Você está na página 1de 30

Arte da capa é cortesia de @_helpfisio_

Bem vindos ao 1º Almanaque de Férias do Guia do Fisioterapeuta

Fazer um almanaque de férias no estilo “Almanaque de Férias da Turma da Mônica” era um sonho
antigo, que começou como uma piada, que depois virou uma idéia, que depois virou um arquivo que
custou várias horas do meu tempo livre para ficar pronto e que agora está em suas mãos ! ! !
Esse almanaque possui 30 páginas, e o fato de ser curtinho é proposital. A minha intenção ao
escolher esse formato é a de que você, leitor ou leitora, seja capaz de imprimir o arquivo e interagir
com o conteúdo sem necessidade de tecnologia eletrônica. Fiz isso com o objetivo de tentar .
. resgatar a tradição dos saudosos almanaques da Turma da Mônica.
Obviamente que por ser um almanaque voltado para um público adulto . .
. nem tudo pode ser diversão e passa-tempo. Por isso incluí .
. algumas das melhores matérias do meu site .
www.guiadofisio.com.br .
Todo esse conteúdo é gratuito, e espero .
que os almanaques dos próximos .
anos continuem assim !

DIVIRTA-SE !

Este Almanaque é fruto do trabalho conjunto de algumas pessoas. Agradeço a Leonardo Lima,
meu grande amigo e gestor de mídias sociais ( @leonardolima892 ) , e da talentosíssima Vanessa
Barros do perfil @_helpfisio_ , a qual gentilmente permitiu a utilização de suas ilustrações como
capa deste almanaque.
Como dizem nas redes sociais #gratidão !
Sumário
página

Alavancas do corpo humano 1

Porque existem 8 pares de nervos cervicais, 2


mas somente 7 vértebras cervicais ?
AVC – um golpe de Deus 4

Palavras cruzadas 6

Caça palavras 7

Ventilação colateral 10

Fratura de Colles 11

Salto alto faz mal ? 12

Jaleco também é cultura 15

Quem tem medo de ventilador mecânico ? 15

Fisioterapia Jurássica 16

Estalar os dedos faz mal ? 17

Marilda Crowley e a PBE 18

Jogo do labirinto 19

Cadeia cinética aberta Vs fechada 20

Estereótipos da fisioterapia 22

Biomecânica respiratória, um breve olhar articulatório 23

Gabarito das palavras cruzadas 26

Gabarito do caça-palavras e labirinto 27


a

1
2
Gostou? Então confira mais matérias legais como essa no site www.guiadofisio.com.br

3
4
5
A solução das palavras cruzadas está no final do almanaque

6
articulação fêmur
bíceps fisioterapia
clavícula patela
diafragma pilates
fascia prótese

A solução do caça-palavras está no final do almanaque

7
Ventilação colateral

Gostou? Então me segue no instagram @guia_do_fisio

8
Começando pelo começo:
Como surgiu a idéia de que existe
uma ventilação colateral ?

Apesar dos poros de Kohn terem


sido descritos em 1893 pelo
fisiologista alemão Hans Kohn, apenas
em 1931 o termo ventilação colateral Em 1955, ao estudar a patogênese da
foi citada pela primeira vez em uma antracose pulmonar em mineradores de
publicação. Este trabalho, de autoria de carvão, Margaret Waugh Lambert (SIM!
Van Allen e colaboradores reconheceu Lambert era uma mulher!) descreveu
pela primeira vez a existência de um pequenas linhas enegrecidas que se
fluxo de ar para áreas cujos estendiam de um bronquíolo terminal até
bronquíolos estão obstruídos. o alvéolo. Como a poeira de carvão é um
pigmento exógeno que se deposita em
Esses pesquisadores ficaram regiões onde existe fluxo aéreo, ela
intrigados com a observação de que a deduziu que essas linhas se deviam à
obstrução completa de uma via aérea deposição de poeira de carvão em uma
nem sempre é seguida pelo colapso passagem de ar que ligava um
alveolar do lóbulo pulmonar bronquíolo terminal a um alvéolo. O
correspondente. Em uma série de diâmetro dos canais de Lambert é de
experiências engenhosas, eles aproximadamente (30 μm).
demonstraram que a ventilação e a
troca de gás distal a uma obstrução Os canais de Martin foram descritos
brônquica poderiam estar preservadas. em 1966 e são comunicações acessórias
Esses autores também observaram que que ocorrem entre bronquíolos. Esta via
a ventilação colateral não estava de comunicação é, provavelmente a mais
presente em todos os seres vivos. Eles importante devido ao seu diâmetro (80–
identificaram a ventilação colateral em 150 μm) e conseqüentemente menor
humanos, cães e gatos, mas não em resistência à passagem de ar.
bezerros e porcos.
Como se dá a ventilação colateral
Embora sirvam à passagem de ar,
existe a hipótese de que os poros de Antes de mais nada é importante
Kohn serviriam primariamente como relembrar que o diâmetro dos poros e
caminho para o movimento de líquido canais de ventilação colateral são bem
alveolar, componentes do surfactante, e menores do que o diâmetro dos
também de macrófagos de um alvéolo bronquíolos e, consequentemente, a
para o outro e não necessariamente resistência é maior do que a encontrada
como um meio de ventilação. Essa nos bronquíolos terminais.
afirmação é justificada pelo tamanho
dos poros (3-13μm), o que exigiria Em uma pesquisa publicada em 1969,
pressões estimadas em 196cmH2O a resistência ao fluxo nas vias colaterais
para a passagem de ar. foi estimada como sendo 50 vezes maior
do que a resistência ao fluxo através das
Outra informação digna de nota é que vias aéreas terminais. Ora, com esse
os poros de Kohn não estão presentes grau de resistência, a ventilação colateral
em recém nascidos, só se não serviria pra muita coisa, uma vez
desenvolvendo por volta do quinto ano que o fluxo aéreo segue o caminho de
de vida. menor resistência.

9
A Fisiologia da ventilação colateral:
Dessa forma chegamos a uma
constatação importante: a de que em O CO2 exerce efeito sobre a ventilação
indivíduos hígidos não ocorre fluxo colateral. Quando 5% de CO2 é infundido
aéreo pelos poros e canais que formam a em uma área obstruída do pulmão, a
ventilação colateral. resistência da ventilação colateral diminui
em cerca de 46%.
Entretanto, a passagem de ar do
sistema de ventilação colateral ganha Este achado é corroborado por estudos
destaque em caso de processos que demostraram que o CO2 inalado pode
obstrutivos como a doença pulmonar causar dilatação das vias aéreas e
obstrutiva crônica, obstrução tumoral relaxamento do tecido parenquimatoso
ou oclusão das vias aéreas por corpos ativo, o que pode levar ao aumento do
estranhos. volume pulmonar e a redução da resistência
da ventilação colateral.

A importância da ventilação colateral:


A ventilação colateral pode assumir importância em várias doenças, sendo a prevenção da
atelectasia após a obstrução provavelmente a sua função mais importante. Por exemplo, a
obstrução das vias aéreas pelo acúmulo de secreções, tumor ou corpos estranhos nem sempre
conduz à atelectasia devido à ventilação colateral. Além disso, em pacientes com enfisema, com
aumento da resistência das vias aéreas, a resistência colateral é menor. Isto foi demonstrado por
Hogg e colaboradores, que mediram a resistência da ventilação colateral em pulmões normais e
enfisematosos excisados. Nos pulmões normais, a resistência dos canais colaterais era 260-330
cmH2O, enquanto que em pulmões enfisematosos a resistência era de 5-20 cmH2O.

Portanto, o ar flui muito mais facilmente através de canais colaterais em um pulmão


adoecido do que um pulmão normal!!!!!

REFERÊNCIAS
 Terry PB, Traystman RJ. The Clinical Significance of Collateral Ventilation. Ann Am Thorac Soc.
2016 Dec;13(12):2251-2257.
 Morrell NW, Roberts CM, Biggs T, Seed WA. Collateral ventilation and gas exchange during airway
occlusion in the normal human lung. Am Rev Respir Dis. 1993 Mar;147(3):535-9.
 Hogg JC, Macklem PT, Thurlbeck WM. The resistance of collateral channels in excised human lungs.
J Clin Invest. 1969 Mar;48(3):421-31.
 LAMBERT MW. Accessory bronchiolealveolar communications. J Pathol Bacteriol. 1955
Oct;70(2):311-4.
 Van Allen CM, Lindskog GE, Richter HG. COLLATERAL RESPIRATION. TRANSFER OF AIR
COLLATERALLY BETWEEN PULMONARY LOBULES. J Clin Invest. 1931 Aug;10(3):559-90

10
Fratura de Colles
A fratura de Colles é a fratura mais comum do rádio distal. É uma
fratura extra-articular caracterizada pelo deslocamento dorsal do
fragmento distal do rádio, promovendo uma deformidade típica,
conhecida como deformidade em “garfo de jantar” ou “deformidade
em dorso de garfo”.

Geralmente envolve uma queda sobre


a mão estendida com o punho em
dorsiflexão

Ao apoiar a mão no solo para evitar a queda, o


punho acaba absorvendo a energia cinética,
gerando uma carga de força anormal sobre o
rádio, resultando em uma fratura (como na
imagem à esquerda).

Rádio

Foco de
fratura

A fratura recebe o nome de “dorso de garfo” devido a


semelhança do contorno do punho com o talher. De
acordo com o grau de complexidade da fratura, os
tecidos moles ao redor do foco de fratura podem ter
sido lesionados, incluindo o nervo mediano.

11
Salto alto faz mal?
Para nós, fisioterapeutas, é muito fácil entender que os calçados afetam a postura, o
equilíbrio e até mesmo o modo como nos movemos. Mas poucos calçados afetam tanto o
nosso corpo quanto os sapatos de salto alto.

Diversas pesquisas demonstram que o uso frequente de calçados de salto alto podem
ocasionar problemas que vão muito além do desconforto e dores nos pés ao final do dia. O
uso de um sapato de salto alto interfere diretamente na biomecânica postural e também na
marcha pois desloca o centro de gravidade e obriga o corpo a adotar uma série de
compensações posturais para manter o equilíbrio. O uso desses calçados a longo prazo pode
até causar mudanças estruturais no próprio pé, levando a joanetes, dedo em martelo e
outras condições que, em casos mais graves, podem exigir correção cirúrgica.

Dito isso, fica claro que ao atender uma paciente com dores de coluna, quadril ou joelhos,
devemos estar atentos para questionar em nossa anamnese se ela costuma usar sapatos de
salto alto, e também a frequência do uso.

A elevação do retropé altera a posição


natural do complexo pé-tornozelo,
mantendo o tornozelo em plantiflexão e
consequentemente aumentando a
descarga de peso sobre os ossos do
antepé.

A elevação do retropé vai ser


responsável por uma reação em cadeia,
que vai gerar consequências sobre os
pés, pernas, pelve, vértebras, músculos
e tendões, e repercutindo também sobre
a marcha e o equilíbrio.

Ao comparar a postura de uma mesma


pessoa descalça e, em seguida, usando
um salto alto, algumas alterações ficam
bem evidentes:

[1] Os pés são mantidos em


plantiflexão,
[2] Ocorre anteriorização do centro de
gravidade
[3] Ocorrem mudanças nas curvaturas
na coluna (posteriorização da cabeça,
retificação da coluna e verticalização
do sacro).

12
Marcha Equilíbrio

Passadas normais envolvem o rolar Andar com sapatos de salto alto


do pé do calcanhar passando pela pode ser um desafio ao sistema
região dos metatarsos até os dedos proprioceptivo e vestibular. É
dos pés, os quais ainda fazem um preciso muito equilíbrio e precisão
pequeno empurrão contra o solo para para caminhar em diferentes
ganhar um pouco de impulso. Ao superfícies, elevações e inclinações.
caminhar de salto alto, a posição do Lembre-se que de salto alto, você
pé em plantiflexão impede que você está basicamente, andando
empurre o chão com eficiência. equilibrando-se na ponta dos pés (o
tempo todo). Se estiver se movendo
Essa mudança não natural na rapidamente, você precisará colocar
posição do pé faz com que os um peso ainda maior na planta dos
músculos flexores do quadril pés para se manter estável.
trabalhem mais para impulsionar o
corpo para a frente. Os joelhos Coluna
também precisarão ficar mais
flexionados, fazendo com que os O formato normal das curvas da
quadríceps trabalhem mais do que o coluna vertebral tem o objetivo de
normal. Esse mecanismo alterado atuar como um amortecedor,
favorece o desgaste da cartilagem da reduzindo o estresse do suporte de
patela, uma vez que ao caminhar, os peso nas vértebras e na pelve. Os
joelhos permanecem fletidos para saltos altos fazem com que a coluna
manter o equilíbrio. O uso do salto lombar seja sobrecarregada. Para
alto também provoca o compensar isso (especialmente se
encurtamento da musculatura você usou os calcanhares o dia todo
posterior das coxas e uma maior e está ficando cansado), o corpo
tendência a entorses de tornozelo. instintivamente irá inclinar-se para a
Novamente, quanto mais altos seus frente para liberar um pouco da
saltos, pior isso fica. pressão nas costas. O mau
alinhamento invariavelmente leva ao
uso excessivo dos músculos das
costas e aumenta o risco de dores
crônicas na coluna.

13
Pés
Quando o pé é colocado em plantiflexão, uma pressão significativa será exercida sobre
o antepé. A pressão é diretamente proporcional a altura do calcanhar. O aumento da
carga sobre essa região também pode causar dor ou deformidades nos pés, como
joanetes e neuromas. A supinação do pé também pode alterar o alinhamento do tendão
de Aquiles e levar a uma condição conhecida como deformidade de Haglund (aumento
ósseo do calcanhar). O salto alto também pode causar encurtamento dos tendões e
ligamentos que sustentam o arco plantar. Isso pode resultam em uma fascíte plantar.

Para os dedos dos pés, usar salto alto, principalmente o de bico fino, é como aprisioná-
los dentro de uma caixinha de fósforos. Pela ação da força da gravidade, os dedos dos
pés são pressionados uns contra os outros e também forçados a uma flexão
interfalangiana, podendo gerar uma deformidade conhecida como dedo em martelo.

Em resumo
Saltos altos são, sem dúvida, um acessório muito elegante, porém seu uso contínuo e
frequente pode comprometer a estrutura do corpo como um todo. Mas nem tudo está
perdido! É possível adotar algumas medidas para minimizar os danos. Abaixo algumas
dicas valiosas:

[1] Se possível, deixe para usar saltos altos para ocasiões especiais.
[2] Se você quiser (ou precisar) usar salto para trabalhar, leve-os na bolsa e calce-os
somente durante o período de trabalho.
[3] Durante o dia, tire-os ocasionalmente para alongar e relaxar.

Referências:

 Barnish MS, Barnish J. High-heeled shoes and musculoskeletal injuries: a narrative


systematic review. BMJ Open. 2016;6(1).
 Foster A, Blanchette MG, Chou Y, Powers CM. The influence of heel height on frontal
plane ankle biomechanics: implications for lateral ankle sprains. Foot Ankle Int.
2012;33(1):64-69.
 Cowley EE, Chevalier TL, Chockalingam N. The Effect of Heel Height on Gait and
Posture. J Am Podiatr Med Assoc 99(6): 512-518, 2009)

14
O jaleco branco é um Equipamento de Proteção Individual ( EPI ), um verdadeiro clássico
nos hospitais. Mas você sabia que os jalecos também servem para identificar o grau de
experiência de quem está usando? Isso mesmo!
Quanto mais surrado e descosturado, mais casca grossa é quem está usando. De uma
forma poética, podemos dizer que os danos no jaleco são como cicatrizes de guerra. Cada
mancha tem uma história pra contar. Cada botão faltando uma aventura, cada bolso
descosturado um caso clínico memorável.
Não acredita? Da próxima vez que for a uma enfermaria, dê uma olhada em volta e
confira se isso tudo o que eu escrevi não é a mais pura verdade.

Lembro da primeira vez que me deparei


com um ventilador mecânico em um
estágio no CTI. . . a perplexidade, o medo e
principalmente a poluição visual.

Aquela máquina cheia de botões, luzes


coloridas e que fazia barulhos engraçados
enquanto jogava vento pra dentro dos
pulmões do paciente. Confesso que tinha
medo até de olhar.

Depois de alguns anos de prática o medo já


foi quase todo embora, e hoje até me sinto
confiante para interpretar alguns gráficos e
até mudar parâmetros.

Se você também sente insegurança,


parabéns! Você está consciente da
complexidade que é trabalhar em uma UTI

Gostou? Então confira mais matérias legais como essa no site www.guiadofisio.com.br

15
FISIOTERAPIA

JURÁSSICA

Gostou? Então me segue no instagram @guia_do_fisio

16
ESTALAR OS DEDOS FAZ MAL? . . . O QUE DIZEM OS CIENTISTAS.

Dois trabalhos publicados buscaram responder esta pergunta. São publicações antigas
(The consequences of habitual knuckle cracking. West J Med 1975; e Effect of habitual
knuckle cracking on hand function. Ann Rheum Dis 1990), mas que por sorte estão
disponíveis on line.

No trabalho publicado em 1975, idosos com o hábito de estalar os dedos foram


comparados com aqueles que não tinham este costume. Os autores realizaram exames
clínicos e radiográficos em busca de sinais degenerativos articulares como artrose,
osteófitos e alargamento ósseo nas articulações metacarpofalangeanas. Esperava-se
encontrar uma incidência maior de processos degenerativos nos “estaladores” do que
nos “não estaladores”. Mas isso não ocorreu, e a conclusão foi a de que a consequência
principal do hábito de estalar os dedos parece ser o efeito irritante causado naqueles que
são obrigados a ouvir os “cleckes e crackes”.

No segundo trabalho, publicado em 1990, foram investigados 300 pacientes e também


não foram encontrados indícios de que o hábito de estalar os dedos esteja relacionado a
alterações degenerativas. No entanto foi observado uma maior incidência de edema nas
mãos e redução da força de preensão manual entre os “estaladores”. Acho importante
ressaltar que estes resultados devem ser vistos com cuidado, pois pode haver aqui um
viés de confundimento. Pois metodologicamente falando, as duas populações
(“estaladores” e “não estaladores”) eram bem diferentes, sendo o grupo dos
“estaladores” composto por trabalhadores manuais e também tendiam a fumar, beber e
roer as unhas mais frequentemente do que os “não estaladores”. Sendo assim, quem me
garante que este edema e a redução da força não sejam causados pela interação destes
fatores e não pelo estalar de dedos?

É importante ressaltar que estes trabalhos não oferecem respostas definitivas. A única
certeza que posso ter é que estalar os dedos é bom demais e me dá um alívio
danado!Ah! antes que eu me esqueça, tem um outro tipo de estalo articular que não é
causado pela cavitação, e que pode causar lesões do tipo microtrauma. Este outro ruído
é causados pelo ressalto do tendão contra o osso. Quer saber como diferenciar um do
outro? Muito simples:

Se o estalo foi causado por cavitação, você vai precisar esperar uns 30 minutos até
estalar novamente a articulação. Se você puder causar o estalo repetidas vezes sem
necessidade de esperar, então é possível que seja causada por algum tendão resvalando
em contato com o osso e, neste caso, a repetição do estalo pode causar uma inflamação
no tendão ou seja: uma tendinite.

17
MARCOS HISTÓRICOS
DA FISIOTERAPIA
Contos surreais de um universo paralelo Vol.I

Em 1832, Marilda Crowley (foto), estabeleceu as bases do conceito PBE (Porrada


Baseada em Evidências), uma abordagem de fisioterapia extremamente versátil, utilizada para
o alívio de dores nas juntas, coluna, cefaléias, unha encravada, além de ser útil para extrações
dentárias e eventualmente exorcismos.
Marilda Crowley não possuía formação na área da saúde. Na verdade, antes de criar o
método PBE ela era mineradora de carvão na cidade de Deus-me-livre, no norte do Alasca. De
acordo com os registros, em uma manhã de inverno, Marilda acordou sentindo uma dor
intensa na região lombar. Mas apesar do desconforto, ela não quis ficar em casa e preferiu ir
para a mina de carvão quebrar algumas pedras com sua marreta de ferro (coisa que ela fazia
muito bem). Aparentemente os anos que ela passou trabalhando em um ambiente insalubre,
marretando rocha sólida por horas a fio a tornaram extremamente resistente à dor. Naquele
mesmo dia, em um momento de distração, ela acidentalmente golpeou o próprio joelho.
Apesar da marretada ter rachado a patela ao meio e fraturado a tíbia em três partes,
Marilda relatou ter sentido um alívio na lombar. Era como se aquela dor lancinante no joelho
a tivesse feito se esquecer da dor que estava sentido na coluna.
Durante as semanas em que permaneceu hospitalizada para tratar as múltiplas fraturas,
Marilda não voltou a sentir dor lombar. Após refletir muito sobre esse estranho fenômeno, ela
elaborou a teoria de que para tratar uma dor ruim, deve-se causar uma outra dor muito pior, e
tão logo foi capaz de ficar de pé e caminhar, Marilda decidiu testar sua teoria na prática, em
um desenho de pesquisa conhecido como “ensaio clínico duplo-surdo randomizado”, no qual
ela marretava os joelhos dos indivíduos da pesquisa (no caso, os outros pacientes internados
no hospital em que ela estava) e em seguida explicava que iria marretar novamente até a dor
desaparecer. As variáveis pesquisadas eram a intensidade dos gritos de dor (por isso o estudo
se chamava duplo-surdo) e o número de marretadas necessárias para gerar o efeito analgésico.
Os resultados foram simplesmente espetaculares! Absolutamente 100% dos pacientes
referiram melhora e recusaram uma segunda sessão de tratamento. Naquele momento ela
percebeu o imenso potencial terapêutico que um martelo de ferro poderia ter. Ela então
patenteou o método e passou o resto da vida vendendo cursos de marretadas terapêuticas, até o
dia em que virou coach ensinado os fisioterapeutas a faturarem 50K por semana e manter a
agenda sempre cheia. . . . mas essa é uma outra estória.

FONTE: É tudo mentira, essa estória maluca saiu da minha cabeça


Essa simpática estudante encontrou uns artigos bem legais no
PubMed, e ela adoraria usá-los como referência no seu TCC. Mas
os artigos não são de acesso livre e a editora está cobrando os
olhos da cara para deixar ela fazer o download.

Ajude-a a encontrar o caminho para o site do Sci-Hub para que ela


consiga baixar os artigos de graça e terminar logo o TCC.

19
Cadeia cinética aberta versus fechada

Inicialmente é importante saber que historicamente, os princípios e conceitos da cinesiologia


humana e da biomecânica do movimento evoluíram a partir da contribuição da engenharia
mecânica. O conceito de cadeia cinética originou-se em 1955, quando Steindler utilizou teorias de
engenharia mecânica de cinemática fechada e conceitos de ligações (links) para descrever a
cinesiologia humana. De acordo com este modelo, cada um dos segmentos articulares do corpo
envolvidos em um determinado movimento constitui uma ligação ao longo das cadeias cinéticas.

Assim, no caso de uma cadeia cinética


fechada, podemos considerar que vários
segmentos rígidos sobrepostos estão
conectados em uma série de juntas móveis.
Este sistema permite o movimento previsível
de uma junta baseado no movimento de outras
juntas.

Na extremidade inferior do corpo humano,


cada segmento ósseo (fêmur, tibia, tálus, etc)
pode ser visto como o segmento rígido. De
forma similar, as articulações sinoviais
talocrural, subtalar , tibiofemoral e coxo-
femoral como juntas de conexão. Esta
descrição é meio confusa, mas ela refere-se ao
modelo utilizado em engenharia e pode ser
exemplificado na imagem ao lado.
padrão previsível. Se o pé ou a mão se movem
Aplicando estes conceitos ao movimento livremente no espaço em uma cadeia aberta, os
humano, Steindler observou que dependendo movimentos que ocorrem em outros
da carga na “junta terminal”, era possível segmentos da cadeia não são necessariamente
classificar as cadeias cinéticas em duas previsíveis.
categorias distintas: A Cadeia Cinética Aberta
(CCA) e a Cadeia Cinética Fechada (CCF). Tradicionalmente, os protocolos de
Ele observou ainda algo muito mais fortalecimento em reabilitação utilizam
interessante: que o recrutamento muscular e o exercícios em CCA como, por exemplo a
movimento das articulações eram bem flexão e extensão de joelho com o paciente
diferentes quando o pé ou a mão estavam sentado e com uma caneleira. Porém os
livres do que quando o quando o pé ou a mão exercícios em CCA vem perdendo
estavam fixados (ou ao trabalhar contra uma popularidade, e de alguns anos para cá vejo
resistência considerável). um grande enfoque nos exercícios em CCF.

Sempre que o pé ou a mão encontram Porém é preciso enfatizar que tantos os


resistência ou estão fixados, como uma cadeia exercícios em CCA quanto CCF tem seu papel
cinética fechada, os movimentos dos no processo de reabilitação.
segmentos mais proximais ocorrem em um

20
CADEIA CINÉTICA FECHADA A coativação ou co-contração de músculos
agonistas e antagonistas deve ocorrer durante
O movimento em CCF é definido como aquele os movimentos normais para gerar
nos quais as articulações terminais encontram estabilização articular.
resistência externa considerável a qual impede
ou restringe sua movimentação livre. Como mencionado anteriormente, a co-
Exemplos de atividades de CCF dos MMSS contração que ocorre durante atividades em
são: o exercício de flexão de braço (push ups), CCF diminuem as forças de cisalhamento que
a utilização dos braços para se levantar de uma agem sobre a articulação, assim protegendo
cadeira, o apoio dos membros superiores os tecidos moles em processo de recuperação,
durante a marcha com muletas. Exemplos de os quais de outra forma poderiam ser
atividades de CCF dos MMII: descer escadas, danificados em atividades em CCA.
leg press e agachamentos.
Com exercícios em CCA, o movimento
EXERCÍCIOS EM CADEIA CINÉTICA geralmente é isolado em uma única
ABERTA VERSUS CADEIA CINÉTICA articulação. Atividades em CCA teriam como
FECHADA indcação exercícios para aumentar força ou
amplitude de movimento. Eles podem ser
aplicados em uma única articulação
Ambas CCA e CCF oferecem vantagens e
manualmente, como nos exercícios de PNF
desvantagens distintas no processo de
ou por meio de alguma resistência externa
reabilitação. A escolha em se usar uma ou
utilizando therabands.
outra vai depender do objetivo de tratamento.
A preferência em realizar atividades em CCF
Características dos exercícios em CCF
sobre a CCA é baseada na premissa de que
incluem forças compressivas articulares
exercícios em cadeias cinéticas fechadas,
aumentadas, aumento da congruência articular
particularmente nos membros inferiores
e portanto maior estabilidade, redução das
parecem replicar tarefas funcionais melhor do
forças de cisalhamento, redução das forças de
que as CCA . Isto porque a CCF parece
aceleração, forças de resistência aumentadas,
permitir toda uma cadeia muscular se
estimulação dos proprioceptores e melhoria da
exercitar ao mesmo tempo. Além disso,
estabilidade dinâmica. Todas estas
exercícios em CCF demonstraram melhorar a
características estão associadas ao suporte de
congruência articular, diminuir as forças de
peso. Assim, as atividades em CCF ajudam a
cisalhamento e estimular os mecanoceptores
reforçar a sincronização dos padrões de
articulares utilizando carga axial e aumento
ativação muscular tanto para agonistas quanto
de forças compressivas sobre a articulação.
para antagonistas, que se ativam durante
Entretanto, é importante ressaltar que a vasta
estabilização e deambulação.
maioria das atividades funcionais envolve
uma combinação das cadeias cinéticas abertas
Entre as características dos exercícios em
e fechadas. Assim, atividades funcionais são
CCA estão: forças de aceleração maiores,
melhor vistas como parte de um continuum
forças de distração e rotacionais mais intensas,
entre ações de cadeias abertas e fechadas que
forças concêntricas de aceleração e forças de
se alternam e complementam para gerar o
desaceleração excêntricas. Estas são em geral
movimento normal.
características de atividades sem descarga de
peso.

Acredita-se que exercícios em CCF sejam


mais seguros e que produzam forças
potencialmente menos danosas a estruturas em
processo de reparo pós lesão do que os
exercícios em CCA.

21
estereótipo
Padrão estabelecido pelo senso comum e baseado na ausência de
conhecimento sobre o assunto em questão.
Concepção fundamentada em idéias pré-concebidas sobre algo ou alguém,
sem o seu conhecimento real, geralmente de cunho preconceituosos.

22
Biomecânica respiratória - um breve olhar articulatório
Algumas (das incontáveis) considerações teóricas sobre a respiração:
A caixa torácica, ou gradil costal, é formada pelo esterno, cartilagens costais, costelas e
corpos das vértebras torácicas. A contração muscular é o motor que aciona todas essas
engrenagens, resultando nos movimentos de inspiração e expiração. Nesse sentido, eu
gosto de pensar no processo de respiração como se fossem uma orquestra, na qual o
produto final (a música, ou a respiração) só é possível se seus diferentes componentes
trabalharem em harmonia. Essa comparação é bastante poética, não é mesmo? Mas
voltando ao assunto: que tal agora conhecer um pouco mais dos nossos músicos
respiratórios? A seguir vou falar dos componentes ósseos e articulares envolvidos na
respiração (esterno, costelas e vértebras) e como esses elementos interagem durante a
respiração.

O Esterno Cartilagem costal


O esterno, ou osso do peito, é um osso Embora raramente sejam avaliadas e
plano e alongado que forma a linha muitas vezes esquecidas, as cartilagens
média da caixa torácica anterior que se costais agem como segmentos flexíveis
articula com as dez primeiras costelas via que conectam as costelas ao esterno
cartilagens costais. É formado por três contribuindo para a liberdade de
partes: o manúbrio, o corpo e o processo movimentos das costelas.
xifóide. Durante a respiração o esterno
desempenha duas importantes funções:
[1] O esterno se move anterior e Costelas
superiormente durante a inspiração e
posterior e inferiormente durante a As costelas são ossos alongados,
expiração. Esse deslocamento é o achatados e torcidos, muito leves e
principal responsável pelo movimento de resistentes. Existem 3 tipos de costelas:
braço de bomba nas costelas. Costelas verdadeiras, costelas falsas e
[2] O esterno também desempenha o costelas flutuantes. Vamos conhecer
papel de conectar as partes direita e melhor cada uma delas.
esquerda do tórax. Costelas Veradeiras (as sete primeiras)
O comprometimento da conexão entre os As sete primeiras costelas se ligam
hemitoráxes (devido, por exemplo, a diretamente ao esterno por meio das suas
esternotomia , tumor ou má formação cartilagens costais e, posteriormente,
congênita) gera um movimento articulam-se às vértebras T1 a T7. Cada
assimétrico da caixa torácica. Nesse um desses conjuntos forma uma unidade
sentido é importante destacar que essa singular, semelhante a um anel, a qual é
conexão não é apenas óssea. Diversos bastante estável e que acaba limitando a
músculos relevantes para a respiração se mobilidade da coluna torácica nessa área.
inserem no esterno. O movimento Estas são ligadas diretamente ao esterno
assimétrico pode dificultar expansão e através de suas próprias cartilagens
retração do tórax, diminuindo a eficácia costais.
da respiração torácica.

23
Costelas falsas (oitavas, nonas e décimas Pra começar, é preciso reconhecer que
costelas) existem dois padrões de movimento
Possuem cartilagens costais mais longas descritos para as costelas: o movimento
e não se ligam diretamente ao esterno, de “braço de bomba” que ocorre
mas sim à cartilagem costocondral de seu principalmente nas costelas superiores e
vizinho superior, de modo que sua o movimento do tipo “alça de balde” que
fixação ao esterno é indireta. Portanto, ocorre principalmente nas costelas
essa região tem mais mobilidade do que inferiores. Existe ainda um terceiro
as costelas verdadeiras. movimento chamado “pinça de
caranguejo” que foi atribuído às duas
últimas costelas. No entanto, esse tipo de
Costelas flutuantes (décimas primeiras e movimento não é aceito universalmente
segundas costelas) e, em alguns livros, sequer mencionado.

Apesar do nome, essas costelas não se


encontram soltas e muito menos
Movimento de braço de bomba
flutuando livremente no corpo humano.
(costelas superiores)
Os dois últimos pares de costelas se
articulam às vértebras T11 e T12, mas Sei que muita gente simplesmente não
não ao esterno. Elas são essenciais para a consegue entender o que diabos é um
proteção de órgãos vitais, como os rins e braço de bomba. Portanto, vamos
as glândulas supra-renais. começar justamente explicando a qual
bomba e a qual braço este termo se
Vértebras torácicas
refere. Em um passado não muito
A fixação das costelas no esterno e, distante, a rede elétrica não alcançava
posteriormente, à coluna vertebral entre T1 muitas regiões do Brasil, em especial as
e T7 (costelas verdadeiras) limita a zonas rurais. Naquela época, os
mobilidade da coluna torácica nessa área. chamados poços artesianos eram a fonte
Há pouca mobilidade onde a costela se de água para muitas casas. Como não
prende à cartilagem antes de se estender ao possuíam energia elétrica, a retirada da
esterno. água era feita por meio de uma bomba
manual a qual possuía uma alavanca
Respiração - Movimento das costelas e
(também chamada de braço) que deveria
função da caixa torácica para respirar
ser movida pra cima e pra baixo para
A caixa torácica se expande e se contrai bombear a água do fundo do poço até a
durante a respiração. O principal músculo da superfície. . . e esta é a origem do termo
respiração é o diafragma e ele é auxiliado braço de bomba.
pelos intercostais. A natureza automática do
ciclo respiratório é controlada nos centros À medida que inspiramos, o esterno
respiratórios do tronco cerebral. Até aqui, desloca-se para frente e para cima,
provavelmente, não estou revelando elevando as costelas superiores (da
nenhum conhecimento maçônico secreto, primeira até a sexta costelas) e com isso
afinal de contas a gente aprende isso já nos aumentando diâmetro ântero-posterior do
primeiros períodos da faculdade. Mas tórax. A comparação com o braço de
alguma vez você já parou pra pensar em bomba está no fato de que a extremidade
como as articulações trabalham em conjunto anterior (esternal) move-se para cima e
para permitir essa expansão e retração da para fora, lembrando o movimento de
caixa torácica? bombear água.

24
Movimento em alça de balde

Ao inspirar, as costelas inferiores (7ª a


10ª costelas) se movem lateralmente e
para cima, ampliando o diâmetro lateral
da cavidade torácica são aumentadas. A
comparação com a alça do balde é bem
fácil de entender.

Este movimento predomina nas costelas


inferiores, já que as cinco primeiras
possuem cartilagem própria e podem se
movimentar mais no sentido braço de Movimento em braço de bomba
bomba, enquanto que as inferiores tem
uma cartilagem comum que limita este
movimento e também as inserções do
diafragma aumentam os movimentos de
alça de balde.

Uma mensagem final.


A compreensão de como as costelas se
movem é fundamental para entender
como os músculos da respiração
expandem a caixa torácica durante a
respiração. Também nos ajudam a aplicar
as técnicas desobstrutivas de forma mais
eficiente e confortável para os pacientes.
Espero em uma próxima postagem falar Movimento em alça de balde
sobre a ação dos músculos envolvidos
com a respiração.

25
Gabarito – palavras cruzadas

26
Gabarito – Caça-palavras e Labirinto

27

Você também pode gostar