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EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos

INTRODUÇÃO AOS PROCESSOS QUÍMICOS

1 Conceitos básicos

1.1 Processo
Um processo é a integração racional de fenômenos ou eventos; o processo químico é um
conjunto interligado de etapas para possibilitar a transformação de uma matéria prima em um
produto de interesse; geralmente o processo têm etapas de: tratamento, reação, separação e
purificação. A definição de processo químico é tão grande que engloba setores específicos de
grande magnitude como: metalúrgico, nuclear e farmacêutico; e ainda tem diversas
ramificações de relevância.

Nos processos químicos ocorrem transformações químicas ou físicas da matéria. Embora a


maioria englobe conversões químicas (ou bioquímicas), em alguns processos ocorrem apenas
transformações físicas da matéria. A destilação do petróleo para obtenção de algumas frações,
a obtenção do açúcar da cana e a extração de óleos vegetais, são exemplos típicos de
processos químicos onde não ocorrem conversões químicas essenciais. Além disso, mesmo
naqueles processos onde a conversão química é a operação principal, uma série de operações
físicas preliminares é necessária para a preparação da matéria prima e seu transporte até o
equipamento de reação (reator) bem como para o tratamento, purificação e transporte do
efluente do reator para a obtenção do produto (um ou mais) final. A etapa de reação é
considerada o núcleo do processo, a partir do qual a estrutura e existência das outras etapas
são definidas.

Várias são as operações físicas de interesse da indústria química, elas são chamadas operações
unitárias. Cada etapa precisa de equipamentos também chamados unidades de
processamento; um equipamento é uma ferramenta para condicionar os fenômenos de
comportamento em um espaço definido, onde entram e saem materiais; os equipamentos são
escolhidos pelas suas funções específicas, custo, tamanho e segurança.

Em linguagem de engenharia química, todo este texto descritivo é substituído por um desenho
esquemático chamado de fluxograma. Utilizando-se blocos, outros símbolos que representem
unidades de processo (reatores, destiladores, evaporadores, etc...) e linhas que indicam os
caminhos de fluxo das matérias primas e dos produtos, descreve-se o processo de forma
simples e objetiva, através de uma coordenação sequencial que integra as unidades de
conversão química (reatores) às demais unidades de operações físicas.

O material que entra em uma dada unidade de processo é chamado de alimentação e o que a
deixa é chamado de produto. O diagrama de blocos é, na verdade, o fluxograma mais simples,
que indica as principais unidades de processo e traz informações sobre as variáveis de

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processo principais. Um fluxograma mais elaborado traz mais detalhes como o


dimensionamento dos equipamentos, as malhas de controle automático, os materiais de
construção e outras informações importantes.

Dada uma unidade de processo ou um processo como um todo o problema básico é calcular as
quantidades e propriedades dos produtos a partir das quantidades e propriedades das
matérias primas ou vice-versa. O objetivo da disciplina é o desenvolvimento duma abordagem
sistemática para a resolução de problemas deste tipo, a partir das variáveis em jogo, chamadas
de variáveis de processo, e as relações entre elas mediante equações associadas aos princípios
universais da conservação da massa e energia e informações termodinâmicas.

1.2 Dimensões e unidades


As variáveis são indicadores de estado de um fenómeno, nos processos são parâmetros que
descrevem a quantidade e a qualidade dos materiais. A dimensão é um conceito de medida
das variáveis físicas, as dimensões básicas são: o comprimento , -, a massa , -, o tempo , - e
a temperatura , -. Os termos que permitem quantificar as dimensões são denominados
unidades. As dimensões básicas estão relacionadas mediante leis e definições, o que da origem
a dimensões secundarias, por exemplo, velocidade , ⁄ -.

Os cálculos envolvendo processos químicos e bioquímicos são realizados usando quantidades


cujas grandezas são expressas em termos de certo número de unidades de sua dimensão.
Assim, o valor numérico representa o número de unidades contidas na quantidade medida.

1.2.1 Análise dimensional

Com as grandezas bem definidas, aparece então o conceito de consistência dimensional ou


homogeneidade dimensional. A consistência dimensional organiza os procedimentos nos quais
são efetuados cálculos envolvendo as grandezas dimensionais ou adimensionais. Ela dita que:

“Toda equação que representa um sistema físico só é válida se for dimensionalmente


consistente (homogênea), isto é, se todos os seus termos que são somados, subtraídos ou
igualados, tiverem as mesmas dimensões e estiverem representados na mesma unidade.”

Note que a recíproca não é verdadeira, ou seja, não necessariamente uma equação
dimensionalmente consistente tem significado físico.

Uma observação cuidadosa das dimensões das grandezas envolvidas em um problema pode
ser de grande valia em sua solução. As dimensões conferem significado físico aos números
fornecidos e podem indicar a solução através de uma simples análise dimensional. Por outro
lado, descuidos levam a resultados sem qualquer significado.

Quantidade adimensional é um número desprovido de qualquer unidade física que o defina.


Os números adimensionais se definem como produtos ou quocientes de quantidades cujas
unidades se cancelam. Dependendo do seu valor estes números têm um significado físico que
caracteriza determinadas propriedades para alguns sistemas.

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As regras utilizadas nos cálculos envolvendo operações com grandezas dimensionais são:

 Adição / subtração: quantidades expressas na mesma unidade fornecem o resultado nesta


mesma unidade. Assim, se a operação for efetuada com quantidades expressas em
diferentes unidades o seu resultado não terá significado físico.
 Multiplicação/divisão: o resultado tem como unidade a multiplicação/divisão /potenciação
das unidades das grandezas envolvidas na operação; a divisão envolvendo mesmas
unidades fornece uma grandeza sem dimensão (grandeza adimensional).
 Expoentes e argumentos de funções: os argumentos e expoentes de funções exponenciais,
logarítmicas ou trigonométricas devem sempre ser adimensionais, ou seja, devem possuir
representação dimensional unitária e não ter unidades.

1.2.2 Conversão de Unidades

Para utilizar uma equação todas as suas parcelas devem possuir a mesma dimensão e devem
estar expressas nas mesmas unidades. Na prática, em função dos diversos tipos de
instrumentos utilizados (fabricação, princípio utilizado para a medição e calibração), é comum
o recebimento de informações expressas em unidades não coerentes.

Assim, para que estes valores possam ser utilizados em cálculos, suas unidades devem ser
transformadas para um conjunto coerente, tornando possível satisfazer o conceito da
consistência dimensional. Esta transformação é feita com a utilização dos chamados fatores de
conversão. O fator de conversão é originado de uma razão entre duas grandezas que
representam exatamente a mesma coisa, ele pode ser multiplicado em qualquer parcela de
uma equação sem interferir no valor relativo entre estas parcelas.

1.2.3 Notação científica, algarismos significativos e precisão

Uma maneira conveniente de representarem-se números é através da notação científica, na


qual um número é expresso como um produto de outro número (usualmente entre 0,1 e 10) e
a potência de 10. Exemplos:

Os algarismos significativos de um número são os dígitos a partir do primeiro dígito não zero
da esquerda até o último dígito (zero ou não zero) da direita se há um ponto decimal, ou o
último dígito não zero se não há ponto decimal.
Número Notação Algarismos Ponto
científica significativos decimal
Não tem
Tem
Não tem
Tem

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Observe que o número de algarismos significativos é facilmente mostrado na notação


científica. O número de algarismos significativos de uma medida fornece uma indicação da
precisão com que a quantidade é conhecida.

Um valor é mais preciso quanto maior seu número de algarismos significativos. Nas operações
matemáticas, uma regra prática é a que segue: “Quando 2 ou mais quantidades são
combinadas por multiplicação ou divisão, o número de algarismos significativos do resultado
deve ser igual ao do menor número de algarismos significativos dentre as quantidades
envolvidas”.

( ) ( ) ( ) ( )

Para a adição ou subtração: “Quando 2 ou mais números são adicionados ou subtraídos, a


posição do último algarismo significativo de cada número deve ser comparada. Dessas
posições, aquela mais à esquerda é a posição do último algarismo significativo permissível na
soma”.

1.2.4 Sistemas de Unidades

Os sistemas de unidades são conjuntos de unidades utilizados para representar as diversas


grandezas de uma forma uniforme. Eles foram definidos a partir da necessidade de uma
uniformização das formas de expressar as diversas grandezas que apareceu, principalmente,
com o incremento do comércio na Europa da idade média.

O início das tentativas de unificação datam de 1790, quando a França, recém saída da
revolução, reconhece a necessidade do desenvolvimento de um sistema de unidades que
facilitasse as relações comerciais. A Inglaterra foi procurada, mas como já tinha um sistema em
uso na ilha em suas colônias, não participou com interesse da iniciativa francesa. No ano de
1960, ocorreu uma conferência internacional que definiu o Sistema Internacional (Le Système
Internationale d’Unités e informalmente chamado de SI), que mesmo hoje ainda convive,
dentro dos processos químicos, com sistemas de origem inglesa, principalmente o americano
de engenharia (AE). Na resolução dos problemas serão utilizados os dois sistemas de unidades
mais comumente empregados.

Um sistema de unidades pode ser dividido em três subconjuntos:

 Unidades básicas: são as unidades das dimensões básicas, que não são necessariamente as
mesmas nos diversos sistemas.
 Unidades suplementares: são as unidades utilizadas para expressar ângulos no plano e no
espaço.
 Unidades derivadas: são obtidas a partir de relações envolvendo as unidades básicas.

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Em alguns sistemas, algumas unidades derivadas possuem unidades equivalentes, ou seja,


unidades que representam, de forma resumida, as unidades derivadas.

Os sistemas são divididos em:

• Sistemas Absolutos: nos sistemas absolutos as unidades de força são derivadas das unidades
básicas. Os mais comuns são o CGS, o absoluto inglês e o SI.

• Sistemas Gravitacionais: nestes sistemas, a dimensão de força e a sua unidade são


consideradas básicas. Os mais comuns são o britânico de engenharia e o americano de
engenharia.

O sistema CGS foi durante muito tempo o mais utilizado nos trabalhos científicos. O americano
de engenharia é muito utilizado na indústria química, e particularmente na de petróleo, nos
Estados Unidos. Assim, mesmo com a definição do Sistema Internacional como o sistema
universal, ainda são empregados muitos dados e informações provenientes dos processos
expressos em outros sistemas de unidades.

O SI tem algumas vantagens sobre o sistema AE no que diz respeito à menor quantidade de
nomes associados às unidades e à maior facilidade de conversão de um conjunto de unidades
para outro.

A seguinte tabela apresenta as unidades das dimensões mais utilizadas nos cálculos
envolvendo os processos químicos e bioquímicos, nos três sistemas mais comuns.
Sistemas SI CGS AE
Comprimento , -
Tempo , -
Massa , -
Temperatura , - ou ou ou
Força
Quantidade molar
Os sistemas decimais, como o SI e o CGS, têm a vantagem de trabalhar com múltiplos e
divisões decimais (exceção para as unidades de tempo), fato que não ocorre com os sistemas
inglês e americano.

Outra característica importante, típica dos sistemas gravitacionais, é a utilização da força como
dimensão básica. Desta forma, no Sistema Americano de Engenharia a libra-força é uma
unidade básica.

Ao acrescentar unidades aos números que não são adimensionais, são obtidos os seguintes
benefícios práticos: redução da chance de cometer erros nos cálculos; redução do volume de
cálculos e do tempo gasto na resolução dos problemas; abordagem lógica do problema, ao
invés da mera lembrança de fórmulas e de substituição de números nas mesmas; fácil
interpretação do significado físico dos números utilizados.

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1.2.5 Validação da solução de problemas

Validação, também chamada de verificação, tem por objetivo verificar se a solução do


problema é satisfatória e possivelmente avaliar o procedimento de resolução do problema.
Uma possibilidade é comparar a resposta obtida com outra conhecida, como é o caso de vários
problemas onde as respostas são fornecidas. Como em várias situações isto não é possível
algumas sugestões podem ser úteis.

 Repita os cálculos, possivelmente em uma ordem diferente.


 Comece com a resposta e execute os cálculos em ordem inversa.
 Revise as suas hipóteses e procedimentos.
 Compare valores numéricos com dados experimentais ou dados existentes em uma base
de dados (manuais, internet, livros ....).
 Examine o comportamento do procedimento de resolução. Use outros valores de partida e
verifique se os resultados mudam adequadamente.
 Avalie se a resposta está razoável a partir do que você conhece sobre o problema.

1.3 Atividades
 Examinar os exemplos:
o Himmelblau & Riggs (2.1 até 2.7)
o Sikdar (1.1 até 1.16)
o Felder & Rousseau (2.2.1, 2.3.1, 2.4.1).
 Exercícios:
o Himmelblau & Riggs (2.2.3, 2.2.9, 2.3.3, 2.3.7 e 2.4.4)
o Felder & Rousseau (2.2, 2.8 e 2.26).

Material de apoio: tabela com os fatores de conversão (Felder & Rousseau).

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2 Variáveis de Processo
Para projetar, supervisionar ou modificar um processo, precisa-se conhecer as quantidades,
composições e condições dos materiais que entram e saem da unidade. Neste item são
apresentados os principais parâmetros utilizados para descrever as condições operacionais das
correntes de processo, principalmente objetivando a realização de balanços de massa.

Propriedades são características que definem o comportamento da corrente em repouso e em


movimento. As propriedades podem ser intensivas (Temperatura, Pressão, Densidade),
independentes da massa do sistema, ou extensivas, dependentes do tamanho do sistema.
Uma propriedade especifica é uma propriedade extensiva por unidade de massa.

2.1 Densidade

A densidade ( ) de um material é definida como a relação entre a sua massa e o volume por
ela ocupado, ⁄ , as unidades da densidade são quilogramas por metro cúbico ( ⁄ ).
No entanto, é bastante comum expressar a densidade em ( ⁄ ). Por exemplo, a densidade
da água: ⁄ ⁄ ⁄

A densidade de gases é função da pressão ( ) e da temperatura ( ). Líquidos e sólidos têm


variando também com e , mas esta variação é bem menos importante do que a observada
nos gases. Na prática, para líquidos e sólidos pode-se considerar que a densidade somente
varia com a temperatura, ou seja, estes estados podem ser considerados incompressíveis. Em
misturas, a densidade varia com , e a composição. A relação entre a densidade e a , a e
a composição será estudada em outras disciplinas no decorrer do seu curso. Para gases que se
comportam como gases ideais um exemplo desta relação é: ( ) ⁄( ), onde a
massa molar da substância e a constante universal dos gases. As equações que representam
esta relação são conhecidas como equações de estado.

Densidade de sólidos e líquidos pura é relativamente independente da temperatura e da


pressão e pode ser encontrada em referências padrões.

2.1.1 Volume Específico

Outra grandeza bastante utilizada para gases é o volume específico que é definido pela relação
entre o volume ocupado por uma unidade de massa, é o inverso da densidade.

A densidade e/ou o volume específico podem ser usados como fatores de conversão para
relacionar a massa com o volume.

Exemplo: A densidade ( ) do tetracloreto de carbono é ⁄ . A massa de de


é, portanto,

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e o volume de de é

2.1.2 Densidade relativa

A densidade relativa se define como a razão entre duas densidades. A densidade da substância
de interesse dividida pela densidade da substância de referência. Logo, a densidade relativa é
uma grandeza adimensional, ou seja, uma quantidade que não tem unidades.

A substância de referência para líquidos e sólidos é normalmente a água. Logo, a densidade


relativa é a razão entre a densidade da substância em questão e a densidade da água a ,
cujo valor é ⁄ ou ⁄ .

Exemplo: Se a densidade relativa de uma solução com de glicerol é qual é sua


densidade em ⁄ e ⁄ .

⁄ ⁄

⁄ ⁄

Há outras formas de se representar a densidade, que são originadas em procedimentos de


medições tradicionalmente utilizados em setores específicos da indústria química. Um
exemplo clássico é o grau API ( ), muito utilizado na indústria do petróleo. Outros
exemplos são o grau Baumè ( ) e o grau Twaddell ( ). Essas formas prática de expressar a
densidade estão relacionadas diretamente com a densidade relativa através de relações
específicas. Um exemplo destas relações é:

onde a referência para a densidade relativa é a densidade da água a ( ). Relações


análogas para os outros graus, suas definições e fatores de conversão são dados no Perry’s
Chemical Engineers Handbook.

2.1.3 Vazão

Processos contínuos envolvem a movimentação de matéria de um ponto para outro do


processo. A vazão é taxa na qual esta matéria é transportada através de uma linha de
processo. A vazão pode ser expressa como vazão mássica ( ̇ ⁄ ), vazão volumétrica
( ⁄ ) ou vazão molar ( ̇ ⁄ ).

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2.2 Pressão
Seja um fluido escoando no interior de uma tubulação. A sua pressão em um determinado
ponto pode ser medida através da abertura de um orifício na parede do tubo, por exemplo,
um pequeno tubo lateral. Para que não haja vazamento por este tubo devemos exercer uma
determinada força em um dispositivo que obstrua esta abertura. Esta força é equilibrada pela
força que o fluido que está escoando exerce pelo lado de dentro. Assim, a pressão do fluido
em escoamento é dada pela razão entre esta força e a área da seção reta deste tubo lateral.

No sistema internacional a pressão é dada por ⁄ que recebe o nome de pascal ( ). Na


prática a medição de pressão é feita através de um procedimento análogo. Somente, como é
difícil uma medição direta da força exercida, são utilizados dispositivos (manômetros) que
determinam a pressão através de medições indiretas, ou seja, de outros parâmetros que estão
relacionados com a pressão.

2.2.1 Pressão Atmosférica

Algumas unidades tem origem na pressão exercida pela atmosfera sobre os corpos chamada
pressão atmosférica ou pressão barométrica, a qual pode ser visualizada como a pressão
exercida pela coluna de ar atmosférico sobre uma superfície.

Valor padrão ao nível do ar:

2.2.2 Formas de expressar a pressão

A pressão registrada por um instrumento de pressão pode ser relativa ou absoluta,


dependendo da natureza do instrumento utilizado na medição. As pressões absolutas ( )
são medidas em relação ao vácuo absoluto, para o qual: . Um manômetro com a
extremidade aberta mediria a pressão relativa ou manométrica ( ), já que a referencia para
o manômetro será a pressão atmosférica naquela extremidade aberta. A relação entre a
pressão relativa e a pressão absoluta é:

Exemplo numa panela de pressão com pressão relativa em Floripa, como a atmosfera
padrão é , então a pressão absoluta na panela é:

Se , então . Quando , então , e diz-se que há vácuo


no local onde a pressão esta sendo medida. Nos cálculos, a pressão deve sempre ser expressa
no referencial absoluto ( ). Porém, quando a grandeza envolve diferencial de pressão não
há necessidade de se utilizar pressões absolutas, pois o tamanho das unidades é o mesmo:

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No Sistema Americano de Engenharia é comum a indicação na representação da unidade de


pressão do seu referencial. Assim, tem-se: ( ) ( ) onde, é a unidade
de pressão absoluta e é a unidade de pressão relativa.

2.2.3 Variação da pressão com a profundidade

Seja uma quantidade de fluido (densidade ) no interior de um recipiente cilíndrico. A força


que este fluido exerce sobre o fundo deste recipiente pode ser determinada pela soma da
força que a atmosfera exerce sobre a sua superfície e o peso do fluido no interior do
recipiente, . Esta conta pode ser efetuada dividindo-se todas as parcelas pela
área da seção do recipiente, ou seja, em termos de pressão:

Na expressão final não aparece na fórmula, indicando que o diâmetro do tanque, e


consequentemente a massa no seu interior, não tem influência direta na pressão exercida no
fundo do tanque. O parâmetro determinante é a altura do líquido no interior do tanque. Isso
justifica a utilização de alturas de colunas de líquidos como medições, ou mesmo unidades, de
pressão.

O físico italiano Evangelista Torricelli realizou uma experiência para determinar a pressão
atmosférica ao nível do mar. Ele usou um tubo de aproximadamente de comprimento,
cheio de mercúrio e com a extremidade tampada. Depois, colocou o tubo, em pé e com a boca
tampada para baixo, dentro de um recipiente que também continha mercúrio. Torricelli
observou que, após destampar o tubo, o nível do mercúrio desceu e estabilizou-se na posição
correspondente a , restando o vácuo na parte vazia do tubo. A densidade do Mercúrio é
( ⁄ ) e aceleração da gravidade da Terra ao nível do mar ⁄ ,
então:

Portanto equivale no Sistema Internacional a .

Qual a altura de uma coluna de água a que exerce uma pressão de ?

Isto significa que o peso da imensa “coluna” de ar que paira sobre nossas cabeças exerce a
mesma pressão que de coluna de água ( )

2.3 Temperatura
A temperatura de uma substância ( ) em um dado estado de agregação (sólido, líquido ou gás)
é uma medida da energia cinética média possuída pelas moléculas da substância.

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Como esta energia não pode ser medida diretamente, a temperatura precisa ser determinada
indiretamente pela medida de alguma propriedade física da substância, cujo valor depende da
temperatura de uma forma conhecida. Tais propriedades e os aparelhos para medida de uma
temperatura, nela baseados, incluem resistência elétrica de um condutor (termômetro de
resistência), voltagem na junção de dois metais diferentes (termopar), espectro de radiação
emitida (pirômetro) e volume de uma massa fixa de um fluido (termômetro).

2.3.1 Escalas de temperatura

Em uma mudança espontânea, o calor (energia) sempre se transfere de um corpo de elevada


temperatura para outro com uma temperatura inferior, até que se alcance o equilíbrio térmico
(ou seja, até que as temperaturas se igualem). Para construir uma escala de temperatura é
necessário empregar alguns pontos de referência reproduzíveis, os quais normalmente são os
pontos de fusão e de ebulição de substâncias puras, assim como alguma propriedade
facilmente medida de uma substância que varie de uma maneira uniforme, de acordo com as
variações de temperatura.

As escalas onde os zeros são arbitrados são chamadas relativas, Celsius ( ) e Fahrenheit ( ).
Nas escalas absolutas o zero é a temperatura mais baixa que existe (zero absoluto),
caracterizado pela ausência de movimentação das moléculas que formam a substância, Kelvin
( ) e Rankine ( ).

Tabela: Pontos de fusão e ebulição da água pura na pressão atmosférica


Escala Símbolo Ponto de Ponto de
fusão ebulição
Celsius
Farenheit
A seguinte equação é usada para obter conversões de temperatura:

( )

Nas escalas relativas o valor numérico ligado a uma temperatura em particular parece algo
arbitrário. No zero absoluto cessa todo movimento molecular e a energia cinética da molécula
passa a ser zero. Com as seguintes equações é possível fazer a conversão entre as escalas
absolutas e relativas: e

As expressões acima são utilizadas para transformar leituras de temperaturas de uma escala
para outra. Muitas vezes, porém, estamos interessados em transformar diferenças de
temperatura, que não mais dependem dos referenciais utilizados nas escolas. Dessa forma, os
valores dos diferenciais de temperaturas somente dependem do tamanho do grau e estão
relacionados pelas expressões:

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2.3.2 Unidades derivadas relacionadas com a temperatura

Muitas unidades compostas contêm unidades de temperatura. Por exemplo, no calor


específico, e necessária uma quantidade de energia ( ) para elevar em a temperatura de
de material, então a unidade do calor específico água é ⁄( ), o que aparece no
denominador na realidade significa um (diferença unitária de temperaturas – a unidade é
então: joules por quilo por diferença unitária de graus Celsius) e a sua passagem para outra
escala é feita pelos fatores de conversão das unidades de grau.

Exemplo: A condutividade térmica do alumínio ( ) é igual a ⁄( ( ⁄ )).


Encontre o valor equivalente à nas unidades: ⁄( ( ⁄ )).

Solução: , assim não há necessidade de correção em relação à variação de


temperatura. Desta forma, o problema se resume a uma simples correção de unidades:

( ⁄ ) ( ⁄ )

Exemplo: A variação com a temperatura do calor específico , ⁄( )- do pode


ser representada pela equação: onde , -. Modifique a
equação de modo que a expressão resultante forneça o nas unidades de ⁄( ),
com , -

Solução:

[ ] [ ][ ][ ]

[ ] , -

( )

[ ] [ ]

[ ] , -

2.4 Atividades
 Examinar os exemplos:
o Himmelblau & Riggs (2.17, 2.21 até 2.25)
o Felder & Rousseau (3.1.1, 3.1.2, 3.4.1, 3.4.2, 3.4.3, 3.5.1, 3.5.2, 3.5.3).
 Exercícios:
o Himmelblau & Riggs (2.8.2, 2.10.1 e 2.11.9)
o Felder & Rousseau (3.4, 3.32 e 3.48).

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3 Estequiometria
Existem certos princípios fundamentais subjacentes a todas as operações unitárias e processos
unitários. Estes podem ser classificados em quatro grupos. Eles são os balanços de materiais e
de energia e as leis de equilíbrio e os processos de taxa. As operações unitárias principalmente
lidam com a transferência e mudança de energia e a transferência e mudança de matérias por
meio físico ou em alguns casos, por meio físico-químicos. O estudo dos balanços de materiais e
de energia nestas operações, e o domínio de certos princípios e técnicas, é muito importante
para a formação do engenheiro químico e sua vida profissional. Estequiometria em engenharia
química não é apenas a aplicação das leis de combinação de proporções de elementos ou de
compostos envolvidos nas reações químicas tem um significado mais amplo.

A filosofia básica de cálculos de processo é ajudar ao estudante na análise dos processos por
meio de cálculos e desenvolver suas habilidades de resolução de problemas sistemáticos.
Através destes cálculos o estudante fica equipado com informações e habilidades
fundamentais que são repetidamente empregadas em disciplinas subsequentes e na vida
profissional. Embora a teoria subjacente à solução destes problemas esta bem definida e é
inquestionável, a solução não pode ser alcançada por aplicação de apenas algumas equações
teóricas ou semiempíricas. A aplicação destes princípios para a solução de problemas
estequiométricos é uma arte, e como toda arte, a seu domínio requer prática.

3.1 Molécula–grama (mol)


Neste item, antes de apresentar cálculos envolvendo a molécula-grama, são recordados alguns
conceitos importantes:

 Massa atômica: é a massa de um átomo expressa em unidades de massa atômica ( ).


Nesta unidade o 12 tem massa atômica exatamente igual a . Seu valor está tabelado
para os diversos átomos.
 Átomo–grama: é a massa atômica de um elemento expressa em gramas, contém um
número de átomos igual ao número de Avogadro ( átomos).
 Massa Molecular ( ): expressa em unidades de massa atômica, é igual à soma das massas
atômicas dos átomos que formam a molécula.
 Molécula–grama ( ): quantidade de substância cuja massa, medida em gramas, é igual a
sua massa molecular. Um mol de qualquer substância contém moléculas.

Como há outras formas de se referir à unidade mol, para evitar confusão o muitas vezes é
chamado de grama-mol ( ). Outras unidades muito utilizadas são o ,
correspondente a ,eo , nos sistemas que utilizam a libra como unidade de
massa. Note que contém moléculas e, consequentemente tem uma
massa vezes maior do que o . Analogamente, tem uma massa vezes
maior do que um (lembre-se que ). Assim, os fatores de conversão entre
as unidades envolvendo o são os mesmos dos análogos envolvendo unidades de massa.

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Outro fato importante, que deve estar claro para você é que, tomando, por exemplo, o
monóxido de carbono ( - massa molecular igual a ), tem-se pela definição de mol:

Vê-se então que, se a massa molecular de uma substância é , existem ,


, desta substância. Esta forma de representar a massa molecular é
muito conveniente nos cálculos envolvendo parâmetros de processo e facilita a operação com
as unidades. Assim, a partir de agora, usares unidades da forma para as massas
moleculares.

A massa molecular pode ser usada como fator de conversão, que relaciona massa e número de
moles ( ): ⁄

De forma análoga, a massa molecular é utilizada para transformar vazões molares em mássicas
e vice-versa.

Exemplo: Seja a amônia ( ), que possui massa molecular igual a . Quantos


moles de amônia há em da substância? Qual a massa de de amônia?

Exemplo: Sejam de ( ). Pergunta-se:

Qual o número de moles de nesta massa?

Qual o número de libra-moles de nesta massa?

Qual o número de moles de carbono nesta massa? (Note que o termo átomo-grama não é
normalmente utilizado)

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Qual o número de moles de átomos de oxigênio nessa massa?

Qual o número de moles de na massa?

Quantas gramas de O há na massa?

Quantas gramas de há na massa?

Quantas moléculas de há na massa?

Exemplo: A vazão mássica de em uma tubulação é igual a ( ).


Qual é então a vazão molar?

Solução:

3.2 Caracterização de Misturas


As correntes de processo contêm, geralmente, mais de uma substância (mais de um
componente ou espécie química: ). Quando isto ocorre elas são chamadas de
multicomponentes ou multicompostas. Nesse caso, na caracterização da corrente, além da
informação de que espécies estão presentes, há a necessidade de se informar a quantidade
em que cada uma está presente. Este tipo de informação poder ser fornecido em termos
absolutos, através das chamadas concentrações, ou em termos relativos através das chamadas
frações.

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Neste item são apresentadas as formas de representar a quantidade de cada substância em


mistura, como também são relembradas as formas de relacionar estas representações.

3.2.1 Frações e Porcentagens

São três as frações normalmente utilizadas:

 Fração Molar: a fração molar de um componente de uma mistura é definida na forma


⁄ onde é o número total de moles na mistura ( ) e o
número de moles da substância .
 Fração Mássica ou Ponderal: ⁄ com
 Fração Volumétrica: ⁄ com

Note que em função da definição das frações, o seu somatório em relação a todos os
componentes de uma mistura é igual a um. Assim, em uma mistura com componentes, tem-
se para as frações molares, mássicas e volumétricas:

∑ ∑ ∑

As frações podem ser apresentadas na forma de porcentagens:

Exemplo: Uma solução qualquer contém de , em massa, e em base molar de .


Qual é a massa de em de solução?

Qual é a vazão mássica de em uma corrente da solução que escoa com uma vazão de
⁄ ?

̇ ̇

Vazão molar de B em uma corrente escoando com vazão total igual a .

̇ ̇

Vazão molar da solução quando ̇ ⁄

̇
̇

A massa da solução que contém de .

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3.2.2 Massa Molecular Média

O conceito de massa molecular pode ser estendido para misturas, definindo-se o que se chama
massa molecular média da mistura:


̅ ∑ ∑

Este parâmetro tem o mesmo significado ao se trabalhar com misturas do que a massa
molecular tem ao se lidar com substâncias puras.


∑ ∑
̅

Exemplo: Uma mistura de gases tem a seguinte composição mássica:

Composto %

a) Determine a composição desta mistura em termos das frações molares?


b) Determine a massa molecular média ( ̅ ) da mistura?
c) Qual é a fração volumétrica do monóxido de carbono na mistura?

Solução:

1) Para facilitar os cálculos que permitem a passagem de frações mássicas para molares,
definisse uma base de cálculo, ou seja, uma massa qualquer da mistura na qual os cálculos
são efetuados. Por conveniência serão utilizados da mistura como base de cálculo.
Os resultados dos cálculos em sequência são mostrados na tabela
% ⁄
, - , ⁄ - , -
16 32 0,5 0,152

4 28 0,143 0,044
17 44 0,386 0,188
63 28 2,25 0,668

2) Aproveitando os resultados, a massa molecular média da mistura é:

̅ ∑

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3) Em misturas gasosas, as frações molares são iguais as frações volumétricas. Assim a fração
volumétrica do é igual a 0,044.

3.2.3 Concentrações

As concentrações são parâmetros também utilizados na definição da composição de misturas


multicomponentes. De forma distinta das frações, as concentrações são parâmetros
dimensionais. De uma forma geral elas representam quantidade de um componente por
quantidade fixa de solvente ou de solução em uma mistura.

 Concentração Mássica:

0 1 [ ]

 Concentração Molar:

A concentração molar em ⁄ (grama-mol de soluto por litro de solução) é chamada de


molaridade. Assim, uma solução molar de é uma solução com

 Molalidade: é uma forma de expressar a concentração que usa, em conjunto, informações


mássicas e molares. Por definição, ela representa o número de moles do soluto existente
em do solvente.

[ ]

É importante notar que a molalidade é uma forma de expressar a concentração muito pouco
utilizada em cálculos da engenharia de processos.

 Partes por milhão ( ): representa 1 parte em massa do soluto em 1 milhão de partes da


solução, em massa. É usado para representar concentrações em soluções muito diluídas.

Exemplo: Uma solução aquosa de com concentração molar escoa em um processo


com uma vazão de ⁄ . A densidade relativa da solução é .

Calcular a concentração mássica de em ⁄

A vazão mássica de em ⁄

A fração mássica de .

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A base de cálculo é a quantidade específica duma das correntes de material com base na qual
os cálculos são executados; se a composição é dada independentemente de um componente é
livre do componente, se esse componente é água esta dada em base seca. Um material é
úmido, se a água é um dos seus componentes (base úmida).

Exemplo: Na fabricação de um produto com massa molar de , a corrente de saída de um


reator flui a uma vazão de ⁄ . Esta corrente contém e . A porcentagem mássica
de é de e a densidade relativa da solução é de . Calcule a concentração de em
⁄ nesta corrente e a vazão molar de , em ⁄ .

Calcule a concentração de em ⁄ na a corrente de saída e a vazão molar de , em


⁄ .

Base: 1 kg de solução

Concentração de em ⁄ na a corrente de saída.

A vazão molar de , em ⁄ .

3.3 Atividades
 Examinar os exemplos:
o Himmelblau & Riggs (2.18, 2.19, 2.20)
o Sikdar (2.1 até 2.28).
 Exercícios:
o Himmelblau & Riggs (2.6.3, 2.7.1, 2.9.12).

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4 Balanços de massa
Os cálculos de balanço de massa são uma parte essencial da solução de muitos problemas
complexos de engenharia química. O balanço de massa auxilia no planejamento e desenho de
processos, na avaliação econômica dos processos propostos e existentes, controle de
processos, e na otimização de processos.

4.1 Definições básicas


Sistema é uma porção de um processo ou universo selecionada para análises. Um sistema é
classificado em função da ocorrência de transferência de massa e energia através de sua
fronteira em:

 Aberto: há transferência de material através da fronteira do sistema;


 Fechado: não há transferência de material através das fronteiras do sistema, durante o
intervalo de tempo de interesse.
 Isolado: sem transferência de material e energia.

Analogamente, a operação de um processo pode ser classificada como:

 Operação em batelada: massa não cruza as fronteiras do processo durante o tempo da


batelada. O sistema é alimentado e os produtos são retirados de uma só vez, no início e ao
final do tempo de processo, respectivamente. Assim, o processo ao longo da batelada se
comporta como um sistema fechado. Normalmente, esta estratégia de operação é usada
para produzir pequenas quantidades de especialidades químicas, produtos sazonais ou
feitos por encomenda;
 Operação contínua: há, continuamente, a passagem de massa através das fronteiras do
processo através das correntes de entrada e de saída. Desta forma o processo se comporta
como um sistema aberto. Esta operação é característica de grandes volumes de produção,
como ocorre, por exemplo, no refino do petróleo e na indústria petroquímica;
 Operação semi-batelada ou semi-contínua: qualquer processo que não é operado nem em
batelada e nem contínuo. Um exemplo deste tipo de processo é aquele onde uma massa
de líquido é alimentada em um reator e gás é borbulhado durante certo tempo através do
líquido. Ao final, a passagem de gás é interrompida e o líquido retirado do reator. Um
processo que opera desta forma é o de cloração de benzeno.

A operação de um processo também pode ser classificada conforme o comportamento das


variáveis ao longo do tempo:

 Operação em regime estacionário: os valores das variáveis de processo ( , , vazões,


concentrações, etc.) não variam com o tempo em qualquer posição fixa;
 Operação em regime transiente: os valores das variáveis variam com o tempo em alguma
posição fixa do processo.

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O processo em batelada tem uma natureza tipicamente transiente, enquanto os processos


contínuos operaram normalmente em regime estacionário.

4.2 A Lei da Conservação das Massas


A Lei da Conservação das Massas foi publicada pela primeira vez 1760, em um ensaio do
químico russo Mikhail Lomonosov. No entanto, sua obra não teve repercussão na Europa
Ocidental, cabendo ao francês Antoine Laurent Lavoisier o papel de tornar mundialmente
conhecido o que hoje se chama Lei de Lavoisier.

Por volta de 1774, o químico francês realizava experiências sobre a combustão e a calcinação
de substâncias. Com o objetivo de utilizar métodos quantitativos, Lavoisier empregava a
balança como um de seus principais instrumentos para acompanhar as atividades
experimentais. Observou que, das reações de calcinação de metais expostos ao ar, sempre
resultavam óxidos cujo peso era maior que o do metal de partida. Ao contrário, na combustão
de um pedaço de carvão exposto ao ar, a massa restante ao final do processo era sempre
menor que a massa inicial.

Depois que adquiriu informações sobre as características do gás que ativava a queima de
outras substâncias (que mais tarde foi denominado pelo próprio Lavoisier como oxigênio, que
quer dizer gerador de ácidos), passou a fazer experiências com o mesmo e acabou por deduzir
que a combustão e a calcinação nada mais eram que o resultado da reação de combinação
desse gás com as outras substâncias. Através dos resultados dos experimentos realizados em
sistemas fechados, onde as massas de reagentes e produtos gasosos poderiam ser medidas
com precisão, concluiu que as variações de massa observadas quando as reações eram
realizadas em sistemas abertos, correspondia à massa da substância inicialmente empregada,
mais a massa do gás a ela incorporada ou perdida através da reação.

Através de seus trabalhos, pôde enunciar uma lei que ficou conhecida como Lei da
Conservação das Massas ou Lei de Lavoisier: “Numa reação química que ocorre em sistema
fechado, a massa total antes da reação é igual à massa total após a reação”.

Ou ainda, numa reação química a massa se conserva porque não ocorrem criação nem
destruição de átomos. Os átomos são conservados; eles apenas se rearranjam. Os agregados
atômicos dos reagentes são desfeitos e novos agregados atômicos são formados.

Filosoficamente falando: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.

Atualmente sabemos que a Lei de Lavoisier como inicialmente foi proposta só não se aplica em
seu enunciado original às Reações Nucleares, onde a energia envolvida é proveniente da
transformação significativa de matéria em energia. Uma reação nuclear geralmente envolve
transmutação nuclear, na qual, além da mudança nas naturezas dos núcleos dos átomos
participantes, a massa inicial dos núcleos reagentes é maior que a massa final de núcleos
produzidos no processo, ocorrendo o fenômeno conhecido como “perda de massa”. Esta

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massa perdida é transformada em energia, que pode ser calculada pela famosa equação de
Einstein, , onde é a energia liberada no processo, é a massa perdida no processo,
e é a velocidade da luz no vácuo, aproximadamente igual a . Como a energia
global é sempre mantida (obedecendo a Primeira Lei da Termodinâmica), nas reações
nucleares há conservação da (energia + massa) de reagentes e produtos, ao invés de somente
a massa prevista pela Lei de Lavoisier para as reações químicas. Isto se explica facilmente, pois
mesmo as reações químicas com os maiores desprendimentos de energia conhecidas, são
apenas fração insignificante das energias envolvidas numa reação nuclear!

Por exemplo, em um processo nuclear com perda de massa de e total transformação em


seu equivalente em energia. Aplicando a fórmula de Einstein: , só a título de
comparação, na formação de de água líquida através da reação entre hidrogênio e
oxigênio gasosos há o desprendimento de aproximadamente .

4.3 Equação geral do balanço


De uma forma geral, um sistema aberto pode ser representado pelo esquema a seguir:

O balanço, ou inventário, de qualquer grandeza em relação à fronteira definida é dado por:

* + * + * + * + * +

onde,

* + quantidade da grandeza acumulada no interior do sistema,

* + quantidade da grandeza que entra através da fronteira do sistema,

* + quantidade da grandeza que sai através da fronteira do sistema,

* + quantidade da grandeza gerada no interior do sistema,

* + quantidade da grandeza consumida no interior do sistema.

Uma forma alternativa de representar o balanço une em uma única parcela os termos ligados à
geração e ao consumo. A equação geral do balanço é então escrita na forma:

* + * + * + * +

onde agora o termo * + representa a quantidade da grandeza gerada no interior do sistema,


agora admitindo valor negativo quando houver consumo.

O conceito de balanço é aplicado no dia a dia, por exemplo, numa conta corrente ou conta de
poupança em um banco a grandeza envolvida é o dinheiro.

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Nos balanços de massa a grandeza envolvida está relacionada com a quantidade de matéria.
Os balanços de massa podem ser efetuados em termos globais ou por componente. Quando
baseados nos componentes eles podem ser representados em termos de substâncias
(moléculas) ou de átomos. Note que os termos que representam a geração ou o consumo de
massa no interior do sistema são, por definição, nulos quando se trabalha em termos globais.
Na ausência de reações nucleares, estes termos também são nulos em balanços atômicos.

Seja o processo representado a seguir, onde há uma corrente de entrada e uma de saída, e
três componentes:

Sendo a vazão total (global) da corrente de entrada e a da corrente de saída, as


respectivas composições são representadas pelas frações correspondentes, , onde o índice
varia de 1 a 3 identificando os componentes (por uma obrigação de compatibilidade, se as
vazões são informadas em termos mássicos as frações devem ser mássicas ou se as vazões
forem molares as frações também têm que ser molares).

Para este processo, pode-se escrever:

 Balanço de Massa Global: * + ̇ ̇ * +


 Balanço de Massa por Componente:
 Componente : * + ̇ ̇ * +
 Componente : * + ̇ ̇ * +
 Componente : * + ̇ ̇ * +

O termo que representa a geração na equação global * + é nulo quando se trabalha em


termos mássicos (massa não é gerada) e pode ser diferente de zero em termos molares
quando há reação química no interior do processo.

Convém ainda ressaltar que, nas equações dos balanços por componente, as vazões dos
componentes ( ̇ ) estão relacionadas com as vazões totais através das relações: ̇ ̇ .
Pode-se então escrever as equações dos balanços por componente, alternativamente, da
seguinte forma:

 Componente : * + ̇ ̇ * +
 Componente : * + ̇ ̇ * +
 Componente : * + ̇ ̇ * +

Além das equações que representam o balanço de massa, em função da definição das frações
que representam a composição de cada corrente, há duas restrições implícitas:

∑ ∑

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Cabe também ressaltar que o somatório das gerações e dos acúmulos computados em relação
a cada componente (* + e * +), é igual ao valor global correspondente:

* + ∑* + * + ∑* +

Em sistemas sem reações químicas os termos ligados à geração são identicamente nulos. Por
outro lado, em operações em regime estacionário os termos ligados aos acúmulos são nulos,
por definição. Assim, não havendo reação química e considerando operação em regime
estacionário, tem-se:

 Balanço de Massa Global: ̇ ̇


 Balanço de Massa por Componente:
 Componente : ̇ ̇
 Componente : ̇ ̇
 Componente : ̇ ̇
 Restrições de Composição:

∑ ∑

Note então que, nesse problema, com componentes e correntes, sem reação e em regime
estacionário, são obtidas equações: BM global, BM por componente e Restrições de
Composição. Gerando um modelo matemático do processo constituído por um sistema de
equações algébricas.

A solução deste modelo, que estabelece relações entre diversas variáveis, permite a
determinação de variáveis antes não especificadas. Desta forma é possível completar o
conhecimento do conjunto de parâmetros que descrevem a operação do processo e são
pertinentes para avaliações econômicas, análise de controle, cálculos de otimização, etc.

4.4 Análise do Grau de Liberdade em Sistemas de Equações


Neste ponto é interessante relembrar que para resolver um sistema de equações é necessário
efetuar uma análise da relação entre as quantidades disponíveis de variáveis ( ) e de
equações independentes ( ). Esta análise pode ser feita através do grau de liberdade do
sistema ( ), definido da seguinte forma:

De acordo com o valor do grau de liberdade, tem-se:

Solução única

Solução indeterminada

Solução impossível

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A seguir são apresentados alguns exemplos para uma melhor visualização do conceito de grau
de liberdade.

Exemplo 1:

Sistema de equações: {

Havendo um grau de liberdade, o sistema tem infinitas soluções localizadas sobre a reta,
definida pela equação independente do sistema.

Note que nesse caso, o problema terá solução única se uma das duas variáveis ( ou ) for
especificada. Assim, para , da equação , temos que . Observe que, ao
especificar o valor de um número de variáveis igual ao grau de liberdade do sistema, o
conjunto de equações passa a ter solução única.

Exemplo 2:

Sistema de equações: {

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O sistema não tem solução possível, ou seja, há a especificação de um número excessivo de


variáveis.

Exemplo 3:

Sistema de equações: {

Solução única para e .

Voltando ao exemplo do balanço de massa, note que a combinação das equações dos balanços
por componente com as restrições de composição das correntes leva à equação do balanço de
massa global. Desta forma, no conjunto de equações que forma o modelo matemático do
problema há uma equação dependente, ou seja, o número de equações independentes é igual
ao número de equações menos um. Assim, temos neste modelo equações independentes,
ou seja: .

Em relação ao número de variáveis envolvidas, tem-se:

( )

ou seja, devemos especificar, pelo menos, três variáveis para que o problema seja bem
formulado.

O estudo dos Balanços de Massa neste Curso será efetuado através da solução comentada de
exemplos ilustrativos. Os novos conceitos que aparecem nestes exemplos são apresentados de
forma destacada, antes da discussão do exemplo.

4.5 Procedimento para a Solução de Problemas Envolvendo Balanços de


Massa
Antes de partirmos para o nosso estudo de balanços de massa, apresentamos uma sequência
de etapas que devem ser cumpridas na solução de problemas. Na realidade, esta sequência
serve para orientar a resolução de problemas envolvendo balanços, principalmente para

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alunos iniciantes nesta arte. Cabe ressaltar que ela não representa uma receita que deva ser
seguida eternamente e de forma imutável, pois certamente, com o passar do tempo e
aumento do número de exercícios resolvidos, você acabará desenvolvendo a sua forma de
resolver estes problemas.

1. Definir o processo e consequentemente as fronteiras nas quais o balanço será efetuado


(recomendação leitura cuidadosa do problema):

Construção do fluxograma: diagrama do fluxo de massa;

Rotular vazões e composições, identificando assim as variáveis pertinentes;

2. Verificar valores conhecidos e desconhecidos:

colocar no fluxograma

definir a base de representação das vazões e composições (mássicas ou molares) e unificar


as unidades nas quais estão representadas as variáveis conhecidas;

3. Selecionar base de cálculo

geralmente, próprio dado do problema.

4. Fazer os balanços convenientes, escrevendo as equações correspondentes:

equações do modelo. Lembre que ao fazer cálculos o conjunto de equações deve conter
somente equações independentes

5. Solucionar o problema

4.5.1 Fluxogramas

A resolução de um problema complexo pode ser simplificada ao recorrer à sua representação


esquemática. Este procedimento é muito frequente em programação computacional onde,
antes de colocar o problema em linguagem informática, se recorre à utilização de um
fluxograma para obter uma visão mais global do problema e assim facilitar a sua resolução. O
primeiro passo na resolução de um problema envolvendo balanços de massa deve ser então
sua representação de uma forma mais sintética num fluxograma, que permite uma visão global
e simples do processo. Os três principais tipos de fluxogramas de um processo são:

 Fluxogramas de blocos (block flow diagrams – BFD): fornecem uma visão geral de um
processo, as operações unitárias ou processos unitários são representadas com blocos
conectados por linhas retas correspondentes às correntes de fluxo do processo.
 Fluxograma do processo (process flow diagram – PFD): é uma representação esquemática
que mostra as relações entre as fases e as necessidades básicas de cada etapa do
processo. O fluxograma de processo (PFD) deve mostrar: as operações unitárias básicas, os
equipamentos principais, o fluxo principal do projeto e os dados do projeto. Contém toda
informação necessária para os balanços material e energético completos no processo.

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 Fluxogramas de tubulação e instrumentação (pipping and instrumentation diagram –


P&ID): desenhos esquemáticos que mostram o arranjo funcional de todos os sistemas e
equipamentos de processo e utilidades: equipamentos, instrumentos, tubulações,
válvulas. São elaborados principalmente pelas equipes de tubulação e mecânica com
supervisão da equipe de processos e complementados pela instrumentação e automação.

Exemplo

Num processo de produção de pasta de papel, obtém-se, após uma série de operações, uma
pasta com 82% de humidade. Esta pasta “tal qual” é submetida à expressão (em prensas
hidráulicas), de onde sai com uma humidade de 55%. Posteriormente é efetuada uma secagem
que remove 78% da água ainda presente.

O fluxograma correspondente é:

4.5.2 Base de cálculo

De acordo com Himmelblau, antes de se iniciar a resolução de um problema devem ser


colocadas três questões:

1) Quais os dados disponíveis?


2) Qual a resposta pretendida?
3) Qual a Base de Cálculo mais conveniente?

As respostas às duas primeiras perguntas são obtidas através de uma leitura atenta do
enunciado.

Em relação à terceira questão, uma Base de Cálculo (BC) é uma quantidade de matéria (num
determinado ponto do processo) ou um período de tempo, em relação aos quais se irão referir
todos os cálculos a efetuar. A escolha adequada de uma BC simplifica, normalmente, a
resolução do problema. Como o resultado de todos os cálculos vão estar referidos à BC
escolhida, é fundamental que a sua indicação esteja bem explícita no início da resolução do
problema.

Frequentemente, uma boa BC é ditada pela composição de uma corrente. Assim, se a


composição for dada em % mássica, a escolha de do total da corrente evita o cálculo
preliminar da determinação da massa de cada um dos constituintes dessa corrente.
Analogamente, se a composição da corrente for molar, deverá escolher-se moles. Por
norma, sempre que nos referimos a uma corrente sólida a composição indicada é mássica,
sendo molar para uma corrente gasosa.

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Exemplo ilustrativo 1

1000 / de uma mistura de benzeno e tolueno, que contém 50% de benzeno em massa, são
separados por destilação em frações. A vazão mássica na corrente de topo contém 450 /
de benzeno e na corrente de fundo há 475 / de tolueno. Calcule as vazões dos
componentes, as vazões totais de cada corrente e as frações mássicas e molares dos
componentes nas correntes.

Solução:

Restrição de composição na corrente

Base de Cálculo: ⁄ na alimentação

Equações:

Balanço de Massa Global:

̇ ̇ ̇ ⁄ ̇ ̇

Balanço de Massa Benzeno:

̇ ̇ ̇ ⁄ ⁄ ̇

Balanço de Massa Tolueno:

̇ ̇ ̇ ⁄ ̇ ⁄

Restrições:

Solução:

⁄ ̇ ̇

⁄ ̇

⁄ ̇

̇ ̇ ̇ ̇ ⁄ ⁄ ⁄

̇ ̇ ̇ ̇ ⁄ ⁄ ⁄

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Verificação, utilizando o Balanço de Massa Global:

⁄ ̇ ̇ ⁄ ⁄ ⁄

Note que esse problema envolve poucas equações, sendo então possível resolvê-lo
sequencialmente.

Conhecidas as vazões totais e as vazões por componente em cada corrente é possível, a partir
da definição de fração, a determinação das frações mássicas de cada componente ( ) em cada
corrente. Lembrando então que:

Frações de Benzeno:

̇ ⁄
̇ ⁄

̇ ⁄
̇ ⁄

Definidas todas as informações na base mássica, pode-se fazer a mudança de base para a
molar facilmente, desde que se defina uma quantidade de referência para os cálculos. Lembre-
se que a composição de uma mistura não é função da quantidade total da mistura. Assim, essa
quantidade de referência pode ser qualquer uma, podendo ser então escolhida de modo a
facilitar as contas.

Nas tabelas a seguir são mostradas as passagens da base mássica para a molar em todas as
correntes. O valor de referência para os cálculos foi arbitrado igual à vazão total de cada
corrente.

4.5.3 Componente Chave ou de Amarração

Componente que aparece em um menor número de correntes. Em função desta característica,


a equação do balanço de massa deste componente possui menos termos do que as equações

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para os demais componentes. Este fato implica, em muitas vezes, no aparecimento de


somente uma incógnita do problema na equação relativa ao componente chave, permitindo
assim a sua imediata determinação.

Exemplo ilustrativo 2

O processo de dessalinização de água salgada pode ser conduzido de diversas formas e pode
ser utilizado com dois objetivos: produção de sal ( ) e produção de água dessalinizada
para posterior utilização pela comunidade.

A produção de sal ( ) a partir da água do mar envolve a concentração da água salgada até
a sua saturação, quando inicia a precipitação do sal, que é então separado. Em função das
características climáticas no Brasil, aqui este processo é conduzido utilizando energia solar
como fonte de energia para o processo de evaporação da água do mar. O local onde ele é
conduzido é chamado de salina, sendo praticamente uma atividade artesanal.

A produção de água dessalinizada a partir da água do mar é comum nos países do Oriente
Médio, onde os recursos hídricos são escassos e há grande disponibilidade de combustíveis
fósseis. Com este objetivo, a água do mar é evaporada formando duas correntes: uma de água
salgada (salmora), com uma concentração de sal acima da água do mar alimentada, que é
retornada ao mar; e outra de vapor livre do sal, que é posteriormente condensado formando a
corrente de água dessalinizada.

Um esquema simplificado desse processo é mostrado na figura a seguir:

Considere que a fração mássica de sal ( ) na água do mar seja igual a . Determine a
quantidade de água do mar necessária para produzir ⁄ de água dessalinizada. Em
função de problemas relacionados à corrosão dos equipamentos envolvidos no processo, a
fração mássica na salmoura descartada está limitada a .

Esquema, com as informações fornecidas:

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Balanço de Informações:

 Número de incógnitas:
 Equações independentes: balanços de massa por componente;
 Grau de liberdade na formulação:

Solução:

Balanço de massa (sal): ̇ ̇ ̇ ̇ ̇ ̇

Balanço global: ̇ ̇ ̇ ̇ ⁄ ̇ ̇ ⁄

̇ ⁄

Observações:

i) A equação restante do balanço de massa, não utilizada em função da dependência


linear, pode ser empregada para verificar os resultados obtidos:

̇ ̇ ̇

⁄ ⁄ ⁄

⁄ ⁄

ii) Apesar da simplicidade destes resultados, eles representam o ponto de partida para o
dimensionamento dos equipamentos do processo (evaporadores, condensadores,
bombas, etc.) e das tubulações, e permitem ainda uma avaliação preliminar dos custos
envolvidos no empreendimento.
iii) Apesar de não ter sido especificado, o resultado está baseado na produção de
⁄ de água dessalinizada. Este dado é chamado de base de cálculo no
procedimento de solução.

Exemplo ilustrativo 3

Um experimento sobre a taxa de crescimento de certos micro-organismos requer que se


estabeleça um ambiente de ar úmido enriquecido em oxigênio. Três correntes são alimentadas
em um evaporador para produzir a corrente com a composição desejada.

As três correntes de entrada são:

i) Água líquida, alimentada na vazão de ⁄ ;


ii) Ar ( de e de , em base molar);
iii) Oxigênio puro, com vazão molar igual a ( ) da vazão do ar.

A corrente de saída, no estado gasoso, apresenta de , em base molar. Calcule as


vazões de ar, de oxigênio puro e de produto, bem como a composição do produto.

Dados complementares: densidade da água líquida ( ⁄ ); massa molar da água


( ⁄ ).

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Esquema, com as informações fornecidas:

Como as unidades dos dados fornecidos não são compatíveis, nesta etapa de sua organização
é importante providenciar a sua homogeneização. Isto feito, não há necessidade de
preocupação com unidades ao longo dos cálculos e já se sabe qual a unidade dos resultados
obtidos. Concentrações: Frações molares; Vazões: Vazões molares, em mol/min. Assim, falta
representar a vazão da corrente de água líquida em :

[ ] 0 1
̇
0 1

Balanço de Informações:

 Número de incógnitas:
 Equações do balanço de massa por componente;
 Equação do balanço de massa global;
 Restrições: (corrente de produto) e (vazão de oxigênio puro é da vazão de ar);
 Equações: ;
 Dependência linear entre as equações de balanço dos componentes e a global;
 Equações independentes:

Grau de liberdade na formulação:

Solução:

Este problema envolve balanços de massa em regime estacionário, sem a presença de reação
química, desta forma:

Balanço global: ̇ ̇ ̇ ̇ ( )
Balanços por componentes:
: ̇ ̇ ( )
: ̇ ̇ ( )
Restrição: ( )
Restrição adicional: ̇ ̇ ( )

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A equação representativa do balanço de massa do componente fica para ser utilizada para
verificar o resultado.

Resolvendo o sistema formado pelas equações ( ) a ( ):


̇
[ ]

Observação: Na solução foram utilizadas as equações representativas dos balanços dos


componentes e , pois eles aparecem em um menor número de correntes.

4.5.4 Escalonamento de um Processo

Quando as informações sobre o balanço de massa são coerentes, diz-se que elas estão
balanceadas ou que o processo encontra-se balanceado.

Suponha que 1 kg de benzeno se misture com 1 kg de tolueno, formando uma corrente com 2
kg de mistura com 50% de benzeno e 50% de tolueno, em base mássica, conforme mostrado
na figura:

Note que a massa de todas as correntes pode ser multiplicada por um mesmo fator e o
processo continua balanceado. O mesmo não é verdade para a composição, que se mantém
constante. Como a mudança das unidades que representam a quantidade em cada corrente é
feita por um fator de correção constante, a troca nominal de todas as unidades
representativas das quantidades ou vazões de cada corrente também mantém o processo
balanceado. Este procedimento de multiplicar todas as correntes de massa por um fator,
mantendo a composição constante, é chamado de escalonamento (ou extrapolação) e o fator
utilizado é chamado de fator de escala. Em base molar este procedimento somente pode ser
aplicado na ausência de reação química.

Observação Importante: Agindo desta forma pode parecer que o escalonamento de processos
na prática é muito simples. Não é realidade! Esta situação de somente utilizar um fator de
escala no escalonamento considera condições ideais, nas quais todas as condições
geométricas, cinemáticas e dinâmicas são fielmente reproduzidas nas diferentes escalas. Na
prática, esta reprodução de condições nas diversas escalas é praticamente impossível, e a
extrapolação de escala é um dos grandes desafios a serem enfrentados.

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Exemplo ilustrativo 4

Uma mistura dos compostos e , e em base molar, respectivamente, é separada


em duas frações. Em uma operação em batelada, os resultados obtidos são os seguintes:

Deseja-se obter a mesma separação em uma operação contínua, com uma alimentação da
solução de e original a uma vazão de . Esboce o fluxograma do processo
contínuo.

Solução:

As informações solicitadas podem ser obtidas diretamente a partir dos dados da operação em
batelada através da utilização do seguinte fator de escala ( ):

0 1
[ ]
, -

Assim, obtém-se:

Note que no processo de escalonamento as composições não se alteram.

4.6 Atividades
 Examinar os exemplos:
o Himmelblau & Riggs (3.1 até 3.9)
o Felder & Rousseau (4.2.1, 4.2.2, 4.2.3, 4.3.1, 4.3.2, 4.3.3, 4.3.4).
 Exercícios:
o Himmelblau & Riggs (3.1.8, 3.2.2, 3.2.12)
o Felder & Rousseau (4.10, 4.16).

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5 Balanços de massa sem reação química


Lembrando a equação geral do balanço de massa: * + * + * + * +

Neste capítulo, serão trabalhos problemas sem a presença de reação química * + . Em


relação ao acúmulo, os termos correspondentes são normalmente representados por
expressões diferenciais, o que gera equações diferenciais para representar os balanços. Como
ainda o conhecimento de cálculo não é suficiente para resolver este tipo de equação, nos
restringiremos a problemas em regime estacionário, nos quais, o acúmulo é nulo * + .
Então num sistema aberto em regime estacionário sem reação química o balanço de massa é:

* + * +

Nos processos químicos há um grande número de equipamentos que operam com base em
diversos conceitos físicos e físico-químicos. A seguir são apresentados alguns equipamentos
mais comuns, nos quais o balanço de massa fornece informações importantes.

5.1 Pontos especiais em processos

5.1.1 Divisor de Corrente

Não é propriamente um equipamento. Representa um ponto na tubulação onde há divisão da


vazão de uma corrente (à montante do divisor) em duas ou mais correntes (à jusante do
divisor). Como não ocorre nenhum processo físico ou químico neste ponto, a composição das
novas correntes é igual a da corrente à montante do divisor.

No caso de haver divisão em duas correntes, a distribuição da vazão entre as correntes à


jusante do divisor é descrita por um fator , que pode ser definido na forma:
̇
̇

O valor de é definido pelo controle operacional da planta, ou seja, um agente externo


especifica o seu valor. A relação desse valor com os parâmetros operacionais serão estudos em
Mecânica dos Fluidos.

5.1.2 Ponto de Mistura

Ponto onde há a simples união (mistura) de duas ou mais correntes. Como não ocorre nenhum
processo físico ou químico neste ponto, a vazão e a composição da corrente à jusante do
ponto de mistura são determinadas pelo balanço de massa no ponto de mistura. Na Figura é
apresentado um esquema de um ponto de mistura com duas correntes à montante.

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O balanço de massa global no ponto de mistura é:

̇ ̇ ̇

O balanço de massa para o componente i:

̇ ̇ ̇

5.2 Misturadores
São equipamentos onde duas ou mais correntes são misturadas. A mistura pode ser dos
seguintes tipos:

 Sólido–sólido.
 Líquido–líquido.
 Gás–gás.
 Sólido–líquido.

A mistura líquido–líquido é uma operação simples gerando um sistema homogéneo. A mistura


gás–gás é raramente difícil, enquanto que a mistura sólido–sólido e sólido–líquido é bastante
difícil, porque envolve a aplicação de força de cisalhamento.

O dispositivo de mistura consiste de um recipiente e um impulsor. Estes dispositivos podem


ser dispostos para realizar tanto processo em lotes como processo contínuo. Na Figura é
mostrado um tanque de mistura típico:

A mistura de fluido é feita pelo impulsor, o qual está montado com a ajuda de um eixo. O eixo
é acionado por um motor. O tanque de mistura é um recipiente de aço inoxidável cilíndrica. A
parte superior do reservatório é fechada com uma placa plana, enquanto que a parte inferior é

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de forma redonda para eliminar os cantos agudos. A capacidade do reservatório depende da


natureza da agitação envolvida com a mistura. Um diagrama simples de mistura e as equações
associadas são:

̇ ̇ ̇ ̇
̇ ̇ ̇ ̇

5.3 Separadores
A separação de misturas é fundamental nos processos químicos, entre as operações unitárias
de separação temos:

 Flash
 Destilação
 Cristalização
 Evaporação

Na Figura são mostradas as variáveis e equações relevantes para o balanço de massa em um


separador.

̇ ̇ ̇

̇ ̇ ̇

5.3.1 Processo Flash

Um tambor é mantido em condições de temperatura e/ou de pressão diferentes da


temperatura e/ou da pressão da corrente nele alimentada. Esta diferença de condições
operacionais é imposta com o objetivo de vaporizar parcialmente a corrente de entrada, que
normalmente encontra-se no estado líquido, separando-a em duas correntes: uma vapor e
outra líquida. A causa principal desta vaporização parcial neste equipamento é uma
despressurização, ou seja, a pressão na corrente que entre no tambor é maior do que a
pressão no seu interior. Assim, o fluido ao entrar no Tambor de Flash passa por uma
"expansão".

Nesta vaporização parcial, os componentes não vaporizam nas mesmas proporções em que
estão presentes no líquido. Os componentes mais voláteis têm uma maior tendência para

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vaporizar, causando em situações onde o processo de mudança de fase não é completo uma
maior concentração dos componentes mais voláteis na fase vapor e dos menos voláteis na fase
líquida. Este fato pode ser observado na Figura, onde é mostrado um processo envolvendo
uma corrente ( ), no estado líquido, formada de iguais quantidades molares de etano e
butano.

Os resultados na Figura deixam claro que se o Flash for utilizado com objetivo de separação,
ele somente é efetivo se a vaporização for parcial, situação na qual as concentrações das
correntes de saída são diferentes da concentração da corrente original.

Após a expansão, no interior do tambor de flash há um processo físico de equilíbrio entre as


fases vapor e líquida, formadas e mantidas em contato no seu interior. Sabe-se da prática, que
sempre que duas fases distintas são colocadas em contato elas tendem a entrar em equilíbrio.
Esta condição de equilíbrio dita algumas relações entre as variáveis que descrevem os estados
das fases presentes, mais tarde, no curso de Termodinâmica, você irá estudar este fenômeno
com mais detalhes. No momento, o que nos interessa é saber que as composições das fases
que deixam o tambor de flash devem obedecer a uma relação de equilíbrio, que pode ser
representada da forma mais simples pela expressão:

onde é a fração molar do componente na fase vapor, que forma a corrente ; é a fração
molar do componente na fase líquida, que forma a corrente ; e é uma constante de
equilíbrio, com valores distintos para cada componente .

Mais tarde, nos seus estudos de Termodinâmica, você verá como os valores de podem ser
previstos a partir das variáveis que definem o sistema (pressão, temperatura e composições).
Formas mais gerais para representar esta relação de equilíbrio serão estudas naquela ocasião,
bem como serão mostrados critérios que permitirão uma previsão da "capacidade" do Tambor
de Flash realizar uma certa separação desejada. Com estes conhecimentos mais avançados,
você ainda será capaz de prever quais deverão ser a temperatura e a pressão no interior do
tambor para uma determinada separação especificada. Na Figura são mostradas as variáveis
relevantes para o balanço de massa em um Tambor de Flash.

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Se considerarmos as constantes de equilíbrio conhecidas e um processo envolvendo


componentes, um balanço de informações indica que:
Número de incógnitas:
Equações: Equações do balanço de massa por componente;
Equação do balanço de massa global;
Restrições em relações às composições;
Relações de equilíbrio;
Em função da dependência linear entre as equações
de balanço dos componentes e a global;
Equações independentes:
Graus de Liberdade: ( ) ( )

Alguns problemas na Engenharia Química recebem nomes especiais não só pela frequência em
que elas aparecem mais também pela sua importância no projeto e análise de equipamentos e
de processos químicos. Um exemplo é o chamado problema de simulação. No nível de
equipamento, um problema é dito de simulação quando são fornecidas todas as variáveis que
especificam o estado das correntes de entrada e as que especificam as condições operacionais
no interior do equipamento, e devem-se calcular as variáveis que definem o estado das
correntes de saída.

5.3.2 Colunas de Destilação

Como observado anteriormente, a separação completa de uma mistura é muito difícil em um


único tambor de flash. Uma possibilidade então é colocar um conjunto de tambores em série.
Assim, são obtidas melhores separações.

Esta ideia de vários flashes em série é utilizada nas colunas de destilação. Estas colunas são
equipamentos nos quais podemos considerar a presença de diversas regiões, independentes e
ligadas em série, de contato líquido-vapor, que funcionam como vários flashes.

Em sua operação, é alimentada uma corrente de uma mistura líquida em sua lateral e em seu
interior há uma corrente gasosa, rica nos elementos mais voláteis, escoando na direção
ascendente, e uma corrente líquida, rica nos componente menos voláteis, escoando na direção

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descendente. Em sua parte superior (topo da coluna) é retirada esta corrente gasosa e
resfriada em um condensador (equipamento onde há condensação de vapores). Parte do
condensado formado sai como produto de topo e a parte complementar é retornado à coluna
para dar início à corrente líquida que escoa no sentido descendente. Na base da coluna ocorre
o inverso, ou seja, parte do líquido que chega é retirado como produto de fundo e a outra
parte passa através de um equipamento que fornece calor (este equipamento tem o nome
especial de refervedor), vaporizando este líquido, que é então realimentado na coluna, dando
origem a corrente de vapor ascendente.

Desta forma, tendo como objetivo somente o balanço de massa, uma coluna de destilação é
muito parecida com o tambor de flash: há uma corrente de alimentação e duas de saída: (i)
uma no topo, rica nos componentes não voláteis e (ii) uma no fundo, rica nos componentes
não voláteis. Como esta distribuição de componentes nas correntes ocorre, não é mais função
de uma única relação de equilíbrio. Você, ao longo do curso de Operações Unitárias vai
aprender como utilizar as relações de equilíbrio no projeto das colunas de destilação. Neste
primeiro curso, ao lidarmos com colunas de destilação, nos restringiremos à utilização de
equações diretamente ligadas aos balanços de massa.

Na figura é mostrado um esquema básico de uma coluna de destilação e as principais


correntes envolvidas.

Exemplo

Encontra-se disponível em uma planta de processo uma vazão de ⁄ de uma


mistura com a seguinte composição:

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Esta mistura deve ser separada em duas frações por destilação.

O destilado (corrente de topo) deve conter todo o propano alimentado e do i-pentano,


enquanto a fração molar de i-butano deve ser igual a nesta corrente.

A corrente de fundo deve conter todo o n-pentano alimentado. Com base nas informações
fornecidas, calcule o resto das variáveis do processo.

Esquema, com as informações fornecidas:

Balanço de Informações:
Número de incógnitas:
Equações: Equações do balanço de massa por componente;
Equação do balanço de massa global;
Restrições em relações às composições;
Adicionais;
Em função da dependência linear entre as equações
de balanço dos componentes e a global;
Equações independentes:
Graus de Liberdade:

Solução:

Balanço global: ̇ ̇ ̇ ̇ ̇ ( )

Balanços por componentes:

Propano: ̇ ̇ ̇ ̇ ( )

i−Butano: ̇ ̇ ̇ ̇ ̇ ( )

n−Pentano: ̇ ̇ ̇ ̇ ( )

Restrições: ( )

( )

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Restrição adicional:

̇ ̇ ̇ ̇ ( )

Resolvendo o sistema formado pelas equações ( ) a ( ):

Destilado Fundos
̇ ⁄ ̇ ⁄
Propano:

i−Butano:

n−Pentano:

Restrições:

Observação:

O sistema da forma que está escrito é não linear. Esta característica contribui para tornar mais
complicada a sua solução. Sempre que possível, deve-se procurar formular o modelo
utilizando-se equações lineares, pois há métodos sistemáticos e simples para a solução de seus
sistemas.

5.4 Extratores
O extrator é um equipamento onde uma corrente, normalmente pura, chamada de solvente, é
colocada em contato com uma mistura com objetivo de retirar, preferencialmente, um dos
componentes desta mistura. São então formadas duas correntes: uma formada por uma
solução envolvendo o solvente e as substâncias extraídas, chamada de extrato, e outra
composta do material restante da mistura original, chamada de rafinado.

Na Figura são mostradas as variáveis e equações relevantes para o balanço de massa em um


extrator. Esquemas e equações similares são obtidos para a absorção e a secagem.

̇ ̇ ̇

̇ ̇ ̇ ̇

Um exemplo clássico de extração ocorre na preparação do café. A mistura original é


representada pelo pó de café e a água quente desempenha o papel de solvente. Está água
quente entra em contato com o pó do café, retirando preferencialmente substâncias que
conferem o sabor e aroma ao líquido obtido, que é o extrato. O pó restante, agora sem as
substâncias de interesse, representa o rafinado.

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5.5 Balanços Envolvendo Múltiplas Unidades


Na prática os processos têm várias unidades e é importante em uma primeira análise obter a
vazão e principais parâmetros das correntes que unem estes equipamentos. Assim, uma
análise preliminar do tamanho dos equipamentos e, consequentemente, de seu desempenho
e custo pode ser efetuada. Esse tipo de análise é importante em uma primeira estimativa da
viabilidade econômica do processo.

Foi visto que balanços são efetuados em volumes de controle, que são arbitrariamente
definidos em função da conveniência dos cálculos a serem efetuados. Então, em um problema
envolvendo vários equipamentos, a diferença para os problemas com um único equipamento é
a possibilidade de definição de diversos volumes de controle e assim de diversos conjuntos de
equações.
Seja o exemplo da Figura, onde há um ponto de mistura, um divisor de correntes e dois
equipamentos. As correntes são entradas no processo; e as correntes
são correntes de saída. Um volume de controle envolvendo todo o processo é atravessado por
estas seis correntes que representam a ligação do processo com o exterior. As correntes
são correntes internas, para obter informação sobre elas, devemos ter volumes de
controle atravessados por elas de tal forma que elas aparecem nas equações dos balanços.

Ao se definir os volumes de controle, deve-se ter em mente que os cálculos serão mais simples
quando os volumes de controle forem escolhidos de tal forma que as respectivas superfícies
de controle sejam atravessadas pelo menor número possível de incógnitas.

Exemplo

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Um processo contém duas colunas de destilação, ligadas conforme o fluxograma apresentado.


Há dois componentes no processo e as composições conhecidas (frações mássicas) das
correntes são mostradas no fluxograma. Com base nos dados fornecidos, calcule as vazões e
composições das correntes , completando assim os dados das correntes do processo.

Solução:

Devem-se definir os volumes de controle. De acordo com o problema, os volumes de controle


podem ser definidos sequencialmente, permitindo a determinação das incógnitas passa a
passo, ou simultaneamente, o que gera um grande sistema de equações para ser resolvido. A
forma sequencial é preferível, pois permite um melhor acompanhamento do procedimento de
cálculo.

Partiremos para resolver este problema de forma sequencial. Note que todas as vazões
fornecidas estão nas mesmas unidades e que as frações são todas compatíveis com as vazões,
ou seja, vazões mássicas acompanhadas de frações mássicas. Assim, não há necessidade de
conversões para compatibilizar estas informações.

Volume de Controle 1: ( )

Volume envolvendo o processo como um todo. Permite o cálculo das variáveis da corrente

Balanço de Informações
Número de incógnitas:
Equações: Equações do balanço de massa por componente;
Equação do balanço de massa global;
Restrição em relação à composição;
Em função da dependência linear entre as equações
de balanço dos componentes e a global;
Equações independentes:
Graus de Liberdade:

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Solução:
̇ ⁄
Balanço global: ̇

Balanço componente 1: ̇

Restrições:

Volume de Controle 2: ( )

Volume envolvendo a primeira coluna. Permite o cálculo das variáveis da corrente

Solução:
̇ ⁄
Balanço global: ̇

Balanço componente 1: ̇

Restrições:

Volume de Controle 3: ( )

Volume envolvendo o misturador. Permite o cálculo das variáveis da corrente desde que as
variáveis da corrente já tenham sido determinadas.

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Solução:
̇ ⁄
Balanço global: ̇

Balanço componente 1: ̇

Restrições:

Observações:

i) Note que no lugar de utilizar o para determinar os parâmetros da corrente , um


volume de controle envolvendo a primeira coluna e o misturador poderia ter sido utilizado.
Nesse caso os dados relativos a seriam calculados a partir somente dos dados fornecidos no
problema. Resultados destes outros volumes de controle podem ser utilizados na verificação
dos valores já obtidos.

ii) Conforme pode ser observado é grande o número de volumes de controles possíveis. Assim,
deve-se ter cuidado quando se escolhe o procedimento simultâneo para não se escrever um
número de equações maior do que o necessário.

5.6 Correntes Especiais em um Processo


Existem algumas correntes de processo que têm um objetivo específico e aparecem em uma
grande quantidade de fluxogramas. Estas correntes são apresentadas a seguir, bem como uma
discussão inicial de suas finalidades.

5.6.1 By-pass

O fluido que passa por uma corrente de by-pass não atravessa o(s) equipamento(s)
posicionado(s) na direção principal do processo entre o início do by-pass e o seu retorno para a
corrente principal (vide figura abaixo). As correntes de by-pass, são originadas em um divisor
de correntes e terminam em um misturador.

A corrente de by-pass tem a sua utilização ligada principalmente ao controle operacional da


planta, ou especificamente, de equipamentos. Assim, é comum ocorrer o by-pass de um
equipamento, com a vazão que passa por esta corrente sendo manipulada para manter as
condições de saída desejadas.

5.6.2 Reciclo

A corrente de reciclo é uma corrente que retorna parte ou a totalidade da massa de um ponto
avançado do processo para outro em uma posição pela qual esta massa já tenha passado. Uma
representação esquemática de uma corrente de reciclo é apresentada na figura abaixo. Note

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que a corrente de reciclo nasce em um ponto de divisão que não necessariamente é um divisor
de corrente. Muitas vezes a sua origem é em um equipamento de separação, o que trás como
consequência que a sua composição é diferente da composição das outras correntes que saem
de tal equipamento.

As correntes de reciclo servem para a recuperação de reagente não consumido na etapa de


reação, para a recuperação de catalisador que seja arrastado para fora do reator, assim como
podem auxiliar no controle de processos através da diluição da corrente que é alimentado no
reator, situação importante em reações altamente exotérmicas. Nesses casos, o reciclo é
parcial. Há ainda sistemas onde um fluido opera em circuito fechado, por exemplo, em ciclos
de refrigeração e o circuito de água de resfriamento em plantas de processo. Nesses sistemas
a totalidade da corrente é recirculada.

5.6.3 Purga

A corrente de purga é uma corrente que é retirada de outra e é descartada. Seu objetivo é
promover o descarte de substâncias que, sem a purga, iriam se acumular, principalmente em
circuitos de reciclo.

Imagine que haja a formação de um produto secundário na reação e que o processo de


separação não seja capaz de separá-lo da matéria prima não reagida que é reciclada. Desde
modo, a corrente de reciclo conterá toda a quantidade deste produto secundário. Assim, a
corrente de purga retirada do reciclo é o único ponto de descarte deste produto secundário.
Caso isto não fosse feito, haveria um acúmulo deste produto secundário, pois ele é
continuamente formado na reação.

5.6.4 Make-up

A corrente de make-up é a corrente que repõe perdas em um circuito fechado. Seja, por
exemplo, o circuito de água de resfriamento em uma planta de processos. Este circuito
disponibiliza água, a temperatura ambiente, para retirar energia de qualquer ponto do
processo. Ele é formado, principalmente, por uma bomba, que joga a água fria para o
processo, e por uma coluna de resfriamento, que recebe a água aquecida que sai do processo

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e torna a resfriá-la até a temperatura ambiente, disponibilizando-a para ser novamente


bombeada, fechando assim o circuito. Neste circuito, vazamentos e evaporação na torre de
resfriamento são as principais causas da diminuição da água que circula. Para manter a
quantidade constante, há a necessidade de repor esta água perdida, o que é feito através de
uma corrente de make-up.

Outros processos que operação com circuitos fechados são processos de extração por
solvente. Neste caso o solvente está presente para servir de agente extrator, não podendo sair
junto com o produto. Assim, após fazer a extração (retirar de uma matriz a substância
desejada) o solvente é separado da substância de interesse e reciclado. As perdas de solvente
são repostas através de uma corrente de make-up.

Problemas envolvendo estas correntes são resolvidos de forma análoga aos problemas com
múltiplas unidades apresentados no item anterior. Especial atenção deve ser dada às correntes
de reciclo, pois elas retornam informações de mudanças efetuadas ao longo do processo para
o seu ponto inicial.

5.7 Atividades
 Examinar os exemplos:
o Himmelblau & Riggs (4.1 até 4.7)
o Sikdar (3.1 até 3.29)
o Felder & Rousseau (4.4.1, 4.4.2, 4.5.1, 4.5.2).
 Exercícios:
o Himmelblau & Riggs (4.1.4, 4.1.10, 4.1.25)
o Felder & Rousseau (4.28, 4.34).

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6 Balanços Materiais envolvendo reações químicas


Antes de tratar os balanços de massa em sistemas envolvendo a presença de reações químicas
são recordados alguns conceitos importantes quando há a presença de reações.

6.1 Reação Química:


Transformação de uma ou mais substâncias, denominadas reagentes, em outras substâncias,
denominadas produtos.

A equação química é uma representação simbólica da reação química. Também chamada de


equação estequiométrica, ela relaciona as substâncias envolvidas na reação química e indica a
proporção entre os reagentes e os produtos. Tomando como exemplo:

verifica-se que é possível extrair informações qualitativas; as substâncias que se combinam,


chamadas de reagentes ( e ), e as que são obtidas, chamadas de produtos ( ); e
quantitativas (em que proporções elas se combinam e são obtidas) desta expressão. Assim,
tem-se:

que, multiplicada pelo número de Avogadro ( ), fornece

Uma equação estequiométrica válida deve estar balanceada, isto é, o número de átomos de
cada espécie atômica deve ser o mesmo nos dois lados da equação, pois não há geração nem
destruição de átomos em uma reação química.

Os coeficientes estequiométricos indicam o número de moles de cada espécie química


envolvida na reação química, que a torna balanceada. São escritos no lado esquerdo de cada
símbolo correspondente às espécies químicas presentes. Na equação em análise os
coeficientes estequiométricos são:

Note que a relação indicada nas equações estequiométricas é em base molar. Então, não
necessariamente o número total de moles dos reagentes é igual ao dos produtos, como ocorre
em relação à massa total. É possível haver um aumento ou uma diminuição do número de
moles totais em uma reação química. Isto pode ser visto na reação em análise:

que, em base molar representa:

Reagentes: 3 moles no total;

Produto: 2 moles no total.

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Sendo as massas moleculares das substâncias envolvidas na reação:

( ) ⁄

( ) ⁄

( ) ⁄

tem-se, em base mássica:

Reagentes: ( ) no total;

Produto: ( ) no total.

igualdade imposta pelo princípio da conservação da massa.

A razão estequiométrica entre duas substâncias que participam de uma reação química é a
razão entre os seus respectivos coeficientes estequiométricos, estando a equação balanceada.

A razão estequiométrica pode ser utilizada como um fator de conversão que permite calcular a
quantidade de um reagente (ou produto) que é consumido (ou produzido), quando é fornecida
uma quantidade de outro composto que participa da reação.

Voltando a nossa equação exemplo:

tem-se como razões estequiométricas:

Exemplo:

Qual a quantidade de necessária para produzir ⁄ de ?

( ) ( )

Note que como as equações estequiométricas são escritas em base molar, cálculos envolvendo
reações químicas são mais diretos nesta base. Assim, no exemplo anterior, antes de fazer o
cálculo do consumo de oxigênio, a informação fornecida foi passada para a base molar através
da utilização da massa molar do . Obtido o resultado, em base molar, novamente a massa
molar do é utilizada para se conhecer a resposta em termos mássicos.

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6.2 Alguns Conceitos Utilizados na Cinética Química

6.2.1 Reagente Limite e Reagente em Excesso:

É comum situações nas quais as reações químicas são conduzidas com a introdução de
reagentes em quantidades diferentes daquelas indicadas pela estequiometria da reação.
Assim, aparecem os conceitos de reagente limite e reagente em excesso. Reagente limite é
aquele que se encontra no meio reacional em menor quantidade, em termos
estequiométricos. Todos os outros reagentes são chamados de reagentes em excesso. Note
que em função da própria definição, se a reação for conduzida até o final, o reagente limite é o
que desaparece primeiro.

Podemos identificar facilmente o reagente limite em um meio reacional calculando uma razão,
para cada reagente, entre o número de moles efetivamente adicionados e o número de moles
estequiometricamente necessários. Esta razão apresentará o menor valor para o reagente
limite.

Imagine que a reação que estamos utilizando como exemplo,

seja conduzida com a adição de 150 mol de e de . Nesta condição, qual o


reagente limite?

Calculando as razões definidas para cada um dos reagentes:

Verificamos então que o é o reagente limite nestas condições, apesar de haver a adição de
um número de moles superior desta substância. Isto ocorre pois a reação necessita de um
número de moles maior desta substância.

6.2.2 Percentual em Excesso de um Reagente:

A quantidade em excesso de um reagente pode ser representada pelo seu percentual em


excesso. Ele é definido como o percentual representativo do excesso em que é adicionado
determinado reagente em relação à quantidade necessária, deste mesmo reagente, para
reagir com a quantidade utilizada do reagente limite. Ou seja:

onde é o número de moles alimentados do reagente em excesso e é o número de moles


do reagente em excesso para reagirem com o número de moles presentes do reagente limite.

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6.2.3 Grau de Conversão de um Reagente:

O grau de conversão (ou simplesmente conversão) de um reagente indica uma relação


quantitativa entre o número de moles alimentados no meio reacional e o número de moles de
efetivamente reagem, de uma determinada substância. A conversão pode ser apresentada em
termos percentuais,

( )

Note que, em um processo operando em regime estacionário, a quantidade de moles da


espécie química que reagem é igual a diferença entre a quantidade de moles de que entra
( ) e a quantidade de moles de que sai ( ). Desta forma, em regime estacionário:

( )

6.2.4 Grau de Completação

O grau de completação é o grau de conversão calculado em relação ao reagente limite. Ele


representa a parcela do limite que reage, podendo ser diferente da unidade em função de
diversos motivos. Entre as causas para a não conversão completa do reagente limite em um
reator químico pode estar o fato da misturação no interior do reator não ser perfeita, gerando
a possibilidade de moléculas do reagente limite atravessarem o reator sem entrar em contato
com as moléculas do ou dos outros reagentes.

Exemplo Ilustrativo

Acrilonitrila é produzida por uma reação envolvendo propileno, amônia e oxigênio,


representada pela equação química:

A alimentação contém de , de e de ar, em base molar. Com base


nas informações fornecidas, responda:

a) Qual o reagente limite? Qual o percentual em excesso dos outros reagentes?

b) Calcule a razão de produzidos por de alimentados, para uma


conversão de do reagente limite.

Solução:

i) Equação química balanceada.

ii) Quantidade de e alimentadas:

| de

| de

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iii) Identificação do reagente limite:

Número de moles estequiométricos: . Da reação química tem-se diretamente:

Número de moles disponíveis (que entram): . Das informações fornecidas:

Com estes dados, pode-se construir a seguinte tabela:


Composto ⁄

Assim, verifica-se que o é o reagente limite.

iv) % em excesso dos outros reagentes:

Antes de determinar o excesso dos outros reagentes, devem-se calcular as quantidades


estequiométricas dos outros reagentes em relação ao reagente limite. Este cálculo é efetuado
utilizando-se as respectivas razões estequiométricas:

v) Razão de produzidos / de alimentados, para um grau de conversão


do igual a , sendo o grau de conversão do igual a , em função de sua
definição tem-se:

| | |
|
|

então reagem:

| | |

Utilizando o conceito de razão estequiométrica:

|
| |
|

Então, a razão solicitada é:

|
|

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6.2.5 Seletividade e Rendimento

Na maioria dos processos os reagentes formam o produto desejado em uma reação simples.
Entretanto, os reagentes normalmente também se combinam em outras rotas químicas, assim
como o produto formado também pode reagir formando produtos indesejáveis. O resultado
líquido destas reações paralelas (laterais) é a perda de reagentes, ou seja, uma perda
econômica. Em outras palavras, nem todo o reagente alimentado é convertido no produto
desejado. Parte é gasta, irreversivelmente, nestas reações paralelas.

Um exemplo é o processo de cloração de benzeno, onde o produto desejado é o


monoclorobenzeno. Neste processo, realizado através do borbulhamento de cloro gasoso em
benzeno líquido, além da cloração há também a dicloração e a tricloração, formando
diclorobenzeno e triclorobenzeno que devem ser posteriormente separados do monocloro.

Os conceitos de seletividade e de rendimento são usados para indicar, em termos relativos, a


ocorrência de uma reação desejada em relação a reações laterais competitivas.

A seletividade ( ) de um processo em relação a um determinado produto indesejado é


definida como:

O rendimento pode ser representado em relação a duas referências: (i) alimentação do reator
( ) e (ii) consumo de reagente ( ). As respectivas definições são:

Observe que, pelas definições, o rendimento e a seletividade crescem quando a ocorrência de


reações indesejadas diminui.

Outro fato que deve ser ressaltado é que as definições destes parâmetros cinéticos são
baseadas em números de moles. Assim, cálculos efetuados na base mássica normalmente
geram resultados errados! Somente em situações onde todos os termos das equações de
definição envolvem dados relativos a um mesmo componente, como por exemplo, a
conversão, cálculos efetuados na base mássica levam ao mesmo resultado dos efetuados na
base molar.

Exemplo Ilustrativo

As reações:

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Ocorrem em um reator contínuo, operando em estado estacionário. As vazões molares na


corrente de alimentação e na corrente de produto são iguais a ⁄ e
⁄ , respectivamente. As composições das correntes em base molar são:
Alimentação Produto

Inertes

Inertes

Com base nas informações fornecidas, calcule:

a) A conversão do .

b) O rendimento do com base na alimentação e no consumo de reagente.

c) A seletividade do em relação ao .

Solução:

• Reações balanceadas? Sim.

• Base de cálculo: Vazões fornecidas.

Conversão de ; pela definição de conversão:

| |
|

Rendimento com base na alimentação:

|
|

Rendimento com base no consumo:

|
| |

Seletividade do relativa ao :

|
|

6.3 Balanços de Massa com reação química


A presença de reação química no interior do volume de controle leva a necessidade de
preocupação em relação ao termo de geração, mesmo com uma operação em regime
estacionário * + .

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Como já discutido no capítulo anterior, se efetuarmos o balanço em termos mássicos a


geração aparecerá somente nos balanços por componentes. Em termos molares, de acordo
com os coeficientes estequiométricos da reação, pode haver geração também em termos
globais. Esse fato ocorre quando o somatório dos coeficientes estequiométricos dos reagentes
é diferente do somatório dos coeficientes estequiométricos dos produtos. Todavia, devido ao
fato da equação estequiométrica fornecer informações diretamente em relação aos
componentes, ao escrever o sistema de equações gerado pelo balanço de massa,
normalmente utiliza-se as equações dos balanços por componentes, deixando de fora a
equação do balanço global.

* + * + * +

Se lembrarmos do conceito de grau de liberdade, constatamos que o aparecimento do termo


de geração em nossas equações trás a necessidade de informações adicionais para podermos
resolver o sistema de equações formado pelo balanço de massa. Estas informações adicionais
(equações matemáticas) são fornecidas pelas equações estequiométricas e, quando a reação
química não ocorre completamente ou há mais de uma reação presente, os parâmetros
cinéticos também devem ser utilizados.

Os balanços de massa com a presença de reações químicas são normalmente efetuados na


base molar, pois as informações vindas das reações químicas são fornecidas invariavelmente
nesta base. Muitas vezes, quando as informações sobre a reação não são bem conhecidas os
balanços por componentes são substituídos por balanços atômicos, nos quais, mesmo com a
presença de reações químicas, a geração é nula.

6.3.1 Exemplo Ilustrativo 1

Seja a desidrogenação de etano conduzida em reator contínuo, em estado estacionário. A


reação é: ⁄ são alimentados no reator e na corrente do
produto formado há uma vazão de hidrogênio igual a ⁄ . Com base nas
informações fornecidas, determine as quantidades de etano e eteno na corrente de produto.

Solução:

A equação está balanceada e não há problemas de unidades. Pela estequiometria, quando são
formados , reagem e também são formados .
̇ ̇

Balanços de massa por componente: * + * + * +


* + * + * +

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6.3.2 Exemplo Ilustrativo 2

Metano é queimado com oxigênio, formando dióxido de carbono e água. A alimentação do


reator é formada por de , de e de em base molar. A queima é
efetuada com uma conversão do reagente limite de . Com base nas informações
fornecidas, determine:

a) A composição, em base molar, do produto formado.

b) A vazão do produto formado nas condições especificadas, se a vazão da mistura


alimentada no reator for igual a ⁄ .

Solução:

Equação envolvida:

A resolução considera uma base de cálculo igual a de alimentação, então fazendo a


razão entre quantidades alimentadas e os coeficientes estequiométricos dos reagentes:

Assim, o metano é o reagente limite e, consequentemente, o oxigênio encontrasse em


excesso.

Continuando com a base de cálculo igual a de alimentação, a composição, em base


molar, do produto formado pode ser obtida pelos balanços dos componentes, quando a
conversão do reagente limite é :

Se a vazão da mistura alimentada no reator for igual a ⁄ é preciso modificar a base


de cálculo:

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6.4 Conversões em Sistemas com Reciclo


Em processos com reciclo, a conversão pode ser informada de duas formas distintas. A
conversão global ( ), que está baseada em informações relacionadas à entrada e à saída do
processo como um todo, e a conversão no reator ( ) ou de simples passo, baseada nos dados
na alimentação e na saída do reator. Na figura é mostrado um esquema de um processo com
reciclo, e também são apresentadas as variáveis pertinentes para a determinação destas
conversões.

Estas conversões podem ser apresentadas em termos de porcentagens. Veja que, em uma
reação , apesar de do reagente ( ) ser consumido ao passar pelo reator, ele é
recuperado completamente através do reciclo. Neste exemplo, a conversão no reator é de
e a conversão global é de , pois a quantidade de que sai do processo é nula.

Exemplo ilustrativo

Propano é desidrogenado para formar propeno em um reator catalítico. A reação de


desidrogenação é:

O processo deve ser projetado para uma conversão global de do propano. Os produtos
da reação são separados em duas correntes: a primeira, contendo , e de
, deixa o processo e é considerado o produto; a segunda contém o restante do não
reagido e do propeno da corrente de produto, e é reciclada, sendo misturada a carga
fresca do reator.

Com base nos dados acima, calcule:

a) a composição do produto;

b) a razão entre moles reciclados e moles de carga fresca;

c) a conversão no reator, em termos percentuais.

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Solução:

Os cálculos são efetuados na base molar e o esquema do processo é:

Base de cálculo:

Da definição de conversão global . / e os balanços entre carga fresca ( ) e


produto ( ) se tem:

( )

Composição do produto é:

O produto tem de alimentado ao separador:

O reciclo não contem e do propeno:

Balanços de massa no separador:

Os moles reciclados são:

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Razão entre moles reciclados e moles de carga fresca:

Balanços de massa no ponto de mistura:

( ) ( ) ( )

A conversão no reator:

A conversão no reator em termos percentuais é

6.5 Atividades
 Examinar os exemplos:
o Himmelblau & Riggs (5.1 até 5.14)
o Sikdar (4.1 até 4.50)
o Felder & Rousseau (4.6.1, 4.6.2, 4.6.3, 4.7.1, 4.7.2, 4.7.3, 4.8.1, 4.8.2, 4.8.3, 4.8.4,
4.9.1).
 Exercícios:
o Himmelblau & Riggs (5.1.8, 5.2.4, 5.3.3, 5.5.13)
o Felder & Rousseau (4.50, 4.60).

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BIBLIOGRAFIA
 Pellegrini, Mach e Costa. Apostila Introdução aos Processos Químicos. UFRJ, 2001.
 Felder & Rousseau. Elementary Principles of Chemical Processes. 3 ed., 2005.
 Himmelblau & Riggs. Basic Principles and Calculations in Chemical Engineering. 8
ed., 2012.
 Lackner. Chemical engineering vocabulary, 2 ed., 2014
 Sikdar. Chemical Process Calculations, 2013.

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