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Introdução
A cardiopatia isquêmica é um tipo de complicação que afeta o músculo cardíaco
pela deficiência de oxigenação tecidual. Pode trazer sérios danos funcionais e
é umas principais causas de morte no Brasil e no mundo. Grande parte dos pa-
cientes sequer chega a ser internada, visto que cerca de 40% dos portadores de
cardiopatia acabam morrendo subitamente antes mesmo de saber da existência
do quadro obstrutivo.
Entre as manifestações mais importantes e graves desse tipo de cardiopatia,
temos o desenvolvimento de angina instável e o infarto agudo do miocárdio, ca-
racterísticos da síndrome coronariana aguda grave, que coloca a vida do paciente
em risco iminente.
Por meio da leitura deste capítulo, você vai entender melhor como realizar
a avaliação do paciente com cardiopatia isquêmica e quais são os principais
parâmetros avaliados. Também vai descobrir como se procede o diagnóstico de
infarto agudo do miocárdio, a importância da detecção de biomarcadores da
função cardíaca e a relevância de um diagnóstico rápido e preciso.
2 Diagnóstico da função cardíaca
A avaliação dos sintomas manifestados nas últimas 48h é uma das eta-
pas mais importantes da condução de um diagnóstico. O sintoma mais
característico de lesões isquêmicas é a dor ou desconforto precordial ou
retroesternal, que irradia para o braço e regiões adjacentes, e geralmente
é o que faz o paciente procurar um serviço médico de urgência. Sintomas
como sensação de aperto ou queimação no peito, dispneia, sudorese, pele
fria e pálida, náusea, vômito e taquicardia são os primeiros sinais impor-
tantes, que direcionam a investigação mais apropriada para se estabelecer
um diagnóstico bastante característico de SCA (Quadro 1) (SANTOS et al.,
2011; SANTOS; BIANCO, 2018).
(Continua)
4 Diagnóstico da função cardíaca
(Continuação)
Creatinoquinase
A creatinoquinase (CK) é uma enzima que regula a síntese e o uso de fosfatos
de alta energia utilizados pelos tecidos contráteis (MIRANDA; LIMA, 2014).
Diagnóstico da função cardíaca 9
100 × (CK-MB/CK-total)
Troponina
Desde 1992, a dosagem de troponinas cardíacas tem se mostrado bastante
específica e eficiente para o estabelecimento do diagnóstico de IAM, sendo
utilizada na rotina clínica como padrão-ouro dos marcadores de função cardí-
aca, que também permite avaliar o prognóstico do paciente e prever eventos
cardíacos (MIRANDA; LIMA, 2014; SANTOS et al., 2011; SANTOS; BIANCO, 2018).
A proteína troponina, presente nos filamentos finos da musculatura estriada,
atua sobre a contração muscular, regulando a interação actina/miosina. Exis-
tem três polipeptídios que se formam a partir da ligação da troponina com a
tropomiosina (TnT), com a actina (TnI) e com o cálcio (TnC), mas apenas os dois
primeiros possuem interesse e relevância clínica para o diagnóstico de lesão
cardíaca (BORGES; JESUS; MOURA, 2019; MIRANDA; LIMA, 2014; SOARES et al., 2012).
Após o início da formação da lesão no miocárdio, a troponina começa a
ser liberada do citoplasma dos cardiomiócitos para a circulação sanguínea,
sendo detectada a partir de 3h. Seus níveis aumentam gradativamente con-
forme sua liberação, cujo pico é obtido a partir de 12h (SOARES et al., 2012).
Mioglobina
A mioglobina é uma proteína presente no músculo esquelético e cardíaco
cuja função é carregar oxigênio para as mitocôndrias presentes do tecido
muscular. Não chega a ser um marcador muito específico de lesão cardíaca,
pois pode elevar-se em situações em que haja dano muscular esquelético,
distrofia muscular, choque e trauma. No entanto, é um marcador que possui
a liberação mais rápida para a corrente sanguínea a partir do início da injúria,
cerca de 1–2h (PIEGAS et al., 2015).
Valores de referência normais para mioglobina nas primeiras horas após
o início da dor (ou desconforto) torácica podem auxiliar no afastamento da
suspeita de IAM (alto valor preditivo negativo, ou seja, capacidade de excluir
a presença da doença se os valores não estiverem alterados) (MIRANDA; LIMA,
2014; PIEGAS et al., 2015; SOARES et al., 2012).
Referências
BORGES, L. P.; JESUS, R. C. S.; MOURA, R. L. Utilização de biomarcadores cardíacos na
detecção de infarto agudo do miocárdio. Revista Eletrônica Acervo Saúde, Campinas,
v. 11, n. 13, 2019. Disponível em: https://acervomais.com.br/index.php/saude/article/
view/940. Acesso em: 3 ago. 2020.
FLATO, U. A. P. et al. Peptídeo natriurético na emergência: quando usar? Revista da
Sociedade Brasileira de Clínica Médica, São Paulo, v. 7, p. 398-405, 2009.
FUCHS, F. D. Prevenção primária de cardiopatia isquêmica: medidas não medicamentosas
e medicamentosas. Uso racional de medicamentos: fundamentação em condutas tera-
pêuticas e nos macroprocessos de assistência farmacêutica, Brasília, v. 1, n. 5, p. 1-9, 2016.
NASI, L. A. (Org.). Rotinas em unidade vascular. Porto Alegre: Artmed, 2012.
PIEGAS, L. S. et al. V diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre tratamento
do infarto agudo do miocárdio com supradesnível do segmento ST. Arquivos Brasileiros
de Cardiologia, São Paulo, v. 105, n. 2, supl. 1, p. 1-105, ago. 2015.
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