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1. Escopo
Baseando-se nas hipóteses de independência entre as medidas da distância Euclidiana e do tempo, e
da existência de corpos rígidos, caracterizados pela propriedade de invariância da distância entre dois
quaisquer de seus pontos, a Cinemática do Corpo Rígido estuda as propriedades geométricas de seus
movimentos em relação a sistemas de referência apropriados, descrevendo-os, em função do tempo, sem
estabelecer quaisquer relações com as causas que os tenham produzido.
Nos próximos tópicos procuraremos mostrar como a descrição desses movimentos pode ser realizada
a partir de princípios puramente geométricos.
2. Sistemas de referência
Entende-se por referencial qualquer corpo rígido ao qual se pode vincular um triedro geométrico
associado a um sistema de eixos cartesianos. Na Cinemática do Corpo Rígido utilizam-se dois sistemas de
referência – o móvel, solidário ao corpo cujo movimento se descreve, e o fixo, em relação ao qual o
movimento daquele corpo é descrito.
Na Fig.1, o referencial fixo é um corpo rígido ℛao qual se ligam três eixos ortogonais 𝑂1 𝑥1 𝑦1 𝑧1; ao
corpo rígido 𝒮, por sua vez, liga-se o referencial móvel representado pelo sistema de eixos cartesianos
𝑂𝑥𝑦𝑧.
𝑧
⃗⃗
𝑘 𝑦
𝑧1
𝑗⃗
𝑂 𝒮
ℛ 𝑃
𝑖⃗
⃗⃗1
𝑘 𝑥
𝑦1
𝑖⃗1 𝑂1 𝑗⃗
1
𝑥1
Sendo 𝑃 um ponto fixo de 𝒮, em um dado instante t sua posição pode ser descrita tanto no referencial
fixo quanto no móvel. Tomando-se por base as coordenadas medidas nesses dois referenciais, pode-se
estabelecer a seguinte relação:
(𝑃 − 𝑂1′ ) = (𝑂 − 𝑂1 ′ ) + (𝑃 − 𝑂) (2-1)
que, decomposta em suas projeções segundo os eixos 𝑂1 𝑥1 𝑦1 𝑧1 e 𝑂𝑥𝑦𝑧 se escreve na forma:
⃗⃗1 = 𝑥𝑂 𝑖⃗1 + 𝑦𝑂 𝑗⃗1 + 𝑧𝑂 𝑘
𝑥𝑝1 𝑖⃗1 + 𝑦𝑃1 𝑗⃗1 + 𝑧𝑃1 𝑘 ⃗⃗1 + 𝑥𝑝 𝑖⃗ + 𝑦𝑝 𝑗⃗ + 𝑧𝑝 𝑘
⃗⃗ (2-2)
Na expressão acima, (𝑥𝑃1 , 𝑦𝑃1 , 𝑧𝑃1 ) e (𝑥𝑂 , 𝑦𝑂 , 𝑧𝑂 ) são, respectivamente, as coordenadas de 𝑃 e de
𝑂 medidas no referencial ℛ, ao passo que (𝑥𝑃 , 𝑦𝑃 , 𝑧𝑃 ) são as coordenadas de 𝑃 medidas no referencial 𝒮.
Por se tratar de uma representação vetorial na qual comparecem duas bases - 𝑖⃗1 𝑗⃗1 𝑘 ⃗⃗1 e 𝑖⃗𝑗⃗𝑘
⃗⃗ , em geral é
necessário aplicar transformações de mudança de base, de modo a que a posição de 𝑃 seja descrita ou na
⃗⃗1 ou na base 𝑖⃗𝑗⃗𝑘
base 𝑖⃗1 𝑗⃗1 𝑘 ⃗⃗. Tais transformações relacionam os 9 cossenos diretores dos ângulos formados
⃗⃗1 e 𝑖⃗, 𝑗⃗, 𝑘
entre os vetores 𝑖⃗1 , 𝑗⃗1 , 𝑘 ⃗⃗ . Na Fig. 2 mostram-se os ângulos formados entre o versor 𝑖⃗1da base 𝑖⃗1 𝑗⃗1 𝑘
⃗⃗1
e cada um dos versores 𝑖⃗, 𝑗⃗, 𝑘 ⃗⃗ da base 𝑖⃗𝑗⃗𝑘 ⃗⃗ .
⃗⃗
𝑘 ⃗⃗1
𝑘
𝑗⃗
⃗⃗ ۄ
⃗𝑖ۃ1 , 𝑘
𝑖⃗1 𝑗⃗1
⃗𝑖ۃ1 , 𝑖⃗ۄ ⃗𝑖ۃ1 , 𝑗⃗ۄ
𝑖⃗
⃗⃗.
Figura 2. Ângulos formados entre o versor 𝑖⃗1 e cada um dos versores 𝑖⃗, 𝑗⃗, 𝑘
3. Exemplo de aplicação: posição de um ponto P de um corpo rígido que realiza movimento plano
Para exemplificar a formulação apresentada no item anterior, descreveremos a posição de um ponto 𝑃
de um corpo rígido plano que se move no seu plano 𝑂1 𝑥1 𝑦1 (Fig.3), utilizando as bases 𝑖⃗1 𝑗⃗1 𝑘 ⃗⃗1 , associada
⃗⃗ , associada ao corpo móvel.
ao referencial fixo e 𝑖⃗𝑗⃗𝑘
⃗⃗1 em 𝑖⃗𝑗⃗𝑘
No caso em consideração, as equações de transformação das bases 𝑖⃗1 𝑗⃗1 𝑘 ⃗⃗ e vice-versa, são dadas,
respectivamente, por:
𝑦1 𝑃 𝑥
𝑥
𝑦
𝑦 𝑗⃗ 𝑖⃗
𝑦𝑂
𝑗⃗1 𝑂
𝑂1
𝑖⃗1 𝑥𝑂 𝑥1
Figura 3. Descrição do vetor posição 𝑃 − 𝑂1 referente a um ponto 𝑃 de um corpo rígido plano realizando movimento plano.
𝑖⃗ cos 𝜃 − sin 𝜃 𝑖⃗
[ 1] = [ ]⋅[ ] (3-3)
𝑗⃗1 sin 𝜃 cos 𝜃 𝑗⃗
e
𝑖⃗ cos 𝜃 sin 𝜃 𝑖⃗
[ ]=[ ] ⋅ [ 1] (3-4)
𝑗⃗ − sin 𝜃 cos 𝜃 𝑗⃗1
⃗⃗1 e 𝑖⃗𝑗⃗𝑘
Utilizando as equações acima, as descrições do vetor posição 𝑃 − 𝑂1, nas bases 𝑖⃗1 𝑗⃗1 𝑘 ⃗⃗ são
expressas, respectivamente, por:
𝑥𝑃1 𝑥𝑂 cos 𝜃 sin 𝜃 𝑥 𝑥 + 𝑥 cos 𝜃 + 𝑦 sin 𝜃
[ 1 ] = [𝑦𝑂 ] + [− sin 𝜃 ] ⋅ [𝑦 ] = [ 𝑂 ] (3-5)
𝑦𝑃 cos 𝜃 𝑦𝑂 − 𝑥 sin 𝜃 + 𝑦 cos 𝜃
e
𝑥𝑃1 cos 𝜃 − sin 𝜃 𝑥𝑂 𝑥 𝑥 + 𝑥𝑂 cos 𝜃 − 𝑦𝑂 sin 𝜃
[ 1] = [ ] ⋅ [𝑦 ] + [𝑦 ] = [ ] (3-6)
𝑦𝑃 sin 𝜃 cos 𝜃 𝑂 𝑦 + 𝑥𝑂 sin 𝜃 + 𝑦𝑂 cos 𝜃
Admitiremos, inicialmente, que o sistema 𝑂𝑥𝑦𝑧 realiza movimento de translação em relação ao sistema
de referência fixo 𝑂1 𝑥1 𝑦1 𝑧1, ou seja, que a orientação dos eixos 𝑂𝑥𝑦𝑧 não se altera ao longo do tempo
⃗⃗ segundo os
relativamente ao sistema de referência fixo. Isso posto, avaliaremos a variação temporal de 𝐵
pontos de vista de dois observadores – um solidário ao referencial fixo, outro ao móvel.
⃗⃗ (𝑡)
𝐵
𝑧
𝑧1
⃗⃗
𝑘
𝑂 𝑦
𝑖⃗ 𝑗⃗
⃗⃗1
𝑘
𝑂1 𝑗⃗1
𝑥
𝑥1 𝑖⃗1
𝑦1
Portanto, quando o sistema de referência móvel 𝑂𝑥𝑦𝑧 realiza um movimento de translação em relação
⃗⃗ (𝑡) descrita na base do
a um referencial fixo 𝑂1 𝑥1 𝑦1 𝑧1 , as variações temporais de uma função vetorial 𝐵
sistema móvel (ou seja, relativa ao referencial móvel), observadas por observadores em 𝑂1 𝑥1 𝑦1 𝑧1 e em
𝑂𝑥𝑦𝑧 são iguais, isto é:
⃗⃗
𝑑𝐵 ⃗⃗
𝑑𝐵
| = | (4-4)
𝑑𝑡 𝑂1 𝑥1 𝑦1 𝑧1 𝑑𝑡 𝑂𝑥𝑦𝑧
Admitamos, agora, que o movimento de 𝑂𝑥𝑦𝑧, seja tal que sua orientação varie ao longo do tempo,
relativamente ao sistema de referência fixo 𝑂1 𝑥1 𝑦1 𝑧1 (ou seja, que 𝑂𝑥𝑦𝑧 realize movimento combinado de
translação e rotação) e avaliemos a variação temporal de 𝐵 ⃗⃗ segundo os pontos de vista dos dois
observadores supra citados – o solidário ao referencial fixo e o solidário ao referencial móvel (Fig.4).
⃗⃗ são invariantes. Logo, para esse observador, a
Para o observador solidário a 𝑂𝑥𝑦𝑧, os versores 𝑖⃗, 𝑗⃗, 𝑘
⃗⃗ é dada por:
variação de 𝐵
⃗⃗
𝑑𝐵
| ⃗⃗
= 𝐵̇𝑥 𝑖⃗ + 𝐵̇𝑦 𝑗⃗ + 𝐵̇𝑧 𝑘 (4-5)
𝑑𝑡 𝑂𝑥𝑦𝑧
⃗⃗
𝑑𝐵
| ⃗⃗̇ .
⃗⃗ + 𝐵𝑥 𝑖⃗̇ + 𝐵𝑦 𝑗⃗̇ + 𝐵𝑧 𝑘
= 𝐵̇𝑥 𝑖⃗ + 𝐵̇𝑦 𝑗⃗ + 𝐵̇𝑧 𝑘 (4-6)
𝑑𝑡 𝑂1 𝑥1 𝑦1 𝑧1
Conclui-se, portanto, que nos casos em que o referencial móvel realiza movimento distinto de
translação relativamente ao referencial fixo, as observações dos observadores ligados a esses referenciais
acerca da variação temporal de 𝐵⃗⃗ (𝑡) não coincidem, ou seja,
⃗⃗(𝑡)
𝑑𝐵 ⃗⃗(𝑡)
𝑑𝐵
| ≠ | (4-7)
𝑑𝑡 𝑂1 𝑥1 𝑦1 𝑧1 𝑑𝑡 𝑂𝑥𝑦𝑧
Essa é uma importante conclusão, que traz como conseqüência a necessidade de termos que indicar ao
operador de derivação de uma função vetorial descrita em um referencial móvel o referencial específico em
relação ao qual se pretende efetuar a derivação.
Para ilustrar esse conceito, consideremos o caso em que o ponto 𝑃 é solidário a um referencial 𝒮 que
realiza, em relação ao referencial fixo ℛ, movimento de rotação uniforme em torno do eixo 𝑂1 𝑧1 (Fig.5).
Admitiremos ainda que o vetor 𝐵 ⃗⃗ (𝑡) corresponda ao vetor-posição de 𝑃 e que este coincida com o versor
𝑖⃗(𝑡) associado ao eixo 𝑂𝑥 de 𝒮 (ou seja, que a distância de 𝑃 à origem do sistema de referência 𝑂𝑥𝑦 seja
igual a 1). Nessas condições, analisaremos a variação temporal do vetor 𝐵 ⃗⃗ (𝑡) ≡ 𝑖⃗(𝑡).
𝒮: 𝑟𝑒𝑓𝑒𝑟𝑒𝑛𝑐𝑖𝑎𝑙 𝑚ó𝑣𝑒𝑙
𝑦 𝑦1
𝑗⃗1 𝑥
𝑗⃗(𝑡) 𝑖⃗(𝑡)
𝑃 𝜃(𝑡)
𝑂1 ≡ 𝑂 𝑥1
𝑖⃗1
ℛ: 𝑟𝑒𝑓𝑒𝑟𝑒𝑛𝑐𝑖𝑎𝑙 𝑓𝑖𝑥𝑜
Figura 5. Movimento plano do corpo rígido 𝒮 solidário a (𝐵), que gira em torno do eixo fixo 𝑂1 𝑧1 .
𝑧
𝑢
⃗⃗ 𝑃2
⃗⃗ 𝑃1 𝒮
𝑘
ℛ
𝑂 𝑗⃗
𝑦
𝑖⃗
Como, por hipótese, ℓ é diferente de zero, a igualdade acima só é possível se os vetores 𝑢 ⃗⃗ ⁄𝑑𝑡
⃗⃗ e 𝑑𝑢
forem ortogonais. Em outras palavras, ‘a variação de um vetor 𝑢
⃗⃗(𝑡) de módulo constante ligado a um corpo
rígido em movimento é normal a 𝑢 ⃗⃗(𝑡)’ (Fig.7).
𝑑𝑢
⃗⃗
ቆ ቇ ⋅ 𝑑𝑡
𝑑𝑡
𝑢
⃗⃗(𝑡)
𝑢
⃗⃗(𝑡 + 𝑑𝑡)
No caso de o vetor 𝑢
⃗⃗ corresponder à distância orientada entre dois pontos 𝑃1 e 𝑃2 de 𝒮, tem-se:
⃗⃗
𝑑𝑢 𝑑 𝑑𝑃2 𝑑𝑃1
⃗⃗ 𝑑𝑡 = 0 ⇒ (𝑃2 − 𝑃1 ) ⋅ 𝑑𝑡 (𝑃2 − 𝑃1 ) = 0 ⇒ (𝑃2 − 𝑃1 ) ⋅
𝑢 − (𝑃2 − 𝑃1 ) ⋅ =0
𝑑𝑡 𝑑𝑡
ao longo de um eixo𝑂𝑒⃗ arbitrário de um corpo rígido (sendo 𝑒⃗ um versor), a projeção das velocidades dos
pontos localizados nesse eixo segundo a sua direção é invariante (Fig.8).
𝑣⃗𝑃𝑖
𝑣⃗𝑃𝑗
𝑧 𝒮
𝑒⃗
𝑃𝑗
𝑃𝑖 𝑣⃗𝑃𝑗 ⋅ 𝑒⃗
𝑂
𝑥
𝑣⃗𝑃𝑖 ⋅ 𝑒⃗
𝑦
𝑧1
𝜔
⃗⃗
r
𝑃 𝑣⃗𝑃
𝑧
𝒮
⃗⃗
𝑘 𝑦
𝑗⃗
𝑂 𝑦1
𝑖⃗
𝑥
𝐴 𝑥1
Tomando-se um ponto 𝑃 qualquer de (𝑆), mas que não pertença ao eixo 𝐴𝐵, observamos que o vetor
posição (𝑃 − 𝑂), ligado a (𝑆), tem módulo constante. Logo, podemos escrever:
𝑑
(𝑃 − 𝑂) ⋅ (𝑃 − 𝑂) = 0 ⇒ (𝑃 − 𝑂) ⋅ (𝑣⃗𝑃 − 𝑣⃗𝑂 ) = 0 ⇒ (𝑃 − 𝑂) ⋅ 𝑣⃗𝑃 = 0 (6-1)
𝑑𝑡
O vetor 𝜔
⃗⃗, indicado acima, é chamado de vetor rotação do corpo rígido 𝒮.
Da equação (6-2), deduzimos que o módulo da velocidade do ponto 𝑃 é dado por:
|𝑣⃗𝑃 | = |𝜔| ⋅ |𝑃 − 𝑂| ⋅ 𝑠𝑖𝑛 𝜃 = |𝜔| ⋅ 𝑟 (6-3)
pondo em evidência o fato de que os pontos 𝑃 de 𝒮 não situados sobre o eixo de rotação descrevem
trajetórias circulares.
Analisando-se a equação (6-2), nota-se que ela é matematicamente análoga à expressão do momento
causado por uma força {𝐹⃗ , 𝑂} no pólo 𝑃, ou seja,
⃗⃗⃗𝑃 = (𝑂 − 𝑃) ∧ 𝐹⃗ = 𝐹⃗ ∧ (𝑃 − 𝑂),
𝑀 (6-4)
em que:
• 𝜔⃗⃗ desempenha o papel de 𝐹⃗ ,
• 𝑣⃗𝑃 desempenha o papel de 𝑀⃗⃗⃗𝑃 .
⃗⃗ ↔ 𝐹⃗ e 𝑣⃗𝑃 ↔ 𝑀
Utilizando-se as analogias 𝜔 ⃗⃗⃗𝑃 , verificamos que o campo de velocidades de um corpo
rígido que realiza movimento de rotação em torno de um eixo fixo é análogo ao campo de momentos de
uma força, ou seja: nulo ao longo do eixo de rotação, linearmente variável a partir desse eixo e apresentando
uma distribuição uniformemente cilíndrica. Naturalmente, se 𝜔̄ for uma função vetorial do tempo, ou seja,
𝜔
⃗⃗ = 𝜔⃗⃗(𝑡), o campo de velocidades sofrerá variações temporais. Contudo, o aspecto geral desse campo,
ilustrado na Fig.10, permanecerá invariante.
eixo de
rotação
𝜔
⃗⃗
Figura 10. Campo instantâneo de velocidades de um corpo rígido em movimento de rotação em torno de um eixo fixo.
7. Movimento de translação
Um corpo rígido realiza movimento de translação quando, a cada instante, seu campo de velocidades
pode ser representado por um vetor livre 𝑣⃗. Em tais circunstâncias, as retas que passam por quaisquer pares
de pontos do corpo preservam sua orientação durante todo o movimento.
Quando as trajetórias dos pontos do corpo rígido são retas, diz-se que o movimento é uma translação
retílínea (Fig.11-a); se são curvas, diz-se que o movimento é uma translação curvilínea (Fig.11-b).
(a) 𝑃1 (𝑡 + 𝛥𝑡)
𝑣⃗ 𝑃2 (𝑡 + 𝛥𝑡)
𝑃1 (𝑡)
𝑃2 (𝑡) 𝑣⃗
(b)
𝑃1 𝑃2
𝑣⃗(𝑡) 𝑣⃗(𝑡)
Portanto, um corpo rígido 𝒮 realiza movimento de translação se, tomando-se dois pontos arbitrários 𝑃1
e 𝑃2 de 𝒮, a direção de 𝑃1 𝑃2 é invariante a qualquer instante t, de modo que, tanto as velocidades, quanto
as acelerações desses pontos, são instantaneamente iguais, o seja:
𝑑
(𝑃1 − 𝑃2 ) = ⃗0⃗ ⇒ 𝑣⃗1 (𝑡) = 𝑣⃗2 (𝑡) = 𝑣⃗(𝑡) (7-1)
𝑑𝑡
⃗⃗1
𝑑𝑣 ⃗⃗2
𝑑𝑣
= ⇒ 𝑎⃗1 (𝑡) = 𝑎⃗2 (𝑡) = 𝑎⃗(𝑡) (7-2)
𝑑𝑡 𝑑𝑡
𝜃 𝑣⃗ 𝑗⃗
𝐵
𝑖⃗
𝜔(𝑡) = 𝜔 = 𝑐𝑡𝑒.
𝐴 𝑂
𝜃
𝑣⃗𝐴
Figura 12. Ato instantâneo de translação de um mecanismo biela-manivela.
10. Casos em que o movimento do sólido é redutível a uma sucessão de atos instantâneos de rotação
O movimento de um corpo rígido 𝒮 é assimilável a uma sucessão de atos instantâneos de rotação
quando, ao longo do tempo, a seguinte condição é satisfeita:
⃗⃗(𝑡) ⋅ 𝑣⃗𝑂 (𝑡) = 0
𝑊(𝑡) = 𝜔 (10-1)
ou seja, quando o vetor rotação instantânea de 𝒮 se mantém permanentemente ortogonal à velocidade de
um ponto 𝑂 arbitrário de 𝒮. 𝑊(𝑡) é o assim chamado invariante escalar da cinemática .
Nos próximos três tópicos examinaremos alguns casos simples em que a condição acima se verifica.
Estes são os seguintes: 1) 𝒮 está ligado a uma cadeia cinemática constituída por vetores rotação
concorrentes em um ponto fixo; 2) 𝒮 está ligado a uma cadeia cinemática constituída por vetores rotação
paralelos; 3) 𝒮 está sujeito a vínculos que o obrigam a realizar movimento plano.
eixo
instantâneo
de rotação
𝑀𝐴𝑅
𝑂1
𝑀𝐵𝐴
𝑂2 𝜔
⃗⃗
ℬ
𝒜
𝜔
⃗⃗𝑟 𝜔
⃗⃗𝑎
𝑀𝐵𝐴
𝑂
𝑀𝐴𝑅
ℛ
Notando, na expressão acima, que o ponto 𝑂 possui velocidade nula, a equação do eixo instantâneo de
rotação assume a forma:
⃗⃗⃗⃗
𝜔
𝐸 = 𝑂 + 𝜆 |𝜔
⃗⃗⃗⃗|
(10.1-3)
Do exposto acima, pode-se concluir que um corpo ℬ sujeito a um movimento composto por dois
⃗⃗𝑟 (𝑡) e 𝜔
vetores rotação, 𝜔 ⃗⃗𝑎 (𝑡), concorrentes em um ponto fixo 𝑂, realiza uma sucessão de atos
instantâneos de rotação em torno de um eixo instantâneo de rotação passante por 𝑂 e orientado segundo
a direção 𝑢 ⃗⃗(𝑡)⁄|𝜔
⃗⃗(𝑡) = 𝜔 ⃗⃗(𝑡)|, que varia continuamente durante todo o movimento.
Conforme ilustrado na Fig.14, observadores ligados aos eixos 𝑂𝑂1 e 𝑂𝑂2 vêm o eixo instantâneo de
rotação deslocar-se sobre duas superfícies abstratas distintas denominadas, respectivamente, axóide fixo e
axóide móvel. Quando as magnitudes de 𝜔 ⃗⃗𝑟 (𝑡) e de 𝜔
⃗⃗𝑎 (𝑡) são mantidas constantes durante todo o
movimento (ou seja, |𝜔⃗⃗𝑟 (𝑡)| = 𝜔𝑟 e 𝜔
⃗⃗𝑎 (𝑡) = 𝜔𝑎 ) esses axóides se assimilam a duas superfícies cônicas
regulares. O movimento composto realizado pelo sólido ℬ pode ser visualizado imaginando-se um
experimento virtual de rolamento sem escorregamento do axóide móvel sobre o axóide fixo.
eixo
instantâneo
de rotação
𝑟𝑎
𝜔
⃗⃗
𝜔
⃗⃗𝑟 𝜔
⃗⃗𝑎
axóide fixo
axóide móvel 𝑂
Quando um corpo rígido realiza movimento de rotação em torno de um ponto fixo, a orientação do seu
vetor rotação instantânea 𝜔
⃗⃗ é variável ao longo do tempo. Portanto, mesmo que as magnitudes dos vetores
⃗⃗𝑟 (𝑡) e 𝜔
𝜔 ⃗⃗𝑎 (𝑡) sejam constantes durante o movimento, existe um vetor aceleração angular 𝜔 ⃗⃗̇(𝑡) =
𝑑𝜔⃗⃗(𝑡)⁄𝑑𝑡 que provoca a variação da orientação de 𝜔 ⃗⃗(𝑡). Conforme será detalhado em sessões posteriores,
o vetor aceleração rotacional, neste caso, é dado por:
⃗⃗⃗⃗(𝑡)
𝑑𝜔
⃗⃗̇(𝑡) = 𝑑𝑡 = 𝜔
𝜔 ⃗⃗𝑎 (𝑡) ∧ 𝜔
⃗⃗𝑟 (𝑡) (10.1-4)
É importante realçar que os pontos do eixo instantâneo de rotação não são pontos materiais do corpo
rígido alvo da composição de movimentos (no caso, ℬ). Conforme ilustrado na Fig.15, todos os pontos do
eixo instantâneo de rotação estão animados de velocidades próprias, pois sua orientação varia com o tempo
(Fig.15-b); por outro lado, todos os pontos do corpo rígido ℬ que, em um dado instante, coincidem com o
eixo instantâneo de rotação, têm velocidade nula (ponto 𝑃2 da Fig.15-c).
𝐸
𝐸 eixo 𝜔𝑎 ⋅ 𝑟𝑎
instantâneo 𝜔
⃗⃗(𝑡)
de rotação
𝜔
⃗⃗(𝑡)
ℬ
𝑆
𝑃3
𝑃2 (b) 𝑂
(a)
𝑆 𝑃1 𝐸
𝐸
𝑃1 𝑃2 𝑣⃗𝑃3
(c) 𝑆 𝑆
𝑃3
𝑣⃗𝑃1
Figura 15. (a) posição do eixo instantâneo de rotação em relação ao corpo rígido ℬ, em um dado instante; (b) perfil de
velocidades do eixo instantâneo de rotação, rebatido (de −90° ) no plano da figura (𝑟𝑎 é o raio do axóide fixo associado à
⃗⃗); (c) perfil de velocidades do corpo rígido (𝐵) ao longo da secção 𝑆 − 𝑆.
extremidade do vetor rotação instantânea 𝜔
Embora até o momento tenhamos destacado as semelhanças que existem entre os sistemas de forças
concorrentes e os sistemas de vetores rotação concorrentes, é fundamental que mencionemos também uma
importante diferença exibida por essas duas classes de vetores: os vetores-força se aplicam diretamente aos
pontos de um corpo rígido (Fig.16-a); no caso dos vetores rotação, cada qual está associado ao movimento
de um componente de uma cadeia cinemática de corpos rígidos interligados ao corpo rígido alvo da
composição de movimentos.
Tome-se, como exemplo, a cadeia cinemática explorada no exemplo em foco (Fig. 16-b), constituída
por dois corpos rígidos ℬ e 𝒜 interligados entre si por meios dos mancais 𝑀𝐵𝐴 , estando o corpo 𝒜
ligado ao referencial fixo ℛ por meio dos mancais 𝑀𝐴𝑅 . Neste caso, o sistema de vetores rotação apresenta
dois componentes – o vetor rotação relativa 𝜔
⃗⃗𝑟 , aplicado ao corpo ℬ, e o vetor rotação de arrastamento 𝜔⃗⃗𝑎 ,
aplicado ao corpo 𝒜. Naturalmente, a cadeia cinemática poderia ser arbitrariamente estendida de modo a
incluir m novos componentes organizados de forma tal a que o corpo alvo ℬ continuasse a movimentar-se
em torno do ponto fixo 𝑂. Em tais circunstâncias, sendo 𝜔 ⃗⃗𝑎1 , ⋯ 𝜔
⃗⃗𝑎𝑚 vetores concorrentes em 𝑂, o vetor
rotação resultante do corpo ℬ seria dado por
𝜔
⃗⃗ = 𝜔
⃗⃗𝑟 + 𝜔
⃗⃗𝑎 + 𝜔
⃗⃗𝑎1 + ⋯ + 𝜔
⃗⃗𝑎𝑚 (10.1-5)
mas o aspecto geral do campo de velocidades se manteria inalterado, ou seja, axissimétrico, nulo ao longo
do eixo instantâneo de rotação e linearmente crescente à medida que se tomam pontos cada vez mais
distantes desse eixo.
𝑀𝐴𝑅
𝑂1
𝑀𝐵𝐴
𝐹⃗1
𝑂2
𝑃1 ℬ 𝐹⃗2 𝒜
ℬ
𝑂 𝑃2
𝑃𝑛
𝐹⃗𝑛 𝜔
⃗⃗𝑟 𝜔
⃗⃗𝑎
(a) (b)
𝑀𝐵𝐴
𝑂
𝑀𝐴𝑅
ℛ
Figura 16. (a) sistema de forças concorrentes; (b) sistema de vetores-rotação concorrentes.
eixo eixo
instantâneo instantâneo Axóide
de rotação de rotação fixo
𝑂2 Axóide
𝑀𝐴𝑅
móvel 𝑂2 𝑂1
𝑂1
𝑀𝐵𝐴
ℬ 𝒜
𝑆 ′
𝑆
𝜔
⃗⃗ 𝜔
⃗⃗
𝜔
⃗⃗𝑎
𝜔
⃗⃗𝑎
𝜔
⃗⃗𝑟 𝜔
⃗⃗𝑟
𝑀𝐵𝐴
(a) 𝑂 (b)
𝑀𝐴𝑅 𝑂2′ 𝑂
𝑒
𝑂2′
ℛ 𝑟
Figura 17. (a) corpo sujeito à ação de dois vetores rotação paralelos; (b) axóides fixo e móvel característicos do movimento.
trajetória
do ponto
material P
𝑃(𝑡1 )
Trajetória do traço do Eixo EIR(t 2 ) ≡ P(t 2 )
Instantâneo de Rotação (EIR) na
secção SS’: observe que ele se EIR(t1 )
mantém sobre o axóide fixo P(t 3 )
EIR(t 3 )
Figura 18. Distinção entre a trajetória de um ponto material 𝑃 e a do traço do eixo instantâneo de rotação na secção considerada
(SS’ da Fig.17).
contacto com um pavimento que o obrigue a locomover-se no plano da figura e de modo tal que, no ponto
de contacto 𝐶 entre o disco e o pavimento não exista deslizamento (𝑣⃗𝐶 = ⃗0⃗) (para o quê se faz necessário
que exista atrito entre as superfícies de contacto).
Tal imposição corresponde à realização de uma composição de movimentos baseada na superposição
do campo de velocidades gerado pela rotação do disco em torno do eixo fixo passante por 𝑂 (Fig.19-b)
com o campo uniforme de velocidades da Fig.19-c, que se opõe à velocidade que o ponto 𝐶 do disco teria
na ausência de contacto com o pavimento. Fazendo-se, portanto, essa superposição, obtém-se o campo de
velocidades desejado, ou seja, o de um disco que rola sem deslizar sobre uma curva de seu plano (Fig.19-
d).
Observe-se que o campo de velocidades resultante corresponde ao de um corpo rígido que realiza um
ato instantâneo de rotação em torno do eixo instantâneo de rotação que, no caso, é permanentemente
normal ao plano do movimento e passa pelo ponto 𝐶 de contacto entre o disco e a curva. Na Fig.20,
apresenta-se um desenho em perspectiva do disco, de modo a destacar o eixo instantâneo de rotação,
enquanto que na Fig.19-d dá-se destaque ao traço desse eixo com o plano da figura, o qual é designado
como centro instantâneo de rotação (CIR).
O movimento plano de rolamento sem deslizamento de um disco sobre uma curva de seu plano pode
ser considerado, portanto, como uma sucessão de atos instantâneos de rotação em torno do eixo
instantâneo de rotação, o qual, necessariamente, muda de posição ao longo do tempo, mantendo-se, porém,
sempre ortogonal ao plano do movimento.
𝜔
⃗⃗
(a)
𝜔⋅𝑅 𝜔⋅𝑅 𝜔 ⋅ 2𝑅
𝜔
⃗⃗
𝜔
⃗⃗
𝑂
+ =
Figura 19. (a) rolamento sem deslizamento de um disco sobre uma superfície; (b) campo de velocidades de um disco girando
em torno de um eixo fixo passante por 𝑂; (c) campo uniforme de velocidades que se opõe à velocidade 𝑣⃗𝐶 do ponto 𝐶 do disco
da Fig.19-b; (d) campo de velocidades de um disco que rola sem deslizar sobre uma superfície, com destaque para o centro
instantâneo de rotação.
pavimento
Eixo
𝜔
⃗⃗ Instantâneo
de Rotação
Figura 20. Desenho em perspectiva do disco rolando sem deslizar, com destaque para o eixo instantâneo de rotação.
𝜔
⃗⃗
𝑃(𝑡3 )
𝑃(𝑡1 )
trajetória do ponto
(a) 𝑂 𝑂 material P
𝛼 trajetória do C.I.R.
𝐶𝐼𝑅(𝑡1 ) 𝑃(𝑡2 ) ≡ 𝐶𝐼𝑅(𝑡2 )
𝛼𝑅
𝜔
⃗⃗
𝑥
Axóide Fixo: Base
𝐶𝐼𝑅(𝑡 − 2𝛥𝑡) 𝑦1
A determinação do centro instantâneo de rotação de um corpo rígido que realiza movimento plano pode
ser feita pelas vias analítica ou gráfica.
Tomando-se por referência a Fig.22, aplicamos a equação do eixo instantâneo de rotação para
determinar, no instante t considerado, a posição de seu traço (ou seja, o centro instantâneo de rotação) no
plano do movimento realizado pelo corpo rígido ℬ:
𝜔𝑘⃗⃗ ∧𝑣 ⃗⃗𝑂 (𝑡) ⃗⃗⃗⃗
𝜔
𝐶𝐼𝑅(𝑡) = 𝑂(𝑡) + |𝜔⃗⃗⃗⃗(𝑡)|2
+ 𝜆 |𝜔
⃗⃗⃗⃗|
(10.3-1)
𝜔
⃗⃗(𝑡)
𝑦
𝑥
𝑂 𝐶𝐼𝑅(𝑡)
𝑦1
𝑣⃗𝑂 (𝑡)
𝑥1
𝑂1
Figura 22. Determinação do centro instantâneo de rotação de um corpo rígido.
Admitindo-se que sejam conhecidas, em um dado instante, as direções das velocidades 𝑣⃗1 e 𝑣⃗2 de dois
pontos 𝑃1 e 𝑃2 do corpo rígido, respectivamente (Fig.23a-b), a posição de seu centro instantâneo pode ser
determinada graficamente. Caso 𝑣⃗1 e 𝑣⃗2 não sejam paralelas, o 𝐶𝐼𝑅 se localiza na intersecção de duas retas
perpendiculares a 𝑣⃗1 e 𝑣⃗2 , passantes por 𝑃1 e 𝑃2 , respectivamente (Fig.23-a). Caso 𝑣⃗1 e 𝑣⃗2 sejam paralelas,
o 𝐶𝐼𝑅 se localiza na intersecção da reta que une 𝑃1 e 𝑃2 com a que une as extremidades dos vetores 𝑣⃗1 e 𝑣⃗2
(Fig.23-b).
𝑣⃗2 (𝑡)
𝑣⃗1 (𝑡)
𝑃2
𝑃1 ℬ
𝑃1
𝑣⃗2 (𝑡)
𝐶𝐼𝑅(𝑡) 𝑃2
𝑣⃗1 (𝑡) ℬ
(a) (b)
𝐶𝐼𝑅(𝑡)
Figura 23. Determinação gráfica da posição do centro instantâneo de rotação; (a) as velocidades de 𝑃1 e 𝑃2 não são paralelas;
(b) as velocidade de 𝑃1 e 𝑃2 são paralelas.
ℓ
𝑂2
𝑃2 𝑀𝐴𝑅
𝑀𝐵𝐴 𝑂1
𝒜
ℬ
𝜔
⃗⃗𝑎
𝜔
⃗⃗𝑟 = −𝜔
⃗⃗𝑎
𝑀𝐵𝐴
𝑂
𝑀𝐴𝑅
𝑂2′
ℛ
Figura 24. Translação curvilínea: gerada a partir de um par de vetores rotação paralelos, de igual intensidade e sentidos opostos.
Conforme ilustrado na Fig.25, admitindo-se que o corpo ℬ tivesse a forma de um paralelepípedo e que
duas de suas faces opostas fossem pintadas com cores distintas (por exemplo, vermelho e rosa), se um
observador fosse postado diante da face vermelha, ele seria incapaz capaz de observar a face rosa durante
todo o movimento do sistema material.
𝑡2
ℬ
(𝐴) 𝑂2 𝑂1 ℬ
𝑡1 𝑡3
ℬ
𝑡4
Figura 25. Durante o movimento de translação curvilínea de ℬ, o observador sempre enxerga a mesma face.
O exemplo anterior põe em evidência a analogia que existe entre o campo de velocidades de um corpo
rígido que realiza movimento de translação curvilínea e o campo de momentos de um binário de forças.
Naturalmente, podemos estender essa analogia para o caso de um corpo rígido que realiza movimento de
translação retilínea: basta imaginarmos que, sobre o corpo rígido atue um par de vetores rotação relativa
𝜔
⃗⃗𝑟 = −𝜔⃗⃗𝑎 e rotação de arrastamento 𝜔
⃗⃗𝑎 , tais que:
ℓ→∞
|𝜔
⃗⃗𝑎 | → 0 (11-3)
0 ≠ ℓ|𝜔⃗⃗𝑎 | < ∞
𝜔
⃗⃗
𝑣⃗
A equação anterior, deduzida para o exemplo da Fig.27, é aplicável ao movimento de um corpo rígido
que realiza o movimento mais geral possível (tangente a um movimento helicoidal). Essa equação é
chamada de equação do campo de velocidades de um corpo rígido.
𝑃
(a) 𝜔
⃗⃗𝑎 (b)
𝑣⃗𝑄 𝜔
⃗⃗𝑎
𝑸 𝜔
⃗⃗𝑟
⃗⃗
𝑘 𝓑
𝑗⃗ 𝑸 𝜔
⃗⃗𝑟
𝑃
𝑂
𝑖⃗ 𝑣⃗𝑄
𝜔
⃗⃗
(c) 𝜔
⃗⃗𝑎
𝓐 𝑸
𝜔
⃗⃗𝑟
Figura 27. Redução de um sistema de vetores rotação a um sistema constituído por um vetor rotação e uma velocidade.
𝑧1 𝑂 𝑣⃗𝑂 𝑧1
ℬ ℬ 𝑄 𝑣⃗𝑄
𝑂′ 𝜔
⃗⃗ 𝑣⃗𝑂𝑁 𝑂′
𝑦1 𝑦1
𝑣⃗𝑂 ⋅ 𝜔
⃗⃗
𝑥1 |𝜔
⃗⃗| 𝑣⃗𝑄 ⋅ 𝑣⃗𝑄𝑁
𝑥1 |𝜔
⃗⃗|
(a) 𝜔
⃗⃗ (b) 𝜔
⃗⃗
𝑧1
ℬ 𝐸 𝑣⃗𝑚𝑖𝑛
𝑂′ 𝑦1
𝑥1 𝜔
⃗⃗ eixo
helicoidal
instantâneo
(c)
Figura 28. Descrição do movimento geral de um corpo rígido ℬ. (a) redução do movimento ao pólo 𝑂; 𝑣⃗𝑂 (𝑡) e 𝜔
⃗⃗(𝑡); (b)
redução do movimento ao pólo 𝑄; (c) redução do movimento de ℬ à forma canônica.
As posições dos pontos pontos 𝐸 do eixo helicoidal instantâneo são obtidas a partir da equação
⃗⃗⃗⃗(𝑡)∧𝑣
𝜔 ⃗⃗𝑂 ⃗⃗⃗⃗
𝜔
𝐸(𝑡) = 𝑂(𝑡) + |𝜔⃗⃗⃗⃗(𝑡)|2
+ 𝜆 |𝜔
⃗⃗⃗⃗|
(12-7)
Descrevendo-se o campo de velocidades de um corpo rígido na forma canônica, ou seja, por um par de
vetores 𝜔⃗⃗(𝑡) e 𝑣⃗𝐸 (𝑡) paralelos e localizados sobre o eixo helicoidal instantâneo, pode-se construir de forma
natural sua representação gráfica, conforme mostrado na Fig.29.
Qualquer par {𝜔
⃗⃗(𝑡), 𝑣⃗𝑂 (𝑡)} tal que 𝑂 ∈ ℬ ou 𝑂 ∈ 𝑒𝑥𝑡𝑒𝑛𝑠ã𝑜 𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑙 𝑑𝑒 ℬ, descreve, a cada
instante, um campo equiprojetivo. Diz-se, então, que {𝜔
⃗⃗(𝑡), 𝑣⃗𝑂 (𝑡)} é o torçor cinemático de ℬ .
𝑣⃗𝑃 (𝑡)
Eixo
helicoidal
instantâneo
𝑃(𝑡) 𝜔
⃗⃗(𝑡)
𝑣⃗𝑚𝑖𝑛 (𝑡)
𝐸(𝑡)
E
Figura 29. Campo de velocidades de um corpo rígido que realiza movimento tangente a um movimento helicoidal.
É importante enfatizar que a posição e a orientação do eixo helicoidal instantâneo de um corpo rígido
variam ao longo do tempo, seja em relação a um referencial fixo seja em relação a um referencial ligado ao
corpo.
Na Fig.30 apresentam-se sucessivas observações do eixo helicoidal instantâneo de um corpo rígido ℬ,
segundo dois observadores – um ligado ao referencial fixo, outro ligado a ℬ. Note-se que, para esses
observadores, tudo se passa como se o eixo helicoidal instantâneo construísse, ao longo do tempo, duas
superfícies regradas – o axóide fixo e o axóide móvel, respectivamente. Dessa forma, o movimento mais
geral de um sólido, ou seja, tangente a um movimento helicoidal, pode ser concebido como o rolamento
com deslizamento do axóide móvel sobre o axóide fixo.
𝑂 𝑦
𝑥 𝑣⃗𝑚𝑖𝑛
𝑧1
𝜔
⃗⃗
ℬ
𝑦1
𝑂1
𝑥1 EHI(t+t) visto pelo
observador ligado ao Axóide fixo
referencial móvel EHI(t+t) visto pelo
observador ligado ao
referencial fixo
Figura 30. Axóides fixo e móvel para um corpo rígido que realiza movimento tangente a um movimento helicoidal.
𝑂
ato ato
instantâneo instantâneo
de repouso de repouso
𝑔⃗
𝜃(𝑡)
𝜔
⃗⃗(𝑡)
Figura 31. Exemplo de ato instantâneo de repouso.
𝑧 𝜔
⃗⃗
⃗⃗
𝑘 𝑦
𝑧1
𝑂 𝑗⃗
ℬ 𝑖⃗ 𝑣⃗𝑂
⃗⃗1
𝑘 𝑃
𝑂1 𝑥
𝑖⃗1
𝑗⃗1
𝑦1
𝑥1
Figura 32. Variação temporal da orientação de um vetor ligado a um corpo rígido realizando movimento geral.
Aplicando-se a equação acima aos versores 𝑂𝑖⃗, 𝑂𝑗⃗, 𝑂𝑘 ⃗⃗ associados ao referencial móvel ligado a ℬ,
obtêm-se as seguintes fórmulas de derivação de versores ligados ao corpo:
𝑑𝑖⃗
𝑖⃗̇ = 𝑑𝑡 = (𝜔𝑥 𝑖⃗ + 𝜔𝑦 𝑗⃗ + 𝜔𝑧 𝑘
⃗⃗ ) ∧ 𝑖⃗ = −𝜔𝑦 𝑘
⃗⃗ + 𝜔𝑧 𝑗⃗ (14-5)
𝑑𝑗⃗
𝑗⃗̇ = 𝑑𝑡 = (𝜔𝑥 𝑖⃗ + 𝜔𝑦 𝑗⃗ + 𝜔𝑧 𝑘
⃗⃗ ) ∧ 𝑗⃗ = 𝜔𝑥 𝑘
⃗⃗ − 𝜔𝑧 𝑖⃗ (14-6)
𝑧1 ⃗⃗̇
𝜔 𝑄
𝜔
⃗⃗
𝑃
𝑂
ℬ
⃗⃗1
𝑘 𝑣⃗𝑂
𝑖⃗1 𝑂1
𝑗⃗1 𝑦1
𝑥1
Figura 33. Corpo rígido realizando movimento geral.
Essa expressão, que representa o campo de acelerações de um corpo rígido realizando movimento geral,
é mais fácil de interpretar do que a equação (15-4). Ela pode ser decomposta da seguinte forma:
(𝐼) (𝐼𝐼)
𝑎⃗𝑃 = 𝑎⃗𝑃 + 𝑎⃗𝑃 , (15-12)
(𝐼) (𝐼𝐼)
em que 𝑎⃗𝑃 e 𝑎⃗𝑃 são dados, respectivamente, por:
(𝐼)
⃗⃗̇ ∧ (𝑃 − 𝑂)
𝑎⃗𝑃 = 𝑎⃗𝑂 + 𝜔 (15-13)
(𝐼𝐼)
𝑎⃗𝑃 = −𝜔2 (𝑃 − 𝑄) (15-14)
(𝐼)
Notemos que a forma de 𝑎⃗𝑃 é a mesma da equação do campo de velocidades (15-1), que caracteriza o
campo de velocidades de um corpo rígido realizando movimento geral. Na equação (15-3), 𝑎⃗𝑂 e 𝜔 ⃗⃗̇ assumem
(𝐼)
os papéis desempenhados, respectivamente, por 𝑣⃗𝑂 e 𝜔
⃗⃗ em (15-1). Depreende-se, assim, que 𝑎⃗𝑃 representa
um campo de acelerações cuja forma é análoga à do campo de velocidades da Fig.29.
(𝐼𝐼)
Para que o significado geométrico de 𝑎⃗𝑃 aflore, determinaremos as acelerações de dois outros pontos
𝑃1 e 𝑃2 , situados à mesma distância |𝑃 − 𝑄| do eixo 𝑂𝜔
⃗⃗, conforme indicado na Fig.34.
𝑃2
𝑧1 𝑄
𝑄1 𝜔
⃗⃗
𝑂 𝑃
⃗⃗1
𝑘
ℬ 𝑃1
𝑣⃗𝑂
𝑖⃗1 𝑂1
𝑗⃗1 𝑦1
𝑥1
(𝐼𝐼)
Figura 34. Seleção de alguns pontos do corpo rígido que possuem componentes 𝑎⃗𝑃 da aceleração com a mesma magnitude.
(𝐼𝐼) (𝐼𝐼)
Como as magnitudes de 𝑎⃗𝑃1 e 𝑎⃗𝑃2 dependem apenas das distâncias |𝑃1 − 𝑄1 | e |𝑃2 − 𝑄|, e como essas
duas distâncias são iguais a |𝑃 − 𝑄|, concluímos que:
(𝐼𝐼) (𝐼𝐼) (𝐼𝐼)
𝑎⃗𝑃1 = 𝑎⃗𝑃2 = 𝑎⃗𝑃 (15-15)
Logo, podemos concluir que qualquer ponto 𝑆, situado sobre a superfície cilíndrica de eixo 𝑂𝜔
⃗⃗ e raio
(𝐼𝐼)
|𝑃 − 𝑄| possui componente 𝑎⃗𝑆 com magnitude
(𝐼𝐼)
|𝑎⃗𝑆 | = 𝜔2 |𝑃 − 𝑄| (15-16)
(𝐼𝐼)
A partir da constatação acima, a representação gráfica da parcela 𝑎⃗𝑃 do campo de acelerações de um
corpo rígido se torna evidente: tem simetria cilíndrica e distribuição centrípeta em relação ao eixo 𝑂𝜔
⃗⃗,
conforme esboçado na Fig.35.
𝑧1
𝑂 𝜔
⃗⃗
⃗⃗1
𝑘
𝑖⃗1
𝑂1 (a) (b)
𝑗⃗1
𝑦1
𝑥1
(𝐼𝐼)
Figura 35. (a) componentes 𝑎⃗𝑃 do campo de acelerações de um corpo rígido; (b) vista desse campo em corte segundo um plano
normal a 𝑂𝜔⃗⃗.
𝜔
⃗⃗(𝑡) = 𝜔
⃗⃗, 𝜔 𝑐𝑡𝑒
𝑎⃗𝑃 (𝑡)
Eixo de
aceleração
𝑃(𝑡) 𝜔̇ mínima
𝑎⃗(𝑡)𝑚𝑖𝑛
𝐸(𝑡)
Figura 37. Campo de acelerações de um corpo rígido realizando ato instantâneo de translação.
que é a posição do centro instantâneo de aceleração, ou seja, do ponto de aceleração nula de um corpo
rígido que realiza movimento plano.
Utilizando-se, na equação (40), o ponto 𝐾 como pólo, obtém-se
⃗⃗̇ ∧ (𝑃 − 𝐾) − 𝜔2 (𝑃 − 𝐾),
𝑎⃗𝑃 = 𝑎⃗𝐾 + 𝜔 (16.4-10)
ou seja:
⃗⃗̇ ∧ (𝑃 − 𝐾) − 𝜔2 (𝑃 − 𝐾)
𝑎⃗𝑃 = 𝜔 (16.4-11)
Notando-se que os dois vetores componentes de 𝑎⃗𝑃 , quais sejam, 𝜔 ⃗⃗̇ ∧ (𝑃 − 𝐾) e −𝜔2 (𝑃 − 𝐾), são
perpendiculares entre si e que seus módulos valem, respectivamente, 𝜔 ⃗⃗̇|𝑃 − 𝐾| e 𝜔2 |𝑃 − 𝐾|, conclui-se
que o ângulo formado entre a aceleração de um ponto 𝑃 arbitrário do corpo rígido e a reta que une esse
ponto ao centro instantâneo de aceleração 𝐾, em um dado instante, é constante e dado por
𝜔̇
𝛽 = 𝑡𝑎𝑛−1 (− 𝜔2) (16.4-12)
Na Fig.38, podem-se observar as características peculiares do campo de acelerações de um corpo rígido
que realiza movimento plano.
centro 𝑎⃗𝑃 𝛽
instantâneo
de aceleração 𝑎⃗𝑄
𝑎⃗𝑃′ 𝑃
𝑃′ 𝑎⃗𝑄″
𝐾
𝑄′ 𝛽
𝑄
Figura 38. Campo de acelerações de um corpo rígido ℬ que realiza movimento plano.
𝜔
⃗⃗𝑎
𝑧
𝑣⃗𝑂
⃗⃗
𝑘 𝑦
𝑂 𝑗⃗
𝑖⃗ 𝑃′(𝑡)
𝑧1 𝒮 ≡
ℛ 𝑥
⃗⃗1 𝑃(𝑥𝑃 , 𝑦𝑃 , 𝑧𝑃 )
𝑘
𝑖⃗1
𝑂1 𝑦1
𝑗⃗1
𝑥1
,
Figura 39. Descrição do movimento de um ponto 𝑃 que se move em relação a um referencial móvel 𝒮.
resulta:
⃗⃗̇𝑎 ∧ (𝑃 − 𝑂) + 𝜔
⃗⃗ ) + 𝜔𝑎 ∧ 𝑣⃗𝑟 + 𝑎⃗𝑂 + 𝜔
⇒ 𝑎⃗𝑃 = (𝑥̈ 𝑃 ⃗ì + 𝑦̈ 𝑃 𝑗⃗ + 𝑧̈𝑃 𝑘 ⃗⃗ ) + (𝑥𝑃 𝑖⃗̇ +
⃗⃗𝑎 ∧ [(𝑥̇ 𝑃 𝑖⃗ + 𝑦̇ 𝑃 𝑗⃗ + 𝑧̇𝑃 𝑘
⃗⃗̇ )]
𝑦𝑃 𝑗⃗̇ + 𝑧𝑃 𝑘
⃗⃗̇𝑎 ∧ (𝑃 − 𝑂) + 𝜔
⃗⃗ ) + 𝜔𝑎 ∧ 𝑣⃗𝑟 + 𝑎⃗𝑂 + 𝜔
⇒ 𝑎⃗𝑃 = (𝑥̈ 𝑃 ⃗ì + 𝑦̈ 𝑃 𝑗⃗ + 𝑧̈𝑃 𝑘 ⃗⃗𝑎 ∧ 𝑣⃗𝑟 + 𝜔
⃗⃗𝑎 ∧ [𝜔
⃗⃗𝑎 ∧ (𝑥𝑃 𝑖⃗ + 𝑦𝑃 𝑗⃗ +
⃗⃗ )]
𝑧𝑃 𝑘
⃗⃗̇𝑎 ∧ (𝑃 − 𝑂) + 𝜔
⃗⃗ ) + 𝑎⃗𝑂 + 𝜔
⇒ 𝑎⃗𝑃 = (𝑥̈ 𝑃 ⃗ì + 𝑦̈ 𝑃 𝑗⃗ + 𝑧̈𝑃 𝑘 ⃗⃗𝑎 ∧ [𝜔
⃗⃗𝑎 ∧ (𝑃 − 𝑂)] + 2𝜔
⃗⃗𝑎 ∧ 𝑣⃗𝑟 (16-9)
Na expressão acima, a parcela
⃗⃗𝑟
𝑎⃗𝑟𝑒𝑙 = 𝑥̈ 𝑃 ⃗ì + 𝑦̈ 𝑃 𝑗⃗ + 𝑧̈𝑃 𝑘 (16-10)
é chamada de aceleração relativa de 𝑃, correspondendo à aceleração medida por um observador ligado
ao referencial móvel 𝒮. A parcela
⃗⃗̇𝑎 ∧ (𝑃 − 𝑂) + 𝜔
𝑎⃗𝑎𝑟𝑟 = 𝑎⃗𝑂 + 𝜔 ⃗⃗𝑎 ∧ [𝜔
⃗⃗𝑎 ∧ (𝑃 − 𝑂)] (16-11)
é chamada de aceleração de arrastamento de 𝑃, correspondendo à aceleração de um ponto 𝑃′ pertencente
ao referencial móvel 𝒮 e coincidente com 𝑃 no instante considerado. Os vetores 𝜔 ⃗⃗̇𝑎 , são,
⃗⃗𝑎 e 𝜔
respectivamente, o vetor rotação de arrastamento e o vetor aceleração rotacional de arrastamento de
𝒮. A parcela
𝑎⃗𝐶 = 2𝜔
⃗⃗𝑎𝑟𝑟 ∧ 𝑣⃗𝑟𝑒𝑙 (16-12)
é chamada de aceleração complementar ou aceleração de Coriolis, fruto da interação dos movimentos
relativo e de arrastamento de 𝑃.
Portanto, a aceleração absoluta de um ponto 𝑃 que se move em relação a um referencial móvel pode ser
expressa como
𝑎⃗𝑃 = 𝑎⃗𝑃𝑟𝑒𝑙 + 𝑎⃗𝑃𝑎𝑟𝑟 + 𝑎⃗𝑃𝑐 (16-13)
expressão essa que é o resultado do famoso Teorema de Coriolis.
17. Descrição do movimento de um corpo rígido que se move em relação a um referencial móvel
Consideremos um corpo rígido ℬ que se move em relação a um referencial 𝒮, móvel em relação ao
referencial fixo ℛ (Fig.40). Admitiremos que, em um dado instante, os campos de velocidades e de
acelerações de 𝒮 sejam conhecidos e caracterizados pelos vetores 𝑣⃗𝑂 e 𝜔
⃗⃗𝑎 e pelos vetores 𝑎⃗𝑂 , 𝜔 ⃗⃗̇𝑎 ,
⃗⃗𝑎 e 𝜔
respectivamente. Admitiremos ainda que um observador ligado a 𝒮 enxergue o ponto 𝑃 pertencente a ℬ
mover-se com velocidade 𝑣⃗𝑟 em relação a 𝒮 ao mesmo tempo em que vê o corpo rígido ℬ mover-se com
vetor rotação 𝜔 ⃗⃗̇𝑟 relativamente ao mesmo referencial 𝒮.
⃗⃗𝑟 e aceleração rotacional 𝜔
𝑧 𝜔
⃗⃗𝑎
𝑣⃗𝑂 ℬ
⃗⃗
𝑘 𝑣⃗𝑃𝑟𝑒𝑙
𝑧1 𝑃(𝑡)
𝑦 𝜔
⃗⃗𝑟
𝑂 ≡
𝑗⃗
𝑖⃗ 𝑃′(𝑥𝑝 , 𝑦𝑝 , 𝑧𝑝 )
𝑥 𝒮
ℛ
⃗⃗1
𝑘
𝑖⃗1
𝑂1 𝑦1
𝑗⃗1
𝑥1
Figura 40. Descrição do movimento de um corpo rígido ℬ que se move em relação a um referencial móvel (𝑆).
⃗⃗̇ = 𝜔
𝜔 ⃗⃗̇𝑎𝑟𝑟 + 𝜔
⃗⃗̇𝑟𝑒𝑙 + 𝜔
⃗⃗̇𝑐 (17-8)
𝑦
𝜔
⃗⃗
𝑨
𝑪
𝑗⃗
⃗⃗ 𝑶
𝑘 𝑏
𝑖⃗
𝑫
𝑧 𝑩
𝑥
𝑬 𝑐
𝑎
⃗⃗̇
𝜔
Adotando-se a notação
ℓ = √𝑏 2 + 𝑐 2 (18.1-1)
verificamos que, de acordo com a Fig.41, o vetor rotação do corpo composto pelas três placas soldadas e
pelo eixo 𝐴𝐵 e é dado por
(𝐴−𝐵)⋅𝑗⃗ ⃗⃗
(𝐴−𝐵)⋅𝑘
𝜔
⃗⃗ = 𝜔 𝑗⃗ + 𝜔 ⃗⃗ = 𝜔 𝑏 𝑗⃗ − 𝜔 𝑐 𝑘
𝑘 ⃗⃗ (18.1-2)
|𝐴−𝐵| |𝐴−𝐵| ℓ ℓ
𝜔, 𝜔̇
𝑩
𝒂
𝑗⃗
𝜽
𝑨 𝑖⃗
A barra 𝐴𝐵 realiza movimento plano de rotação em torno do ponto 𝐴. Como as direções das velocidades
dos pontos 𝐵 e 𝐶 da barra 𝐵𝐶 são conhecidas, o centro instantâneo de rotação de 𝐵𝐶 pode ser determinado
graficamente, conforme indicado abaixo:
𝑣⃗𝐶
𝑪
𝐶𝐼𝑅
≡
𝐼 ∈ (𝐵𝐶)
𝑣⃗𝐵
𝐵
𝑗⃗
𝑖⃗
𝐴
⃗⃗ ∧
⇒ 𝑎⃗𝐶 = −(𝜔̇ 𝑠𝑖𝑛 𝜃 + 𝜔2 𝑐𝑜𝑠 𝜃)𝑎𝑖⃗ + (𝜔̇ 𝑐𝑜𝑠 𝜃 − 𝜔2 𝑠𝑖𝑛 𝜃)𝑎𝑗⃗ + 𝜔̇ 𝑎(𝑠𝑖𝑛 𝜃 𝑖⃗ + 𝑐𝑜𝑠 𝜃 𝑗⃗) − 𝜔𝑘
[𝜔𝑎(𝑠𝑖𝑛 𝜃 𝑖⃗ + 𝑐𝑜𝑠 𝜃 𝑗⃗)]
⇒ 𝑎⃗𝐶 = −(𝜔̇ 𝑠𝑖𝑛 𝜃 + 𝜔2 𝑐𝑜𝑠 𝜃)𝑎𝑖⃗ + (𝜔̇ 𝑐𝑜𝑠 𝜃 − 𝜔2 𝑠𝑖𝑛 𝜃)𝑎𝑗⃗ + 𝜔̇ 𝑎(𝑠𝑖𝑛 𝜃 𝑖⃗ + 𝑐𝑜𝑠 𝜃 𝑗⃗) +
𝜔2 𝑎(+ 𝑐𝑜𝑠 𝜃 𝑖⃗ − 𝑠𝑖𝑛 𝜃 𝑗⃗)
⇒ 𝑎⃗𝐶 = −(𝜔̇ 𝑠𝑖𝑛 𝜃 + 𝜔2 𝑐𝑜𝑠 𝜃)𝑎𝑖⃗ + (𝜔̇ 𝑐𝑜𝑠 𝜃 − 𝜔2 𝑠𝑖𝑛 𝜃)𝑎𝑗⃗ + 𝜔̇ 𝑎(𝑠𝑖𝑛 𝜃 𝑖⃗ + 𝑐𝑜𝑠 𝜃 𝑗⃗) +
𝜔2 𝑎(+ 𝑐𝑜𝑠 𝜃 𝑖⃗ − 𝑠𝑖𝑛 𝜃 𝑗⃗)
⇒ 𝑎⃗𝐶 = 2𝑎(𝜔̇ 𝑐𝑜𝑠 𝜃 − 𝜔2 𝑠𝑖𝑛 𝜃)𝑗⃗ (18.2-11)
𝐵
𝝎
𝑗⃗
𝐴 𝑂
𝑖⃗
𝑑
Figura 44. Movimento de mecanismo biela-manivela.
⃗⃗𝐴𝐵 ∧ (𝐵 − 𝐴)
⇒ −𝜔𝑟𝑗⃗ = −𝜔𝑟𝑗⃗ + 𝜔
⃗⃗𝐴𝐵⇒ = ⃗0⃗
𝜔 (18.3-7)
Como o ponto 𝐴 do disco realiza movimento circular uniforme, sua aceleração é:
𝑎⃗𝐴 = 𝜔2 𝑟𝑖⃗ (18.3-8)
Portanto, a aceleração do ponto 𝐵 da barra 𝐴𝐵 é dada por:
𝑎⃗𝐵 = 𝑎⃗𝐴 + 𝜔⃗⃗̇𝐴𝐵 ∧ (𝐵 − 𝐴) + 𝜔⃗⃗𝐴𝐵 ∧ [𝜔⃗⃗𝐴𝐵 ∧ (𝐵 − 𝐴)]
2
⇒ 𝑎⃗𝐵 = 𝜔 𝑟𝑖⃗ + 𝜔̇ 𝐴𝐵 𝑘⃗⃗ ∧ (𝐵 − 𝐴) + ⃗0⃗ ∧ [0 ⃗⃗ ∧ (𝐵 − 𝐴)
⃗⃗ ∧ (𝐵 − 𝐴)] = 𝜔2 𝑟𝑖⃗ + 𝜔̇ 𝐴𝐵 𝑘 (18.3-9)
Como o ponto 𝐵 realiza movimento retilíneo ao longo da guia vertical deve-se ter, necessariamente :
𝑎̄ 𝐵 = 𝑎𝐵 𝑗⃗ (18.3-10)
Logo, pode-se escrever:
⃗⃗ ∧ (𝐿 𝑐𝑜𝑠 𝜃 𝑖⃗ + 𝐿 𝑠𝑖𝑛 𝜃 𝑗⃗) = 𝜔2 𝑟𝑖⃗ + 𝜔̇ 𝐴𝐵 𝐿 𝑐𝑜𝑠 𝜃 𝑗⃗ − 𝜔̇ 𝐴𝐵 𝐿 𝑠𝑖𝑛 𝜃 𝑖⃗
𝑎𝐵 𝑗⃗ = 𝜔2 𝑟𝑖⃗ + 𝜔̇ 𝐴𝐵 𝑘 (18.3-11)
equação vetorial que, decomposta em um sistema de duas equações algébricas,
𝑎𝐵 = 𝜔̇ 𝐴𝐵 𝐿 𝑐𝑜𝑠 𝜃
{ 2 (18.3-12)
𝜔 𝑟 − 𝜔̇ 𝐴𝐵 𝐿 𝑠𝑖𝑛 𝜃 = 0
fornece a aceleração angular da barra 𝐴𝐵, ou seja,
𝜔 𝑟 2
⃗⃗̇𝐴𝐵 = − 𝐿 𝑠𝑖𝑛 𝜃 𝑘
𝜔 ⃗⃗ (18.3-13)
e a aceleração do ponto 𝐵 da barra 𝐴𝐵, dada por:
𝑎⃗𝐵 = 𝜔̇ 𝐴𝐵 𝐿 𝑐𝑜𝑠 𝜃 𝑗⃗ (18.3-14)
𝑩
⃗⃗ 𝑂 𝒊⃗ ⃗⃗𝑘′
⃗⃗ 𝐴 ⃗⃗
𝑘 𝑖′ 𝑣⃗𝐹𝑟𝑒𝑙 𝑥 ≡ 𝑥′
𝝎𝟐
𝑧′
𝑧
Figura 45. Movimento de mecanismo com a estrutura de uma cadeia cinemática aberta tridimensional.
O mecanismo ilustrado na Fig.45 apresenta-se sob a forma de uma cadeia cinemática aberta constituída
por dois corpos articulados – um disco, que realiza movimento de rotação em torno de um eixo fixo, e um
tubo 𝐴𝐵 articulado ao disco por meio de um pino.
Aplicando-se a técnica de redução de sistemas de vetores, determinamos, de imediato, o vetor rotação
instantânea e o vetor aceleração rotacional instantânea do tubo 𝐴𝐵, dados, respectivamente, por:
𝜔
⃗⃗ = 𝜔1 𝑗⃗ + 𝜔2 𝑘 ⃗⃗ (18.4-1)
e
⃗⃗̇ = 𝜔
𝜔 ⃗⃗̇1 + 𝜔
⃗⃗̇2 + 𝜔 ⃗⃗2 = ⃗0⃗ + ⃗0⃗ + 𝜔
⃗⃗1 ∧ 𝜔 ⃗⃗1 ∧ 𝜔 ⃗⃗ = 𝜔1 𝜔2 𝑖⃗
⃗⃗2 = 𝜔1 𝑗⃗ ∧ 𝜔2 𝑘 (18.4-2)
Para determinarmos a velocidade de 𝐴, aplicamos a equação do campo de velocidades, considerando 𝐴
como um ponto do disco:
⃗⃗
𝑣⃗𝐴 = 𝜔1 𝑗⃗ ∧ 𝑅𝑖⃗ = −𝜔1 𝑅𝑘 (18.4 -3)
A aceleração do ponto 𝐴 também é obtida considerando-se 𝐴 como um ponto do disco, ou seja:
⃗⃗̇1 ∧ (𝐴 − 𝑂 +)𝜔
𝑎⃗𝐴 = 𝑎⃗𝑂 + 𝜔 ⃗⃗1 ∧ (𝐴 − 𝑂)] = 𝜔1 𝑗⃗ ∧ [𝜔1 𝑗⃗ ∧ 𝑅𝑖⃗] = −𝜔12 𝑅𝑖⃗
⃗⃗1 ∧ [𝜔 (18.4-4)
Para determinar a velocidade absoluta do ponto 𝐵 do tubo 𝐴𝐵, aplicamos a equação do campo de
velocidades, considerando 𝐴 como um ponto de 𝐴𝐵 e utilizando o vetor rotação absoluta do tubo calculado
anteriormente (18.4-1):
⃗⃗ ∧ (𝐵 − 𝐴) = −𝜔1 𝑅𝑘
𝑣⃗𝐵 = 𝑣⃗𝐴 + 𝜔 ⃗⃗ + (𝜔1 𝑗⃗ + 𝜔2 𝑘
⃗⃗ ) ∧ 𝐿𝑖⃗
⇒ 𝑣⃗𝐵 = −𝜔1 𝑅𝑘 ⃗⃗ − 𝜔1 𝐿𝑘
⃗⃗ + 𝜔2 𝐿𝑗⃗ = −𝜔1 (𝑅 + 𝐿)𝑘 ⃗⃗ + 𝜔2 𝐿𝑗⃗ (18.4-5)
A aceleração absoluta do ponto 𝐵 é obtida aplicando-se a equação do campo de acelerações, e utilizando
os vetores rotação absoluta (18.4-1) e aceleração rotacional absoluta (18.4-2) do tubo, calculados
anteriormente:
⃗⃗̇ ∧ (𝐵 − 𝐴) + 𝜔
𝑎⃗𝐵 = 𝑎⃗𝐴 + 𝜔 ⃗⃗ ∧ [𝜔
⃗⃗ ∧ (𝐵 − 𝐴)]
2
⟹ 𝑎⃗𝐵 = −𝜔1 𝑅𝑖⃗ + (−𝜔1 𝜔2 𝑖⃗) ∧ (𝐵 − 𝐴) + (𝜔1 𝑗⃗ + 𝜔2 𝑘 ⃗⃗ ) ∧ [(𝜔1 𝑗⃗ + 𝜔2 𝑘
⃗⃗ ) ∧ (𝐵 − 𝐴)]
⃗⃗ ) ∧ [(𝜔1 𝑗⃗ + 𝜔2 𝑘
⇒ 𝑎⃗𝐵 = −𝜔12 𝑅𝑖⃗ + 𝜔1 𝜔2 𝑖⃗ ∧ 𝐿𝑖⃗ + (𝜔1 𝑗⃗ + 𝜔2 𝑘 ⃗⃗ ) ∧ 𝐿𝑖⃗]
⟹ 𝑎⃗𝐵 = −𝜔12 𝑅𝑖⃗ − 𝜔12 𝐿𝑖⃗ − 𝜔22 𝐿𝑖⃗ = −[𝜔12 (𝑅 + 𝐿) + 𝜔22 𝐿]𝑖⃗ (18.4-6)
A velocidade absoluta da formiga 𝐹 é dada por:
𝑣⃗𝐹 = 𝑣⃗𝐹𝑟𝑒𝑙 + 𝑣⃗𝐹𝑎𝑟𝑟 (18.4-7)
Notemos que a velocidade de 𝐹 relativa ao tubo 𝐴𝐵 é conhecida e vale:
𝑣⃗𝐹𝑟𝑒𝑙 = −𝑣𝐹 𝑖⃗ (18.4-8)
Como 𝐹 coincide, na configuração indicada, com o ponto 𝐵 de 𝐴𝐵, sua velocidade de arrastamento é:
⃗⃗ + 𝜔2 𝐿𝑗⃗
𝑣⃗𝐹𝑎𝑟𝑟 = 𝑣⃗𝐵 = −𝜔1 (𝑅 + 𝐿)𝑘 (18.4-9)
Portanto, na configuração indicada, a formiga move-se com velocidade absoluta
⃗⃗
𝑣⃗𝐹 = −𝑣𝐹 𝑖⃗ + 𝜔2 𝐿𝑗⃗ − 𝜔1 (𝑅 + 𝐿)𝑘 (18.4-10)
A aceleração absoluta de 𝐹 é dada por
𝑎⃗𝐹 = 𝑎⃗𝐹𝑟𝑒𝑙 + 𝑎⃗𝐹𝑎𝑟𝑟 + 𝑎⃗𝐹𝑐 (18.4-11)
Como a velocidade de 𝐹, relativa ao tubo 𝐴𝐵 é constante, sua aceleração relativa é nula, ou seja:
⃗⃗𝑟𝑒𝑙
𝑑𝑣 𝑑
𝑎⃗𝐹𝑟𝑒𝑙 = | = (−𝑣𝑖⃗)| = ⃗0⃗ (18.4-12)
𝑑𝑡 ⃗⃗ 𝑓𝑖𝑥𝑜𝑠
𝑖⃗,𝑗⃗,𝑘 𝑑𝑡 ⃗⃗ 𝑓𝑖𝑥𝑜𝑠
𝑖⃗,𝑗⃗,𝑘
Bibliografia
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[9] Garnier, H., Cours de Cinématique . Cinématique du Point et de Solide. Composition des Mouvements,
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[10] Garnier, H., Cours de Cinématique. Roulement et Viration. La Formule de Savary et Son Extension a
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[11] Giacaglia, G.E.O., Mecânica Geral para as Escolas Superiores, Vol.1. Livraria Nobel, São Paulo, 1975.
[12] Longhini, P., Lecciones de Mecanica Racional, Tomo I. Publicaciones del Centro Estudiantes di
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[13] Poincaré, H., Cinématique et Mécanismes. Georges Carré et C. Naud, éditeurs, Paris, 1899.
[14] Résal, H., Traité de Cinématique Pure. Mallet-Bachelier éditeurs, Paris, 1862.