Você está na página 1de 7

Particularidades dos idosos: uma revisão

sobre a fisiologia do envelhecimento


Graduada em Educação Física, pela Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC)
Especializanda em Saúde da Família. Departamento de Saúde
Andrea Ferreira Cardoso
Pública, deiaacardoso@yahoo.com.br
Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa (Brasil)
Catarina (UFSC)
Resu mo
O envelhecimento normal é um somatório de modificações físicas e psicológicas. As síndromes
geriátricas estão geralmente relacionadas ao envelhecimento dos órgãos e sistemas, e podem ser
agravados de acordo com o estilo de vida adotado pelo idoso. É importante entender as peculiaridades
anatômicas e fisiológicas do envelhecimento para melhor atender esta população.
Un it er mos: Idosos. Envelhecimento. Fisiologia.

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 130 - Marzo de 2009

1/1

Intr odução

A senescência resulta do somatório de alterações orgânicas, funcionais e psicológicas do


envelhecimento normal, enquanto a senilidade é caracterizada por afecções que
freqüentemente acometem os indivíduos idosos (MACEDO, 2006).

As doenças são as causadoras da perda das reservas orgânicas e, conseqüentemente, da


aceleração do envelhecimento, processo de declínio gradativo da função dos vários sistemas
orgânicos.

Para Souza (2002), conhecer a diferença entre esses dois processos dá subsídios para saber
quando e como intervir no processo de envelhecimento. É de suma importância entender as
peculiaridades anatômicas e fisiológicas do envelhecimento para poder melhor tratar o idoso.

Alterações anatômicas

Segundo Rossi e Sader apud Freitas et al. (2002), ocorrem modificações anatômicas na
coluna vertebral, que causam redução na estatura, aproximadamente 1 a 3 cm a cada década.
Após os 50 anos de idade inicia-se a atrofia óssea, ou seja, a perda de massa óssea que poderá
levar a fraturas. A cartilagem articular torna-se menos resistente e menos estável sofrendo um
processo degenerativo. Ocorre diminuição lenta e progressiva da massa muscular, sendo o
tecido gradativamente substituído por colágeno e gordura. As alterações no sistema
osteoarticular geram a piora do equilíbrio corporal do idoso, reduzindo a amplitude dos
movimentos e modificando a marcha. Além disso, o envelhecimento modifica a atividade celular
na medula óssea, ocasionando reabastecimento inadequado de osteoclastos e osteoblastos e
também desequilíbrio no processo de reabsorção e formação óssea, resultando em perda óssea.

Há tendência a ganho de peso pelo aumento do tecido adiposo e perda de massa muscular e
óssea. A distribuição da gordura corporal se acentua no tronco e menos nos membros. Dessa
forma, a gordura abdominal eleva o risco para doenças metabólicas, sarcopenia e declínio de
funções (HUGHES et al., 2004).

Na opinião de Matsudo et al. (2000), o aumento da gordura corporal total e diminuição do


tecido muscular pode ocorrer principalmente devido a diminuição da taxa de metabolismo basal
e do nível de atividade física.

Envelhecimento cerebral

Segundo Park et al. (2001), muitas evidências sugerem que adultos mais velhos têm mais
dificuldade de assimilar novas informações, e habilidades de raciocínio diminuídas. Em geral, os
idosos são mais lentos para responder algumas tarefas cognitivas, e são mais suscetíveis ao
rompimento da informação que adultos mais jovens.

Dentre as modificações mais importantes na estrutura e funcionamento cerebral, pode-se


destacar: a atrofia (diminuição de peso e volume), hipotrofia dos sulcos corticais, redução do
volume do córtex, espessamento das meninges, redução do número de neurônios e diminuição
de neurotransmissores (PASI, 2006).

Há alterações degenerativas da estrutura do olho, levando a diminuição visual, aumento da


sensibilidade à luz, perda da nitidez das cores e da capacidade de adaptação noturna. A perda
de audição resulta da disfunção dos componentes do sistema auditivo. Há perda da
discriminação dos sons mais baixos. Ocorre maior acúmulo de cera no ouvido pela alteração na
função glandular. As alterações vasculares também alteram a audição. São comuns os estados
vertiginosos e zumbidos (FREITAS et al., 2002).

A deterioração visual se deve a modificações fisiológicas e alterações mórbidas. Os


transtornos mais comuns que afetam os idosos são a catarata, a degeneração macular, o
glaucoma e a retinopatia diabética (PASI, 2006).

Envelhecimento cardiovascular

Dentre as modificações mais importantes na estrutura e funcionamento cardiovascular, pode-


se destacar: aumento de gordura, espessamento fibroso, substituição do tec. muscular por
tecido conjuntivo, calcificação do anel valvar (PASI, 2006).
Segundo Souza et al. (2007), o envelhecimento está associado a alterações estruturais
cardíacas. As paredes do ventrículo esquerdo aumentam de espessura, e ocorre depósito de
colágeno, da mesma forma, a aorta se torna mais rígida.

Nas artérias, ocorre acúmulo de gordura (aterosclerose), perda de fibra elástica e aumento
de colágeno. Dessa forma, a função cardiovascular fica prejudicada, diminuindo a resposta de
elevação de freqüência cardíaca ao esforço ou estímulo, aumentando a disfunção diastólica do
ventrículo esquerdo e dificultando a ejeção ventricular. Além disso, ocorre a diminuição da
resposta às catecolaminas e a diminuição a resposta vascular ao reflexo barorreceptor. Ocorre
maior prevalência de Hipertensão arterial sistólica isolada com maior risco de eventos
cardiovasculares (PASI, 2006).

Envelhecimento do aparelho respiratório

As alterações determinadas pelo envelhecimento afetam desde os mecanismos de controle


até as estruturas pulmonares e extra-pulmonares que participam do processo de respiração.

A musculatura da respiração enfraquece com o progredir da idade. Isso ocorre devido ao


enfraquecimento dos músculos esqueléticos somado ao enrijecimento da parede torácica,
resultando na redução das pressões máximas inspiratórias e expiratórias com um grau de
dificuldade maior para executar a dinâmica respiratória (CARVALHO; LEME, 2002).

Na parede torácica, ocorre aumento da rigidez, calcificação das cartilagens costais,


calcificação das articulações costais e redução do espaço intervertebral. Quanto ao
funcionamento do Sistema Respiratório ocorre redução da forca dos músculos respiratórios,
redução da taxa de fluxo expiratório e redução da pressão arterial de oxigênio (PASI, 2006).

O único músculo que parece não costuma ser afetado pelo envelhecimento é o diafragma
que, no idoso, apresenta a mesma massa muscular que indivíduos mais jovens (GORZONI;
RUSSO, 2006).

Envelhecimento do aparelho digestório

Segundo Alencar e Curiati (2002), o sistema digestório, assim como os demais sistemas,
sofre modificações estruturais e funcionais com o envelhecimento. As alterações ocorrem em
todo trato gastrintestinal da boca ao reto.

Ocorrem alterações na cavidade oral, havendo perda do paladar (PASI, 2006), redução da
inervação do esôfago, redução na secreção de lípase e insulina pelo pâncreas, diminuição da
metabolização de medicamentos pelo fígado, dificuldade de esvaziamento da vesícula biliar,
discreta diminuição da absorção de lipídeos no intestino delgado, no cólon se observa o
enfraquecimento muscular, alteração de peristalse e dos plexos nervo a musculatura do
esfíncter exterior. No reto e ânus são observadas alterações com espessamento e alterações do
colágeno e redução de força muscular, que diminuem a capacidade de retenção fecal volumosa.
A isso se acrescem alterações de elasticidade retal e da sensibilidade à sua distensão
(FERRIOLI, et al., 2006).

Envelhecimento do sistema urinário

Segundo Ermida (1995), ocorre uma diminuição de função renal em cerca de 50% aos 80
anos.

A atrofia da uretra, com enfraquecimento da musculatura pélvica associado à perda de


elasticidade uretral e de colo vesical favorecem o aumento de freqüência e urgência urinária e
incontinência urinária de esforço (SOUZA, 2002).

De acordo com PASI (2006), a incontinência urinária é definida como eliminação involuntária
de urina, em local e momento inadequado. Não se trata de uma doença, mas sim de um
sintoma. Este problema aumenta com a idade, apesar do envelhecimento em si não ser causa
de incontinência urinária.

Este problema é mais freqüente nas mulheres que nos homens e afeta cerca de 30% dos
idosos que vivem em comunidade e 50% dos idosos institucionalizados (TERRA, 2003).

Envelhecimento do sistema imunológico

Com o aumento da idade, desenvolvem-se as patologias infecciosas e alguns tipos de


cânceres. E estes problemas podem estar associados com a diminuição gradual das funções do
sistema imunológico.

A deterioração da função imunitária associada ao processo de envelhecimento se denomina


imunosenescência, que contribui de maneira importante a maior morbimortalidade observada
em adultos mais velhos, com maior incidência de infecções do trato respiratório e urinário
(ROBINSON et al., 2001).

Síndr omes ge riá tr ic as

As síndromes geriátricas estão geralmente relacionadas ao envelhecimento dos órgãos e


sistemas, e podem ser agravados de acordo com o estilo de vida adotado pelo idoso. Em
relação aos problemas musculoesqueléticos observa-se a prevalência de osteopenia,
osteoporose, osteoartrite, reumatismos, instabilidade postural e quedas.
Os problemas neurológicos mais comuns são Parkinson, AVE, demências, Mal de Alzheimer e
alterações nos padrões de sono. Já no sistema cardiovascular, a hipertensão, as cardiopatias e a
arteriosclerose prevalecem entre os idosos.

As afecções pulmonares são muito comuns na terceira idade. No sistema digestório, o


envelhecimento pode aumentar o refluxo gastroesofágico. Outro problema também comum
entre idosos é a incontinência urinária. Além disso, com a diminuição das funções do sistema
imunológico, os idosos ficam mais suscetíveis a gripe e tuberculose.

Além das alterações de caráter físico com o envelhecimento pode-se verificar modificações
nas reações emocionais, como o acúmulo de perdas e separações, solidão, isolamento e
marginalização social. As principais características do envelhecimento emocional são a redução
da tolerância aos estímulos, vulnerabilidade à ansiedade e depressão, sintomas hipocondríacos,
autodepreciativos, de passividade, conservadorismo de caráter e de idéias, e acentuação de
traços obsessivos (SOUZA et al., 1998).

Para Hoeman (2000), viver mais tempo aumenta as probabilidades em 80% de contrair uma
ou mais doenças crônicas, bem como limitações físicas incapacitantes. Acrescenta que em
muitos casos é difícil de distinguir se tratam-se de alterações decorrentes do processo de
envelhecimento ou se são manifestações patológicas.

Consi der aç ões fin ais

As modificações fisiológicas que se produzem no decurso do envelhecimento resultam de


interações complexas entre os vários fatores intrínsecos e extrínsecos e manifestam-se através
de mudanças estruturais e funcionais. Seja qual for o mecanismo e o tempo de envelhecimento
celular, este não atinge simultaneamente todas as células, tecidos, órgãos e sistemas.

Cada sistema tem o seu tempo de envelhecimento, mas sem a interferência dos fatores
ambientais há alterações que se dão mais cedo e se tornam mais evidentes quando o
organismo é agredido pela doença.

É de fundamental importância conhecer as alterações fisiológicas decorrentes do processo de


envelhecimento e saber identificar as síndromes geriátricas para a prevenção da independência
do idoso.

Ref erên ci as bi bli og rá fi cas


• ALENCAR, Y. M. G.; CURIATI, J. A. E. Envelhecimento do aparelho digestivo. In:
PAPALÉO NETO, M.; CARVALHO FILHO, E. T. Geriatria: Fundamentos, Clínica e
Terapêutica. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2002. p. 311-330.
• CARVALHO FILHO, E. T.; LEME, L. E. G. Envelhecimento do sistema
respiratório. In: PAPALÉO NETO, M.; CARVALHO FILHO, E. T. Geriatria:
Fundamentos, Clínica e Terapêutica. 2. ed. São Paulo: Atheneu; 2002. p. 291-
295.
• ERMIDA, J. G. Avaliação demográfica compreensiva. Temas Geriátricos. Lisboa:
Sociedade Portuguesa de Geriatria e Gerontologia, v. 1, 1995.
• FERRIOLI, E.; MORIGUTI, J. C.; LIMA, N. K. C. O envelhecimento do aparelho
digestório. In: FREITAS, E. V. et al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2. ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 636-639.
• FREITAS, E. V.; MIRANDA, R. D.; NERY, M. R. Parâmetros clínicos do
envelhecimento e avaliação geriátrica global. In: FREITAS, E. et al. Tratado de
Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. p. 610-617.
• GORZONI, M. L.; RUSSO, M. R. O envelhecimento respiratório. In: FREITAS, E.
et al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2006. p. 596- 599.
• HOEMAN, S. P. Enfermagem de reabilitação: aplicação e processos. 2. ed.
Lisboa: Lusociência, 2000.
• HUGHES, V. et al. Anthropometric assessment of 10-y changes in body
composition in the elderly. Am J Clin Nutr, v. 80, 2004. p. 475-482.
• MACEDO, M. P. Envelhecimento e parâmetros hematológicos. In: FREITAS, E. et
al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2006. p. 1040-1048.
• MATSUDO, S. M.; MATSUDO, V. K. R.; BARROS NETO, T. L. Impacto do
envelhecimento nas variáveis antropométricas, neuromotoras e metabólicas da
aptidão física. Rev. Bras. Ciên. Mov., v. 8, n. 4, 2000, p. 21-32.
• PARK, D. C. et al. Cerebral aging: brain and behavioral models of cognitive
function. Dialogues in Clinical Neuroscience, v. 3, n. 3, 2001.
• PASI - Protocolo de Atenção à Saúde do Idoso: Envelhecimento Saudável em
Florianópolis, 2006. PREFEITURA MUNICIPAL DE FLORIANÓPOLIS, Secretaria
Municipal de Saúde, Departamento de Saúde Pública. Disponível em:
http://www.pmf.sc.gov.br/saude/protocolos/protocolo_de_atencao_a_saude_do
_idoso.pdf. Acesso em: 15 out. 2008.
• ROBINSON, K. A. et al. Epidemiology of invasive Streptococcus pneumoniae
infections in the United States, 1995-1998: Opportunities for prevention in the
conjugate vaccine era. JAMA, v. 285, 2001. p. 1729-1735.
• ROSSI, E.; SADER, C. S. O envelhecimento do sistema osteoarticular. In:
FREITAS, E. et al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2002. p. 792-796.
• SOUZA, F. P. et al. Sobrevôo: da autogénese passando pela infância e detendo-
se na velhice. Rev. Psicofisiologia, v. 2, 1998.
• SOUZA, R. S. Anatomia do envelhecimento. In: PAPALÉO NETO, M.; CARVALHO
FILHO, E. T. Geriatria: Fundamentos, Clínica e Terapêutica. 2. ed. São Paulo:
Atheneu, 2002. p. 35-42.
• SOUZA, F. R.; SCHROEDER, P. O.; LIBERALI, R. Obesidade e Envelhecimento.
Rev. Bras. Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo, v. 1, n. 2,
mar./abr. 2007, p. 24-35.
• TERRA, N. L. (Org.). Entendendo as queixas do idoso. Porto Alegre: EDIPUCRS,
2003, p. 29-70.

Outros artigos em Portugués

Você também pode gostar