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Heráclito de Éfeso: o obscuro

O filósofo viveu entre os séculos VI e V a.C., na cidade de Éfeso. Tinha um temperamento


arrogante e era descrito como um misantropo, visto que resolveu afastar-se da sociedade e se exilar
nas montanhas.  Heráclito ficou conhecido pelo seu modo obscuro de se expressar, escreveu um
livro intitulado "Sobre a natureza" o qual chegou apenas em fragmentos até nós, formulava frases
com teor oracular, de modo que só a elite intelectual tivesse acesso a eles, ganhando, dessa maneira
o cunho de "O Obscuro".
Primeiramente, na concepção de Heráclito, o mundo, embora muito diverso e   por vezes
conflituoso, possui uma coerência fundamental constituída pelo Logos, elemento ordenador,
portanto, unificador do cosmos. Tal ideia é expressa em uma frase sua retirada de um dos
fragmentos de seu livro, "Dando ouvidos, não a mim, mas ao Logos, é avisado concordar que todas
as coisas são uma." Por vezes Logos, para o filósofo, era tomado como o verdadeiro constituinte de
todas as coisas, ou como complemento para o constituinte cósmico primário, o fogo. Dessa forma
fica clara a importância do Logos para Heráclito, bem como o seu distanciamento do mundo sensível
e das aparências, o que mais tarde certamente influenciará Platão.
  Heráclito, assim como os milésios, era um filósofo monista, assim buscava um princípio material
de todas as coisas, ou seja, a arché,  encontrada no dinamismo universal da natureza, a physis.  Desse
modo, segundo ele "tudo flui", nada permanece e tudo se transforma, tal percepção fica clara em
um de seus fragmentos onde é dito, "Não se pode descer duas vezes no mesmo rio". Apesar de se
tratar de um mesmo rio as águas diferem, isso significa que um todo complexo permanece "o
mesmo", ao passo que suas partes constituintes estão sempre a fluir.
Tudo está em uma mudança infindável entre o ser e o não-ser, para o filósofo o equilíbrio do
cosmos trata-se de uma mudança de um contrário a outro. A exemplo, o viver e o morrer, que são
fatos fundamentalmente distintos formam uma unidade, uma entidade única que é a vida, portanto
viver é morrer enquanto passagem à essa, e morrer se torna vida em passagem à outra, assim sem o
viver não existe o morrer, pelo outro lado é a mesma coisa, a morte é a condição da vida. Deste
entendimento ficou claro, pela dedução através do Logos, a unidade essencial dos contrários para
Heráclito, assim ele disse: “As coisas tomadas em conjunto são o todo e o não-todo, algo que se
reúne e se separa, que está em consonância e em dissonância; de todas as coisas provém uma
unidade, e de uma unidade, todas as coisas.” E a existência dessa unidade depende de um equilíbrio
na fluidez de contrários como as conexões de tensões opostas do arco e da lia, a exemplo de
Heráclito.
Nesse sentido, para explicar essa constante guerra de contrários, Heráclito usa o fogo como
elemento cósmico primário, para ele a ordem do mundo como um todo pode ser descrita como um
fogo sempre a queimar, em que certas porções se extinguem ao mesmo tempo em que outras se
acendem, o fogo tem capacidade diretiva. Nesse contexto, a imagem do fogo que consome o
combustível e libera a fumaça de forma estável representa o que determina a estrutura da matéria:
oposição de contrários e sua unidade através da discórdia, além de mostrar o equilíbrio da fluidez da
matéria expresso pelo Logos. Assim o fogo é descrito como arché. Em sua forma pura ele é o aither,
substância divina e brilhante que circunda o mundo, este também corresponde à alma, transforma-
se em água e depois terra – compreende o mundo em si.
A questão que Heráclito buscava responder com sua filosofia é a origem do ser, do que se trata a
vida e o seu sentido: pergunta de ordem fundamenta que transpassam gerações de filósofos em que
ele, de maneira primeva, teve o mérito de responder sistematicamente, a partir de uma descoberta
central – a de que tudo muda de forma regular e equilibrada – assim ele explica isso através do fogo,
sendo ele o constituinte comum das coisas, e o Logos, o princípio ordenador – daí o fogo ser o
símbolo da razão.

Bibliografia:
The Presocratic Philosophers a Critical History with a Selection of Texts /by G.S. Kirk, J.E. Raven, M.
Schofield.

História da Filosofia: Filosofia Pagã Antiga (Volume 1) –


por Giovanni Reale , Dario Antiseri  

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