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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS

CÂMPUS CET
CURSO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA

CULTURA DA CANA-DE-ÁÇÚCAR

Professor: Dr. Itamar Rosa Teixeira

ANÁPOLIS-GO
2021
INTRODUÇÃO

A importância da cana de açúcar pode ser atribuída à sua múltipla utilização, podendo
ser empregada in natura, sob a forma de forragem, para alimentação animal, ou como matéria
prima para a fabricação de rapadura, melado, aguardente, açúcar e álcool.
Na safra 2020/21 a produção nacional foi de 654 milhões de toneladas de cana-de-
açúcar. São Paulo é o principal estado produtor de cana-de-açúcar, produzido mais da metada
do total de cana no país, seguido por outros importantes estados produtores como Goiás, Minas
Gerais, Paraná, Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Alagoas.
O Brasil continua sendo líder mundial neste mercado de exportações de açúcar. Os
principais importadores de açúcar do Brasil são: Rússia, Estados Unidos, Alemanha, Japão e
outros.
É interessante lembrar que a Europa até 1976 era a principal importadora de açúcar. A
partir de então, passou de importador a exportador, competindo no mercado externo com a
produção de açúcar de beterraba com elevadíssimos subsídios e proteções ao seu mercado
interno.
Elevados subsídios tem sido também proporcionados a produção de açúcar de milho
(HFCS, frutose de milho) nos Estados Unidos. Outro produto que tem competido com o açúcar
são os adoçantes sintéticos.
Desde a implantação do Proálcool – Programa nacional de álcool, em 1975, o Brasil se
tornou o primeiro país do mundo a desenvolver um programa de combustível alternativo para
uso em grande escala, em substituição à gasolina.
Também é importante ressaltar que o Proálcool revelou uma multiplicidade de benefícios
muito além dos aspectos puramente econômicos. Uma série de transformações de caráter
tecnológico, ambiental e social foram desencadeadas.
O consumo do álcool hidratado vem diminuindo bastante ao longo dos últimos anos. Já o
álcool anidro, que é misturado à gasolina, tem aumentado seu consumo.
A legislação atual determina que 25% de álcool anidro seja misturado à gasolina.
Entretanto este percentual tem sido alterado mediante medidas provisórias conforme interesse
político do governo federal. Há propostas de se aumentar a mistura 3% de álcool anidro no
diesel. Há também segmentos do setor que propõem a produção de um combustível único, isto
é, gasolina com 33% de álcool anidro.

BOTANICA E ORIGEM

A cana é pertencente a Classe: Monocotyledoneae; Família: Poaceae; Gênero:


Saccharum.
Originária do sudeste da Ásia, onde é cultivada desde épocas remotas, a exploração
canavieira assentou-se, no início, sobre a espécie S. officinarum. O surgimento de várias
doenças e de uma tecnologia mais avançada exigiram a criação de novas cultivares, as quais
foram obtidas pelo cruzamento da S. officinarum com as outras quatro espécies do gênero
Saccharum (S. robustum, S. sinense, S. barberi e S. spontaneum), posteriormente, através de
recruzamentos com as ascendentes.
Os trabalhos de melhoramento persistem até os dias atuais e conferem a todas os
genótipos em cultivo uma mistura das cinco espécies originais e a existência de cultivares ou
variedades híbridas.
A seguir são feitas algumas considerações a respeito das características de cada
espécie citada acima:
a) Saccharum officinarum L.
. Canas nobres ou canas tropicais
. Elevado teor de açúcar, porte alto, colmos grossos, baixo teor de fibra.
. Normalmente exigentes em clima e solo e muito sensíveis a doenças, como o mosaico.
. Exemplo: Caiana, Preta e Manteiga.
b) Saccharum spontaneum L.
. Colmos curtos e finos, fibrosos, praticamente sem açúcar
. Sistema radicular bem desenvolvido, perfilhamento vigoroso e abundante.
. Plantas muito rústicas e resistentes ao mosaico
c) Saccharum sinense Roxb.
. Porte elevado, colmos finos e fibrosos, baixo teor de açúcar, raízes abundantes e
fortes.
. Boa adaptabilidade a diferentes tipos de solo e clima
. Exemplo: Cana Ubá
d) Saccharum barberi Jeswiet.
. Porte médio a baixo, colmos finos, fibrosos, pobres em açúcar.
. Plantas rústicas, embora suscetíveis ao mosaico.
. Exemplo: 'Chunnee', variedade típica da espécie.
e) Saccharum robustum Brandes & Jeswiet ex Grassl.
. Colmos altos (de até 10m), espessos, fibrosos, pobre em açúcar
. Suscetível ao mosaico
. Há evidências históricas de que S. officinarum originou-se desta espécie.
. Apresenta boa adaptação a solos com elevado teor de umidade, tolerando condições
alagadas
f) Saccharum edule Hassk
. Olerícola tradicional dos melanésios
. Possui inflorescência compacta e comestível
. Cultivadas nos jardins na Nova Guiné e Ilhas Fiji
. É bem divergente geneticamente da S. offinarum, não sendo portanto, utilizado em programas
de melhoramento.

As cultivares de cana atualmente em cultivo em todo o mundo são híbridos, oriundos da


mistura das cinco espécies acima descritas, portanto, o correto será referir a nomeclatura
taxonômica como Saccharum ssp.

CLIMA E SOLO

A cana-de-açúcar é cultivada numa extensa área territorial, compreendida entre os


paralelos 35º de latitude Norte e Sul do Equador, apresentando melhor comportamento nas
regiões quentes. O clima ideal é aquele que apresenta duas estações distintas, uma quente e
úmida, para proporcionar a brotação, perfilhamento e desenvolvimento vegetativo, seguido de
outra fria e seca, para promover a maturação e conseqüente acumulo de sacarose nos colmos.
Solos profundos, bem estruturados, férteis e com boa capacidade de retenção de
umidade são os ideais para a cana-de-açúcar que, devido à sua rusticidade, se desenvolve
satisfatoriamente em solos arenosos e menos férteis, como os de cerrado. Solos rasos, isto é,
com camada impermeável superficial ou mal drenados, não devem ser indicados para a cana-
de-açúcar.
Para trabalhar com segurança em culturas semi-mecanizadas, que constituem a maioria
das nossas explorações, a declividade máxima deverá estar em torno de 15% ; declividade
acima desse limite apresentam restrições às práticas mecânicas.
Para culturas mecanizadas, com adoção de colheitadoras automotrizes, o limite máximo
de declividade cai para 8 a 10%.

ÉPOCAS DE CULTIVO

O Centro - Sul e o Nordeste se destaca como as regiões brasileiras maiores produtoras


de cana. Na primeira região predomina o cultivo da cana de ano e meio visando atende o setor
sucroalcooleiro, sendo o plantio em jan/fev/mar/abril. Neste caso, o ciclo da cultura se dá em 18
a 22 meses. Nesta região existe ainda, o cultivo da cana de ano, com o plantio em
outubro/novembro e o ciclo se fechando entre 12 a 14 meses ou as vezes menos, e que é
produzida visando a produção de forragem e cana para produção de cachaça. Por outro lado, no
Nordeste a plantio se concentra nos meses chuvosos, ou seja, junho a setembro, sendo o ciclo
também de 12 meses.

PREPARO DO TERRENO

Tendo a cana-de-açúcar um sistema radicular profundo (até 1,0 m), um ciclo vegetativo
econômico de cinco e seis anos ou mais e uma intensa mecanização que se processa durante
esse longo tempo de permanência da cultura no terreno, o preparo do solo deve ser profundo e
esmerado. Convém salientar que as unidades sucroalcooleiras não seguem uma linha uniforme
de preparo do solo, tendo cada uma seu sistema próprio, variação essa que ocorre em função do
tipo de solo predominante e da disponibilidade de máquinas e implementos.
No preparo do solo, temos de considerar duas situações distintas: - a cana vai ser
implantada pela primeira vez; - o terreno já se encontra ocupado com cana.
No primeiro caso, faz-se uma aração profunda, com bastante antecedência do plantio,
visando à destruição, incorporação e decomposição dos restos culturais existentes, seguida de
gradagem, com o objetivo de completar a primeira operação. Em solos argilosos é normal a
existência de uma camada impermeável, a qual pode ser detectada através de trincheiras
abertas no perfil do solo, ou pelo penetrômetro.
Constatada a compactação do solo, seu rompimento se faz através de subsolagem, que
só é aconselhada quando a camada adensada se localizar a uma profundidade entre 20 e 50 cm
da superfície e com solo seco.
Nas vésperas do plantio, faz-se nova gradagem, visando ao acabamento do preparo do
terreno e à eliminação de plantas daninhas.
Na segunda situação, onde a cultura da cana já se encontra instalada, o primeiro passo
é a destruição da soqueira, que deve ser realizada logo após a colheita. Essa operação pode ser
feita por meio de aração rasa (15-20 cm) nas linhas de cana, seguidas de gradagem ou através
de gradagem pesada, visando incorporar os restos vegetais ao solo.
Se confirmada a compactação do solo, a subsolagem torna-se necessária. Nas vésperas
do plantio procede-se a uma aração profunda (20-30 cm), por meio de arado ou grade pesada.
Seguem-se as gradagens necessárias, visando manter o terreno destorroado e apto ao plantio.
Devido à facilidade de transporte, à menor regulagem e ao maior rendimento
operacional, há uma tendência das grades pesadas substituírem o arado.
Hoje em algumas áreas de cana já se emprega o cultivo mínimo, sendo comumente
utilizado o herbicida (Glifosate - 4 a 5 L/ha) em jato dirigido sobre a linha brotada de cana com 50
a 60 cm de altura. Feita a dessecação, em seguida procede-se o sulcamento e adubação nas
entre linhas e o novo plantio.
PLANTIO

Há três técnicas de plantio no Brasil (manual, semi-mecanizada e mecanizada), sendo


predominante nas áreas de usinas e destilarias o sistema semi-mecanizado pelo sistema de
banqueta, conforme pode ser visto na Figura 1.

Sistema banqueta de plantio Picação dos toletes


FIGURA 1. Esquema de plantio manual pelo sistema de banquetas.

Neste sistema a operação é realizada a partir da carroceria do caminhão com


lançamento manual da cana inteira no sulco. Abrem-se seis sulcos e deixam-se dois sem abrir,
por onde o caminhão vai passar. Seis pessoas, de cima do caminhão, distribuem as mudas,
sendo que os sulcos próximos ao caminhão recebem o dobro da quantidade de mudas que são
utilizadas no sulco que será feito no local da passagem do caminhão. Levam oito sulcos por vez.
Com carroça, dois sulcos por vez.
8 sulcos de plantio
1 2 3 4 5 6 7 8

L L
L L
L L

A A A A
TRATOR
P P P P

A A

P P

F
L – Lançam a cana no sulco, A – Acertam a cana no sulco, P – Picam a cana no sulco, F – Fiscal
PLANTIO

Existem duas épocas de plantio para a região Centro-Sul: outubro-novembro e janeiro a


abril. Outubro-novembro não é a época mais recomendada, sendo indicada em casos de
necessidade urgente de matéria prima, quer por recente instalação ou ampliação do setor
industrial, quer por comprometimento de safra devido à ocorrência de adversidade climática.
Plantios efetuados nessa época propiciam menor produtividade e expõem a lavoura à maior
incidência de plantas daninhas, pragas, assoreamento dos sulcos e retardam a próxima colheita.
Além disso, é a época utilizada para plantio da cana que se destina a produção de forragem e de
aguardente.
O plantio da cana de "ano e meio" é feito de janeiro a abril, sendo o mais recomendado
tecnicamente. Além de não apresentar os inconvenientes da outra época, permite um melhor
aproveitamento do terreno com plantio de outras culturas. Em regiões onde as chuvas se
prolongam um pouco mais, essa época pode ser estendida para os meses subseqüentes, desde
que haja umidade suficiente, ou que se faça uso de irrigação.
O espaçamento entre os sulcos de plantio é de 1,50 m, sua profundidade de 20 a 30 cm,
tendo a largura proporcionada pela abertura das asas do sulcador num ângulo de 45º, com
pequenas variações para mais ou para menos, dependendo da textura do solo.
Os colmos com idade de 10 a 12 meses são colocados no fundo do sulco, sempre
colocando as canas paralelamente, e picados, com podão, em toletes com três a quatro gemas.
A densidade do plantio é em torno de 16 a 18 gemas por metro linear de sulco, que,
dependendo da cultivar e do seu desenvolvimento vegetativo, corresponde a um gasto de 13-15
toneladas por hectare.
Os toletes são cobertos com uma camada de terra em torno de 7 cm, devendo ser
ligeiramente compactada. Dependendo do tipo de solo e das condições climáticas reinantes,
pode haver uma variação na espessura dessa camada.

PRODUÇÃO DE MUDAS

Após, em média, cinco ou seis cortes consecutivos, a lavoura canavieira precisa ser
renovada. A taxa de renovação está ao redor de 15 a 20% da área total cultivada, exigindo
grandes quantidades de mudas. A boa qualidade das mudas é o fator de produção de mais baixo
custo e que maior retorno econômico proporciona ao agricultor, principalmente quando produzida
por ele próprio.
Para a produção de mudas, há necessidade de que o material básico seja de boa
procedência, com idade de 12 a 14 meses, sadio, proveniente de cana-planta ou primeira soca e
que tenha sido submetido ao tratamento térmico.
A tecnologia empregada na produção de mudas é praticamente a mesma dispensada à
lavoura comercial, apenas com a introdução de algumas técnicas fitossanitárias, tais como:
- Desinfecção do podão - o podão utilizado na colheita de mudas e no seu corte em
toletes, quando contaminado, é um violento propagador da escaldadura e do raquitismo.
Antes e durante estas operações deve-se desinfetar o podão, através de álcool, formol,
lisol, cresol ou fogo. Uma desinfecção prática, eficiente e econômica é feita pela imersão
do instrumento numa solução com creolina a 10% (18 litros de água + 2 litros de
creolina) durante meia hora, antes do início da colheita das mudas e do corte das
mesmas em toletes. Durante essas duas operações, deve-se mergulhar, freqüente e
rapidamente, o podão na solução.
 Vigilância sanitária e "roguing" - formando o viveiro, torna-se imprescindível a
realização de inspeções sanitárias freqüentes, no mínimo uma vez por mês. A
finalidade dessas inspeções é a erradicação de toda touceira que exiba sintoma
patológico ou características diferentes da variedade em cultivo.

Além dessas duas medidas fitossanitárias, algumas recomendações agronômicas


devem ser levadas em consideração, como a despalha manual das mudas, menor densidade
das mudas dentro do sulco e maior parcelamento do fertilizante nitrogenado.

- Rotação de culturas - durante a reforma do canavial, no período em que o terreno


permanece ocioso, deve-se efetuar o plantio de culturas de ciclo curto, em rotação com
a cana-de-açúcar. Amendoim e soja são as mais indicadas.

Além dos conhecidos benefícios agronômicos proporcionados pela rotação de culturas, a


cana-de-açúcar permite a consorciação com outra cultura, aproveitando o terreno numa época
em que estaria ocioso, proporcionando melhor aproveitamento de máquinas e implementos. A
implantação da cultura é feita sem gasto financeiro correspondente ao preparo do solo, havendo
menor exposição do terreno à erosão e às plantas daninhas e diminuição da sazonalidade de
empregos.

CULTIVARES

Um dos pontos que merece especial atenção do agricultor é a escolha do cultivar para
plantio. Isso não só pela sua importância econômica, como geradora de massa verde e riqueza
em açúcar, mas também pelo seu processo dinâmico, pois anualmente surgem novas materiais,
sempre com melhorias tecnológicas quando comparadas com aquelas que estão sendo
cultivadas. Dentre as várias maneiras para classificação dos cultivares de cana, a mais prática é
quanto à época da colheita. Quando colhidas nos meses de abri/maio são denominadas de
precoce, colhidas entre aos meses de junho a agosto são chamadas de médias, enquanto que
aquelas colhidas em setembro a novembro de tardias.
Atualmente os cultivares mais indicados para região Centro-Sul: para início de safra -
precoces: SP80-3250, SP80-1842, RB76-5418, RB83-5486, RB85-5453 e RB83-5054; para meio
de safra - médias: SP79-1011, SP80-1816, RB85-5113 e RB85-5536 e para fim de safra -
tardias: SP79-1011, SP79-2313, SP79-6192, RB72-454, RB78-5148, RB80-6043 e RB84-5257
A RB72-454 é a cultivar mais plantada no Brasil, ocupando atualmente 18% da área
plantada.

CALAGEM A ADUBAÇÃO

Calagem

A necessidade de aplicação de calcário é determinada pela análise química do solo,


devendo ser utilizado para elevar a saturação por bases a 55%. Se o teor de magnésio for baixo,
dar preferência ao calcário dolomítico.
O calcário deve ser aplicado o mais uniforme possível sobre o solo. A época mais
indicada para aplicação do calcário vai desde o último corte da cana, durante a reforma do
canavial, até antes da última gradagem de preparo do terreno. Dentro desse período, quanto
mais cedo executada maior será sua eficiência.
Adubação

Para a cana de açúcar há a necessidade de considerar duas situações distintas,


adubação para cana-planta e para soqueiras, sendo que, em ambas, a quantificação será
determinada pela análise do solo.
Para cana-planta, o fertilizante deverá ser aplicado no fundo do sulco de plantio, após a
sua abertura, ou por meio de adubadoras conjugadas aos sulcadores em operação dupla.
No quadro a seguir são indicadas as quantidades de nitrogênio, fósforo e potássio a
serem aplicadas com base na análise do solo e de acordo com a produtividade esperada.

Adubação mineral de plantio


Produtividade P resina, mg/dm³
Nitrogênio
esperada 0 - 6 7 - 15 16 - 40 >40
t/ha N, kg/ha P2O5, kg/ha
<100 30 180 100 60 40
100 - 150 30 180 120 80 60
>150 30 * 140 100 80

K+ trocável, mmolc/dm³
Produtividade esperada
0 - 0,7 0,8 - 1,5 1,6 - 3,0 3,1 - 6,0 >6,0
t/ha K2O, kg/ha
<100 100 80 40 40 0
100 - 150 150 120 80 60 0
>150 200 160 120 80 0
* Não é provável obter a produtividade dessa classe, com teor muito baixo de P no solo
Fonte: Boletim Técnico 100 IAC, 1996.

Aplicar mais 30 a 60 kg/ha de N, em cobertura, durante o mês de abril; em solo arenoso


dividir a cobertura, aplicando metade do N em abril e a outra metade em setembro - outubro.
Adubações pesadas de K2O devem ser parceladas, colocando no sulco de plantio até
100 kg/ha e o restante juntamente com o N em cobertura, durante o mês de abril.
Para soqueira, a adubação deve ser feita durante os primeiros tratos culturais, em
ambos os lados da linha de cana; quando aplicada superficialmente, deve ser bem misturada
com a terra ou alocada até a profundidade de 15 cm.
Na adubação mineral da cana-soca aplicar as indicações do quadro a seguir,
observando os resultados da análise de solo e de acordo com a produtividade esperada.

Adubação mineral da cana-soca


Produtividade P resina, mg/dm³ K+ trocável, mmolc/dm³
Nitrogênio
esperada
0-15 > 15 0,15 1,5-3,0 > 3,0
t/ha N, kg/ha P2O5, kg/ha K2O, kg/ha
< 60 60 30 0 90 60 30
60 - 80 80 30 0 110 80 50
80 - 100 100 30 0 130 100 70
> 100 120 30 0 150 120 90
Fonte: Boletim Técnico 100 (1996).
Aplicar os adubos ao lado das linhas de cana, superficialmente e misturado ao solo, no
máximo a 10 cm de profundidade.
Se for constatada deficiência de cobre ou de zinco, de acordo com a análise do solo,
aplicar os nutrientes com a adubação de plantio, nas quantidades indicadas a seguir:

Zinco no solo Zn Cobre no solo Cu


mg/dm³ kg/ha Mg/dm³ kg/ha
0-0,5 5 0-0,2 4
> 0,5 0 > 0,2 0
Fonte: Boletim Técnico 100 (1996).

Uso de Resíduos da Agroindústria Canavieira

Atualmente há uma tendência em substituir a adubação química das socas pela


aplicação de vinhaça, cuja quantidade por hectare esta na dependência da composição química
da vinhaça e da necessidade da lavoura em nutrientes.
Os sistemas básicos de aplicação são por infiltração, por veículos e aspersão, sendo
que cada sistema apresenta modificações.
A torta de filtro (úmida) pode ser aplicada em área total (80-100 t/ha), em pré-plantio, no
sulco de plantio (15-30 t/ha) ou nas entrelinhas (40-50 t/ha). Metade do fósforo aí contido pode
ser deduzido da adubação fosfatada recomendada. (Boletim Técnico 100 IAC, 1996)

TRATOS CULTURAIS

Os tratos culturais na cana-planta limitam-se apenas ao controle das invasoras,


adubação em cobertura e adoção de uma vigilância fitossanitária para controlar a incidência do
carvão. No que concerne à adubação em cobertura, já foi visto no item adubação e a vigilância
fitossanitária será comentada em doenças e seu controle.
O período crítico da cultura, devido à concorrência de invasoras, vai da emergência aos
100 dias de idade, aproximadamente.
O controle mais eficiente as plantas daninhas, nesse período, é o químico, através da
aplicação de herbicidas em pré-emergência, logo após o plantio e em área total. Dependendo
das condições de aplicação, infestação da gleba e eficiência do praguicida, há necessidade de
uma ou mais capinas mecânicas e catação manual até o fechamento da lavoura. A partir dai a
infestação de invasoras é praticamente nula.
A seguir é mostrado na Tabela 1 ao principais herbicidas utilizados na cana-de-açúcar.
TABELA 1. Herbicidas mais utilizados no setor sucroalcooleiro.
Nome técnico Nome comercial
2,4 D 2,4 D. Aminol, Deferon, Dontor, Herbamina, Tento, Tordon, U 46 D - Fluid.
Atrazine Atrazinax 500
Atrazine+simazine Primatop
Bromacil+diuron Krovar
Clomazone Gamit
Clomazone+ametrina Sinerge
Diuron Cention SC, Diuron, Herburon, Karmex
Glifosate Gliz, Agrisato, Glifosato, Roundup, Trop
Halosulfuron Sempra
Hexazinone+diuron Advance, Velpar K
Imazapyr Contain
Isoxaflutole Provence
MSMA Daconate, Dessecan, MSMA, Volcane
MSMA+diuron Fortex SC
Oxyfluorfen Goal BR
Cont.....
Paraquat Gramoxone, Paraquat
Pendimethalin Herbadox
Simazine+ametrine Topeze SC
Sulfentrazone Boral
Sulfosate Zapp
Tebuthiuron Combine 500 SC, Perflan, Tebuthiuron
Trifluralina Premerlin 600CE, Trifluralina

Alguns cuidados adicionais com o uso de herbicidas em cana devem ser observados.

Estágio da cultura Método de aplicação


Pré-emergência ao estágio de esporão Área total

2 a 3 folhas (±30 dias após a germinação) Em área total, observar condições climáticas, variedades
e herbicidas

±60 dias após a germinação Aplicação em jato dirigido, evitar aplicação de herbicidas
sobre a gema apical

Vale ressalta-se ainda, que não há distinção entre os herbicidas recomendados para
cana planta e soca.
Outro método é a combinação de capinas mecânicas e manuais. Instalada a cultura,
após o surgimento do mato, procede-se seu controle mecanicamente, com o emprego de
cultivadores de disco ou de enxadas junto às entrelinhas, sendo complementado com capina
manual nas linhas de plantio, evitando, assim, o assoreamento do sulco. Essa operação é
repetida quantas vezes forem necessárias; normalmente três controles são suficientes.
As soqueiras exigem enleiramento do "paliço", permeabilização do solo, controle das
invasoras, adubação e vigilância sanitária.
Após a colheita da cana, ficam no terreno restos de palha, folhas e pontas, cuja
permanência prejudica a nova brotação e dificulta os tratos culturais. A maneira de eliminar esse
material (paliço) seria a queima pelo fogo, porém essa prática não é indicada devido aos
inconvenientes que ela acarreta, como falhas na brotação futura, perdas de umidade e matéria
orgânica do solo e quebra do equilíbrio biológico.
O enleiramento consiste no amontoamento em uma rua do "paliço" deixando duas,
quatro ou seis ruas livres, dependendo da quantidade desse material. É realizado por enleiradora
tipo Lely, implemento leve com pouca exigência de potência.
Após a retirada da cana, o solo fica superficialmente compactado e impermeável à
penetração de água, ar e fertilizantes. Visando à permeabilização do solo e controle da
comunidade infestante inicial, diversos métodos e implementos podem ser usados.
Existem no mercado implementos dotados de hastes semi-subsoladoras ou
escarificadoras, adubadoras e cultivadores que realizam simultaneamente, operações de
escarificação, adubação, cultivo e preparo do terreno para receber a capinas química.
Normalmente, essa prática, conhecida como operação tríplice, seguida do cultivo químico, é
suficiente para manter a soqueira no limpo.
Além desse sistema, o emprego de cultivadores ou enxadas rotativas com tração animal
ou mecânica apresenta bons resultados. Devido ao rápido crescimento das soqueiras, o número
de capinas exigidas é menor que o da cana planta.

PRAGAS E DOENÇAS E SEU CONTROLE

Pragas

A cana-de-açúcar é atacada por cerca de 80 pragas, porém pequeno número causa


prejuízos à cultura. Dependendo da espécie da praga presente no local, bem como do nível
populacional dessa espécie, as pragas de solo podem provocar importantes prejuízos, com
reduções significativas nas produtividades agrícola e industrial dessa cultura.
Diferentemente para as doenças, o controle biológico e cultural têm sido as principais
medidas de controle de pragas em cana-de-açúcar.
Na Tabela 2 estão relacionadas as principais pragas e o controle mais eficaz.

TABELA 2. Principais pragas da cana-de-açúcar.

Praga Ordem Forma de ataque Sintomas Controle mais eficaz


Broca do colmo Lepidoptera Galerias no Morte da gema apical, quebra Biológico
colmo (larvas) de colmos, brotação lateral, (Vespa-Cotesia flavipes)
ataque de fungos
Cigarrinha Homoptera Sugam seiva Amarelecimento Biológico
(adulto) (toxina) (Fungo-Metarhizium
anisophiae)
Formiga Hymenoptera Corte folhas Desfolha Termonebulização
Fipronil
Cupins Isoptera Galerias nos Reduz população de plantas, monitoramento da infestação,
(principal gênero toletes, colmos, danos aos toletes, colmos, controle químico-Fipronil,
– Heterotermes) rizomas, raízes. rizomas rotação de culturas-ex.soja,
irrigação, variedades
tolerantes.
Migdolus Coleóptera Galeria toletes Reduz população de plantas, Eliminação da soqueira,
danos aos rizomas. feromônio, inseticidas
Nematóides Tylenchida Raízes Galhas nas raízes quando Aração, rotação de culturas,
meloydogine nematicidas
Doenças

Para a cana-de-açúcar foram descritas mais de 216 doenças. Pelo menos 58 foram
encontradas em nosso País. Dentre estas cerca de 11 podem ser consideradas de grande
importância econômica no Brasil.
As doenças mais importantes (Tabela 3) são controladas pelo uso de variedades
tolerantes/resistentes. Contudo, isso não reduz a importância da doença pois basta expandir o
cultivo de variedades suscetíveis que a doença se manifestará causando perdas econômicas.
Em virtude do mecanismo de resistência horizontal, as variedades são capazes de
conviver com os causadores de doenças e tolerar sua presença sem apresentar perdas
econômicas. Este fato faz com que muitas vezes se encontre a doença na planta em condições
extremamente favoráveis, mas os sintomas desaparecem com o crescimento da planta. Porém o
desenvolvimento de variedades tolerantes às doenças e o patamar de produtividade da cultura
no Brasil não ocorreu por acaso. Isso só foi possível devido o sucesso do melhoramento
genético da cultura.

TABELA 3. Principais doenças da cana-de-açúcar.

Doença Agente Formas de Sintomas mais evidentes Controle mais eficaz


causal transmissão
Escaldadura das folhas Bactéria Mudas, corte Estrias brancas, brotação Variedade tolerante e mudas
lateral sadias
Raquitismo da soqueira Bactéria Mudas, corte Entupimento de vasos, Variedade tolerante,
brotação de soca tratamento térmico
Mosaico Vírus Mudas, Mosaico nas folhas Variedade tolerante,
pulgões rouguing no viveiro
Carvão Fungo Mudas, vento Chicote Variedade tolerante,
Tratamento térmico,
rouguing no viveiro
Estria vermelha Bactéria Mudas Estrias vermelhas nas folhas, Variedade tolerante,
podridão da cana Evitar plantio em solos mais
férteis
Mancha ocular Fungo Vento Mancha com estrias Variedade tolerante
avermelhadas
Ferrugem Fungo Vento Queima das folhas Variedade tolerante
Mancha amarela Fungo Vento Manchas amarelas ou Variedade tolerante e não
vermelhas nas folhas florífera
Podridão vermelha Fungo Broca, chuva Podridão interna dos colmos Controle da broca e
variedade tolerante
Podridão abacaxi Fungo Inseto, solo Podridão com odor de abacaxi Época de plantio, mudas
e esporos pretos novas, plantio raso
Amarelecimento das folhas Variedade tolerante
Amarellinho1

No Brasil, o primeiro surto epidêmico foi observado há mais de 139 anos na Bahia
(1863), quando, devido à gomose, a cana Caiana teve que ser substituída por variedades
tolerantes, em virtude do enorme prejuízo causado pela doença. A partir de então, a substituição
de variedades suscetíveis por aquelas mais tolerantes tem ocorrido de tempos em tempos,
devido a surtos epidêmicos como a do mosaico na década de 20; escaldadura das folhas e
carvão na década de 40 e mais recentemente nos anos 80; e ferrugem a partir de 1986. Esses
fatos históricos e os riscos de introdução clandestina de outras doenças no Brasil, não deixam
dúvidas quanto à necessidade da constante busca por variedades mais tolerantes e produtivas
que se constituem a base da indústria do açúcar e álcool.
Outro aspecto importante a ser observado é o manejo das variedades. Conforme o clima se
sabe que a importância relativa das doenças é alterada. Como não existe a variedade perfeita,
produtiva e tolerante às todas doenças e pragas, o que se procura fazer é usar as variedades
que apresentam menor riscos de perdas econômicas em determinado local ou ambiente de
produção.

COLHEITA

A colheita inicia-se a partir de maio, e em algumas unidades sucroalcooleiras em abril,


prolongando-se até novembro, período em que a planta atinge o ponto de maturação, devendo,
sempre que possível, antecipar o fim da safra, por ser um período bastante chuvoso, que
dificulta o transporte de matéria prima e faz cair o rendimento industrial.

Maturadores Químicos

São produtos químicos que tem a propriedade de paralisar o desenvolvimento da cana


induzindo a translocação e o armazenamento dos açúcares. Vêm sendo utilizados como um
instrumento auxiliar no planejamento da colheita e no manejo varietal. Muitos compostos
apresentam, ainda, ação dessecante, favorecendo a queima e diminuindo, portanto, as
impurezas vegetais. Há uma ação inibidora do florescimento, em alguns casos, viabilizando a
utilização de cultivares com este comportamento.
Dentre os produtos comerciais utilizados como maturadores, podemos citar: Ethepon,
Polaris, Paraquat, Diquat, Glifosato e Moddus. Estudos sobre a época de aplicação e dosagens
vêm sendo conduzidos com o objetivo de aperfeiçoar a metodologia de manejo desses produtos,
que podem representar acréscimos superiores a 10% no teor de sacarose.

Determinação do Estágio de Maturação

O ponto de maturação pode ser determinado pelo refratômetro de campo e


complementado pela análise de laboratório. Com a adoção do sistema de pagamento pelo teor
de sacarose, há necessidade de o produtor conciliar alta produtividade agrícola com elevado teor
de sacarose na época da colheita.
O refratômetro fornece diretamente a porcentagem de sólidos solúveis do caldo (Brix). O
Brix esta estreitamente correlacionado ao teor de sacarose da cana.
A maturação ocorre da base para o ápice do colmo. A cana imatura apresenta valores
bastante distintos nesses seguimentos, os quais vão se aproximando no processo de maturação.
Assim, o critério mais racional de estimar a maturação pelo refratômetro de campo é pelo índice
de maturação (IM), que fornece o quociente da relação.

IM = Brix da ponta do colmo/Brix da base do colmo

Admitem-se para a cana-de-açúcar, os seguintes estágios de maturação:

IM Estágio de Maturação
< 0,60 cana verde
0,60 - 0,85 cana em maturação
0,85 - 1,00 cana madura
> 1,00 cana em declínio de maturação
As determinações tecnológicas em laboratório (brix, pol, açúcares redutores e pureza)
fornecem dados mais precisos da maturação, sendo, a rigor, uma confirmação do refratômetro
de campo.

Operação de Corte (manual e/ou mecanizada)

O corte pode ser manual, com um rendimento médio de 5 a 6 toneladas/homem/dia, ou


mecanicamente, através de colheitadoras. Existem basicamente dois tipos: colheitadoras para
cana inteira, com rendimento operacional médio em condições normais de 20 t/hora, e
colheitadoras para cana picada (automotrizes), com rendimento de 15 a 20 t/hora.
Após o corte, a cana-de-açúcar deve ser transportada o mais rápido possível ao setor
industrial, por meio de caminhão ou carreta tracionada por trator.

Rendimento Agrícola

Em relação à produtividade e região de plantio, observa-se que a produtividade está


estritamente relacionada com o ambiente de produção, e este é dado por padrão do solo, clima e
nível tecnológico aplicado.

Referencias bibliográficas

 DINARDO-MIRANDA, L.L.; VASCONCELOS, A.C.M.; LANDELL, M.G.A. Cana-de-açúcar.


Campinas: IAC, 2010. 882p.
 SEGATO, S.V.; PINTO, A.S.; JENDIROBA, E.; NÓBREGA, J.C.M. Atualização em
produção de cana-de-açúcar. (Org.). Piracicaba: CP 2, 2006. 415p.
 RIPOLI, T.C.C.; RIPOLI, M.L.C.; CASAGRANDI, D.V.; IDE, B.Y. Plantio de cana-de-
açúcar: estado da arte. Piracicaba: T.C.C. Ripoli, 2006. 216p.

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