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TERAPIA ALTERNATIVA COM CÉLULAS MESENQUIMAIS NO FENÔMENO DO

MIOCÁRDIO HIBERNANTE

SOUSA, L. M. A. de1
DINIZ, R. V.2
1
Estudante de Medicina da Universidade Federal de Campina Grande, campus de Cajazeiras-
PB.
2
Residência médica em Clínica Médica e Cardiologia.Título de Especialista em cardiologia
pela Associação Médica Brasileira e Sociedade Brasileira de Cardiologia. Especialista em
Clínica Médica (Conselho Federal de Medicina). Professor Auxiliar T-20 da UFCG- Campus
Cajazeiras, ministrando atualmente a disciplina de Cardiologia do módulo de Clínica médica
I. Médico plantonista da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Regional de Sousa-PB.

INTRODUÇÃO
Doenças cardíacas são conhecidas por sua alta mortalidade e letalidade, vista o
subdiagnóstico ou diagnóstico tardio. As causas são diversas e possuem diferentes estilos de
tratamento. Como causa muito comum, a cardiomiopatia isquêmica possui grande
importância no mundo (SPÓSITO, 1997).
De acordo com dados do DATASUS, são cerca de 100 mil óbitos anuais devido a
Doença Coronariana Aguda, com complicação de Infarto Agudo do Miocárdio. A Taxa de
Mortalidade brasileira encontra-se entre as maiores do mundo e é semelhante a de países
como a China e do Leste Europeu (MALTA, 2014).
O processo de lesão miocárdica por isquemia se dá devido uma disfunção miocárdica
celular metabólica e contrátil por falta de suprimento de oxigênio. As células cardíacas são
ditas viáveis quando a disfunção ventricular sem necrose tecidual garante a capacidade de
recuperação funcional após normalização do suprimento vascular (KER, 2017).
Segundo Chareonthaitawee et al., dentro do panorama de lesão miocárdica surge o
miocárdio atordoado, ou seja, o tecido cardíaco que apresenta dificuldade de contração
normal e o conceito de hibernação miocárdica, entendido como uma adaptação aos repetitivos
episódios de disfunção (CHAREONTHAITAWEE, 2005).
Para tanto, a presente revisão sistemática de literatura busca reunir trabalhos de revisão
de literatura e estudos clínicos que dão foco a terapia de reperfusão tecidual alternativa do
miocárdio, utilizando técnica laboratorial de cultura celular habilitada ao trabalho da
contratilidade miocárdica, assim como, pesquisas que suscitam, na área de tratamento de
doenças de falência miocárdica, a terapia celular-tecidual como método de reperfusão
metabólica com vista a melhorar e reabilitar uma área de miocárdio lesada por processos
isquêmicos.

METODOLOGIA
O presente artigo de revisão de literatura buscou publicações datadas desde 1980 até ano
atual, em bases de dados nacionais e internacionais, dentre elas, LILACS, PubMed, Scielo e
The Lancet. Valendo-se de descritores em português e inglês a seguir: miocárdio hibernante,
terapia celular, infarto agudo do miocárdio; dentro do âmbito da Cardiologia e Medicina
Intensiva nas mesmas bases de dados de pesquisa em saúde referidas. Os critérios de inclusão
foram artigos que contemplassem os descritores, analisando o resumo simples dos mesmos.
Os critérios de exclusão forma artigos sem bases de ensaios clínicos ou estudos não
randomizados, que apresentaram dados inconclusivos quanto a melhora do paciente pós
terapia discutida e os quais não detinham comentários sobre a discussão abordada no presente
artigo. Não houve conflito de interesses para realização da presente revisão de literatura.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram selecionadas 11 (onze) publicações e organizadas de acordo com critérios
estabelecidos pelos autores. Após a leitura do resumo expandido dos 11 (onze) artigos
escolhidos, foram detalhados os resultados mais relevantes dos ensaios clínicos e as citações
de literatura comuns em todos os artigos selecionados.
Com a análise dos artigos, foi criada uma tabela (abaixo) mostrando os detalhes de
publicação, além de aspectos relevantes a presente revisão de literatura tais como ano de
publicação, Nível de qualidade da publicação pela Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior  (CAPES/CNPq) e considerações quanto aos resultados desses
estudos.
TÍTULO DO ANO DE TIPO DE NÍVEL DE CONSIDERAÇÕES
ARTIGO PUBLICAÇÃO ESTUDO EVIDÊNCIA
SEGUNDO
CAPES
O miocárdio 1985 Revisão B3 Sem contradições
Integrativa de
hibernado e o seu
Literatura
reconhecimento
Transplanted adult 2001 Ensaio Clínico A1 Demonstrou
bone marrow cells potencial efeito
repair myocardial positivo da terapia
infarcts in mice.
Autologous 2003 Ensaio Clínico B2 Demonstrou
skeletal myoblast Randomizado potencial efeito
transplantation for positivo da terapia
severe post-
infarction left
ventricular
dysfunction.
A comparação 2005 Ensaio Clínico B2 Relevante aspecto
entre o transplante clínico
de células tronco
monucleares e
mesenquimais no
infarto do
miocárdio.
Intracoronary 2004 Ensaio Clínico A1 Demonstrou
autologous boné- Randomizado potencial efeito
marrow cell positivo da terapia
transfer after
myocardial
infarction: the
BOOST
randomised
controlled clinical
Trial.
Revascularization 2005 Revisão B2 Sem contradições
in severe left Integrativa de de literatura
ventricular Literatura
dysfunction: the
role of viability
testing.

Concept and 1999 Revisão A1 Sem contradições


de literatura
evaluation of Integrativa de
hibernating Literatura
myocardium.
Myocardial 2008 Revisão A2 Sem contradições
viability testing in Sistemática de de literatura
patients with Literatura
severe left
ventricular
dysfunction by
SPECT and PET.
Mortalidade por 2014 Estudo B2 Relevante aspecto
doenças crônicas epidemiológico
Descritivo
não transmissíveis
no Brasil e suas
regiões, 2000 a Transversal
2011.
Stunning, 2008 Estudo de A1 Demonstrou
hibernation, and Coorte potencial efeito
assessment of positivo da terapia
myocardial
viability.
Time course of 2001 Ensaio Clínico A1 Demonstrou
funcitonal recovery Randomizado potencial efeito
of stunned and positivo da terapia
hibernating
segments after
surgical
revascularization.

Do ponto de vista dos critérios abordados, todos os artigos selecionados apresentam


dados relevantes para a presente discussão assim também colaboram para explanação do
processo patológico relacionado à lesão miocárdica isquêmica e a proposta de tratamento com
células mesenquimais do tecido cardíaco lesado.
Sabe-se que quando o processo de lesão do músculo cardíaco é crônico e seu
tratamento não é resolutivo corrobora para a evolução do com complicações como
Insuficiência Cardíaca Crônica, Acidente Vascular Cerebral e outras patologias com
morbimortalidades relevantes (MALTA, 2014) (GUARITA-SOUZA, 2005).
A função ventricular em cardiopatas com Doença Arterial Coronariana (DAC), ao
passarem por repetitivos processos de isquemia, pode cursar com um atordoamento
cumulativo gerando uma disfunção ventricular esquerda necrosante (CAMICI, 2008).
O miocárdio hibernante pode ser entendido como regiões com severa disfunção
sistólica com hipoperfusão em repouso, apresentando uma celularidade conservada
(DEMIRKOL, 2008).
O fenômeno de miocárdio hibernante é em termos fisiopatológicos, como uma
existência de regiões ventriculares que, submetidas à isquemia crônica intensa, ou não, para
causar um processo de necrose celular, acaba se tornando desprovidas, reversívelmente, da
capacidade de contratilidade cardíaca ((RAHIMTOOLA, 1985).
A gravidade do fenômeno da hibernação miocárdica está na bagagem de alterações
celulares e extracelulares que pode variar de dias até um período de um ano ou mais (BAX,
2001).
As terapias diversas de revitalização da contratilidade e metabolismo perdido dessas
células são variadas e abordam técnicas macroscópicas de revascuralização ou ablação
miocárdicas. Para tanto, a terapia celular se torna um campo de pesquisa e um método
terapêutico viável (GUARITA-SOUZA, 2005).
O Estudo MAGIC evidenciou o papel de células mioblásticas esqueléticas e sua
capacidade de diferenciação em fibras esqueléticas contráteis adaptadas ao tecido miocárdico
(MENASCHE, 2003).
Um estudo de terapia celular com células de medula óssea em ratos que sofreram
Infarto Agudo induzido da parede Antero-lateral do ventrículo esquerdo ressaltou uma
preservação da Fração de Ejeção Ventricular Esquerda (FEVE) no miocárdio tratado com
terapia mesenquimal. Nesses ratos, o Volume Diastólico Final do Ventrículo Esquerdo
(VDFVE) apresentou um aumento significativo de 0,54 ml para 0,69 mL. O mesmo estudo
pode analisar a presença de neovasos, células endoteliais e células musculares lisas na região
cardíaca desses vasos (GUARITA-SOUZA, 2005).
Com relação ao entendimento da captação das células de tecido mesenquimal ósseo, a
literatura consultada preconiza apenas a mobilização das células da medula óssea circulante,
estimuladas por um fator celular, o G-CSF (ORLIC, 2001).
O estudo clínico de Wollert et al, utilizando angioplastia intracoronária (ATC) em
pacientes infartados, submeteu dois tipos de tratamento para comparação de eficácia
terapêutica. O primeiro sendo o protocolo medicamentoso para infarto agudo do miocárdio
tradicional e o segundo fazendo uso de células da medula óssea em cultura. Como resultado, a
melhora clínica desses pacientes foi concretizada em razão da ATC, sendo o transplante
celular fator auxiliar da performance metabólica (WOLLERT, 2004).
A introdução das células mesenquimais em regiões estratégicas do miocárdio lesado
pode diferenciar a evolução positiva do tecido cardíaco tanto em contratilidade quanto em
diferenciação celular (GUARITA-SOUZA, 2005). Orlic et al demonstrou a introdução do
transplante da células-tronco na zona de transição entre um miocárdio infartado e outro
miocárdio íntegro logo após evento isquêmico, onde se encontraria cardiomiócitos viáveis,
demonstrando reversão da contratilidade da região lesada (ORLIC, 2001).
Na Clínica Médica, o detalhamento da contratilidade do músculo cardíaco oferece,
com exames de imagem como a cintilografia, identificar a localização, a quantidade de tecido
disfuncional e a exequilidade de revascularização anatômica (DEMIRKOL, 2008).
O entendimento da viabilidade miocárdica facilita a identificação de pacientes nos
quais a revascularização pode levar a um benefício, melhoramento da performance ventricular
e redução, a determinado prazo, de eventos isquêmicos futuros (KER, 2017).
CONCLUSÃO
Em conclusão, a pesquisa em cardiologia laboratorial aliada a prática clínica pode
abrir espaço para uma terapia alternativa, que apesar de financiamentos custeosos, surge como
viabilizadora da evolução clínica de pacientes com freqüentes eventos isquêmicos e auxiliar
na recuperação tecidual dos cardiomiócitos lesados.
Fica clara também a necessidade de atualização na literatura atual de novas revisões
que busquem abordar aspectos moleculares das lesões isquêmicas, assim como, suas
aplicabilidades no setor de saúde cardiológica e oferecimento de políticas assistenciais
seguras a pacientes sob risco de doenças do miocárdio.

REFERÊNCIAS DE LITERATURA

SPÓSITO, Andrei Carvalho; CHAGAS, A. C. P.; DA LUZ, P. L. O miocárdio hibernado e o


seu reconhecimento. Revista da Associação Médica Brasileira, v. 43, n. 2, p. 154-162,
1997.
ORLIC, Donald et al. Transplanted adult bone marrow cells repair myocardial infarcts in
mice. Annals of the New York Academy of Sciences, v. 938, n. 1, p. 221-230, 2001.

MENASCHÉ, Philippe et al. Autologous skeletal myoblast transplantation for severe


postinfarction left ventricular dysfunction. Journal of the American College of Cardiology,
v. 41, n. 7, p. 1078-1083, 2003.

GUARITA-SOUZA, Luiz Cesar et al. A comparação entre o transplante de células tronco


mononucleares e mesenquimais no infarto do miocárdio. Rev Bras Cir Cardiovasc, v. 20, n.
3, p. 270-8, 2005.

WOLLERT, Kai C. et al. Intracoronary autologous bone-marrow cell transfer after


myocardial infarction: the BOOST randomised controlled clinical trial. The Lancet, v. 364,
n. 9429, p. 141-148, 2004.

CHAREONTHAITAWEE, Panithaya et al. Revascularization in severe left ventricular


dysfunction: the role of viability testing. Journal of the American College of Cardiology, v.
46, n. 4, p. 567-574, 2005.

RAHIMTOOLA, MB, FRCP, MACP, Shahbudin H. Concept and evaluation of hibernating


myocardium. Annual review of medicine, v. 50, n. 1, p. 75-86, 1999.

DEMIRKOL, Mehmet Onur. Myocardial viability testing in patients with severe left
ventricular dysfunction by SPECT and PET. Anatolian Journal of Cardiology/Anadolu
Kardiyoloji Dergisi, v. 8, 2008.
MALTA, Deborah Carvalho et al. Mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis no
Brasil e suas regiões, 2000 a 2011. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 23, p. 599-608,
2014.

CAMICI, Paolo G.; PRASAD, Sanjay Kumak; RIMOLDI, Ornella E. Stunning, hibernation,
and assessment of myocardial viability. Circulation, v. 117, n. 1, p. 103-114, 2008.

BAX, Jeroen J. et al. Time course of functional recovery of stunned and hibernating segments
after surgical revascularization. Circulation, v. 104, n. suppl_1, p. I-314-I-318, 2001.

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