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SANTO TOMÁS

DE AQUINO:
JUSTIÇA E
SINDERESE
11.1 Filosofia tomista

A filosofia de Santo Tomás de Aquino


(1225-1274) encontra-se estrutural e
visceralmente comprometida com os
Sagrados Escritos, de um lado, e com o
pensamento aristotélico de outro.
11.2 Razão prática, sinderese e ética

• O estudo da justiça consolida-se, na teoria tomista, dentro do


estudo da lei, como diz Miguel Reale. Estudar a justiça nessa teoria
é debruçar-se sobre três acepções do termo lex: uma no sentido
humano, outra no sentido natural, outra no sentido divino.
Todavia, para que se possa, com o devido cuidado,
proceder a esse tipo de estudo se deve, primeiramente,
situar o tema de discussão em um terreno mais amplo, que
o cerca e recobre, como o mais abrangente ao mais estreito;
trata-se de identificar na teoria tomista a preocupação com
a razão prática e com a ética.
11.3 Sinderese e hábito

• A sinderese (sinderesis) atua, para o ser agente, de modo que


estabeleça o fim da razão prática, ou seja, o Bem. No entanto, o
que é o Bem que guia a ação como causa final? O conceito, já
definido anteriormente por Aristóteles, é: bonum est quod omnia
appetunt, ou seja, o bem é o que a todos agrada.
  O governo de si para o homem será guiar-se por princípios extraídos da
experiência, que formam o que se pode chamar de uma lei natural,
verdadeiro hábito interior. 
11.4 Definição de justiça
• Santo Tomás de Aquino, seguindo as lições do Philosophus, faz o conceito de
justiça emergir do seio dos conceitos éticos; éthos, em grego, significa hábito,
reiteração de atos voluntários que se destinam à realização de fins (justiça é uma
virtude).
• Nos esforços de conciliação das concepções filosófica grega e jurídica romana, o
Doutor Angélico acaba por elaborar não apenas uma conceituação eclética a partir
da mera fusão de ambas, mas também uma teoria própria, tudo isto sem que se
perca a noção da realidade e da imperiosa necessidade de efetivação da justiça.
11.5 Justiça e direito

•  Direito, por seu turno, é uma invenção humana, um fenômeno histórico e


cultural concebido como técnica para a pacificação social e a realização da
justiça. Em suma, enquanto a Justiça é um sistema aberto de valores, em
constante mutação, o Direito é um conjunto de princípios e regras destinado a
realizá-la.
11.6 Acepções do termo justiça

• A lei não possui um único sentido, mas vários, e isto porque a teoria mista
admite várias dimensões de leis. Então, a lei ou é eterna, ou é natural, ou é
das gentes, ou é humana. Justo é aquilo que é adequado, correto. 
• A ideia de Justiça, então, poderá ser definida como a reunião de valores éticos e
morais, que atribui, de forma igualitária, a cada um o que lhe pertence.
11.7 Regime das Leis

• O que é mais conveniente para a comunidade civil, estar sob um regime de leis ou
de homens?
• "Bom governo é aquele em que os governantes são bons porque governam
respeitando as leis ou aquele em que existem boas leis porque os governantes são
sábios?"
11.8 Justiça, lei e atividade do juiz 

• A atividade do juiz consiste na efetivação da justiça; é ele dito a justiça encarnada,


ou a justiça viva, não por outro motivo."
• Julgar é um ato de individualização da lei; no julgamento, portanto, deve estar
presente o mesmo conteúdo de coação que aquele presente na lei. Assim é que se
pode dizer: "A sentença do juiz é uma como lei particular aplicada a um fato
particular
11.9 Injusto e vícios da justiça 

• O exercício da justiça pode ser viciado de muitas maneiras, então, teremos a


descaracterização de seu conteúdo. A perversão da reta razão é, em geral, o modo
mais corrente de o agente afastar-se da justiça e aproximar-se da injustiça.
• "Por onde, pode dar-se que quem comete a injustiça não seja injusto, por duas
razões (...). Portanto, quem pratica uma injustiça, sem a in tenção de a praticar, p.
ex., agindo por ignorância, pensa não fazer um ato injusto, esse não pratica uma
injustiça, em si e formalmente falando, mas só por acidente e como que
materialmente" (Sum. Theol., Secunda Secundae Partis, q. LIX, art. II). 
11.10 Justiça e sua prática 
• Na teoria tomista, alguns conceitos pertinentes ao direito encontram maior respaldo,
ou uma fundamentação peculiar, o que motiva esta investigação pontual.
• Pode-se tratar do tema da justiça in genere, definindo-a, como se fez até o presente
momento como uma virtude... lançando lhe as características... suas relações com o
Direito... suas espécies...
• Contudo, o que se quer nesta parte é tratar da justiça de modo pontual, de modo que
se resolvam algumas questões que suscitam discussão (a propriedade é um direito
natural? no matrimônio há prevalência do homem sobre a mulher? a escravidão é
legítima? entre outras).
• A propriedade privada não é, assim, contrária ao direito natural - non est contra ius
naturale, mas não tendo sido instituída por ele, só pode ter sido pelo direito
positivo - secundum humanum conditum, quod pertinet ad ius positivum. Só este
justifica o poder de aquisição e disposição, que o homem tem sobre as coisas
materiais."

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