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M. Azancot de Menezes
Um olhar sobre a implementação da Reforma Educativa em Angola. Estudo de caso nas Províncias de
Luanda, Huambo e Huíla. M. Azancot de Menezes (2010) 2
ÍNDICE
Capítulo 1
Introdução
Capítulo 2
Metodologia
2.1. Paradigma de investigação utilizado no estudo - Abordagem qualitativa 24
2.2. Questões de ordem ética 25
2.3. Campo de investigação e participantes do estudo 27
2.4. Técnicas e instrumentos de recolha de dados 29
Capítulo 3
Apresentação, Análise e Interpretação dos Resultados
Capítulo 4
Discussão e Conclusão
4.1. Discussão dos resultados obtidos por referência à questão de estudo,
ao PANETP e ao programa de implementação da reforma educativa 61
4.2. Algumas considerações sobre a validade dos resultados do estudo 66
4.3. Conclusão 67
4.4. Recomendações 69
Referências Bibliográficas 73
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Capítulo 1
Introdução
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de regulação no sentido de serem criadas condições para que as escolas promovam a
gestão curricular e a concepção de projectos educativos contextualizados.
No entanto, apesar de se ter criado a LBSE e dos propósitos do Governo realçarem a
importância de que a reforma educativa deveria abranger todos os aspectos da educação,
a verdade é que, observações empíricas, mostram, por um lado, que o relacionamento
das instâncias decisoras (Delegações Provinciais de Educação e Repartições
Municipais/Comunais) com as escolas, em particular as primárias, é distante e tem
demonstrado que existe apenas colegialidade administrativa e burocrática, havendo
muitos obstáculos característicos das estruturas centralizadas, por outro lado, não
obstante termos terminado 2009 (6º ano da reforma educativa), parecem persistir sérios
problemas ao nível da inovação e qualidade de ensino propostos pela reforma educativa,
como por exemplo, a inexistência de professores capacitados para o ensino resultante da
extensão do ensino primário de quatro para seis anos, a falta de professores com
formação específica para leccionarem as disciplinas de educação laboral, educação
física e outras matérias introduzidas no âmbito da reforma, a não generalização dos
novos materiais pedagógicos pelo País e a sua gratuitidade, a carência acentuada de
instrumentos de avaliação (cadernetas de avaliação contínua dos alunos) e, para citar
apenas outro exemplo, a falta de condições para a prática da avaliação contínua dos
estudantes por causa da ausência de salas ou, tendo por referencial o plano de reforma
educativa (máximo de 30 a 35 alunos por sala), devido ao excesso de alunos por turma.
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1.2. Questão de estudo
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1.3. Objectivos
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1.4. Importância do estudo
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1.5. A política de bem-estar social delineada pelo Governo no domínio da
educação até 2025
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a. “Criar um sistema educativo equitativo e orientado para a igualdade de
oportunidades de acesso à educação e formação para o exercício de uma
cidadania activa e plena para todos os angolanos;
b. Assegurar a educação pré-escolar;
c. Assegurar o ensino primário obrigatório e gratuito para todos;
d. Estimular crescentes taxas de escolaridade em todos os níveis de ensino, com
redução de diferenciações de género, em particular no ensino básico;
e. Reduzir assimetrias sociais e territoriais no acesso ao sistema de ensino;
f. Melhorar de forma substancial o desempenho e a eficiência do sistema de
ensino, com forte redução da repetência e abandono escolar;
g. Promover um abrangente e eficaz sistema de informação e orientação
profissional e uma transição adequada entre o sistema escolar e as necessidades
do mercado de trabalho;
h. Assegurar a formação de recursos humanos qualificados, necessários ao
desenvolvimento da economia, inovação e conhecimento, melhorando
substancialmente a formação média e superior e a formação avançada;
i. Assegurar o cumprimento dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio na
área educativa, até 2015;
j. Desenvolver currículos e metodologias de ensino e aprendizagem, em todos os
graus de ensino, adaptados às necessidades específicas de Angola;
k. Formar professores com perfil adaptado a novos currículos e métodos de ensino
e aprendizagem, verdadeiros profissionais do ensino;
l. Transformar a Escola em Centro Local de Aprendizagem dotada de autonomia
contratualizada, aberta a crianças, jovens e adultos, dotada de recursos e capaz
de facilitar o acesso ao conhecimento e à qualificação e ao reconhecimento de
competências em contexto de Rede Educativa;
m. Criar um sistema educativo aberto à participação de vários agentes públicos,
privados e cooperativos, coexistindo diferentes modelos de financiamento e
formas de parceria;
n. Implementar uma política efectiva de acção social escolar, no sentido de permitir
a melhoria das condições de acesso e de diminuição do nível de abandono
escolar;
o. Reabilitar, construir e apetrechar Escolas Polivalentes e Profissionalizantes;
p. Reforçar a capacidade institucional e a cobertura escolar do Ensino Especial;
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q. Criar uma capacidade nacional de produção e edição de manuais escolares e de
outros materiais pedagógicos e de ensino”.
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Governo concentrar e decidir sobre as grandes linhas estratégicas de actuação mas com
uma gestão descentralizada possibilitando aos actores locais intervir ao nível da
regulação operativa. Em relação à LBSE, é reafirmado o empenho na realização da
escolarização de todas as crianças em idade escolar, a redução do analfabetismo de
jovens e adultos e o aumento da eficácia do sistema educativo e a sua readaptação.
Note-se que, internacionalmente, Angola ratificou praticamente as principais
Convenções, Declarações e Pactos Internacionais, onde os Estados assumem o
compromisso de garantir a todos os seus cidadãos o direito à educação. De entre alguns
documentos ratificados destacam-se a “Convenção sobre os Direitos da Criança”, a
“Declaração Mundial da Educação para Todos”, o “Quadro de Acção de Dakar-
UNESCO” e, no âmbito da SADC, o “Protocolo sobre Educação e Formação”, ou seja,
assumiu um compromisso no sentido de responder aos desafios produzidos pelos
diversos organismos regionais e internacionais em matéria de educação.
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profissionalização do docente, a ser olhado como “professor mediador”. Eis alguns dos
princípios e acções prioritárias preconizados:
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gestão curricular e a existência de “programas mais contextualizados e adaptados às
realidades e necessidades locais” (Op.cit.). A grande preocupação, segundo o
documento, é que as direcções das escolas passem a ter uma preocupação pedagógica
centrada nos resultados de aprendizagem.
A sétima dimensão (7), no âmbito que interessa a este estudo, o ensino primário, há
um objectivo fundamental defendido no documento que reforça a ideia de se “assegurar
a educação pré-escolar e o ensino primário obrigatório e gratuito para todos” e “elevar a
taxa líquida de escolaridade da educação básica para cerca de 100%).
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1.6. A Reforma educativa na perspectiva do governo: (I) objectivos (II)
cronograma e (III) actividades desenvolvidas no âmbito da implementação do
novo sistema de educação
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Em relação à “melhoria da qualidade de ensino”:
a. “Reformulação, em profundidade, dos objectivos gerais da educação, programas
escolares, conteúdos, métodos pedagógicos, estruturas e meios pedagógicos
adequados à realidade angolana;
b. Melhoria das aprendizagens e enquadramento pedagógico dos alunos;
c. Formação inicial e em exercício dos professores;
d. Modernização e reforço da inspecção escolar;
e. Melhoria da qualidade e quantidade de manuais escolares;
f. Melhoria do trabalho metodológico e do processo docente-educativo das
escolas;
g. Garantia da participação da comunidade nos trabalhos da escola, isto é, da
relação entre a escola e a comunidade” (INIDE, 2009).
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Experimentação, 3. Avaliação e Correcção, 4. Generalização e 5. Avaliação Global),
podendo as mesmas coexistirem entre elas.
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c. Em 2006, em regime de experimentação, a 3ª classe. Em regime de
generalização a 1ª classe;
d. Em 2007, em regime de experimentação, a 4ª classe. Em regime de
generalização a 2ª classe;
e. Em 2008, em regime de experimentação, a 5ª classe. Em regime de
generalização a 3ª classe;
f. Em 2009, em regime de experimentação, a 6ª classe. Em regime de
generalização a 4ª classe;
g. Em 2010 entra em generalização a 5ª classe;
h. Em 2011 entra em generalização a 6ª classe.
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províncias” e ao “diagnóstico da implementação da reforma educativa em 6 províncias”
(INIDE, 2009);
No 5º ano da reforma educativa (2008), procedeu-se à “experimentação dos
novos materiais pedagógicos da 5ª classe”, à “avaliação e correcção dos materiais
pedagógicos da 4ª classe”, à “generalização dos materiais pedagógicos da 3ª classe”, à
“formação de professores experimentadores dos novos materiais pedagógicos da 6ª
classe e formação de professores que generalizam os novos materiais da 3ª classe a nível
das províncias” e ao “diagnóstico da implementação da reforma educativa em 2
províncias” (INIDE, 2009).
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uma reforma pressupõe alterações ao nível normativo-jurídico dependentes das
dimensões ideológicas, políticas, culturais e sociais, ou seja, uma reforma educativa
implica “uma estratégia planificada para a modificação de certos aspectos do sistema
educativo de um país de acordo com um conjunto de necessidades, resultados
específicos, meios e métodos adequados” (Sack, 1981; González e Muñoz; 1987;
citados por Pacheco, 1996), enquanto que inovação deve ser entendida como “uma série
de mecanismos e processos mais ou menos deliberados e sistemáticos por intermédio
dos quais se procura introduzir e proporcionar certas mudanças nas práticas educativas
vigentes” (González e Muñoz, 1987; citado por Pacheco, 1996). Apesar desta distinção,
importa referir que a reforma também pode significar inovação, desde que se verifique
uma mudança ao nível mais específico das práticas pedagógicas dos professores,
directores de escola e de outros actores educativos. O conceito de reforma aponta para
“as mudanças estruturais, organizacionais, e o de inovação para a mudança, mais
qualitativa, de aspectos funcionais” (Pacheco, p. 151), contudo, o problema que se
coloca no que diz respeito à inovação curricular prende-se com a escola, isto é, reside
em saber se esta tem recursos materiais, humanos e financeiros para protagonizar
decisões estratégicas que provoquem a mudança.
A reforma curricular, como referiu o antigo ministro da educação de Portugal,
Roberto Carneiro (1987), é o vector principal de qualquer reforma educativa porque o
currículo é o elemento fundamental de um sistema educativo. Esta convicção, contudo,
não deve ser obsessiva, porquanto, uma reforma educativa não pode esgotar-se na
reforma curricular, porque a primeira, como se referiu anteriormente, tem implicações a
várias dimensões. Salvaguardado este aspecto, importa também referir que uma reforma
curricular também tem implicações em termos de “mudança” e de “inovação”.
Representa mudanças na organização curricular (registe-se no caso de Angola a nova
tipologia organizacional para o ensino primário e secundário), mudanças nos planos
curriculares (reorganização dos planos para, por exemplo, promover a
interdisciplinaridade), programas, materiais pedagógicos e no sistema de avaliação das
aprendizagens, mas, também, inovação ao nível do pensamento dos professores e da
suas práticas, sem descurar aspectos ligados à motivação e à formação dos mesmos.
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1.8. A avaliação da qualidade das escolas
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Quadro 1
Variáveis relacionadas com o progresso e desenvolvimento dos alunos
1. Variáveis de Partida (nível escola) 3. Variáveis de Partida (nível turma)
- Edifícios - Dimensão da turma
- Estatuto - Características da turma (idade, origem
- Recursos social, percursos escolares, composição)
- População escolar - Sala de aula
- Estabilidade - Recursos
- Orientações curriculares
- Características dos professores
- Mudanças de docentes ao longo do ano
Matriz de Mortimore (1988), defendida por Clímaco (2005) e adaptada pelo autor
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Gestão: gestão escolar, liderança, organização, comunicação, gestão do
pessoal);
Output: sucesso escolar, realização de objectivos, resultados.
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Capítulo 2
Metodologia
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exemplo), formulam e testam hipóteses (testes estatísticos para a prevenção de erros).
Por todas estas razões, a investigação quantitativa tem como principal limitação o facto
do investigador, ao lidar com seres humanos (caso das ciências sociais e humanas), não
ser capaz de manipular ou controlar certas variáveis.
Sem desejar entrar em polémicas filosóficas relativamente às variantes
metodológicas (quantitativa, qualitativa ou mista), a verdade é que, apesar do modelo
quantitativo ter contribuído e continuar a ter um papel preponderante no avanço da
ciência, na área das ciências sociais e no campo específico do ensino e da educação,
como referi, parece apresentar algumas limitações porque nos estudos em educação não
se considera a existência de uma só interpretação (objectiva) da realidade, pois, as
interpretações da realidade dependem do investigador (chave de toda a investigação).
Efectivamente, ao invés do que se passa na investigação quantitativa, o grande objectivo
da investigação qualitativa é a compreensão mais profunda dos problemas, é investigar
o “interior” de certos comportamentos, convicções, crenças, atitudes, sentimentos, etc.
Nesta óptica, o investigador não está preocupado com a dimensão das amostras, nem
com a generalização dos resultados. Na metodologia qualitativa o investigador não
coloca o problema da validade e da fiabilidade dos instrumentos, pois, “o investigador é
o instrumento de recolha de dados por excelência; a qualidade (validade e fiabilidade)
dos dados depende muito da sua sensibilidade, da sua integridade e do seu
conhecimento” (Fernandes, 1991). Os dados recolhidos são designados por qualitativos,
o que significa serem ricos em pormenores descritivos relativos a pessoas, locais e
conversas, ou seja, “as questões a investigar não se estabelecem mediante a
operacionalização de variáveis, sendo, antes, formuladas com o objectivo de investigar
os fenómenos em toda a sua complexidade e em contexto natural” (Bodgan & Biklen,
1994), portanto, não faz sentido quantificar dados ou proceder a uma análise
quantitativa porque os dados que se obtêm (atitudes, sentimentos, hábitos, expectativas,
etc.), por pertencerem a diferentes pessoas, não poderem ser quantificados.
Pelo que acabei de expor, com a convicção profunda de que todos os
paradigmas têm lugares próprios no campo da investigação, mas, absolutamente
convencido da influência crescente dos métodos qualitativos no estudo de várias
questões educacionais, basta “tomar em consideração os padrões de financiamento dos
organismos governamentais, os programas dos congressos de educação, os títulos dos
livros da especialidade e os conteúdos das diversas revistas de educação” (Popkewitz,
1984), optimista em relação às políticas educativas emergentes, fico na expectativa e
faço votos para que as universidades angolanas optem por assumir posturas filosóficas,
didáctico-científicas e conceptuais mais flexíveis, adaptadas à sociedade actual,
consentâneas com a formação universitária pluridisciplinar e com a necessária inovação
dos centros de investigação em educação, condições imprescindíveis para a promoção e
o incentivo da produção qualitativa de novos trabalhos de investigação científica sobre
os múltiplos domínios inerentes à formação de professores, à organização e gestão
escolar, à pedagogia e à psicologia educacional, numa linha de investigação científica
de excelência, compatível com as exigências e o pluralismo intelectual defendido pela
comunidade científica internacional (artigo publicado no Jornal de Angola).
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na implementação do projecto da reforma educativa, nomeadamente, directores de
escola, subdirectores pedagógicos, professores, inspectores escolares, funcionários das
repartições municipais de educação e encarregados de educação. Para dar cumprimento
aos objectivos estabelecidos na pesquisa, respeitando as questões de ordem ética, a
principal preocupação do investigador foi auscultar a opinião desses agentes educativos
de forma honesta, espontânea, na expectativa de se garantirem depoimentos reais e,
portanto, para se proceder a um conjunto de recomendações com utilidade para os
responsáveis das políticas educativas do país.
Nestes termos, foi prometido a todos os participantes do estudo a garantia de
anonimato total durante a fase de inquérito (entrevistas e questionários) e no momento
da elaboração do relatório, quer em relação aos nomes dos inquiridos, quer em relação à
identificação das instituições, pois, na opinião do consultor, o relevante sob o ponto de
vista da investigação é apenas a opinião dos inquiridos e aspectos ligados à
contextualização. Esta opinião é defendida por Hébert, Goyette e Boutin (2008) ao
afirmarem que quando o investigador se dirige aos intervenientes na investigação «é
norteado por certos princípios éticos quando inicia o seu trabalho de campo e quando
efectua a recolha de dados», devendo «redigir o seu relatório mantendo uma
preocupação ética face ao impacto possível deste na reputação quer dos indivíduos, quer
da instituição em causa» (p. 133). De resto, as garantias de ordem ética foram um factor
fundamental para a obtenção de respostas livres, determinantes para o sucesso das
entrevistas.
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2.3. Campo de investigação e participantes do estudo
Quadro 2
Província de Luanda - Instituições visitadas e participantes inquiridos
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Quadro 3
Província do Huambo - Instituições visitadas e participantes inquiridos
Quadro 4
Província da Huíla - Instituições visitadas e participantes inquiridos
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Em resumo, numa perspectiva global, os participantes do estudo nas três Províncias
em estudo incluíram directores, subdirectores pedagógicos, professores, encarregados
de educação, um chefe de secretaria, inspectores escolares, membros de repartições
municipais e comunais, membros de ONG´s com intervenção na área da educação, um
membro do Governo e um técnico superior do INIDE (Quadro nº 5).
Quadro 5
Participantes do Estudo nas Províncias de Luanda, Huambo e Huíla
Participantes do Estudo Quantidade
Directores 9
Subdirectores pedagógicos 4
Professores 48
Encarregados de Educação 5
Chefe de Secretaria 1
Inspectores Escolares 3
Membros de Repartições Municipais e 4
Comunais
Membros de ONG´s com intervenção na área 6
da educação
Membros do Governo e INIDE 2
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percepção e o ponto de vista de uma pessoa ou de um grupo de pessoas numa
situação dada» (Hérbert, Goyette e Boutin, 2008, p. 162).
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Capítulo 3
Apresentação, Análise e Interpretação dos Resultados
No capítulo anterior referiu-se que o trabalho de recolha de dados teve início com
duas entrevistas realizadas no mês de Novembro de 2009. A primeira foi com um
técnico superior do INIDE responsável pela área da reforma educativa. A segunda foi
com o Vice-Ministro da Educação para a Reforma educativa. A grande finalidade foi
ouvir a opinião do responsável pelas políticas educativas no campo da reforma
educativa e o técnico superior ao serviço da política. Os discursos são coincidentes na
sua generalidade e, como vão ao encontro do que tem sido anunciado publicamente,
entendeu-se que não faria sentido incluir nos resultados deste relatório.
Sendo assim, neste capítulo vão ser apresentadas as respostas que os dados obtidos
forneceram em relação à questão de estudo e aos objectivos definidos.
Em relação ao objectivo específico relacionado com as opiniões dos diversos
agentes educativos sobre a problemática da educação em geral e relativamente à
implementação do programa da reforma educativa foi possível obter respostas bastante
esclarecedoras sobre o entendimento dos inquiridos em relação à problemática da
reforma educativa.
Assim, após uma breve caracterização das instituições visitadas e dos inquiridos,
passa-se de seguida à apresentação dos resultados, listando algumas das respostas que
melhor podem contribuir para a compreensão da questão de estudo e dos objectivos
traçados.
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O chefe de Gabinete do Ensino Geral da Repartição Municipal de Educação
Depois de fazer uma breve informação sobre as escolas do Município onde trabalha,
respondeu a algumas questões colocadas. Destacam-se alguma delas, como se segue:
“Os manuais emprestados aos alunos não chegam porque há turmas numerosas e
as escolas é que têm culpa porque foram contra a orientação”;
“Por exemplo, há escolas primárias com turmas da 9ª classe. Como é que vão
passar os diplomas?”;
“Os professores recebem alunos a mais porque por pressão do povo que alega a
obrigatoriedade e gratuitidade do ensino primário. Eles têm razão.”;
Sobre se as escolas foram informadas em relação à reforma, respondeu ”as
orientações políticas são diferentes do que se faz na prática”;
“Não há formação de professores porque temos problemas financeiros”;
“Há diferenças entre a avaliação correcta e a que está no terreno porque às vezes
as delegações não informam”;
“As turmas do 1º ciclo precisam de laboratórios. Não há!”;
Em relação às queixas dos professores que se dizem mal enquadrados,
afirmou:”os docentes tiveram um período para apresentar as fichas com o último
nível académico, mas, também não há dinheiro para as novas categorias”.
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“Antigamente pedia-se 50 Kwanzas a cada aluno por trimestre e conseguia-se
algum dinheiro para as limpezas; essa prática foi abolida; este ano lectivo nem
sequer distribuíram as folhas de provas”;
“Estou há quase 6 anos sem auxiliar de limpeza, eu é que varro todos os dias o
meu gabinete”;
“O nosso Município não tem merenda escolar;
“Existem manuais, mas não chegam”;
“Não temos projecto educativo porque não sabemos fazer”;
“Fiz apenas dois seminários de capacitação. É muito pouco”;
“Os professores não fazem formação. É raro!”;
“Não é possível fazer-se avaliação contínua. Como? Com 50 alunos por sala?”;
“As escolas neste município são penalizadas! Não percebemos a razão”;
“Ninguém veio falar comigo ou pedir a opinião sobre a reforma”;
“Seguimos o currículo à risca. Fazemos a gestão do currículo por iniciativa
própria”;
“O inspector escolar não avisa. Chega, vem à Direcção e diz que vai à sala de
aula. Faz perguntas, entrega-me o relatório. Melhorou, já não parece polícia”;
“Não há actividades extra-curriculares porque não há espaço. Os professores
estão muito desmotivados mas mesmo assim desenvolveram o programa
ambiental”;
“Não temos energia, nem água; Como manter a higiene?”
“Existe Comissão de Pais, mas pouco colaboram porque trabalham. Mas quando
os convocamos aparecem”.
“Nunca fui consultado sobre a reforma educativa; o que soube foi pela
televisão”;
“A formação está sob responsabilidade da Repartição, mas, em outros períodos é
a direcção pedagógica da escola que organiza a formação”;
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“O problema é que eu não tenho formação para exercer o cargo de subdirector
pedagógico, nem sequer uma vez por ano!”;
“No âmbito da reforma todos os alunos têm que ter a caderneta e o relatório
descritivo para anotar a avaliação contínua dos alunos mas o material não existe
e a caderneta tem erros do INIDE”;
“Há conteúdos das disciplinas novas, por exemplo, educação musical, e os
professores não sabem porque é preciso formação específica”;
“De acordo com a reforma, na 4ª classe, todos têm que ter educação musical.
Quando o professor não sabe tem que dar outra coisa”;
“Os conteúdos da 4ª classe nas disciplinas de matemática, geografia, estão
reduzidos; os manuais da 4ª classe têm poucos conteúdos”;
“No âmbito da reforma deveríamos ter 30 a 35 alunos por sala e temos 40 a 45
porque as infra-estruturas não dão. O ensino é gratuito, como vamos rejeitar os
alunos?”;
“Para respeitar-se o estatuto da carreira docente, alguns professores passaram de
35 mil para 25 mil Kwanzas”;
“Os subdirectores pedagógicos e coordenadores não têm subsídio de chefia”;
“Cortaram a merenda escolar sem explicação e o rendimento baixou…o ano
passado havia resultados, pontualidade, assiduidade e fez-se um curso de
merenda escolar…para nada!”;
“Os manuais são insuficientes; na 4ª classe temos 500 alunos e só recebemos
100; da 5ª e 6ª classes não existem manuais!”;
“Há um divórcio entre a Repartição e as direcções das escolas;
“ Existe comissão de pais e a relação é boa, compram detergentes.”;
“O professores não estão motivados por causa dos salários”; é preciso resolver
os problemas dos professores com muitos anos de serviço e mal pagos!”;
“Um sargento das FAA, com a 3ª classe, ganha 118 mil Kwanzas!”;
“Os inspectores escolares perguntam pela legislação na direcção, vão às salas,
pedem o plano de aula, mas, nem querem saber o trabalho que a escola
desenvolve, parcerias, etc. não é só fiscalização!;
“Veja aquela menina a subir a mangueira e tirar uma manga, isso é fome!”;
“A escola deveria ser mais valorizada pelo Governo”.
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A subdirectora pedagógica da Escola Primária L3, cursou o INE e frequenta uma
escola superior pedagógica. Tem 8 anos de experiência enquanto subdirectora e três
como docente. Esta escola tem recebido diversos apoios da ADRA. Tem auxiliares de
limpeza, pessoal administrativo e agentes de segurança. Eis algumas das suas principais
declarações:
“Nunca ninguém nesta escola ouviu falar em reforma antes dela avançar e há
problemas”;
“Há debilidades na área de recursos humanos. Por exemplo, existem
divergências entre os formadores cubanos e os que apareceram depois”;
“É impossível constituírem-se turmas de 35 alunos com escolas onde só há 3
salas de aula!”;
Havia praticamente 3 disciplinas agora há 7 disciplinas”;
“Faltam computadores, laboratórios e manuais. Quando se estava a dar a 5ª
classe experimental ainda não havia manual! Na 6ª classe só há manual para
professores”;
Devia haver professores especializados em educação laboral, educação musical
e educação física. Não pode ser na base do improviso”;
“As formações na escola do 1ª de Maio são das 8H às 12h. As pessoas chegam
tarde, é tudo muito rápido. Deveriam ser criados centros de formação nos
Municípios”;
“A avaliação contínua faz-se com cadernetas improvisadas pelo subdirector”;
“A relação escola-família é boa e participam. Arranjaram o tanque de água”;
“Não existe inspecção escolar porque não há transporte”;
Sobre se preferia o subdirector pedagógico ou o inspector na supervisão,
respondeu: ”preferia que fosse o subdirector pedagógico porque seria
supervisão sistemática e tem arquivos para comparar”;
Sobre a gestão do currículo respondeu: ”Adaptamos o currículo à realidade e
promovemos a interdisciplinaridade, graças à ADRA. Se falamos em água em
Língua Portuguesa, em Matemática e em História, falamos 3 vezes em água”;
“Temos actividades extra-curriculares, como a capoeira, ginástica rítmica,
teatro, etc.”.
Um olhar sobre a implementação da Reforma Educativa em Angola. Estudo de caso nas Províncias de
Luanda, Huambo e Huíla. M. Azancot de Menezes (2010) 35
A chefe de secretaria da escola primária L3 também deu uma breve entrevista. Eis
algumas das principais inquietações da inquirida:
“Existem muitos problemas. Não existe água, nem carteiras, os alunos sentam-
se no chão!”;
“Antes de avançarem com a reforma deviam ter ouvido os directores e os pais”;
“Eu tiro do meu salário para de vez em quando enchermos o tanque de água”;
“Não há merenda escolar”;
“Existem 10 professores mal enquadrados. Têm habilitações mas a categoria
não corresponde”;
“Existe comissão de pais e a comissão de bairro também trabalha com a
escola”;
“Não existe projecto educativo”;
“Não há inspecção escolar por falta de transporte. As mulheres são melhores
que os homens”;
“Existem manuais mas são poucos”;
“As escolas comparticipadas têm carteiras mas as do Estado não têm”;
“O Município recebe dinheiro mas as escolas nada recebem. Para onde vai o
dinheiro?”;
Um olhar sobre a implementação da Reforma Educativa em Angola. Estudo de caso nas Províncias de
Luanda, Huambo e Huíla. M. Azancot de Menezes (2010) 36
Os encarregados de educação de várias escolas da Província de Luanda
Não apoiam os educandos por falta de tempo e por não terem condições
logísticas;
Consideram injusto o ensino ser gratuito e terem que pagar;
Defendem que os manuais escolares no ensino primário deveriam ser gratuitos;
Pensam que se houvesse merenda escolar o rendimento das crianças melhoraria;
Defendem que o Governo deveria fazer maior esforço para construir escolas e
apetrechar as existentes com salas de aula condignas, carteiras, água potável, etc.
Professor C1, 41 anos de idade, sexo masculino, 12ª classe, 22 anos de serviço,
coordenador de turma.
Alguns erros detectados nas respostas: “mercer”, “remoneração”, “compença”;
Eis algumas respostas:
o “A minha opinião sobre o cargo que desempenho deveria mercer
remoneração”;
o Em relação à pergunta considera-se bem enquadrado em termos
profissionais e salariais? respondeu: “Não, porque o salário não
compença ao atendimento básico”.
Um olhar sobre a implementação da Reforma Educativa em Angola. Estudo de caso nas Províncias de
Luanda, Huambo e Huíla. M. Azancot de Menezes (2010) 37
Professor C2, 39 anos de idade, sexo feminino, 11ª classe, 8 anos de serviço.
Alguns erros detectados nas respostas: “cubrir”, “dispezas”;
Eis uma das respostas:
o Em relação à pergunta considera-se bem enquadrado em termos
profissionais e salariais? Respondeu: “Não, porque o salário não é
suficiente para cubrir todas as dispezas durante o mês”.
Professor C3, 51 anos de idade, sexo feminino, 12ª classe, 18 anos de serviço.
Erro detectado na resposta: “salario”;
Eis uma das respostas:
o Em relação à pergunta considera-se bem enquadrado em termos
profissionais e salariais? “Não, porque o salario não satisfaz”.
Professor C4, 33 anos de idade, sexo feminino, 12ª classe, 7 anos de serviço.
Erros detectados na resposta: “salario”, “cubrir”, “dispezas”; frase mal
construída e erros gramaticais.
Eis uma das respostas:
o Em relação à pergunta considera-se bem enquadrado em termos
profissionais e salariais? “Não, porque os em termos salariais não.
Porque não vai de encontro as necessidades básicas. O salário é
insuficiente para cubrir todas as dispezas durante o mês”.
Professor C6, 35 anos de idade, sexo feminino, 12ª classe, 8 anos de serviço,
coordenador de turma.
Um olhar sobre a implementação da Reforma Educativa em Angola. Estudo de caso nas Províncias de
Luanda, Huambo e Huíla. M. Azancot de Menezes (2010) 38
Alguns erros detectados nas respostas: “remoneração”, “compença”; e frase mal
construída;
Eis duas respostas:
o “A minha opinião sobre o cargo que desempenho deveria mercer
remoneração”;
o Em relação à pergunta considera-se bem enquadrado em termos
profissionais e salariais? respondeu: “Não, porque o salário não
compença o atendimento básico”.
Professor C7, 30 anos de idade, sexo feminino, 12ª classe, 9 anos de serviço,
coordenador de turma.
Alguns erros detectados nas respostas: “subcídio”, “salario”, “só” (ao invés de
sou); e frase mal construída;
Eis duas respostas:
o “As principais problemas só coordenadora das actividade extra-escolar
não recebo nenhum subcídio de coordenação””;
o Em relação à pergunta considera-se bem enquadrado em termos
profissionais e salariais? respondeu: “Não, porque o salário não
compensa o atendimento básico”.
Professor C9, 37 anos de idade, sexo feminino, 12ª classe, 2 anos de serviço,
coordenador de turma.
Alguns erros detectados nas respostas: “renumeração”, “ensentivar”.
Eis duas respostas:
Um olhar sobre a implementação da Reforma Educativa em Angola. Estudo de caso nas Províncias de
Luanda, Huambo e Huíla. M. Azancot de Menezes (2010) 39
o “Ao desempenhar esse cargo deveria haver renumeração p/ ensentivar as
nossas obrigações”;
o Em relação à pergunta considera-se bem enquadrado em termos
profissionais e salariais? respondeu: “Não, não é compensado com os
rendimentos básicos”.
Um olhar sobre a implementação da Reforma Educativa em Angola. Estudo de caso nas Províncias de
Luanda, Huambo e Huíla. M. Azancot de Menezes (2010) 40
3.2. Apresentação dos resultados da Província do Huambo
Um olhar sobre a implementação da Reforma Educativa em Angola. Estudo de caso nas Províncias de
Luanda, Huambo e Huíla. M. Azancot de Menezes (2010) 41
“A formação depende da Direcção Provincial. O ano passado houve dois
seminários de professores. Falta material e dinheiro”;
“Há muitos professores que não conseguem dar determinadas disciplinas
(Matemática, Desenho, etc.) e Educação Física (senhoras) e têm que se arranjar
outros professores”;
“No 2º ciclo não existem professores para as cadeiras de informática. É preciso
contratar técnicos de informática sem preparação pedagógica. Também não há
computadores. Como praticar?”;
“Sobre o sistema de avaliação os professores queixam-se que as fórmulas são
complexas e não se consegue fazer com muitos alunos. Imagine 4 turmas x 35
alunos daria…e no Huambo temos turmas com 145 alunos no Puniv”;
“Não estavam criadas as condições para a reforma educativa. Talvez se falasse
em inovação curricular e criar condições para avançar com a reforma”;
“Existem apenas duas escolas com autonomia financeira para formação de
professores”;
“A Repartição envia às escolas apenas giz, papel, não tem dinheiro e as escolas
não têm nada. Como é que o ensino é gratuito?”;
A Escola Primária nº H1 está situada numa zona periférica urbana do Huambo. Tem
quatro salas de aulas mas como só têm 35 carteiras os meninos têm que trazer cadeiras.
A subdirectora pedagógica é uma antiga professora, com pouca formação, e
desempenha a função há dois anos. Fez algumas declarações, onde se destacam as
seguintes:
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Luanda, Huambo e Huíla. M. Azancot de Menezes (2010) 42
“Existe Comissão de Pais que aparece em casos de desistência dos alunos e
para comparticipar”;
“A passagem obrigatória na 3ª classe não é boa porque o aluno vai mal
preparado para a 4ª classe”;
“Temos 500 alunos; em cada sala há 40 a 45; é difícil trabalhar”;
“Queria pedir ao Governo merenda escolar porque aumenta o sucesso; os
alunos depois do recreio fogem porque têm fome, a mãe não deu o
matabicho”.
A Escola Primária nº H2 está situada numa zona periférica urbana do Huambo. Tem
seis salas de aulas, cerca de 2300 alunos e 45 professores. Das declarações produzidas
pelo director, destacam-se as seguintes:
Um olhar sobre a implementação da Reforma Educativa em Angola. Estudo de caso nas Províncias de
Luanda, Huambo e Huíla. M. Azancot de Menezes (2010) 43
O director da Escola Primária nº H3
A Escola Primária nº H3 está situada numa zona periférica urbana do Huambo. Tem
três salas de aulas e uma zona de influência pedagógica, local de reuniões entre
professores e comunidade. O Director tem fraco nível de formação. Funciona com cerca
de 300 alunos e 7 professores. Das declarações produzidas, destacam-se as seguintes:
“Não temos merenda escolar e como os alunos vivem a mais de 2 km e não têm
transporte, faltam muito”;
“Temos bastantes dificuldades”;
“Apesar da Repartição fazer seminários de capacitação falta muita formação”;
“As actividades extra-curriculares são a campanha de limpeza com a família”;
“Não existem cadernetas para a avaliação contínua”;
“Não temos dinheiro, nunca recebemos e tenho que tirar do meu bolso”;
“Existe projecto educativo mas não funciona”.
Esta escola tem 3 salas de aula, 6 professores e situa-se também na zona periférica
urbana do Huambo. O director tem 54 anos de idade, tem a 8ª classe e 30 anos de
serviço. Entre outras, prestou as seguintes declarações:
Um olhar sobre a implementação da Reforma Educativa em Angola. Estudo de caso nas Províncias de
Luanda, Huambo e Huíla. M. Azancot de Menezes (2010) 44
“Cada turma deveria ter 35 alunos para a avaliação contínua; tenho uma turma
com 83 alunos, outras de 40 ou 70 alunos. Como fazer a avaliação contínua?”.
A escola nº H5 pertence a uma comuna numa zona rural do Huambo. Nesta comuna
existem cerca de 12 mil alunos e 180 professores. A escola em estudo tem 24
professores e 520 alunos. O director era um professor do 1º ciclo, tem agora 50 anos de
idade. Esta escola, talvez por estar numa zona do interior, foi a que apresentou
problemas mais complicados para a implementação do projecto da reforma educativa.
Eis algumas das declarações do seu director:
“A reforma na comuna está a dar muito trabalho; devia haver 35 alunos por sala
mas há 95 ou 100 alunos. Como fazer a avaliação contínua? Têm que aumentar
os professores para dividir os alunos, criarem-se mais turmas”;
“Não existem instrumentos de avaliação contínua dos professores; há poucos
manuais”;
“Não existe merenda escolar”;
“Há crianças oriundas de aldeias que residem aqui em cubatas construídas pelos
pais, sem condições, passam fome porque só comem quando os pais trazem
alimentos; no tempo do colono havia internatos”;
“Todos os professores deviam aumentar os seus estudos por causa da
monodocência”;
“Não existem manuais de Educação Musical e Educação Física”;
“Não há dinheiro, nem géneros alimentares”;
“As salas não têm carteiras”;
“Não existe legislação, nem a LBSE”;
“Da Repartição recebíamos giz, manuais, mas há 2 anos que não vem nada”;
“No princípio tínhamos uma lavra escolar, os produtos davam para os
professores estagiários aqui residentes, mas agora não temos”;
Os professores da 5ª, 6ª, 7ª e 8ª classes residem no Huambo, até aqui são 130
km, faltam muito!”;
Um olhar sobre a implementação da Reforma Educativa em Angola. Estudo de caso nas Províncias de
Luanda, Huambo e Huíla. M. Azancot de Menezes (2010) 45
“Existem 60 professores locais com a 10ª classe fizeram concurso para leccionar
na área mas não há respostas!”;
“Na nossa comuna existem 12 aldeias com crianças fora do sistema, sem
aulas!”;
“Outras crianças percorrem 10 a 20 km´s com chuva; quando chegam à escola
dormem, cansadas e com fome”;
“Deviam-se fazer lares para estudantes com o mínimo de condições e a
alimentação ficava por conta das famílias”;
“Devia-se fazer formação local para acabar com a anarquia das viagens”.
O administrador comunal
O inspector comunal
Antigo professor, é inspector há 5 anos e tem 29 anos de idade. Tem uma boa
relação com os professores e com a direcção da escola. Proferiu algumas
declarações, nomeadamente:
Um olhar sobre a implementação da Reforma Educativa em Angola. Estudo de caso nas Províncias de
Luanda, Huambo e Huíla. M. Azancot de Menezes (2010) 46
“Fazem avaliações semanais; por vezes passam 2 a 3 dias a fazerem a correcção
dos alunos”;
“Os alunos faltam e só aparecem para as provas”;
“Não existe material didáctico”;
“Não há professores”; há professores que faltam uma ou duas semanas porque
residem no Huambo; a opção de professores locais tem sido debatida mas não há
respostas”
“Há alunos que andam 15 a 20 km a pé, estudam só 4 ou 5 dias por semana.
Outras andam 35 km a pé; Em tempo de chuva é pior”;
“Os directores não têm legislação e os professores têm que comprar manuais”;
“Não existem professores formados em Educação Laboral, Educação Musical,
nem há instrumentos; e há problemas na monodocência em matemática”;
“Há muitos professores desmotivados, com problemas salariais; se estivessem
motivados trabalhavam”.
Um olhar sobre a implementação da Reforma Educativa em Angola. Estudo de caso nas Províncias de
Luanda, Huambo e Huíla. M. Azancot de Menezes (2010) 47
“Temos que improvisar, sou professor de matemática mas tenho que dar
química”;
“Repare, olhe para o quadro… está todo cheio de pontos. Os alunos na aula de
matemática vão confundir o ponto de produto com o ponto do quadro
estragado”;
“Na Relação Escola-Família há problemas por causa da língua materna, não a
conhecemos…”;
“Estamos cá, uns, há dois anos, outros, há quatro; muitas vezes o nosso almoço
são bolachas ou nada!”;
“O inspector comunal é parceiro mas por vezes é mal encarado”;
Do número de professores referido, 36 afirmaram que nas suas escolas não havia
merenda escolar. Como está demonstrado que a existência de merenda escolar
Um olhar sobre a implementação da Reforma Educativa em Angola. Estudo de caso nas Províncias de
Luanda, Huambo e Huíla. M. Azancot de Menezes (2010) 48
contribui para a resolução dos problemas de assiduidade e pontualidade, está-se
em crer que a resolução deste fácil problema poderia ser determinante para a
motivação das crianças com mais debilidades sociais.
Um olhar sobre a implementação da Reforma Educativa em Angola. Estudo de caso nas Províncias de
Luanda, Huambo e Huíla. M. Azancot de Menezes (2010) 49
3.3. Apresentação dos resultados da Província da Huíla
Um olhar sobre a implementação da Reforma Educativa em Angola. Estudo de caso nas Províncias de
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“Não existe merenda escolar”;
“Existem dificuldades com aqueles professores da monodocência que têm
dificuldades em ter que dar mais disciplinas porque a primária passou da 4ª para
a 6ª classe; há professores que querem pedir transferência para leccionar só
Educação Moral e Cívica”;
“Não existem professores nos quimbos com a 6ª classe, então a Repartição é que
coloca lá os professores; não têm condições, ficam num quarto do posto de
saúde; por vezes enquanto um fica a dar aulas o outro vai buscar água”;
“Alguns professores apanham dois táxis, depois andam 2 km a pé para irem dar
aulas“;
“Há alunos que andam a pé 15 km!”;
“O Governo disponibilizou carro mas apenas nas vias principais”;
“Há escolas que funcionam debaixo das árvores, quando chove tudo se molha e
não há aulas”;
“A reforma trouxe de bom a aprendizagem rápida, por causa do método de
ensino”.
Um olhar sobre a implementação da Reforma Educativa em Angola. Estudo de caso nas Províncias de
Luanda, Huambo e Huíla. M. Azancot de Menezes (2010) 51
A directora da Escola Primária nº Hu1
A Escola Primária Hu1 está situada numa zona rural da Huíla. Tem 32 turmas, sendo
que, funcionam 14 no edifício (7 de manhã e 7 de tarde) e as restantes por debaixo das
árvores. Há cerca de 1200 alunos, 32 professores e 8 funcionários (administrativos e
auxiliares de limpeza). A Directora tem 28 anos de experiência profissional docente,
aceitou ser entrevistada, tendo prestado os seguintes depoimentos:
“Existe Comissão de Pais e temos uma boa relação com eles; um pai ofereceu
sete quadros; também temos um computador, uma fotocopiadora, armários e
secretárias e um gerador oferecido pela ADRA”;
“Não existem condições para implementar a reforma; as salas têm 40 a 50
alunos; não há cadernetas para avaliar as classes de transição nem relatórios
descritivos para as classes de transição automática. Temos que pedir aos pais
para fazerem cópias”;
“Existem problemas com professores nas disciplinas de Educação Musical e
Educação Laboral”;
“Há professores das 6ªs classes mal preparados que escrevem com erros de
ortografia no quadro sendo necessários chamá-los à parte para corrigirem”;
“Não existe merenda escolar”;
“Só se faz avaliação escrita, a oral é difícil porque há muitos alunos”;
“O professores e os directores são mal pagos”.
A Escola Primária Hu2 está situada numa zona rural da Huíla. Tem 300 alunos, 20
professores e 5 salas de aula (os mais pequenos têm aulas no jango, sentados em
pedras). A subdirectora pedagógica concluiu o curso médio, tem 3 anos de experiência
profissional e aufere o salário apenas como professora. Foi entrevistada no meio do
mato em conjunto com outra professora, quando se deslocavam para as suas residências.
Algumas das declarações são as seguintes:
Um olhar sobre a implementação da Reforma Educativa em Angola. Estudo de caso nas Províncias de
Luanda, Huambo e Huíla. M. Azancot de Menezes (2010) 52
A subdirectora pedagógica:
A professora:
“Há problemas com a transição automática (1ª para a 2ª classe passam sem saber
e da 3ª para a 4ª classe também). Só reprovam da 2ª para a 3ª classe. No 1º ciclo
não sabem nada!”;
“Temos alguns problemas por causa da língua materna. As crianças só falam
nianeca entre elas e como não sabemos temos que improvisar; e os manuais são
todos em português”;
“O salários estão sempre atrasados e não há transportes; quando há operação
stop os táxis não funcionam ou estão cheios”;
“Não temos energia, nem água, nem biblioteca”.
A Escola Primária Hu3 é uma escola da zona rural da Huíla. A sua directora, com 45
anos de idade, exerceu a função de professora durante 26 anos, exercendo o cargo de
direcção há dois anos. A escola tem 516 alunos e 8 salas de aula (4 em espaço fechado e
outras 4 ao ar livre, por debaixo das árvores). Há 18 professores. Quando chove não há
aulas. Destacam-se as seguintes declarações:
Um olhar sobre a implementação da Reforma Educativa em Angola. Estudo de caso nas Províncias de
Luanda, Huambo e Huíla. M. Azancot de Menezes (2010) 53
“Os professores não estão preparados para a reforma porque não sabem
preencher as cadernetas de avaliação do ensino primário para as 2ª e 4ª classes
nem os relatórios descritivos para as classes de transição da 1ª e da 3ª classes”;
“Há crianças na 3ª classe que não sabem ler. Nas aulas só falam a língua
nacional e isso dificulta na aprendizagem e na linguagem”;
“Por causa da língua, por exemplo, no pátio, se os professores tiverem que
ralhar, têm que ser em nianeca”;
“Antes da Reforma, na 1ª e 3ª classes tínhamos as disciplinas de Língua
Portuguesa, Ciências Integradas, Matemática e Educação Física. Com a reforma
passámos a ter as disciplinas de Língua Portuguesa, Estudo do Meio, Educação
Musical, Educação Manual e Plástica, Educação Física e Matemática. Há muitas
dificuldades nas disciplinas de Educação Musical, Educação Manual e Plástica e
Educação Física”;
“Há alunos da 3ª classe que só vieram às provas”;
“Os alunos faltam muito porque vão auxiliar os pais com o gado”;
“Há 50 alunos por sala. Como é que faço a avaliação contínua?”;
“E depois os pais têm que pagar pela caderneta 200 kwanzas e pelo Relatório
300 kwanzas. Os pais não pagam e os professores têm que desenrascar”;
“Há alguns professores mal enquadrados”;
“Não existe dinheiro, não há merenda escolar”;
“Os professores e os alunos têm que viajar muitos quilómetros a pé”;
“Temos casos de crianças que desmaiam na sala de aula porque estão com fome,
não jantaram no dia anterior”;
“Muito dos encarregados de educação são velhos e isso não ajuda”;
“Eu recebo apenas como professora”;
“A escola não tem projecto educativo”;
“A comissão de pais participa como pode”;
“Não recebemos qualquer tipo de legislação”.
Um olhar sobre a implementação da Reforma Educativa em Angola. Estudo de caso nas Províncias de
Luanda, Huambo e Huíla. M. Azancot de Menezes (2010) 54
“Não existe água, nem energia”;
“Há crianças com fome e que desmaiam; outras não prestam atenção”;
“É preciso sonda para a água”;
“Também não temos merenda escolar nem posto médico”;
“É impossível fazer avaliação contínua nestas condições”;
“Antes de implementarem a reforma deviam preparar as condições”;
“Mesmo as classes de experimentação estão debaixo das árvores”;
“Os alunos lutam para entrar nas salas de aula e os mais frágeis ficam à chuva;
assim não é possível!”;
“Os alunos que habitualmente têm aulas debaixo das árvores quando por razões
especiais vão para as salas de aula ficam felizes e mais motivados”;
“Devia haver subsídio para os professores que vivem no Lubango”;
“Há circulares que se referem a subsídios, mas nada!”;
“Eu sou professora com a 8ª classe e ganho 25 mil kwanzas; para o transporte
gasto 10 mil kwanazas e para comida gasto 15 mil kwanzas; e as outras
necessidades?”.
A Escola Hu4 está localizada numa zona rural da Huíla. Tem 4 salas de aula, 19
professores e 615 alunos. A Directora tem 46 anos e exerce funções há 2 anos. Foi
entrevistada no meio da mata, a caminho de casa. Eis alguns dos seus depoimentos:
Um olhar sobre a implementação da Reforma Educativa em Angola. Estudo de caso nas Províncias de
Luanda, Huambo e Huíla. M. Azancot de Menezes (2010) 55
“Existem queixas sobre enquadramentos; há colegas que têm anos de serviço e
isso não é contemplado”;
“Há muitas crianças que nas aulas choram porque têm fome. É revoltante!”;
“As condições sociais das famílias são muito más!”;
“Existem problemas com os professores de Educação Musical”;
“Não há água potável. Os alunos bebem água do rio e ficam doentes”;
“Não existem carteiras. A comunidade faz bancos corridos para desenrascar.”;
“Os professores têm que ficar de pé! É muito cansativo.”;
“Tenho uma excelente relação com os professores”;
“Dou o meu melhor mas não tenho nenhum subsídio. Recebo apenas como
professora!”
Um olhar sobre a implementação da Reforma Educativa em Angola. Estudo de caso nas Províncias de
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3.4. Análise e Interpretação dos Resultados
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grave que se repete em todas as páginas (__”Trimestre ___ Semestre, de ___ à ____ de
___ de”) das duas cadernetas. Como se pode constatar (letra a negrito), há um erro
relacionado com o acento porque nestas circunstâncias não se deve colocar o acento em
“a”. Infelizmente, este erro é verificável no quotidiano, nas lojas, nos restaurantes, nos
serviços públicos e em documentos oficiais, estando este tipo de equívoco quase
“instituído” no país, o que reforça o argumento de que o Ministério da Educação terá
que prestar maior atenção a este género de situações.
No que diz respeito às infra-estruturas, concretamente sobre a “existência em
número satisfatório e o estado de conservação das salas de aulas”, no entender dos
inquiridos, há muito por fazer. Nesta vertente do problema que se prende com carência
de infra-estruturas, concretamente em relação à falta de salas aulas, esta fragilidade
compromete de forma significativa a componente da reforma educativa relacionada com
a avaliação das aprendizagens porque não é possível proceder à avaliação das
aprendizagens na perspectiva de avaliação contínua com turmas constituídas por um
número muito elevado de alunos e, simultaneamente, garantir as exigências de
qualidade pedagógica. Também, em relação ao equipamento necessário para a
concretização do ensino, bibliotecas, laboratórios, salas de refeitório e todas as outras
estruturas habituais e necessárias ao normal funcionamento das escolas, não existe ou é
extremamente precário, principalmente nas zonas rurais das províncias visitadas.
Conforme se pode depreender dos depoimentos dos inquiridos a qualidade do ensino
é discutível por várias razões. Em primeiro lugar, a começar pelos próprios agentes
educativos, há muitos aspectos que em nada contribuem para a motivação e o
envolvimento dos próprios. Consideram que os salários são mal pagos e nunca o
recebem de forma atempada, têm problemas graves ao nível da formação (inicial e
contínua) para utilização dos instrumentos necessários à implementação da reforma,
como por exemplo a utilização das cadernetas e relatórios para a avaliação contínua dos
alunos (uma das principais vertentes de incidência da reforma) não têm transporte para
as deslocações longas, situação agravada muitas vezes em tempo de chuva, portanto,
não estão motivados, nem parece haver progressos alcançados na melhoria da qualidade
de ensino com a implementação do programa de reforma educativa do ensino primário.
Segundo as respostas dos inquiridos e decorrente da análise dos resultados, é
possível identificar os principais constrangimentos do programa de implementação da
reforma educativa (objectivo específico c), a saber:
Um olhar sobre a implementação da Reforma Educativa em Angola. Estudo de caso nas Províncias de
Luanda, Huambo e Huíla. M. Azancot de Menezes (2010) 58
Inexistência de escolas apetrechadas (salas de aula, bibliotecas, computadores,
etc.) e outros equipamentos educativos imprescindíveis à concretização do
processo de ensino-aprendizagem;
Não generalização e interrupção do programa de merenda escolar apesar de se
ter investido na formação de docentes nesta vertente e estar provado que o
programa contribuía de forma significativa para a diminuição das taxas de
absentismo dos alunos, bem como, para o aumento do sucesso escolar;
À excepção das escolas parceiras da ADRA onde foi visível o trabalho de outros
agentes educativos, notou-se a falta de envolvimento das famílias e da
comunidade nas actividades curriculares e extra-curriculares, portanto, há
ausência de trabalho sobre associativismo local na maior parte das zonas/escolas
visitadas, aspectos fundamentais para o desenvolvimento da escola e da própria
comunidade;
Escolas em funcionamento que estão muito afastadas das zonas de residência
dos alunos (principalmente nas escolas rurais do Huambo e da Huíla);
Qualidade das escolas existentes muito duvidosa porque não possuem condições
básicas como água potável, electricidade, salas de aula, carteiras e quadros
(principalmente nas escolas rurais do Huambo e da Huíla);
Inexistência (ou insuficiência) de seminários de capacitação e acções de
formação contínua para directores, inspectores escolares e professores, os dois
primeiros na área de políticas educativas e gestão escolar, e os últimos na
vertente de pedagogia;
Ausência de transporte escolar para docentes, discentes e outros agentes
educativos, absolutamente necessários nas escolas situadas em zonas rurais;
Os manuais escolares e outro material didáctico-pedagógico não são gratuitos e
não foram concebidos de forma a cobrir todas as necessidades e de forma
atempada;
Inexistência de legislação fundamental sobre educação (LBSE, informação sobre
concepção, execução e avaliação de um projecto educativo de escola, etc.) em
praticamente todas as escolas primárias visitadas;
Insuficiência de professores e outros técnicos da educação devidamente
preparados nas escolas situadas em zonas rurais;
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Luanda, Huambo e Huíla. M. Azancot de Menezes (2010) 59
Inexistência de condições para alojar os professores residentes nas zonas urbanas
e que vão exercer docência nas escolas em zonas rurais;
Situação de pobreza das famílias, principalmente em zonas rurais;
Interrupção de aulas em tempo de chuva principalmente nas zonas rurais;
Acentuada falta de motivação dos directores, professores e outros agentes
educativos em termos pessoais, profissionais e salariais;
Falta de acompanhamento por parte das autoridades centrais, provinciais e
municipais da educação.
Um olhar sobre a implementação da Reforma Educativa em Angola. Estudo de caso nas Províncias de
Luanda, Huambo e Huíla. M. Azancot de Menezes (2010) 60
Capítulo 4
Discussão e conclusão
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Numa perspectiva de problematização, após análise e interpretação dos resultados
da pesquisa, pode-se questionar se efectivamente a questão inicial de estudo se confirma
ou não, portanto, se os objectivos do Governo sobre a implementação da reforma
educativa foram ou não atingidos.
Como se expôs inicialmente está-se perante um estudo de caso e não faz sentido a
generalização dos resultados do estudo. Contudo, como é referido por muitos
metodólogos defensores dos paradigmas qualitativos, tese também perfilhada pelo
investigador, os estudos de caso podem ter muita utilidade porque são úteis para a
compreensão de outros contextos, pelo que, é nesta perspectiva que se podem retirar
algumas conclusões.
Em primeiro lugar, olhando para os objectivos definidos pelo Governo com base
na consulta pública sobre o PANEPT e nas recomendações do colóquio sobre o ensino
em Angola, pelo menos no contexto escolar das províncias visitadas:
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Não se estão a estabelecer novas e estimulantes condições de trabalho para os
novos tipos de professor;
Não se faz sentir o programa de reabilitação e construção de escolas, nem de
mobiliário escolar, nem a distribuição de merenda escolar.
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não foi distribuído às escolas, principalmente as localizadas em zonas rurais, ficando as
mesmas com a responsabilidade de fazer fotocópias ou envolver os pais no
financiamento desses encargos. Também, a “2ª supervisão nacional da reforma
educativa” anunciada pelo INIDE (2009), não terá acautelado e resolvido muitos dos
problemas apresentados pelos inquiridos.
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É de notar também outros aspectos fundamentais que impossibilitaram a
utilização dos novos materiais pedagógicos (instrumentos de avaliação contínua e os
novos manuais), nomeadamente:
A inexistência de salas de aula (nas zonas rurais muitas das aulas são
ministradas debaixo de árvores) ou salas com 50 a 90 alunos, muito distante dos
35 preconizados na reforma educativa;
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4.2. Algumas considerações sobre a validade dos resultados do estudo
No que diz respeito à validade dos resultados deste estudo, para reforçar este
aspecto, por um lado, seguiram-se as sugestões de Blaxter, Hughes e Tight (2008), no
sentido de se garantir:
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4.3. Conclusão
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instrumentos fundamentais de gestão escolar (projecto educativo de escola, plano de
actividades, regulamento, orçamento, etc.), os resultados do estudo mostram que não
foram apresentadas quaisquer propostas (por parte do Ministério da Educação) de
operacionalização da reforma na vertente da organização e gestão das escolas.
Um último aspecto da análise dos resultados deste estudo prende-se com a política
de manuais escolares adoptada pelo governo que não está a salvaguardar como seria
desejável o direito de alunos e professores recorrerem a outras fontes de informação
importantes. Efectivamente, segundo a análise efectuada, na sequência da
obrigatoriedade dos manuais escolares serem reutilizáveis por vários alunos, tem-se
verificado que o material perde qualidade de forma considerável. Esta constatação
sugere que esta política do manual escolar parece não estar a produzir os melhores
resultados, pelo que, garantindo a qualidade científico-pedagógica, gráfica e de
durabilidade, o Ministério da Educação poderia admitir a vantagem da diversidade de
iniciativas editoriais de manuais escolares, melhorando a qualidade, racionalizando o
preço do manual escolar devido à concorrência, portanto, responsabilizando a sociedade
civil e garantindo a sua disponibilização gratuita no início do ano lectivo.
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4.4. Recomendações
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instrumentos de avaliação, ausência de professores nas escolas situadas em zonas rurais,
falta de transportes para professores e alunos, pouca ou inexistente formação inicial e
continua de professores e directores de escola; inexistência de merenda escolar;
repartições municipais/comunais e escolas sem recursos financeiros para as
necessidades mais básicas; falta de motivação dos professores por questões salariais e
motivos profissionais; interrupção de aulas devido às chuvas; problemas sociais dos
alunos muito graves, etc.), pelo que, recomenda-se ao Governo no quadro da reforma
educativa que se esforce no sentido de:
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Proporcionar aos estudantes necessitados bolsas de estudo, residências e
merenda escolar em todas as escolas primárias do país;
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Garantir recursos financeiros às escolas para que estas possam planificar e
materializar as políticas educativas;
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Referências Bibliográficas
Hébert, M., & Goyette, G., & Boutin, G. (2008). Investigação Qualitativa.
Fundamentos e Práticas (3.ª ed.). Lisboa: Instituto Piaget
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