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Organizadores
Regina Helena Rosa Sambuichi
Iracema Ferreira de Moura
Luciano Mansor de Mattos
Mário Lúcio de Ávila
Paulo Asafe Campos Spínola
Ana Paula Moreira da Silva
© Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – ipea 2017
Inclui Bibliografia.
ISBN: 978-85-7811-309-4
CDD 338.10981
As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores,
não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
ou do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão.
É permitida a reprodução deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte.
Reproduções para fins comerciais são proibidas.
CAPÍTULO 5
1 INTRODUÇÃO
O Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo) é o principal
instrumento da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Pnapo),
a qual foi instituída por meio do Decreto no 7.794/2012, com a finalidade de
integrar, articular e adequar políticas, programas e ações indutoras da transição
agroecológica e da produção orgânica e de base agroecológica. No Planapo, constam
as ações a serem executadas no âmbito da política, com indicadores, metas e prazos
para sua execução, seguindo as diretrizes apontadas no decreto e abrangendo os
diversos instrumentos nele previstos, como crédito rural, compras governamentais,
assistência técnica e extensão rural e outros (Brasil, 2012).
O decreto que instituiu a Pnapo estabeleceu como suas instâncias de gestão
a Câmara Interministerial de Agroecologia e Produção Orgânica (Ciapo), formada
por representantes dos ministérios que participam da política e a Comissão Nacio-
nal de Agroecologia e Produção Orgânica (Cnapo), formada de forma paritária por
representantes de órgãos e entidades do Poder Executivo federal e de entidades da
sociedade civil (Brasil, 2012). Embora a elaboração da proposta do plano tenha ficado
a cargo da Ciapo, coube à Cnapo debater a proposta e propor diretrizes, objetivos,
instrumentos e prioridades ao plano, de forma a subsidiar a Ciapo na sua elaboração.
A construção do Planapo, assim como da própria Pnapo, se deu de forma
participativa, com forte influência dos conselhos e espaços de participação social,
como a Cnapo, o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
1. Técnica de planejamento e pesquisa na Diretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais (Dirur) do Ipea.
2. Professor adjunto da Universidade de Brasília (UnB).
3. Analista técnica de políticas sociais do Ministério da Saúde.
4. Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), unidade Cerrados.
5. Pesquisador do Programa de Pesquisa para o Desenvolvimento Nacional (PNPD) na Dirur/Ipea.
148 | A Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica no Brasil
Número de iniciativas previstas e executadas (meta física) em cada eixo, objetivo e meta do Planapo 2013-2015
Número de iniciativas
Eixos Objetivos Metas Previstas no Executadas Não execu- Sem
plano Totalmente Parcialmente tadas informação
Fontes: Brasil (2013; 2016) e fichas de monitoramento do plano. Elaboração dos autores.
| 151
152 | A Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica no Brasil
GRÁFICO 1
Iniciativas cumpridas em relação à meta financeira no Planapo I
(Em %)
7
18 29
46
3 EIXO 1 – PRODUÇÃO
TABELA 2
Principais ações voltadas para aumentar o acesso ao crédito executadas no âmbito
do Planapo I
Montante de recursos
Execução (R$ milhões)
Ações Órgão responsável física
(%) Execução
Previsto Executado
(%)
Elaboração de planilhas modais MDA 100 - - -
Ajustes na linha Pronaf Agroecologia MF e MDA 100 - - -
Ações de capacitação MDA e Mapa 48 0,3 0,2 74
Oferta e contratação de crédito do Pronaf MDA 2,5 2.500,0 63,1 2,5
Sistema de acompanhamento da efetivação
MDA e Banco Central 100 - - -
do crédito
(Brasil, 2016). Entretanto, esses dados ainda não estão disponíveis nas tabelas
disponibilizadas na web pelo Banco Central, sendo necessário que o gestor solicite
relatórios especiais ao banco para a obtenção desses dados.7
Segundo as informações contidas nas fichas de monitoramento, as ações
previstas de capacitação foram realizadas parcialmente (tabela 2). Realizaram-se
oficinas de trabalho, com agentes de Ater, e capacitações, com operadores de crédito
e lideranças. Entre as ações que não foram realizadas, por dificuldade de articulação
com os agentes financeiros, está capacitação dos técnicos e funcionários dos bancos
sobre o financiamento dos sistemas de produção agroecológica e orgânica. Essa
seria uma ação importante para colaborar na redução de um dos principais entraves
diagnosticados para o financiamento desse tipo de produção, o desconhecimento
dos agentes financeiros sobre o funcionamento dessas linhas e sobre como avaliar
a viabilidade financeira dos projetos.
Outras ações não executadas foram a implementação de tabelas de referência de
preços mínimos diferenciados para produtos agroecológicos e orgânicos e a criação
de um cadastro de beneficiários para acesso à Pnapo. Os gestores informaram nas
fichas que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), por meio de sua
área técnica, descartou a possibilidade de estabelecer uma tabela de preços diferen-
ciados para esses produtos no âmbito da PGPM. Já no âmbito do PGPAF, embora
tenha sido considerado haver espaço para a apresentação de propostas, nada foi
concretizado nesse sentido. A criação de um cadastro dos beneficiários da política
esbarrou na dificuldade de definir quem seriam os agricultores agroecológicos ou
em transição e como obter as informações sobre esses produtores.
Apesar de as ações planejadas terem sido parcialmente executadas, a meta de
aumentar o acesso ao crédito não foi atingida. Do montante de R$ 2,5 bilhões
de crédito disponibilizados para financiar a produção agroecológica e orgânica da
agricultura familiar no Plano Safra, apenas R$ 63,1 milhões (2,5%), distribuídos
em 1.973 contratos, foram de fato executados, incluindo aqui o que foi financiado
na linha Pronaf Agroecologia e em todas as linhas do Pronaf para esses tipos de
sistema de produção (Brasil, 2016). No âmbito de Plano Agrícola e Pecuário, do
Mapa, foram disponibilizados R$ 4,5 bilhões para financiamento da agricultura
orgânica. No período de vigência do Planapo I, o valor total contratado para todas
as finalidades de investimento do Programa ABC foi de R$ 9,2 bilhões. Não foi
possível, porém, estimar exatamente quanto do valor aplicado no ABC foi contratado
para financiar a produção orgânica, pois o Banco Central só passou a disponibilizar
as informações sobre os valores contratados por finalidade de investimento nesse
programa a partir de novembro de 2015. Entretanto, é provável que apenas uma
parcela ínfima dos recursos do ABC tenha ido para a produção orgânica, pois,
na safra 2015/2016 (considerando-se os contratos feitos a partir de novembro de
GRÁFICO 2
Número de contratos da linha Pronaf Agroecologia (safras de 2005/2006 a 2016/2017)
450 427
393
400
350
300
260
250
211
191
200
150
100 76
59
50
2 6
0
2005/2006
2006/2007
2007/2008
2008/2009
2009/2010
2010/2011
2011/2012
2012/2013
2013/2014
2014/2015
2015/2016
2016/2017
instrumento que se conseguiu criar no Planapo de apoio a essas redes territoriais foi
o Programa Ecoforte.
Estava previsto no plano o apoio a trinta redes por meio do Programa Eco-
forte, com um recurso estimado de R$ 60 milhões, provenientes do BNDES. Em
março de 2014, foi lançado o Edital no 2014/005, Ecoforte Redes, da FBB, com
recursos não reembolsáveis de R$ 25 milhões para financiar projetos de até R$
1,25 milhão. Foram selecionadas 33 propostas, mas os recursos não permitiram
financiar todas. Foi obtido, posteriormente, um recurso adicional, o qual permitiu
o apoio a 28 projetos, com um investimento total de R$ 32,6 milhões, oriundos
da FBB e do Fundo Social do BNDES (tabela 3).
Em setembro de 2014, foi lançado o Edital no 2014/020, Ecoforte Extrativis-
mo, da FBB, visando beneficiar famílias residentes nas Unidades de Conservação
Federais de Uso Sustentável, localizadas no bioma Amazônia. O edital previa um
investimento de R$ 6 milhões, oriundos da FBB e do Fundo Amazônia, geridos
pelo BNDES. Para esse edital, foram selecionadas e apoiadas dez propostas, com
um total de investimento de cerca de R$ 4 milhões.
Outra ação prevista, ainda no âmbito do Ecoforte, foi o apoio a organizações
produtivas rurais de base familiar que fornecessem alimentos para o Programa de
Aquisição de Alimentos (PAA) ou para o Programa Nacional de Alimentação Escolar
(Pnae), ou que operassem a Política de Garantia de Preço Mínimo dos Produtos
da Sociobiodiversidade (PGPM-Bio). Para esse fim, foram lançados pela Conab,
com financiamento do BNDES, dois editais de chamada pública ainda no ano de
2013, sendo que o primeiro edital foi publicado no início do ano, antes mesmo
do lançamento do Planapo e da assinatura do ACT do Ecoforte. Os recursos pre-
vistos no Planapo para serem aplicados nessa ação eram de R$ 25 milhões, visando
apoiar 350 organizações. De acordo com as fichas de monitoramento, até o final
de 2015, incluindo os projetos já contratados (do primeiro edital) e aqueles em
fase de contratação (do segundo edital), somavam-se R$ 17,7 milhões aplicados
para apoiar 393 organizações.
Uma iniciativa não executada no período desse primeiro Planapo foi o apoio
a cooperativas e associações integrantes das redes selecionadas nos editais do Pro-
grama Ecoforte. Estava previsto no plano o apoio a cem cooperativas e associações
de agricultores familiares, com um recurso previsto de R$ 90 milhões, o qual não
foi aplicado.
160 | A Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica no Brasil
TABELA 3
Montante de recursos previstos e aplicados e número de propostas recebidas, sele-
cionadas e apoiadas nos editais dos programas Ecoforte e Terra Forte do governo
federal (2013-2015)
Recursos (R$ milhões) Número de propostas
Edital Data Previstos
Aplicados Recebidas Selecionadas Apoiadas
Planapo Edital
Ecoforte Redes,
2014 60 25 32,6 167 33 28
Edital no 2014/005
Ecoforte Extrativismo,
2014 - 6 4 32 10 10
Edital no 2014/020
25
Terra Forte,
2013 30 30 21,5 256 6 3
Edital Incra/DD/DDA no 01/2013
11. A primeira água é aquela própria para consumo humano, necessitando de uma tecnologia de captação e arma-
zenamento que tenha maior cuidado com a qualidade da água captada. A segunda água é usada para produção,
necessitando de uma tecnologia mais simples e barata para ser armazenada e captada.
12. Atualmente, Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações.
162 | A Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica no Brasil
TABELA 4
Principais ações voltadas ao fomento à produção de produtos fitossanitários e insu-
mos no Planapo I
GRÁFICO 3
Evolução do número de unidades de produção orgânica cadastradas no Mapa
30.000
25.000
Unidades de produção
20.000
15.000
10.000
5.000
0
2012 2013 2014 2015
TABELA 5
Principais ações voltadas à valorização das mulheres executadas na meta 7 do Planapo I
Montante de recursos
Execução física (R$ milhões)
Ações Órgão responsável
(%) Execução
Previsto Executado
(%)
TABELA 6
Principais ações voltadas à conservação da agrobiodiversidade executadas no Planapo I
Montante de recursos
Execução física (R$ milhões)
Ações Órgão responsável
(%) Execução
Previsto Executado
(%)
Apoio a casas, bancos e guardiões de Mapa e MCTI 48,7 2,10 0,77 36,6
sementes MDS e MDA 100,0 12,00 8,61 71,7
Apoio a ações de educação ambiental MMA 110 5,00 8,18 163,6
13. As redes sociotécnicas são formadas por extensionistas, produtores e pesquisadores que atuam aliando o co-
nhecimento local ao técnico, e contribuem para construção, sistematização e difusão de conhecimento. No caso das
sementes, por exemplo, os ensaios são feitos com a participação dos agricultores, e os experimentos são realizados
nos seus estabelecimentos, os quais passam a funcionar como polos de irradiação do conhecimento e das variedades.
172 | A Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica no Brasil
Outra iniciativa com esse objetivo foi desenvolvida pelo MDA, em par-
ceria com o MDS e a Associação Programa Um Milhão de Cisternas para o
Semiárido, por meio do projeto “Manejo da Agrobiodiversidade – Sementes do
Semiárido”. Este projeto visou à estruturação e gestão comunitária de seiscentos
bancos de sementes crioulas adaptadas às condições do semiárido, selecionando
e capacitando 12 mil famílias de agricultores familiares inscritos no Cadastro
Único. Para este projeto, foram repassados cerca de R$ 4,0 milhões em 2014
e R$ 4,6 milhões em 2015. Estava prevista, no Planapo, a aplicação de R$ 12
milhões no período; no entanto, o projeto continuou em 2016, sendo que o
montante total aprovado para ser aplicado neste projeto até a sua finalização
foi de R$ 21 milhões.
Em relação à compra de sementes pelo PAA, a meta era atingir 5% dos recursos
aplicados anualmente no programa até 2015. Embora a meta não tenha sido atin-
gida, observou-se um aumento expressivo do percentual de recursos aplicados em
2015 (gráfico 4). Contribuíram para esse aumento os aprimoramentos realizados
no marco legal do PAA, no qual foi estabelecido um regramento específico para a
aquisição de sementes, de forma a atender às peculiaridades do processo de pro-
dução, regulamentação e comercialização deste produto. As alterações normativas
tiveram início em 2014, com a publicação do Decreto no 8.293, regulamentado
por meio da Resolução no 68 do Grupo Gestor do PAA. No início de 2015, foi
publicado o Manual de operações da Conab – Título 86, Aquisição de Sementes,
detalhando as regras para essa modalidade de compras.
Segundo o relato dos gestores nas fichas de monitoramento, entre os desafios
ainda existentes para se atingir a meta de 5% de aquisição de sementes pelo PAA,
estão “estimular a ampliação do número de organizações da agricultura familiar
fornecedoras de sementes para o PAA, principalmente nas regiões Norte e Nordeste;
e dar continuidade ao aprimoramento dos normativos vigentes relacionados ao
programa”. Um dos entrevistados da pesquisa destacou a dificuldade de se alcançar
a meta estabelecida, porque “ela era maior que a nossa capacidade de execução, e
a gente não sabia disso. A gente não tinha noção de como dimensionar a meta”.
Ainda segundo esse entrevistado, “não era só recurso que estava faltando, era um
conjunto de incentivos que precisava e ainda precisa ser feito para garantir a am-
pliação dessa aquisição”.
A regulamentação de um procedimento para possibilitar o acesso dos agri-
cultores aos bancos de germoplasma existentes nas unidades da Embrapa não foi
concretizada. Várias tratativas foram feitas neste sentido durante encontros realizados
entre representantes da Embrapa e da sociedade civil nos anos de 2014 e 2015,
mas não foi possível ainda consensuar a proposta de normatização. Segundo um
dos entrevistados da pesquisa, este é ainda um desafio importante a ser vencido,
Avaliação da Execução do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica | 173
2013-2015
GRÁFICO 4
Compras de sementes previstas pelo PAA e valor de compras de sementes executado
pelo PAA no período de vigência do Planapo I
5 25
4 20
3 15
R$ milhões
%
2 10
1 5
0 0
2013 2014 2015
TABELA 7
Principais ações voltadas ao manejo florestal e produtos da sociobiodiversidade
executadas no Planapo I
Montante de recursos
Execução física (R$ milhões)
Ações Órgão responsável
(%) Execução
Previsto Executado
(%)
Para capacitar agentes técnicos, o SFB fez chamadas públicas para selecionar
instituições prestadoras de serviços de Ater interessadas em receber cursos sobre
manejo. De 2013 a 2015, estes cursos formaram 343 agentes técnicos na Caatinga
(Bahia, Pernambuco e Ceará) e na Amazônia (Pará, Amapá, Amazonas e Maranhão),
representando 95% de execução física da meta.
5 EIXO 3 – CONHECIMENTO
5.1.1 Universalização dos serviços de assistência técnica e extensão rural com enfoque
agroecológico
A meta 10 do Planapo visou universalizar a Ater com enfoque agroecológico para
agricultores familiares orgânicos e agroecológicos e a qualificação de suas organi-
zações econômicas, buscando especificamente incorporar estratégias de fortaleci-
mento de ações em rede, prover Ater para sistemas sustentáveis de produção e,
ainda, promover acesso dos beneficiários do Bolsa Verde aos programas de Ater.
Para atingir essa meta, foram programadas oito iniciativas, com um montante de
recursos estimado de R$ 720 milhões no período de 2013 a 2015.
Estava previsto no plano atender a um total de 145,7 mil famílias com Ater
agroecológica, orgânica, agroextrativista ou em sistemas sustentáveis de produção,
em duas iniciativas sob responsabilidade do MDA. A execução dessas iniciativas
foi realizada por meio de quatro chamadas, beneficiando um total de 112,7 mil
famílias, 77% do previsto, com uma execução orçamentária de R$ 414 milhões
– 71% (tabela 8).
Outra ação prevista foi fornecer Ater para 26 mil famílias beneficiárias do
Programa Bolsa Verde em Unidades de Conservação de Uso Sustentável Federais e
Assentamentos Ambientalmente Diferenciados da Reforma Agrária. Nesta iniciativa,
dos R$ 132 milhões previstos, apenas R$ 11 milhões (8%) foram empenhados
até o final de 2015 (tabela 8), devido à demora para implementação das ações,
o que alterou o cronograma de desembolso dos recursos. A meta física, porém,
Avaliação da Execução do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica | 177
2013-2015
foi atingida, sendo que 26,05 mil famílias já estavam sendo atendidas ao final do
período. O desafio maior posto a esta iniciativa foi a conciliação da Ater com a
política ambiental dentro das Resex e PAEs.
TABELA 8
Execução das ações de Ater previstas na meta 10 do Planapo 2013-2015
Montante de recursos
Número de famílias (mil)
Público-alvo Órgão responsável (R$ milhões)
Previsto Atendido Execução (%) Previsto Executado Execução (%)
Agricultores familiares
MDA 145,7 112,7 77,4 577,8 414,4 71,2
em geral
Beneficiários do Bolsa Incra, MDA, ICMBio
26,0 26, 1 100,2 132,0 11,1 8,3
Verde e SFB
Pescadores e aqui-
MPA e MDA 6,0 4,2 70,7 9,0 3,8 42,1
cultores
Total 177,7 143,0 80,5 718,8 429,3 59,7
TABELA 9
Execução das ações de formação previstas no Planapo 2013-2015
Montante de recursos
Órgão Número de beneficiados (mil)
Curso (R$ milhões)
responsável
Previsto Atendido Execução (%) Previsto Executado Execução (%)
Formação inicial e continuada em
agroecologia para agricultores e MEC/MDA 23,0 34,3 149,1 36,8 49,9 135,7
técnicos
Formação técnica em agroecologia MEC/MDA 4,0 6,0 150,4 32,0 35,4 110,6
Formação de nível médio e superior
Incra 2,8 2,7 97,0 7,6 7,8 103,1
para assentados da reforma agrária
Formação para extrativistas do MMA/MEC
10,3 0,1 1,2 5,2 0,0 0,0
Bolsa Verde MDS/MDA
Formação presencial e à distância
para agentes e educadores MMA 1,0 0,7 66,1 0,4 0,4 100
ambientais
Formação técnica em manejo
florestal madeireiro e de espécies da MMA 0,2 0,0 0,0 1,0 0,0 0,0
sociobiodiversidade
Outra ação que teve execução física e financeira além do previsto foi a oferta
de cursos técnicos de nível médio em agroecologia ou com enfoque agroecológico
para agricultores. Estava previsto, em iniciativas das metas 11 e 13, o atendimento a
mil agricultores familiares e 3 mil jovens agricultores respectivamente. Estes cursos
foram ministrados nos anos de 2014 e 2015 para um total de 6 mil alunos, com
execução financeira de 110,6% (tabela 9).
A cargo do Incra, houve também ações de formação voltadas especificamente
para os beneficiários do Programa Nacional de Reforma Agrária. A promoção de
cursos de nível médio e superior em agroecologia para assentados foi prevista para
2,8 mil alunos, com execução física de 97%. Foram necessários reajustes no recurso
em função de alteração no custo/aluno, o que não comprometeu o cumprimento das
metas, sendo a execução financeira de 103,1% (tabela 9). Estava prevista também
a realização de cursos de formação profissional para 2,9 mil trabalhadores rurais
assentados com enfoque em agroecologia e produção orgânica. Para esta iniciativa,
os gestores informaram nas fichas que não houve cumprimento da meta física,
embora os recursos aplicados tenham superado o previsto, em função do aumento
do custo por aluno. Entretanto, os números apresentados nas fichas e no relatório
de balanço (Brasil 2016) são inconsistentes com os valores que constam no texto do
plano (Brasil, 2013); por essa razão, esses dados não foram apresentados na tabela 9.
Foi previsto também, na meta 11, a formação de educadores e extrativistas
beneficiários do Programa Bolsa Verde em agricultura de base agroecológica, ma-
nejo sustentável de recursos naturais e gestão de suas organizações. Com recursos
180 | A Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica no Brasil
TABELA 10
Principais ações voltadas para geração e sistematização de conhecimento executadas
no Planapo I
Montante de recursos
Execução física (R$ milhões)
Ações Órgão responsável
(%) Execução
Previsto Executado
(%)
não especificaram a quantidade de recursos embutidos para este fim específico, não
foi possível mensurar a execução financeira desta iniciativa, para a qual estavam
orçados R$ 3,2 milhões.
As ações de comunicação e divulgação incluíam a criação de uma estratégia
de comunicação para produzir e difundir conhecimentos sobre agroecologia,
sociobiodiversidade e produção orgânica, com orçamento de R$ 2,7 milhões, a
qual não chegou a ser elaborada, apesar de o tema ter sido abordado em várias
reuniões da Ciapo. A falta de uma estratégia de comunicação foi um dos proble-
mas destacados pelos entrevistados na pesquisa, os quais argumentaram que, por
falta desta estratégia, o plano é ainda muito desconhecido pelos agricultores e pelo
público em geral.
Foram previstas trezentas publicações, além de outros informativos técnicos
destinados a disponibilizar conhecimentos relacionados a sistemas orgânicos de
produção, sob responsabilidade do Mapa. Destas, 113 foram executadas (37%),
sendo elas: 103 “Fichas Agroecológicas com Tecnologias Apropriadas à Produção
Orgânica”; nove cadernos de boas práticas para o extrativismo sustentável orgânico
e um caderno do Plano de Manejo Orgânico. Dos R$ 900 mil orçados, R$ 528
mil (58%) foram aplicados.
A elaboração de um manual técnico sobre transição agroecológica foi uma
iniciativa prevista para a Embrapa. Em 2014, foi publicado o primeiro volume da
Coleção Transição Agroecológica, que trata de princípios e conceitos da agroecologia.
O Planapo, porém, não orçou recursos para esta publicação. Adicionalmente, foram
produzidas algumas publicações sobre agroecologia e produção orgânica durante
a vigência do plano, as quais estão disponíveis no site da Embrapa.
Outros esforços de publicação realizados no período foram: Guia alimentar
para a população brasileira; Alimentos regionais brasileiros; Caderno boas práticas de
Ater; Caderno Pronaf Agroecologia; além de coletâneas e estudos, como Mulheres e
agroecologia – Coletânea sobre estudos rurais e gênero, entre outros.
Alguns materiais previstos não chegaram a ser produzidos, como o material
pedagógico sobre gênero e agroecologia e a atualização do Marco Referencial de
Agroecologia. Quanto a este último, a Embrapa está sistematizando os levanta-
mentos recentes realizados sobre os avanços e desafios da agroecologia, de modo
a subsidiar, futuramente, a execução desta atualização.
Quanto às ações de capacitação, o plano previa apoiar 130 programas e projetos
em extensão universitária (Proext) com enfoque agroecológico, definindo linhas de
apoio a estágios interdisciplinares de vivência (EIV) e iniciativas estudantis com
184 | A Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica no Brasil
relativos aos estados de Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul,
Maranhão, Minas Gerais e Paraná. Segundo as fichas de monitoramento, foram
atendidos 5.460 jovens, o que correspondeu a 100% da meta física para esta inicia-
tiva, a um custo de R$ 7,44 milhões, com 95,4% de execução financeira (tabela 11).
TABELA 11
Principais ações voltadas à promoção da juventude rural executadas no Planapo I
Montante de recursos
Execução física (R$ milhões)
Ações Órgão responsável
(%) Execução
Previsto Executado
(%)
TABELA 12
Principais ações voltadas para comercialização e consumo executadas no Planapo I
Montante de recursos
Execução física (R$ milhões)
Ações Órgão responsável
(%) Execução
Previsto Executado
(%)
dos principais benefícios destacados em diversos estudos realizados sobre o PAA até
2012 (Sambuichi et al., 2014), e a redução desse estímulo, em função das mudan-
ças operacionais realizadas, deve afetar principalmente as compras destinadas aos
beneficiários da Pnapo. Isso explica a queda no percentual de aquisições observada
em 2013, quando essas mudanças começaram a ser implementadas.
GRÁFICO 5
Aquisição de produtos agroecológicos e orgânicos pelo PAA (2007-2015)
5,0 25,0
4,0 20,0
3,0 15,0
R$ milhões
%
2,0 10,0
1,0 5,0
0,0 0,0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Já o Pnae aplicou 3,05% (R$ 108 milhões) em 2013 e 3,09% (R$ 112 mi-
lhões) em 2014, sendo que os dados de 2015 desse programa ainda não estavam
disponíveis no momento em que o monitoramento foi realizado. Os principais
desafios apontados nas fichas em relação à execução do Pnae foram “a sensibilização
dos gestores, o aumento do valor per capita do Pnae, a disponibilidade de forneci-
mento de produtos orgânicos e agroecológicos em todos os municípios brasileiros
e oferta organizada para atender às demandas do Programa”.
Para incentivar a compra de produtos agroecológicos e orgânicos pelo Pnae,
o plano previu ações de formação de responsáveis técnicos pela alimentação escolar
nas entidades executoras e a elaboração de material informativo para incentivar a
inclusão desses produtos nas aquisições para a alimentação escolar. O plano previa
5,5 mil atores formados, mas foram formados apenas 244. Quanto ao material
informativo, a previsão era de produzir dois materiais no período, sendo que foi
produzida apenas uma cartilha.
190 | A Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica no Brasil
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A avaliação apresentada neste capítulo mostrou que, embora a execução dos recursos
não reembolsáveis tenha sido elevada, os recursos destinados para o crédito, os quais
correspondiam à maior parte dos recursos disponibilizados no plano, tiveram um
percentual muito baixo de execução. Isso indica que as ações executadas durante
o Planapo I que visavam sanar os entraves diagnosticados para o acesso ao crédito
não foram suficientes para atingir esse objetivo.
Uma das explicações colocadas nas entrevistas é que o sistema de crédito
rural, criado originalmente para fomentar o agronegócio, pode não ser o mecanis-
mo mais adequado para o financiamento da transição agroecológica. Aponta-se,
portanto, a necessidade de inovar nos instrumentos voltados ao financiamento da
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REFERÊNCIAS
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