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1 Conceitos básicos
1.1 Processo
Um processo é a integração racional de fenômenos ou eventos; o processo químico é um
conjunto interligado de etapas para possibilitar a transformação de uma matéria prima em um
produto de interesse; geralmente o processo têm etapas de: tratamento, reação, separação e
purificação. A definição de processo químico é tão grande que engloba setores específicos de
grande magnitude como: metalúrgico, nuclear e farmacêutico; e ainda tem diversas
ramificações de relevância.
Várias são as operações físicas de interesse da indústria química, elas são chamadas operações
unitárias. Cada etapa precisa de equipamentos também chamados unidades de
processamento; um equipamento é uma ferramenta para condicionar os fenômenos de
comportamento em um espaço definido, onde entram e saem materiais; os equipamentos são
escolhidos pelas suas funções específicas, custo, tamanho e segurança.
Em linguagem de engenharia química, todo este texto descritivo é substituído por um desenho
esquemático chamado de fluxograma. Utilizando-se blocos, outros símbolos que representem
unidades de processo (reatores, destiladores, evaporadores, etc...) e linhas que indicam os
caminhos de fluxo das matérias primas e dos produtos, descreve-se o processo de forma
simples e objetiva, através de uma coordenação sequencial que integra as unidades de
conversão química (reatores) às demais unidades de operações físicas.
O material que entra em uma dada unidade de processo é chamado de alimentação e o que a
deixa é chamado de produto. O diagrama de blocos é, na verdade, o fluxograma mais simples,
que indica as principais unidades de processo e traz informações sobre as variáveis de
Dada uma unidade de processo ou um processo como um todo o problema básico é calcular as
quantidades e propriedades dos produtos a partir das quantidades e propriedades das
matérias primas ou vice-versa. O objetivo da disciplina é o desenvolvimento duma abordagem
sistemática para a resolução de problemas deste tipo, a partir das variáveis em jogo, chamadas
de variáveis de processo, e as relações entre elas mediante equações associadas aos princípios
universais da conservação da massa e energia e informações termodinâmicas.
Note que a recíproca não é verdadeira, ou seja, não necessariamente uma equação
dimensionalmente consistente tem significado físico.
Uma observação cuidadosa das dimensões das grandezas envolvidas em um problema pode
ser de grande valia em sua solução. As dimensões conferem significado físico aos números
fornecidos e podem indicar a solução através de uma simples análise dimensional. Por outro
lado, descuidos levam a resultados sem qualquer significado.
As regras utilizadas nos cálculos envolvendo operações com grandezas dimensionais são:
Para utilizar uma equação todas as suas parcelas devem possuir a mesma dimensão e devem
estar expressas nas mesmas unidades. Na prática, em função dos diversos tipos de
instrumentos utilizados (fabricação, princípio utilizado para a medição e calibração), é comum
o recebimento de informações expressas em unidades não coerentes.
Assim, para que estes valores possam ser utilizados em cálculos, suas unidades devem ser
transformadas para um conjunto coerente, tornando possível satisfazer o conceito da
consistência dimensional. Esta transformação é feita com a utilização dos chamados fatores de
conversão. O fator de conversão é originado de uma razão entre duas grandezas que
representam exatamente a mesma coisa, ele pode ser multiplicado em qualquer parcela de
uma equação sem interferir no valor relativo entre estas parcelas.
Os algarismos significativos de um número são os dígitos a partir do primeiro dígito não zero
da esquerda até o último dígito (zero ou não zero) da direita se há um ponto decimal, ou o
último dígito não zero se não há ponto decimal.
Número Notação Algarismos Ponto
científica significativos decimal
Não tem
Tem
Não tem
Tem
Um valor é mais preciso quanto maior seu número de algarismos significativos. Nas operações
matemáticas, uma regra prática é a que segue: “Quando 2 ou mais quantidades são
combinadas por multiplicação ou divisão, o número de algarismos significativos do resultado
deve ser igual ao do menor número de algarismos significativos dentre as quantidades
envolvidas”.
( ) ( ) ( ) ( )
O início das tentativas de unificação datam de 1790, quando a França, recém saída da
revolução, reconhece a necessidade do desenvolvimento de um sistema de unidades que
facilitasse as relações comerciais. A Inglaterra foi procurada, mas como já tinha um sistema em
uso na ilha em suas colônias, não participou com interesse da iniciativa francesa. No ano de
1960, ocorreu uma conferência internacional que definiu o Sistema Internacional (Le Système
Internationale d’Unités e informalmente chamado de SI), que mesmo hoje ainda convive,
dentro dos processos químicos, com sistemas de origem inglesa, principalmente o americano
de engenharia (AE). Na resolução dos problemas serão utilizados os dois sistemas de unidades
mais comumente empregados.
Unidades básicas: são as unidades das dimensões básicas, que não são necessariamente as
mesmas nos diversos sistemas.
Unidades suplementares: são as unidades utilizadas para expressar ângulos no plano e no
espaço.
Unidades derivadas: são obtidas a partir de relações envolvendo as unidades básicas.
• Sistemas Absolutos: nos sistemas absolutos as unidades de força são derivadas das unidades
básicas. Os mais comuns são o CGS, o absoluto inglês e o SI.
O sistema CGS foi durante muito tempo o mais utilizado nos trabalhos científicos. O americano
de engenharia é muito utilizado na indústria química, e particularmente na de petróleo, nos
Estados Unidos. Assim, mesmo com a definição do Sistema Internacional como o sistema
universal, ainda são empregados muitos dados e informações provenientes dos processos
expressos em outros sistemas de unidades.
O SI tem algumas vantagens sobre o sistema AE no que diz respeito à menor quantidade de
nomes associados às unidades e à maior facilidade de conversão de um conjunto de unidades
para outro.
A seguinte tabela apresenta as unidades das dimensões mais utilizadas nos cálculos
envolvendo os processos químicos e bioquímicos, nos três sistemas mais comuns.
Sistemas SI CGS AE
Comprimento , -
Tempo , -
Massa , -
Temperatura , - ou ou ou
Força
Quantidade molar
Os sistemas decimais, como o SI e o CGS, têm a vantagem de trabalhar com múltiplos e
divisões decimais (exceção para as unidades de tempo), fato que não ocorre com os sistemas
inglês e americano.
Outra característica importante, típica dos sistemas gravitacionais, é a utilização da força como
dimensão básica. Desta forma, no Sistema Americano de Engenharia a libra-força é uma
unidade básica.
Ao acrescentar unidades aos números que não são adimensionais, são obtidos os seguintes
benefícios práticos: redução da chance de cometer erros nos cálculos; redução do volume de
cálculos e do tempo gasto na resolução dos problemas; abordagem lógica do problema, ao
invés da mera lembrança de fórmulas e de substituição de números nas mesmas; fácil
interpretação do significado físico dos números utilizados.
1.3 Atividades
Examinar os exemplos:
o Himmelblau & Riggs (2.1 até 2.7)
o Sikdar (1.1 até 1.16)
o Felder & Rousseau (2.2.1, 2.3.1, 2.4.1).
Exercícios:
o Himmelblau & Riggs (2.2.3, 2.2.9, 2.3.3, 2.3.7 e 2.4.4)
o Felder & Rousseau (2.2, 2.8 e 2.26).
2 Variáveis de Processo
Para projetar, supervisionar ou modificar um processo, precisa-se conhecer as quantidades,
composições e condições dos materiais que entram e saem da unidade. Neste item são
apresentados os principais parâmetros utilizados para descrever as condições operacionais das
correntes de processo, principalmente objetivando a realização de balanços de massa.
2.1 Densidade
A densidade ( ) de um material é definida como a relação entre a sua massa e o volume por
ela ocupado, ⁄ , as unidades da densidade são quilogramas por metro cúbico ( ⁄ ).
No entanto, é bastante comum expressar a densidade em ( ⁄ ). Por exemplo, a densidade
da água: ⁄ ⁄ ⁄
Outra grandeza bastante utilizada para gases é o volume específico que é definido pela relação
entre o volume ocupado por uma unidade de massa, é o inverso da densidade.
A densidade e/ou o volume específico podem ser usados como fatores de conversão para
relacionar a massa com o volume.
e o volume de de é
A densidade relativa se define como a razão entre duas densidades. A densidade da substância
de interesse dividida pela densidade da substância de referência. Logo, a densidade relativa é
uma grandeza adimensional, ou seja, uma quantidade que não tem unidades.
⁄ ⁄
⁄ ⁄
2.1.3 Vazão
2.2 Pressão
Seja um fluido escoando no interior de uma tubulação. A sua pressão em um determinado
ponto pode ser medida através da abertura de um orifício na parede do tubo, por exemplo,
um pequeno tubo lateral. Para que não haja vazamento por este tubo devemos exercer uma
determinada força em um dispositivo que obstrua esta abertura. Esta força é equilibrada pela
força que o fluido que está escoando exerce pelo lado de dentro. Assim, a pressão do fluido
em escoamento é dada pela razão entre esta força e a área da seção reta deste tubo lateral.
Algumas unidades tem origem na pressão exercida pela atmosfera sobre os corpos chamada
pressão atmosférica ou pressão barométrica, a qual pode ser visualizada como a pressão
exercida pela coluna de ar atmosférico sobre uma superfície.
Exemplo numa panela de pressão com pressão relativa em Floripa, como a atmosfera
padrão é , então a pressão absoluta na panela é:
O físico italiano Evangelista Torricelli realizou uma experiência para determinar a pressão
atmosférica ao nível do mar. Ele usou um tubo de aproximadamente de comprimento,
cheio de mercúrio e com a extremidade tampada. Depois, colocou o tubo, em pé e com a boca
tampada para baixo, dentro de um recipiente que também continha mercúrio. Torricelli
observou que, após destampar o tubo, o nível do mercúrio desceu e estabilizou-se na posição
correspondente a , restando o vácuo na parte vazia do tubo. A densidade do Mercúrio é
( ⁄ ) e aceleração da gravidade da Terra ao nível do mar ⁄ ,
então:
Isto significa que o peso da imensa “coluna” de ar que paira sobre nossas cabeças exerce a
mesma pressão que de coluna de água ( )
2.3 Temperatura
A temperatura de uma substância ( ) em um dado estado de agregação (sólido, líquido ou gás)
é uma medida da energia cinética média possuída pelas moléculas da substância.
Como esta energia não pode ser medida diretamente, a temperatura precisa ser determinada
indiretamente pela medida de alguma propriedade física da substância, cujo valor depende da
temperatura de uma forma conhecida. Tais propriedades e os aparelhos para medida de uma
temperatura, nela baseados, incluem resistência elétrica de um condutor (termômetro de
resistência), voltagem na junção de dois metais diferentes (termopar), espectro de radiação
emitida (pirômetro) e volume de uma massa fixa de um fluido (termômetro).
As escalas onde os zeros são arbitrados são chamadas relativas, Celsius ( ) e Fahrenheit ( ).
Nas escalas absolutas o zero é a temperatura mais baixa que existe (zero absoluto),
caracterizado pela ausência de movimentação das moléculas que formam a substância, Kelvin
( ) e Rankine ( ).
( )
Nas escalas relativas o valor numérico ligado a uma temperatura em particular parece algo
arbitrário. No zero absoluto cessa todo movimento molecular e a energia cinética da molécula
passa a ser zero. Com as seguintes equações é possível fazer a conversão entre as escalas
absolutas e relativas: e
As expressões acima são utilizadas para transformar leituras de temperaturas de uma escala
para outra. Muitas vezes, porém, estamos interessados em transformar diferenças de
temperatura, que não mais dependem dos referenciais utilizados nas escolas. Dessa forma, os
valores dos diferenciais de temperaturas somente dependem do tamanho do grau e estão
relacionados pelas expressões:
( ⁄ ) ( ⁄ )
Solução:
[ ] [ ][ ][ ]
[ ] , -
( )
[ ] [ ]
[ ] , -
2.4 Atividades
Examinar os exemplos:
o Himmelblau & Riggs (2.17, 2.21 até 2.25)
o Felder & Rousseau (3.1.1, 3.1.2, 3.4.1, 3.4.2, 3.4.3, 3.5.1, 3.5.2, 3.5.3).
Exercícios:
o Himmelblau & Riggs (2.8.2, 2.10.1 e 2.11.9)
o Felder & Rousseau (3.4, 3.32 e 3.48).
3 Estequiometria
Existem certos princípios fundamentais subjacentes a todas as operações unitárias e processos
unitários. Estes podem ser classificados em quatro grupos. Eles são os balanços de materiais e
de energia e as leis de equilíbrio e os processos de taxa. As operações unitárias principalmente
lidam com a transferência e mudança de energia e a transferência e mudança de matérias por
meio físico ou em alguns casos, por meio físico-químicos. O estudo dos balanços de materiais e
de energia nestas operações, e o domínio de certos princípios e técnicas, é muito importante
para a formação do engenheiro químico e sua vida profissional. Estequiometria em engenharia
química não é apenas a aplicação das leis de combinação de proporções de elementos ou de
compostos envolvidos nas reações químicas tem um significado mais amplo.
A filosofia básica de cálculos de processo é ajudar ao estudante na análise dos processos por
meio de cálculos e desenvolver suas habilidades de resolução de problemas sistemáticos.
Através destes cálculos o estudante fica equipado com informações e habilidades
fundamentais que são repetidamente empregadas em disciplinas subsequentes e na vida
profissional. Embora a teoria subjacente à solução destes problemas esta bem definida e é
inquestionável, a solução não pode ser alcançada por aplicação de apenas algumas equações
teóricas ou semiempíricas. A aplicação destes princípios para a solução de problemas
estequiométricos é uma arte, e como toda arte, a seu domínio requer prática.
Como há outras formas de se referir à unidade mol, para evitar confusão o muitas vezes é
chamado de grama-mol ( ). Outras unidades muito utilizadas são o ,
correspondente a ,eo , nos sistemas que utilizam a libra como unidade de
massa. Note que contém moléculas e, consequentemente tem uma
massa vezes maior do que o . Analogamente, tem uma massa vezes
maior do que um (lembre-se que ). Assim, os fatores de conversão entre
as unidades envolvendo o são os mesmos dos análogos envolvendo unidades de massa.
Outro fato importante, que deve estar claro para você é que, tomando, por exemplo, o
monóxido de carbono ( - massa molecular igual a ), tem-se pela definição de mol:
A massa molecular pode ser usada como fator de conversão, que relaciona massa e número de
moles ( ): ⁄
De forma análoga, a massa molecular é utilizada para transformar vazões molares em mássicas
e vice-versa.
Qual o número de moles de carbono nesta massa? (Note que o termo átomo-grama não é
normalmente utilizado)
Solução:
Note que em função da definição das frações, o seu somatório em relação a todos os
componentes de uma mistura é igual a um. Assim, em uma mistura com componentes, tem-
se para as frações molares, mássicas e volumétricas:
∑ ∑ ∑
Qual é a vazão mássica de em uma corrente da solução que escoa com uma vazão de
⁄ ?
̇ ̇
̇ ̇
̇
̇
O conceito de massa molecular pode ser estendido para misturas, definindo-se o que se chama
massa molecular média da mistura:
∑
̅ ∑ ∑
Este parâmetro tem o mesmo significado ao se trabalhar com misturas do que a massa
molecular tem ao se lidar com substâncias puras.
∑
∑ ∑
̅
Composto %
Solução:
1) Para facilitar os cálculos que permitem a passagem de frações mássicas para molares,
definisse uma base de cálculo, ou seja, uma massa qualquer da mistura na qual os cálculos
são efetuados. Por conveniência serão utilizados da mistura como base de cálculo.
Os resultados dos cálculos em sequência são mostrados na tabela
% ⁄
, - , ⁄ - , -
16 32 0,5 0,152
4 28 0,143 0,044
17 44 0,386 0,188
63 28 2,25 0,668
̅ ∑
3) Em misturas gasosas, as frações molares são iguais as frações volumétricas. Assim a fração
volumétrica do é igual a 0,044.
3.2.3 Concentrações
Concentração Mássica:
0 1 [ ]
Concentração Molar:
[ ]
É importante notar que a molalidade é uma forma de expressar a concentração muito pouco
utilizada em cálculos da engenharia de processos.
A vazão mássica de em ⁄
A fração mássica de .
A base de cálculo é a quantidade específica duma das correntes de material com base na qual
os cálculos são executados; se a composição é dada independentemente de um componente é
livre do componente, se esse componente é água esta dada em base seca. Um material é
úmido, se a água é um dos seus componentes (base úmida).
Base: 1 kg de solução
A vazão molar de , em ⁄ .
3.3 Atividades
Examinar os exemplos:
o Himmelblau & Riggs (2.18, 2.19, 2.20)
o Sikdar (2.1 até 2.28).
Exercícios:
o Himmelblau & Riggs (2.6.3, 2.7.1, 2.9.12).
4 Balanços de massa
Os cálculos de balanço de massa são uma parte essencial da solução de muitos problemas
complexos de engenharia química. O balanço de massa auxilia no planejamento e desenho de
processos, na avaliação econômica dos processos propostos e existentes, controle de
processos, e na otimização de processos.
Por volta de 1774, o químico francês realizava experiências sobre a combustão e a calcinação
de substâncias. Com o objetivo de utilizar métodos quantitativos, Lavoisier empregava a
balança como um de seus principais instrumentos para acompanhar as atividades
experimentais. Observou que, das reações de calcinação de metais expostos ao ar, sempre
resultavam óxidos cujo peso era maior que o do metal de partida. Ao contrário, na combustão
de um pedaço de carvão exposto ao ar, a massa restante ao final do processo era sempre
menor que a massa inicial.
Depois que adquiriu informações sobre as características do gás que ativava a queima de
outras substâncias (que mais tarde foi denominado pelo próprio Lavoisier como oxigênio, que
quer dizer gerador de ácidos), passou a fazer experiências com o mesmo e acabou por deduzir
que a combustão e a calcinação nada mais eram que o resultado da reação de combinação
desse gás com as outras substâncias. Através dos resultados dos experimentos realizados em
sistemas fechados, onde as massas de reagentes e produtos gasosos poderiam ser medidas
com precisão, concluiu que as variações de massa observadas quando as reações eram
realizadas em sistemas abertos, correspondia à massa da substância inicialmente empregada,
mais a massa do gás a ela incorporada ou perdida através da reação.
Através de seus trabalhos, pôde enunciar uma lei que ficou conhecida como Lei da
Conservação das Massas ou Lei de Lavoisier: “Numa reação química que ocorre em sistema
fechado, a massa total antes da reação é igual à massa total após a reação”.
Ou ainda, numa reação química a massa se conserva porque não ocorrem criação nem
destruição de átomos. Os átomos são conservados; eles apenas se rearranjam. Os agregados
atômicos dos reagentes são desfeitos e novos agregados atômicos são formados.
Filosoficamente falando: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.
Atualmente sabemos que a Lei de Lavoisier como inicialmente foi proposta só não se aplica em
seu enunciado original às Reações Nucleares, onde a energia envolvida é proveniente da
transformação significativa de matéria em energia. Uma reação nuclear geralmente envolve
transmutação nuclear, na qual, além da mudança nas naturezas dos núcleos dos átomos
participantes, a massa inicial dos núcleos reagentes é maior que a massa final de núcleos
produzidos no processo, ocorrendo o fenômeno conhecido como “perda de massa”. Esta
massa perdida é transformada em energia, que pode ser calculada pela famosa equação de
Einstein, , onde é a energia liberada no processo, é a massa perdida no processo,
e é a velocidade da luz no vácuo, aproximadamente igual a . Como a energia
global é sempre mantida (obedecendo a Primeira Lei da Termodinâmica), nas reações
nucleares há conservação da (energia + massa) de reagentes e produtos, ao invés de somente
a massa prevista pela Lei de Lavoisier para as reações químicas. Isto se explica facilmente, pois
mesmo as reações químicas com os maiores desprendimentos de energia conhecidas, são
apenas fração insignificante das energias envolvidas numa reação nuclear!
* + * + * + * + * +
onde,
Uma forma alternativa de representar o balanço une em uma única parcela os termos ligados à
geração e ao consumo. A equação geral do balanço é então escrita na forma:
* + * + * + * +
O conceito de balanço é aplicado no dia a dia, por exemplo, numa conta corrente ou conta de
poupança em um banco a grandeza envolvida é o dinheiro.
Nos balanços de massa a grandeza envolvida está relacionada com a quantidade de matéria.
Os balanços de massa podem ser efetuados em termos globais ou por componente. Quando
baseados nos componentes eles podem ser representados em termos de substâncias
(moléculas) ou de átomos. Note que os termos que representam a geração ou o consumo de
massa no interior do sistema são, por definição, nulos quando se trabalha em termos globais.
Na ausência de reações nucleares, estes termos também são nulos em balanços atômicos.
Seja o processo representado a seguir, onde há uma corrente de entrada e uma de saída, e
três componentes:
Convém ainda ressaltar que, nas equações dos balanços por componente, as vazões dos
componentes ( ̇ ) estão relacionadas com as vazões totais através das relações: ̇ ̇ .
Pode-se então escrever as equações dos balanços por componente, alternativamente, da
seguinte forma:
Componente : * + ̇ ̇ * +
Componente : * + ̇ ̇ * +
Componente : * + ̇ ̇ * +
Além das equações que representam o balanço de massa, em função da definição das frações
que representam a composição de cada corrente, há duas restrições implícitas:
∑ ∑
Cabe também ressaltar que o somatório das gerações e dos acúmulos computados em relação
a cada componente (* + e * +), é igual ao valor global correspondente:
* + ∑* + * + ∑* +
Em sistemas sem reações químicas os termos ligados à geração são identicamente nulos. Por
outro lado, em operações em regime estacionário os termos ligados aos acúmulos são nulos,
por definição. Assim, não havendo reação química e considerando operação em regime
estacionário, tem-se:
∑ ∑
Note então que, nesse problema, com componentes e correntes, sem reação e em regime
estacionário, são obtidas equações: BM global, BM por componente e Restrições de
Composição. Gerando um modelo matemático do processo constituído por um sistema de
equações algébricas.
A solução deste modelo, que estabelece relações entre diversas variáveis, permite a
determinação de variáveis antes não especificadas. Desta forma é possível completar o
conhecimento do conjunto de parâmetros que descrevem a operação do processo e são
pertinentes para avaliações econômicas, análise de controle, cálculos de otimização, etc.
Solução única
Solução indeterminada
Solução impossível
A seguir são apresentados alguns exemplos para uma melhor visualização do conceito de grau
de liberdade.
Exemplo 1:
Sistema de equações: {
Havendo um grau de liberdade, o sistema tem infinitas soluções localizadas sobre a reta,
definida pela equação independente do sistema.
Note que nesse caso, o problema terá solução única se uma das duas variáveis ( ou ) for
especificada. Assim, para , da equação , temos que . Observe que, ao
especificar o valor de um número de variáveis igual ao grau de liberdade do sistema, o
conjunto de equações passa a ter solução única.
Exemplo 2:
Sistema de equações: {
Exemplo 3:
Sistema de equações: {
Voltando ao exemplo do balanço de massa, note que a combinação das equações dos balanços
por componente com as restrições de composição das correntes leva à equação do balanço de
massa global. Desta forma, no conjunto de equações que forma o modelo matemático do
problema há uma equação dependente, ou seja, o número de equações independentes é igual
ao número de equações menos um. Assim, temos neste modelo equações independentes,
ou seja: .
( )
ou seja, devemos especificar, pelo menos, três variáveis para que o problema seja bem
formulado.
O estudo dos Balanços de Massa neste Curso será efetuado através da solução comentada de
exemplos ilustrativos. Os novos conceitos que aparecem nestes exemplos são apresentados de
forma destacada, antes da discussão do exemplo.
alunos iniciantes nesta arte. Cabe ressaltar que ela não representa uma receita que deva ser
seguida eternamente e de forma imutável, pois certamente, com o passar do tempo e
aumento do número de exercícios resolvidos, você acabará desenvolvendo a sua forma de
resolver estes problemas.
colocar no fluxograma
equações do modelo. Lembre que ao fazer cálculos o conjunto de equações deve conter
somente equações independentes
5. Solucionar o problema
4.5.1 Fluxogramas
Fluxogramas de blocos (block flow diagrams – BFD): fornecem uma visão geral de um
processo, as operações unitárias ou processos unitários são representadas com blocos
conectados por linhas retas correspondentes às correntes de fluxo do processo.
Fluxograma do processo (process flow diagram – PFD): é uma representação esquemática
que mostra as relações entre as fases e as necessidades básicas de cada etapa do
processo. O fluxograma de processo (PFD) deve mostrar: as operações unitárias básicas, os
equipamentos principais, o fluxo principal do projeto e os dados do projeto. Contém toda
informação necessária para os balanços material e energético completos no processo.
Exemplo
Num processo de produção de pasta de papel, obtém-se, após uma série de operações, uma
pasta com 82% de humidade. Esta pasta “tal qual” é submetida à expressão (em prensas
hidráulicas), de onde sai com uma humidade de 55%. Posteriormente é efetuada uma secagem
que remove 78% da água ainda presente.
O fluxograma correspondente é:
As respostas às duas primeiras perguntas são obtidas através de uma leitura atenta do
enunciado.
Em relação à terceira questão, uma Base de Cálculo (BC) é uma quantidade de matéria (num
determinado ponto do processo) ou um período de tempo, em relação aos quais se irão referir
todos os cálculos a efetuar. A escolha adequada de uma BC simplifica, normalmente, a
resolução do problema. Como o resultado de todos os cálculos vão estar referidos à BC
escolhida, é fundamental que a sua indicação esteja bem explícita no início da resolução do
problema.
Exemplo ilustrativo 1
1000 / de uma mistura de benzeno e tolueno, que contém 50% de benzeno em massa, são
separados por destilação em frações. A vazão mássica na corrente de topo contém 450 /
de benzeno e na corrente de fundo há 475 / de tolueno. Calcule as vazões dos
componentes, as vazões totais de cada corrente e as frações mássicas e molares dos
componentes nas correntes.
Solução:
Equações:
̇ ̇ ̇ ⁄ ̇ ̇
̇ ̇ ̇ ⁄ ⁄ ̇
̇ ̇ ̇ ⁄ ̇ ⁄
Restrições:
Solução:
⁄ ̇ ̇
⁄ ̇
⁄ ̇
̇ ̇ ̇ ̇ ⁄ ⁄ ⁄
̇ ̇ ̇ ̇ ⁄ ⁄ ⁄
⁄ ̇ ̇ ⁄ ⁄ ⁄
Note que esse problema envolve poucas equações, sendo então possível resolvê-lo
sequencialmente.
Conhecidas as vazões totais e as vazões por componente em cada corrente é possível, a partir
da definição de fração, a determinação das frações mássicas de cada componente ( ) em cada
corrente. Lembrando então que:
Frações de Benzeno:
̇ ⁄
̇ ⁄
̇ ⁄
̇ ⁄
Definidas todas as informações na base mássica, pode-se fazer a mudança de base para a
molar facilmente, desde que se defina uma quantidade de referência para os cálculos. Lembre-
se que a composição de uma mistura não é função da quantidade total da mistura. Assim, essa
quantidade de referência pode ser qualquer uma, podendo ser então escolhida de modo a
facilitar as contas.
Nas tabelas a seguir são mostradas as passagens da base mássica para a molar em todas as
correntes. O valor de referência para os cálculos foi arbitrado igual à vazão total de cada
corrente.
Exemplo ilustrativo 2
O processo de dessalinização de água salgada pode ser conduzido de diversas formas e pode
ser utilizado com dois objetivos: produção de sal ( ) e produção de água dessalinizada
para posterior utilização pela comunidade.
A produção de sal ( ) a partir da água do mar envolve a concentração da água salgada até
a sua saturação, quando inicia a precipitação do sal, que é então separado. Em função das
características climáticas no Brasil, aqui este processo é conduzido utilizando energia solar
como fonte de energia para o processo de evaporação da água do mar. O local onde ele é
conduzido é chamado de salina, sendo praticamente uma atividade artesanal.
A produção de água dessalinizada a partir da água do mar é comum nos países do Oriente
Médio, onde os recursos hídricos são escassos e há grande disponibilidade de combustíveis
fósseis. Com este objetivo, a água do mar é evaporada formando duas correntes: uma de água
salgada (salmora), com uma concentração de sal acima da água do mar alimentada, que é
retornada ao mar; e outra de vapor livre do sal, que é posteriormente condensado formando a
corrente de água dessalinizada.
Considere que a fração mássica de sal ( ) na água do mar seja igual a . Determine a
quantidade de água do mar necessária para produzir ⁄ de água dessalinizada. Em
função de problemas relacionados à corrosão dos equipamentos envolvidos no processo, a
fração mássica na salmoura descartada está limitada a .
Balanço de Informações:
Número de incógnitas:
Equações independentes: balanços de massa por componente;
Grau de liberdade na formulação:
Solução:
Balanço global: ̇ ̇ ̇ ̇ ⁄ ̇ ̇ ⁄
̇ ⁄
Observações:
̇ ̇ ̇
⁄ ⁄ ⁄
⁄ ⁄
ii) Apesar da simplicidade destes resultados, eles representam o ponto de partida para o
dimensionamento dos equipamentos do processo (evaporadores, condensadores,
bombas, etc.) e das tubulações, e permitem ainda uma avaliação preliminar dos custos
envolvidos no empreendimento.
iii) Apesar de não ter sido especificado, o resultado está baseado na produção de
⁄ de água dessalinizada. Este dado é chamado de base de cálculo no
procedimento de solução.
Exemplo ilustrativo 3
Como as unidades dos dados fornecidos não são compatíveis, nesta etapa de sua organização
é importante providenciar a sua homogeneização. Isto feito, não há necessidade de
preocupação com unidades ao longo dos cálculos e já se sabe qual a unidade dos resultados
obtidos. Concentrações: Frações molares; Vazões: Vazões molares, em mol/min. Assim, falta
representar a vazão da corrente de água líquida em :
[ ] 0 1
̇
0 1
Balanço de Informações:
Número de incógnitas:
Equações do balanço de massa por componente;
Equação do balanço de massa global;
Restrições: (corrente de produto) e (vazão de oxigênio puro é da vazão de ar);
Equações: ;
Dependência linear entre as equações de balanço dos componentes e a global;
Equações independentes:
Solução:
Este problema envolve balanços de massa em regime estacionário, sem a presença de reação
química, desta forma:
Balanço global: ̇ ̇ ̇ ̇ ( )
Balanços por componentes:
: ̇ ̇ ( )
: ̇ ̇ ( )
Restrição: ( )
Restrição adicional: ̇ ̇ ( )
A equação representativa do balanço de massa do componente fica para ser utilizada para
verificar o resultado.
Quando as informações sobre o balanço de massa são coerentes, diz-se que elas estão
balanceadas ou que o processo encontra-se balanceado.
Suponha que 1 kg de benzeno se misture com 1 kg de tolueno, formando uma corrente com 2
kg de mistura com 50% de benzeno e 50% de tolueno, em base mássica, conforme mostrado
na figura:
Note que a massa de todas as correntes pode ser multiplicada por um mesmo fator e o
processo continua balanceado. O mesmo não é verdade para a composição, que se mantém
constante. Como a mudança das unidades que representam a quantidade em cada corrente é
feita por um fator de correção constante, a troca nominal de todas as unidades
representativas das quantidades ou vazões de cada corrente também mantém o processo
balanceado. Este procedimento de multiplicar todas as correntes de massa por um fator,
mantendo a composição constante, é chamado de escalonamento (ou extrapolação) e o fator
utilizado é chamado de fator de escala. Em base molar este procedimento somente pode ser
aplicado na ausência de reação química.
Observação Importante: Agindo desta forma pode parecer que o escalonamento de processos
na prática é muito simples. Não é realidade! Esta situação de somente utilizar um fator de
escala no escalonamento considera condições ideais, nas quais todas as condições
geométricas, cinemáticas e dinâmicas são fielmente reproduzidas nas diferentes escalas. Na
prática, esta reprodução de condições nas diversas escalas é praticamente impossível, e a
extrapolação de escala é um dos grandes desafios a serem enfrentados.
Exemplo ilustrativo 4
Deseja-se obter a mesma separação em uma operação contínua, com uma alimentação da
solução de e original a uma vazão de . Esboce o fluxograma do processo
contínuo.
Solução:
As informações solicitadas podem ser obtidas diretamente a partir dos dados da operação em
batelada através da utilização do seguinte fator de escala ( ):
0 1
[ ]
, -
Assim, obtém-se:
4.6 Atividades
Examinar os exemplos:
o Himmelblau & Riggs (3.1 até 3.9)
o Felder & Rousseau (4.2.1, 4.2.2, 4.2.3, 4.3.1, 4.3.2, 4.3.3, 4.3.4).
Exercícios:
o Himmelblau & Riggs (3.1.8, 3.2.2, 3.2.12)
o Felder & Rousseau (4.10, 4.16).
* + * +
Nos processos químicos há um grande número de equipamentos que operam com base em
diversos conceitos físicos e físico-químicos. A seguir são apresentados alguns equipamentos
mais comuns, nos quais o balanço de massa fornece informações importantes.
Ponto onde há a simples união (mistura) de duas ou mais correntes. Como não ocorre nenhum
processo físico ou químico neste ponto, a vazão e a composição da corrente à jusante do
ponto de mistura são determinadas pelo balanço de massa no ponto de mistura. Na Figura é
apresentado um esquema de um ponto de mistura com duas correntes à montante.
̇ ̇ ̇
̇ ̇ ̇
5.2 Misturadores
São equipamentos onde duas ou mais correntes são misturadas. A mistura pode ser dos
seguintes tipos:
Sólido–sólido.
Líquido–líquido.
Gás–gás.
Sólido–líquido.
A mistura de fluido é feita pelo impulsor, o qual está montado com a ajuda de um eixo. O eixo
é acionado por um motor. O tanque de mistura é um recipiente de aço inoxidável cilíndrica. A
parte superior do reservatório é fechada com uma placa plana, enquanto que a parte inferior é
̇ ̇ ̇ ̇
̇ ̇ ̇ ̇
5.3 Separadores
A separação de misturas é fundamental nos processos químicos, entre as operações unitárias
de separação temos:
Flash
Destilação
Cristalização
Evaporação
̇ ̇ ̇
̇ ̇ ̇
Nesta vaporização parcial, os componentes não vaporizam nas mesmas proporções em que
estão presentes no líquido. Os componentes mais voláteis têm uma maior tendência para
vaporizar, causando em situações onde o processo de mudança de fase não é completo uma
maior concentração dos componentes mais voláteis na fase vapor e dos menos voláteis na fase
líquida. Este fato pode ser observado na Figura, onde é mostrado um processo envolvendo
uma corrente ( ), no estado líquido, formada de iguais quantidades molares de etano e
butano.
Os resultados na Figura deixam claro que se o Flash for utilizado com objetivo de separação,
ele somente é efetivo se a vaporização for parcial, situação na qual as concentrações das
correntes de saída são diferentes da concentração da corrente original.
onde é a fração molar do componente na fase vapor, que forma a corrente ; é a fração
molar do componente na fase líquida, que forma a corrente ; e é uma constante de
equilíbrio, com valores distintos para cada componente .
Mais tarde, nos seus estudos de Termodinâmica, você verá como os valores de podem ser
previstos a partir das variáveis que definem o sistema (pressão, temperatura e composições).
Formas mais gerais para representar esta relação de equilíbrio serão estudas naquela ocasião,
bem como serão mostrados critérios que permitirão uma previsão da "capacidade" do Tambor
de Flash realizar uma certa separação desejada. Com estes conhecimentos mais avançados,
você ainda será capaz de prever quais deverão ser a temperatura e a pressão no interior do
tambor para uma determinada separação especificada. Na Figura são mostradas as variáveis
relevantes para o balanço de massa em um Tambor de Flash.
Alguns problemas na Engenharia Química recebem nomes especiais não só pela frequência em
que elas aparecem mais também pela sua importância no projeto e análise de equipamentos e
de processos químicos. Um exemplo é o chamado problema de simulação. No nível de
equipamento, um problema é dito de simulação quando são fornecidas todas as variáveis que
especificam o estado das correntes de entrada e as que especificam as condições operacionais
no interior do equipamento, e devem-se calcular as variáveis que definem o estado das
correntes de saída.
Esta ideia de vários flashes em série é utilizada nas colunas de destilação. Estas colunas são
equipamentos nos quais podemos considerar a presença de diversas regiões, independentes e
ligadas em série, de contato líquido-vapor, que funcionam como vários flashes.
Em sua operação, é alimentada uma corrente de uma mistura líquida em sua lateral e em seu
interior há uma corrente gasosa, rica nos elementos mais voláteis, escoando na direção
ascendente, e uma corrente líquida, rica nos componente menos voláteis, escoando na direção
descendente. Em sua parte superior (topo da coluna) é retirada esta corrente gasosa e
resfriada em um condensador (equipamento onde há condensação de vapores). Parte do
condensado formado sai como produto de topo e a parte complementar é retornado à coluna
para dar início à corrente líquida que escoa no sentido descendente. Na base da coluna ocorre
o inverso, ou seja, parte do líquido que chega é retirado como produto de fundo e a outra
parte passa através de um equipamento que fornece calor (este equipamento tem o nome
especial de refervedor), vaporizando este líquido, que é então realimentado na coluna, dando
origem a corrente de vapor ascendente.
Desta forma, tendo como objetivo somente o balanço de massa, uma coluna de destilação é
muito parecida com o tambor de flash: há uma corrente de alimentação e duas de saída: (i)
uma no topo, rica nos componentes não voláteis e (ii) uma no fundo, rica nos componentes
não voláteis. Como esta distribuição de componentes nas correntes ocorre, não é mais função
de uma única relação de equilíbrio. Você, ao longo do curso de Operações Unitárias vai
aprender como utilizar as relações de equilíbrio no projeto das colunas de destilação. Neste
primeiro curso, ao lidarmos com colunas de destilação, nos restringiremos à utilização de
equações diretamente ligadas aos balanços de massa.
Exemplo
A corrente de fundo deve conter todo o n-pentano alimentado. Com base nas informações
fornecidas, calcule o resto das variáveis do processo.
Balanço de Informações:
Número de incógnitas:
Equações: Equações do balanço de massa por componente;
Equação do balanço de massa global;
Restrições em relações às composições;
Adicionais;
Em função da dependência linear entre as equações
de balanço dos componentes e a global;
Equações independentes:
Graus de Liberdade:
Solução:
Balanço global: ̇ ̇ ̇ ̇ ̇ ( )
Propano: ̇ ̇ ̇ ̇ ( )
i−Butano: ̇ ̇ ̇ ̇ ̇ ( )
n−Pentano: ̇ ̇ ̇ ̇ ( )
Restrições: ( )
( )
Restrição adicional:
̇ ̇ ̇ ̇ ( )
Destilado Fundos
̇ ⁄ ̇ ⁄
Propano:
i−Butano:
n−Pentano:
Restrições:
Observação:
O sistema da forma que está escrito é não linear. Esta característica contribui para tornar mais
complicada a sua solução. Sempre que possível, deve-se procurar formular o modelo
utilizando-se equações lineares, pois há métodos sistemáticos e simples para a solução de seus
sistemas.
5.4 Extratores
O extrator é um equipamento onde uma corrente, normalmente pura, chamada de solvente, é
colocada em contato com uma mistura com objetivo de retirar, preferencialmente, um dos
componentes desta mistura. São então formadas duas correntes: uma formada por uma
solução envolvendo o solvente e as substâncias extraídas, chamada de extrato, e outra
composta do material restante da mistura original, chamada de rafinado.
̇ ̇ ̇
̇ ̇ ̇ ̇
Foi visto que balanços são efetuados em volumes de controle, que são arbitrariamente
definidos em função da conveniência dos cálculos a serem efetuados. Então, em um problema
envolvendo vários equipamentos, a diferença para os problemas com um único equipamento é
a possibilidade de definição de diversos volumes de controle e assim de diversos conjuntos de
equações.
Seja o exemplo da Figura, onde há um ponto de mistura, um divisor de correntes e dois
equipamentos. As correntes são entradas no processo; e as correntes
são correntes de saída. Um volume de controle envolvendo todo o processo é atravessado por
estas seis correntes que representam a ligação do processo com o exterior. As correntes
são correntes internas, para obter informação sobre elas, devemos ter volumes de
controle atravessados por elas de tal forma que elas aparecem nas equações dos balanços.
Ao se definir os volumes de controle, deve-se ter em mente que os cálculos serão mais simples
quando os volumes de controle forem escolhidos de tal forma que as respectivas superfícies
de controle sejam atravessadas pelo menor número possível de incógnitas.
Exemplo
Solução:
Partiremos para resolver este problema de forma sequencial. Note que todas as vazões
fornecidas estão nas mesmas unidades e que as frações são todas compatíveis com as vazões,
ou seja, vazões mássicas acompanhadas de frações mássicas. Assim, não há necessidade de
conversões para compatibilizar estas informações.
Volume de Controle 1: ( )
Volume envolvendo o processo como um todo. Permite o cálculo das variáveis da corrente
Balanço de Informações
Número de incógnitas:
Equações: Equações do balanço de massa por componente;
Equação do balanço de massa global;
Restrição em relação à composição;
Em função da dependência linear entre as equações
de balanço dos componentes e a global;
Equações independentes:
Graus de Liberdade:
Solução:
̇ ⁄
Balanço global: ̇
Balanço componente 1: ̇
Restrições:
Volume de Controle 2: ( )
Solução:
̇ ⁄
Balanço global: ̇
Balanço componente 1: ̇
Restrições:
Volume de Controle 3: ( )
Volume envolvendo o misturador. Permite o cálculo das variáveis da corrente desde que as
variáveis da corrente já tenham sido determinadas.
Solução:
̇ ⁄
Balanço global: ̇
Balanço componente 1: ̇
Restrições:
Observações:
ii) Conforme pode ser observado é grande o número de volumes de controles possíveis. Assim,
deve-se ter cuidado quando se escolhe o procedimento simultâneo para não se escrever um
número de equações maior do que o necessário.
5.6.1 By-pass
O fluido que passa por uma corrente de by-pass não atravessa o(s) equipamento(s)
posicionado(s) na direção principal do processo entre o início do by-pass e o seu retorno para a
corrente principal (vide figura abaixo). As correntes de by-pass, são originadas em um divisor
de correntes e terminam em um misturador.
5.6.2 Reciclo
A corrente de reciclo é uma corrente que retorna parte ou a totalidade da massa de um ponto
avançado do processo para outro em uma posição pela qual esta massa já tenha passado. Uma
representação esquemática de uma corrente de reciclo é apresentada na figura abaixo. Note
que a corrente de reciclo nasce em um ponto de divisão que não necessariamente é um divisor
de corrente. Muitas vezes a sua origem é em um equipamento de separação, o que trás como
consequência que a sua composição é diferente da composição das outras correntes que saem
de tal equipamento.
5.6.3 Purga
A corrente de purga é uma corrente que é retirada de outra e é descartada. Seu objetivo é
promover o descarte de substâncias que, sem a purga, iriam se acumular, principalmente em
circuitos de reciclo.
5.6.4 Make-up
A corrente de make-up é a corrente que repõe perdas em um circuito fechado. Seja, por
exemplo, o circuito de água de resfriamento em uma planta de processos. Este circuito
disponibiliza água, a temperatura ambiente, para retirar energia de qualquer ponto do
processo. Ele é formado, principalmente, por uma bomba, que joga a água fria para o
processo, e por uma coluna de resfriamento, que recebe a água aquecida que sai do processo
Outros processos que operação com circuitos fechados são processos de extração por
solvente. Neste caso o solvente está presente para servir de agente extrator, não podendo sair
junto com o produto. Assim, após fazer a extração (retirar de uma matriz a substância
desejada) o solvente é separado da substância de interesse e reciclado. As perdas de solvente
são repostas através de uma corrente de make-up.
Problemas envolvendo estas correntes são resolvidos de forma análoga aos problemas com
múltiplas unidades apresentados no item anterior. Especial atenção deve ser dada às correntes
de reciclo, pois elas retornam informações de mudanças efetuadas ao longo do processo para
o seu ponto inicial.
5.7 Atividades
Examinar os exemplos:
o Himmelblau & Riggs (4.1 até 4.7)
o Sikdar (3.1 até 3.29)
o Felder & Rousseau (4.4.1, 4.4.2, 4.5.1, 4.5.2).
Exercícios:
o Himmelblau & Riggs (4.1.4, 4.1.10, 4.1.25)
o Felder & Rousseau (4.28, 4.34).
Uma equação estequiométrica válida deve estar balanceada, isto é, o número de átomos de
cada espécie atômica deve ser o mesmo nos dois lados da equação, pois não há geração nem
destruição de átomos em uma reação química.
Note que a relação indicada nas equações estequiométricas é em base molar. Então, não
necessariamente o número total de moles dos reagentes é igual ao dos produtos, como ocorre
em relação à massa total. É possível haver um aumento ou uma diminuição do número de
moles totais em uma reação química. Isto pode ser visto na reação em análise:
( ) ⁄
( ) ⁄
( ) ⁄
Reagentes: ( ) no total;
Produto: ( ) no total.
A razão estequiométrica entre duas substâncias que participam de uma reação química é a
razão entre os seus respectivos coeficientes estequiométricos, estando a equação balanceada.
A razão estequiométrica pode ser utilizada como um fator de conversão que permite calcular a
quantidade de um reagente (ou produto) que é consumido (ou produzido), quando é fornecida
uma quantidade de outro composto que participa da reação.
Exemplo:
( ) ( )
Note que como as equações estequiométricas são escritas em base molar, cálculos envolvendo
reações químicas são mais diretos nesta base. Assim, no exemplo anterior, antes de fazer o
cálculo do consumo de oxigênio, a informação fornecida foi passada para a base molar através
da utilização da massa molar do . Obtido o resultado, em base molar, novamente a massa
molar do é utilizada para se conhecer a resposta em termos mássicos.
É comum situações nas quais as reações químicas são conduzidas com a introdução de
reagentes em quantidades diferentes daquelas indicadas pela estequiometria da reação.
Assim, aparecem os conceitos de reagente limite e reagente em excesso. Reagente limite é
aquele que se encontra no meio reacional em menor quantidade, em termos
estequiométricos. Todos os outros reagentes são chamados de reagentes em excesso. Note
que em função da própria definição, se a reação for conduzida até o final, o reagente limite é o
que desaparece primeiro.
Podemos identificar facilmente o reagente limite em um meio reacional calculando uma razão,
para cada reagente, entre o número de moles efetivamente adicionados e o número de moles
estequiometricamente necessários. Esta razão apresentará o menor valor para o reagente
limite.
Verificamos então que o é o reagente limite nestas condições, apesar de haver a adição de
um número de moles superior desta substância. Isto ocorre pois a reação necessita de um
número de moles maior desta substância.
( )
( )
Exemplo Ilustrativo
Solução:
| de
| de
| | |
|
|
então reagem:
| | |
|
| |
|
|
|
Na maioria dos processos os reagentes formam o produto desejado em uma reação simples.
Entretanto, os reagentes normalmente também se combinam em outras rotas químicas, assim
como o produto formado também pode reagir formando produtos indesejáveis. O resultado
líquido destas reações paralelas (laterais) é a perda de reagentes, ou seja, uma perda
econômica. Em outras palavras, nem todo o reagente alimentado é convertido no produto
desejado. Parte é gasta, irreversivelmente, nestas reações paralelas.
O rendimento pode ser representado em relação a duas referências: (i) alimentação do reator
( ) e (ii) consumo de reagente ( ). As respectivas definições são:
Outro fato que deve ser ressaltado é que as definições destes parâmetros cinéticos são
baseadas em números de moles. Assim, cálculos efetuados na base mássica normalmente
geram resultados errados! Somente em situações onde todos os termos das equações de
definição envolvem dados relativos a um mesmo componente, como por exemplo, a
conversão, cálculos efetuados na base mássica levam ao mesmo resultado dos efetuados na
base molar.
Exemplo Ilustrativo
As reações:
Inertes
Inertes
a) A conversão do .
c) A seletividade do em relação ao .
Solução:
| |
|
|
|
|
| |
Seletividade do relativa ao :
|
|
* + * + * +
Solução:
A equação está balanceada e não há problemas de unidades. Pela estequiometria, quando são
formados , reagem e também são formados .
̇ ̇
Solução:
Equação envolvida:
Estas conversões podem ser apresentadas em termos de porcentagens. Veja que, em uma
reação , apesar de do reagente ( ) ser consumido ao passar pelo reator, ele é
recuperado completamente através do reciclo. Neste exemplo, a conversão no reator é de
e a conversão global é de , pois a quantidade de que sai do processo é nula.
Exemplo ilustrativo
O processo deve ser projetado para uma conversão global de do propano. Os produtos
da reação são separados em duas correntes: a primeira, contendo , e de
, deixa o processo e é considerado o produto; a segunda contém o restante do não
reagido e do propeno da corrente de produto, e é reciclada, sendo misturada a carga
fresca do reator.
a) a composição do produto;
Solução:
Base de cálculo:
( )
Composição do produto é:
( ) ( ) ( )
A conversão no reator:
6.5 Atividades
Examinar os exemplos:
o Himmelblau & Riggs (5.1 até 5.14)
o Sikdar (4.1 até 4.50)
o Felder & Rousseau (4.6.1, 4.6.2, 4.6.3, 4.7.1, 4.7.2, 4.7.3, 4.8.1, 4.8.2, 4.8.3, 4.8.4,
4.9.1).
Exercícios:
o Himmelblau & Riggs (5.1.8, 5.2.4, 5.3.3, 5.5.13)
o Felder & Rousseau (4.50, 4.60).
BIBLIOGRAFIA
Pellegrini, Mach e Costa. Apostila Introdução aos Processos Químicos. UFRJ, 2001.
Felder & Rousseau. Elementary Principles of Chemical Processes. 3 ed., 2005.
Himmelblau & Riggs. Basic Principles and Calculations in Chemical Engineering. 8
ed., 2012.
Lackner. Chemical engineering vocabulary, 2 ed., 2014
Sikdar. Chemical Process Calculations, 2013.