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Cames - Projetos e Aplicações

Matheus Teixeira de Freitas Augusto do Nascimento


10 de dezembro de 2022

Resumo
A ideia de um Came parte da necessidade de transmissão de movimento e velocidade com possi-
bilidade de personalização do movimento cı́clico. Assim um Came pode gerar intervalos de repouso
das formas mais variadas de acordo com a necessidade do projeto. Com sua versatilidade de projeto
um Came pode criar movimentos alternados com intervalos de repouso justapostos que são dificeis
de reproduzir em outros mecanismos de transmissão de potência. Nesse trabalho apresentaremos
introdutoriamente os diferentes seguidores para came e os diferentes tipos de came, para em seguida
nos aprofundar nas questões pertinentes para projetar e modelar o came adequado para um projeto,
levando em considerações as diferentes possibilidades de objetivos.

1 Introdução
O Came por excelência é um mecanismo excêntrico de movimento giratório, que com o auxı́lio de um
seguidor transforma esse movimento em movimento linear alternado. Assim a energia vinda de um eixo
consegue ser transmitida com nuances próprias de projeto de acordo com o formato de came, em forma
de vai-vem com ou sem intervalos. ”O camo e seguidor é caro, mas é preciso e suporta repetição”(Norton,
2013, P.129) [3], por isso é utilizado amplamente na industria conforme a necessidade da aplicação e da
máquina. Os dois principais tipos de came tem sua diferença fundamentada na direção de rotação, sendo
um axial e outro radial, além dos diversos tipos de seguidores possı́veis para cames radiais que determinam
a movimentação coordenada do seguidor ao percorrer a curva do Came. Essa curva, determinada no
projeto, é a geometria axial ou radial do came, que ao ser percorrido pelo seguidor movimenta a haste
que transmite o movimento final. Um projeto de máquinas só tem sucesso quando seu produto final
é funcional, seguro, confiável, competitivo, e pŕoprio para ser usado (Shigley, 2016) [4], por isso as
variáveis de projeto deve ser escolhidas cuidadosamente para o sucesso funcional e comercial do mecanismo
final. Levando isso em conta os projetos de came levam em consideração principalmente seu perfil para
funcionalidade e o material adequado para a aplicação.

2 O Sistema Came-Seguidor
2.1 Classificação
A classificação mais primitiva de Came, é pela sua movimentação, ela podendo ser radial ou axial, como
mostrado na Figura 1. Mas também podem ser classificados, de acordo com Norton (2010) [2] pelo tipo de
came, pelo tipo da junta, pelo tipo da junta, tipo de seguidor, tipo de movimento crı́tico e pelo programa
de movimento esperado.
Os componentes principais do sistema Came-Seguidor são:

Figura 1: Norton (2010)[2]

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• Corpo do Came (Came em si, um corpo de geometria necessária para a curva objetivo)
• Seguidor (parte do elo que mantém contato direto com o came, acompanhando o movimento através
da meia junta),

• Meia junta (fenda que possibilita o seguidor manter a trajetória junto ao seguidor.
• Junta (transmite potência do eixo para o came)
Nos cames de tipo Axial, a rotação do eixo corre paralela a rotação do came onde o perfil de movimento
é determinado pela posição da meia junta na face curva do came. Dessa forma o movimento que o seguidor
será axial ao came e ao eixo. O principal problema desse came é a necessidade constante de lubrificação
na meia junta por se tratar dela principalmente que determina a posição retı́linea do seguidor. Nos cames
de tipo radial o eixo encontra-se transversal ao came, assim o movimento ocorre radialmente em relação
ao eixo e ao came.
A classificação quanto ao seguidor pode-se citar os mais comuns como os de face plana, face esférica
(cogumelo) e de tipo rolete (Figura 2). De acordo com a pesquisa feita por Samuel Vicente Francisco
(2016) [1], os de face plana possuem volume menor que os roletados tornando-os mais baratos para
confecção, porém os roletados possuem menor atrito, o que deve ser considerado para fins de projeto.

Figura 2: Norton (2010)[2]

3 Projeto
Os Cames apresentam formas das mais variadas, exatamente por ser essa uma de suas maiores vantegens:
a flexibilidade. O came é uma peça simples de mecanismo, que pode ser fabricada de diferentes formas,
tendo em vista seu custo. Um projeto de máquina envolve todo o contexto da aplicação e das máquinas
que vão se relacionar entre si, como podemos ver no desenho da Figura 3. Para Shigley (2016) [4], as
considerações de qualquer projeto devem envolver:

• Funcionalidade
• Resistência/tensão
• Distorção/deflexão/rigidez

• Corrosão
• Segurança
• Confiabilidade
• Fabricabilidade

• Utilidade
• Custo
• Atrito

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Figura 3: Figura da Internet

• Peso

• Vida
• Ruı́do
• Estilo
• Forma

• Tamanho
• Controle
• Propriedades técnicas
• Superfı́cie

• Lubrificação
• Mercantilidade
• Manutenção

• Volume
• Responsabilidade pelo produto
• Refabricação/recuperação de recursos

3.1 Material, Lubrificação e Corrosão


Podemos separar esses itens levando em consideração que a resistência/tensão, distorção/deflexão/rigidez,
corrosão, peso, propriedades técnicas e volume são caracterı́sticas quase exclusivamente de material, mas
também levam em conta as caracterı́sticas da necessidade de lubrificação e principalmente do produto a
ser usado para lubrificar. Já foi discutido que a maior necessidade de lubrificação parte da necessidade
de usar um came axial como mostra a lubrificação da Figura 4 com uma meia-junta bem demarcada
e alta precisão de translação. Os materiais mais comum para Came na industria variam nas grandes
possibilidades de ligas metálicas disponı́veis, sendo sua fabricação sendo feita usualmente por usinagem,
principalmente na parte final da peça. O material o qual será produzido e especificado o came influencia
não só no seu custo, peso e resistência estática como também em sua resistência a fadiga, que é um
grande diferencial dos cames sua alta resistência as trincas por fadiga, principalmente por não possuirem
soldas, que são os principais propagadores de trincas e concentradores de tensão. A natureza normalmente
simples e pequena de um came aumenta sua resistência e possibilidade de aplicação por grande perı́odo de

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Figura 4: Foto retirada do Youtube

tempo, sendo normalmente controlado através da velocidade que será girado e assim por sua resistência
a fadiga por alta ciclagem.
A escolha do material deve considerar também seu processo de fabricação principalmente pela questão
fundamental do atrito. Esse ponto também considera o tipo de seguidor, que tendo um rolete diminui o
atrito, porém um bom acabamento do perfil em que o seguidor irá percorrer garante uma facilidade de
contato que diminui o atrito. De acordo com a frequência de rotação, o material a ser usado no came e no
seguidor, seu tipo, e claro, o acabamento nos dois materiais definem também a necessidade da quantidade
de lubrificante a ser usado e seu impacto na corrosão do material tanto do came quanto do seguidor.
A questão de projeto mais importante na escolha de material e lubrificação é a determinação dos
esforços a que todo o sistema será submetido, principalmente o came (Figura 5). Dessa forma conseguimos
definir as tensões admissı́veis operacionais e a resistência necessária a fadiga se considerarmos uma vida
útil infinita. Dessa forma o material, o peso, o volume e outras caracterı́sticas fı́sicas irão se relacionar
com os esforços dinâmicos e estáticos aplicados no Came a ser projetado.

Figura 5: Determinação dos Esforços, Norton (2013)[3]

3.2 Geometria, Forma e Perfil


A questão de projeto mais contundente para a usabilidade e efetividade do uso do came em si será
seus atributos fı́sicos de geometria, forma e perfil. O movimento transmitido, a velocidade e o tranco
ocasionado pela transmissão do came para o seguidor deve ser parametrizado anteriormente no projeto a
fim de prever todo o percurso do seguidor. A parametrização matemática hoje é feita principalmente com o
auxı́lio de softwares computacionais capazes de plotar gráficos e curvas com muita precisão, melhorando a
efetividade da projeção e consolidando a necessidade de projeto. Um exelente trabalho foi disponibilizado
pela Universidade Federal de Pernambuco sob licença aberta onde é feito a modelagem de um Came
através da linguagem de programação Python em um repositório do GitHub em https://github.com/
Mecanismos-UFPE/Python-Cames (Figura 6)
O diagrama SVAP é um importante aliado que clarifica a rota e o movimento do seguidor em contato
ao Came. A posição dada pelo perfil do Came deve ser linearizada para se obter a posição caracterı́stica
do corpo do came em uma representação gráfica do perfil (Ver Figura 7).

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Figura 6: Estrutura de um came

Figura 7: Representação Gráfica do Movimento de um Came de Disco

Derivando essa equação teremos assim a velocidade e derivando novamente a aceleração. Podemos
aprofundar a análise e retirar também a informação de pulso ou solavanco. Com essas informações o
diagrama SVAP mapeia o comportamento de dado came a partir de sua geometria como podemos ver na
Figura 8.

Figura 8: Diagrama SVAP

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4 Conclusão
Após muitas considerações podemos perceber a importância de uma correta parametrização e da escolha
de fabricante com materiais confiáveis, tendo sempre em vista o processo de fabricação. Isso não exclui
a necessidade de um acabamento posterior de fresamento para retirada da rugosidade. Todas essas
considerações de projeto devem ser avaliadas tendo em vista o uso final da peça e as condições operacionais.
Os Cames hoje são usados amplamente na industria, principalmente em Motor de Combustão Interna
para fechar e abrir a válvula de saı́da e a válvula de admissão. Tipos automatizados de máquinas de
sistemas Came-seguidores são usados em diferentes peças que são automatizadas em movimento. Em
Sistemas Hidráulicos, o mecanismo principal é o mecanismo Came-Seguidor. Nesse caso, o mecanismo
depende da pressão do fluido. Em Máquinas de Impressão, o mecanismo de Came-Seguidor ajuda a tela a
ser impressa. O push ajuda a tomar a posição onde a impressão será feita e o pull ajuda a imprimir. Nas
industrias Têxteis de máquinas, o mecanismo Came-Seguidor ajuda a costurar roupas por um empurrão e
puxar para mover a máquina além dos tão famosos relógios de paredes que utilizam esse mecanismo. Com
essa vastidão de uso é normal também a vastidão de possibilidades de projetos que podemos encontrar
nesse tipo de mecanismo. Por isso é importante sempre ter um objetivo claro do que se deseja e a
materialidade das possibilidades de aquisição dentro do mercado disponı́vel de peças.

Referências
[1] S. V. F. Elias. Projeto Ótimo de um Mecanismo Came Seguidor. 2016.
[2] R. L. Norton. Projeto de Máquinas. 2010.

[3] R. L. Norton. Projeto de Máquinas. 2013.


[4] J. E. Shigley. Elementos de Máquina. 2016.

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