Você está na página 1de 20

JOURNAL OF THE AMERICAN COLLEGE OF CARDIOLOGY V o l . 7 7, N o .

7, 2 0 2 1
© 2021 P OR AMERICAN COLLEGE OF CARDIOLOGY FOUNDATION
PUBLICADO POR ELSEVIER

O PRESENTE E O FUTURO

REVISÃO DO ESTADO DA ARTE DO JACC

Fisiopatologia da síndrome de Takotsubo


Revisão do Estado da Arte do JACC
Alexander R. Lyon, MD, PhD,a Rodolfo Citro, MD, PhD,b Birke Schneider, MD,c Olivier Morel, MD, PhD,d Jelena R. Ghadri,
MD,e Christian Templin, MD, PhD,e Elmir Omerovic, MD, PhDf

RESUMO

A síndrome de Takotsubo (STT) foi reconhecida como entidade clínica há 31 anos, desde a sua primeira descrição em
1990. A STT é agora rotineiramente diagnosticada em pacientes com dor torácica aguda, alterações eletrocardiográficas,
elevação da troponina, artérias coronárias não obstruídas e padrão circunferencial típico de anormalidades regionais de
movimentação da parede do ventrículo esquerdo que geralmente envolvem o miocárdio apical ou médio-ventricular. O
aumento da compreensão sobre essa síndrome intrigante se deve a um reconhecimento mais amplo, ao possível aumento da
frequência e a um aumento do número de publicações com foco na fisiopatologia em estudos clínicos e laboratoriais. Falta
uma compreensão abrangente da fisiopatologia da STT e dos tratamentos baseados em evidências, sendo urgentemente
necessários tratamentos específicos e eficazes. Este artigo revisa a fisiopatologia dessa síndrome fascinante; o que se sabe
a partir de estudos clínicos e pré-clínicos, incluindo revisão das evidências sobre disfunção microvascular, sinalização beta-
adrenérgica miocárdica, inflamação e eletrofisiologia; e em que aspectos a pesquisa precisa se concentrar para preencher
lacunas na compreensão da STT. (J Am Coll Cardiol 2021;77:902-21) © 2021 Publicado pela Elsevier em nome da American
College of Cardiology Foundation.

A
síndrome de Takotsubo (STT) é uma síndrome dor torácica cardíaca aguda exigindo angioplastia coro-
cardíaca aguda caracterizada por certas anorma- nariana urgente, na qual se exclui doença coronariana
lidades regionais de movimentação da parede que como culpada pelos sintomas. A STT pode ser pronta-
refletem comprometimento da contratilidade miocárdica, mente diagnosticada com o acesso a exames cardíacos
o qual ocasiona insuficiência cardíaca aguda na ausência de imagem modernos. A STT é mais frequentemente
de doença arterial coronariana epicárdica (1). Pacientes observada em mulheres pós-menopáusicas, e a apresen-
com STT podem apresentar uma variedade de diferentes tação clínica costuma ser semelhante à do infarto agudo
padrões clínicos; a síndrome é frequentemente desen- do miocárdio, com dor torácica e/ou dispneia, elevação
cadeada por estresse emocional significativo ou doença ou depressão do segmento ST e/ou inversão da onda T
física grave acompanhados de ativação do sistema ner- no eletrocardiograma (ECG) em repouso e elevação da
voso simpático (2,3) (Figura 1). Ao longo dos últimos 31 troponina cardíaca sérica (1,2,5). Entretanto, existem
anos, tem havido um aumento da conscientização sobre diferenças consideráveis entre casos de STT e de infarto
essa síndrome clínica, com os pacientes apresentando agudo do miocárdio, e agora a STT é reconhecida como

Ouça o áudio com o resumo


deste artigo, apresentado
pelo editor-chefe,
a
Departamento de Cardiologia, Royal Brompton Hospital e National Heart and Lung Institute, Imperial College London, London, Reino Unido;
b
Departamento Cardiotorácico e Vascular, University Hospital “San Giovanni di Dio e Ruggi d’Aragona,” Salerno, Itália; cMedizinische Klinik II, Sana
Dr. Valentin Fuster, Kliniken Lübeck, Alemanha; dDepartamento de Cardiologia, University of Strasbourg, UMR INSERM 1260 Regenerative Nanomedicine, Strasbourg,
em JACC.org. França; eDepartamento de Cardiologia, University Heart Center, University Hospital Zurich, Zurich, Suíça; e fDepartamento de Medicina Clínica e
Molecular/Cardiologia, Sahlgrenska Academy, University of Gothenburg, Gothenburg, Suécia.
Os autores atestam que estão em conformidade com os comitês de estudos humanos e regulamentos de bem-estar animal das instituições a que
estão vinculados e com as diretrizes da agência norte-americana Food and Drug Administration, incluindo o consentimento dos pacientes quando
apropriado. Para obter mais informações, visite o Author Center.
Manuscrito recebido em 3 de julho de 2019; manuscrito revisado recebido 13 de outubro de 2020, aceito em 19 de outubro de 2020.

ISSN 0735-1097 https://doi.org/10.1016/j.jacc.2020.10.060


54 Lyon et al. J A C C , V o l . 7 7, N o . 7, 2 0 2 1

Síndrome de Takotsubo 23 de fevereiro de 2021: 902-21

ABR EV IA TU R A S uma entidade clínica separada. As complicações


E ACR ÔN IM OS agudas podem ser graves, incluindo de 4% a DES TAQUES

AMPc = monofosfato cíclico de 5% de mortalidade intra-hospitalar relacio- • A fisiopatologia da forma de Takotsubo da


adenosina nada a choque cardiogênico e parada cardíaca insuficiência cardíaca aguda não é completa-
APD = duração do potencial de
(6,7). Há um reconhecimento crescente de que mente compreendida.
ação (action potential duration)
ATP = trifosfato de adenosina
sobreviventes da STT podem apresentar pro- • A liberação excessiva de catecolaminas cardí-
ECG = eletrocardiografia blemas cardíacos e não cardíacos a longo prazo acas neuronais e sistêmicas contribui para a
iPSC-CMs = cardiomiócitos e aumento da mortalidade a longo prazo (8,9). disfunção miocárdica aguda em pacientes com
derivados de células-tronco Portanto, a STT não é uma condição benigna, síndrome de Takotsubo, mas o comprometi-
pluripotentes induzidas
(inducible pluripotent stem cell- como se considerava anteriormente, e, na au- mento da perfusão microvascular, a inflamação
derived cardiomyocytes) sência de tratamentos baseados em evidência, miocárdica e os transtornos eletrofisiológicos
MIBG =
os pacientes com STT continuam apresentando contribuem para as manifestações clínicas da
metaiodobenzilguanidina com
iodo-123 maior risco de complicações, morbidade e síndrome.
ON = óxido nítrico mortalidade (1,6,7,10). Na recente Quarta Defi- • O atordoamento de Takotsubo, que envolve
PCr = fosfocreatina nição do Infarto do Miocárdio (Fourth Universal mecanismos tanto catecolaminérgicos quanto
SERCA2a = cálcio adenosina
Definition of Myocardial Infarction), a STT é isquêmicos, é a estrutura fisiopatológica sub-
trifosfatase do retículo
sarcoplasmático 2a (sarcoplasmic classificada como uma lesão miocárdica, mas jacente a essa síndrome, sendo crucial para o
reticulum [SR] Ca2+-adenosine-
não um infarto (11). desenvolvimento de estratégias diagnósticas e
triphosphatase 2a)
SNA = sistema nervoso
Nesta revisão, discutimos a fisiopatologia terapêuticas eficazes.
autônomo dessa síndrome fascinante, áreas de contro-
STT = síndrome de Takotsubo vérsia e em que aspectos devemos concentrar
VE = ventrículo esquerdo a pesquisa para preencher as lacunas em nossa 5. Quais são os mecanismos por trás da recuperação
βAR = receptor beta-
adrenérgico (β-adrenoreceptor)
compreensão. da função do VE que normalmente ocorre dentro de
poucos dias?
FISIOPATOLOGIA DA STT 6. Por que alguns sobreviventes da STT permanecem
com anormalidades cardíacas importantes (por
A fisiopatologia exata da STT ainda é desconhecida. exemplo, arritmia, dor torácica, limitação de esforço)
Entretanto, houve um progresso significativo ao longo e outros não?
da última década em relação à nossa compreensão
sobre essa síndrome (12-16). Esse progresso é evidente Além das perguntas anteriores, tem-se debatido
a partir do número crescente de publicações de estudos se a STT é um resposta circulatória primordialmente
laboratoriais e clínicos a respeito da fisiopatologia da mal adaptativa ou protetora. Portanto, na opinião dos
STT. Propuseram-se diversas hipóteses, mas nenhuma autores, é provável que diversas vias fisiopatológicas
oferece uma explicação abrangente (12). estejam atuando, de forma individual ou sinérgica, para
Vários elementos precisam ser considerados para cumulativamente desencadear a STT.
explicar a fisiopatologia da STT, incluindo respostas às
seguintes perguntas: ATIVAÇÃO SIMPáTICA INTENSA E ALTOS
1. Qual é a causa da disfunção mecânica grave (aci- NÍVEIS DE CATECOLAMINAS CIRCULANTES
nesia) e da distribuição característica da acinesia
nos ventrículos esquerdo e direito (apical, médio- As catecolaminas parecem ter um papel central na
ventricular, basal, biventricular)? fisiopatologia da STT, porque episódios agudos são
2. Por que alguns indivíduos desenvolvem STT e outros frequentemente desencadeados por estresse repentino
não (ceteris paribus—com todas as demais coisas e inesperado (STT primária) ou doença ou trauma
permanecendo iguais—quando expostos ao mesmo físico importante (STT secundária) (1,2) (Figura 1).
evento estressor)? Na maioria dos pacientes, os sinais clínicos de ativação
3. Por que alguns pacientes com STT toleram uma dis- simpática intensa estão presentes no início da STT, e
função extensa do ventrículo esquerdo (VE) se com- muitos pacientes com STT descrevem a sensação de uma
parados a pacientes com infarto agudo do miocárdio descarga intensa de adrenalina com o desencadeador do
quando um infarto agudo do miocárdio envolvendo estresse no início do episódio agudo.
uma porção semelhante do VE geralmente levaria à Existem dois elementos iniciais da fisiologia a serem
morte? considerados. O primeiro são os centros cognitivos
4. Por que a STT afeta predominantemente mulheres do cérebro e do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, a
pós-menopáusicas? percepção de estresse e a quantidade de epinefrina e
norepinefrina liberadas em resposta a um determinado
J A C C , V o l . 7 7, N o . 7, 2 0 2 1 Lyon et al. 55
23 de fevereiro de 2021: 902-21 Síndrome de Takotsubo

FIGURA 1 Exemplos de causas primárias (emocionais) e secundárias (médicas) da síndrome de Takotsubo

*DWLOKRVHPRFLRQDLV *DWLOKRVItVLFRV
‡ GHSUHVVmR ‡ VDQJUDPHQWR
‡ GRHQoDGHXPDSHVVRDSUy[LPD FHUHEUDO
‡ WHQWDWLYDGHVXLFtGLR ‡ $9&$,7
‡ GLYyUFLR ‡ HSLOHSVLDFRQYXOVmR
‡ WUDQVWRUQRGHHVWUHVVHSyV ‡ HQ[DTXHFD
WUDXPiWLFR ‡ 35(6
‡ FRQFXVVmR
‡ UXSWXUDGHDQHXULVPD

‡ PHGRGHIDODUHPS~EOLFR
‡ H[DFHUEDomRGH
‡ URXERIXUWR
'32&
‡ PHGRGH
‡ DWDTXHGHDVPD
FLUXUJLDKRVSLWDOL]DomR
‡ SQHXPRQLD
‡ PXGDQoDSDUDRXWUD
‡ EURQTXLWH
FLGDGH
‡ HPEROLDSXOPRQDU
‡ ODULQJRHVSDVPR
‡ QRYRHPSUHJR
‡ SHUGDGRHPSUHJR
‡ DSRVHQWDGRULD ‡ VDQJUDPHQWR
‡ EXOO\LQJQRWUDEDOKR JDVWURLQWHVWLQDO
‡ H[DFHUEDomRGD
GRHQoDGH&URKQ
‡ HQFDUFHUDPHQWR
‡ GtYLGDV GHKpUQLD
‡ SHUGDGHHOHYDGD
VRPDGHGLQKHLUR ‡ IHRFURPRFLWRPD
‡ IDOrQFLD ‡ XURVHSVH
‡ XUROLWtDVH
‡ PRUWHGHXP
PHPEURGDIDPtOLD
‡ PRUWHGR D 
SDUFHLUR D
‡ HXWDQiVLDGHDQLPDO
GHHVWLPDomR
‡ SDUWR
‡ VDQJUDPHQWR
‡ GLVFXVV}HVFRP YDJLQDO
SDUFHLUR D IDPtOLD
‡ GLVFXVV}HVFRPR
‡ FkQFHU
ORFDWiULR
‡ TXLPLRWHUDSLD

‡ HQFKHQWH
‡ WHUUHPRWR ‡ JULSH
‡ WHPSHVWDGH ‡ VHSVH
‡ UXtGRGHDYLmR ‡ SHULWRQLWH
‡ LQIHFomRGHIHULGD

‡ DFLGHQWHGHFDUURVHP ‡ IUDWXUD
IHULPHQWRV

‡ 6tQGURPHGRFRUDomRIHOL] ‡ RSHUDomR
 JDQKDUXPSUrPLR
 IHVWDGHDQLYHUViULR
 QDVFLPHQWRGHQHWR D
 FDVDPHQWR ‡ DQHVWHVLD
 DVVLVWLUDySHUDV ‡ DGPLQLVWUDomRGH
 HQWUHYLVWDGHHPSUHJRSRVLWLYD FDWHFRODPLQDV

Existem muitos potenciais gatilhos da síndrome de Takotsubo, incluindo eventos emocionais (painel esquerdo) e gatilhos físicos e agudos, sejam clínicos ou
cirúrgicos (painel direito). AIT = ataque isquêmico transitório; AVC = acidente vascular cerebral; DPOC = doença pulmonar obstrutiva crônica; PRES = síndrome da
encefalopatia posterior reversível (posterior reversible encephalopathy syndrome). Reproduzido com permissão de Schlossbauer et al. (4).
56 Lyon et al. J A C C , V o l . 7 7, N o . 7, 2 0 2 1

Síndrome de Takotsubo 23 de fevereiro de 2021: 902-21

estresse (isto é, aumento do eixo hipotálamo-hipófise- sobre a atividade do sistema nervoso simpático peri-
adrenal). O segundo é a resposta do sistema cardio- férico apresentaram resultados conflitantes. Embora
vascular (incluindo miocárdio, artérias coronárias e alguns estudos tenham relatado aumento da atividade
vasculatura periférica) e do sistema nervoso simpático (32), outros, paradoxalmente, demonstraram redução
à ativação simpática repentina e ao aumento das cateco- da atividade nervosa simpática periférica (33). Essa
laminas circulantes. discrepância pode depender do momento da medição
Várias evidências corroboram a hipótese de que em relação ao início da STT e das diferentes populações
catecolaminas têm papel central na fisiopatologia da de pacientes incluídos nos estudos em termos de idade,
STT (Figura 2). Em primeiro lugar, os níveis plasmáticos sexo e presença de fatores de risco cardiovascular tradi-
de catecolaminas encontram-se consideravelmente cionais (por exemplo, hipertensão e tabagismo). Estudos
elevados em pacientes com STT, sendo até três vezes microneurográficos demonstraram uma diminuição do
superiores aos níveis de pacientes com infarto agudo do controle barorreflexo espontâneo do tônus simpático
miocárdio e insuficiência cardíaca pós-infarto (19). Em em alguns pacientes com STT. Durante a fase aguda, há
segundo lugar, a STT foi relatada em muitos pacientes uma redução da função neuronal simpática do coração,
como complicação cardíaca de feocromocitomas (20). Em a qual é mensurada através de cintilografia miocárdica
terceiro lugar, documentou-se que catecolaminas (epi- com metaiodobenzilguanidina combinada com iodo-123
nefrina, dobutamina) administradas iatrogenicamente após a tempestade simpática (34) (Figura 2).
e agonistas dos receptores beta-adrenérgicos (βAR) A hiperativação da função simpática miocárdica está
(salbutamol) são responsáveis diretos por episódios de associada a uma resposta inflamatória intersticial mo-
STT (21,22). Em quarto lugar, a tempestade simpática nonuclear e necrose em banda de contração (um marco
associada à hemorragia subaracnóidea, especialmente da toxicidade das catecolaminas) (19). O papel central da
quando afeta a circulação posterior e o hipotálamo, é uma estimulação do βAR na STT foi demonstrado em diversos
causa reconhecida de STT. Em quinto lugar, estudos de modelos animais (26,35,36). O balonamento apical pode
cintilografia miocárdica com metaiodobenzilguanidina ser provocado em ratos por estresse de imobilização e
combinada com iodo-123 demonstraram uma redução atenuado pelo bloqueio do αAR e do βAR (37).
aguda na captação neuronal do sistema simpático car- Entretanto, até 25% dos casos não apresentam um
díaco nos segmentos afetados. Isso é consistente com a gatilho estressor identificável. Nesses casos, deve ter
desregulação aguda da fisiologia simpática do miocárdio, ocorrido um gatilho interno espontâneo (por exemplo,
o que contribui para o aumento dos níveis miocárdicos de liberação de catecolaminas induzida por inflamação),
catecolamina conforme ocorre a redução da cinética da ou efeitos cumulativos de estresses anteriores podem
depuração. Em sexto lugar, os achados histopatológicos ser responsáveis, na ausência de um evento estressor
a partir de corações de pacientes com STT, tanto post no dia da apresentação.
mortem ou via biópsia endomiocárdica, são semelhantes
aos de pacientes que faleceram no contexto de excesso DISPARIDADE ENTRE OS SEXOS NA
de catecolaminas (por exemplo, feocromocitoma e he- INCIDêNCIA DA STT
morragia subaracnóidea), com características típicas da
ativação excessiva de catecolaminas, incluindo necrose A maioria dos pacientes com STT são mulheres pós-
em banda de contração (23), aumento do acúmulo de menopáusicas. O motivo para essa grande disparidade
gotículas lipídicas nos cardiomiócitos (24) e aumento entre os sexos na incidência da STT não está bem escla-
do estresse nitrosativo (25). Por fim, a administração recido. Propuseram-se diversas hipóteses centradas na
de altas doses de catecolamina em modelos pré-clínicos privação de estrogênio. Sob circunstâncias fisiológicas,
pode retomar as características da STT com hipocinesia o estrogênio tem papel permissivo na sinalização do
apical e médio-ventricular reversível e, em alguns expe- receptor adrenérgico, tais como estrogênio (através da
rimentos, pode-se induzir a variante basal ou invertida ativação cruzada, ou crosstalk, dos receptores) inibe a
(24,26-29). transdução do sinal, através dos βARs (38). O estrogênio
Corroborando o excesso de estimulação simpática tem um efeito simpatolítico e diminui o número de
cardíaca e sistêmica, foram observados altos níveis receptores βARs nas células cardíacas. A redução dos
de norepinefrina no seio coronário em pacientes com níveis de estrogênio durante a menopausa aumenta o im-
STT, o que sugere um aumento da liberação local de pulso simpático e a disfunção endotelial. Em um estudo
catecolaminas miocárdicas (30). Análises de varia- experimental, Ueyama et al. (37) demonstraram que o
bilidade da frequência cardíaca em pacientes com balonamento apical do VE induzido por estresse em ratos
STT também demonstraram predomínio simpático poderia ser prevenido por pré-tratamento com estro-
e redução considerável da atividade parassimpática gênio. A suplementação de estrogênio atenuou o efluxo
durante a fase aguda (31). Estudos microneurográficos do sistema hipotálamo-simpático-adrenérgico induzido
J A C C , V o l . 7 7, N o . 7, 2 0 2 1 Lyon et al. 57
23 de fevereiro de 2021: 902-21 Síndrome de Takotsubo

FIGURA 2 Potenciais causas para os altos níveis de catecolaminas e para a ativação simpática na síndrome de Takotsubo

,ĞŵŽƌƌĂŐŝĂ
ƐƵďĂƌĂĐŶſŝĚĞĂ

ƉŝŶĞĨƌŝŶĂ
ŝŶƚƌĂǀĞŶŽƐĂ

&ĞŽĐƌŽŵŽĐŝƚŽŵĂ

ĞƚĂͲĂŐŽŶŝƐƚĂƐ
ŝŶĂůĂƚſƌŝŽƐ

ZĞĚƵĕĆŽĚĂƌĞĐĂƉƚĂĕĆŽ ŝſƉƐŝĂĞŶĚŽŵŝŽĐĄƌĚŝĐĂ
ƉƌĠͲƐŝŶĄƉƚŝĐĂĚĞŶŽƌĞƉŝŶĞĨƌŝŶĂ EĞĐƌŽƐĞĞŵďĂŶĚĂĚĞĐŽŶƚƌĂĕĆŽ
ƚŝǀĂĕĆŽĚĞǀŝĂĂŶƚŝĂƉŽƉƚſƚŝĐĂ
͚ƌĞĐŽǀĞƌĞĚ͛
͚ĂĐƵƚĞ͛

(Painel superior) Tomografia computadorizada com contraste demonstrando hemorragia cerebral subaracnóidea (seta amarela). (Painéis do meio) Causas,
incluindo feocromocitoma (esquerda), epinefrina intravenosa (parte média superior à direita) e beta-agonistas inalatórios (parte média inferior à direita). (Painéis
inferiores) Alterações na captação neuronal simpática de metaiodobenzilguanidina combinada com iodo-123 no miocárdio, com redução nos segmentos apicais
afetados (inferior à esquerda; a seta branca indica os segmentos apicais) (reproduzido com permissão de Cimarelli et al. [17]) e as alterações histológicas durante a
fase aguda após o excesso de catecolaminas com necrose em banda de contração durante a fase aguda, a qual se resolveu na biópsia de seguimento (abaixo à direita).
Reproduzido com permissão de Nef et al. (18).

por estresse do sistema nervoso central aos órgãos-alvo indivíduos suscetíveis após exposição a gatilhos estres-
(37). Mulheres pós-menopáusicas apresentam aumento sores emocionais e físicos. A disparidade entre os sexos
do tônus simpático e diminuição do tônus parassimpático na STT poderia ser consequência das diferentes estraté-
se comparadas a mulheres com ciclo menstrual (39). A gias de enfrentamento ao estresse adotadas por homens
alteração do sistema nervoso autônomo durante a me- e mulheres. Embora os homens usem métodos focados
nopausa poderia facilitar o desenvolvimento da STT em em problemas para lidar com experiências estressantes,
58 Lyon et al. J A C C , V o l . 7 7, N o . 7, 2 0 2 1

Síndrome de Takotsubo 23 de fevereiro de 2021: 902-21

FIGURA 3 Alterações na estrutura e no funcionamento do cérebro em pacientes com STT

4 @beYb`Xge\TUTfXTWTX`fhcXeY„V\X @beYb`Xge\TUTfXTWTX`ibkX_
fheYɜVX UɜfXW`bec[b`XgelF5@ ibkX_ UɜfXW`bec[b`XgelI5@

c/###$

8 7 7 c/##(

5 EXWXVXeXUeT_Vb`c_XgT EXWXeX_TV\baTWTTf\fgX`T
aXeibfbThg‹ab`bFA4

8 7 8 7

(A) Redução da espessura do córtex anteroventral da insula (morfometria baseada em superfície [surface-based morphometry, SBM], conglomerados vermelhos, p <0,05 corrigido para
conglomerados; ínsula em verde), redução do volume da substância branca na amígdala (morfometria baseada em voxel [voxel-based morphometry, VBM], conglomerados vermelho-amarelo,
p <0,05 corrigido no nível do voxel; ínsula e amígdala em verde), e (B) redução da conectividade estrutural entre as regiões límbicas do cérebro (rede cerebral completa e sistema nervoso
autônomo [SNA]; nós do SNA em laranja, todos os outros nós em azul) em pacientes com síndrome de Takotsubo (STT) comparados a indivíduos controle. Reproduzido com permissão de Hiestand
et al. (42).

as mulheres tendem a usar estratégias de enfrentamento sanguíneo regional no cérebro de três pacientes com
direcionadas a mudar suas respostas emocionais à STT durante a fase aguda e no seguimento após STT e
situação estressante (40). As diferenças entre os sexos demonstrou alterações significativas, com aumento do
com relação às estratégias de enfrentamento poderiam fluxo nos gânglios basais, no hipocampo e no tronco
explicar tanto o fato de as mulheres relatarem maior encefálico (41). Utilizando ressonância magnética
estresse psicológico que os homens quanto o fato de elas funcional do cérebro, Hiestand et al. (42) estudaram a
serem mais propensas a desenvolver STT. estrutura e a conectividade funcional em estado de re-
pouso das redes cerebrais simpáticas e parassimpáticas
ANORMALIDADES DO SISTEMA NERVOSO em sobreviventes da STT. As imagens de ressonância
CENTRAL AUTôNOMO NA STT magnética funcional do cérebro demonstraram redução
da espessura do córtex anteroventral do lobo insular e
Estudos recentes relataram anormalidades tanto na redução do volume de substância cinzenta na amígdala
estrutura funcional quanto na atividade das áreas do (Figura 3A) (42). Ambas as redes, parassimpática e
cérebro relacionadas às emoções e ao sistema nervoso simpática, apresentaram redução da conectividade
simpático. O primeiro relato em 2014 mensurou o fluxo funcional em estado de repouso em pacientes com
J A C C , V o l . 7 7, N o . 7, 2 0 2 1 Lyon et al. 59
23 de fevereiro de 2021: 902-21 Síndrome de Takotsubo

STT comparados a indivíduos controle (43). As redes miocárdica foram a causa de disfunção contrátil na STT,
funcionais do cérebro incluíram a amígdala, o hipo- porque a perfusão coronária depende do relaxamento
campo e a ínsula onde foram observadas as alterações miocárdico (50). A demanda de energia do miocárdio,
estruturais (Figura 3B), o que corroborou as evidências mensurada pela tomografia por emissão de pósitrons
de disfunção do sistema límbico em pacientes com STT usando fluorodesoxiglicose, apresenta redução signi-
após um episódio agudo. Uma questão importante é se ficativa nas áreas acinéticas em casos de STT (51). O
essas alterações eram preexistentes e contribuíram metabolismo do ácido graxo no miocárdio encontra-se
para a vulnerabilidade à STT ou foram adquiridas como reduzido nos segmentos acinéticos do coração na STT
resultado de uma grande tempestade de catecolaminas (49). Mecanismos de autorregulação asseguram uma
e do episódio de STT. correlação estreita entre as necessidades de energia
Pacientes com STT apresentam alterações na função do miocárdio e perfusão; entretanto, a diminuição da
do sistema nervoso autônomo (SNA) muito tempo perfusão nessas regiões é uma consequência esperada
depois da hospitalização índice e da recuperação total. de um episódio de STT se a disfunção diastólica e o
Estudos sobre a variabilidade da frequência cardíaca distúrbio metabólico precederem alterações no fluxo
– um marcador da atividade simpática e do equilíbrio coronariano (52). Outros estudos demonstraram per-
simpático-vagal – demonstraram que a variabilidade da fusão miocárdica normal em pacientes com STT durante
frequência cardíaca se alterou não apenas durante a fase a fase aguda; a perfusão era semelhante em segmentos
aguda, mas também vários meses após a hospitalização apicais acinéticos e basais hipercinéticos do VE (53).
índice (44). A cintilografia miocárdica com metaiodo- Evidências experimentais sugeriram que poderia
benzilguanidina (MIBG) combinada com iodo-123 – um ocorrer disfunção cardíaca induzida por catecolaminas
análogo da norepinefrina – foi utilizada para a realização e semelhante à STT na ausência de graves distúrbios de
de exames de imagens para a detecção da denervação do perfusão miocárdica. Não houve defeitos detectáveis
sistema simpático autônomo no coração. Estudos com de perfusão regional no período anterior ou durante o
MIBG em pacientes com STT demonstraram que a cap- desenvolvimento da disfunção cardíaca semelhante à
tação regional de MIBG no miocárdio teve forte redução STT em um modelo pré-clínico de STT em ratos (54).
nas regiões apicais acinésicas do VE, o que sugeriu Infarto do miocárdio abortado foi originalmente
distúrbios na captação pré-sináptica de norepinefrina proposto por alguns investigadores, mas estudos
e aumento da liberação pré-sináptica de catecolaminas. utilizando ultrassom intravascular coronariano não
Essas anormalidades podem persistir mesmo 12 meses relataram evidências de placa, disseção ou trombo em
após a recuperação da função contrátil (45). uma série de pacientes com STT (55).
Foi relatado vasoespasmo coronariano epicárdico
CONSEQUêNCIAS DOS ALTOS NÍVEIS DE durante angiografia diagnóstica em vários pacientes
CATECOLAMINAS CIRCULANTES E DO com STT e, anedoticamente, alguns pacientes com
AUMENTO DO ESTÍMULO SIMPáTICO STT tinham histórico de fenômeno de Raynaud, o que
sugeriu que eles eram suscetíveis a vasoespasmo. En-
Permanece desconhecido o mecanismo através do tretanto, o vasoespasmo poderia ser um epifenômeno
qual o excesso de catecolaminas desencadeia o atordo- após exposição sistêmica a altos níveis de epinefrina e
amento miocárdico nos vários padrões de balonamento norepinefrina, porque a STT pode ocorrer na ausência
regional que caracterizam essa síndrome. Várias hipó- de defeitos de perfusão. Além disso, conceitualmente, o
teses foram propostas, como se pode observar a seguir. vasoespasmo deveria ocorrer de forma simultânea nos
segmentos médio e distal de todas as principais artérias
DISFUNÇÃO DA MICROCIRCULAÇÃO E DA MA-
coronarianas para causar STT típica. Isso também teria
CROCIRCULAÇÃO CORONARIANAS. Sato et al. (46),
que ocorrer nos ramos laterais basais, mas não nos
que descreveram pela primeira vez um caso de STT
grandes vasos epicárdicos, para explicar as variantes
em 1990, propuseram que disfunção microvascular
basais e médio-ventriculares. O grau de elevação da
e espasmo da artéria coronária causavam STT. Essa
troponina em pacientes com STT é relativamente mo-
hipótese foi corroborada por algumas poucas séries de
derado e desproporcionalmente baixo se comparado
casos (47). Além disso, foram documentados defeitos
com o território do miocárdio disfuncional, sugerindo
de perfusão reversíveis no segmento apical do VE em
que outros mecanismos além da necrose isquêmica de
alguns pacientes com STT. Entretanto, esses defeitos na
miócitos estão envolvidos no vazamento de troponina.
perfusão miocárdica foram detectados no estágio mais
A inexistência de necrose significativa é consistente
tardio após o desenvolvimento da disfunção cardíaca
com níveis baixos de troponina e com a ausência de
(48,49). Portanto, essas observações não poderiam ser
realce tardio com gadolínio na maioria dos casos tanto
consideradas evidências de que distúrbios de perfusão
durante a fase aguda como no seguimento (19,50). Na
60 Lyon et al. J A C C , V o l . 7 7, N o . 7, 2 0 2 1

Síndrome de Takotsubo 23 de fevereiro de 2021: 902-21

FIGURA 4 Respostas miocárdicas aos altos níveis de epinefrina e à ativação da sinalização do β2AR-Gi com sinalização antiapoptótica e inotrópica
negativa

4 5
GeTaf\XagXfWXVy_V\b FXaf\U\_\WTWXWbVy_V\b GXaf}bTg\iT
$( >880$&#a@CGK
+
>880$# a@CGK
8c\aXYe\aTCGK <a\U\}bWTcebgX„aT
'9beTabe`T_\mTWT

>80#,a@ :\cX_TCGK
AbeXc\aXYe\aTCGK
$# >A?0$(#a@

GeTaf\}bUehfVT
X80$%(
XA80$

#(
8YX\gb\abge‰c\VbaXZTg\ib
WXT_gTfWbfXfWXXc\aXYe\aT
# TgeTi€fWXTWXabeXVXcgbeXf
8c\aXYe\aTCGK ȕ%[h`TabfTVbc_TWbfz
cebgX\aT:\cebgX\a 4-50$'% 4-50$(' 4-50$%'

$$ $# , + * ) ( '


?bZ6TgXVb_T`\aT@

6 A„iX_WXȕ%4E 6bageT}b`XW\TWT 7
cX_bȕ%4E
$# ( 
 
XaVhegT`XagbVX_h_Te

ȝ`WT`X`UeTaT
$#
Cebcbe}bWbgbgT_

6Ti€b_bfcbe
'
4h`XagbWb

$#
#(
#(
#(

##
## ## Ëc\VX 5TfX Ëc\VX 5TfX
Ëc\VX 5TfX Ëc\VX 5TfX

$ $ AbeXc\aXYe\aTXXc\aXYe\aT
%
<agXafTf\aT_\mT}bȕ$¸:f
898<GB<ABGEÒC<6BCBF<G<IB
CEÒ 4CBCGÒG<6B
$ $
%
$
%
%
$
%
$

8c\aXYe\aT
F\aT_\mT}bȕ%¸:\
0aXeibf\`cyg\Vb 898<GB<ABGEÒC<6BA8:4G<IB
4AG<4CBCGÒG<6B

(A) Curvas dose-resposta de contração para faixas miocárdicas do ventrículo direito de um camundongo transgênico que superexpressava o receptor beta 2 adrenérgico
(β2AR) humano em resposta a norepinefrina, epinefrina e epinefrina após pré-tratamento com a toxina pertússis inibidora de Gi (reproduzido com permissão de
Heubach et al. [65]). (B) Modelo computacional que demonstra o impacto dos gradientes apicobasais do βAR nos transientes de cálcio no miocárdio, na sensibilidade
dos miofilamentos de cálcio e na tensão ativa em um modelo in silico do ventrículo esquerdo, com a geração de disfunção apical com transição brusca dos gradientes
apicobasais do βAR (reproduzido com permissão de Land et al. [66]). (C) Aumento dos níveis e das respostas de β2AR nos cardiomiócitos ventriculares apicais vs.
cardiomiócitos ventriculares basais (reproduzido com permissão de Paur et al. [26]). *p <0,05, **p <0,01. (D) Aumento das cavéolas na membrana sarcolemal dos
cardiomiócitos basais ventriculares em comparação com os cardiomiócitos apicais ventriculares que sequestram o βAR (reproduzido com permissão de Wright et al.
[67]). ***p <0,001. (E) Esquema da oposição entre inervação simpática e gradientes do βAR no ventrículo esquerdo, com respostas diferenciais à epinefrina e à
norepinefrina (adaptado com permissão de Lyon et al. [62]). PTX = toxina pertússis (pertussis toxin).
J A C C , V o l . 7 7, N o . 7, 2 0 2 1 Lyon et al. 61
23 de fevereiro de 2021: 902-21 Síndrome de Takotsubo

nossa opinião, a vasoconstrição coronária epicárdica Existem evidências crescentes tanto de edema agudo
poderia contribuir para a fisiopatologia no subgrupo quanto de inflamação crônica persistente nos seg-
de pacientes com STT (56), duplamente afetados pela mentos do VE afetados pela STT (consulte a seção sobre
isquemia vasoespástica sobreposta no miocárdio do Inflamação na STT). O edema miocárdico e a inflamação
VE exposto a alta estimulação catecolaminérgica (isto também poderiam envolver a microvasculatura coro-
é, atordoamento isquêmico e neurogênico combinados). nariana e levar a disfunção microvascular adquirida.
Entretanto, a maioria dos pacientes com STT não Esses resultados foram observados nos estudos de
apresenta nenhuma evidência de espasmo epicárdico, provocação intracoronariana e estudos farmacológicos
mesmo com o uso de agentes provocativos. com vasodilatadores.
Alguns investigadores relataram redução do fluxo Em resumo, disfunções micro e macrovasculares
sanguíneo microvascular e da reserva de fluxo corona- com reatividade vasomotora anormal são achados
riano na fase aguda da STT (52-54), e demonstrou-se que comuns em pacientes com STT, mas não está claro se
a administração de adenosina intravenosa ocasionou uma esses achados são a causa específica ou um resultado do
melhora transitória da perfusão miocárdica, do índice de episódio agudo de STT. A disfunção microcirculatória,
pontuação de mobilidade da parede e da fração de ejeção quando presente na fase aguda da STT, é transitória,
do VE em alguns pacientes com STT, mas não em todos e sua recuperação se correlaciona com a melhora da
(55). Foi também demonstrado que a administração de função miocárdica. Isso sugere que alterações na micro-
acetilcolina, um vasoconstritor coronariano, em pacientes circulação coronariana (com as manifestações descritas
com STT durante a fase de convalescência reduz as res- anteriormente) são provavelmente parte integrante da
postas vasomotoras em um subgrupo de pacientes (56). progressão da STT.
Deve-se reconhecer que a adenosina (agindo através de
receptores purinérgicos) também tem potentes efeitos EFEITOS DIRETOS DOS ALTOS NÍVEIS
anticatecolaminérgicos mediados por uma redução da li- DE CATECOLAMINAS NA FUNÇÃO DOS
beração de norepinefrina a partir das sinapses neuromus- CARDIOMIóCITOS
culares e pela inibição da transdução de sinal através dos
receptores adrenérgicos. A adenosina também tem efeito Devido às evidências de níveis séricos suprafisioló-
direto sobre a função dos cardiomiócitos, e, portanto, os gicos de catecolaminas circulantes em pacientes com
efeitos observados podem não ser devidos puramente a STT (19), diversos estudos farmacológicos em modelos
um efeito microvascular (24,57-60). pré-clínicos sugeriram que as vias dos receptores adre-
Existem também evidências clínicas e experimen- nérgicos miocárdicos são importantes na fisiopatologia
tais contrárias à “hipótese microcirculatória”. No da STT em resposta aos níveis suprafisiológicos de
maior estudo sobre perfusão utilizando tomografia catecolaminas.
por emissão de pósitrons até o momento, Christensen Evidências clínicas e pré-clínicas demonstram que a
et al. (61) relataram que a anormalidade primária na disfunção transitória do VE na STT pode ser decorrente
STT é hiperperfusão em segmentos basais e perfusão dos efeitos diretos das catecolaminas no miocárdio ven-
normal em segmentos apicais acinéticos. Utilizando tricular, os quais são conhecidos como atordoamento
ecocardiografia com contraste no modelo experimental neurogênico ou catecolaminérgico. As catecolaminas
de STT em ratos (com um tempo de resolução de 5 min podem induzir disfunção cardiomiocítica, arritmias
até o desenvolvimento de acinesia apical induzida por e lesão celular irreversível por meio da sobrecarga
isoprenalina), Redfors et al. (29) demonstraram que a de cálcio, produção de espécies reativas oxidativas e
disfunção contrátil não foi precedida de qualquer alte- disfunção mitocondrial após ativação intensa dos βARs
ração na perfusão miocárdica. acoplados à via do mensageiro secundário proteína G
Outra hipótese proposta envolve o hormônio estimulatória (G s)-adenilil ciclase-monofosfato cíclico
endotelina-1. Pacientes com STT apresentam redução de adenosina (AMPc)−proteína quinase A.
do microRNA 125a-5p e aumento dos níveis plasmáticos No VE saudável de todas as espécies de mamíferos
de sua endotelina-1 alvo, que é um potente vasocons- estudadas, a densidade do β1AR e do β2AR é mais alta
tritor das arteríolas (57). Biópsias endomiocárdicas de no ápice. Ao mesmo tempo, a inervação simpática é
pacientes com STT demonstraram apoptose de células maior no miocárdio basal do VE e menor no miocárdio
endoteliais microvasculares (58). Em alguns pacientes, apical (60,62-64), o que sugere que o miocárdio apical
um teste pressórico ao frio (cold pressor test) realizado possa ser mais sensível aos altos níveis de catecola-
de 1 a 3 anos após o episódio agudo resulta em uma minas liberadas pelas glândulas adrenais (predominan-
elevação das catecolaminas e alterações transitórias do temente epinefrina). Embora a densidade do receptor
movimento da parede dos segmentos apical e médio do seja desconhecida em corações humanos, o gradiente
VE (59). apicobasal da densidade do nervo simpático é igual ao
62 Lyon et al. J A C C , V o l . 7 7, N o . 7, 2 0 2 1

Síndrome de Takotsubo 23 de fevereiro de 2021: 902-21

FIGURA 5 Aumento da sinalização do βAR induzida por catecolaminas e respostas contráteis em iPSC-CMs de pacientes com STT em comparação a indivíduos controle
sem STT (71)

4 6bageb_X 5 FGG
$##ȝ`b_"?<5@K

EX_T}b69C"L9Cabe`T_\mTWT
EX_T}b69C"L9Cabe`T_\mTWT

$``b_"?<fb
$##ȝ`b_"?<5@K
$#' $#' $ȝ`b_"?<fb
$``b_"?<fb
$ ##a`b_"?<fb
$ȝ`b_"?<fb $#&
$#&
$##a`b_"?<fb
$#% $#%

$#$
$#$
$##
$##
# %(# (## *(# $!### $!%(# # %(# (## *(# $!### $!%(#
GX`cbf GX`cbf

6 7
4_gXeT}baTeX_T}bWX9E8G


<fb WXcXaWXagXabe`T_\mTWT

$(# 
$##
WX$``b_"?FGG

'$"*
4_gXeT}bWTYbeT

$## %'") %'") '$"*


%'")
'$"*
(#
(#

#
#
"?

"?

"?

"?
"?

"?
b_

b_

b_

b_
b_

b_
a`

a`

`
`

# ####$ ###$ ##$ #$ $ $# $##


$`

$`
$ȝ

$ȝ
#

#
$#

$#

<fbȝ`b_"?
6bageb_X GGF
6bageb_X FGG 6bageb_X<fb%'[
FGG<fb%'[ 6bageb_X6:C<6< FGG6:C<6<

(A e B) Traços representativos de monofosfato cíclico de adenosina (AMPc)-FRET obtidos por sensor Epac1-AMPc-FRET em cardiomiócitos derivados de células-tronco pluripotentes
induzidas (inducible pluripotent stem cell−derived cardiomyocytes, iPSC-CMs) com vetor adenoviral de pacientes com STT e indivíduos controle estimulados com concentrações
crescentes de agonistas do βAR (100 a 1 mmol/L Iso). (C) Quantificação de experimentos de FRET. As estimulações do βAR levaram a respostas de FRET mais fortes no citosol em
iPSC-CMs de pacientes com STT em comparação a indivíduos controle nas maiores concentrações de Iso (1 mmol/L). Distúrbios elétricos em iPSC-CMs de pacientes com STT após
tratamento com catecolaminas. (D) Curvas dose–resposta inotrópica normalizadas de tecido cardíaco sintetizado a partir de iPSC-CMs derivados de indivíduos controle (azul) e
pacientes com STT (laranja) na presença (linhas pontilhadas) ou ausência (linhas sólidas) de bloqueio do β1AR (CGP) e do β2AR (ICI) demonstrando respostas relativamente mais
sensíveis a estimulação com baixas doses de isoproterenol através de β1ARs e β2ARs. *p <0,05. CFP = proteína florescente ciana (cyan fluorescent protein); CGP = CGP20712A; FRET
= transferência de energia por ressonância de fourier (fourier resonance energy transfer); ICI = 118,551; Iso = isoproterenol; YFP = proteína florescente amarela (yellow fluorescent
protein); outras abreviaturas conforme as Figuras 3 e 4. Adaptado com permissão de Borchert et al. (71).

de outros mamíferos, com menor densidade terminal causa uma disfunção semelhante à STT, pelo menos em
no nervo simpático no miocárdio apical do VE e maior contextos experimentais (12,35). Isso sugere que a
densidade terminal do nervo simpático no miocárdio ativação intensa do β1AR-Gs, mais prevalente, possa ser
basal do VE (60). Agora se reconhece que, embora a a etapa inicial, e a fosforilação do β2AR e o tráfego de es-
epinefrina tenha um efeito inotrópico positivo em níveis tímulos para Gi resultantes acarretam então a resposta
baixos e moderados através das vias clássicas β1AR-G s e inotrópica negativa, com subsequente ativação do β2AR
β2AR-G s, paradoxalmente, em altos níveis a epinefrina mediada pela epinefrina. Um inibidor da fosfodiesterase
exerce um efeito inotrópico negativo (26). Esse efeito (PDE) (por exemplo, milrinona), ao aumentar os níveis
inotrópico negativo é decorrente de uma troca mo- de AMPc e a ativação da proteína quinase A, também
lecular do β2AR da via inotrópica positiva G s para a poderia reproduzir o mesmo fenômeno (35).
via inotrópica negativa Gi . Trata-se de um fenômeno Uma observação clínica demonstrou que um tipo
específico da epinefrina, conhecido como tráfego de regional diferente de acinesia foi relatado em 20% dos
estímulos (stimulus trafficking) (Figura 4) (68,69). casos de STT recorrente (70). Embora isso, aparente-
Embora isso possa reproduzir o fenótipo da STT, outros mente, esteja em conflito com o aumento da distribuição
demonstraram que o β2AR isolado não necessariamente apical do β1AR e do β2AR e com a hipótese da troca de G s
J A C C , V o l . 7 7, N o . 7, 2 0 2 1 Lyon et al. 63
23 de fevereiro de 2021: 902-21 Síndrome de Takotsubo

para Gi, a expressão do βAR foi regulada negativamente entre pacientes com STT e indivíduos controle (71).
após a estimulação simpática. Isso pode levar uma dis- Essas informações baseadas em modelos de STT com
tribuição regional diferente do β1AR após um episódio iPSC-CM são interessantes, sendo necessários mais es-
de STT e, portanto, alterar a variante anatômica da STT tudos com células de mulheres pareadas por idade que
em alguns pacientes durante um episódio posterior. foram expostas a estressores semelhantes, mas foram
Vários estudos relataram aumento da densidade resistentes ao desenvolvimento da STT (72).
do βAR em cardiomiócitos apicais comparados aos O β2AR é ligado através da ativação do Gi para a
cardiomiócitos basais ventriculares do mesmo coração. estimulação do óxido nítrico (ON) sintase endotelial,
Esse fato corroborou as observações sobre as muitas aumentando, assim, a produção de ON. O ON pode reagir
diferenças na responsividade apical e basal a catecola- com o peróxido de hidrogênio gerado durante a ativação
minas, com células apicais demonstrando aumento da intensa do β1AR, o que gera peroxinitrito, um radical
sensibilidade e das respostas inotrópicas a níveis fisio- livre tóxico. É possível que o estresse nitrosativo me-
lógicos normais de catecolaminas (26). Recentemente, diado pelo peroxinitrito contribua para a redução da
mais estudos demonstraram diferenças ultraestrutu- contratibilidade e para a inflamação na STT. Relatou-se
rais entre cardiomiócitos ventriculares apicais e basais que pacientes com STT apresentam aumento dos marca-
isolados dos mesmos corações de roedores, o que pode dores de sinalização do ON (73) e do estresse nitrosativo
explicar as diferenças apicobasais (67). Os cardiomió- (25). A liberação de peroxinitrito resulta na ativação da
citos basais ventriculares têm uma densidade quase 10 poli(adenosina difosfato−ribose)−transferase-1, o que
vezes maior dos cavéolos na membrana sarcolemal em pode levar a um comprometimento da produção, do
comparação aos cardiomiócitos apicais ventriculares do transporte e da utilização de metabólitos fosforilados
mesmo coração (67) (Figura 4). Sabe-se que os β2ARs de alta energia (fosfocreatina [PCr] e adenosina trifos-
são sequestrados nos cavéolos. Isso restringe o acesso fato [ATP]). Foi relatada redução drástica da relação
aos ligantes das catecolaminas no espaço extracelular e PCr/ATP em pacientes com STT (74), embora ainda não
desacopla os β2ARs das vias do mensageiro secundário se saiba se as alterações no metabolismo energético
da proteína-G, de forma que a ativação do ligante não do miocárdio sejam uma causa ou uma consequência
resulta na produção de AMPc. O rompimento farma- adaptativa ou mal adaptativa da STT.
cológico dos cavéolos em estudos celulares levou os Foram relatadas diversas alterações nos genes
cardiomiócitos basais ventriculares a apresentarem um que regulam o metabolismo intracelular do cálcio em
fenótipo mais apical, com o aumento da sensibilidade das biópsias cardíacas de pacientes com STT durante a fase
catecolaminas (67). Além disso, estudos com modelos aguda. A expressão do gene cálcio adenosina trifosfatase
in silico demonstraram que o aumento da densidade do do retículo sarcoplasmático 2a (sarcoplasmic reticulum
βAR no miocárdio apical do VE, em comparação ao seu [SR] Ca2+-adenosine-triphosphatase 2a) encontra-se
miocárdio basal, resultou no balonamento apical com regulada negativamente, enquanto a expressão da sar-
ativação intensa (66) (Figura 4). colipina encontra-se regulada positivamente, e foi ob-
O papel central dos βARs foi recentemente destacado servada a desfosforilação do fosfolambano nas biópsias
em estudos com cardiomiócitos derivados de células- endomiocárdicas de pacientes com STT durante a fase
tronco pluripotentes induzidas (inducible pluripotent aguda (75). Todas essas alterações moleculares acumu-
stem cell−derived cardiomyocytes, iPSC-CMs) e tecido ladas resultam na redução da atividade do SERCA2a, o
cardíaco projetado a partir de amostras de pacientes que acarreta diminuição da recaptação de cálcio e dos
com STT, em comparação a iPSC-CMs de indivíduos estoques de cálcio no retículo sarcoplasmático, decor-
controle do sexo feminino sem STT (Figura 5) (71). rente do aumento da relação fosfolambano/SERCA2a,
Foi identificado um aumento da resposta β1AR-AMPc, e contribui para disfunções sistólicas e diastólicas nos
assim como maior sensibilidade a quiescência elétrica segmentos afetados. Em roedores saudáveis, a adminis-
induzida por catecolaminas em altas doses (Figura 5) tração de isoproterenol, um agonista seletivo do β1AR
(71). Essas respostas sugerem maior sensibilidade e β2AR, causa fibrose miocárdica de forma seletiva nos
a catecolaminas nos cardiomiócitos ventriculares segmentos apicais (76), associada a disfunção contrátil
de pacientes com STT em comparação a indivíduos e distúrbios no metabolismo miocárdico (77). Essas
controle pareados por sexo. O mesmo estudo também características foram relatadas em segmentos apicais
projetou tecido cardíaco a partir de iPSC-CMs derivados durante a fase aguda em pacientes com STT através de
de pacientes com STT e demonstrou redução da função tomografia por emissão de pósitrons usando fluoro-
contrátil basal e aumento da resposta a catecolaminas. desoxiglicose (61). No nível celular, tanto em modelos
Os investigadores também relataram anormalidades no animais de STT após injeção de isoproterenol como em
metabolismo lipídico e identificaram potenciais dife- biópsias endomiocárdicas de pacientes com STT, há
renças nos transportadores lipídicos dos cardiomiócitos acúmulo intracelular significativo de gotículas lipídicas
64 Lyon et al. J A C C , V o l . 7 7, N o . 7, 2 0 2 1

Síndrome de Takotsubo 23 de fevereiro de 2021: 902-21

nos cardiomiócitos do miocárdio apical durante a fase catecolaminas miocárdicas (30). Análises de variabi-
aguda, mas não após a recuperação (24,64). Isso é con- lidade da frequência cardíaca em pacientes com STT
sistente com uma interrupção do metabolismo mitocon- também demonstram predomínio simpático e redução
drial em segmentos apicais hipocinéticos ou acinéticos, considerável da atividade parassimpática durante a fase
redução do consumo de ácidos graxos livres e acúmulo aguda (31). Estudos microneurográficos sobre a atividade
de gotículas lipídicas no citoplasma. do sistema nervoso simpático periférico apresentaram
Biópsias endomiocárdicas de pacientes com STT resultados conflitantes. Embora alguns estudos tenham
também revelaram necrose em banda de contração, o relatado aumento da atividade (32), outros, paradoxal-
que também foi observado em biópsias endomiocárdicas mente, demonstram redução da atividade nervosa sim-
de pacientes com feocromocitoma ou hemorragia suba- pática periférica (33). Essa discrepância pode depender
racnóidea. A ativação intensa dos βARs miocárdicos por do momento da medição em relação ao início da STT e das
catecolaminas durante tempestades simpáticas leva à diferentes populações de pacientes incluídos nos estudos
sobrecarga citosólica de cálcio (75,78). em termos de idade, sexo e presença de fatores de risco
Vários estudos genéticos em pequenas coortes de cardiovascular tradicionais (por exemplo, hipertensão e
STT não foram capazes de identificar uma anormalidade tabagismo). Estudos microneurográficos demonstraram
genética consistente que reflita a heterogeneidade das uma diminuição do controle barorreflexo espontâneo do
populações e os pequenos tamanhos amostrais (79,80). tônus simpático em alguns pacientes com STT. Durante
Um estudo relatou que um polimorfismo L41Q no gene a fase aguda, há uma redução da função neuronal simpá-
receptor de quinase 5 acoplado à proteína G, que ativa tica do coração, mensurada através de cintilografia mio-
o trafficking β2-Gi, era mais comum em pacientes com cárdica com metaiodobenzilguanidina combinada com
STT do que em uma população controle pareada (81). iodo-123 após a tempestade simpática (34) (Figura 2).
Entretanto, esse achado não foi confirmado em dois es- Alterações na função simpática miocárdica estão
tudos posteriores (79,80). Outro estudo relatou maior associadas a uma resposta inflamatória intersticial mo-
prevalência de polimorfismos específicos na proteína nonuclear e necrose em banda de contração (um marco
antiapoptótica BAG3 em uma população com STT se da toxicidade das catecolaminas) (19). O papel central
comparada a indivíduos controle (82), mas, novamente, da estimulação do βAR na STT foi demonstrado em
esse achado não foi reproduzido em outra população diversos modelos animais (26,36,64). O balonamento
(80). São necessários estudos maiores e com poder apical pode ser provocado em ratos por estresse de
apropriado para determinar se há uma suscetibilidade imobilização e atenuado pelo bloqueio do αAR e do βAR
genética contribuindo para a STT. (37).
Evidências experimentais recentes demonstraram
que se pode induzir balonamento apical semelhante à ANOMALIAS NO METABOLISMO MIOCáRDICO
STT em um modelo com ratos por meio da inibição da NA STT
fosfodiesterase intracelular com milrinona. Isso aumen-
taria os níveis de AMPc, que é um mecanismo posterior Foram relatadas anomalias no metabolismo mio-
dos receptores adrenérgicos que destaca a relevância cárdico em segmentos apicais durante a fase aguda em
da via βAR-Gs- adenilil ciclase-AMPc-proteína quinase A pacientes com STT através de tomografia por emissão
(83). É possível que a autoativação dessa via na ausência de pósitrons usando fluorodesoxiglicose (84). O uso
de ligação aos ligantes catecolaminas e da ativação do de ácidos graxos livres regionais e o transporte ex-
βAR, ao mesmo tempo em que aumenta a complexidade tracelular de glicose apresentaram redução aguda nos
da fisiopatologia da STT, também pode explicar por que segmentos apicais miocárdicos afetados, mas não nos
nem todos os pacientes que desenvolvem STT apre- segmentos basais, durante a fase aguda (85). No nível
sentam aumento dos níveis de catecolaminas circulantes celular, tanto em modelos animais de STT após injeção
ou um gatilho estressor (casos espontâneos). Isso tem de isoproterenol como em biópsias endomiocárdicas
implicações importantes para a escolha do tratamento de pacientes com STT, há acúmulo intracelular signi-
no manejo de pacientes com choque cardiogênico. Em ficativo de gotículas lipídicas nos cardiomiócitos do
nossa opinião, deve-se evitar tanto catecolaminas miocárdio apical durante a fase aguda, mas não após
inotrópicas (epinefrina, norepinefrina, dobutamina) a recuperação (24,35). Isso é consistente com uma in-
quanto inibidores da fosfodiesterase que aumentam os terrupção do metabolismo mitocondrial em segmentos
níveis de AMPc (milrinona, enoximona). apicais hipocinéticos ou acinéticos, redução do consumo
Corroborando o excesso de estimulação simpática de ácidos graxos livres e acúmulo de gotículas lipídicas
cardíaca e sistêmica, foram observados altos níveis no citoplasma, e pode ser uma forma de atordoamento
de norepinefrina no seio coronário em pacientes com metabólico agudo induzido por catecolamina ou por
STT, o que sugere um aumento da liberação local de uma combinação de catecolamina e isquemia (86).
J A C C , V o l . 7 7, N o . 7, 2 0 2 1 Lyon et al. 65
23 de fevereiro de 2021: 902-21 Síndrome de Takotsubo

FIGURA 6 Inflamação aguda na STT e potenciais mecanismos da miocardite catecolaminérgica

7TWbfWX\agXaf\WTWXWbf\aT_cbaWXeTWbX`G%VbegX\agX\eb
j[b_X f_\VXG% jX\Z[gXWf\ZaT_\agXaf\glG% jF<WXVbageb_Xf
4 abe`T\f4XcTV\XagXfVb`f„aWeb`XWXGT^bgfhUbTZhWT5
4 5

G% jF<a}bVbee\Z\Wb
G% jF<a}bVbee\Z\Wb
$% $%
$# $#
#+ #+
#) #)
#' #'

6BEG8 $ % & ' ( ) * 6BEG8 $ % & ' ( ) *


54F4? @87<4? 4C<64? 54F4? @87<4? 4C<64?

6 4ZhWb &`XfXf <aW\i„WhbfVbageb_X


#+

#*

#)

#(

#'

5 4 5

6 6bagTZX`WXaXhge‰Ǝ_bf 7 6bagTZX`WX`TVe‰YTZbf
##$'*
##%,$

##%,#

& $(#
`TVe‰YTZbfcbeyeXT
aXhge‰Ǝ_bfcbeyeXT
AŽ`Xeb`€W\bWX

AŽ`Xeb`€W\bWX

###$)

% $##
###$&
##&('

##%*(
#'#'*
#%$$)

##&)%
##')*

$ (#
#$',$

##$(%
#'*#)
#%$##

##$$'
#($+)

#,$*)

# #
#

'

$'

'

$'
%

&

&
$

$
)

)
(

(
_X

_X
7\ *

7\ *
T

T
T

T
T

T
T

T
T

T
T

T
T

T
T

T
eb

eb
T

T
7\

7\
7\

7\
7\

7\
7\

7\
7\

7\
7\

7\
7\

7\
7\

7\
ag

ag
6b

6b

(A) Aumento do T2/STIR nos segmentos apicais afetados em RMC de casos agudos de síndrome de Takotsubo (exemplo típico no painel esquerdo de RMC com as setas amarelas indicando os
segmentos apicais com aumento do T2/STIR) e que persistiram por 3 meses (de Neil et al. [86], reproduzido com permissão). (B) Infiltração aguda de neutrófilos (A) e macrófagos (B) no miocárdio
ventricular em um modelo em ratos de síndrome de Takotsubo induzida pela injeção de altas doses de isoproterenol com alterações temporais no número de neutrófilos (C) e macrófagos (D) no
miocárdio ao longo de 14 dias após a injeção de altas doses de isoproterenol (de Wilson et al. [87], reproduzido com permissão). Abreviaturas conforme a Figura 3.

INFLAMAÇÃO NA STT disfunção cardíaca e para sintomas cardíacos em longo


prazo (Figura 6). Estudos com ressonância magnética
Há um corpo crescente de evidências demonstrando cardíaca relataram a presença de um aumento do sinal
a ocorrência de inflamação durante a fase aguda; T2/STIR, o que provavelmente refletia a existência de
ademais, se persistir na fase subaguda crônica, a edema agudo do miocárdio, mas apenas nos segmentos
inflamação pode contribuir de forma importante para afetados, em pacientes com STT durante a fase aguda e
66 Lyon et al. J A C C , V o l . 7 7, N o . 7, 2 0 2 1

Síndrome de Takotsubo 23 de fevereiro de 2021: 902-21

quando se está investigando a variante anatômica es- marcadores inflamatórios e infiltração miocárdica por
pecífica (84,85). Neil et al. (86) relataram pela primeira células inflamatórias em pacientes com STT. Um estudo
vez a presença de edema persistente nos segmentos recente associou marcadores de inflamação sistêmica
afetados 3 a 4 meses após o episódio agudo, e, recente- com arritmias atriais e prognóstico em pacientes com
mente, Scally et al. (74) demonstraram anormalidades, STT (88).
incluindo inflamação de baixo grau, ≥12 meses após o
ARRITMIAS VENTRICULARES. Numerosas investi-
episódio agudo de STT em alguns pacientes.
gações demonstraram anteriormente que a infusão
Os mesmos investigadores também estudaram o
de baixas doses de catecolaminas ou estresse mental
impacto de altas doses de catecolaminas sobre a infla-
estiveram associados ao encurtamento do QT (92).
mação miocárdica em um modelo pré-clínico em ratos.
Em contrapartida, pacientes com STT frequentemente
Eles relataram que houve infiltração de neutrófilos
apresentam prolongamento do QT durante a fase aguda,
nas primeiras 72 h, seguida por macrófagos do tipo 1
com padrão de síndrome do QT longo adquirida e in-
durante 3 a 5 dias, associada com inflamação, seguida
versão da onda T (sinal de Wellens), o qual também foi
da resolução e da recuperação da disfunção contrátil
relatado em pacientes com feocromocitoma (93,94). Na
(87). Também foi observado aumento dos macrófagos
STT, o prolongamento do QT e a máxima profundidade
em amostras cardíacas post mortem de pacientes com
da onda T foram evidenciados 3 a 4 dias após o início da
STT (87) e em outros estudos que demostram aumento
STT e retornaram aos valores basais após 3 meses (93).
do estresse oxidativo (25).
Liberação de epinefrina, inflamação, edema miocárdico,
Existem exemplos de casos de STT desencadeados
isquemia, estresse oxidativo e baixos de estrogênio
pela vacinação contra influenza e também por inibi-
foram propostos como mecanismos importantes envol-
dores de checkpoint para o tratamento de câncer (que
vidos no prolongamento do QT e na inversão da onda T
ativam os linfócitos T), o que sugere ser possível que
na STT. Por analogia com a síndrome do QT longo congê-
a STT seja desencadeada por ativação e inflamação
nita, é provável que a redução da taxa de repolarização
imunológicas. São necessárias mais pesquisas para
e o prolongamento da duração do potencial de ação
entender os mecanismos imunológicos específicos que
(action potential duration, APD) envolvam a regulação
causam inflamação durante a fase aguda da STT, o que
positiva das correntes de entrada, incluindo ICa e INa, e
determina o desligamento eficaz da resposta imune, em
a regulação negativa das correntes de saída, tais como
comparação a pacientes com inflamação miocárdica
Ito ou canais de potássio. No cenário de prolongamento
crônica, e se direcionar a resposta inflamatória de
da APD e do QT, os batimentos desencadeados podem
forma terapêutica pode ser uma opção de tratamento.
causar torsades de pointes ou arritmias ventriculares
polimórficas. Utilizando iPSC-CMs humanos, um
AlterAções eletrofisiológiCAs pró-
estudo experimental recente descreveu o mecanismo
ARRITMIA NA STT
eletrofisiológico por meio do qual as catecolaminas
poderiam induzir o prolongamento da APD e do QT (95).
Estudos recentes ajudaram a elucidar as implicações
Nesse modelo, a isoprenalina em concentração tóxica
prognósticas das arritmias supraventriculares e ventri-
aumentou a produção de espécies oxidativas reativas
culares na STT ao enfatizarem o risco considerável de
e prolongou a APD, devido ao aumento da INa tardia à
complicações graves e os altos índices de mortalidade
diminuição da Ito. O estradiol β reduziu a expressão dos
em curto e longo prazo (88-90). Propôs-se que vários
βARs, incluindo o β2AR, diminuiu a produção de espécies
mecanismos envolvendo modificação do substrato
oxidativas reativas induzida pela superestimulação do
eletrofisiológico, reentrada, atividade desencadeada e
adrenoreceptor e preveniu os efeitos do isoproterenol
automatismo anormal contribuem para a instabilidade
sobre as características eletrofisiológicas dos iPSC-CMs
elétrica na STT.
humanos. Esses achados sugeriram que a redução dos
ARRITMIAS ATRIAIS. Alongamento atrial agudo e níveis de estrogênio podem ocasionar uma maior ex-
inflamação poderiam ocorrer seja como consequência pressão dos βARs e corroboram a maior suscetibilidade
indireta do aumento da pressão de enchimento do VE à STT em mulheres pós-menopáusicas (95).
ou como consequência direta dos altos níveis de cateco- Estudos experimentais demonstraram que várias
laminas no miocárdio atrial. A função de esvaziamento citocinas pró-inflamatórias, tais como fator de necrose
do átrio esquerdo esteve correlacionada com a fração de tumoral-α e interleucina-6, induzem o prolongamento
ejeção do VE e apresentou recuperação no seguimento da APD e do QT ao diminuírem a corrente transitória de
(91). Acredita-se que a inflamação contribua para o saída Ito ou ao aumentarem a corrente de cálcio do tipo
início e a perpetuação de arritmias atriais consis- L (96,97). O edema miocárdico também pode contribuir
tentes com a descrição de altos níveis circulantes de para o prolongamento do QT e para a dispersão da onda
J A C C , V o l . 7 7, N o . 7, 2 0 2 1 Lyon et al. 67
23 de fevereiro de 2021: 902-21 Síndrome de Takotsubo

T. Foi relatado edema miocárdico transmural com gra- transcricionais anti-apoptóticos; e 4) estimulação do
diente apicobasal na fase aguda utilizando ressonância metabolismo celular pela inibição do glicogênio sintase
magnética cardíaca (93). Foram demonstradas correla- quinase 3. A demonstração de que a regulação negativa
ções entre edema miocárdico e índices eletrocardiográ- da função miocárdica é um mecanismo protetor cau-
ficos de repolarização. Além disso, evidenciou-se que o sado por uma forte redução da perfusão foi confirmada
desenvolvimento e a resolução das anormalidades de por diversos estudos clínicos que demonstraram uma
repolarização ventricular e do edema miocárdico do VE disparidade inversa entre perfusão e metabolismo, o
ocorreram em paralelo, o que sugere associação causal que é normalmente observado durante o atordoamento
(93). Aumento do automatismo, da APD, do intervalo miocárdico (53).
QT e da dispersão, indução de pós-despolarização
precoce e tardia e aumento da dispersão transmural STT COMO UMA SÍNDROME
da repolarização podem levar à reentrada cardíaca e CARDIOCIRCULATóRIA
ao início da arritmia ventricular. Outros relatos enfa-
tizaram que o edema também poderia contribuir para Para além dos efeitos diretos do estresse sobre
os distúrbios de condução observados na STT, incluindo o miocárdio e a vasculatura coronariana, também
bloqueio atrioventricular completo, bloqueio sinoatrial deve-se considerar os efeitos sistêmicos dos altos níveis
ou falha transitória de estimulação (98). Embora o risco de catecolaminas, especialmente sobre a vasculatura
de arritmia ventricular seja considerado, na maioria periférica. A administração de diferentes catecola-
das vezes, transitório, a persistência de distúrbios de minas causa as diversas variantes ventriculares da STT,
condução, juntamente com a alta taxa de estimulação com um mecanismo dependente do pós-carga contri-
ventricular em pacientes com STT que necessitam da buindo para o desenvolvimento da STT (12). Com base
implantação de um marcapasso, aponta para o fato de nessas observações experimentais, Redfors et al. (28)
que as fibras de condução são particularmente sensíveis propuseram que a STT pode ser a única forma de ator-
a edema, inflamação, isquemia ou aumento das cateco- doamento miocárdico (atordoamento de Takotsubo).
laminas (89). Na STT, a base para esse atordoamento pode ser uma
demanda excessiva de oxigênio causada pela ativação
STT COMO UMA RESPOSTA CARDÍACA excessiva do β1AR e do β2AR mediada pelas catecola-
PROTETORA AO ESTRESSE minas, em vez da falta de suprimento de oxigênio que
ocorre durante um atordoamento isquêmico. Visto que
As graves anormalidades do movimento da parede o suprimento de oxigênio permanece adequado para a
observadas na STT são transitórias, o que sugere que manutenção da funções celulares basais, a grave regu-
mecanismos protetores possam operar para preservar lação negativa autoiniciada das atividades contráteis
a integridade do miocárdio. São conhecidos pelo menos corrige de forma eficaz a discrepância entre suprimento
dois mecanismos que podem suscitar a proteção do e demanda na STT. Esse modelo demonstrou que fortes
miocárdio. O primeiro é representado pelos mecanismos estímulos vasodilatadores e inotrópicos se sobrepõem
protetores relacionados ao βAR. Conforme discutido aos arcos reflexos autônomos. Portanto, o aumento da
anteriormente, níveis suprafisiológicos de epinefrina contratilidade e a redução do pós-carga acarretam um
fazem com que o β2AR passe a se acoplar ao Gi e não aumento da fração de ejeção, com a quase obliteração do
ao G s, causando, portanto, uma resposta inotrópica ne- lúmen do VE na sístole durante os primeiros segundos
gativa, mas ativando também vias protetoras antiapop- após o aumento das catecolaminas (fase imediata). A
tóticas (26,62). Uma importante via de sobrevivência acinesia apical se desenvolve nos minutos posteriores.
celular ativada pela via β2AR-Gi é a via de sobrevivência Nesse modelo pré-clinico, o balonamento apical pode se
fosfoinositídeo 3-quinase/proteína quinase B, ativada transformar em balonamento basal simplesmente pela
durante a fase aguda da STT em biópsias endomiocár- manipulação da resistência vascular periférica (12). O
dicas de pacientes (Figura 5) (23). A proteína quinase B balonamento apical pode se desenvolver em casos de
é crucial para o crescimento cardíaco pós-natal e para pós-carga, enquanto o balonamento basal se desenvolve
a angiogênese coronariana. Além disso, os alvos pos- em casos de alta pós-carga.
teriores da proteína quinase B, especialmente os alvos
ATORDOAMENTO DE TAkOTSUBO – ATORDOA-
mecanísticos da rapamicina e glicogênio sintase quinase
MENTO CATECOLAMINÉRGICO OU UMA COMBI-
3, são reguladores comprovados do metabolismo, da
NAÇÃO DE ATORDOAMENTO CATECOLAMINÉRGICO
proliferação e da sobrevivência celular. A sobrevivência
E ISQUêMICO – UMA ENTIDADE FISIOPATOLóGICA
celular é atingida através de vários mecanismos: 1)
SEPARADA. Em resumo, evidências crescentes de
inibição direta da apoptose; 2) inibição de fatores trans-
estudos experimentais e clínicos demonstram que a
cricionais pró-apoptóticos; 3) estimulação dos fatores
68 Lyon et al. J A C C , V o l . 7 7, N o . 7, 2 0 2 1

Síndrome de Takotsubo 23 de fevereiro de 2021: 902-21

ILUSTRAÇÃO CENTRAL Esquema resumindo os mecanismos que contribuem para a disfunção miocárdica e o atordoamento de Takotsubo na síndrome
de Takotsubo

@XVTa\f`bfXaib_i\WbfaTƎf\bcTgb_bZ\T
WTf„aWeb`XWXGT^bgfhUb

GX`cXfgTWXVXageT_
f\`cyg\VT

4h`XagbTZhWbWT GX`cXfgTWX
ce€ VTeZTiXage\Vh_Te f\`cyg\VTcXe\Y€e\VT

ITfbXfcTf`bWX 4g\iT}bWX 7\fYha}b


`Ž_g\c_bfiTfbf f\aT_\mT}b\abge‰c\VT `\VebiTfVh_Te
aXZTg\iTcX_Tf
VTgXVb_T`\aTf

<aƑT`T}b
CbgXaV\T_WXT}bX
ceb_baZT`XagbWbDGV

8fgeXffXa\gebfTg\ib

4_gXeTXf`XgTU‰_\VTf
4g\iT}bWXi\Tf Vb`TVŽ`h_b
WXfbUeXi\i‚aV\T \ageTVX_h_TeWX_\c„W\bf

Lyon, A.R. et al. J Am Coll Cardiol. 2021;77(7):902–21.

A intensa ativação inicial do sistema nervoso simpático promove a ativação neural central e estimula a liberação de epinefrina pelas glândulas adrenais. O resultado é
o aumento da pré-carga ventricular, do vasoespasmo coronariano e da disfunção microvascular, além de atordoamento catecolaminérgico direto em decorrência de
alterações na sinalização do receptor β adrenérgico. Essas alterações resultam em disfunção miocárdica aguda, comumente nos segmentos apical e médio-ventricular,
conforme demonstra esse exemplo de ressonância magnética cardíaca ao final da sístole na imagem central, e estão associadas a alterações na eletrofisiologia
cardíaca, incluindo prolongamento significativo do QTc e risco de arritmias ventriculares. Dentro dos segmentos miocárdicos afetados, ocorre a ativação da inflamação,
com infiltração de macrófagos e linfócitos, aumento do estresse nitrosativo, ativação de vias de sobrevivência antiapoptóticas e alterações metabólicas que levam ao
acúmulo de gotículas lipídicas no citoplasma dos cardiomiócitos.

ativação intensa do βAR, talvez inicialmente dominada miocárdica simultânea e sobreposta que ocorre de
pelo β1AR, ativa a G s, o que ocasiona um aumento do forma secundária ao vasoespasmo epicárdico e/ou
estresse oxidativo e hipercontratilidade transitória disfunção microvascular. Isso pode resultar em vaso-
durante os segundos iniciais. Então, ocorre a ativação constrição dependente do αAR e mediada por epinefrina
da via cardioprotetora β2AR-Gi, especialmente quando e norepinefrina, aumento da geração de espécies rea-
há altos níveis de epinefrina com respostas diferenciais tivas, comprometimento da função mitocondrial, com
entre os miocárdios vasculares apical e basal. A seguir, a acúmulo de gotículas lipídicas, e maior produção de ON
via β2AR-Gi ativa a via antiapoptótica e cardioprotetora pela intensa ativação do β2AR-Gi, o que leva à geração de
fosfoinositídeo 3-quinase/proteína quinase B, o que peroxinitrito. Todos esses fatores acarretam disfunção
limita a necrose dos miócitos e permite a recuperação contrátil e inflamação. A interação entre o ventrículo e
do miocárdio. a pós-carga vascular (acoplamento ventriculoarterial) e
Uma hipótese integrada para explicar todas as a indução da obstrução do trato de efluxo do VE podem
observações poderia se concentrar na isquemia influenciar os gradientes de pressão intracavitária do
J A C C , V o l . 7 7, N o . 7, 2 0 2 1 Lyon et al. 69
23 de fevereiro de 2021: 902-21 Síndrome de Takotsubo

VE e sua dinâmica e, juntamente com a distribuição do VE clinicamente significativa. Se houver obstrução


das terminações nervosas simpáticas, dos β1ARs e do trato de efluxo do VE, é preferível utilizar bloquea-
dos β2ARs, determinará qual variante se desenvolverá dores beta-1 seletivos (por exemplo, bisoprolol). Tanto
(apical, mediana ou basal). Ainda é preciso determinar os inibidores de enzima de conversão da angiotensina
a função do endocárdio, que será exposto a uma elevada como os betabloqueadores podem ser interrompidos
tensão de cisalhamento transitória e ao suprimento de uma vez recuperada a função do VE, desde que não
ON endocárdico para o miocárdio adjacente nos seg- haja outras indicações (por exemplo, taquiarritimias,
mentos afetados (99). hipertensão).
Esse modelo pode ser considerado um atordoamento
catecolaminérgico isolado ou uma combinação de CONCLUSÕES
atordoamento catecolaminérgico e isquêmico e poderia
ser considerado como atordoamento de Takotsubo. A STT é uma condição clínica complexa desencadeada
Cogitamos a hipótese de que casos com atordoamento por estressores emocionais ou físicos. O reconheci-
catecolaminérgico isolado geralmente terão uma re- mento dessa síndrome de insuficiência cardíaca aguda
cuperação completa, com inflamação residual mínima tem progressivamente aumentado nos últimos anos,
e poucas complicações. Em contrapartida, os casos em com a compreensão de que não se trata de uma condição
que houve uma combinação de atordoamento cateco- benigna, devido à taxa de mortalidade durante a fase
laminérgico e isquêmico apresentam um grau mais aguda, à mortalidade em longo prazo, às anormalidades
elevado de inflamação aguda, maior lesão miocárdica e cardiovasculares persistentes e ao risco de recorrência.
maior risco de complicações agudas. Os sobreviventes Cada uma das hipóteses fisiopatológicas debatidas
terão maior probabilidade de desenvolver problemas traz uma importante contribuição, mas, isoladamente,
cardíacos em longo prazo, devido à inflamação persis- nenhuma explica todos os mecanismos que levam ao
tente (Ilustração Central). atordoamento na STT. Existem muitos aspectos da STT
que ainda não foram totalmente compreendidos. Mais
IMPLICAÇÕES PARA O MANEJO CLÍNICO esforços de pesquisa são necessários para corroborar,
refutar, refinar e/ou unificar essas hipóteses. São neces-
Não existem ensaios clínicos randomizados que sários ensaios clínicos para avaliar novas estratégias de
corroborem recomendações específicas de tratamento tratamento durante a fase aguda, para analisar trata-
para a síndrome de Takotsubo. Todos os documentos mentos para reduzir o risco de problemas cardiovascu-
publicados a respeito das recomendações de trata- lares residuais nos sobreviventes da STT e para prevenir
mento são baseados na opinião de especialistas e pre- a recorrência em casos de alto risco. Pesquisas futuras
cisam ser validados em estudos randomizados (1,10). devem enfocar os mecanismos miocárdicos específicos
Visto que a característica central da STT é a rápida subjacentes às anormalidades na sinalização do βAR
recuperação da função cardíaca normal na maioria e as vias posteriores, a inflamação, o metabolismo, os
dos casos, a mais importante doutrina que deve guiar fatores de risco genéticos e epigenéticos e a disfunção
a tomada de decisão é o princípio ético fundamental microvascular, a fim de identificar quais devem ser
da medicina: primum non nocere (em primeiro lugar, os alvos do tratamento. Ainda é preciso explorar as
não causar danos). O principal objetivo do tratamento diferenças entre os sexos em todos esses mecanismos.
intra-hospitalar deve ser oferecer cuidados de apoio Espera-se que, no futura, seja desenvolvida uma nova
para manter a vida e minimizar complicações durante base de evidências clínicas para orientar a tomada de
a recuperação. Em casos leves, pode não ser necessário decisão e melhorar a qualidade de vida e os desfechos
nenhum tratamento ou pode ser necessária apenas dos pacientes com STT.
uma terapia médica de curta duração. Em casos graves
complicados por insuficiência circulatória progressiva APOIO FINANCEIRO E DECLARAÇÕES DOS
e choque cardiogênico, deve-se considerar assistência AUTORES
mecânica precoce como uma ponte para a recuperação.
Pacientes com STT que apresentam disfunção sistólica Os autores informaram não ter relações relevantes para os conte-
údos deste artigo a serem declaradas.
significativa no VE (fração de ejeção do VE <40%)
devem ser tratados com inibidores de enzima de con-
CORRESPONDêNCIA: Dr. Alexander R. Lyon, Depart-
versão da angiotensina e betabloqueadores licenciados
para casos de insuficiência cardíaca. Recomendamos ment of Cardiology, Royal Brompton Hospital, London
carvedilol como o betabloqueador de preferência, SW3 6NP, United Kingdom. E-mail: a.lyon@ic.ac.uk.
exceto na presença de obstrução do trato de efluxo Twitter: @RBandH, @ElmirOmerovic2.
70 Lyon et al. J A C C , V o l . 7 7, N o . 7, 2 0 2 1

Síndrome de Takotsubo 23 de fevereiro de 2021: 902-21

REFERêNCIAS

1. Lyon AR, Bossone E, Schneider B, et al. Current 2008;15:137-41. cardiomyopathy in Sweden: evidence for different,
state of knowledge on Takotsubo syndrome: 18. Nef HM, Mollmann H, Kostin S, et al. Tako- ethnic predisposition and altered cardiocirculatory
a position statement from the Taskforce on Tsubo cardiomyopathy: intraindividual structural status. Cardiology 2012;122:180–6.
Takotsubo Syndrome of the Heart Failure analysis in the acute phase and after functional 34. Burgdorf C, von Hof K, Schunkert H,
Association of the European Society of Cardiology. recovery. Eur Heart J 2007;28:2456-64. Kurowski V. Regional alterations in myocardial
Eur J Heart Fail 2016;18:8-27.
19. Wittstein IS, Thiemann DR, Lima JA, et al. sympathetic innervation in patients with transient
2. Ghadri JR, Wittstein IS, Prasad A, et al. Neurohumoral features of myocardial stunning left-ventricular apical ballooning (Tako-Tsubo
International expert consensus document due to sudden emotional stress. N Engl J Med cardiomyopathy). J Nucl Cardiol 2008;15:65-72.
on Takotsubo syndrome (Part I): clinical 2005;352:539-48. 35. Ali A, Redfors B, Lundgren J, et al. Effects
characteristics, diagnostic criteria, and
20. Gagnon N, Mansour S, Bitton Y, Bourdeau of pretreatment with cardiostimulants and
pathophysiology. Eur Heart J 2018;39:2032-46.
I. Takotsubo-like cardiomyopathy in a large betablockers on isoprenaline-induced takotsubo-
3. Ghadri JR, Sarcon A, Diekmann J, et al. Happy cohort of patients with pheochromocytoma and like cardiac dysfunction in rats. Int J Cardiol
heart syndrome: role of positive emotional paraganglioma. Endocr Pract 2017;23:1178–92. 2019;281:99-104.
stress in takotsubo syndrome. Eur Heart J
21. Wittstein IS. Stress cardiomyopathy: a 36. Sachdeva J, Dai W, Kloner RA. Functional and
2016;37:2823-9.
syndrome of catecholamine-mediated myocardial histological assessment of an experimental model
4. Kato K, Lyon AR, Ghadri JR, Templin C. stunning? Cell Mol Neurobiol 2012;32:847–57. of Takotsubo’s cardiomyopathy. J Am Heart Assoc
Takotsubo syndrome: aetiology, presentation and 2014;3:e000921.
treatment. Heart 2017;103:1461-9. 22. Bybee KA, Kara T, Prasad A, et al. Systematic
review: transient left ventricular apical 37. Ueyama T, Kasamatsu K, Hano T, Tsuruo Y,
5. Medina de Chazal H, Del Buono MG, Keyser- ballooning: a syndrome that mimics ST-segment Ishikura F. Catecholamines and estrogen are
Marcus L, et al. Stress cardiomyopathy diagnosis elevation myocardial infarction. Ann Intern Med involved in the pathogenesis of emotional
and treatment: JACC state-of-the-art review. J 2004;141:858-65. stressinduced acute heart attack. Ann N Y Acad
Am Coll Cardiol 2018;72:1955-71. Sci 2008:479–85.
23. Nef HM, Mollmann H, Hilpert P, et al. Activated
6. Gili S, Cammann VL, Schlossbauer SA, et cell survival cascade protects cardiomyocytes 38. Machuki JO, Zhang HY, Harding SE, Sun H.
al. Cardiac arrest in takotsubo syndrome: from cell death in Tako-Tsubo cardiomyopathy. Molecular pathways of oestrogen receptors and
results from the InterTAK Registry. Eur Heart J Eur J Heart Fail 2009;11:758-64. badrenergic receptors in cardiac cells: recognition
2019;40:2142-51. of their similarities, interactions and therapeutic
24. Shao Y, Redfors B, Stahlman M, et al. A value. Acta Physiol (Oxf) 2018;222:e12978.
7. Di Vece D, Citro R, Cammann VL, et al. Outcomes mouse model reveals an important role for
associated with cardiogenic shock in Takotsubo catecholamine-induced lipotoxicity in the 39. Gautam S, Shankar N, Tandon OP, Goel N.
syndrome. Circulation 2019;139:413-5. pathogenesis of stress-induced cardiomyopathy. Comparison of cardiac autonomic functions
8. Ghadri JR, Kato K, Cammann VL, et al. Longterm Eur J Heart Fail 2013;15:9-22. among postmenopausal women with and
prognosis of patients with Takotsubo syndrome. J without hormone replacement therapy, and
25. Surikow SY, Raman B, Licari J, Singh K, Nguyen premenopausal women. Indian J Physiol
Am Coll Cardiol 2018;72:874-82. TH, Horowitz JD. Evidence of nitrosative stress Pharmacol 2011;55:297–303.
9. Redfors B, Vedad R, Angerås O, et al. within hearts of patients dying of Takotsubo
Mortality in takotsubo syndrome is similar to cardiomyopathy. Int J Cardiol 2015;189:112-4. 40. Kelly MM, Tyrka AR, Price LH, Carpenter LL.
mortality in myocardial infarction — a report Sex differences in the use of coping strategies:
26. Paur H, Wright PT, Sikkel MB, et al. High predictors of anxiety and depressive symptoms.
from the SWEDEHEART1 registry. Int J Cardiol levels of circulating epinephrine trigger apical
2015;185:282-9. Depress Anxiety 2008;25:839–46.
cardiodepression in a beta2-adrenergic receptor/
10. Ghadri JR, Wittstein IS, Prasad A, et al. Gidependent manner: a new model of Takotsubo 41. Suzuki H, Matsumoto Y, Kaneta T, et al.
International expert consensus document cardiomyopathy. Circulation 2012;126:697-706. Evidence for brain activation in patients with
on Takotsubo syndrome (Part II): diagnostic takotsubo cardiomyopathy. Circ J 2013;78:256–8.
27. Izumi Y, Okatani H, Shiota M, et al. Effects of
workup, outcome, and management. Eur Heart J metoprolol on epinephrine-induced takotsubo- 42. Hiestand T, Hanggi J, Klein C, et al. Takotsubo
2018;39:2047-62. like left ventricular dysfunction in non-human syndrome associated with structural brain
11. Thygesen K, Alpert JS, Jaffe AS, et al. Fourth primates. Hypertens Res 2009;32:339–46. alterations of the limbic system. J Am Coll Cardiol
universal definition of myocardial infarction 2018;71:809-11.
28. Redfors B, Shao Y, Ali A, Sun B, Omerovic E.
(2018). Eur Heart J 2019;40:237-69. Rat models reveal differences in cardiocirculatory 43. Templin C, Hanggi J, Klein C, et al. Altered
12. Redfors B, Ali A, Shao Y, Lundgren J, Gan LM, profile between Takotsubo syndrome and limbic and autonomic processing supports
Omerovic E. Different catecholamines induce acute myocardial infarction. J Cardiovasc Med brainheart axis in Takotsubo syndrome. Eur Heart
different patterns of takotsubo-like cardiac (Hagerstown) 2015;16:632–8. J 2019;40:1183-7.
dysfunction in an apparently afterload dependent 29. Redfors B, Shao Y, Wikstrom J, et al. Contrast 44. Akashi YJ, Barbaro G, Sakurai T, Nakazawa K,
manner. Int J Cardiol 2014;174:330-6. echocardiography reveals apparently normal Miyake F. Cardiac autonomic imbalance in patients
13. Akashi YJ, Nef HM, Lyon AR. Epidemiology and coronary perfusion in a rat model of stress- with reversible ventricular dysfunction takotsubo
pathophysiology of Takotsubo syndrome. Nat Rev induced (Takotsubo) cardiomyopathy. Eur Heart J cardiomyopathy. QJM 2007;100:335–43.
Cardiol 2015;12:387-97. Cardiovasc Imaging 2014;15:152–7. 45. Madias JE. Do we need MIBG in the evaluation
14. Pelliccia F, Kaski JC, Crea F, Camici PG. 30. Kume T, Kawamoto T, Okura H, et al. Local of patients with suspected Takotsubo syndrome?
Pathophysiology of Takotsubo syndrome. release of catecholamines from the hearts of Diagnostic, prognostic, and pathophysiologic
Circulation 2017;135:2426-41. patients with tako-tsubo-like left ventricular connotations. Int J Cardiol 2016;203:783-4.

15. Tranter MH, Wright PT, Sikkel MB, Lyon AR. dysfunction. Circ J 2008;72:106–8. 46. Sato H, Tateishi H, Uchida T. Takotsubo-type
Takotsubo cardiomyopathy: the pathophysiology. 31. Ortak J, Khattab K, Barantke M, et al. Evolution cardiomyopathy due to multivessel spasm. Clinical
Heart Fail Clin 2013;9:187–96. viii–ix. of cardiac autonomic nervous activity indices in Aspect of Myocardial Injury: From Ischemia to
patients presenting with transient left ventricular Heart Failure; 1990:56–64.
16. Yoshikawa T. Takotsubo cardiomyopathy, a new
concept of cardiomyopathy: clinical features and apical ballooning. PACE 2009;32:S21–5. 47. Martin EA, Prasad A, Rihal CS, Lerman LO,
pathophysiology. Int J Cardiol 2015;182:297-303. 32. Vaccaro A, Despas F, Delmas C, et al. Direct Lerman A. Endothelial function and vascular
evidences for sympathetic hyperactivity and response to mental stress are impaired in patients
17. Cimarelli S, Imperiale A, Ben-Sellem D, et
baroreflex impairment in Tako Tsubo cardiopathy. with apical ballooning syndrome. J Am Coll
al. Nuclear medicine imaging of takotsubo
PLoS One 2014;9:e93278. Cardiol 2010;56:1840-6.
cardiomyopathy: typical form and midventricular
ballooning syndrome. J Nucl Cardiol 33. Schultz T, Shao Y, Redfors B, et al. Stressinduced 48. Abe Y, Kondo M, Matsuoka R, Araki M, Dohyama
J A C C , V o l . 7 7, N o . 7, 2 0 2 1 Lyon et al. 71
23 de fevereiro de 2021: 902-21 Síndrome de Takotsubo

K, Tanio H. Assessment of clinical features in al. Novel rat model reveals important roles 80. Mattsson E, Saliba-Gustafsson P, Ehrenborg
transient left ventricular apical ballooning. J Am of betaadrenoreceptors in stress-induced E, Tornvall P. Lack of genetic susceptibility in
Coll Cardiol 2003;41:737-42. cardiomyopathy. Int J Cardiol 2013;168:1943-50. takotsubo cardiomyopathy: a case-control study.
49. Kurisu S, Inoue I, Kawagoe T, et al. Myocardial 65. Heubach JF, Blaschke M, Harding SE, BMC Med Genet 2018;19:39.
perfusion and fatty acid metabolism in patients Ravens U, Kaumann AJ. Cardiostimulant and 81. Spinelli L, Trimarco V, Di Marino S, Marino M,
with tako-tsubo-like left ventricular dysfunction. cardiodepressant effects through overexpressed Iaccarino G, Trimarco B. L41Q polymorphism of the
J Am Coll Cardiol 2003;41:743-8. human b2-adrenoceptors in murine heart. G protein coupled receptor kinase 5 is associated
50. Davies JE, Whinnett ZI, Francis DP, et al. Naunyn-Schmiedeberg’s ArchPharmacol with left ventricular apical ballooning syndrome.
Evidence of a dominant backward-propagating 2003;367:380–90. Eur J Heart Fail 2010;12:13–6.
“suction” wave responsible for diastolic coronary 66. Land S, Niederer SA, Louch WE, et al. 82. Citro R, d’Avenia M, De Marco M, et al.
filling in humans, attenuated in left ventricular Computational modeling of Takotsubo Polymorphisms of the antiapoptotic protein bag3
hypertrophy. Circulation 2006;113:1768-78. cardiomyopathy: effect of spatially varying beta- may play a role in the pathogenesis of tako-tsubo
51. Yoshida T, Hibino T, Kako N, et al. A adrenergic stimulation in the rat left ventricle. Am cardiomyopathy. Int J Cardiol 2013;168:1663–5.
pathophysiologic study of tako-tsubo J Physiol Heart Circ Physiol 2014;307:H1487–96. 83. Ali A, Redfors B, Lundgren J. Effects
cardiomyopathy with F-18 fluorodeoxyglucose 67. Wright PT, Bhogal NK, Diakonov I, et al. of pretreatment with cardio-stimulants
positron emission tomography. Eur Heart J Cardiomyocyte membrane structure and cAMP and betablockers on isoprenaline induced
2007;28:2598-604. compartmentation produce anatomical variation takotsubo-like dysfunction in rats. Int J Cardiol
52. Redfors B, Shao Y, Ali A, Omerovic E. Are in beta2AR-cAMP responsiveness in murine 2019;281:99-104.
ischemic stunning, conditioning, and “takotsubo” hearts. Cell Rep 2018;23:459-69. 84. Eitel I, Behrendt F, Schindler K, et al.
different sides to the same coin? Int J Cardiol 68. Heubach JF, Ravens U, Kaumann AJ. Differential diagnosis of suspected apical
2014;172:490-1. Epinephrine activates both G(s) and G(i) pathways, ballooning syndrome using contrast-enhanced
53. Cimarelli S, Sauer F, Morel O, Ohlmann but norepinephrine activates only the G(s) magnetic resonance imaging. Eur Heart J
P, Constantinesco A, Imperiale A. Transient pathway through human beta(2)-adrenoceptors 2008;29:2651-9.
left ventricular dysfunction syndrome: overexpressed in mouse heart. Mol Pharmacol 85. Eitel I, von Knobelsdorff-Brenkenhoff F,
pathophysiological bases through nuclear 2004;65:1313–22. Bernhardt P, et al. Clinical characteristics and
medicine imaging. Int J Cardiol 2010;144:212-8. 69. Wang Y, De Arcangelis V, Gao X, Ramani cardiovascular magnetic resonance findings
54. Redfors B, Shao Y, Wikström J, et al. Contrast B, Jung YS, Xiang Y. Norepinephrine- and in stress (takotsubo) cardiomyopathy. JAMA
echocardiography reveals apparently normal epinephrine-induced distinct beta2- 2011;306:277-86.
coronary perfusion in a rat model of stress- adrenoceptor signaling is dictated by GRK2 86. Neil C, Nguyen TH, Kucia A, et al. Slowly
induced (Takotsubo) cardiomyopathy. Eur Heart J phosphorylation in cardiomyocytes. J Biol Chem resolving global myocardial inflammation/oedema
Cardiovasc Imaging 2014;15:152–7. 2008;283:1799-807. in Tako-Tsubo cardiomyopathy: evidence from T2-
55. Haghi D, Roehm S, Hamm K, et al. Takotsubo 70. El-Battrawy I, Santoro F, Stiermaier T, et weighted cardiac MRI. Heart 2012;98:1278-84.
cardiomyopathy is not due to plaque rupture: al. Incidence and clinical impact of recurrent 87. Wilson HM, Cheyne L, Brown PAJ, et al.
an intravascular ultrasound study. Clin Cardiol Takotsubo syndrome: results from the GEIST Characterization of the myocardial inflammatory
2010;33:307-10. Registry. J Am Heart Assoc 2019;8:e010753. response in acute stress-induced (Takotsubo)
56. Fiol M, Carrillo A, Rodriguez A, Herrero J, 71. Borchert T, Hubscher D, Guessoum CI, et cardiomyopathy. J Am Coll Cardiol Basic Trans Sci
Garcia-Niebla J. Left ventricular ballooning al. Catecholamine-dependent beta-adrenergic 2018;3:766–78.
syndrome due to vasospasm of the middle portion signaling in a pluripotent stem cell model of 88. Jesel L, Berthon C, Messas N, et al. Atrial
of the left anterior descending coronary artery. Takotsubo cardiomyopathy. J Am Coll Cardiol arrhythmias in Takotsubo cardiomyopathy:
Cardiol J 2012;19:314–6. 2017;70:975-91. incidence, predictive factors, and prognosis.
57. Jaguszewski M, Osipova J, Ghadri JR, et al. A 72. Lyon A. Stress in a dish: exploring the Europace 2019;21:298-305.
signature of circulating microRNAs differentiates mechanisms of Takotsubo syndrome. J Am Coll 89. Jesel L, Berthon C, Messas N, et al. Ventricular
takotsubo cardiomyopathy from acute myocardial Cardiol 2017;70:992-5. arrhythmias and sudden cardiac arrest in
infarction. Eur Heart J 2014;35:999-1006. 73. Nguyen TH, Neil CJ, Sverdlov AL, et al. Takotsubo cardiomyopathy: incidence, predictive
58. Uchida Y, Egami H, Uchida Y, et al. Possible Enhanced NO signaling in patients with Takotsubo factors, and clinical implications. Heart Rhythm
participation of endothelial cell apoptosis of cardiomyopathy: short-term pain, long-term gain? 2018;15:1171-8.
coronary microvessels in the genesis of Takotsubo Cardiovasc Drugs Ther 2013;27:541-7. 90. Moller C, Eitel C, Thiele H, Eitel I, Stiermaier T.
cardiomyopathy. Clin Cardiol 2010;33:371-7. 74. Scally C, Rudd A, Mezincescu A, et al. Persistent Ventricular arrhythmias in patients with Takotsubo
59. Barletta G, Del Pace S, Boddi M, et al. Abnormal long-term structural, functional, and metabolic syndrome. J Arrhythm 2018;34:369–75.
coronary reserve and left ventricular wall motion changes after stress-induced (Takotsubo) 91. Stiermaier T, Graf T, Moller C, et al. Transient
during cold pressor test in patients with previous cardiomyopathy. Circulation 2018;137:1039-48. left atrial dysfunction is a feature of Takotsubo
left ventricular ballooning syndrome. Eur Heart J 75. Nef HM, Mollmann H, Troidl C, et al. syndrome. J Cardiovasc Magn Reson 2017;19:15.
2009;30:3007-14. Abnormalities in intracellular Ca2þ regulation 92. Abisse SS, Lampert R, Burg M, Soufer R,
60. Kawano H, Okada R, Yano K. Histological contribute to the pathomechanism of Tako-Tsubo Shusterman V. Cardiac repolarization instability
study on the distribution of autonomic nerves in cardiomyopathy. Eur Heart J 2009;30:2155-64. during psychological stress in patients with
the human heart. Heart Vessels 2003;18:32–9. 76. Rona G. Catecholamine cardiotoxicity. J Mol ventricular arrhythmias. J Electrocardiol
61. Christensen TE, Bang LE, Holmvang L, et al. Cell Cardiol 1985;17:291–306. 2011;44:678–83.
Cardiac Tc-99m sestamibi SPECT and F-18 FDG PET 77. Heather LC, Catchpole AF, Stuckey DJ, Cole 93. Perazzolo Marra M, Zorzi A, Corbetti F, et al.
as viability markers in takotsubo cardiomyopathy. MA, Carr CA, Clarke K. Isoproterenol induces Apicobasal gradient of left ventricular myocardial
Int J Cardiovasc Imaging 2014;30:1407–16. in vivo functional and metabolic abnormalities edema underlies transient T-wave inversion and
62. Lyon AR, Rees PSC, Prasad S, Poole-Wilson PA, similar to those found in the infarcted rate heart. QT interval prolongation (Wellens’ ECG pattern)
Harding SE. Stress (Takotsubo) cardiomyopathy J Physiol Pharmacol 2009;60:31–9. in Tako-Tsubo cardiomyopathy. Heart Rhythm
- a novel pathophysiological hypothesis to 78. Nef HM, Mollmann H, Hilpert P, et al. 2013;10:70-7.
explain catecholamine-induced acute myocardial Sympathoadrenergic overstimulation in Tako- 94. Choi SY, Cho KI, Han YJ, et al. Impact
stunning. Nat Clin Pract Cardiovasc Med Tsubo cardiomyopathy triggered by physical and of pheochromocytoma on left ventricular
2008;5:22–9. emotional stress. Int J Cardiol 2008;130:266-8. hypertrophy and QTc prolongation: comparison
63. Mori H, Ishikawa S, Kojima S, et al. Increased 79. Figtree GA, Bagnall RD, Abdulla I, et al. No with Takotsubo cardiomyopathy. Korean Circ J
responsiveness of left-ventricular apical association of G-protein-coupled receptor kinase 2014;44:89–96.
myocardium to adrenergic stimuli. CV Res 5 or beta-adrenergic receptor polymorphisms with 95. El-Battrawy I, Zhao Z, Lan H, et al. Estradiol
1993;27:192–8. Takotsubo cardiomyopathy in a large Australian protection against toxic effects of catecholamine
64. Shao Y, Redfors B, Scharin Tang M, et cohort. Eur J Heart Fail 2013;15:730-3. on electrical properties in human-induced
72 Lyon et al. J A C C , V o l . 7 7, N o . 7, 2 0 2 1

Síndrome de Takotsubo 23 de fevereiro de 2021: 902-21

pluripotent stem cell derived cardiomyocytes. Int lessons from rheumatoid arthritis. Eur Heart J 99. Brutsaert DL. Tako-Tsubo cardiomyopathy.
J Cardiol 2018;254:195-202. 2017;38:1717-27. Eur J Heart Fail 2007;9:854. author reply 855.
96. Lazzerini PE, Laghi-Pasini F, Bertolozzi I, et al. 98. Brunetti ND, D’Arienzo G, Sai R, et al. Delayed
Systemic inflammation as a novel QT-prolonging ventricular pacing failure and correlations PALAVRAS-CHAVE sinalização
risk factor in patients with torsades de pointes. between pacing thresholds, left ventricular β-adrenérgica, catecolaminas,
Heart 2017;103:1821-9. ejection fraction, and QTc values in a male inflamação, fisiopatologia, estresse,
97. Lazzerini PE, Capecchi PL, Laghi-Pasini F. with Takotsubo cardiomyopathy. Clin Cardiol atordoamento de Takotsubo,
Systemic inflammation and arrhythmic risk: 2018;41:1487-90. síndrome de Takotsubo

Você também pode gostar