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O logos de Heráclito e sua influência na concepção da dialética


X Salão de
hegeliana
Iniciação Científica
PUCRS

Tarcísio Vilton Meneghetti1, Renan Bernardes1, Prof. Josemar Sidinei Soares1 (orientador)
1
Curso de Direito, UNIVALI – SC – Pesquisa desenvolvida como atividade do Grupo de Pesquisa em
Filosofia do Direito – Grupo Paidéia

Resumo

A presente pesquisa pretende tecer algumas considerações gerais acerca da filosofia de


Heráclito e também apresentar sua influência no pensamento hegeliano, principalmente
naquilo que se consagrará como a dialética. Observando a estrutura fundamental de ambos os
filósofos, percebe-se como ambos centram seus sistemas baseados essencialmente num
processo de devir contínuo, eterno, onde os opostos encontram-se em constante conflito, até
diluírem-se numa unidade originária e harmônica.

Introdução

Em contraposição ao pensamento puramente conceitual de Parmênides, onde o ser é e


não pode não-ser, o logos heracliteano aparece como síntese entre “a palavra e a ação”
(JAEGER, 2001, p. 225), a unidade que permite a fluidez do vir-a-ser. Se é verdade que
Heráclito não pode ser analisado como filósofo da physis, também não se pode deixar de
observar que o pensador de Éfeso encontrou na natureza a influência para o cerne de sua
filosofia, por meio da geração e da destruição de todas as coisas, a fonte onde se permeia a
transformação que percorre o Ser. Heráclito defende a mudança constante de todas as coisas,
o processo infinito onde tudo regressa ao seu início, no conflito entre os opostos que se
diluem na unidade originária. Vários séculos depois, Hegel construirá sua filosofia baseada
em uma concepção dialética que em muito deverá a Heráclito, através do movimento do
Espírito que a cada momento realiza a Aufheben sobre si mesmo. É na fluidez e na
contraposição dos contrários defendidas por Heráclito que encontramos sua influência em
Hegel.

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Metodologia

O método utilizado foi o indutivo, através da pesquisa bibliográfica.

Resultados (ou Resultados e Discussão)

A idéia de geração e destruição das coisas de fato já era encontrada em pensadores


anteriores a Heráclito, como Anaximandro, que nesta luta concebia seu conceito de dike.
Contudo, é em Heráclito que esse pensamento vem a transformar-se na verdadeira lógica do
devir. “A morte de uma vida é sempre a vida de outra. É um eterno caminho, ascendente e
descendente” (JAEGER, 2001, p. 227).
A grande novidade introduzida por Heráclito é que, ao analisar a natureza, percebeu
como os contrários estão em eterno conflito, numa constante mudança de um estado para
outro, onde, no fim, ambos os opostos terminam por se tornar a mesma coisa. “Todas as
oposições da vida cósmica se transforma continuamente umas nas outras e reciprocamente se
apagam os prejuízos que causam [...]” (JAEGER, 2001, p. 227). Esta manifestação pode ser
observada nas relações entre verão e inverno, dia e noite, calor e frio, guerra e paz, vida e
morte. Heráclito entende este fato como a ordem do mundo e da natureza, a lógica do cosmos
na qual o homem está incluído e também vive debaixo de suas leis naturais. Ainda que
Heráclito tenha sido um dos primeiros filósofos a colocar o homem como o centro de seu
pensamento, naquilo que Jaeger considerou como a primeira antropologia filosófica, o homem
heracliteano está situado num círculo maior, no qual se apresentam ainda o círculo
cosmológico e teológico. Ou seja, o devir eterno que se faz pela palavra e pela ação, o
movimento que constitui tanto pensamento como ação efetiva, acontece sempre dentro de
uma ordem pré-determinada. Tal lógica de existência é justamente aquela do conflito entre os
contrários, que no processo de mudança criam a mais bela harmonia. O ser em Heráclito não é
estático como o é o ser em Parmênides, o ser heracliteano é mudança constante, eterno fluxo
no qual tudo muda, tudo nega o dado anterior, sem, contudo, deixar de retornar à sua fonte.
Assim como Heráclito, Hegel concebe sua filosofia conforme a lógica do vir-a-ser,
que no caso do idealista alemão apresenta-se como a dialética. O sistema hegeliano é uma
estrutura em constante movimento, onde o conceito (Begriff) de infinitude (Unendlichkeit)
encontra-se ligado à idéia de autodeterminação, a capacidade intrínseca de a consciência
(Bewußtsein) pôr-se a si mesma a cada momento. A finitização ocorre justamente quando a
consciência se prende em um dado momento ou figura, limitando sua ação. Daí resulta toda a
importância do conceito Aufheben, que constitui a própria condição de existir da consciência,

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a capacidade de superar-se a cada momento. Contudo, não se trata de negação aniquiladora,


mas de transformação, onde o espírito eleva-se sem eliminar os dados precedentes. Na
Fenomenologia do Espírito apresenta-se o percurso atravessado pela consciência do seu saber
mais simples até o Saber Absoluto, onde sempre a lógica constituir-se-á no conflito entre os
opostos, seja na passagem da consciência para a consciência de si (Selbstbewußtsein), e desta
para a razão (Vernunft), ou nos processos internos de cada etapa. Tanto em Heráclito como
em Hegel, o resultado dos conflitos entre os opostos é a conciliação harmônica. Retomando
Hegel, é importante mencionar que na Fenomenologia inclusive trabalha-se a idéia de uma
bela harmonia na eticidade (Sittlichkeit) grega, momento do Espírito (Geist) onde o singular e
o universal manifestam-se em harmonia ética.

Conclusão

O logos de Heráclito, como constituição da mudança de todas as coisas, na qual os


contrários enfrentam-se e diluem na unidade simples e originária, surge como influência
fundamental para a construção da dialética hegeliana, pensada também na oposição entre
contrários, na capacidade de negação da consciência em superar todos os momentos e figuras,
mas sem eliminá-los, premissa básica para a conciliação harmônica entre os opostos.
Ademais, ambos estruturam seus sistemas filosóficos ancorados numa idéia de razão
universal, onde o vir-a-ser é a própria lógica.

Referências

HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Fenomenologia do Espírito. 7. ed. Tradução de Paulo Meneses, com a
colaboração de Karl-Heinz Efken e José Nogueira Machado. Petrópolis: Vozes, 2002.

HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Introdução à História da Filosofia. Tradução de Euclidy Carneiro da Silva.
São Paulo: Hemus, 2004.

HEIDEGGER, Martin. Heráclito: a origem do pensamento ocidental. Rio de Janeiro: Relume Dumara, 1998.

JAEGER, Werner Wilhelm. Paidéia: a Formação do Homem Grego. Tradução de Artur M. Parreira. 4. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2001.

KOYRÉ, Alexandre. Estudos de história do pensamento filosófico. Tradução de Maria de Lourdes Menezes.
Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1991.

VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. Tradução de Isis Borges B. da Fonseca. 12. ed. Rio
de Janeiro: DIFEL, 2002.

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