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PESSOAS TRANS
PARA TER ACESSO
À SAÚDE NO
BRASIL
JAMES WEBB:
AS CONQUISTAS
DO TELESCÓPIO
APÓS UM ANO
A CIÊNCIA AJUDA VOCÊ A MUDAR O MUNDO ED. 369 DEZEMBRO DE 2022 NO ESPAÇO
O GRANDE DESMONTE
COM CORTES QUE SOMAM R$ 1,1 BILHÃO SÓ EM 2022,
UNIVERSIDADES FEDERAIS NÃO CONSEGUEM PAGAR
DA CONTA DE LUZ A BOLSAS DE PESQUISA. REITORES
APONTAM CAMINHOS
COMPOSIÇÃO
DEZEMBRO DE 2022
03
CAPA
COMO BLOQUEIOS NO
ORÇAMENTO AMEAÇAM
INSTITUIÇÕES FEDERAIS
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SAÚDE
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ESPAÇO
O GRANDE
DESMONTE
(Fotos: Getty Images)
S
Ser reitor de universidade federal no Brasil é
viver em constante sobressalto. Em 2022, en-
tão, foi um atrás do outro. O mais recente de-
les veio no último dia 28 de novembro, durante
a partida entre Brasil e Suíça, ainda na fase de
grupos da Copa do Mundo no Catar. “Há pou-
co, enquanto acontecia o jogo do Brasil na Copa
contra a Suíça, ocorreu imensa retirada de re-
cursos das Universidades, dos Institutos Fede-
rais e no MEC”, avisou no Twitter o advogado
Ricardo Marcelo Fonseca, presidente da Asso-
ciação Nacional dos Dirigentes das Instituições
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Federais de Ensino Superior (Andifes). Segundo
a entidade, o novo corte soma R$ 1,68 bilhão,
dos quais R$ 344 milhões foram retirados di-
retamente das universidades. “Na prática, ras-
param o que ainda sobrava dos recursos da
Educação no Brasil. Terra arrasada nas nossas
instituições”, lamentou Fonseca na rede social.
PERSEGUIÇÃO IDEOLÓGICA
A escassez de recursos não foi a única pedra no caminho (ou no
sapato) dos reitores. Ainda em 2018, muito antes de subir a rampa
do Planalto e vestir a faixa presidencial, Bolsonaro prometeu que,
se eleito, ia “entrar com um lança-chamas no MEC” e “tirar o Paulo
Freire lá de dentro”, referindo-se ao Patrono da Educação Brasileira.
O economista Abraham Weintraub, o segundo de quatro ministros
da Educação de Bolsonaro, fez incontáveis acusações, todas sem
prova ou fundamento: numa ocasião, avisou que ia reduzir as ver-
bas das universidades federais que fizessem “balbúrdia”; noutra,
classificou as instituições como locais de “arruaça” e, não satisfeito,
ainda acusou Acesse
muitas dessas universidades de terem “cracolândia”.
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NEGACIONISMO CIENTÍFICO
As universidades públicas trataram de contra-atacar com conhe-
cimento e informação. Em junho de 2019, a Universidade de São
Paulo (USP) criou o site 10 mitos sobre a universidade pública no
Brasil. Um deles é: “Nos países desenvolvidos, a ciência na univer-
sidade é privada”. Errado! Segundo a USP, nos países ricos, a maior
parte dos recursos é pública e isso vale até para as universidades
que cobram mensalidade. No caso dos EUA, 60% da verba vêm do
governo; já na União Europeia, são 77%.
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DESMONTE UNIVERSITÁRIO
Por essas e outras, o retrospecto do governo Bolsonaro não é dos
melhores. “Foi o pior presidente do Brasil para a educação supe-
rior e a pesquisa científica”, elege o tecnólogo Irineu Manoel de
Souza, reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
“Tragédia. Não há outra palavra para descrever”, resume o epide-
miologista Pedro Hallal, ex-reitor da Universidade Federal de Pe-
lotas (UFPel), no Rio Grande do Sul. “Um misto de falta de respeito
com tentativa de difamação”.
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RECOMPOSIÇÃO ORÇAMENTÁRIA
Se a retrospectiva do governo Bolsonaro é a pior possível, a expec-
tativa para o de Lula é das melhores. Denise Carvalho, da UFRJ, es-
pera dobrar o número de jovens de 18 a 24 anos no ensino superior
— o índice hoje é de 20%. Na Coreia do Sul, a título de comparação,
é de 50%. Para chegar ao patamar do tigre asiástico, ela propõe au-
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mentar o número de vagas e o percentual do PIB para ciência e tec-
nologia. Alfredo Gomes, da UFPE, prega a retomada do sistema de
cotas não só na graduação, mas também na pós-graduação.
ENTREVISTA
“Damos tanta
atenção à
felicidade que
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não lidamos
com a tristeza”
A
A busca pela felicidade é tratada por filósofos, reli-
giosos
Acesse e políticos
nosso Canal no desde
Telegram:as primeiras civilizações. Na
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China do século 5 a.C., Confúcio pregava que o con-
tentamento resulta da harmonia, embora esse estado fosse
incompatível com o contexto de guerra que o pensador vivia.
Para Aristóteles, um século depois, toda ação humana tinha
como objetivo a felicidade. Na Idade Média, no entanto, essa
associação ficou de lado. A Igreja Católica passou a sugerir
que a verdadeira felicidade só poderia ser atingida após a
morte e que, em vida, as mazelas nos fortaleceriam.
À MARGEM
DO CUIDADO
DO DESRESPEITO AO NOME
SOCIAL A ATENDIMENTOS
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NEGADOS, A POPULAÇÃO
TRANSEXUAL NO BRASIL
SOFRE PARA TER ACESSO
INTEGRAL À SAÚDE — E
ISSO VAI MUITO ALÉM
DE CIRURGIAS OU
TERAPIAS HORMONAIS
E
Em 1969, a maquiadora e manicure Waldirene
Nogueira saiu de Lins, no interior de São Pau-
lo, e foi para o Hospital das Clínicas, na capital,
buscar ajuda. O motivo da angústia que a fez
percorrer mais de 400 quilômetros não era algo
simples de ser resolvido: Waldirene é uma mu-
lher trans e sofria com a chamada disforia de
gênero, um estado permanente de desconforto
com o sexo biológico.
OBSTÁCULOS
SISTEMATIZADOS
O Brasil está no topo da lista de países mais inseguros para a co-
munidade trans: é o que mais mata transexuais e travestis no
mundo. Segundo o mais recente levantamento do Trans Murder
Monitoring — plataforma da rede Transgender Europe (TGEU) que
monitora mortes de pessoas trans —, entre 1º de outubro de 2021
e 30 de setembro de 2022, 96 indivíduos trans foram assassinados
por aqui. Em segundo lugar está o México, com 56 homicídios no
período; e em terceiro, os Estados Unidos, com 51.
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“Muitos acham
que é só você
chegar e ter
um médico ali
que já basta,
mas a atenção
à saúde vai
muito além
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do estado
físico: inclui o
psicossocial, a
estrutura e o
ambiente
em que a
pessoa vive”
Morgan Fonseca,
biomédico especialista em saúde
pública, se identifica como uma
pessoa trans masculina e relata o
que vê nos atendimentos na UBS em
São Paulo onde faz hormonização
com testosterona
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DEMANDAS E DIREITOS
Entender a saúde integral de pessoas trans parte de uma lógica
simples: elas têm as mesmas demandas da população cisgênero,
isto é, que se identifica com o sexo atribuído no nascimento. De
uma simples unha encravada a hipertensão, diabetes ou altera-
ções na tireoide, essas pessoas também são seres humanos e es-
tão expostas aos mais diversos riscos.
Sem contar que ainda não se sabe ao certo quais são os efeitos
a longo prazo da utilização de terapias hormonais exógenas e do
bloqueio de certos hormônios no organismo humano. Uma pes-
quisa da Universidade Medical Center, em Amsterdã, na Holanda,
começou a traçar um panorama em relação ao câncer de mama.
Publicado em 2019 no respeitado periódico BMJ, o estudo envol-
veu 2.260 mulheres trans e 1.229 homens trans. No total, o levan-
tamento identificou 15 casos de tumores mamários nas mulheres
após uma média de 18 anos de tratamento hormonal, demons-
trando um risco 46 vezes maior do que em um homem cis.
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Diante dessa e de outras evidências, o conselho do Colégio Ame-
ricano de Radiologia passou a recomendar que uma mulher tran-
sexual com mais de 40 anos que faça uso de terapia hormonal há
pelo menos cinco anos seja submetida a mamografias anuais de
rastreamento da mesma maneira que mulheres cis fazem.
ACOLHIMENTO
QUE TRANSFORMA
Nas últimas décadas, alguns marcos da luta pelo direito à saúde de
pessoas trans foram conquistados. Em 2006, o SUS passou a acei-
tar o uso do nome social para a população trans; dois anos depois,
foi disponibilizado na rede pública o Processo Transexualizador,
que é o acesso gratuito a equipes multidisciplinares (psicólogos,
ginecologistas, médicos de família, entre outros), terapias hormo-
nais e cirurgia de redesignação sexual.
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Mas não são todos os lugares do país que têm acesso a serviços
como esse. Para Ricardo Omena, coordenador do Ambulatório
LGBT Patrícia Gomes, em Recife, a política de saúde a esse público
ainda não chega a municípios cujas populações são muito conser-
vadoras ou religiosas, por exemplo. O ambulatório Patrícia Gomes
foi criado em novembro de 2017 justamente para suprir essa de-
manda. “Hoje atendemos mais de 1.500 pacientes com uma es-
trutura mínima. Ao longo desses cinco anos, vi a vida de muitas
pessoas se transformar. Meu desejo era que todo esse trabalho
fosse solidificado com uma política mais bem implementada e uma
estrutura mais garantida no Brasil”, confessa Omena.
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Concepção artística do
telescópio espacial James
Webb. (Foto: NASA-GSFC,
Adriana M. Gutierrez (CI Lab))
Localizados na nebulosa da Águia, a cerca de 7 mil anos-luz da Terra, esses aglomerados de poeira e gás
foram observados pela primeira vez em 1995, com o Hubble, e revisitados em 2014 em uma versão mais
nítida (à esquerda). Em outubro, a Nasa divulgou uma imagem do James Webb, que mostra um nível de
detalhes ainda maior. (Foto: NASA, ESA, CSA, STScI, Hubble Heritage Project (STScI, AURA))
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COLABORAÇÃO INTERNACIONAL
Pelos próximos 10 anos, cientistas do mundo inteiro vão se debru-
çar sobre os dados coletados pelo James Webb. Só no primeiro ciclo
de observações, iniciado seis meses após o lançamento e com du-
ração prevista para um ano, 286 propostas foram aprovadas para
utilizar uma porção das 6 mil horas disponíveis. A maioria dos pro-
jetos é para o estudo de exoplanetas e discos, mas as outras áreas
de pesquisa abrangem galáxias, meios interestelar e intergaláctico,
estrutura do Universo em larga escala, astronomia do Sistema So-
lar, física estelar e tipos de estrelas, populações estelares e buracos
negros supermassivos e núcleos galácticos ativos.
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