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artigo de revisão
CRÔNICA NO DESEMPENHO FUNCIONAL
EM MULHERES
Karla Cavalcante Silva de Morais*
Anna Carolina Nogueira Cardoso Ferreira**
RESUMO
A doença venosa representa para a sociedade contemporâ-
nea grande problema socioeconômico. Este estudo tem co-
mo objetivo investigar as principais queixas das mulheres
que sofrem de insuficiência venosa crônica (IVC) e como os
sintomas da doença podem prejudicar no desempenho fun-
cional, visto que a atividade laboral exige na maioria das ve-
zes a manutenção de posturas estáticas de sedestação ou
ortostase durante períodos prolongados. A pesquisa foi reali-
zada na Clínica de Angiologia Vasculary, situada no municí-
pio de Vitória da Conquista - BA. A análise foi feita através da
aplicação de um questionário sociodemográfico e outro es-
pecialmente desenvolvido e validado para avaliar a qualidade
de vida em paciente portador de doença venosa através da
dimensão física, social e psicológica, abrangendo todos os
fatores relevantes na percepção de saúde dessas mulheres
de acordo com a gravidade clínica da doença. Os resultados
obtidos no presente estudo confirmaram a presença de de-
terminados fatores de risco, especialmente história familiar
com parentesco de 1º grau (63%), duas ou mais gestações
(73%) e manutenção em uma mesma postura por períodos
prolongados (77%). O questionário VEINES-QOL-Sym evi-
denciou uma qualidade de vida insatisfatória de acordo com
o escore total obtido VEINES QOL (50,00) E VEINES Sym
(32,95), além de verificar que a doença provoca um impacto
negativo no desempenho funcional das pacientes, mesmo * Docente do curso de Fisioterapia da
naquelas que estão incluídas na classe de pacientes menos Faculdade Independente do Nordeste
comprometidas de acordo com a classificação CEAP. Con- (FAINOR). Mestranda em Saúde Pública
(FIOCRUZ); Especialista em Saúde
clui-se com este estudo que, a IVC mesmo em seus estágios Coletiva com ênfase em PSF (FAINOR) e
iniciais é capaz de causar algum tipo de limitação e afetar a Especialista em Fisioterapia Traumato-
Ortopédica e Reumatoló-gica. E-mail:
qualidade de vida das mulheres entrevistadas. karlinhakau@hot-mail.com
** Graduanda do curso de Fisioterapia da
Faculdade Independente do Nordeste
Palavras-chave: Sistema Venoso. Insuficiência Venosa Crônica. Quali- (FAI-NOR). E-mail: annacarolfisio@
dade de Vida. Desempenho Funcional. gmail.com
1 INTRODUÇÃO
doença. Este estudo irá ater-se apenas a mo garantia às questões éticas e bioéti-
classificação clínica (Anexo A). De acordo cas.
com essa classificação, os sinais clínicos
são divididos em 7 classes, sendo: C0; 2.6 COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA
sinais de doença venosa não visíveis e
não palpáveis; C1 - telangectasias ou vei- Esta pesquisa foi previamente
as reticulares; C2 - veias varicosas;C3 - submetida ao comitê de ética (CEP) da
edema; C4 - alterações da pele e do teci- Plataforma Brasil pelo parecer de número
do subcutâneo decorrente da doença ve- 823.644, CAAE 35119414.9.0000.5578 e
nosa ( 4a- hiperpigmentação ou eczema; tendo sido aprovada obteve autorização
4b lipodermatoesclerose ou atrofia branca da instituição para dar início a coleta de
) C5 alterações da pele com úlcera cicatri- dados. Todas as pacientes foram infor-
zada; C6 - alterações de pele com úlcera madas sobre os objetivos da pesquisa e
ativa (COSTA et al., 2012). assinaram o termo de consentimento livre
e esclarecido de acordo com o Comitê de
2.5 PROCEDIMENTOS ética em Pesquisa (CEP), com seres hu-
manos conforme resolução 466/12 do
Foram efetuadas visitas prévias Conselho Nacional de Saúde (CONEP)
com os diretores da clínica VASCULARY para que os dados pudessem ser utiliza-
em Vitória da Conquista - BA para obten- dos e os resultados divulgados.
ção da permissão para a realização da
pesquisa, logo após o envio prévio do pe- 2.7 ANÁLISE DE DADOS
dido de autorização para a coleta de da-
Os dados coletados foram lança-
dos (ANEXO D).
dos e organizados em planilha EXCEL.
Foi explicado às participantes os
Foi realizada a análise descritiva através
objetivos do estudo e a confidencialidade
de média, desvio padrão e valor mínimo e
dos dados, mantendo o sigilo e anonima-
máximo.
to. Após foi aplicado o termo de consenti-
mento livre e esclarecido (ANEXO E), on-
de o pesquisador se compromete a man-
ter o sigilo da identidade do paciente co-
valência de baixo nível de escolaridade e cia para níveis normais variam entre (18,5
baixa renda econômica, o que poderia e 24,9)
interferir na compreensão da doença e Foi perguntado as pacientes se e-
nos cuidados com a mesma. Este mesmo las possuíam outro problema de saúde
estudo verificou que atividades que exi- que não a IVC. Entre as patologias ques-
gem do indivíduo permanecer por longos tionadas incluía hipertensão, diabetes,
períodos em uma mesma postura (de pé linfedema, cardiopatias entre outros. Em
ou sentado) contribuem significativamente relação à outras patologias, 57% das par-
para desenvolvimento e manutenção da ticipantes referiram que possuíam, sendo
doença venosa crônica, principalmente que 34% eram hipertensas, 6% diabéticas
em indivíduos com jornada dupla de tra- e 17% outras patologias que não foram
balho. questionadas no estudo. Dessas pacien-
Quanto à profissão houve preva- tes que confirmaram possuir outra patolo-
lência da profissão de doméstica (27%), gia associada 60% relataram fazer uso de
seguida de comerciante (13%), funcioná- medicamentos. O fato de a maioria das
ria pública (10%), caixa (7%), empreen- mulheres possuírem outras patologias
dedora (7%) e professora (6%). Corrobo- associadas talvez possa interferir na aten-
rando com Costa et al. (2012), todas as ção que elas dão no cuidado com o pro-
atividades acima citadas, requer das tra- blema venoso, se considerar o outro pro-
balhadoras a permanência prolongada em blema de saúde como sendo mais impor-
ortostatismo ou sedestação. tante.
A tabela 2 mostra os dados clínicos Ao serem questionadas quanto a
onde foram feitas perguntas sobre peso e presença de doença venosa na família
altura para cálculo de índice de massa 63% disseram que sim e destas, 63% e-
corpórea (IMC), doenças associadas, uso ram através de parentesco de primeiro
de medicamentos, história de DVC na fa- grau. Tanto a obesidade, quanto a heredi-
mília, etc. O IMC é o índice recomendado tariedade tem sido apontadas como po-
para a medida de obesidade em nível po- tenciais fatores de risco para o desenvol-
pulacional e na prática clínica, e o resul- vimento ou manutenção da IVC.
tado revelou que a média das participan- Quanto ao tempo de diagnóstico,
tes foi de 26,60, o que indica o início de 68% das pacientes tomaram conhecimen-
sobrepeso, já que os valores de referên- to do mesmo há mais de três anos, 20%
uso contínuo pode provocar hipertensão Para Lida (1997) O trabalho estáti-
venosa nos membros inferiores podendo co é aquele que exige contração contínua
ser uma situação que contribua para a de alguns grupamentos musculares para
evolução da doença de menor para maior manutenção da postura, é altamente fati-
gravidade, no entanto, não foi perguntado gante e deve sempre que possível ser
no presente estudo, se as pacientes não evitado ou aliviado através de mudanças
gostam de usar salto, ou se deixaram de de posturas ou pausas de curta duração.
usá-lo após os problemas nos membros Os resultados obtidos no estudo
inferiores. de Berenguer et al. (2011) sugerem que a
Com relação às vestimentas 77% permanência na postura ortostática pode
das participantes responderam que não ter influência no desencadeamento e ou
usavam roupas apertadas, discordando agravamento nos sinais e sintomas refe-
do estudo de Bertoldi e Proença (2008) rentes aos transtornos circulatórios dos
que observaram em seu estudo que os membros inferiores, sugerindo aos postos
participantes faziam uso de roupas e cal- de trabalho o fornecimento de equipamen-
çados constritivos e considera que o uso tos de proteção individuais (EPIs) como
de vestimenta justa pode prejudicar o flu- meias de compressão elástica, além de
xo sanguíneo e linfático. um melhor aprofundamento do tema no
A prisão de ventre também tem si- intuito de estabelecer um protocolo de
do apontada como provável fator de risco prevenção e tratamento das doenças ve-
para desenvolvimento da doença venosa, nosas em relação as atividades laborais
visto que a força imposta para evacuar nos postos de trabalho que exigem manu-
gera um aumento da pressão abdominal, tenção da postura mantida.
50% das participantes tinham prisão de Quanto ao inchaço na perna, 94%
ventre, porém não foram encontrados re- das mulheres que participaram da pesqui-
sultados na literatura referente a esse da- sa sentem esse sintoma ao longo do dia,
do. porém apenas 40% delas fazem uso de
Quanto a postura, 77% permaneci- meias compressivas para minimizar esse
am por muito tempo em uma mesma pos- sintoma. Segundo França et al.(2003), a
tura e destas 6% em torno de uma hora, compressão elástica atua diminuindo o
14% em torno de duas horas e 57% por diâmetro do vaso e aproximando os folhe-
três horas ou mais. tos das válvulas, atenuando ou suprimin-
do o refluxo, assim diminui a pressão ve- de dores nas pernas e nos pés, o que po-
nosa e aumenta a velocidade do fluxo de potencializar outros elementos que
sanguíneo venoso, podendo gerar regres- favorecem a doença venosa.
são parcial das alterações da parede ve-
Tabela 4 – Dados referente a Dor
nosa.
Com relação ao trabalho, 37% das
participantes já precisaram se afastar do
trabalho por causa do problema e 83%
relataram se sentirem incomodadas com o
aspecto das varizes.
A tabela 4 indica os dados referen-
te a dor, onde 87% das participantes rela-
taram sentir dores nas pernas. A intensi-
dade da dor foi classificada de forma sub-
jetiva considerando a escala visual analó-
gica (EVA), que consiste numa reta de 10
cm, onde nas extremidades constam as Fonte: Dados da Pesquisa
da CEAP tem sido muito utilizada para É possível observar que a maior
definir a gravidade clínica da doença atra- parte das pacientes (83,3%) pertence ao
vés da inspeção visual. O estudo de grupo das pacientes menos comprometi-
Moura et al. (2010) e de Costa et al. das, o que teoricamente nos remete o en-
(2012) evidenciou associação negativa e tendimento de que essas mulheres não
significativa entre qualidade de vida e a tenham um impacto tão significativo no
classificação da CEAP. desempenho funcional. Para essa avalia-
ção, foram analisadas de forma isolada as
Tabela 5 - Classificação CEAP
perguntas referentes a funcionalidade que
estão contidas no questionário VEINES .
Segundo Battistella e Brito (2001), o termo
funcionalidade é utilizado nos dias de hoje
como forma de substituir antigos termos
como, incapacidade, deficiência, invalidez
entre outros, sendo que, o estado funcio-
Fonte: Dados da Pesquisa
nal aborda as perdas referentes às doen-
Para análise do desempenho fun- ças, especialmente no perfil da funcionali-
cional das pacientes desse estudo, será dade sobre a capacidade do indivíduo
feita uma divisão da classe CEAP. As pa- interagir com si mesmo, com o trabalho,
cientes que pertencem à classe Ceap (1, com a família e com a sociedade.
2 e 3) serão consideradas menos com- A tabela 7 e 8 mostram os dados
prometidas e as pacientes da classe (4, 5 referentes a possíveis limitações na reali-
e 6) serão classificadas como mais com- zação das atividades no trabalho e em
prometidas. A tabela 6 mostra essa divi- casa além do relato das pacientes de co-
são. mo está seu problema na perna no perío-
do de um ano atrás até o presente mo-
Tabela 6 - Dados referentes ao comprometimento
de acordo com a classe CEAP mento.
Classificação CEAP
N %
Menos comprometidos 25 83.3
Total 30 100.0
atividades no trabalho e em outras ativi- está da mesma forma, 23% está um pou-
dades. co pior e 20% muito pior agora do que há
Tabela 8 – Dados referente a situação da IVC de um ano atrás. Das pacientes que disse-
hoje há um ano atrás e ao desempenho no traba-
lho e em outras atividades (retirada do VEINES) ram estar muito melhor atualmente, gran-
de parte foi devido a realização de cirurgia
ou escleroterapia, mais uma vez confir-
mando o estudo de SOUZA et al.(2011),
que diz que a correção cirúrgica melhora
funcionalmente o sistema venoso. Já as
pacientes que relataram estar muito pior
hoje está associado a negligência da evo-
lução da doença, confirmando que a bus-
ca por tratamento se dá na maioria das
vezes quando os sintomas pioram.
Quanto a quantidade de tempo
gasto no trabalho ou em outras ativida-
des, e se precisou realizar menos ativida-
des do que gostaria, 40% das pacientes
reduziram o tempo e realizaram menos
atividades, enquanto 60% das participan-
tes não tiveram este problema.
Quando perguntadas se foram limi-
tadas no tipo de trabalho, 37% das paci-
entes disseram que sim e 63% disseram
desempenho funcional nas mulheres par- mais intensa, sendo considerada uma
ticipantes desta pesquisa, é possível de- questão meramente descritiva. Escores
duzir que, mesmo que a maioria das mu- mais altos indicam melhor percepção da
lheres sendo classificadas neste estudo qualidade de vida.
na classe de pacientes menos comprome- O escore obtido neste estudo está
tidas (de acordo com a classificação CE- demonstrado no quadro abaixo, sendo um
AP) a doença causa um grande impacto indicativo de QDV não satisfatório consi-
funcional, visto que um número expressi- derando uma escala de 0 a 100.
vo dessas pacientes, considerando o ta-
Quadro 1-Escore VEINES-QOL e SYM
manho da amostra, possuem algum tipo Escore VEINES-QOL = 50,00
Escore VEINES-SYM = 32,95
de limitação, seja ela para atividades do
Fonte: Dados da Pesquisa
trabalho ou atividades do dia a dia, desta
Ainda em relação ao questionário
forma as comparações aqui mostradas
VEINES, a questão 2 mostra os dados
podem representar um fator de risco para
relacionado com o momento do dia em
quadros de piora, visto que, se conside-
que a dor é mais intensa, e não faz parte
rarmos a evolução natural da doença, es-
da contabilização dos pontos para a ob-
pecialmente em casos de tratamento ne-
tenção do escore do questionário, porém
gligenciado, essas limitações tendem a se
fornece informação importante para en-
tornar mais graves afetando ainda mais o
tendimento dos fatores que podem levar a
desempenho funcional e a qualidade de
maior parte das mulheres sentirem pioras
vida dessas pacientes.
dos sintomas neste momento do dia.
Quanto a qualidade de vida das
participantes, foi analisado o escore total Quadro 2- Dores durante o dia
N %
obtido pelo questionário VEINES- Ao final do dia 26 86,7
Durante a noite 3 10,0
QOL/Sym, este instrumento produz dois A qualquer momento do
1 3,3
dia
escores, o primeiro diz respeito ao impac- Total 30 100,0
Fonte: Dados da Pesquisa
to da doença venosa na qualidade de vida
(VEINES QOL, questões 1,3,4,5,6,7,8) o De acordo com as respostas do
segundo está relacionado aos sintomas questionário, 86,7% das pacientes relata-
que a doença causa (VEINES Sym, ques- ram que a dor é pior no final do dia, o que
tões 1 e 7). A questão 2 está relacionada deduz que a dor está associada ao fim da
com o momento do dia em que a dor é jornada de trabalho após um dia exaustivo
44 InterScientia, João Pessoa, v.2, n.3, p.29-47, set./dez. 2014
O Impacto da insuficiência venosa crônica no desempenho funcional em mulheres
ABSTRACT
Venous disease accounts for the vast contemporary society socioeconomic prob-
lem. This study aims to investigate the main complaints of women suffering from
chronic venous insufficiency (CVI) and how the symptoms can impair functional
performance, since the work activity requires mostly maintaining static postures or
sitting position orthostasis for prolonged periods. The research was conducted at
the Clinic of Angiology Vasculary, located in Vitória da Conquista - BA. The analy-
sis was done by applying a sociodemographic questionnaire and other specially
developed and validated to assess quality of life in patients with venous disease
through physical, social and psychological dimension, covering all relevant factors
in the perception of health of these women according to the clinical severity of the
disease. The results obtained in this study confirmed the presence of certain risk
factors , especially family history kinship with 1st degree (63%), two or more preg-
nancies (73%) and in maintaining the same posture for prolonged periods (77%).
The questionnaire VEINES -QOL - Sym showed an unsatisfactory quality of life
according to the total score obtained VEINES QOL (50,00 ) And VEINES Sym (
32,95 ) , and verify that the disease causes a negative impact on the functional
performance of patients , even those who are classed as less committed patients
according to the CEAP classification. It is concluded from this study that the IVC
even in its early stages can cause some limitations and affect the quality of life of
the women interviewed.
Keywords: Venous System. Chronic Venous Insufficiency. Quality Of Life. Functional Perfor-
mance.
REFERÊNCIAS