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SÍNDROME DO IMOBILISMO: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Indra Peixoto Godinho1 , Flávio Cunha de Faria2 , Luiz Rezende Junior3 , Maria Thereza Soares de Mattos4 , Matheus
Lima Sanglard5 , Gustavo Henrique de Melo da Silva6

INTRODUÇÃO

O processo do envelhecimento é um evento contínuo, multifatorial, individual, complexo, com forte influência dos
hábitos de vida da pessoa (PEREIRA et al., 2009). Quando se pensa em idade, deve-se pensar em idade biológica,
funcional, social ou mesmo psicológica, porém, o envelhecimento são as alterações morfofisiológicas progressivas que
iniciam-se, principalmente, após o período fértil até o fim da vida (PEREIRA et al., 2009). O ponto de maior impacto do
processo de envelhecer é o declínio da funcionalidade dos tecidos e órgãos, consequentemente, o aumento da
mortalidade do indivíduo (PEREIRA et al., 2009). De um modo geral, a saúde do idoso está intimamente relacionada a
funcionalidade geral durante o processo de envelhecimento, impactando diretamente na qualidade de vida desses
indivíduos (MARTIN et al., 2006). O normal é que com o envelhecimento também surja os problemas orgânicos, sociais
e psicológicos, que, frequentemente, encaixam-se em um ou mais das 5 principais síndromes geriátricas: incontinência
urinária e/ou fecal; instabilidade postural; iatrogenia; insuficiência cerebral e imobilidade (MARTIN et al., 2006).

Aproximadamente 1/5 dos idosos com mais de 75 anos possuem algum agravo na sua mobilidade, cujas principais
causas são hospitalização prolongada, doenças neurológicas, doenças osteoarticulares, depressão e demência
(BOECHAT et al., 2012). O processo de imobilidade é progressivo e tende a afetar todos os sistemas orgânicos, o que
leva à anorexia, sarcopenia, depressão, bexigoma, úlceras de pressão, hipotensão ortostática (MORAES et al., 2010).

A Síndrome da Imobilidade é o conjunto de sinais e sintomas que acometem o idoso acamado por longo período de
tempo e leva ao grau máximo de imobilidade, bem como a uma perspectiva negativa de longevidade e qualidade de
vida (BOECHAT et al., 2012). Para classificar um idoso como portador da síndrome da imobilidade, necessita-se mais do
que este está acamado ou ser dependente (MORAES et al., 2010). Na Síndrome da imobilidade o idoso deverá
apresentar dois critérios maiores que são: múltiplas contraturas em grandes articulações e déficit cognitivo moderado a
grave; e dois critérios menores, dentre os quais têm-se: afasia, dupla incontinência (fecal e urinária), disfagia e úlceras
de pressão (MORAES et al., 2010).

Os idosos que estão restritos ao leito por um período maior que 15 dias, em geral, são os que desenvolvem a SI.
Entretanto, várias patologias podem ser a causa dessa intercorrência nos idosos. Essa síndrome leva, principalmente, às
manifestações osteomusculares, tegumentares, neuropsiquiátricas e urinárias (CARLA et al., 2011). Nessa síndrome há
importante atrofia muscular que leva à perda de sarcômeros e força, bem como ao aumento do tecido conjuntivo, o
que prejudica a perfusão das fibras musculares. Tais alterações musculares deformam as articulações o que resulta em
contraturas que limitam a amplitude dos movimentos. Observa-se, ainda, perda de massa óssea responsável pelo
desenvolvimento de osteoporose ou osteomalácia (LEDUC et al., 2016). A pele senil apresenta desidratação, redução de
elasticidade e espessura em cerca de 20% a 30%. Tais condições fisiológicas favorecem o surgimento de lesões
dermatológicas em pacientes com síndrome da imobilidade. As lesões comumente encontradas são úlceras por pressão,
dermatite amoniacal, lacerações e equimoses (VOJVODIC, 2004). Em relação aos distúrbios neuropsiquiátricos
destacam-se alterações cognitivas, delirium, depressão, demência, bem como afasia e disfagia. Essa é responsável pela
menor ingestão de nutrientes que pode levar à caquexia, além de pneumonia aspirativa (LEDUC et al., 2016). A maioria
dos pacientes com SI apresentam incontinência urinária (IU) devido ao estágio avançado de demência. A IU é
considerada uma grave alteração, visto que favorece o desenvolvimento de lesões tegumentares, a exemplo, dermatite
amoniacal (FIGUEIREDO et al., 2008). De acordo com Chaimowicz e colaboradores (2013), a infecção do trato urinário
ocorre em 40% dos pacientes diagnosticados com SI.

A prevenção é a principal forma de tratamento da imobilidade, visando à reabilitação do paciente e possibilitando assim
o retorno a suas atividades da vida diária. A principal forma de reabilitação é a fisioterapia, na qual através do programa
de cinesioterapia promove a movimentação do paciente, utilizando de movimentos ativos ou passivos, de acordo com a
condição clínica do mesmo, com o objetivo de prevenir contraturas articulares ou osteomusculares. A movimentação
precoce promove também melhora da nutrição e oxigenação de órgãos internos, além de diminuir a incidência de
trombose venosa profunda e tromboembolismo pulmonar. (BOECHAT et al, 2012) A síndrome da imobilidade não
responde ao tratamento curativo, portanto o tratamento é basicamente paliativo, no qual o foco não está na cura da
enfermidade, mas sim na melhora da qualidade de vida do idoso e atenuação de possíveis complicações. O tratamento
deve ser voltado a minimização dos sintomas, tais como, alivio da dor, alterações gastrointestinais como náuseas,
vômito, xerostomia, diarreia, anorexia, obstipação e sintomas urinários. É importante também o tratamento de doenças
associadas, como depressão, que é muito comum em paciente com imobilidade, assim como delirium, principalmente
devido ao uso de determinados medicamentos, que podem ser alterados para melhora do quadro do paciente (LEDUC
et al., 2016). O tratamento da síndrome da imobilidade deve ser realizado por uma equipe interdisciplinar composta
pelo geriatra, enfermeira, nutricionista, terapeuta ocupacional, assistente social, fonoaudiólogo, coordenador de
cuidados e fisioterapeuta (LEDUC et al., 2016).

Síndrome da fragilidade no idoso: importância da fisioterapia


Camila Macedo, Juliana Maria Gazzola, Myrian Najas

Introdução

O termo fragilidade tem sido utilizado na prática para designar, dentre a população de idosos, aqueles que apresentam
características clínicas atribuídas ao envelhecimento, associado à existência de comorbidades, como por exemplo,
diminuição da massa e da força muscular, exaustão, alteração da marcha e do equilíbrio, anorexia, perda de peso
progressiva. Todos esses fatores levam a um maior risco de eventos adversos como quedas, incontinência urinária,
hospitalização e morte¹. A fragilidade está associada à idade, embora não seja resultante exclusivamente do processo de
envelhecimento, já que a maioria dos idosos não se torna frágil obrigatoriamente. Ela está relacionada com a presença
de comorbidades, pois as doenças crônicas que surgem nas fases mais avançadas da vida tendem a ser menos letais e a
se acumularem durante o processo de envelhecimento.

Não há consenso definido quanto ao termo fragilidade, nem como poderia ser identificada ou mesmo avaliada. As
primeiras definições que utilizaram critérios para indicação de fragilidade consideraram idosos frágeis, indivíduos com
mais de 65 anos de idade, dependentes para atividades de vida diária (AVD) e geralmente institucionalizados². Mais
recentemente, para ser considerado frágil, o idoso deve atender a um critério, dentre vários. Deve-se incluir a doença
crônica incapacitante, o estado de confusão mental, a depressão, as quedas, a incontinência urinária, a desnutrição, as
úlceras por pressão e os problemas socioeconômicos3 . Desta forma, a fragilidade pode ser observada quando o idoso
preenche no mínimo quatro das seguintes características: idade igual ou superior a 80 anos, depressão, instabilidade de
equilíbrio e marcha, diminuição da força de preensão palmar, uso de sedativos, diminuição da força nas articulações dos
ombros e joelhos, déficits nos membros inferiores (MMII) e déficit visual4 .

Fragilidade é considerada, por muitos autores, estado clínico de vulnerabilidade aos fatores estressantes que resultam
no declínio das reservas fisiológicas, com subseqüente diminuição da eficiência da homeostase. Nos indivíduos, a
fragilidade indica uma condição prevalente em mulheres, caracterizada por alto risco para conseqüências adversas,
quedas, incapacidade, hospitalização, institucionalização e morte.

Intervenções fisioterapêuticas

Como não há consenso sobre a definição e a etiologia da fragilidade, os resultados das estratégias e dos tratamentos
fisioterapêuticos foram alcançados sem a definição precisa da síndrome9 . As características individuais e o grau de
fragilidade devem ser observados na definição dos planos de tratamento, sejam elas a curto ou longo prazo12. A perda
de massa muscular é acentuada nos idosos frágeis, mas estudos têm mostrado que os exercícios físicos são benéficos
para os idosos nessa condição de saúde. O tratamento fisioterapêutico tem apresentado resultados significativos nessa
população, levando ao aumentando da amplitude de movimento (ADM), melhor desempenho na realização das AVD,
melhora na velocidade da marcha, melhora do equilíbrio, redução no número de quedas e bem-estar geral30. É
fundamental que durante o processo de envelhecimento, ocorra a maior concentração possível de massa muscular para
que se possa retardar a perda inexorável decorrente dela mesma e assim promover menor impacto sobre a qualidade
de vida dos idosos20. Desta forma, vale a pena ressaltar que a prevenção é a estratégia mais importante e eficiente para
atingir esses objetivos.

Treinamento de força muscular

O treinamento do exercício físico resistido tem sido cada vez mais indicado para idosos, como uma maneira eficaz e
segura de melhorar a força muscular e a capacidade funcional31,32. O aumento da capacidade do músculo de gerar
força é explicado a partir do princípio de sobrecarga; o grupo muscular é submetido a um trabalho com cargas mais
elevadas do que está acostumado a suportar, gerando aumento de tamanho e força32. Estudos revelaram melhora
significativa da força do quadríceps e de tempo de caminhada, em treino com carga versus nenhum treino33. Indivíduos
muito idosos (média de idade de 87 anos), institucionalizados, que realizaram treino de resistência associado à
suplementação nutricional, por dez semanas, tiveram aumento de força muscular, bem como melhora objetiva da
marcha, velocidade e atividade física espontânea. Os potenciais benéficos a longo prazo são: o menor número de
quedas, aumento da mobilidade e independência34. Pesquisas mostram aumento da síntese protéica muscular em
resposta ao treino de resistência. Mudanças na inervação e padrão de ativação muscular também ocorrem com o
treinamento, melhorando o desempenho motor35. O treinamento de força deve ser realizado pelo menos duas vezes
por semana, com um mínimo de 48 horas de repouso entre as sessões, para a recuperação da musculatura e prevenção
do super treinamento. Recomenda-se realizar de oito a dez exercícios com oito a 12 repetições para cada conjunto. A
seleção dos grupos a serem trabalhados deve ser direcionada aos grandes grupos musculares, sendo que a duração das
sessões não deve ultrapassar a 60 minutos. Recomenda-se inspirar antes de levantar a carga e expirar durante a
contração, evitando a manobra de valsalva36. A prática de exercícios de resistência ainda é a intervenção mais efetiva
para aumentar a massa e força muscular em idosos. É importante ressaltar que alguns idosos podem ter ingestão
alimentar reduzida e necessidades protéicas aumentadas, dificultando a obtenção dos efeitos do treinamento de
resistência se a nutrição não for adequada36,37. O aumento das habilidades funcionais com treinamento de força
somente tem sido verificado para indivíduos frágeis. As posições em velocidades em que os exercícios de força são
realizados não são relevantes para a execução das AVD e AIVD, indo ao encontro do princípio de especificidade do
treinamento38,39. Em estudo de treinamento de força, com indivíduos idosos, para verificar as influências sobre os
riscos de quedas, evidenciou-se que a intensidade do treinamento deve ser progressiva, com uma freqüência de três
vezes por semana e intensidade de 50% de uma repetição máxima (RM), passando para 80% de uma RM nas duas
últimas semanas. Neste estudo, verificou-se um aumento de 32 a 48% de força muscular40. O treinamento de alta
intensidade vem sendo indicado para promover ganhos de força máxima, no entanto, neste estudo os resultados
demonstraram que, o treinamento de baixa a moderada intensidade mostrou-se tão eficaz quanto os de alta para esta
finalidade. Quanto aos testes funcionais, os resultados foram estatisticamente significativos (p < 0,05), indicando que o
treinamento de força pode estar diretamente associado à diminuição do risco de quedas40.

Equilíbrio e velocidade de marcha

O treinamento da capacidade aeróbia tem se mostrado efetivo para diminuir a taxa de quedas e também para modificar
os seus fatores de risco, em função dos ganhos de força muscular, mobilidade articular, aumento da velocidade da
marcha e melhora na qualidade do equilíbrio39. A perda da capacidade aeróbia dificulta a execução das AVD e AIVD
(por exemplo, subir escadas, vestir-se, atravessar a rua), pois para realizá-las é necessário o condicionamento
cardiovascular. Com base nisto, o treinamento da capacidade aeróbia seria uma estratégia de prevenção de quedas.
Alguns estudos têm mostrado aumento das habilidades funcionais quando o treinamento de força é combinado com
outros tipos de treinamento; sua associação ao treinamento da capacidade aeróbia e do equilíbrio tem se mostrado
mais eficiente para aumentar o controle do equilíbrio e a velocidade da marcha39,41. Os exercícios para treino de
equilíbrio devem ter duração de dez a 30 segundos com duas a três repetições para cada posição ou exercício,
perfazendo um total de dez a 15 minutos. Os exercícios de equilíbrio podem ser estáticos e/ou dinâmicos, que envolvam
alterações no input visual, mudanças na superfície de sustentação e redução da base de sustentação, e aumentem
gradativamente o nível de dificuldade e complexidade das posições37. Assim podem ser propostas para a terapia:
aumentar o tempo em cada posição, utilizar espumas de densidades e materiais diferentes, posicionar a cabeça em
diferentes angulações, usar diferentes conflitos visuais, variar a base de sustentação, entre outros recursos.

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