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1 Aprimorando em Clinica Médica e Cirúgica de Pequenos Animais do HOVET - UNIFEOB, São João da Boa Vista/SP.
2 Professor Orientador da área de Clinica Médica de Pequenos Animais na UNIFEOB, São João da Boa Vista/SP.
RESUMO: Esta revisão de literatura tem como finalidade apresentar as principais etiologias,
características clínicas e diagnósticas da ceratoconjuntivite seca em cães, com o intuito de
obter mais conhecimento sobre a doença, pois seu diagnóstico tardio e seu tratamento
inadequado podem levar a perda da visão. A ceratoconjuntivite seca é uma enfermidade que
acomete comumente os cães, na qual ocorre uma deficiência do filme lacrimal. A etiologia pode
ser diversa, porem a mais encontrada é a causa imunomediada. Os sinais clínicos podem
variar, o mais comum é a secreção ocular. O diagnóstico é baseado no histórico, sinais clínicos
e testes oftalmológicos, o mais utilizado é o Teste Lacrimal de Schirmer. O tratamento pode ser
tanto clínico quanto cirúrgico. Para que haja sucesso no tratamento, é necessário além de um
diagnóstico adequado, a conscientização e a colaboração do proprietário na realização do
tratamento correto.
INTRODUÇÃO
REVISÃO DE LITERATURA
Sinais Clinicos
A CCS pode apresentar-se das seguintes formas: aguda ou crônica, transitória ou
permanente, unilateral ou bilateral. Os sinais clínicos podem ser variados, estão de acordo com
o tempo que está ocorrendo a deficiência na produção do filme lacrimal como também a
gravidade do caso (DEFANTE JUNIOR, 2006; FREITAS, 2009; RORIG, 2009; MOTTA, 2011;
ASTRAUKAS; CAMARGOS, 2013). Inicialmente os olhos apresentam vermelhidão, inflamação,
secreção mucoide ou mucopurulenta intermitente. Conforme aumenta a gravidade, a superfície
ocular se torna opaca, a conjuntiva fica muito hiperêmica, a secreção mucopurulenta torna-se
persistente; pode ocorrer ceratite progressiva com ou sem ulceração, com vascularização e
pigmentação. Devido ao acumulo de secreções nas margens palpebrais e na pele periocular, é
frequentemente observado blefarite e dermatite periocular. Ocorre blefaroespasmo persistente
devido ao desconforto causado pela progressão da doença. Perda ou diminuição da acuidade
visual ocorre devido a severa opacificação ou a perfuração corneana, secundária a úlcera
profunda da mesma (RORIG, 2009; ASTRUSKAS; CAMARGOS, 2013). Segundo Rorig (2009)
mais de 70% dos cães da raça Lhasa Apso e Shih Tzu com olho seco apresentam atopia, e
mais de 90% dos Cocker Spaniels com CCS apresentam seborreia. Segundo o autor, o prurido
periocular decorrente dessas dermatopatias afeta as pálpebras, o que consequentemente leva
a alteração na composição do filme lacrimal pré-corneano. Devido a esta estatística, vale
ressaltar que animais que apresentam estas doenças com alterações cutâneas,
frequentemente possuem associado a ceratoconjuntivite seca.
Diagnóstico
Para um bom diagnóstico da ceratoconjuntivite seca o exame físico completo é
importante, porem a doença só pode ser realmente confirmada através de exames oftálmicos
(DEFANTE JUNIOR, 2006; FREITAS, 2009; MOTTA, 2011; ASTRAUSKAS; CAMARGOS,
2013). Um dos métodos de diagnóstico que pode ser utilizado é o Teste Lacrimal de Schirmer
(TLS), porem ele só diagnostica quando ocorrem falhas quantitativas da lágrima, pois ele afere
a quantidade de lágrima produzida. Esse método é muito utilizado, e importante para o
diagnóstico (DEFANTE JUNIOR, 2006; MOTTA, 2011; ASTRAUSKAS; CAMARGOS, 2013).
Ribeiro et al. (2008) sugerem que valores abaixo de 15 mm, podem ser sugestivos de CCS. Se
o valor do TLS for normal ou um pouco abaixo do normal, mas mesmo assim o animal
apresentar sinais clínicos de CCS é indicado à utilização do colírio rosa bengala para a
coloração das áreas de descontinuidade do filme lacrimal e fazer a mensuração do tempo de
quebra do filme lacrimal, com o intuito de analisar se o tempo de dispersão está acelerado.
Esses dois métodos podem ser de grande importância diagnóstica adicional para identificar
anormalidades qualitativas do filme lacrimal (DEFANTE JUNIOR, 2006; RIBEIRO et al., 2008).
O teste de fluoresceína só tem valia na CCS para detectar presença de úlcera de córnea
secundaria (DEFANTE JUNIOR, 2006; MOTTA, 2011). Como diagnóstico diferencial da
ceratoconjuntivite seca pode ser citado a opacidade corneal congênita, distúrbios metabólicos,
distrofia endotelial, uveíte, glaucoma, neoplasia e episclerite (DEFANTE JUNIOR, 2006;
MOTTA, 2011). Deve-se realizar o perfil hematológico completo e bioquímico sérico em
pacientes com CCS, para que possa avaliar efeitos sistêmicos de doenças concomitantes
(FREITAS, 2009).
Tratamento
O tratamento da ceratoconjuntivite seca pode ser tanto clínico quanto cirúrgico
(DEFANTE JUNIOR, 2006), sendo na maioria dos casos utilizado o tratamento clinico que inclui
principalmente lacrimo miméticos, lacrimogênicos, mucolíticos, antibacterianos tópicos
(ASTRAUSKAS; CAMARGOS, 2013) e antiinflamatórios (RIBEIRO et al., 2008). O tratamento
cirúrgico deve ser realizado apenas quando o tratamento clínico não obteve sucesso
(DEFANTE JUNIOR, 2006; ASTRAUSKAS; CAMARGOS, 2013). Os lacrimo miméticos tem
como finalidade substituir a deficiência de um ou mais componentes do filme lacrimal,
conhecido também como lágrima artificial. Deve ser utilizado como terapia complementar na
estimulação da produção lacrimal, até que se reestabeleça a produção normal. Esses
medicamentos são a base de hipromelose, dextrano, carboximetilcelulose, sulfato de
condroitina, ácido poliacrílico. Deve-se utilizar no mínimo seis vezes ao dia (RIBEIRO et al,
2008; VIANA; FULGÊNCIO; BORGES, 2011). Os medicamentos lacrimogênicos são capazes
de estimular a produção lacrimal, entre eles estão inclusos agentes imunossupressores /
antiinflamatórios, como a ciclosporina A, o pimecrolimus e o tacrolimus, fármacos colinérgicos
(pilocarpina) e fármacos com propriedades imunomuladoras, como os interferons (RIBEIRO et
al., 2008). Em casos de CCS autoimune, os fármacos com maior resultado satisfatório são os
imunossupressores, onde o primeiro a ser utilizado com sucesso foi a ciclosporina (DEFANTE
JUNIOR, 2006; ASTRAUSKAS; CAMARGOS, 2013), e mais recentemente vem sendo
utilizados o pimecrolimus e tacrolimus. Em casos refratários, a utilização da associação da
ciclosporina e tacrolimus é citada (MOTTA, 2011). A maior causa de frequentes resultados
terapêuticos deficientes é a falha do proprietário, devido a tratamento inadequado e sem
consistência. Deve-se discutir com o proprietário desde o começo do tratamento e enfatizar
durante o seu percorrer, todo o custo envolvido, a conveniência, os objetivos e as alternativas
de terapia, para que essa falha possa ser minimizada (ASTRAUSKAS; CAMARGOS, 2013).
Quando o tratamento clinico não obtiver sucesso, Freitas (2009) e Angélico et al. (2011) citam
alguns procedimentos cirúrgicos que podem ser realizados, tais como: transposição do ducto
parotídeo, transplante das glândulas salivares, ambos com intuito de utilizar a saliva como
substituto lacrimal; a tarsorrafia parcial, que reduz a exposição e melhora o piscar e a oclusão
do ponto lacrimal, visando conservar a lágrima na superfície ocular devido ao bloqueio de sua
drenagem, este método é contraindicado em casos que o cão apresenta o TLS no valor de 0
mm/min. Segundo Defante Junior (2006), a técnica cirúrgica mais utilizada é a transposição do
ducto parotídeo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É de extrema importância a atenção dos clínicos médicos veterinários aos sinais
característicos e aos métodos de diagnóstico adequados para que o tratamento seja instituído
rapidamente, pois diversas vezes essa doença não é diagnosticada de forma correta,
acarretando na perda de tempo do inicio do tratamento adequado, sendo que essa demora
pode levar a perda da acuidade visual de forma irreversível.
REFERÊNCIAS
CABRAL, V. P.; LAUS, J. L.; DAGLI, M. L. Z.; PEREIRA, G. T.; TALIERI, I. C.; MONTEIRO, E.
R.; MAMEDE, F. V. Canine lacrimal and third eyelid superficial glands’ macroscopic and
morphometric characteristics. Ciência Rural, Santa Maria, v.35, n.2, p. 391-397, mar./abr.
2005. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/cr/v35n2/a23v35n2.pdf>. Acesso em: 20 de fev.
2014.
RIBEIRO, A. P.; BRITO, F. L. C.; MARTINS, B. C.; MAMEDE, F.; LAUS, J. L. Qualitative and
quantitative tear film abnormalities in dogs. Ciência Rural, Santa Maria, v.38, n.2, p. 568-575,
mar./abr. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cr/v38n2/a48v38n2.pdf>. Acesso em:
20 de fev. 2014.