esta medição foi realizada num sábado (12/04/2014), uma vez que este dia representa o pico de visitação
semanal. Para aferir o nível de ruído utilizamos o Aplicativo “DecibelMeter”, disponível para IOS 7.0 na Apple Store;
Para aferir o nível de luminosidade utilizamos o Aplicativo “LuxMeter”, disponível para IOS 7.0 na Apple Store.
Durante 1 (um) minuto, de hora em hora, realizamos a medição para ruído e luminosidade;
Hora (h) Nível de Ruído (dB) Pico de Ruído (Db) Nível de Luminosidade (LUX)
10 56 68 430
11 73 100 435
12 81 94 500
13 64 76 514
14 76 83 425
15 75 90 425
Observa-se que devido a sua localização em projeto (ver Fig.1) a biblioteca recebe pouca incidência direta do
Sol, de modo que a iluminação natural fica prejudicada, e somente ela não é suficiente para atender os requisitos
mínimos da NBR 5413 – Iluminância de Interiores, que determina níveis de iluminância para salas de leitura entre 300 e
750 lux. Para tanto, é necessária uma utilização inteiramente dependente de recursos artificiais.
Em relação à NBR – 10152 – Níveis de Ruído para Conforto Acústico, que estabelece níveis de ruído para
Bibliotecas entre 35 e 45 decibéis, observa-se uma extrapolação prejudicial nos níveis apresentados na Tab.1. Tal dado
se traduz numa situação de desconforto ambiental, mas que não devem ser confundidos com níveis danosos à saúde do
usuário.
A questão térmica nesta biblioteca é – como explicitado pelos frequentadores - bastante variável, e sempre de
acordo com a temperatura externa. Isso se deve à vários fatores: às paredes espessas de concreto e as aberturas do
projeto, à localização da biblioteca em relação ao Centro Cultural (ver Fig. 1), a quantidade de aberturas laterais e
quantidade de pessoas no recito.
4 – Recomendações
Para solucionar as questões que levantamos no item anterior, temos que levar em consideração a existência de
um forte conceito arquitetônico neste projeto – o livre acesso. Não se pode, num projeto deste porte e desta importância
para a história da cultura paulista, inserir elementos que não pertençam à conjuntura original programada pelo arquiteto.
Sendo assim, excluímos completamente a possibilidade de adequar os ambientes com divisórias (mesmo que
provisoriamente) e tubulações externas para ar condicionado ou outras soluções esteticamente condenáveis.
No entanto uma simples alteração de layout como a proposta em Fig. 2 seria suficiente para sanar as questões
de ruído e, em parte, temperatura. A redução da quantidade de mesas gera uma distância física maior a ser vencida pela
onda sonora, bem como a redução do número de usuários proporciona uma sensação térmica mais agradável, uma vez
que o ambiente se torna mais espaçoso e arejado. Outra solução bastante plausível é a adoção de materiais absorventes
nas paredes e/ou forro – como por exemplo gesso – que também se tornam uma barreira a ser vencida pelo som.
5 - Conclusões
Conclui – se portanto que a Biblioteca Sérgio Milliet necessita de algumas intervenções pontuais no que se
refere à níveis de ruído e temperatura de ambiente. Estas intervenções mencionadas são perfeitamente plausíveis e
sanariam as pequenas pendências que geram algumas situações de desconforto tanto para usuário quanto para
funcionário. Entretanto, é de suma importância que o Partido Arquitetônico não seja alterado de forma grosseira, uma
vez que este projeto representa um marco de inovação para sua época. Antes de intervir é necessário avaliar o peso que
esta alteração terá sobre a originalidade do projeto inicial.
6 - Referências Bibliográficas
TELLES, Luiz B.: "CCSP - Centro Cultural São Paulo: Um Projeto Revisitado" - Dissertação de Mestrado - São Paulo,
2002;