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→DEFINIÇÃO
As diretrizes atuais do American College of Cardiology Foundation
(ACCF)/American Heart Association (AHA) definem IC como uma síndrome clínica
complexa que resulta do comprometimento estrutural ou funcional do enchimento
ventricular ou da ejeção sanguínea que, por sua vez, causa os sintomas clínicos cardinais de
dispneia e cansaço e os sinais de IC, especificamente edema e estertores. Como muitos
pacientes não apresentam sinais ou sintomas de sobrecarga de volume, o termo
“insuficiência cardíaca” passou a ser preferido em vez do antiga “insuficiência cardíaca
congestiva”.
→EPIDEMIOLOGIA
A IC é um grande problema mundial, afetando > 20 milhões de indivíduos. Sua
prevalência global na população adulta dos países desenvolvidos é de 2%. Essa prevalência
segue um padrão exponencial, aumentando com a idade, chegando a afetar 6 a 10% dos
indivíduos com > 65 anos. Embora a incidência relativa seja menor nas mulheres do que
nos homens, as mulheres constituem pelo menos metade dos casos de IC em razão de sua
maior expectativa de vida.
Já se pensou que a IC ocorreria principalmente em pacientes com diminuição da
fração de ejeção ventricular esquerda (FEVE); entretanto, estudos epidemiológicos
demonstraram que aproximadamente metade dos pacientes que evoluem com IC
apresentam FE normal ou preservada (FE ≥ 50%). Por consequência, os termos históricos
IC “sistólica” e “diastólica” foram abandonados, e hoje os pacientes são classificados
genericamente como IC com FE reduzida (ICFER; anteriormente insuficiência sistólica) ou
IC com FE preservada (ICFEP; anteriormente insuficiência diastólica). Pacientes com FEVE
entre 40 e 50% têm sido considerados com FE limítrofe ou mediana. Até o momento da
produção deste texto, a epidemiologia desses pacientes não está definida.
→ETIOLOGIA
Qualquer condição que leve a alterações na estrutura ou função do ventrículo
esquerdo (VE) pode predispor o paciente a desenvolver IC. Ainda que a etiologia da IC nos
pacientes com FE preservada seja diferente daquela encontrada nos casos com diminuição
da FE, há considerável sobreposição de etiologias para essas duas condições. Nos países
industrializados, a doença arterial coronariana (DAC) tornou-se a principal causa em
homens e mulheres, sendo responsável por 60 a 75% dos casos de IC. A hipertensão arterial
contribui para o desenvolvimento de IC em 75% dos pacientes, incluindo a maioria daqueles
com DAC. A DAC e a hipertensão arterial interagem para aumentar o risco de IC, assim como
o diabetes melito.
aIndicam condições que também podem levar à insuficiência cardíaca com fração
de ejeção preservada.
Em 20 a 30% dos casos de IC com redução da FE, a etiologia exata não é conhecida.
Quando a causa é desconhecida, os pacientes são referidos como portadores de
miocardiopatia dilatada, não isquêmica ou idiopática. Infecção viral prévia e exposição a
toxinas (álcool ou quimioterápicos) também podem levar à miocardiopatia dilatada. Além
disso, está se tornando cada vez mais evidente que muitos casos de miocardiopatia dilatada
são secundários a problemas genéticos específicos, em particular aqueles no citoesqueleto.
A maioria das formas de miocardiopatia dilatada familiar é herdada de forma autossômica
dominante. Até o momento, foram identificadas mutações nos genes que codificam
proteínas do citoesqueleto (desmina, miosina cardíaca, vinculina) e proteínas da membrana
nuclear (laminina). A miocardiopatia dilatada também está associada às distrofias
musculares de Duchenne, de Becker e da cintura pélvica. As condições que levam a aumento
do débito cardíaco (p. ex., fístula arteriovenosa, anemia) raramente são responsáveis pelo
desenvolvimento de IC em um coração normal. Entretanto, na presença de cardiopatia
estrutural subjacente, tais condições podem desencadear IC franca.
A cardiopatia reumática continua sendo uma das principais causas da IC na África e
na Ásia, especialmente entre os jovens. A hipertensão arterial é uma causa importante de IC
nas populações africanas e nos negros norte-americanos. A doença de Chagas ainda é uma
causa considerável de IC na América do Sul. Não é surpreendente que a anemia seja um fator
concomitante frequente na IC em muitos países em desenvolvimento. À medida que tais
nações se desenvolvem, a epidemiologia da doença vai se tornando semelhante à observada
na Europa Ocidental e na América do Norte, com a DAC surgindo como causa isolada mais
comum de IC. Ainda que a contribuição do diabetes melito não esteja bem compreendida,
sabe-se que essa doença acelera o processo de aterosclerose e com frequência está
associada à hipertensão arterial.
→PROGNÓSTICO
A despeito dos avanços recentes na avaliação e no controle da IC, o surgimento de
sintomas ainda determina prognóstico reservado. Estudos baseados na comunidade
indicam que 30 a 40% dos pacientes morrem 1 ano após o diagnóstico, e 60 a 70%, no prazo
de 5 anos, principalmente pela piora da IC ou por um evento súbito (provavelmente devido
a uma arritmia ventricular). Conquanto seja difícil estabelecer um prognóstico individual,
os pacientes com sintomas em repouso (classe IV da New York Heart Association [NYHA])
apresentam taxa de mortalidade anual de 30 a 70%, enquanto aqueles com sintomas
surgidos durante atividades moderadas (classe II da NYHA) têm taxa de mortalidade anual
de 5 a 10%. Assim, o estado funcional é um preditor importante da evolução do paciente.
■ Classificação da New York Heart Association
Capacidade
Avaliação objetiva
funcional
→PATOGÊNESE
A IC é um distúrbio progressivo iniciado quando um evento-índice lesa o músculo
cardíaco, resultando em perda dos miócitos cardíacos funcionantes ou, alternativamente,
em diminuição da capacidade do miocárdio de gerar força, impedindo, assim, que o coração
se contraia normalmente. Esse evento-índice pode ter instalação súbita, como no caso de
IAM; início gradual ou insidioso, como nos casos de sobrecarga hemodinâmica de pressão
ou de volume; ou ser hereditário, como nos casos das diversas miocardiopatias genéticas.
Independentemente da natureza do evento desencadeante, o fator comum a todos esses
episódios é a ocorrência, de algum modo, de declínio na capacidade de bombeamento do
coração. Na maioria dos casos, os pacientes mantêm-se assintomáticos ou minimamente
sintomáticos após o declínio inicial na sua capacidade de bombear ou desenvolvem
sintomas apenas algum tempo após a instalação da disfunção.
Mesmo não tendo sido estabelecidas as razões precisas para explicar por que é
possível que pacientes com disfunção de VE se mantenham assintomáticos, uma explicação
razoável é o grande número de mecanismos compensatórios ativados na presença de lesão
cardíaca e/ou de disfunção do VE, permitindo aos pacientes manter e modular a função do
VE por meses ou anos. Os mecanismos compensatórios descritos até o momento incluem
(1) ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona e ativação do sistema
adrenérgico, responsáveis, respectivamente, por manter o débito cardíaco por meio do
aumento na retenção de sal e água e aumento da contratilidade miocárdica.
(2) Além disso, há ativação de uma família de moléculas vasodilatadoras
compensatórias, incluindo os peptídeos natriuréticos atrial e cerebral (ANP e BNP), a
bradicinina, as prostaglandinas (PGE2 e PGI2) e o óxido nítrico (NO), os quais compensam a
vasoconstrição vascular periférica excessiva. Muitos desses peptídeos vasodilatadores,
incluindo a bradicinina e os peptídeos natriuréticos, são degradados por uma neprilisina,
que é uma peptidase ligada à membrana. Esses mecanismos compensatórios são capazes de
modular a função do VE de forma a mantê-la dentro dos limites fisiológicos/homeostáticos,
preservando a capacidade funcional do paciente ou permitindo que a perda seja mínima.
Assim, os pacientes podem manter-se assintomáticos ou minimamente sintomáticos por
anos. Entretanto, em algum momento tornam-se francamente sintomáticos, o que resulta
em grande aumento nas taxas de morbidade e de mortalidade. Conforme discutiremos
adiante, mesmo com os mecanismos exatos responsáveis por essa transição ainda não
conhecidos, a transição para IC sintomática é acompanhada por ativação crescente dos
sistemas neuro-hormonal, adrenérgico e das citocinas, levando a uma série de alterações
adaptativas dentro do miocárdio, as quais são conhecidas, em seu conjunto,
como remodelamento de VE.
A diminuição do débito
cardíaco nos pacientes com IC
produz uma “descarga” dos
barorreceptores de alta
pressão (círculos) localizados
no ventrículo esquerdo, seio
carotídeo e arco aórtico. Essa
descarga dos barorreceptores
periféricos leva à perda do
tônus parassimpático
inibitório para o sistema
nervoso central (SNC),
resultando em aumento
generalizado no tônus
simpático eferente e em
liberação não osmótica de
arginina-vasopressina (AVP) pela hipófise. A AVP (ou hormônio antidiurético [ADH]) é um
vasoconstritor potente que aumenta a permeabilidade dos ductos coletores renais, levando
à reabsorção de água. Esses sinais aferentes ao SNC também ativam vias eferentes do
sistema nervoso simpático que inervam o coração, os rins, a vasculatura periférica e os
músculos esqueléticos.
A estimulação simpática dos rins leva à liberação de renina, produzindo aumento
nos níveis circulantes de angiotensina II e aldosterona. A ativação do sistema renina-
angiotensina-aldosterona promove retenção de água e sal e leva à vasoconstrição da
vasculatura periférica, hipertrofia dos miócitos, morte celular de miócitos e fibrose
miocárdica. Embora os mecanismos neuro-hormonais facilitem a adaptação em curto prazo
por meio da manutenção da pressão arterial, esses mesmos mecanismos neuro-hormonais
resultam em alterações nos órgãos-alvo, no coração e na circulação, bem como em retenção
excessiva de água e sal nos casos avançados de IC.
1. ICFER
O remodelamento do VE ocorre em resposta a uma série de eventos complexos nos
níveis celular e molecular. Tais alterações consistem em:
(1) hipertrofia de miócitos;
(2) alterações das propriedades contráteis dos miócitos;
(3) perda progressiva de miócitos em razão de necrose, apoptose e morte celular
autofágica;
(4) dessensibilização β-adrenérgica;
(5) alterações energéticas do miocárdio e no metabolismo; e
(6) reorganização da matriz extracelular com dissolução da estrutura organizada da
trama do colágeno ao redor dos miócitos e substituição subsequente por matriz de colágeno
intersticial incapaz de prover suporte estrutural aos miócitos.
Os estímulos biológicos para essas alterações profundas são estiramento mecânico
dos miócitos, neuro-hormônios circulantes (p. ex., norepinefrina, angiotensina II), citocinas
inflamatórias (p. ex., fator de necrose tumoral [TNF, de tumor necrosis factor]), outros
peptídeos e fatores de crescimento (p. ex., endotelina), bem como espécies reativas do
oxigênio (p. ex., superóxido). Acredita-se que a sobre-expressão mantida dessas moléculas
biologicamente ativas contribua para a progressão da IC em razão dos seus efeitos
deletérios sobre o coração e a circulação. De fato, essa percepção embasa o raciocínio clínico
que justifica o uso de agentes farmacológicos antagonistas desses sistemas (p. ex., inibidores
da enzima conversora de angiotensina, inibidores do receptor de angiotensina-neprilisina
[IRANs] e β-bloqueadores) no tratamento dos pacientes com IC.
Acoplamento excitação-contração
Expressão gênica da cadeia pesada de miosina (fetal)
Dessensibilização β-adrenérgica
Hipertrofia
Miocitólise
Proteínas do citoesqueleto
Alterações miocárdicas
Perda de miócitos
Necrose
Apoptose
Autofagia
Alterações na matriz extracelular
Degradação da matriz
Fibrose do miocárdio
→MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Os principais sintomas de IC são fadiga e dispneia. Ainda que a fadiga
tradicionalmente seja atribuída ao baixo débito cardíaco da IC, é provável que
anormalidades musculares esqueléticas e outras comorbidades não cardíacas (p. ex.,
anemia) contribuam para esse sintoma. Nos primeiros estágios da IC, a dispneia é observada
apenas durante o exercício; entretanto, à medida que a doença evolui, esse sintoma passa a
ser provocado por atividades cada vez menores até, por fim, ocorrer inclusive durante o
repouso. A dispneia da IC provavelmente é multifatorial. O mecanismo mais importante é a
congestão pulmonar com acúmulo de líquido no interstício ou dentro dos alvéolos, o que
ativa os receptores J justacapilares, estimulando a respiração rápida e superficial
característica da dispneia cardíaca. Outros fatores podem contribuir para a dispneia aos
esforços, incluindo redução na complacência pulmonar, aumento da resistência nas vias
aéreas, fadiga dos músculos ventilatórios e/ou do diafragma e anemia. A dispneia pode
tornar-se menos frequente com o surgimento de insuficiência ventricular direita (VD) e de
insuficiência tricúspide.
ORTOPNEIA. A ortopneia, definida como dispneia que ocorre em posição deitada,
em geral é uma manifestação mais tardia de IC em comparação com a dispneia aos esforços.
Ela é causada pela redistribuição de volume da circulação esplâncnica e dos membros
inferiores para a circulação central quando o paciente permanece deitado, com o
consequente aumento da pressão capilar pulmonar. A tosse noturna é uma manifestação
comum desse processo, sendo um sintoma muitas vezes negligenciado da IC. A ortopneia
costuma ser aliviada quando o paciente se senta ou quando dorme recostado sobre muitos
travesseiros. Ainda que seja um sintoma relativamente específico da IC, também pode
ocorrer em pacientes com obesidade abdominal ou com ascite e naqueles com doença
pulmonar cuja mecânica favoreça a postura ereta.
DISPNEIA PAROXÍSTICA NOTURNA (DPN). Essa expressão refere-se a episódios
agudos de dispneia e tosse que costumam ocorrer à noite e despertam o paciente, em geral
1 a 3 horas após deitar-se. A DPN pode se manifestar na forma de tosse ou de sibilos,
possivelmente em razão de aumento da pressão nas artérias brônquicas, levando à
compressão das vias aéreas junto com edema intersticial pulmonar, o que produz aumento
da resistência nas vias aéreas. Enquanto a ortopneia pode ser aliviada com o paciente
sentado ereto na lateral da cama com as pernas pendentes, nos casos de DPN, a tosse e os
sibilos se mantêm mesmo com os pacientes em posição ereta.
RESPIRAÇÃO DE CHEYNE-STOKES. Também conhecida como respiração periódica
ou cíclica, a respiração de Cheyne-Stokes está presente em 40% dos pacientes com IC
avançada e em geral está associada a baixo débito cardíaco. A respiração de Cheyne-Stokes
é causada pela redução da sensibilidade do centro respiratório à pressão parcial arterial de
dióxido de carbono (PCO2) e um tempo circulatório prolongado. Observa-se uma fase de
apneia durante a qual a pressão parcial de oxigênio (PO2) arterial cai e a PCO2 arterial
aumenta. Essas alterações nos gases arteriais estimulam o centro respiratório, resultando
em hiperventilação e hipocapnia, seguidas de apneia recorrente.
→DIAGNÓSTICO
O diagnóstico de IC é relativamente evidente quando o paciente apresenta os sinais
e sintomas clássicos; porém, esses sinais e sintomas não são nem específicos nem sensíveis.
Por isso, a chave para o diagnóstico é a manutenção de alto grau de suspeição, em particular
nos pacientes com risco elevado. Quando tais pacientes apresentam sinais e sintomas de IC,
devem-se solicitar exames laboratoriais complementares.
Os critérios clínicos de Framingham estão divididos em 9 maiores e 7 menores.
Como forma de memorizá-los, uma dica é tentar categorizar os critérios por tipos ou locais
onde ocorrem as alterações, por exemplo: pulmão, circulação (congestão), coração e outras.
A imagem a seguir mostra os critérios agrupados dessa forma.
→DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
A IC deve ser distinguida de:
(1) condições nas quais se observa congestão circulatória secundária à retenção
anormal de água e sais, mas sem distúrbios na estrutura ou função cardíacas (p. ex.,
insuficiência renal), e
(2) causas não cardíacas de edema pulmonar (p. ex., síndrome da angústia
respiratória aguda).
Na maioria dos pacientes que se apresentam com os sinais e sintomas clássicos de
IC, o diagnóstico é relativamente claro. Entretanto, mesmo clínicos experientes podem ter
dificuldade de diferenciar as dispneias de origem cardíaca das de origem pulmonar. Nesse
sentido, exames não invasivos de imagem cardíaca, biomarcadores, testes para a avaliação
da função pulmonar e radiografia de tórax podem ser úteis. Em tal cenário, níveis muito
baixos de BNP ou de NT-pro-BNP podem ser úteis para excluir uma causa cardíaca para a
dispneia. O edema de tornozelo pode surgir secundário à insuficiência venosa, obesidade,
doença renal ou efeitos da gravidade. Quando a IC se desenvolve em pacientes com FE
preservada, pode ser difícil determinar o papel relativo da IC na gênese da dispneia que
esteja ocorrendo em pacientes com doença pulmonar crônica e/ou obesidade.
→COR PULMONALE
O cor pulmonale, também referido como doença cardiopulmonar, pode ser definido
como alteração da estrutura e/ou função de VD, no contexto de doença pulmonar crônica,
desencadeada pelo surgimento de hipertensão pulmonar. Embora a disfunção de VD
também seja uma sequela importante da ICFEP e da ICFER, esses casos não são
considerados como cor pulmonale.
O cor pulmonale crônico se desenvolve em resposta à hipertensão pulmonar crônica
resultante de doença pulmonar parenquimatosa, doenças vasculares pulmonares primárias
ou condições que levem à hipoxia alveolar. É difícil determinar a verdadeira prevalência
do cor pulmonale. Primeiramente, nem todos os pacientes com doença pulmonar crônica
evoluem com cor pulmonale, que pode ser subclínico em indivíduos compensados. Em
segundo lugar, a capacidade de diagnosticar hipertensão pulmonar e cor pulmonale por
meio de exame físico e testes laboratoriais rotineiros é relativamente insensível.
• Controle do volume
Os diuréticos intravenosos aliviam os sintomas congestivos de forma rápida e
efetiva e são essenciais quando a absorção oral estiver prejudicada. Quando forem
necessárias doses altas de diuréticos ou quando seu efeito não for o ideal, talvez haja
necessidade de infusão contínua para reduzir a toxicidade e manter níveis séricos estáveis
do medicamento. Os ensaios clínicos randomizados comparando doses altas e baixas ou
aplicação em bolus e infusão contínua de diuréticos não concluíram de forma definitiva
sobre qual seria a melhor estratégia de uso desses medicamentos na ICDA e, assim, a escolha
do regime permanece sendo um exercício de arte, e não de ciência. O acréscimo de um
diurético tiazídico, como a metolazona em associação, produz um efeito sinérgico e costuma
ser necessário nos pacientes tratados em longo prazo com diuréticos de alça. A alteração no
peso é frequentemente usada como indicador de diurese adequada, mas esse parâmetro
objetivo do estado de volume pode ser surpreendentemente difícil de interpretar, e a perda
de peso durante hospitalização não necessariamente mantém correlação estreita com os
resultados do tratamento. Em geral, preconiza-se manter a diurese até que se obtenha o
estado de euvolemia. Os achados do exame físico, especificamente a pressão venosa jugular
junto com a variação dos biomarcadores, são meios úteis para planejar a alta hospitalar.
A síndrome cardiorrenal tem sido cada vez mais reconhecida como uma
complicação da ICDA. Diversas definições foram propostas para a síndrome cardiorrenal,
mas, para simplificar, ela pode ser entendida como reflexo da interação entre as
anormalidades cardíacas e a função renal, com deterioração da função de um órgão
enquanto se administra tratamento para preservar o outro. Cerca de 30% dos pacientes
hospitalizados com ICDA apresentam função renal anormal no início do quadro, o que está
associado a hospitalizações mais longas e maior mortalidade. A hipótese é que, nos
pacientes com insuficiência cardíaca estabelecida, essa síndrome represente a inter-relação
complexa de fatores neuro-hormonais, potencialmente agravados por “falência retrógrada”
resultante de aumento da pressão intra-abdominal e redução no retorno do fluxo sanguíneo
venoso renal. O uso contínuo de terapia com diuréticos pode estar associado à redução na
taxa de filtração glomerular e à piora na síndrome cardiorrenal quando a pressão de
enchimento das câmaras direitas se mantiver elevada. Nos pacientes nos estágios finais da
doença, caracterizado por estado de redução profunda no débito cardíaco, a terapia
inotrópica ou o suporte circulatório mecânico se mostraram capazes de preservar ou
melhorar a função renal em alguns indivíduos em curto prazo até que uma terapia definitiva,
como circulação assistida ou transplante cardíaco, possa ser executada.
A ultrafiltração (UF) é uma técnica invasiva para retirada de volume capaz de
suplementar a necessidade de terapia diurética. Entre os possíveis benefícios da UF estão
taxas controladas de retirada de líquido, efeitos neutros sobre os eletrólitos séricos e
redução da atividade neuro-hormonal. Essa técnica também é denominada aquaferese
como reconhecimento dos seus efeitos poupador-depleção de eletrólitos. A investigação
atual argumenta contra a indicação de UF como estratégia primária nos pacientes com ICDA
que respondam ao tratamento com diuréticos. Quanto à utilidade da UF nos estados não
responsivos aos diuréticos, continua uma questão em aberto, e essa estratégia deve ser
usada com cautela nessas situações.
• Terapia vascular
A administração intravenosa de vasodilatadores, incluindo nitratos,
nitroprusseto e nesiritida (um peptídeo natriurético cerebral recombinante), foi
preconizada como terapia a montante na tentativa de estabilizar os pacientes com ICDA.
Este último agente foi introduzido em dose fixa para terapia depois que uma comparação
com nitratos intravenosos sugeriu redução mais rápida e maior na pressão de oclusão da
artéria pulmonar. O entusiasmo com a nesiritida esvaneceu-se com as preocupações
surgidas a partir de estudos fundamentais para o desenvolvimento de insuficiência renal e
um aumento na taxa de mortalidade. Para abordar essas preocupações, realizou-se um
ensaio em larga escala sobre morbidade e mortalidade, o Acute Study of Clinical
Effectiveness of Nesiritide in Decompensated Heart Failure (ASCEND-HF), finalizado em
2011, que incluiu randomicamente 7.141 pacientes com ICDA para receberem nesiritida ou
placebo por 24 a 168 horas, além dos cuidados-padrão. A nesiritida não foi associada a
aumento ou redução nas taxas de morte e de reinternação e produziu benefícios clínicos
insignificantes sobre a dispneia. A função renal não piorou, mas observou-se aumento na
taxa de hipotensão. Embora esse ensaio tenha confirmado a segurança do medicamento, seu
uso rotineiro não pode ser preconizado em razão da falta de eficácia significativa.
A relaxina-2 recombinante humana, ou serelaxina, é um peptídeo suprarregulado na
gravidez e testado em pacientes com ICDA e pressão arterial normal ou aumentada. A
serelaxina melhorou a dispneia, reduziu os sinais e sintomas de congestão e esteve
associada a menos casos de agravamento precoce da IC. A análise dos desfechos de
resultados difíceis aos 6 meses sugeriu sinais positivos em favor de redução da mortalidade.
Um maior estudo subsequente não conseguiu demonstrar benefício. Recentemente, o
peptídeo natriurético urodilatina foi testado em um grande estudo (TRUE-AHF) em
pacientes com ICDA e, embora houvesse evidência de descongestionamento junto com uma
redução na expressão endógena dos peptídeos natriuréticos, não houve melhora nos
desfechos clínicos em 6 meses. A urodilatina foi associada a uma maior taxa de hipotensão
e piora na creatinina sérica.
• Terapia inotrópica
A redução da contratilidade do miocárdio com frequência acompanha a ICDA, e os
fármacos que aumentam a concentração intracelular do monofosfato de adenosina cíclico,
por via direta ou indireta, como as aminas simpatomiméticas (dobutamina) e os inibidores
da fosfodiesterase-3 (milrinona), respectivamente, atuam como agentes inotrópicos
positivos. Sua atividade leva a aumento no cálcio citoplasmático. Naqueles pacientes com
estado de baixo débito, a terapia inotrópica aumenta o débito cardíaco, melhora a perfusão
e reduz agudamente a congestão. Embora a milrinona e a dobutamina tenham perfis
hemodinâmicos semelhantes, a primeira tem ação mais lenta e é excretada pelos rins e,
assim, requer ajuste da dose em caso de disfunção renal. Como a milrinona atua a jusante
do receptor β1-adrenérgico, ela pode ser vantajosa em pacientes que estejam recebendo β-
bloqueadores quando admitidos ao hospital. Os estudos concordam universalmente que a
terapia inotrópica de longo prazo aumenta a mortalidade. Contudo, o uso de agentes
inotrópicos por curto prazo, em pacientes com ICDA, também foi associado a aumento de
arritmias e de hipotensão sem benefícios nos desfechos difíceis. Atualmente, os agentes
inotrópicos são indicados como terapia de ponte (para dispositivo de suporte ventricular
esquerdo ou para transplante) ou para paliação seletivamente aplicada em caso de
insuficiência cardíaca terminal.
Foram introduzidos novos agentes inotrópicos que alavancaram o conceito de
sensibilização do cálcio no miofilamento em vez de aumento do nível intracelular de cálcio.
A levosimendana é um sensibilizador de cálcio com atividade inotrópica, mas também com
propriedades inibidoras da fosfodiesterase-3, com ação vasodilatadora. Essas propriedades
tornam seu uso incompatível com os pacientes em estado de baixo débito com quadro de
hipotensão. Outro fármaco que atua como ativador seletivo da miosina, o omecamtiv
mecarbil, prolonga o período de ejeção e aumenta o encurtamento fracional.
Especificamente, não há aumento na força de contração e, portanto, esse agente não
aumenta a demanda de oxigênio pelo miocárdio.
• Antagonismo neuro-hormonal
As metanálises publicadas sugerem redução de 23% na mortalidade e de 35% nos
desfechos combinados de mortalidade e hospitalizações motivadas por insuficiência
cardíaca nos pacientes tratados com IECA. O tratamento com β-bloqueadores proporciona
redução adicional de 35% na mortalidade além do benefício obtido apenas com os IECAs. A
experiência acumulada com ambos os agentes em uma gama ampla de pacientes com ICFER
demonstrou a segurança dos IECAs no tratamento de pacientes com insuficiência renal leve
e a tolerabilidade aos β-bloqueadores dos pacientes com diabetes moderadamente
controlado, asma e doença pulmonar obstrutiva. Os benefícios de IECAs e β-bloqueadores
se estendem aos sintomas da doença avançada (classes IIIb a IV da NYHA). Contudo, um
número substancial de pacientes com insuficiência cardíaca avançada não consegue atingir
as doses ideais dos inibidores neuro-hormonais e requerem redução cautelosa da exposição
a esses medicamentos para manter-se clinicamente estáveis. Esses indivíduos com menor
tolerância a IECAs e β-bloqueadores representam uma coorte de alto risco e prognóstico
reservado.
Os IECAs produzem seus efeitos benéficos na ICFER como efeito de classe; contudo,
acredita-se que os efeitos benéficos dos β-bloqueadores sejam restritos a alguns agentes
específicos. Os β-bloqueadores com atividade simpatomimética intrínseca (xamoterol) e
outros agentes, incluindo o bucindolol, não demonstraram benefícios para a sobrevida. Com
base nas pesquisas realizadas, os β-bloqueadores indicados na ICFER são apenas carvedilol,
bisoprolol e succinato de metoprolol – agentes testados e aprovados como produtores de
aumento na sobrevida em ensaios clínicos. Sobre se o tratamento deve ser iniciado com β-
bloqueador ou com IECA, a resposta veio do ensaio Cardiac Insufficiency Bisoprolol Study
(CIBIS) III, no qual os resultados não foram diferentes iniciando com qualquer dos agentes.
Assim, pouco importa qual agente é introduzido primeiro; o que importa é titular a dose aos
níveis considerados ideais para IECA e β-bloqueador e de forma oportuna.
Em um ensaio, concluiu-se que, com as doses mais altas toleradas de IECA, obtém-
se redução maior nas hospitalizações sem aumento concreto na sobrevida. Os β-
bloqueadores demonstraram melhora dose-dependente na função cardíaca e redução na
mortalidade e nas hospitalizações. A experiência clínica indica que, não havendo
indicadores de hipotensão (fadiga e tontura), a farmacoterapia pode ser titulada para cima
a cada 2 semanas em pacientes hemodinamicamente estáveis de acordo com a tolerância.
• Antagonistas de mineralocorticoides
O uso de antagonista da aldosterona está associado à redução na mortalidade em
todos os estágios da ICFER sintomática nas classes II a IV da NYHA. Os níveis aumentados
da aldosterona nos pacientes com ICFER promovem retenção de sódio, desequilíbrio
eletrolítico e disfunção endotelial e podem contribuir diretamente para a fibrose do
miocárdio. O agente seletivo eplerenona (testado em pacientes classe II da NYHA e
insuficiência cardíaca pós-infarto agudo do miocárdio) e o antagonista não seletivo
espironolactona (testado em pacientes com insuficiência cardíacas classes III e IV da NYHA)
reduzem a mortalidade e as hospitalizações, com redução significativa nas mortes súbitas
cardíacas (MSCs). Hiperpotassemia e piora da função renal são preocupações,
especialmente em pacientes com doença renal crônica subjacente, e há indicação para
monitoramento cuidadoso da função renal e dos níveis séricos do potássio.
• Terapia no SRAA
O “escape” neuro-hormonal foi testemunhado em pacientes com ICFER pelo retorno
dos níveis circulantes de angiotensina II aos valores pré-tratamento com a terapia em longo
prazo com IECA. Os BRAs impedem esse fenômeno ligando-se competitivamente ao
receptor AT1. Assim, a estratégia clínica inicial deve ser o uso de uma combinação de dois
medicamentos (IECA e β-bloqueador; se houver intolerância ao β-bloqueador, então IECA e
BRA; se houver intolerância ao IECA, BRA e β-bloqueador). Nos pacientes sintomáticos
(NYHA classes II a IV), um antagonista da aldosterona deve ser fortemente considerado,
mas deve-se evitar tratamento com quatro medicamentos.
• Vasodilatação arteriovenosa
A combinação de hidralazina e nitratos demonstrou aumentar a sobrevida de
pacientes com ICFER. A hidralazina reduz a resistência vascular sistêmica e induz
vasodilatação arterial, alterando a cinética intracelular do cálcio; os nitratos são
transformados no interior das células musculares lisas em óxido nítrico, o qual estimula a
produção do monofosfato de guanosina cíclico e, consequentemente, promove
vasodilatação arterial e venosa. Essa combinação aumenta a sobrevida, mas não no grau
observado para IECAs e BRAs. Entretanto, nos indivíduos com ICFER incapazes de tolerar o
tratamento com base no SRAA por razões como insuficiência renal ou hiperpotassemia, essa
combinação deve ser a preferida como abordagem para modificar o curso da doença.
• Novos antagonistas neuro-hormonais
Mais recentemente, a introdução de LCZ696, um BRA (valsartana) com um inibidor
da endopeptidase (sacubitril), mostrou um benefício na sobrevida em um grande estudo
quando comparado com o BRA isolado. O fármaco, conhecido como inibidor do receptor de
angiotensina-neprilisina (IRAN) (e denominado Entresto®), foi testado no estudo
PARADIGM-HF como uma alternativa ao IECA na dose ideal e demonstrou uma melhora
adicional na sobrevida quando comparado com o IECA isolado. A maioria das diretrizes
defende agora a troca do IECA por esse fármaco como um padrão em pacientes com
insuficiência cardíaca leve a moderada quando eles permanecerem sintomáticos a despeito
de doses máximas toleradas da terapia convencional.
TABELA 253-2 ■ Farmacoterapia e as metas de dose na insuficiência cardíaca
com fração de ejeção reduzida
Dose média
Dose
Classe de diária nos Dose-
Fármaco inicial
fármaco ensaios clínicos alvo (mg)
(mg)
(mg)
Inibidores da enzima conversora de angiotensina
20-
Lisinopril 4,5-33 2,5-5/dia
35/dia
2,5, 10-20,
Enalapril 17
2×/dia 2×/dia
6,25, 50,
Captopril 123
3×/dia 3×/dia
Trandolapril N/D 0,5-1/dia 4/dia
Bloqueadores do receptor de angiotensina
Losartana 129 50/dia 150/dia
40, 160,
Valsartana 254
2×/dia 2×/dia
Candesartana 24 4-8/dia 32/dia
Antagonistas da aldosterona
Eplerenona 42,6 25/dia 50/dia
12,5- 25-
Espironolactona 26
25/dia 50/dia
β-bloqueadores
Succinato de metoprolol 12,5-
159 200/dia
CR/XL 25/dia
3,125, 25-50,
Carvedilol 37
2×/dia 2×/dia
Bisoprolol 8,6 1,25/dia 10/dia
Vasodilatadores arteriovenosos
Hidralazina/dinitrato de 37,5/20, 75/40,
270/136
isossorbida 3×/dia 3×/dia
Hidralazina/dinitrato de 37,5/20, 75/40,
143/76
isossorbida em dosagem fixa 4×/dia 4×/dia
Inibidor do receptor da angiotensina-neprilisina
100, 200,
Sacubitril-valsartana 375
2×/dia 2×/dia
• Modificação da frequência cardíaca
A ivabradina, um inibidor da corrente If no nó sinoatrial, reduz a frequência cardíaca
sem produzir efeito inotrópico negativo. A ivabradina reduziu as hospitalizações e o
desfecho combinando morte por causa cardiovascular e hospitalização por insuficiência
cardíaca. A população do estudo não foi, necessariamente, representativa dos pacientes
norte-americanos com ICFER, uma vez que, com poucas exceções, a maioria não havia
recebido cardioversor-desfibrilador interno ou terapia de ressincronização cardíaca e 40%
não eram tratados com antagonista do receptor de mineralocorticoide. Embora 90%
recebessem β-bloqueador, apenas 25% estavam sendo tratados com dose plena. Ainda não
está claro se esse agente seria efetivo em pacientes recebendo terapia plena recomendada
em diretriz para insuficiência cardíaca. Nas diretrizes de 2012 da European Society of
Cardiology para tratamento de insuficiência cardíaca, clinicamente a ivabradina deve ser
considerada em pacientes que permanecem sintomáticos após a administração, conforme
as recomendações das diretrizes, de IECA, β-bloqueador e antagonistas dos receptores de
mineralocorticoides e com frequência cardíaca residual > 70 bpm. Outro grupo para o qual
se espera benefício é o daqueles que não toleram os β-bloqueadores.
• Inibidores de cotransportador de sódio-glicose (SGTL-2)
Dapaglifozina, epaglifozina.
• Digoxina
Os glicosídeos digitálicos têm efeito inotrópico leve, atenuam a atividade
barorreceptora do seio carotídeo e são inibidores do sistema simpático. Observe-se que
doses baixas de digoxina são suficientes para obter qualquer benefício potencial na
evolução, e doses mais altas comprometem o índice de segurança terapêutica. Embora haja
indicação de verificar os níveis de digoxina para reduzir a chance de toxicidade com
indicação de reduzir a dose em caso de níveis mais altos, não há necessidade de ajuste de
níveis baixos. Em geral, a digoxina atualmente é relegada ao tratamento de pacientes que se
mantenham muito sintomáticos a despeito de bloqueio neuro-hormonal ideal e controle
adequado do volume.
• Diuréticos por via oral
A ativação neuro-hormonal resulta em retenção ávida de sal e água. Os diuréticos de
alça costumam ser necessários em razão de sua maior potência e podem ser necessários
ajustes frequentes da dose em razão de variação da absorção oral e de flutuações na função
renal. É importante ressaltar que os dados de ensaios clínicos a confirmar a eficácia são
limitados, e não há dados que sugiram que esses agentes aumentem a sobrevida. Assim, os
diuréticos idealmente devem ser usados em esquemas de doses ajustadas para evitar
exposição excessiva. De fato, os diuréticos são essenciais inicialmente para controlar o
volume antes que a terapia neuro-hormonal possa ser avaliada quanto à tolerância ou tenha
a dose titulada.
• Antagonistas de canal de cálcio
O anlodipino e o felodipino, bloqueadores do canal de cálcio de segunda geração,
reduzem a pressão arterial de forma segura e efetiva em pacientes com ICFER, mas não
afetam a morbidade, a mortalidade ou a QDV. Os agentes da primeira geração, incluindo o
verapamil e o diltiazém, podem produzir efeito inotrópico negativo e desestabilizar
pacientes antes assintomáticos. Seu uso deve ser desestimulado.
• Estatinas
Os efeitos potentes de alteração dos lipídeos e pleiotrófico das estatinas reduzem os
eventos cardiovasculares maiores e aumentam a sobrevida nas populações sem
insuficiência cardíaca. Uma vez estabelecida a insuficiência cardíaca, essa terapia talvez não
seja tão benéfica e pode, inclusive, ser deletéria ao causar depleção da ubiquinona na cadeia
de transporte de elétrons. Se forem necessárias estatinas para tratar doença arterial
coronariana progressiva em pacientes com antecedentes de insuficiência cardíaca, então
elas devem ser usadas. Todavia, parece não haver justificativa para o uso rotineiro das
estatinas na insuficiência cardíaca não isquêmica.
• Terapia anticoagulação e antiplaquetária
A ICFER é acompanhada por um estado de hipercoagulabilidade e, portanto, por
risco elevado de eventos tromboembólicos, incluindo acidente vascular cerebral (AVC),
embolia pulmonar e embolia arterial periférica. Embora a anticoagulação oral em longo
prazo esteja estabelecida em alguns grupos, incluindo o de pacientes com fibrilação atrial,
os dados são insuficientes para corroborar o uso de varfarina em pacientes com ritmo
sinusal normal sem história de eventos tromboembólicos ou evidências ecocardiográficas
de trombos no ventrículo esquerdo.