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INTRODUҪÃO

O presente trabalho da cadeira da filosofia do direito, tem como tema: a filosofia do


direito em São Tomas de Aquino. O desenvolvimento desta pesquisa circunscreve-se no
âmbito avaliativo e na aprimoracao do conteúdo da disciplina. Sob ponto de vista
académico, a abordagem desta temática merece uma atenção e reflexão pois reflete
questões antigas, mas que serve como luz na actualidade sobretudo em Moçambique
porque, quando se fala do direito, a realidade dita ser reconhecido apenas no papel.
Portanto, à luz de São Tomás, iremos perceber quão o direito tem autoridade que tanto
precisa ser respeitado no nosso quotidiano, pois assegura os valores morais quando
observado.

A nossa atenção nesta pesquisa, tende satisfazer a seguinte problemática: como é que
São Tomás concebe conceito do direito? E, para tal satisfação, objectivamos no
contexto geral:

 Saber a centralidade do direito em São Tomás.

Como objectivos específicos o trabalho visa:

 Fundamentar a origem e a essência do direito em São Tomás;


 Destacar a autoridade que ostenta o direito;
 Refletir sobre as principais propriedades do direito.

Para elaboração deste trabalho, seguiu-se o método de pesquisa bibliográfica do autor e


outros artigos textuais que ajudaram-nos a compreender o tema.

1
CONTEXTUALIZACÃO

Desde que o ser humano surgiu até à nossa época, sempre foi sua preocupação,
organizar o seu bem-estar na sociedade, afastando-se daquilo que compromete o seu
estado de vida melhor. A questão da segurança social é bíblica, pode-se ler no primeiro
livro da bíblia, onde entende - se que Deus criou o homem desejando-lhe o seu bem 1.
Entretanto, pode-se entender nessa pesquisa que são tantos que advogam a respeito do
bem do homem, mas aqui trazemos a grande figura da Idade Média, São Tomas de
Aquino, que investiga a respeito da origem ou a essência do direito.

Para facilitar a compreensão deste trabalho, é necessário compreender antes de mais a


respeito do conceito e o seu significado etimológico. Quanto a etimologia, a palavra
Direito provém do Latim directus, que significa algo que está recto ou correcto, assim,
Direito pode-se definir no sentido vulgar como sendo o poder moral que alguém tem de
possuir. Fazer ou exigir uma coisa, seja aquilo que é conforme a uma regra precisa (ter
direito a, ter um direito sobre), seja aquilo que é simplesmente permitido (ter o direito
de)2.

Uma vez compreendida a etimologia, o significado e a definição do Direito, convém-


nos agora resgatar São Tomás para assim percebermos a sua posição em relação à
Filosofia do Direito.

Desde o início da civilização ocidental, foi reconhecido um Direito imediatamente


decorrente das exigências da natureza humana, facilmente reconhecido pelos gregos,
pelos romanos e pelos medievais, assim como foi respeitado pelos povos primitivos,
desde a mais remota antiguidade, um Direito inseparável do homem foi sendo
lentamente esclarecido através da História. Sófocles3, no século V a.C, no seu famoso
texto teatral, transmite-nos as palavras de Antígona ao tirano, ao exigir ela o
sepultamento do próprio irmão.

Os decretos divinos, leis não escritas e imutáveis, não são de hoje, nem de ontem, e
ninguém sabe de que longínquo período procede. Aristóteles desenvolveu uma doutrina
sobre o direito natural, mais tarde retomada pelos estóicos, reassumida por Cícero, que a
1
Cf. GÊNESIS, in bíblia de Jerusalém, São Paulus, I edição, 2002
2
Cf. H. JAPIASU – D. MARCONDES, dicionário básico de filosofia, 4ª edição, 2006, p.59
3
Sófocles foi um dramaturgo grego, um dos mais importantes escritores. Suas peças retratam
personagens nobres e da clareza, nasceu em 497a.c em Colono perto de Atenas, na época do
governo de Péricles, no apogeu da cultura helénica.
2
transmitiu aos romanos. São bem conhecidos Os trabalhos dos grandes mestres
romanos, que acentuaram o primado do direito natural, é no caso de São Tomás de
Aquino como vamos perceber agora.

FUNDAMENTAҪÃO DO DIREITO EM SÃO TOMAS DE AQUINO

Tomás de Aquino desenvolve o seu pensamento do Direito na sua obra intitulada


Summa Theológica, escrita de 1265 a 1273. Nesta obra trata da natureza de Deus, das
questões morais e da natureza do homem. Desta forma, percebesse logo a ideia da
defesa do direito natural em detrimento do direito positivo. Daí a pergunta, que pode ser
direito natural e positivo?

 Direito natural: aquele que resulta da própria natureza do homem, superior a


toda convenção ou legislação positiva, sendo inalienável. Considera a natureza
como a fonte de onde emanam as normas do direito ideal e justo.
 Direito positivo: conjunto de normas criadas pelo homem, com o objectivo de
reger uma determinada sociedade numa determinada época.

A natureza em geral ou a natureza do homem em particular, desempenha o papel de


autoridade normativa, isto é, criadora de normas". Assim, para os teóricos do Direito
natural, o mesmo é o conjunto das leis necessárias universais deduzidas pela razão da
natureza das coisas e que serve de fundamento para o direito positivo4.

Entre os tipos de direitos apontados acima, São Tomas advoga a superioridade de uma
para com outra, isto é, há um Direito proveniente da própria natureza da coisa (direito
natural) que não se confunde com as normas da justiça firmadas entre duas pessoas, ou
estabelecidas pela autoridade pública (direito positivo). Enquanto o primeiro (natural)
independe da vontade humana, o segundo (positivo) nasce dela por uma convenção
estabelecida5.

O direito natural é instituído e promulgado por Deus, que possibilita ao homem, pela
sua própria natureza racional, conhecê-lo facilmente, e só Ele poderá alterá-lo, mas não
o faz porque a sabedoria divina não é contraditória. O direito positivo é firmado por
convenção humana, cabendo ao homem promulgá-lo, anulá-lo ou modificá-lo, se
necessário.

Cf. H. JAPIASU – D. MARCONDES, dicionário básico de filosofia, 4ª edição, 2006, p.59


4

Cf. D. ODILÃO MOURA, A doutrina do direito natural em Tomás de Aquino, 1999, P.33
5

3
São Tomas distingue as leis, a moral e o próprio Direito. Para ele, as leis morais
estabelecem os princípios do direito. Porém, enquanto a moral abrange o exercício de
todas as virtudes, o Direito não ultrapassa o objeto da virtude da justiça. Por isso, só
cabe ao direito determinar o justo, isto é, aquilo que é devido em estrita igualdade ao
outro.6

As outras virtudes morais visam o bem do próprio homem; a justiça, assim como o
Direito, visam o bem do outro. Já ensinava Aristóteles que “o amor une as cidades, e os
que estabelecem as leis mais se preocupam com a justiça” diz São Tomas. Seguindo a
mesma trilha, escreve Angélico: “A paz é indirectamente obra da justiça, directamente,
da caridade”7.

Percebe-se também que, “a lei não é o mesmo que o Direito propriamente falando, mas
uma certa razão do Direito”. Moral e Direito implicam o sentido mais amplo que o da
lei. A lei propõe as normas de ação humana; a moral e o Direito não somente as
reconhecem, como também as aplicam às inumeráveis acções humanas.

Síntese da doutrina tomista do direito natural

O direito natural, consequentemente obedece a dois princípios: o divino, por ter a


participação da lei eterna pela qual o Criador dirige todas as coisas; e o humano
enquanto necessariamente vinculado à criatura racional:

1. Deus criador, sábio e providente das ações das criaturas, tudo dirige segundo
normas preestabelecidas que constituem a “lei divina”. Para São Tomás no
entanto, propriamente não há um direito divino, porque o Direito fundamenta-se
na igualdade do que é devido pelo devedor com a satisfação exigida pelo outro
(isto é essencial à justiça). Não havendo possibilidade de igualdade entre o
homem e Deus, disto resulta a negação de um direito divino.
Como foi esclarecido anteriormente, a lei propriamente não se identifica com o
Direito, mas determina-lhe as normas principais.

Por ser a lei natural proveniente de disposição divina, ela é soberana, participando assim
do absoluto poder de Deus, não cabendo ao homem modificá-la, anulá-la, nem
desconhecê-la. O direito natural não é apenas absolutamente soberano, como ainda
6
Cf. D. ODILÃO MOURA, A doutrina do direito natural em Tomás de Aquino, 1999, P.32
7
Cf. E. CARLOS BIANCA BITTAR, direito e justiça em São Tomas de Aquino, São Paulo,
2010, P. 36
4
imutável, pois participada da imutabilidade das normas divinas e também da
imutabilidade da natureza humana. Por isso, concluirá o Angélico: “Se alguma coisa
por si mesma se opõe ao direito natural, a vontade humana não a pode tornar justa,
como, por exemplo, se for determinado ser lícito furtar ou cometer adultério”.

Dai a questão, qual é a consequência evidente da inclusão do direito natural na lei


eterna? A resposta desta questão é simples, a consequência evidente da inclusão do
direito natural na lei eterna é de ser ela verdadeira. Ora, a verdade é a correspondência
absoluta entre o conhecimento humano e o objecto conhecido. As coisas conhecidas
pelo homem são verdadeiras, porque ele as conhece segundo Deus as programou e lhes
deu a existência. Dessa veracidade participa o direito natural. Escreve o Angélico: “O
intelecto divino é a medida das coisas, porque cada coisa é verdadeira enquanto imita
o intelecto divino. Ora, o intelecto divino é em si mesmo verdadeiro, e a sua razão é a
própria verdade”.

Como também dizia papa João Paulo II sustentando a carta de São Paulo aos romanos:
No mais íntimo do ser humano, o Criador imprimiu uma ordem que a consciência
humana descobre e manda observar estritamente. Os homens mostram que os preceitos
da lei estão escritos nos seus corações, sendo sua consciência testemunha disso (Rom.
2, 15).

Para São Tomas, o direito natural é humano porque decorre do conhecimento que o
homem tem dele. Lê-se na Suma Teológica: Como no homem a razão domina e impera
sobre as outras potências, convém por isso que todas as inclinações naturais
pertencentes às outras potências sejam ordenadas segundo a razão. Por ser racional, o
direito natural, formado pelas leis naturais, diferencia-se do direito da natureza, que
regula as acções condicionadas pela estimativa dos animais, ou seja, é desta que se
difere com outros animais.

2. Afirmado o direito natural corno sendo acção intrinsecamente divina e humana,


São Tomás analisa sua definição, sua divisão e as suas propriedades. Estabelece
uma distinção nítida ao propor a divisão do direito natural em duas ordens: a do
direito natural estritamente dito e a do “direito das gentes” 8. Na primeira ordem,
identificam-se as normas do direito natural com as exigências da natureza dos

8
Cf. E. CARLOS BIANCA BITTAR, direito e justiça em São Tomas de Aquino, São Paulo,
2010, Pp. 44-60
5
animais; a segunda é constituída pelas normas de ação deduzidas dos primeiros
princípios da lei natural, conhecidos por todos os homens.

PRINCIPAIS PROPRIEDADES DO DIREITO

As principais propriedades do Direito são três, nomeadamente: unidade, imutabilidade e


inamissibilidade. Nos tratados de Teologia Moral, encontram-se outras, mas essas três
são as fundamentais, e as outras delas procedem.

Unidade: a unidade do direito reduz ao primeiro princípio da lei natural, que é evidente
por si mesmo. Este direito também é uno porque, distribuindo-se em todos os homens,
cada homem o concebe identicamente. Por isso é universal, deve ser conhecido e
praticado por todos os homens, em todos os tempos e em todos os lugares
(semperetubique).

A imutabilidade: sendo unitária a natureza do direito natural, consequentemente só


pode ser imutável, pois não varia no tempo, mas permanece imutável.

Inamissibilidade: vinculado inseparavelmente à natureza humana, o direito natural,


como ela, é inamissível. Não é possível apagá-lo no coração do homem quanto aos seus
princípios primários. Contudo, quanto aos princípios secundários, poderá desaparecer da
mente humana, seja devido às más persuasões (...), seja devido aos costumes pervertidos
e pelos hábitos corrompidos, como em alguns povos não foram considerados pecados os
roubos e os vícios contra a natureza9. Nem Deus poderá apagar a lei natural da mente
humana, visto que Ele não se contradiz, não substitui o bem pelo mal, nem a verdade
pelo erro. Por isso, o Angélico afirma categoricamente: “nenhum costume poderá ter
força da lei contra a lei divina, ou contra a lei natural”, e ainda, “a lei escrita não dá
força à lei natural e, assim sendo, não lhe pode diminuir ou tirar a força, até porque
nem a vontade do homem pode modificar a natureza”.

Cf. D. ODILÃO MOURA, A doutrina do direito natural em Tomás de Aquino, 1999, P. 83


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6
Conclusão

Chegado a este ponto de trabalho, fica por saber que, a concepção do direito em São
Tomás de Aquino assenta-se em dois tipos de direito, isto é, direito natural e direito
positivo. O direito natural, ela ostenta o poder divinal e humano. Poder divinal porque
Deus estabelece os princípios básicos, a fim de que sejam observados por meio de uso
da razão e humano porque este, é aquele que se relaciona com este direito, ou seja visa o
seu próprio bem.

Não obstante, sendo de origem divinal o direito natural e humana, ele é verdadeiro e a
mãe daquele outro direito (direito positivo), este cujas leis são criadas pelos homens,
suscetíveis de reger determinada sociedade numa determinada época, enquanto o direito
não natural é valido por toda eternidade, ou seja, não varia no tempo porque segundo
suas propriedades ele é de unidade (Deus e homem), imutável e inamissível.

Em fim, a nossa visão crítica circunscreve-se na relação de ambos direitos, pois à luz de
São Tomás o direito natural é superior em relação ao direito positivo e este deve ser
submisso ao anterior. Porém, segundo a nossa análise na actualidade, o direito positivo
passa por cima. Só para citar um exemplo, o direito natural dita que, o ser humano tem o
direito de possuir uma Porção de terra pois Deus o criou para viver na terra, isso é
legítimo, mas olhando a realidade actual parece ser uma utopia, porque o homem hoje
não se beneficia daquilo que o direito natural lhe oferece, hoje em dia a terra vende-se e
não se dá como o direito natural dita.

Entretanto, diante desta problemática, o único caminho que achamos ser viável para
possível saída deste impasse é mesmo a questão de reflexão sobre assunto, ou seja,
voltar no tempo a antiguidade para poder formar novas bases éticas e morais para o bem
da humanidade.

7
Biografia

DAMIAO Odiliao Moura, A doutrina do direito natural em Tomás de Aquino, 1999.

EDUARDO Carlos Bianca Bittar, direito e justiça em São Tomas de Aquino, São Paulo,
2010.

HILTON Japiassú – DANILO Marcondes, dicionário básico de filosofia, 4ª edição,


2006.

BIBLIA de Jerusalem, nova edição, revista e ampliada, 1ͣ edição, 2002.

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