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Aristóteles tem em mente, levando sempre em conta a qualidade das premissas que

devem construir os silogismos, estabelecer uma melhor compreensão dos objetos de


discussão da retórica judicial, ao discorrer sobre as características dos agentes e das
vítimas de injustiça. Ao contrário da retórica erística, Aristóteles prega que é
indispensável conhecer as coisas as quais quer convencer, assim como deve conhecer as
almas dos ouvintes na qual se deve introduzir a persuasão. Nesse sentido a Retórica
Aristotélica se aproxima das ideias platônicas, quando busca a sua fundamentação nos
valores verdadeiros do justo e do belo.

Continuando, no âmbito da filosofia aristotélica, a justiça é mais abrangente que um


mero conceito, sua base teórica é fundamental, mas ela não tem sentido se não for
compreendida na prática, ou seja, a justiça é compreendida no horizonte da práxis.
Aristóteles distingue dois tipos de justiça, as das leis das cidades, isto é, criadas pelo
homem, portanto corruptíveis se não elaboradas de acordo com a reta razão, e as leis
naturais – essa não escritas, mas reconhecida por todos quando na medida em que são
naturais. Ainda, acerca da justiça, o estagirita concebia ela como sendo geométrica, isto
é, proporcional, pautada na equidade. Seu papel é atribuir devidamente o mérito e o
castigo, avaliando a partir de todos os critérios possíveis, a fim de que cada um receba
aquilo que merece de acordo com a sua realidade.

Em razão disso, para melhor estabelecer os meios do retórico em provar o seu ponto de
vista da justiça, no 15 capítulo da Retórica, Aristóteles apresentas a provas não-técnicas,
que são específicas da retórica judicial; são elas as leis, os testemunhos, os contratos, as
confissões sob tortura e os juramentos. As provas não-técnicas, distinguem-se das
provas técnicas, nos momentos que elas não necessitam de argumentação para expor
elas, elas já estão dadas previamente à retórica, cabe ao retórico apenas servisse delas,
não as elaborar. Por outro lado, as provas técnicas são produto das habilidades retóricas.
Aristóteles as distinguem em três tipos: a) provas que se refiram ao orador e visem dar-
lhe credibilidade, b) provas que tendam a dispor o ânimo do ouvinte a deixar-se
convencer, apoiando-se sobre as emoções, c) ou provas que visem à intrínseca validez e
eficácia da própria argumentação (Giovanni Reale). Vale ressaltar aqui que as provas
técnicas são construídas através de entimemas, que são silogismos concisos que partem
de premissas prováveis, e exemplos, que funcionam como argumentos indutivos.

Nesse contexto, o discurso retórico judicial se dirige, nos tribunais aos juízes, com o
intuito de convencer acerca do caráter de determinada ação em relação à justiça, ou seja,
o retórico procura demonstrar se uma ação é justa ou injusta, lançando mão de
argumentos e provas. Assim, pode-se dizer que o a retórica judicial se desenvolve a
partir da injustiça, pois não havendo ela não haveria necessidade de um tribunal, por
exemplo. A injustiça, como tratado no livro “Ética à Nicômaco”, do filósofo estagirita,
surge do excesso ou da falta no ethos de um determinado comportamento, nesse sentido
o excesso de cólera busca a vingança e a falta de temperança gera a libertinagem. O
justo, por sua vez, por sua prudência (phronesis), age de acordo com a virtude e a
excelência, agindo sempre por meio do mesôtes, de acordo com sua deliberação racional
diante de suas paixões. O homem justo é, ao cultivar a eudemonia, feliz. Portanto se de
ações são pautadas na justa medida surgem comportamentos virtuosos, os quais não há
necessidade de levar ao tribunal, não é claro qual é a justa medida: são às leis que a
determinam? Os juízos das pessoas? Ou existe algo maior e imutável que a define?
Aristóteles é enfático: a retórica não busca dar respostas, ela apenas consiste na arte de
persuadir. Por isso, diante de tal cenário, cabe ao retórico, no âmbito judicial trazer
provas a fim de demonstrar o que é justo e o que é injusto, mostrando que a régua da
medida não está tanto pra lá nem para cá, mas sim onde a há de estar justiça, seus
argumentos são sempre pautados na verdade.
No entanto, se o papel do orador não é explicar, mas persuadir, não é admissível que ele
use da mentira para convencer, uma vez que os seres humanos são, por natureza,
inclinados à verdade. Um orador habilidoso é aquele que concede à plateia a
oportunidade de reconhecer a verdade. A verdade e a justiça têm mais valor que a
mentira e a injustiça. Portanto a retórica é arte (tekhné) de falar bem.

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