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ANÁLISE DAS INCIDÊNCIAS DE MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS ORIUNDAS

DO RECALQUE DE FUNDAÇÕES: ESTUDO DE CASO NA UFERSA-ANGICOS.

Larissa Hellen Alves Fernandes

RESUMO

A construção civil é uma área que vem ao longo do tempo se expandindo em decorrência do
desenvolvimento populacional, atrelado ao avanço tecnológico. No entanto, apesar da
utilização de novas tecnologias no campo construtivo, nos processos e materiais de construção,
um significativo índice de manifestações patológicas das mais variadas espécies vem sendo
identificadas nas edificações. As manifestações patológicas podem ocorrer das mais variadas
formas e nos diversos elementos que compõe as edificações. As fundações são elementos
estruturais responsáveis por transmitir as cargas das edificações para o solo, e quando mal
executadas refletem em outros elementos como nas alvenarias em formas de fissuras,
rachaduras e outros danos. Esses problemas podem surgir pela negligência nas etapas de
caracterização do comportamento do solo e investigação, análise e projeto das fundações,
execução das fundações. Dessa forma, o presente trabalho apresenta um estudo sobre as
incidências de manifestações patológicas oriundas da má execução das fundações de alguns
blocos da Universidade Federal Rural do Semi-Árido – Campus Angicos. Com o estudo
realizado, foi encontrado fissuras inclinadas a 45º, características nas quais as fissuras
provocadas por recalque apresentam.

Palavras-chave: Patologia; Fundação; Recalque.

ABSTRACT

Civil construction is an area that has been expanding over time due to population development,
linked to technological advancement. However, despite the use of new technologies in the
construction field, in construction processes and materials, a significant index of pathological
manifestations of the most varied species has been identified in buildings. Pathological
manifestations can occur in the most varied ways and in the different elements that make up the
buildings. Foundations are structural elements responsible for transmitting building loads to the
ground, and when poorly executed, they reflect on other elements such as masonry in the form
of cracks, cracks and other damage. These problems may arise due to the negligence in the
stages of characterizing the soil behavior and investigation, analysis and design of the
foundations, execution of the foundations. Thus, the present work presents a study on the
incidence of pathological manifestations arising from the poor execution of the foundations of
some blocks of the Federal Rural University of the Semi-Arid - Campus Angicos. With the
study carried out, it was found cracks inclined at 45º, characteristics in which the cracks caused
by repression present.

Keywords: Pathology; Foundation; Repression.

1 INTRODUÇÃO

O cenário da construção civil é crescente ao longo do tempo, em virtude do


desenvolvimento populacional e atrelado aos avanços tecnológicos. Apesar do surgimento de
novas tecnologias e novos materiais desenvolvidos, as edificações estão apresentando cada vez
mais manifestações patológicas das mais variadas espécies nas construções civis (FRANCO e
NIEDERMEYER, 2017).

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Segundo SOUZA e RIPPER (1998), o surgimento de problema patológico em dada
estrutura indica a existência de uma ou mais falhas, em sua maioria decorrente da execução da
construção, além de apontar para falhas também no sistema de controle de qualidade próprio a
uma ou mais atividades. Além disso, a interação com o meio ambiente (chuva, sol, vento, calor,
frio), a falta de manutenção e estudo adequado do solo também são alguns dos fatores que
podem contribuir para a deterioração das edificações, e consequentemente, o surgimento de
manifestações patológicas.
As manifestações patológicas na construção civil podem ocorrer por diversos motivos,
sendo alguns deles a má elaboração de projetos e qualidade dos materiais empregados na
construção, equipe sem preparação para execução de projetos mais elaborados, o que ocasiona
falha devido à má execução, esta por sua vez pode se dá em qualquer etapa da obra, desde a
fundação até o acabamento. Diante deste cenário, o presente trabalho tem como objetivo
apresentar um estudo sobre as incidências de manifestações patológicas oriundas da má
execução das fundações dos blocos da Universidade Federal Rural do Semi-Árido – Campus
Angicos.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Fundações

As fundações são elementos que têm por responsabilidade transmitir as cargas de uma
estrutura para as camadas mais resistentes do solo. Por isso, a escolha do tipo de fundação de
uma edificação se dá em função da intensidade da carga e da profundidade da camada resistente
ao solo. Neste capítulo serão apresentados os tipos mais comuns de fundações, previstos na
Norma Brasileira NBR 6122/2019, norma regulamentadora que cria parâmetros básicos a serem
observados no projeto e execução de fundações de edifícios, pontes e demais estruturas,
classificando as fundações em superficiais e profundas.
As fundações podem ser classificadas rasas ou profundas conforme as cargas são
transmitidas ao solo, as fundações rasas transmitem as cargas exclusivamente pela sua base, já
a fundação profunda caracteriza-se por transmitir as cargas ao solo tanto pela base, quanto pelo
fuste lateral.

2.1.1 Fundações Rasas

As fundações superficiais, também denominada rasas ou diretas são aquelas que


transmitem as cargas da edificação ao solo nas primeiras camadas, quando este oferece
resistência suficiente para suportar essas cargas a uma profundidade de até 2 m. Para tanto, é
necessário realizar um estudo para conhecer as camadas de solo que irão suportar a fundação,
verificando a influência das tensões nas camadas mais profundas (REBELLO, 2008).
Segundo a NBR 6122/2019, os elementos de fundação em que a carga é transmitida ao
terreno, predominantemente pelas pressões distribuídas sob a base da fundação, e em que a
profundidade de assentamento em relação ao terreno é inferior a duas vezes a menor dimensão
da fundação. Desse modo, incluem-se neste tipo de fundação os blocos, as sapatas e radiers,
conforme Figura 1.

2
Figura 1 - a) bloco; b) sapata isolada; c) sapatas associada; d) radier;

Fonte: FALCONI et al., 1996

2.1.1.1 Blocos

Os blocos são elementos de elevada rigidez, executados com concreto simples,


dimensionados de modo que as tensões de tração neles produzidas sejam absorvidas pelo
próprio concreto, nesse caso, sem a necessidade de utilização de armadura, o que difere das
sapatas (ALONSO, 2010). De acordo com Moraes (1978, apud, Santos, 2014), os blocos de
concreto simples são usados para carregamentos não superiores a 50 toneladas e para solos
cujas taxas admissíveis não sejam inferiores a 2 kg/cm².

2.1.1.2 Sapatas

As sapatas são elementos de fundações que ao contrário dos blocos são executados em
concreto armado de altura menor. Na qual, são dimensionadas de modo que as tensões de
trações nela resultantes sejam resistentes pelo emprego de armadura. Para Rebello (2008) a
ideia é que a carga atuante sobre a sapata se distribua pela sua área de contato com o solo,
aplicando neste uma tensão no máximo igual à tensão admissível do solo.
Pelo fato de existir uma grande variabilidade na configuração e forma dos elementos
estruturais que se apoiam nas sapatas, estas são as mais utilizadas em relação aos demais
elementos de fundações superficial, pois existem diversos os tipos como: sapata isolada; sapata
associada; sapata corrida; sapata de divisa. Essa gama de opções facilita a escolha da fundação
que melhor se adequa aos elementos estruturais (BASTOS, 2016).

2.1.1.3 Radier

Radiers são elementos de fundações superficiais que recebem todos os pilares da obra.
Devendo ser adotado quando a área total das sapatas for maior que a metade da área da
construção (VELLOSO E LOPES, 2011). Segundo Rebello (2008), o radier comporta-se bem
para solos com SPT maior que quatro. Desse modo, com a utilização do radier, a intenção é
evitar que um apoio recalque mais que o outro, evitando assim o recalque diferencial. Essas
fundações são geralmente utilizadas nas construções de habitações populares.

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2.1.2 Fundações Profundas

As fundações profundas são classificadas como profundas quando o número de golpes


da sondagem (SPT) for maior ou igual a oito, e estiver numa profundidade superior a dois
metros. As fundações profundas podem ser classificadas ainda em fundações moldadas in loco,
que são executadas no momento da perfuração do solo, onde é realizada a perfuração com um
equipamento adequado e logo em seguida vem preenchendo o furo com concreto, ou pré-
moldadas, que são executadas na indústria e cravadas no solo por um equipamento apropriado
(REBELLO, 2008).

2.2 Patologia nas Fundações

O termo patologia surgiu do grego pathos que significa doença, e logia significa
ciência/estudo, logo o termo patologia pode ser entendido como estudo da doença. Na
construção civil a patologia se resume ao estudo da identificação das causas e dos efeitos dos
problemas encontrados em uma edificação, elaborando o seu diagnóstico e correção. Esses
problemas são denominados manifestações patológicas e podem ocorrer de diversas formas,
tais como: fissuras, deslocamento do revestimento cerâmico, danos por umidade excessiva na
estrutura, entre outros. (FRANCO e NIEDERMEYER, 2017).
Uma das manifestações mais comumente observadas são as fissuras, estas se destacam
pelo fato de apresentarem configurações fundamentais como, aviso de um eventual estado
perigoso da estrutura, comprometimento do desempenho da obra em serviço e constrangimento
psicológico que causa aos seus usuários (THOMAZ, 1989).
Já segundo Brandão (2007), as fissuras são manifestações patológicas que podem ser
encontradas nas estruturas de concreto armado, alvenarias, nos revestimentos de argamassa e
em fundações. Está ultima por sua vez, é um dos componentes mais importantes na construção
de um edifício, pois é a parte da edificação que é responsável por suportar todo o peso da
estrutura e transmití-lo ao solo.
De acordo com Milititsky (2015) é importante serem evitadas as patologias ou má
execução das fundações, pois são ocasionadas os riscos e dúvidas inerentes a construção e vida
útil das fundações. É válido ressaltar também que esses problemas podem ocorrer de diversos
fatores, tais como a falta de investigação do subsolo, interpretação inadequada do projeto e
fatores externos.
Diante disto, ao escolher um tipo de fundação é necessário tomar conhecimento
primeiramente sobre as normas vigentes, bem como, o terreno, as cargas atuantes, a
caracterização do solo, as edificações vizinhas e se o modelo a ser implantado na edificação irá
garantir segurança e estabilidade. A escolha errada ou dimensionamento inadequada das
fundações, pode ocasionar o recalque (MILITITSKY, 2015).

2.2.1 Recalque

Segundo Rebello (2008), denomina-se recalque a deformação que acontece no solo


quando submetido a cargas da estrutura da edificação, provocando movimentação na fundação
que, dependendo da intensidade, pode resultar em sérios danos à estrutura. De acordo com
Carmo (2003, apud, Zuchetti, 2015), as manifestações patológicas decorrentes de recalque, vão
surgindo mediante a reacomodação do solo acontece, a resistência ao deslizamento diminui,
causando as movimentações da estrutura e gerando fissuras.
A fissura é a forma que a edificação tem de avisar que o solo não está se comportando
como o esperado, o recalque pode se dá em decorrência de movimentos sísmicos, vibrações em
construções vizinhas, retrações de argila, raízes de árvores, alterações químicas do solo em

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questão, dentre outras, deste modo a investigação para o conhecimento do comportamento e
capacidade de carga do solo sob a estrutura é fundamental (CARMO, 2003, apud, ZUCHETTI,
2015).
As diversas configurações de recalques irão variar de acordo com as deformações
provocadas pelas movimentações das fundações, dependendo da intensidade, podem resultar
em sérios danos à estrutura. Desse modo, essas deformações que o solo sofre, podem ser de três
tipos: deformação elástica, deformação por escoamento lateral e deformação por adensamento.
• Deformação elástica – ocorre quando um material está sujeito a uma carga. Acontece
imediatamente depois de uma aplicação da carga e são maiores em solos não coesivos
(REBELLO, 2008).
• Deformação por escoamento lateral – são originadas de um deslocamento das
partículas do solo das zonas mais carregadas para as menos solicitadas. Acontecendo
com maior predominância em solos não coesivos (CAPUTO, 2012).
• Deformação por adensamento – ocorre pela diminuição no volume aparente do
maciço do solo, em decorrência do fechamento dos vazios deixados pela água expulsa
em função da pressão da fundação aplicada ao solo (REBELLO, 2008). Segundo Caputo
(2012) os recalques por adensamento são particularmente importantes em solos
argilosos. Sendo um processo lento, em decorrência do baixo coeficiente de
permeabilidade das argilas.

2.3 Causas Frequentes de Recalque em Fundações

Os efeitos dos recalques nas estruturas podem ser classificados em três grupos segundo
Velloso e Lopes (2011):
• Danos estruturais – são aqueles causados à estrutura propriamente dita (pilares, vigas
e lajes), comprometendo os elementos da edificação alterando a vida útil e desempenho
da obra.
• Danos arquitetônicos – são aqueles que comprometem à estética da edificação como
por exemplo fissuras, trincas nas paredes e acabamentos, rupturas de painéis de
mármore.
• Danos funcionais – são aqueles que comprometem o desempenho e funcionalidade da
edificação. Sendo causados à utilização de emperramento de portas e janelas, estrutura
com refluxo ou ruptura de esgotos e galerias.
Segundo Helene (2003) os problemas patológicos geralmente apresentam manifestações
externas característica, na qual se pode deduzir qual a origem, natureza e os fenômenos
envolvidos, como também, pode-se estimar suas prováveis consequências. Esses sintomas,
podem ser classificados e descritos, orientando um primeiro diagnóstico, a partir de experientes
observações visuais. Com isso, se esses cuidados forem ignorados no projeto, execução ou na
utilização essas características patológicas ficam mais evidentes. Como a fundação, uma das
patologias mais crítica a estrutura.
Contudo, Dardengo (2010) demonstra pesquisa realizada nas edificações brasileiras,
estudadas até o ano de 1988, na qual pode-se observar as causas das patologias existentes. Desse
modo, o autor relata que os maiores problemas são provenientes na fase de execução,
representando 52% dos casos pesquisados. Em seguida, estão as manifestações patológicas
oriundas da fase de projeto e pela utilização de materiais de má qualidade, com representação
de 18% cada.
No Gráfico 1 verifica-se todos esses dados, destacando para o alto percentual de
problemas em decorrência da má execução.

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Gráfico 1 - Análise das origens patológicas nas edificações brasileiras.

Fonte: Dardengo (2010)

As patologias nas fundações podem ter origem variadas. Dessa forma, Milititsky (2008)
aponta as possíveis causas de patologias em fundações. A ausência ou insuficiência de
investigações; má interpretação dos resultados coletados da investigação geotécnica; avaliação
errada dos valores dos esforços provenientes da estrutura; adoção inadequada da tensão
admissível do solo; modelos matemáticos inconvenientes para cálculo de fundações; falta de
treinamento de mão de obra e má execução por imperícia, como também, da qualidade dos
materiais empregados e influências externas.
Dessa forma, a seguir serão apresentadas algumas situações propícias a recalques de
fundação, segundo Milititsky (2015).

2.3.1 Investigação do Solo

A ausência de investigação do solo é a causa mais frequente de problemas de fundação,


uma vez que é implantado um carregamento sobre o solo sem o conhecimento da capacidade
de carga do mesmo. Em decorrência da execução de uma edificação sob um solo desconhecido
surgem manifestações patológicas devido ao simples fato de uma adoção de sistemas de
fundações diferentes na mesma estrutura, ou devido as características de variação de cargas e
profundidade de camadas resistentes do subsolo, até mesmo pela diferença de níveis de
carregamento, bem como a má avaliação dos efeitos dos carregamentos.

2.3.2 Análise e Projeto

É através das solicitações ou das cargas de projeto obtido após a investigação


geotécnica, que a análise de um problema de fundação é realizada, essas cargas são obtidas por
meio de ensaios de campo ou laboratório. De posse dessas informações, é possível interpretá-
las conforme conhecimento estabelecido sobre o comportamento do solo sob carga, ou da
transmissão de esforços à massa de solo.
Por ser um produto oriundo da natureza os solos apresentam uma grande variabilidade
de suas propriedades, para tanto é feito um tratamento probabilistico dos dados atingidos para
se obter uma avaliação segura do comportamento do solo. É o projetista quem escolhe as
possíveis formas de transmissão de carga conforme dados obtidos e após a definição das
solicitações.

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2.3.3 Fundações sobre Aterros
Em geral, a execução de fundações sobre aterro, apresentam aspectos especiais aos quais
não são considerados no projeto pelos profisionais especialistas em geotecnia, pelo simples fato
de desconhecimento dos mecanismos envolvidos. Os recalques de fundações em estruturas que
estão sobre aterros podem ter três causas, são elas: Deformação do corpo do aterro por causa
do peso próprio; Deformações do solo natural localizado abaixo do aterro, em razão do
acréscimo de tensões ocasionado pelo peso próprio do aterro; Execução de aterros e/ou
carregamento externos sobre lixões ou aterros sanitários desativados.
• Deformação do corpo do aterro: Ocorrem recalques diferenciais do corpo do aterro,
quando o peso próprio e/ou pelo carregamento provocado pela fundação, exercem as
tensões sobre o solo sem compactação (no caso de solos argilosos) ou sem vibração (no
caso de solos arenosos). Nesse caso, os recalques são lentos, porém contínuos.

2.4 Classificação das Fissuras

A classificação das fissuras em paredes de alvenarias pode ocorrer por diversos critérios,
dentre eles, pela abertura e atividade (MAGALHÃES, 2004).

2.4.1 Quanto à abertura

Conforme Magalhães (2004) as fissuras são classificadas em três tipos quanto a


abertura, como descrito a seguir:

Fissura fina – são as que possuem espessura menor que 1,5 mm;
Fissura média – são as que apresentam espessura entre 1,5 mm e 10,00 mm;
Fissura larga – são as que possuem espessura superior a 10,00 mm;

Segundo Oliveira (2012) as fissuras, trincas e rachaduras são manifestações patológicas


observadas nas edificações, geralmente causadas por tensões dos materiais. Com isso, ocorrem
quando os materiais forem solicitados por um esforço maior que a sua resistência característica,
ocasionando a falha e provocando uma abertura.
De acordo com a sua espessura, as aberturas podem ser classificadas em fissuras, trincas,
rachaduras, fendas ou brechas (OLIVEIRA, 2012). Conforme o Quadro 1.

Quadro 1 – Classificação das aberturas conforme sua espessura.

Fonte: OLIVEIRA (2012)

2.4.2 Quanto à atividade

Segundo Duarte (1998) as fissuras também podem ser classificadas conforme a sua
atividade:
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a) Ativas: são as fissuras que apresentam variações de espessura durante um determinado
período de tempo. Por exemplo, as fissuras ocasionadas por recalques diferenciais de
fundações tendem a apresentar uma abertura crescente;
b) Inativas ou estabilizadas: são as fissuras que não apresentam variações de espessura ou
comprimento ao longo do tempo. Ocasionadas por solicitações externas constantes,
como a atuação de carregamentos excessivos ou fundações estabilizadas.

2.5 Qualidade na Execução

Segundo Abiko e Ornstein (2002) mudanças significativas vêm sendo apresentadas pelo
setor de construção civil, com vários esforços para a melhoria na cadeia produtiva e com a
implementação através do desenvolvimento de planos organizacionais e inovações
tecnológicas. A qualidade está relacionada diretamente com à percepção de cada pessoa,
influenciada por diversos fatores, como o modo de pensar, cultura, serviço que é prestado ou
tipo de produto, as necessidades e expectativas. Por isso, a satisfação do cliente é uma condição
primordial de qualquer organização (FRANCO e NIEDERMEYER, 2017).
A qualidade de uma obra como um todo é resultante do seu planejamento e
gerenciamento, da organização do canteiro de obras, das condições de higiene e segurança no
trabalho e da qualidade na execução de cada serviço do processo de produção (SOUZA, 2013).
Desse modo, um elemento adequado para a implementação da gestão de qualidade na
execução de serviços é a aplicação do ciclo PDCA (Plan, Do, Check e Action), que para se
chegar às metas traçadas na melhoria da qualidade deve ser aplicado nas atividades ou
segmentos de empresa. O ciclo consistindo em Planejar, Executar, Verificar e Agir (SÁ et al.,
2004). Esse modelo tem por finalidade controlar e conseguir resultados eficazes e confiáveis
nas atividades de uma empresa, podendo ser usado continuamente para o gerenciamento e
controle das atividades de uma organização (ROCHA, 2007).

3 METODOLOGIA

O presente trabalho consistiu na realização de uma revisão bibliográfica, onde foram


realizadas pesquisas e coleta de dados de manifestações patológicas provenientes do recalque
de fundações. Na qual, para a coleta de informações foram utilizados livros, teses, dissertações,
artigos técnicos e científicos, publicações em revistas e as normas técnicas.
O estudo de caso foi feito nos blocos de aulas I e II e o bloco dos professores II da
UFERSA – Angicos, de forma a analisar a incidência de manifestações patológicas em
decorrência da má execução de fundações, através de pesquisa de campo com um levantamento
fotográfico. Como também, devido as variações de espessuras encontradas nas manifestações
patológicas dos blocos da universidade, foi usado o fissurômetro, uma régua que serve para
medir essas aberturas existentes.
A seguir tem-se o fluxograma das etapas que foram seguidas para organização do
presente trabalho:

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Fluxograma 1 – Etapas do trabalho.

Fonte: Autoria própria (2020).

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 UFERSA – BREVE HISTÓRICO

A história da UFERSA começa com a ESAM – Escola Superior Agrícola de Mossoró


no ano de 1967, idealizada por João Ulrich Graf, comerciante suíço que lutou por este sonho.
Desse modo, o tempo foi passando e desde então o professor e diretor Vingt-Un Rosado sonhou
com a transformação da ESAM em Universidade Federal de Mossoró. Em 1994 no mês de
janeiro, o então diretor da ESAM, prof. Joaquim Amaro Filho, encaminha o ofício ao Ministro
da Educação, Murilo Hingel requerendo a transformação da ESAM em Universidade Federal
Especializada de Mossoró.
Foram diversas solicitações e requerimentos enviados ao Ministério da Educação,
pedindo que está transformação de ESAM para Universidade Federal, no ano de 2000, 2003,
2004, sendo que só em 29 de julho de 2005 o presidente da república, sancionou a lei nº 11.155

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que criou a Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA, sob a direção do Professor
Josivan Barbosa Menezes1.
A UFERSA como o próprio nome já diz direcionada ao Semi-Árido, logo, foram
implantados mais três campis, os quais são localizados nas cidades de Angicos, Pau dos Ferros
e Caraúbas. Sendo que a UFERSA-Campus Angicos o objeto de estudo deste trabalho.
Localizada na cidade de Angicos, no Estado do Rio Grande do Norte, a UFERSA-Campus
Angicos iniciou suas atividades no ano de 2009, onde recebeu seus primeiros alunos,
provisoriamente na escola Educandário Padre Félix. No dia 28 de fevereiro de 2011 teve início
as atividades em sua sede própria a Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA,
Campus Angicos.

4.2 Apresentação da Edificação

As edificações em estudo são os edifícios da Universidade Federal Rural do Semi-Árido


– UFERSA, inserida na cidade de Angicos localizada no interior do Estado do Rio Grande do
Norte. Desse modo, a universidade atualmente é composta por um prédio administrativo, dois
prédios de laboratórios, dois blocos de aulas, dois blocos de professores, um centro de
convivência, um restaurante universitário, uma biblioteca, um bloco de garagem e um prédio
do Memorial Paulo Freire. Dessa maneira, para o presente trabalho, foram analisados três desses
blocos, o dos professores II e os de aulas I e II, indicados na Figura 2.

Figura 2 – Destaque dos blocos estudados.

Fonte: Adaptado de UFERSA (2014)

Os blocos de aulas I e II foram executados nos anos de 2010 e 2014 respectivamente,


onde o primeiro é compostos por 10 salas de aulas e o segundo por 15, sendo que os mesmos
apresentam um hall de entrada, banheiros femininos, masculinos e corredor. No entanto, ao
analisar os blocos foram observadas a incidência de manifestações patológicas, e foi possível
constatar fissuras inclinadas a 45º nas quais configura a provável causa seja recalque de
fundação. No bloco I, foi encontrada uma no corredor, conforme pode se observar na Figura 3.
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Disponível em: https://reitoria.ufersa.edu.br/nossa-historia/

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Figura 3 – Fissura inclinada 45º.

Fonte: Autoria Própria (2019)

No bloco de aulas II também foi possível encontrar fissuras inclinas a 45º, dentro da
sala de aula, conforme mostra Figura 4.

Figura 4 – Fissura inclinada Bloco II de aula.

Fonte: Autoria Própria (2019)

O bloco dos Professores II foi construído no ano de 2016. É um complexo educacional


constituído de um hall de entrada, banheiro feminino e masculino, copa, corredor, auditório e
salas dos professores. No entanto, apesar do pouco tempo de execução do prédio, o mesmo já

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apresenta manifestações patológicas, dentre as quais também foi encontrada fissura inclinada a
45º na sala da secretaria do referido bloco, como pode ser visualizada na Figura 5.

Figura 5 – Fissura inclinada Bloco dos Professores II.

Fonte: Autoria Própria (2019)

É possível verificar segundo Holanda Jr. (2002) que as fissuras encontradas foram
provocadas por recalques, pois o mesmo afirma que a configuração desenvolvem-se
normalmente em direção vertical ou diagonal, apresentando variação da abertura ao longo do
comprimento. Elas são geralmente inclinadas e se propagam “deitando-se” em direção ao local
onde ocorreu o maior recalque (THOMAZ, 1989). Desse modo, como foi observado nas
imagens anteriores, as fissuras apresentam essa configuração e também acompanham o rejunte
das cerâmicas.
Através da pesquisa e levantamento fotográfico realizado, também foi possível constatar
que as manifestações patológicas encontradas apresentam variações em suas espessuras. Dessa
forma, para comprovar e avaliar a diferença nas aberturas foi utilizado o fissurômetro, na qual,
a partir das medições obtidas e com a classificação de fissuras quanto à abertura segundo
Oliveira (2012), foi possível fazer essa verificação.
De acordo com a manifestação analisada no bloco de aulas I, foi obtido uma abertura de
0,3 mm (FIGURA 6), configurando fissuras, devido ter encontrado um valor menor que 0,5
mm. Já com a análise realizada no bloco de aulas II, foi verificado a mesma variação que o
primeiro bloco, logo, possuindo a mesma classificação. Desse modo, como as aberturas foram
menores que 1,5 mm, essas fissuras são consideradas finas, conforme Magalhães (2004).

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Figura 6 – Medição das fissuras analisadas a) bloco de aulas I e b) bloco de aulas II.

Fonte: Autoria Própria (2020)

A partir da investigação feita no bloco dos professores II, foi possível apurar uma
variação maior de aberturas, entre 0,05 mm e 1,5 mm (FIGURA 7). Com isso, de acordo com
a classificação de espessuras de Oliveira (2012), essa manifestação patológica, é chamada de
trinca. Outro fator importante observado na análise, foi que ela tende a apresentar uma variação
crescente, em que as espessuras se modificam durante um determinado período de tempo, além
do mais, essa trinca atravessa até o outro lado da parede.

Figura 7 – Espessuras das aberturas analisadas do bloco de professores II.

Fonte: Autoria Própria (2020)

No estudo em campo foi possível observar que as três edificações foram executadas
sobre aterro devido ao desnível do terreno e de acordo com Milititsky (2015), nas fundações
executadas sobre aterro pode ocorrer deformação do corpo do aterro pelo carregamento
provocado pela fundação, que exercem as tensões sobre o solo sem compactação (no caso de
solos argilosos) ou sem vibração (no caso de solos arenosos). Nesse caso, os recalques são
lentos, porém contínuos. Conforme Figura 8.

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Figura 8 – a) Bloco de aulas I; b) Bloco dos professores II;

Fonte: Autoria Própria (2020)

Contudo, no bloco de aulas II, foi observado outra provável causa para o surgimento da
fissura, a umidade do solo, devido a existir uma tubulação de água na base da parede (FIGURA
9), onde foi encontrada a manifestação patológica. Desse modo, pelo fato da presença de água,
pode haver uma deformação no solo e ocasionar o leve recalque que foi estudado.

Figura 9 – Presença de umidade na base da parede.

Fonte: Autoria Própria (2020)

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho cumpriu seu objetivo principal de apresentar um estudo de caso sobre a
incidência de manifestações patológicas oriundas da má execução das fundações nos prédios
da Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA/Campus Angicos, com a finalidade
de caracterizá-los e identifica-los. Desse modo, diante a realização da análise feita nos blocos
de salas de aula e no bloco dos professores da universidade em estudo, foram encontras fissuras
inclinadas de 45º , na qual, é um dos fenômenos decorrentes do recalque de fundações.
Foi possível concluir que a provável causa das fissuras encontradas foram ocasionadas
por recalque diferencial de fundação, devido a má compactação ou ausência de vibração do solo
criado, uma vez que os três blocos em estudo foram construídos sobre aterros, a má execução
ou ausência de compactação faz com que o corpo do aterro sofra recalque totais ou diferenciais.
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REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6122: Projeto e execução


de fundações. Rio de Janeiro, 2019.

ABIKO, A. K; ORNSTEIN, S. W. Inserção Urbana e Avaliação Pós-Ocupação (APO) da


Habitação de Interesse Social. São Paulo: FAUUSP, 2002.

ALONSO, U. R. Exercício de fundações. São Paulo: Edgard Blucher, 2010.

APRESENTAÇÃO. Ufersa, 2017. Disponível em:


<https://angicos.ufersa.edu.br/apresentacao/>. Acesso em: 16 Dez. 2019.

BASTOS, Paulo Sérgio dos Santos. Sapatas de Fundação. 2019. Disciplina 2133 – Estruturas
de Concreto III. Bauru/SP, Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia –
Universidade Estadual Paulista (UNESP).

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