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Metafísica
Tiago Rafael Jerônimo da Silva*
Resumo: O presente artigo tem como finalidade apresentar, de forma atenuada, as doutrinas
filosóficas dos pré-socráticos Heráclito de Éfeso e Parmênides de Eleia, no qual um se
contrapões ao outro no que diz respeito a temas pertinentes à origem das coisas. Um apresenta
o movimento e a mudança, enquanto outro apresenta a estabilidade e imutabilidade como
princípios fundantes. Em seus pensamentos, conceitos importantes são explorados como: o
Ser, o Não-ser e o devir. As ideias destes grandes pensadores também ajudaram na construção
do pensamento de outros filósofos como Platão, por exemplo, que, a partir destes dois
pensamentos, procurou conciliá-los de modo a criar uma teoria que consistia em dois mundos
– um inteligível e outro sensível – que explicassem a realidade do homem e das coisas.
INTRODUÇÃO
Dentre os pré-socráticos, dois nomes que surgiram são de grande importância por
se destacarem consideravelmente em seus estudos sobre a physis e por conseguirem
ir além dela; são eles: Heráclito de Éfeso e Parmênides de Eleia. Eles apresentaram
ideias opostas entre si, mas que abriram um campo diferente de pensamento;
começaram a reflexão sobre o ser e o não-ser, chegando a ser comentados por
Platão e Aristóteles e, dando assim, luz para o surgimento da metafísica
Afinal, o que seria o ser e o não-ser para cada um destes filósofos? Qual a sua
importância para a filosofia e como se manifesta em cada pensamento? O presente
artigo, então, se desenvolve em três partes a fim de contar um pouco sobre a vida
dos filósofos, primeiro Heráclito e depois Parmênides; e apontar os temas
principais da filosofia de cada um, ressaltando suas oposições. A última parte,
porém, pretende expor de maneira brevíssima a forma que Platão se usou dos temas
trabalhados pelos dois filósofos em questão em sua “teoria das ideias”.
1. O devir de Heráclito de Éfeso.
Não se pode descer duas vezes no mesmo rio e não se pode tocar duas vezes uma substância
mortal no mesmo estado, pois, por causa da impetuosidade e da velocidade da mudança, ela
se dispersa e se reúne, vem e vai. (…) Nós descemos e não descemos pelo mesmo rio, nós
próprios somos e não somos (REALE; ANTISERI. 1990, p. 36).
Para ele, “O ser não é mais que o não-ser” (HERÁCLITO. 1978, p. 92), ou seja,
nós somos um e outro ao mesmo tempo; pois eu sou o que não era antes e não sou o
que serei daqui a pouco. Segundo o pensamento de Heráclito, tudo é um
constante devir, tudo muda, nada é perene, e, assim entendido, passamos de um
estado a outro constantemente por causa deste movimento do devir, que é o
conteúdo universal, absoluto e verdadeiro apontado pelo filósofo.
Além disso, Aristóteles diz que Heráclito afirma que é apenas um o que permanece; disto todo
o resto é formado, modificado, transformado; que todo o resto fora deste um flui, que nada é
firme, que nada se demora; isto é, o verdadeiro é o devir, não o ser – a determinação mais
exata para este conteúdo universal é o devir (HERÁCLITO. 1978, p. 93).
Evidentemente, isso é apenas um dos pontos da filosofia de Heráclito. O devir é
adjetivado pela mudança de um contrário ao outro: o dia se muda em noite e vice-
versa, o frio se muda em calor e vice-versa, o úmido se muda em seco e vice-versa,
o vivo se muda em morto e vice-versa, a guerra se muda em paz e vice-versa e
assim por diante. Para ele, a guerra constante entre os contrários é o que dá
equilíbrio e dinamismo ao universo; como ele mesmo diz: “a guerra é mãe de todas
as coisas e de todas as coisas é rainha” (REALE; ANTISERI. 1990, p. 36).
Por fim, diante destas ideias, Heráclito chegou a identificar o fogo como o princípio
originador, pois ele expressa de forma especial estas características de mudança,
contraste e harmonia, uma vez que surge do combustível que se gasta e, ao mesmo
tempo, transforma o combustível em cinzas e fumaça; além de ser perene
“necessidade e saciedade” (REALE; ANTISERI. 1990, p. 37), segundo o próprio
filósofo.
2. Parmênides e o ser.
O grande princípio dado por Parmênides é que “o ser é e não pode não ser; o não-
ser não é e não pode ser de modo algum” (REALE; ANTISERI. 1990, p. 50). Este
princípio, primeiramente, vai contra a filosofia de Heráclito que dizia da igual
validade entre o ser e o não-ser. Parmênides dá um valor positivo ao ser e negativo
ao não-ser, dizendo assim que o ser é o positivo puro e o não ser é o negativo puro.
Parmênides, de certa forma, inaugura o princípio de não-contradição ao dizer que o
ser e o não–ser não podem coexistir. Para ele, o não-ser não existe, assim como
seria impossível existir dois contrários simultaneamente, o que mais uma vez
contraria a filosofia de Heráclito de Éfeso.
Para o filósofo, o ser deveria ser “incriado” e “incorruptível”. Ele explica dizendo
que se o ser fosse criado, seria oriundo de um não-ser, o que seria um absurdo e
improvável. Outra hipótese é que o ser viesse de outro ser, e, assim entendido, seria
também absurdo e improvável pois, se assim fosse, o ser já seria. E como o ser não
pode não ser; e o não-ser não pode ser de modo algum, o ser não poderia ser
corruptível. Sendo assim, para ele, o ser não possuiria passado ou futuro, mas seria
eterno.
<http://www.ebah.com.br/content/ABAAAASY4AH/teoria-das-ideias-platao>
Acesso em 04 de março de 2016.
<http://www.theoria.com.br/edicao13/consideracoes_sobre_o_bem_em_platao.pdf
> Acesso em 13 de maio de 2016.
Os Pré-Socráticos. 2.ed. Tradução José Cavalcante de Souza. São Paulo: Abril S.A.
Cultural e Industrial, 1978. (Os Pensadores)
1 SOUSA, Maria Celeste Considerações sobre o Bem em Platão. Publicado em: Theoria -
Revista Eletrônica de Filosofia Faculdade Católica de Pouso Alegre.