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1. Introdução
Todavia, é notório que entre o planejamento inicial de uma obra e a sua conclusão há um
complexo arcabouço de legislação, regras e gestão de projetos e a própria execução orçamentária
que pode levar a uma situação de paralisação e mesmo abandono das obras planejadas,
significando desperdício de recursos públicos e prejuízo para a população. O presente estudo
busca, à luz dos dados disponíveis, mensurar a quantidade e o volume de recursos dispendidos
em obras públicas sob responsabilidade dos Municípios que se encontram paradas/paralisadas.
2. Metodologia
Cada uma das bases de dados listadas apresenta o seu próprio conceito de obra
parada. Uma obra é definida como paralisada na Plataforma +Brasil quando o seu contrato está
sem movimentação há mais de 180 dias. As obras contemplam aquelas cujo contrato de vigência
expirou e (i) não há recursos financeiros para a sua conclusão ou (ii) o término da obra, através
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de análise técnica ou econômico/financeira, é apontado como inviável. A classificação segue o
disposto na Portaria Interministerial 424/2016, categorizando como obra paralisada todas aquelas
que (i) não tenham iniciado há mais de 180 dias (seis meses aproximados) e (ii) não
apresentam movimentação há mais de 180 dias. No primeiro caso, o dinheiro encontra-se na
conta do governo municipal, porém a obra não foi iniciada, causando a abertura de um processo
de cancelamento.
No Simec, do Ministério da Educação, as obras paradas são aquelas que podem ser
retomadas, sendo consideradas como “paralisadas”, ou seja, que possuem o Termo de
Compromisso vigente, mas provavelmente estão paralisadas por motivos diversos, podendo ser
retomadas a qualquer momento, desde que sanadas as diligências; e as “inacabadas” são aquelas
cujo Termo de Compromisso se encontra vencido e, consequentemente, não foram concluídas.
Para esses casos, o FNDE e o MEC precisam editar Resolução a fim de permitir a repactuação
dessas obras. O ano utilizado foi a variável de “data da assinatura”, enquanto a unidade de valor
foi Valor pactuado com o FNDE.
No SisHab, do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), por sua vez, foram extraídas
as obras com situação definida como “Obras Paralisadas”. O ano utilizado foi a variável de “Ano
da Assinatura”, enquanto a unidade de valor foi Valor da Operação.
As obras paradas no Sismoc são identificadas como situação paralisada, e o ano de início
da obra foi considerado como a “data de início da vigência”, enquanto a modalidade de valor
empregada foi Valor Solicitado. Já no Sismob, foram considerados três cenários para uma obra
parada: i) ação preparatória paralisada; ii) em cancelamento e iii) obra paralisada. O ano
considerado foi o ano de habilitação da obra, e os recursos utilizados para mensurar uma obra é
o valor aprovado no cadastro da proposta.
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3. Apresentação dos dados
Valores % valores
Plataforma Qte. Obras % obras
contratados contratados
Plataforma + Brasil 2.714 2.386.535.092 39% 26%
SIMEC 2.668 2.660.509.666 38% 29%
SisHab 896 3.433.612.064 13% 37%
SISMOB 523 313.514.639 8% 3%
FUNASA 131 533.763.446 2% 6%
Total 6.932 9.327.934.908 100,00% 100,00%
Fonte: Elaboração – departamento de Estudos Técnicos/CNM.
Figura 1 – Quantidade de obras (A) e valor dos contratos de obras (B), 2012-2021 (R$
milhões)
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A partir das informações da Figura 1, é possível elencar a quantidade de obras (ou
instrumentos) e o seu valor de face no momento de assinatura de contrato, conforme
disponibilizado na Plataforma +Brasil. Segundo o levantamento, são 2.714 obras paradas,
entre as categorias que não foram iniciadas há mais de 180 dias e sem movimentações por igual
período, ao custo de R$ 2.386.535.092 (e um valor médio por obra de R$ 1.869.654). Nota-se,
na Tabela 2, que dez ministérios são responsáveis por todas as obras, dos quais o Ministério do
Desenvolvimento Regional (MDR) e o Ministério do Turismo (MTur) são responsáveis juntos por
75% das obras e valor global dos contratos.
Total % Paralisadas
Órgão
Obras Gastos Obras Gastos
Minist. Desenvolvimento Regional 1.559 1.448.179.729 57% 60%
Minist. Turismo 465 346.126.680 17% 14%
Minist. Cidadania 426 284.155.918 16% 12%
Minist. Agricultura, Pecuária e Abastecimentos 208 251.910.038 8% 11%
Minist. Defesa 43 40.274.442 2% 2%
Minist.Ciência, Tecnologia e Inovações 6 11.479.503 0,2% 0,5%
Minist. Economia 3 882.883 0,1% 0,0%
Minist. Mulher, Família e Direitos Humanos 2 11.456.263 0,1% 0,5%
Minist. Comunicações 1 551.963 0,0% 0,0%
Minist. Justiça e Segurança Pública 1 1.133.423 0,0% 0,0%
Total 2.714 2.396.150.841 100,00% 100,00%
Fonte: Plataforma +Brasil. Elaboração – Estudos Técnicos/CNM.
A Tabela 3, por sua vez, explora as características regionais das obras paradas. Os
resultados sugerem que a maior parte das obras (55%) e mais da metade dos valores de contratos
(58%) estão ligados à região Nordeste, e o valor médio, por obra, está levemente acima da média
nacional (R$ 1.596.204 milhão contra R$ 1.529.035 milhão). As regiões Sudeste e Norte
contribuem, conjuntamente, com aproximadamente 28% das obras e 30% dos valores de
contrato, destacando que a região Norte apresenta o maior valor médio de obra (R$ 2.087.197).
A região Sul apresenta os menores valores médios de contrato e os menores percentuais de obras
(junto com o Centro-Oeste).
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Tabela 3 – Obras paradas por região geográfica, 2012-2021
Região Obras Valor Global Valor Global Médio % obras % Recursos
Nordeste 1.487 1.380.375.421 1.596.204 55% 58%
Sudeste 486 376.651.856 1.646.889 18% 16%
Norte 265 331.918.731 2.087.197 10% 14%
Sul 245 135.304.009 1.335.012 9% 6%
Centro Oeste 231 171.900.823 979.875 9% 7%
Total 2.714 2.396.150.841 1.529.035 100,00% 100,00%
3.2 SisHab
O SisHab, do MDR, concentra todas as obras pertencentes ao Programa Minha Casa, Minha
Vida (PMCMV). Para os propósitos do estudo, foi considerada somente a quantidade de
empreendimentos com obras classificadas como paralisadas entre 2012 e 2019, uma vez que em
2020 nenhuma obra foi cadastrada como tal. Cada um dos empreendimentos possuem uma
quantidade correspondente de unidades domiciliares ainda não entregues, calculada a partir da
diferença entre a quantidade de unidades contratadas e entregues.
A Figura 2 apresenta a quantidade de empreendimentos com obras paralisadas por ano
(Quadro A) e o valor das operações das obras (Quadro B). Cabe ressaltar que a maior quantidade
de empreendimentos (55%) e dos valores contratados (82%) foram firmados entre 2012 e 2014.
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Figura 2 – Quantidade de empreendimentos com obras paradas (A) e valor dos
contratos de obras (B), 2012-2019 (R$ milhões)
Segundo levantamentos da CNM, para o período analisado, são 896 empreendimentos com
obras paradas a um valor de operação de R$ 3.433.612.064. Em todos os empreendimentos
listados existem 66.918 unidades domiciliares não entregues (uma média de 75 Unidades
domiciliares por empreendimento). Há uma concentração geográfica de obras paradas e recursos
em torno das regiões Norte e Nordeste, responsáveis por aproximadamente 70% das obras e 65%
dos recursos (Tabela 5), a despeito de apresentarem respectivamente o maior e o menor valor
médio por empreendimento (R$ 4.818.839 e R$ 3.206.002). A região Norte apresenta a maior
proporção de Unidades Domiciliares paradas em relação ao total de empreendimentos (97),
enquanto a região Sul apresenta a menor proporção (53).
Ao avaliar as obras paradas por porte populacional, é importante ressaltar que a maioria
dos recursos (58%) está empregada em Municípios de grande porte (acima de 100 mil habitantes),
enquanto a maior parte dos empreendimentos com obras paradas (69%) está nos Municípios de
pequeno porte (Tabela 6).
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Tabela 6 – Obras paradas do SisHab por porte populacional, 2012-2019
3.3 Sismoc
Figura 3 – Quantidade de obras (A) e valor dos contratos de obras (B), 2012-2019 (R$
milhões)
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Tabela 7 – Obras paradas da Funasa por região geográfica, 2012-2019
O padrão populacional indica, de acordo com a Tabela 8, que quase a totalidade das obras
paralisadas se encontra nos Municípios de pequeno porte (98% das obras e 91% dos recursos).
Não existem obras paralisadas em Municípios de grande porte que são administradas pela Funasa.
Valor Médio
Porte Obras Valor Solicitado % obras
% Recursos
Pequeno 128 485.431.804 8.213.286 98% 91%
Médio 3 48.331.642 16.110.547 2% 9%
Total 131 533.763.446 12.161.917 100% 100%
Fonte: Sismoc/Funasa. Elaboração – Estudos Técnicos/CNM.
3.4 Sismob
Figura 4 – Quantidade de obras (A) e valor aprovado (B): 2012-2021 (R$ milhões)
O porte populacional indica que os grandes Municípios, isto é, aqueles com população
superior a 100.000 habitantes, apresentam somente 7% do total de obras e 12% dos valores
aprovados. Por outro lado, os pequenos Municípios são responsáveis pela maioria das obras
paradas (62%) e mais da metade dos valores aprovados (54%). Os Municípios de médio porte
apresentaram 34% dos valores aprovados. Isso pode ser verificado na Tabela 10 a seguir.
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Tabela 10 – Obras paradas Sismob por porte populacional, 2012-2021
% Valor
Valor Aprovado
Porte Obras Valor Aprovado % obras Aprovado
médio
Recursos
Pequeno 338 80.515.010 3.494.271 62% 54%
Médio 167 51.393.393 2.316.133 31% 34%
Grande 38 18.308.764 2.916.910 7% 12%
Fonte: Sismob. Elaboração – Estudos Técnicos/CNM.
3.5 Simec
Figura 5 – Quantidade de obras (A) e valor de contrato (B), 2012-2021 (R$ milhões)
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Tabela 11 – Obras paradas do Simec por região geográfica, 2012-2021
Valor do % Valor do
Região Obras Valor Médio % obras
Contrato Contrato
Nordeste 1.454 1.383.993.117 154.121.255 54% 52%
Norte 673 681.642.278 97.377.468 25% 26%
Sudeste 255 268.066.423 67.016.606 10% 10%
Sul 156 197.536.617 65.845.539 6% 7%
Centro Oeste 130 129.271.231 43.090.410 5% 5%
Total 2.668 2.660.509.666 209.402 100% 100%
Fonte: Simec. Elaboração – Estudos Técnicos/CNM.
Ao contrário das obras de habitação, a maioria das obras paradas da rede municipal de
ensino ocorre em Municípios de pequeno porte (74%), assim como 68% do valor total de contratos
são oriundos desse grupo de Municípios. Isso pode ser vislumbrando na Tabela 12, abaixo.
4. Conclusão
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De acordo com os dados levantados, a maior parte dos recursos é proveniente do período
de 2012 a 2014, assim como a maior parcela de recursos contratados. Grande parte das obras
paradas está localizada nas regiões Nordeste e Norte e em Municípios de menor porte
populacional. Presumivelmente, o valor médio das obras é maior entre as cidades mais
populosas. As principais obras são oriundas de projetos habitacionais; pavimentação asfáltica;
construção de estradas vicinais; construção de orlas; construção de escolas e creches; obras em
esgoto; água; melhorias sanitárias domiciliares e saneamento rural, além das obras em escolas e
creches, Unidades Básicas de Saúde e Unidades de Pronto Atendimento.
Existem diversas consequências que devem ser levadas em conta com essa quantidade de
obras paradas/paralisadas nas cidades de nosso país. Além dos financeiros, há um enorme prejuízo
social, pois cada obra dessas devia empregar trabalhadores que com seus proventos dinamizariam
as economias locais neste momento de recuperação lenta da pandemia da Covid-19, que trouxe
grandes impactos a nossa sociedade. Sendo assim, é imperativo que se busque alternativas,
viáveis, para a conclusão dessas obras. Vários movimentos foram feitos pelos órgãos de controle
federais e estaduais a fim de recuperar esses investimentos, tais como reuniões setoriais com
Ministérios e a administração federal, elaboração de normativas e novos prazos abertos. Mas,
como o assunto é sempre complexo e requer muita dedicação e comprometimento de todos, não
evoluiu na velocidade preconizada.
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Referências
BRASIL. Ministério da Economia. Plataforma +Brasil, 2021. Painel Gerencial. Disponível em:
https://transferenciasabertas.planejamento.gov.br/QvAJAXZfc/opendoc.htm?document=painelci
dadao.qvw&lang=en-US&host=QVS%40srvbsaiasprd01&anonymous=true/. Acesso em: 12 abr.
2022.
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