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Física

Elementar

Material
Didático Equipe de Física:
(PCNA Março de 2017)

 Alexandre Guimarães Rodrigues


(Coordenação)
 José Benício da Cruz Costa
(Orientação)

Monitores:
 Adrielle de Sousa Nascimento
 Diego Ribeiro Pinto de Castro
 Ingred Rodrigues da Silva
 Marcel Almeida do Amaral
Março 2017  Mayara Gonçalves Costa
 Odivaldo Barbosa Dias
Universidade Federal do Pará
Equipe de Professores
 Alexandre Guimarães Rodrigues (Coordenação Geral)

Matemática:
 Alessandra Macedo de Souza (Coordenação)

Química:
 Shirley Cristina Cabral Nascimento (Coordenação)

Física:
 Alexandre Guimarães Rodrigues (Coordenação)

Administrativo:
 José Benício da Cruz Costa (Coordenação)
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

Lista de Figuras 31 Representação de um vetor resul-


tante ~c formando um triângulo
1 Triângulo Retângulo . . . . . . . . 8 retângulo com suas componentes. . 20
2 Representação de um teodolito. . . 8 32 Representação da multiplicação de
3 Edifı́cio e suas projeções . . . . . . 9 um vetor por um escalar. . . . . . 22
4 Lago e suas projeções . . . . . . . 9 33 Regra da mão direita. . . . . . . . 23
5 Ciclo Trigonométrico em radianos. 10 34 Quanto mais lisa a superfı́cie, mais
6 Ciclo Trigonométrico em graus. . . 10 longe um disco desliza após to-
7 Triângulo para Lei dos Cossenos. . 11 mar uma velocidade inicial.Se ele se
8 Triângulo para Lei dos Senos. . . . 11 move em um colchão de ar sobre a
9 Representação de vetores paralelos, mesa (c) a força de atrito é prati-
ou seja, vetores que apresentam o camente zero, de modo que o disco
mesmo sentido e direção, apresen- continua a deslizar com velocidade
tando ou não mesmo módulo. . . . 14 quase constante (YOUNG. H. D;
10 Representação de vetores negati- FREEDMAN. Fı́sica 1-Sears & Ze-
vos, ou seja, vetores que apresen- mansky. Mecânica. 12a . Edição.
tam o mesmo módulo e direção Ed. Pearson) . . . . . . . . . . . . 28
do vetor positivo dado e sentido 35 Massa, aceleração e a segunda lei
contrário. . . . . . . . . . . . . . . 14 de Newton. . . . . . . . . . . . . . 30
11 Representação geométrica de dois 36 Duas forças F~1 e F~2 que atuam so-
vetores. . . . . . . . . . . . . . . . 14 bre um ponto A exercem o mesmo
12 Representação de soma de dois ve- efeito que uma força R dada pela
tores pela regra do paralelogramo [1]. 14 soma vetorial. . . . . . . . . . . . . 30
13 Representação geométrica de dois 37 Achando os componentes do vetor
vetores perpendiculares. . . . . . . 15 soma (resultante) R de duas forças
14 Exemplo 2.1. . . . . . . . . . . . . 15 F~1 e F~2 . . . . . . . . . . . . . . . . 31
15 Vetores ~a e ~b no plano cartesiano. . 15 38 O projeto de uma motocicleta de
16 Regra do paralelogramo. . . . . . . 15 alto desempenho depende funda-
17 Representação de um vetor ar- mentalmente da segunda lei de
bitrário e sua projeção sobre os ei- Newton. Para maximizar a ace-
xos x e y. . . . . . . . . . . . . . . 16 leração, o projetista deve fazer a
motocicleta ser mais leve possı́vel
18 Triângulo formado pelo vetor prin-
(isto é, minimizar sua massa) e usar
cipal e suas componentes. . . . . . 16
o motor mais potente possı́vel (isto
19 Triângulo para as relações trigo-
é, maximizar a força motriz). . . . 31
nométricas. . . . . . . . . . . . . . 16
39 Identificação das forças em ação,
20 Exemplo 2.2. . . . . . . . . . . . . 17
quando uma mão puxa uma corda
21 Exemplo 2.3. . . . . . . . . . . . . 17
amarrada a um bloco. a) Mão,
22 Exercı́cio 4. . . . . . . . . . . . . . 17 corda e bloco. b) Pares de ação e
23 Exercı́cio 5. . . . . . . . . . . . . . 18 reação. (As forças verticais não são
24 Exercı́cio 6. . . . . . . . . . . . . . 18 mostradas). . . . . . . . . . . . . . 32
25 Exercı́cio 7. . . . . . . . . . . . . . 18 40 Não são pares de ação e reação.
26 Exercı́cio 9. . . . . . . . . . . . . . 18 a) Essas forças não são um par de
27 Representação do vetor desloca- ação e reação por que atuam no
mento de suas componentes x e y. . 18 mesmo corpo. b) Essas forças serão
28 Representação do vetor ~a em duas iguais somente se a corda estiver em
dimensões, x e y. . . . . . . . . . . 19 equilı́brio ou se sua massa for des-
29 Representação dos vetores ~a e ~b for- prezada. (As forças verticais não
necendo o vetor resultante ~c, a par- são mostradas). . . . . . . . . . . . 32
tir de suas componentes. . . . . . . 20 41 A figura acima representa: a) um
30 Representação dos vetores ~a e ~b esboço da situação a ser estudada.
somados fornecendo o vetor resul- b) as forças atuantes no corpo A. c)
tante ~c. . . . . . . . . . . . . . . . 20 a força atuante no corpo B. . . . . 32

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42 a) Uma caixa sobe um plano in- 51 Em um movimento circular uni-


clinado, puxada por uma corda . forme, tanto a aceleração, como a
(b) As três forças que agem cobre força resultante são orientadas para
a caixa: a força da corda T a força o centro do circulo. . . . . . . . . . 42
gravitacional Fq e a força normal 52 O que acontece quando a força ori-
FN . (c) As componentes de Fq entada para o centro deixa de atuar
na direção ao plano inclinado e na sobre um movimento circular? . . . 42
direção perpendicular. . . . . . . . 33 53 Indicação de referencial graduada
43 Duas forças atuam sobre o bloco, em metros . . . . . . . . . . . . . . 51
o seu peso P~ e a força normal F~N 54 Reta secante a uma função f (x) . . 53
exercida pela superfı́cie da mesa. . 37 55 Gráfico de posição no tempo. . . . 54
44 (a) A força normal F~N é maior do 56 Reta secante tendendo a uma tan-
que o peso da caixa, pois a caixa gente. . . . . . . . . . . . . . . . . 54
está sendo pressionada para baixo 57 Reta horizontal de uma função
com uma força de 11 N. (b) A força constante . . . . . . . . . . . . . . 55
normal é menor do que o peso, pois 58 Derivada indicando se a) f (x) é
há uma força de 11 N para cima que crescente ou se b) f (x) é decrescente. 56
sustenta parcialmente a caixa. . . . 37 59 Na figura acima, c é máximo local e
45 A prática do hóquei no gelo depende d é mı́nimo local (f 0 (c) = f 0 (d) = 0). 56
decisivamente do atrito entre os patins 60 Tabela representativa de derivada e
do jogador e o gelo. Quando o atrito integral de modo sintético. . . . . . 57
é muito elevado, o jogador se locomove 61 Gráfico de aceleração no tempo. . . 57
muito lentamente; quando o atrito é 62 Gráfico de velocidade no tempo. . 58
muito pequeno, o jogador dificilmente 63 Gráfico da aceleração no tempo. . 58
evita sua queda. . . . . . . . . . . . 38 64 Gráfico de uma curva qualquer. . . 58
65 Curva sendo aproximada grosseira-
46 A área microscópica de contato entre
mente por retângulos. . . . . . . . 58
a caixa e o piso é apenas uma pequena
66 Aproximação melhorada com o uso
fração da área macroscópica da su-
de retângulos mais finos. . . . . . . 59
perfı́cie do tampo da caixa. A área mi-
67 A variação no espaço é igual a área
croscópica é proporcional à força nor-
do gráfico vxt . . . . . . . . . . . . 60
mal exercida entre as superfı́cies. Se
68 A variação no espaço é igual a área
a caixa repousa sobre um de seus la-
do gráfico axt . . . . . . . . . . . . 60
dos, a área microscópica aumenta, mas
a força por unidade diminui, de forma
que área microscópica de contato não
muda. Não importa se a caixa está de
pé ou deitada, a mesma força horizon-
tal F aplicada é necessária para mantê-
la deslizando com rapidez constante
(PAUL A. TIPLER, GENE MOSCA,
2012). . . . . . . . . . . . . . . . . 38
47 Atrito Estático. . . . . . . . . . . . 39
48 Gráfico da força de atrito. . . . . . 40
49 (a) A força T~ está sendo aplicada à
extremidade direita de uma corda.
(b) a força é transmitida para
caixa. (c) Forças são aplicadas às
duas extremidades da corda. Estas
forças possuem mesmos módulos e
direções opostas (mesma direção e
sentidos contrários), (CUTNELL &
JOHNSON, 2012). . . . . . . . . . 40
50 A relação entre massa e peso. . . . 41

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Sumário 4 APLICAÇÕES DAS LEIS


1 CIÊNCIAS, GRANDEZAS FÍSICAS
DE NEWTON 36
4.1 Objetivos de aprendizagem: . . . 36
E UNIDADES 6
4.2 Introdução . . . . . . . . . . . . . 36
1.1 Objetivos de aprendizagem: . . . . 6
4.3 Aplicações da primeira lei de
1.2 A Natureza da Fı́sica . . . . . . . 6 newton: partı́culas em equilı́brio 36
1.3 Grandezas e Dimensões . . . . . 6 4.4 Aplicações da segunda lei de
1.4 Análise Dimensional . . . . . . . 6 newton: dinâmica das partı́culas 36
1.5 Conversões de unidades . . . . . 7 4.5 Forças de contato . . . . . . . . . 37
1.6 Incertezas e Algarismos Signifi- 4.5.1 Força normal . . . . . . . . 37
cativos: . . . . . . . . . . . . . . . 8 4.5.2 Forças de atrito . . . . . . . 38
1.7 Funções Trigonométricas Básicas 8 4.5.3 Forças de tração . . . . . . 40
1.8 Cı́rculo trigonométrico . . . . . . 9 4.5.4 Massa e peso . . . . . . . . 40
1.9 Lei dos Cossenos . . . . . . . . . 11 4.6 Dinâmica do movimento circular 41
1.10 Lei dos Senos . . . . . . . . . . . 11 EXERCÍCIOS . . . . . . . . . . . . . . 43
EXERCÍCIOS . . . . . . . . . . . . . . 12
5 NOÇÕES DE CÁLCULO
2 ANÁLISE VETORIAL DIFERENCIAL E INTE-
BÁSICA 13 GRAL NA CINEMÁTICA 50
2.1 Objetivos de aprendizagem: . . . 13 5.1 Objetivos de aprendizagem: . . . 50
5.2 Introdução: . . . . . . . . . . . . . 50
2.2 Diferenças entre escalares e vetores 13
5.3 Uma breve discussão sobre refe-
2.3 Conceitos básicos de vetores . . . 13
rencial do ponto de vista da ci-
2.4 Soma e subtração gráfica de vetores 14 nemática . . . . . . . . . . . . . . 50
2.5 Componentes de vetores . . . . . 15 5.4 5.3 Posição x deslocamento . . . 51
2.6 Vetores unitários ou versores . . 19 5.5 Velocidade vetorial média x velo-
2.7 Soma de vetores a partir de suas cidade escalar média . . . . . . . 52
componentes . . . . . . . . . . . . 19 5.6 Velocidade instantânea . . . . . . 52
2.8 Multiplicação de vetores . . . . . 21 5.7 Noções de cálculo diferencial . . 53
2.9 Multiplicação de um vetor por 5.8 Aceleração vetorial média x Ace-
escalar . . . . . . . . . . . . . . . . 21 leração escalar média . . . . . . . 54
2.10 Multiplicação de um vetor por 5.9 Aceleração instantânea . . . . . . 55
um vetor . . . . . . . . . . . . . . 21 5.10 Noções de cálculo integral . . . . 58
2.10.1 Produto escalar . . . . . . . 21 5.11 Aplicação na cinemática . . . . . 59
2.10.2 Produto vetorial . . . . . . 23
GABARITO GERAL 61
EXERCÍCIOS . . . . . . . . . . . . . . 24
PROBLEMAS ADICIONAIS . . . . . . 25 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 63

3 LEIS DE NEWTON 27
3.1 Objetivos de aprendizagem: . . . 27
3.2 Introdução . . . . . . . . . . . . . 27
3.3 Referencial do ponto de vista da
dinâmica . . . . . . . . . . . . . . 27
3.4 Primeira lei de Newton
(Princı́pio da Inércia) . . . . . . . 28
3.5 Relação vetorial entre velocidade
e aceleração . . . . . . . . . . . . 29
3.6 Segunda lei de Newton . . . . . . 30
3.7 Relação entre força e aceleração 31
3.8 Terceira lei de Newton . . . . . . 31
3.9 Diagrama de corpo livre . . . . . 32

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1 CIÊNCIAS, GRANDEZAS GRANDEZAS FUNDAMENTAIS DA MECÂNICA


UNIDADE SI CGS BE
FÍSICAS E UNIDADES
Metro Centı́metro Pé
Comprimento
1.1 Objetivos de aprendizagem: (m) (cm) (ft)
Quilograma Grama Slug
• Entender o conceito de fı́sica e sua natureza. Massa
(Kg) (g) (sl)
Segundo Segundo Segundo
• Conhecer as grandezas fundamentais e as uni- Tempo
(s) (s) (s)
dades usadas pelos fı́sicos para medi-las.
Tabela 1: Relações entre os diversos sistemas de
• Como fazer a análise dimensional de uma unidades.
equação.

• Converter unidades e como não perder de


vista os algarismos mais significativos nos RELAÇÕES IMPORTANTES
seus cálculos.
1 m = 10 dm = 100 cm = 1000 mm
• Como aplicar os conceitos básicos de trigono- 1 kg = 1000 g
metria. 1 ton = 1000 kg
1 h = 60 min = 3600 s
1 min = 60 s
1.2 A Natureza da Fı́sica
A ciência e a engenharia se baseiam em 1.4 Análise Dimensional
medições e comparações. Assim precisamos de
regras para estabelecer de que forma as grande- Em fı́sica, o termo dimensão é usado para se
zas devem ser medidas e comparadas, e de expe- referir à natureza fı́sica de uma grandeza. A preo-
rimentos para estabelecer as unidades para essas cupação com a dimensionalidade de uma grandeza
medições e comparações. A fı́sica é uma ciência ou de uma fórmula antecede a questão da unidade
experimental, e assim como a quı́mica e a ma- usada. Por exemplo, para medir a distância en-
temática, forma a base de todas as engenharias. tre dois objetos podemos utilizar fita métrica gra-
Nenhum engenheiro pode projetar uma tela plana duada em centı́metro, decı́metro ou metro. En-
de TV, uma nave espacial, um reator ou até tretanto, ninguém discute que essa medida deverá
mesmo uma ratoeira mais eficiente, sem antes en- ser feita a partir de uma unidade de comprimento.
tender os princı́pios básicos da fı́sica. Em outras palavras, a análise dimensional é usada
para verificar relações matemáticas quanto à con-
sistência das suas dimensões.
1.3 Grandezas e Dimensões
Os experimentos fı́sicos exigem medidas, e nor- Na mecânica, parte da Fı́sica que envolve a ci-
malmente usamos números para descrever os re- nemática e a dinâmica, a totalidade dos conceitos
sultados das medidas. Medir refere-se a comparar básicos dessa área pode ser expressa em termos de
uma grandeza com um padrão que é a unidade uma combinação de dimensões fundamentais. São
de medida. Uma grandeza fı́sica descreve quan- elas:
titativamente um conceito quando o exprime na
forma de número e em função de uma unidade de • Comprimento [L]
medida.
• Tempo [T]

Por exemplo, duas grandezas fı́sicas para • Massa [M]


descrever você são a sua massa e a sua altura.
Para cientistas e engenheiros, em grande parte do Exemplo 1.1: Considere um carro que parte
mundo, o sistema padrão utilizado é conhecido do repouso e acelera até uma velocidade v em
como Sistema Internacional ou SI. No SI a um tempo t. Desejamos calcular a distância x
massa é medida em quilogramas (Kg) e a altura percorrida pelo carro, mas não temos a certeza
(comprimento) em metros (m).Existem outros de se a relação correta é x = 12 .v.t2 ou x = 12 .v.t.
sistemas como CGS e o sistema de Engenha- Podemos verificar as grandezas em ambos os
ria Britânico (BE) conforme exposto na Tabela 1. lados da equação para vermos se possuem as

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mesmas dimensões da seguinte maneira: Façamos o caso da conversão de velocidade de


km/h para m/s. Sabemos que 1 quilômetro pos-
1 2
Na equação x = 2 .v.t , aplicando as dimensões sui 1000 metros e que 1 hora possui 3600 segun-
[L] e [T], teremos: dos (60x60s). Logo, 1km/h = 1000m/3600s ≈
0, 2778m/s. Sabemos quanto vale 1km/h em m/s.
[L] 2 E quanto vale 1m/s em termos de km/h? Vamos
[L] = [T ] .[T ] ou [L] = [L].[T ] para a regra de três!

1km/h —— 0, 2778m/s
A dimensão do lado esquerdo da equação não
x —— 1m/s
coincide com a dimensão do lado direito. Logo,
a relação não está correta, pois não faz sentido
trabalharmos com uma fórmula do tipo posição A leitura é feita da seguinte forma: 1km/h
= velocidade. Afinal, estamos medindo posição vale 0,2778m/s. 1m/s (que ainda não sabemos
ou velocidade? Daı́ a necessidade de que a di- quanto vale em km/h) em termos de km/h vale
mensão do “lado esquerdo” da fórmula seja igual à x (incógnita). Em seguida fazemos uma multi-
do “lado direito” e, caso seja composta por mais de plicação em diagonal (repare que de um lado te-
uma parcela, essas devem ter a mesma dimensio- mos somente uma unidade (km/h) e do outro lado
nalidade entre si e a mesma compatibilidade com a com outra unidade (m/s)). Assim ficamos com:
descrição da fórmula em questão. Portanto, todas
as fórmulas que utilizamos, independentemente do 1km/h.1m/s = x.0, 2778m/s
1km/h
contexto em questão, deve ter o dimensionamento x = 0,27778 = 3, 6km/h
consistente. Caso contrário deve ser reanalisada
ou simplesmente descartada. Lembre-se disso ao Portanto, x, que é igual a 1 m/s escrito em
final das suas resoluções de problemas e exercı́cios! termos de unidade de velocidade em m/s vale 3,6
Para a equação x = 21 .v.t temos: km/h.

[L] A forma de montar uma regra de três é sempre


[L] = [T ] .[T ] ou [L] = [L]
simples. Mas atenção! Fazer uma mudança de
unidades não altera a dimensão da grandeza que
A dimensão em ambos os lados coincidem, logo você está trabalhando!
essa equação está dimensionalmente correta.
Exemplo 1.2:

1.5 Conversões de unidades O Sistema de unidades estadunidense é dife-


Uma vez que qualquer grandeza pode ser me- rente do Sistema Internacional (Système National
dida em diferentes unidades é importante saber d’Unités), que é utilizado no Brasil e na maio-
como converter um resultado expresso em uma ria dos paı́ses. Nos Estados Unidos, para me-
unidade para outra unidade. A conversão pode dir massa, por exemplo, utiliza-se a unidade “li-
envolver uma única dimensão, como por exemplo, bras”(pounds). Já no Brasil, geralmente se uti-
converter 1 km para metros , 1km = 103 m. Pode liza o “quilograma”. Para grandes medidas de
também envolver mais de uma dimensão, como altura, os norte-americanos utilizam a unidade
converter velocidade dada em km/h para m/s. “pés” (feet), enquanto que nós utilizamos “me-
Neste caso, precisamos expressar quilômetro em tros” ou “quilômetros”.
metros e hora em segundos. Em todos os casos
de conversão de unidades pode-se afirmar que não Imagine que durante seu perı́odo de graduação
há nada mais envolvido que as operações de mul- você faça um intercâmbio acadêmico para os Esta-
tiplicação e divisão. As regras de conversão po- dos Unidos e sua primeira aula seja de conversão
dem ser sintetizadas a partir de um cálculo sim- de unidades. Assim, determine quanto vale 3212ft
ples envolvendo regra de três. É necessário que (feet) em metros. Obs.: 1ft=30,48cm=0,3048m
se diga, embora óbvio, que só é possı́vel converter
uma unidade para outra unidade quando sabemos Estratégia de raciocı́nio:
o quanto vale uma unidade de medida em termos
da outra e vice-e-versa. 1 ft = 0,3048m. A pergunta é: quanto vale

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3212ft expresso em metros? Vale x metros. É


o que queremos descobrir. Vamos montar nossa
regra de três!

1f t —— 0, 3048m
3212f t —— x

A regra de três foi montada corretamente.


Agora é só fazer a multiplicação em diagonal e
isolar o fator x. Figura 1: Triângulo Retângulo

3212ft.0,3048m = x.1ft ho ha ha
sen θ = h , cos θ= h , tan θ= ho
x = 979,0 m
o seno, o cosseno e a tangente são números sem
Não se esqueça de fazer o corte nas dimensões unidades (nem dimensões) porque cada um é a
também! ft do lado esquerdo corta com ft do lado razão entre os comprimentos de dois lados de um
direito da equação e a resposta é dada em metros, triângulo retângulo.
conforme desejamos.
Exemplo 1.3 :
1.6 Incertezas e Algarismos Significati-
vos: “A finalidade principal de um teodolito é a
medida de ângulos horizontais e verticais. Indi-
As medidas sempre envolvem incertezas. Em retamente, podem-se medir distâncias que, rela-
muitos casos, a incerteza de um número não é cionadas com os ângulos verticais, possibilita ob-
apresentada explicitamente. Em vez disso, ela é ter tanto a distância horizontal entre dois pon-
indicada pelo número de dı́gitos confiáveis, ou al- tos quanto à diferença de nı́vel entre os mesmos.”
garismos significativos, do valor da medida. Por (Fonte: Teodolitos e Nı́veis Ópticos – Verificação
exemplo, medimos a espessura da capa de um e Ajustes, FERRAZ, A.S; ANTONINO, L.C.). A
livro e encontramos o valor 2,91mm, esse valor Figura 2 mostra uma versão simplificada do Teo-
apresenta três algarismos significativos. Com isto, dolito.
queremos dizer que os dois primeiros algarismos
são corretos, enquanto o terceiro dı́gito é incerto.
O último dı́gito está na casa dos centésimos, de
modo que a incerteza é aproximadamente igual a
0,01mm.

1.7 Funções Trigonométricas Básicas


A trigonometria é uma área da matemática
muito aplicada na fı́sica, sobretudo nos tipos de
problemas tratados pela mecânica. Em especial,
três funções trigonométricas básicas são mais uti-
lizadas. São essas: o seno, o cosseno e a tan-
gente de um determinado ângulo. Vamos defi- Figura 2: Representação de um teodolito.
nir essas funções a seguir a partir do triângulo
retângulo abaixo:
Pelo teorema de Pitágoras, determina-se que: Considere que um topógrafo precisa determinar
a altura de um edifı́cio para executar um projeto
h2 = h2o + h2a
de engenharia. Verifica-se que este edifı́cio produz
h = comprimento da hipotenusa de um uma sombra de 67,2 m de comprimento em um dia
triângulo retângulo ensolarado. O ângulo, verificado com o auxı́lio do
h0 = comprimento do cateto oposto ao ângulo θ teodolito, entre os raios de sol e o chão é de θ=
ha = comprimento do cateto adjacente ao ângulo θ 50,0o , como mostrado na Figura 3. Qual a altura
do edifı́cio?
Em que: Estratégia de raciocı́nio:

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Figura 4: Lago e suas projeções

Figura 3: Edifı́cio e suas projeções


Podemos observar que próximo a margem, os
comprimentos dos catetos oposto e adjacente do
Desejamos determinar a altura do edifı́cio. triângulo retângulo formado na figura do lago são
Para isso, analisamos as informações contidas no ho =2,25 m e ha =14,0 m, em relação ao ângulo θ.
triângulo retângulo sombreado da figura dada. Após a identificação dessas informações, podemos
São elas: a altura como comprimento h0 do cateto usar o arco tangente (tan−1 ) para determinar o
oposto ao ângulo θ e o comprimento da sombra é ângulo do item (a). Para determinar o item (b),
o comprimento ha do cateto adjacente ao ângulo consideramos que os catetos opostos e adjacentes
θ. Sabemos que a razão entre o comprimento passam a ser os mais afastados da margem onde
do cateto oposto e o comprimento do cateto ho = d e ha =22,0 m. Assim, com o valor de θ
adjacente é a tangente do ângulo θ que pode ser obtido no item (a), a função tangente pode ser
usada para se determinar a altura do prédio. usada para encontrar o valor da profundidade
desconhecida. Considerando a forma com que a
Solução: Usamos a função tangente conhe- profundidade do lago aumenta com a distância na
cida da seguinte maneira, com θ = 50,0o e ha = figura do lago, é de se esperar que a profundidade
67,2 m: desconhecida seja maior do que 2,25 m.
Desse modo:
ho
Solução: a) Usando a função arco tangente
tan θ = ha conhecida, chegamos a:
2,25m
Assim: θ = tan−1 ( hhao ) = tan−1 ( 14,0m ) = 9, 13o

ho = ha .tan θ = (67, 2m).(tan 50, 0o ) b) Com θ = 9,13o , a função tangente pode ser
ho = (67, 2m).(1, 19) = 80, 0m usada para determinarmos a profundidade desco-
nhecida a uma distância maior da margem, onde
O valor de tan 50,0o é determinado usando a ho = d e ha = 22,0 m. Conclui-se que:
calculadora cientı́fica.
ho = ha .tanθ
Exemplo 1.4 : d = 22, 0m.tan9, 13o = 3, 54m

Temos que 3,54m é maior que 2,25 m, o que já


A profundidade de um lago aumenta grada- era esperado.
tivamente com um ângulo θ, como indicado na
figura abaixo. Por questões de segurança, é ne-
1.8 Cı́rculo trigonométrico
cessário se determinar a profundidade do lago em
várias distâncias a partir da margem. Para for- Do ponto de vista matemático é muito útil des-
necer informações a respeito da profundidade, um crever relações trigonométricas em termos da ge-
guarda-vidas rema até uma distância de 14,0 m da ometria analı́tica. Do ponto de vista da fı́sica, é
margem em direção ao interior do lago e solta uma importante ter uma descrição matemática simples
linha de pesca com um peso. Medindo o compri- e completa para o movimento circular, pois muita
mento da linha, o guarda-vidas determina a pro- coisa na natureza pode ser descrita em função
fundidade como sendo igual a 2,25 m. desse tipo de movimento. Muitos artefatos pro-
a) Qual o valor de θ? duzidos pelo homem (a própria roda e vários ti-
b) Qual seria a profundidade d do lago a uma pos de sistema de engrenagens, apenas para fi-
distância de 22,0 m a partir da margem? car em alguns exemplos) possuem formato circu-
Estratégia de raciocı́nio: lar. Várias situações e fenômenos (periódicos e

9
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não periódicos) exigem descrição em termos de Sigamos com a análise do cı́rculo trigo-
movimentos circulares (isso sem contar a ı́ntima nométrico fazendo referência à duas unidades de
relação entre movimentos oscilatórios harmônicos medida angular: radianos e graus.
e o movimento circular uniforme).

O cı́rculo trigonométrico é dividido em quatro


quadrantes, como segue: O I quadrante é cons-
tituı́do pelos ângulos que estão entre 0 e π2 ; o II
quadrante é constituı́do pelos ângulos que estão
entre π2 e π; o III quadrante comporta os ângulos
situados entre π e 3π 2 ;e o IV quadrante comporta
os ângulos situados entre 3π 2 e 2π. Em termos da
medida angular em graus, o I quadrante é delimi-
tado entre 0 e 90o , o II entre 90o e 180o , o III entre
180o e 270o e o IV entre 270o e 360o .

Para finalizar, faremos uma brevı́ssima in-


trodução da expressão: C = 2πR
Figura 5: Ciclo Trigonométrico em radianos.
O que ela traz de tão especial? C é o compri-
mento do cı́rculo. Sendo um comprimento, trata-
se, portanto de uma grandeza linear. Do lado di-
reito da expressão temos 2π. No caso, isso significa
2π radianos. É, portanto, uma grandeza angular.

Desse modo temos uma relação entre uma


relação entre uma grandeza escalar (comprimento
C do cı́rculo) e uma grandeza angular (2π radi-
anos). Outras expressões relacionando grandezas
lineares com grandezas angulares surgirão no con-
texto da dinâmica.
Figura 6: Ciclo Trigonométrico em graus.

IMPORTANTE!!

Para que essa relação esteja correta, ne-


O cı́rculo trigonométrico é mais que o ponto
cessariamente a medida angular deve estar
de partida para a descrição matemática do mo-
em radianos.
vimento circular (se fosse só isso já não seria
pouca coisa). O cı́rculo trigonométrico relaciona
um cı́rculo de raio unitário adimensional (por de- É muito importante destacar que ao falar em
finição) e um plano cartesiano com coordenadas ângulo, além de informar qual medida angular está
(x,y). O centro do cı́rculo coincide com a origem utilizando, temos também de ser cuidadosos
do plano cartesiano. A relação entre a localização e explı́citos em relação a como a medida
de um ponto no cı́rculo e o sistema de eixos coor- angular é feita.
denados é dada pela projeção ortogonal do ponto
em relação a cada eixo coordenado. A partir daı́
formam-se triângulos retângulos que ser- De maneira clara: Dizer simplesmente que o
vem de base para definir todas as definições ângulo é 30o não é preciso. Precisamos responder
das funções trigonométricas. De maneira bem o seguinte: O ângulo foi tomado a partir do semi-
simples: O eixo x é o eixo dos cossenos. O eixo y eixo Ox+ ou do semieixo Oy+? A medida angular
é o eixo dos senos (ver figuras acima). foi feita no sentido horário ou anti-horário?

10
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O usual (mas não obrigatório) é fazer a sen(α) = hb


abertura angular a partir do semieixo Ox+ e h = sen(α). b (I)
tomar como sentido positivo a abertura em
sentido anti-horário (portanto o sentido horário No triângulo BCH, temos que:
é negativo). Observe que o sentido positivo do
cı́rculo trigonométrico é o sentido anti-horário, en- sen(β) = ha
quanto que o sentido negativo é o sentido horário. h = sen(β) . a (II)

De (I) e (II), obtemos:


IMPORTANTE!!

Cuidados com a medida angular: A especi- sen(α).b = sen(β) . a


ficação completa da medida angular envolve
a escolha do semieixo e o sentido em que a Ou
abertura angular é realizada (horário ou anti- a b
sen α = sen β
horário).
Assim, podemos concluir que:
1.9 Lei dos Cossenos
Para um triângulo qualquer podemos escrever a
= b
= c
sen α sen β sen γ
a lei dos cossenos.
Equação essa conhecida como Lei dos senos ou
Teorema dos senos.
a2 = b2 + c2 − 2.b.c.cos(α)
Onde α é o ângulo oposto ao lado a. Principais pontos do capı́tulo:
• Fı́sica é uma ciência experimental.

• Massa, Comprimento e Tempo são as grande-


zas fundamentais da mecânica. E suas unida-
des correspondentes no SI são: quilograma,
metro e segundo.

• Toda equação deve ter o dimensionamento


correto. A análise dimensional é usada para
verificar equações matemáticas quanto a con-
Figura 7: Triângulo para Lei dos Cossenos. sistência das suas dimensões.

• A conversão de unidades é importante para o


1.10 Lei dos Senos estudo da fı́sica uma vez que qualquer gran-
deza fı́sica pode ser medida em diferentes uni-
O triângulo ABC, onde CH é a altura relativa
dades.
ao lado AB. Como mostrado na Figura 8.
• Toda medição envolve um certo grau de in-
certeza, que pode ser expresso explicitamente
ou não.

• O cı́rculo trigonométrico, além de descre-


ver matematicamente o movimento circular,
descreve relações trigonométricas importan-
tes para a fı́sica, como o seno, cosseno e tan-
gente.

Figura 8: Triângulo para Lei dos Senos. • Para a descrição completa de uma medida an-
gular devem ser especificados a escolha do se-
No triângulo ACH, temos que: mieixo e o sentindo em que a abertura angular
é realizada.

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EXERCÍCIOS

1. A água utilizada na casa de um sı́tio é cap-


tada e bombeada do rio para uma caixa-
d’água a 50m de distância. A casa está a
80m de distância da caixa-d’água e o ângulo
formado pelas direções caixa d’água-bomba e
caixa d’água-casa é de 60o . Pretende-se bom-
bear água do mesmo ponto de captação até
a casa, quantos metros de encanamento são
necessários?

2. A figura mostra o trecho de um rio onde se


deseja construir uma ponte AB. De um ponto
P, a 100m de B, mediu-se o ângulo dos pontos
APB = 45o e do ponto A, mediu-se o ângulo
PAB = 30o . Qual o comprimento da ponte?

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2 ANÁLISE VETORIAL especial, a linguagem dos vetores! Essa linguagem


é muito utilizada por cientistas e por engenheiros
BÁSICA e, informalmente, até mesmo em conversas do dia
2.1 Objetivos de aprendizagem: a dia. Se você já explicou a alguém como chegar
a um endereço usando expressões como “Siga por
• Entender a diferença entre grandezas escala- esta rua por cinco quarteirões e depois dobre à es-
res e vetoriais; querda”, então você usou a linguagem dos vetores.
• Somar e subtrair vetores graficamente;
Alguém consegue imaginar o voo das aeronaves
• Aprender o que significam as componentes de sem uma determinação precisa de rotas aéreas?
um vetor e utilizá-las em cálculo de vetores; Rotas aéreas também são informações vetoriais.
Saber caracterizar e manipular vetores é pré-
• Aprender o que são vetores unitários, o que
requisito indispensável para a formação de qual-
os caracteriza e como aplicá-los;
quer engenheiro ou profissional da área de exatas.
• Utilizar as formas de multiplicação de vetores.
IMPORTANTE!
2.2 Diferenças entre escalares e vetores Grandezas vetoriais necessitam de mais
Algumas grandezas fı́sicas como o tempo, tem- informação do que grandezas escalares. Essas
peratura, volume e massa podem ser descritas ape- informações são: direção, sentido e módulo.
nas por um valor numérico acompanhado da(s) Grandezas vetoriais precisam de uma
unidade(s) de medida da(s) grandeza(s) fı́sica(s) orientação espacial.
correspondente(s). Este tipo de grandeza é cha-
mado de grandeza escalar. Por exemplo: quando
alguém te pergunta qual a massa de um dado Além disso, conforme já dissemos, grandezas
corpo e você diz que é de 2 kg, a informação está vetoriais se combinam (por soma e multiplicação)
completa. Se alguém pergunta a hora e você res- segundo regras especı́ficas e bem definidas, ou seja,
ponde que são 12 horas, a resposta está completa caso uma grandeza “tenha pinta” de vetor, mas
também. A maneira de somar essas grandezas é não obedeça a essas regras, não é vetor!
muito simples e em nada diferem da soma com
números como nós estamos acostumados (além do
fato de não podermos esquecer a unidade de me- Saber trabalhar com vetor é saber especificá-
dida da grandeza, é claro!). Mas há grandezas lo, determiná-lo (compô-lo ou decompô-lo) e
que precisam de mais informação. Além do valor combiná-lo com outros vetores (ou escalares) se-
numérico acompanhado da unidade de medida é guindo essas regras bem definidas. Acredite, você
necessária, também, uma orientação espacial (uma vai precisar disso na sua vida profissional.
espécie de “para onde” aponta a grandeza). Mui-
tas grandezas fı́sicas são assim. São chamadas Todo vetor possui módulo, direção e sentido.
de grandezas vetoriais. O ente que representa A representação gráfica de um vetor é dada por
essas grandezas fı́sicas vetoriais e que pos- um segmento de reta orientado (uma seta). O
sui tratamento matemático especı́fico é cha- tamanho do segmento de reta representa o módulo
mado de vetor. Deslocamento, velocidade, ace- do vetor. A direção e o sentido da seta fornecem
leração e forças como o atrito, peso e normal são a direção e o sentido do vetor. Podemos rotular
exemplos de grandezas vetoriais. um vetor por uma letra com uma pequena seta
(para a direita) acima da mesma. Por exemplo, o
2.3 Conceitos básicos de vetores rótulo de um vetor que chamamos de A fica assim
representado: A ~
A fı́sica lida com um grande número de gran-
dezas que possuem amplitude e uma orientação
espacial para serem corretamente representadas. Outra opção é colocar a letra que designa o
Tais grandezas se combinam segundo regras vetor em negrito, porém faremos a opção pela pe-
bem definidas. Para entender essas grandezas e quena seta acima da letra. Antes de saber “fazer
as regras segundo as quais elas se combinam é ne- as contas” para valer com os vetores é útil apren-
cessário compreender uma linguagem matemática der a somar vetores graficamente. Ou seja, vamos

13
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

aprender a somar vetores por meio das suas repre-


sentações em forma de segmentos de reta orien-
tados (setas). As Figuras 9 e 10 mostram repre-
sentações de vetores paralelos e negativos respec-
tivamente.

Figura 11: Representação geométrica de dois ve-


tores.

Figura 9: Representação de vetores paralelos, ou


~
seja, vetores que apresentam o mesmo sentido e e “faz de outro jeito”(b + ~a) dando a “mesma
direção, apresentando ou não mesmo módulo. coisa” (Equação 1) corresponde a um paralelo-
gramo. Convença-se disso antes de seguir adiante!

Figura 10: Representação de vetores negativos, ou


seja, vetores que apresentam o mesmo módulo e
direção do vetor positivo dado e sentido contrário.

Figura 12: Representação de soma de dois vetores


2.4 Soma e subtração gráfica de vetores pela regra do paralelogramo [1].
Suponha que uma partı́cula sofra um desloca-
mento ~a e depois um deslocamento ~b, conforme Quando existem mais de dois vetores podemos
mostra a Figura 11. O que é o vetor ~a +~b? Fisica- agrupá-los em qualquer ordem para somá-los geo-
mente corresponde ao deslocamento total sofrido metricamente. Assim, se queremos somar os veto-
pela partı́cula. Visualmente falando, o vetor resul- res ~a, ~b e ~c podemos primeiro somar ~a e ~b e depois
tante ~a+~b é o vetor que “fecha” o polı́gono, ou seja, somar o resultado a ~c e também podemos somar
é o segmento de reta orientado que vai da origem primeiro os vetores ~b e ~c e depois somar o resultado
do vetor ~a até a extremidade (“flecha”) do vetor ~b ao vetor ~a.
conforme mostra a Figura 11. O polı́gono é feito
“arrastando” o vetor, sem mudar a direção deste (~a + ~b) + ~c = ~a + (~b + ~c) (2)
vetor, até a extremidade do outro vetor (Este pro-
cesso segue sucessivamente se tivermos mais de (Lei associativa)
dois vetores até incluir todos os vetores. Como
veremos, não importa a ordem que você escolhe Quando dois vetores são perpendiculares entre
para fazer o polı́gono). Uma propriedade funda- si, na Figura 13 podemos encontrar usando o teo-
mental da soma de dois vetores é que a ordem em rema de Pitágoras, o módulo do vetor resultante.
que os vetores são somados não importa. q
| ~a + ~b |= | ~a |2 + | ~b |2 (3)
~a + ~b = ~b + ~a (1)
Exemplo 2.1: De acordo com os vetores da Figura
(Lei comutativa) 14, mostrar, num gráfico em escala, um represen-
tante do vetor ~a − ~b.
Podemos também somá-los construindo um pa-
ralelogramo (lembramos que um paralelogramo é Estratégia de raciocı́nio: Primeiramente,
um quadrilátero de lados opostos paralelos). Gra- devemos escolher um eixo coordenado e indicar o
ficamente falando, esse “faz de um jeito”(~a + ~b) sentido positivo desse eixo, Figura 15.

14
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

Figura 16: Regra do paralelogramo.


Figura 13: Representação geométrica de dois ve-
tores perpendiculares. 2. Dados os vetores da Figura 15, mostrar, num
gráfico em escala, um representante do vetor:
a) ~b − ~a b) −~b − ~a c) 2~a − 3~b

3. Dado os vetores ~a = (4, 1) e ~b = (2, 6), faça


um esboço gráfico dos vetores: a) ~a + ~b b)
2~a c) 2~a − ~b

2.5 Componentes de vetores

Uma componente de um vetor é a projeção


do vetor sobre um eixo. A afirmação so-
Figura 14: Exemplo 2.1.
bre componentes nos permite fazer uma per-
gunta: Qual eixo? Perceba que precisamos
definir esse eixo! Bem, para projetar sobre
um eixo, precisamos definir um eixo coorde-
nado, e esse é um dos passos para estabele-
cer um sistema de referência de eixos coor-
denados (chamamos simplesmente de sistema
de coordenadas). Precisamos de uma origem
para o sistema de coordenadas e precisamos
especificar qual é o sentido positivo de cada
eixo coordenado (lembre-se que para cada
direção há dois sentidos). Os eixos se cruzam
formando um ângulo de 90o , logo, eles são
Figura 15: Vetores ~a e ~b no plano cartesiano. perpendiculares (sempre trabalharemos com
sistemas de eixos perpendiculares). No mo-
mento focaremos nossa discussão em um sis-
Podemos enxergar o vetor que se pede da se-
tema de coordenadas fixo chamado de sistema
guinte forma: ~a + (−~b). Perceba que o sinal ne-
de coordenadas cartesiano (inicialmente para
gativo implica na inversão do vetor ~b em relação
o plano, ou seja, precisaremos de duas coor-
ao eixo “x” positivo (ver Figura 10). Ou seja, não
denadas).
alteramos a direção do vetor, mas apenas o seu
sentido. Usando a regra do paralelogramo obte-
mos o vetor ~a − ~b conforme mostra a Figura 16. Em um sistema cartesiano normalmente a
abscissa (horizontal) é o eixo x (coordenada
x) e a ordenada (vertical) é designada pelo
Antes de prosseguirmos no assunto, sugerimos eixo y (coordenada y). Mas veja bem! Não
que você resolva as questões a seguir. é obrigatório que o eixo x seja horizontal e o
eixo y seja na vertical. Muitas vezes essa es-
1. Considerando o plano xz, construa, grafica- colha (que é a usual) é útil, mas não é uma
mente, os seguintes vetores: ~a = (2, −1), ~b = regra geral. A escolha depende do problema
(3, 2), ~c = (1, 5), d~ = (−1, −2) e ~e = (−2, 3). que você estiver analisando. Faça a escolha

15
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

que simplifique a sua vida, ou seja, faça esco-


lhas que tornem as contas mais fáceis!

Na figura 17, visualizamos o vetor ~a e sua


projeção no eixo x e no eixo y. Vale res-
saltar que ax e ay são escalares que podem
ser positivos ou negativos (a depender da ori-
entação do vetor em relação à orientação do
sistema de coordenadas escolhido).

Figura 17: Representação de um vetor arbitrário


Muito bem! Já vimos que para projetar e sua projeção sobre os eixos x e y.
um vetor precisamos escolher um sistema de
coordenadas para projetar o vetor sobre os
eixos em questão. Para cada escolha de sis-
tema de coordenadas encontraremos um par
de componentes correspondente do vetor. Te-
mos ainda um ponto muito importante para
falar para você. Não é qualquer projeção
do vetor sobre o eixo que corresponde
à componente do vetor em relação ao
eixo. Somente a projeção ortogonal ao
eixo (ou seja, perpendicular ao eixo)
corresponde à componente do vetor.
Isso é muito importante! Toda projeção
corresponde à relações entre triângulos Figura 18: Triângulo formado pelo vetor principal
retângulos. Você deve estar lembrado que e suas componentes.
as funções trigonométricas seno e cosseno en-
volvem relações em um triangulo retângulo. Com base no triângulo da Figura 18, po-
É por isso que funções seno e cosseno sem- demos encontrar as relações trigonométricas
pre vão aparecer em problemas de projeção da Equação 4.
(recomendamos que você reveja as seções 1.7
e 1.8 do capı́tulo anterior).

Uma observação, prezado leitor. Es-


tabelecer corretamente um sistema
de coordenadas é fundamental para
estabelecer um referencial a partir do
qual vamos poder medir posições e
velocidades de um corpo. Não temos
intenção que você aprenda tudo agora. O Figura 19: Triângulo para as relações trigo-
estudo do referencial é algo muito sutil e nométricas.
voltaremos a falar sobre isso nos contextos
de dinâmica e também no de cinemática.
CO CA CO
sen θ = cos θ = tg θ = (4)
H H CA
IMPORTANTE!
Só faz sentido falar em componentes de um (Relações trigonométricas)
vetor uma vez que o sistema de coordenadas
em que o vetor será decomposto já tenha sido
Deste modo, obtemos:
escolhido de maneira explı́cita.
ax =| ~a | .cos θ e ay =| ~a | .sen θ (5)

16
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

Sendo θ o ângulo que o vetor ~a faz com


o semieixo x positivo e | ~a | é o modulo do
vetor.

Uma vez que um vetor tenha sido decom-


posto em relação a um conjunto de eixos, as
componentes podem ser usadas no lugar do
vetor, assim:
q ay
| ~a |= ax 2 + ay 2 e tg θ = (6)
ax

Exemplo 2.2: Quais são as componentes Figura 21: Exemplo 2.3.


x e y do vetor ~a? Seja | ~a |= 5, 0m e o ângulo
θ = 30o . Estratégia de raciocı́nio: Novamente,
lançamos mão das relações trigonométricas,
com base nos triângulos retângulos em
questão, para encontrar as seguintes relações:
ax
sen θ =
| ~a |
ay
cos θ =
| ~a |

Portanto,

ax = 8.sen30o = 4m
Figura 20: Exemplo 2.2.
ay = 8.cos30o = 6, 92m

Vamos exercitar mais um pouco o


Estratégia de raciocı́nio: Usaremos conteúdo até aqui aprendido. A ideia é que
as relações trigonométricas com base nos você exercite a decomposição de vetores para
triângulos retângulos em questão. escolhas não usuais de sistemas coordenados.
ay
sen θ = 4. Quais são as componentes x e y do vetor ~a na
| ~a |
Figura 22? Seja | ~a |= 5, 0m e θ = 50o .
ax
cos θ =
| ~a |

Portanto,

ax =| ~a | .cos θ e ay =| ~a | .sen θ

ax = 5.cos30o = 4, 33m
ay = 5.sen30o = 2, 5m
Figura 22: Exercı́cio 4.
Exemplo 2.3: Quais são as componentes x
e y do vetor A?~ A Figura 21 mostra qual foi 5. Quais são as componentes x e y do vetor ~a
a escolha adotada para os eixos x e y. Consi- na Figura 23? Seu módulo | ~a |= 6, 50m e o
dere | ~a | = 8m e θ = 30o . ângulo θ = 45o .

17
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Figura 26: Exercı́cio 9.


Figura 23: Exercı́cio 5.
Exemplo 2.4: Um vetor deslocamento d
6. Quais são as componentes x e y do vetor ~a possui um módulo | d~ |= 175, 0m e uma in-
na Figura 24? Seja | ~a |= 8, 0m e o ângulo clinação de 50,0o , em relação ao eixo dos x
θ = 60o . como mostrado na figura abaixo. Determine
as componentes x e y deste vetor.

Figura 24: Exercı́cio 6.

Figura 27: Representação do vetor deslocamento


7. Quais são as componentes x e y do vetor ~a de suas componentes x e y.
na Figura 25? Seu módulo | ~a |= 9, 0m e o
ângulo θ = 120o .
Estratégia de raciocı́nio: De acordo
com o nosso conhecimento de trigonome-
tria básica, podemos observar o triângulo
retângulo formado pelo vetor d e suas com-
ponentes x e y. Isto nos permite aplicar as
funções trigonométricas seno e cosseno para
determinar as componentes em questão.

Figura 25: Exercı́cio 7.


Solução: A componente y pode ser obtida
usando o ângulo de 50,0o e a seguinte relação:
8. Um pequeno avião decola do aeroporto de y
Belém em um dia chuvoso e é avistado mais sen θ =
| d~ |
tarde a 300 km de distância, em um curso que
faz um ângulo de 30o a partir de leste no sen-
y =| d~ | .sen θ = (175m)(sen50, 0o ) = 134m
tido anti-horário. A que distância a leste e ao
norte do aeroporto está o avião no momento
em que é avistado? Seguindo o mesmo raciocı́nio, a compo-
nente x pode ser obtida da seguinte maneira:
9. a) Quais os sinais das componentes x de
~a, ~b e ~c na Figura 26? b) Quais são os sinais x
cos θ =
das componentes y de ~a, ~b e ~c? c) Quais são | d~ |
os sinais das componentes x e y de ~a + ~b + ~c?
Dados: | ~a |= 8N, | ~b |= 7N e | ~c |= 10N . x =| d~ | .cos θ = (175m)(cos50, 0o ) = 112m

18
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

Outra forma de determinar as componen-


tes é por meio do ângulo α. Observe:

Sabemos que:
y
cosα =
| d~ |

Desse modo:

y =| d~ | .cosα = (175m)(cos40, 0o ) = 134m

x =| d~ | .senα = (175m)(cos40, 0o ) = 112m Figura 28: Representação do vetor ~a em duas di-


mensões, x e y.

O valor de 40,0o foi encontrado por meio


do conhecimento da soma de ângulos inter- temos as informações necessárias para deter-
nos de um triângulo que tem que ser igual a minar o vetor resultante. Esse é um ponto
180,0o . essencial ao se trabalhar com vetor. Faremos
um exemplo para dois vetores. Mas preste
atenção! Esse método pode ser utilizado para
2.6 Vetores unitários ou versores soma envolvendo uma quantidade qualquer
de vetores. Portanto, você estará aprendendo
Outro método de expressar componentes
um método geral, muito útil e importante
vetoriais consiste em usar vetores unitários.
para a sua formação.
Mas, para que usar vetores unitários? Ou
ainda, o que são vetores unitários? Para
que eles servem? Quais são as suas carac- Considere os vetores ~a e ~b e suas respecti-
terı́sticas? Um vetor unitário também conhe- vas componentes ax , ay e bx , by .
cido como versor é um vetor que possui um
módulo unitário e é adimensional. Possui a
seguinte notação: Logo, podemos escrever os vetores em ter-
mos de seus versores da seguinte forma:

ı̂ é um vetor unitário adimensional de com- ~a = ax ı̂ + ay ̂


primento 1 que aponta no sentido positivo do
eixo dos x. ~b = bx ı̂ + by ̂

̂ é um vetor unitário adimensional de com- Os vetores ~a e ~b estão sendo representados


primento 1 que aponta no sentido positivo do na Figura 29.
eixo dos y. Não devemos esquecer que só podemos so-
mar vetores que estejam na mesma direção
Ou seja, para cada coordenada temos um e ou eixo coordenado! (lembramos que se os
somente um versor associado. O versor serve vetores estiverem em sentido contrário terão
para indicar o sentido positivo da coordenada sinais contrários, necessariamente). No nosso
a qual o versor está associado. Lembre-se caso, analisando o eixo x notamos que, so-
disso, ok? bre o eixo, encontram-se as componentes ax e
bx pois ambas estão orientadas pelo versor ı̂!
Devemos extender o mesmo raciocı́nio para o
2.7 Soma de vetores a partir de eixo y.
suas componentes

Uma forma de somar vetores é combinar Portanto, temos:


suas componentes eixo por eixo. Depois de
encontrar as componentes do vetor resultante ~c = cx ı̂ + cy ̂ = (ax + bx )ı̂ + (ay + by )̂ (7)

19
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

eixo. Tendo a resultante para cada eixo apli-


camos o teorema de Pitágoras para encontrar
o módulo do vetor resultante. Para encontrar
a orientação espacial do vetor resultante (ou
seja, a direção e o sentido do vetor) faremos
uso das relações trigonométricas seno, cosseno
ou tangente (a depender em relação a quem
vamos querer especificar a direção do vetor e
se vamos querer usar a informação do módulo
do vetor em si ou das suas componentes).

Solução: Com as informações dadas na


figura, montamos a seguinte tabela:

Figura 29: Representação dos vetores ~a e ~b forne- Vetor Componente x Componente y


cendo o vetor resultante ~c, a partir de suas com- ax = (145m) ay = (145m)
ponentes. ~a .sen20o .cos20o
= 49, 6m = 136m
bx = (105m) by = −(105m)
Exemplo 2.5: Um corredor se desloca 145 ~b .cos35o .sen35o
m numa direção nordeste, que faz 20o com a = 86m = −60, 2m
direção norte tomado no sentido horário (re- cx = ax + bx cy = ay + by
presentado pelo vetor deslocamento ~a) e de- ~c
= 135, 6m = 76m
pois 105 m em uma direção sudeste fazendo
35,0o com a direção leste também no sen- Tabela 2: Componente de vetores.
tido horário (representado pelo vetor deslo-
camento ~b). Determine o módulo, a direção
e o sentido do vetor resultante para a soma A terceira linha da tabela fornece as com-
destes dois deslocamentos. ponentes x e y do vetor resultante ~c : cx =
ax + bx e cy = ay + by . A figura seguinte
nos mostra o vetor resultante ~c e suas com-
ponentes vetoriais. E aplicando o teorema
de Pitágoras no triângulo retângulo fornecido
pela mesma, temos:

Figura 30: Representação dos vetores ~a e ~b soma-


dos fornecendo o vetor resultante ~c.

Estratégia de raciocı́nio: A Figura 30 Figura 31: Representação de um vetor resultante


nos mostra os vetores ~a e ~b. Suponhamos que ~c formando um triângulo retângulo com suas com-
o eixo y positivo coincide com a direção norte ponentes.
e o eixo x positivo com o sentido leste. O pri-
meiro passo é decompor cada um dos vetores
nos eixos escolhidos para compor o sistema Desse modo:
de coordenadas. Com isso achamos as com- q q
| ~c |= cx 2 + cy 2 = (135, 6m)2 + (76m)2
ponentes ax , bx e ay , by . Em seguida fazemos
a soma para determinar a resultante em cada | ~c |= 155, 4m

20
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

Pergunta importante: em relação a 2.9 Multiplicação de um vetor por


quem nós vamos especificar a ori- escalar
entação do vetor? Se usarmos uma
bússola, normalmente é feito em relação à Podemos multiplicar um vetor arbitrário ~a
direção norte. Em relação ao sistema por um escalar (número) w. Dessa operação
cartesiano, normalmente a orientação é obtemos um vetor resultante ~r com as seguin-
dada em relação ao semieixo x positivo tes caracterı́sticas:
(mas não obrigatoriamente). Portanto, em
relação a essa escolha, o ângulo θ que ~c faz ~r = ~a.w (8)
com o eixo x é:

cy
 
76m
 | ~r |=| ~a | .w (9)
θ = tg −1 = tg −1 = 29, 3o
cx 135, 6m
• O módulo do vetor resultante é o módulo
a partir de x (+) no sentindo antihorário. que resulta da multiplicação do módulo
de ~a vezes w.
Lembre-se! Para encontrar o valor da com- • A direção do novo vetor é a mesma.
ponente do vetor resultante você deve somar • O sentido de ~r é o mesmo de ~a se w for
a contribuição de todos os vetores. As compo- positivo e sentido oposto se w for nega-
nentes podem ser positivas ou negativas. Se a tivo.
projeção de um dado vetor sobre um eixo ti-
ver orientação contrária a que foi estabelecida • A dimensão do vetor ~r é igual a di-
como positiva ela entrará com sinal negativo mensão do vetor ~a multiplicada pela di-
na soma. mensão do escalar w.

Sugerimos neste momento que você, leitor, 2.10 Multiplicação de um vetor por
faça as questões a seguir: um vetor
10. Dados os vetores ~a = 2ı̂ + 3̂, ~b = ı̂+̂ e ~c =
Existem duas formas de multiplicar um ve-
−4ı̂ + 2̂. Calcule:
tor por um vetor: uma forma conhecida como
a) ~a + ~b b) ~a + ~c c) ~a − ~b
produto escalar que resulta em um escalar, a
11. Com base nos vetores da 10a questão, calcule: outra conhecida como produto vetorial que
a) 2~a − ~b b) ~b + ~c c) ~a + ~b + ~c resulta em um vetor.

12. Esboce, no gráfico xy, os vetores da questão


10. 2.10.1 Produto escalar
13. Esboce, no gráfico xy, os vetores da questão
A multiplicação de um vetor por outro ve-
11.
tor resultando em um escalar é denominada
produto escalar. Dados dois vetores ~a e ~b, o
2.8 Multiplicação de vetores produto escalar é escrito como ~a.~b e definido
pela equação:
No inı́cio do capı́tulo dissemos que vetores
se combinam segundo regras bem definidas de ~a.~b =| ~a | . | ~b | .cos θ (10)
soma e multiplicação. Já vimos as relações
de soma. Fica então a pergunta: Como ve-
tores se combinam segundo regras de Vemos, portanto, que o produto escalar
multiplicação? Multiplicar um vetor por entre dois vetores depende dos módulos dos
um escalar é fácil. Significa que estamos alte- vetores, mas também depende da angulação
rando o módulo (intensidade) do vetor sem entre dois vetores (e a dependência é com a
mudar a direção do mesmo. Temos ainda função cosseno. Lembre-se disso!). Isso quer
duas formas de multiplicar vetores entre si. dizer que o produto escalar entre dois veto-
Ambas são úteis e muito importantes. Veja- res de módulo muito grande pode ser zero, a
mos! depender da angulação entre eles.

21
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

IMPORTANTE!

Se o ângulo θ entre dois vetores é 0o , a


componente de um vetor em relação ao outro é
máxima. Se o ângulo é 90o , a componente de
um vetor em relação ao outro é nula.
Figura 32: Representação da multiplicação de um
vetor por um escalar.

Exemplo 2.6: Qual é o ângulo θ entre ~a =


Baseado nisso responda: Qual ângulo en-
tre os vetores faz com o que o produto escalar 3, 0ı̂ − 4, 0̂ e ~b = −2, 0ı̂ + 3, 0k̂ ?
dê zero, independente dos módulos dos veto-
res? Observe a Figura 32.
Estratégia de raciocı́nio: Sabemos que
o ângulo entre dois vetores aparece na de-
Repare que | ~a | .cos θ corresponde exa- finição de produto de escalar (Equação 10).
tamente à projeção do vetor ~a sobre o vetor
~b. É exatamente disso que se trata o produto
escalar! Solução: Sabemos que | ~a | é o módulo
do vetor ~a, dado por:
Podemos escrever a equação que define o q
produto escalar separando as componentes da | ~a |= (3, 0)2 + (−4)2 = 5, 0
seguinte forma:

~a.~b = (| ~a | .cos θ). | ~b |= (cos θ. | ~b |). | ~a |


E que | ~b | é o módulo do vetor ~b dado por:
q
Vemos, portanto que a propriedade comu- | ~b |= (−2)2 + (3, 0)2 = 3, 61
tativa se aplica ao produto escalar. Desse
modo,
~a.~b = ~b.~a Podemos calcular o produto escalar es-
crevendo os vetores em termos dos vetores
Em três dimensões (x, y, z ) o produto es- unitários e aplicando a propriedade distribu-
calar dos vetores ~a e ~b, escritos em termos de tiva:
seus vetores unitários, assume a forma:
~a.~b = (3, 0ı̂ − 4, 0̂).(−2, 0ı̂ + 3, 0k̂ )
~a.~b = (ax ı̂ +ay ̂ +az k̂ ).(bx ı̂ +by ̂ +bz k̂ ) (11)
~a.~b = (3, 0ı̂).(−2, 0ı̂) + (3, 0ı̂).(+3, 0k̂ ) +
(−4, 0̂).(−2, 0ı̂) + (−4, 0̂).(+3, 0k̂ )

Aplicaremos a propriedade distributiva na


Equação 11. Não é surpresa para ninguém De acordo com o produto escalar
que as direções x, y, z são ortogonais entre
si. Portanto os versores relacionados a es-
Logo, ~a.~b = −6, 0.
sas direções são ortogonais entre si. Sabendo
que os versores possuem módulo unitário e
utilizando a expressão (10) que define o pro-
Substituindo todos os resultados encontra-
duto escalar demonstre que ı̂.ı̂=̂.̂=k̂ .k̂ = 1
dos na equação do produto escalar, obtemos,
e ı̂.̂=̂.k̂ = k̂ .ı̂= 0 Usando essas informações
no produto da expressão (11), obtemos:
−6, 0 = (5, 0).(3, 61).cos θ
~a.~b = ax .bx + ay .by + az .bz (12)
−6, 0
 
−1
θ = cos = 109o
(5, 0).(3, 61)

22
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

Chegou o momento! Vamos exercitar o


conteúdo até aqui aprendido.

14. Calcular o ângulo entre os vetores ~a = (1, 1, 4)


e ~b = (–1, 2, 2).

15. Dados os vetores ~a = 3ı̂ + 2̂, ~b = 2ı̂ + ̂ e


~c = −4ı̂ + 2̂. Calcule o produto escalar:
a) ~a.~b, b) ~a.~c e c) ~b.~c

16. Com base na questão 15, calcule o produto


escalar:
a) (~a + ~b).~a, b) (~a + ~b).~b e c) (~a + ~b).~c

2.10.2 Produto vetorial

A multiplicação de um vetor por outro ve-


tor resultando em um terceiro vetor é deno-
minada produto vetorial. Dados dois vetores
~a e ~b, o produto vetorial é escrito como ~a × ~b.
O módulo do vetor ~c obtido pelo produto ve-
torial entre os vetores ~a e ~b é dado por

| ~c |=| ~a | . | ~b | .sen θ (13)

Sendo θ o menor ângulo formado en-


tre os vetores dados, uma vez que sen θ e
sen(360o –θ) apresentam sinais opostos. O Figura 33: Regra da mão direita.
produto ~a × ~b é lido como “ ~a vetor ~b”.
Por isso que o sentido do vetor resultante é
A direção do vetor resultante ~c é perpen- invertido quando invertemos a ordem do pro-
dicular ao plano definido por ~a e ~b. O seu duto (o módulo do vetor resultante é o mesmo
sentido pode ser determinado pela Regra da para os dois casos). Portanto, ~a ×~b = −~b ×~a.
Mão Direita. Superponha as origens de ~a Vamos então resumir a toda a informação do
e ~b sem mudar suas orientações. Já falamos produto vetorial entre vetores numa tabela a
que a direção do vetor resultante ~c é perpen- seguir.
dicular ao plano definido por ~a e ~b. A receita Para finalizar! Vamos exercitar o
para determinar o sentido de ~c é a seguinte. conteúdo até aqui aprendido.
Vá de ~a para ~b pelo menor percurso angular
entre os dois vetores. Quatro dedos da sua 17. Dados os vetores ~a = 2ı̂ − ̂, ~b = ı̂ + ̂ + k̂ e
mão direita fazem o menor percurso angular ~c = −2ı̂ + k̂ , determine as expressões:
de ~a para ~b e o dedo polegar estendido indica a) ~a ×~b, b) ~c ×~b, c) ~a × (~b ×~c) e d) (~a ×~b) ×~c
o sentido do vetor resultante. Se fizermos o
mesmo percurso angular, mas agora de ~b para Principais pontos do capı́tulo:
~a, o sentido do vetor resultante indicado pelo
dedo polegar extendido é invertido conforme • Grandezas vetoriais, diferentemente das
indicado na Figura 33 como a regra da mão grandezas escalares que precisam apenas
direita nos fornece de forma clara sobre as ca- de um módulo para serem descritas, pre-
racterı́sticas do produto vetorial. cisam de uma orientação espacial.
• Grandezas vetoriais se combinam
Isso traz uma importante consequência. usando regras de soma vetorial.
Observamos que o produto vetorial entre ve- • Soma vetorial também pode ser feita
tores não é comutativo, ou seja, ~a ×~b 6= ~b ×~a. usando componentes de vetores.

23
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

PRODUTO VETORIAL ~c = ~a × ~b 4. Você pode ordenar os acontecimentos no


| ~c |=| ~a | . | ~b | .sen θ (função dos tempo. Por exemplo, o evento b pode pro-
MÓDULO módulos dos vetores ~a e ceder ao evento c, porém seguir o evento a,
~b e do ângulo entre eles) dando a ordenação temporal do evento a, b e
Perpendicular ao plano c. Consequentemente, existe um sentido para
DIREÇÃO o tempo, distinguindo o passado, o presente
formado pelos vetores ~a e ~b
Convencionado pela regra da e o futuro. Será que o tempo, então, é uma
mão direita. Quatro dedos grandeza vetorial? Se não, por quê?
vão de ~a para ~b, pelo menor 5. O produto escalar pode ser uma quantidade
SENTIDO
percurso angular e o dedo negativa? Justifique.
polegar indica o sentido do
vetor resultante. 6. a) Sendo ~a.~b = 0, podemos concluir daı́ que
os vetores são perpendiculares entre si? b) Se
Tabela 3: Propriedades do vetor ~c = ~a × ~b ~a.~b = ~a.~c, segue-se daı́ que ~b = ~c?

7. Se ~a × ~b = 0, ~a e ~b devem ser paralelos entre


si? O inverso é verdadeiro?
IMPORTANTE!
~
Se ~a e b são paralelos ou antiparalelos, 8. Considere dois deslocamentos, um igual a 3
~a × ~b = 0. E o módulo de ~a × ~b é máximo m e um outro de módulo igual a 4 m. Mos-
quando ~a e ~b são perpendiculares. tre como os vetores deslocamento podem ser
combinados de modo a fornecer um desloca-
mento resultante de módulo igual a:
a) 7 m; b) 1 m; c) 5 m.
• A decomposição de vetores é feita
utilizando as funções trigonométricas 9. Uma mulher caminha 250 m na direção de
básicas. 30o a nordeste em relação a norte no sentido
• Um vetor unitário tem módulo igual a horário e em seguida 175 m diretamente para
1, é adimensional e tem a função de des- leste. a) Utilizando métodos gráficos, deter-
crever uma direção no espaço. mine o deslocamento resultante. b) Compare
• O produto escalar entre dois vetores é o módulo do deslocamento com a distância
uma grandeza escalar. Enquanto que o que ela caminhou.
produto vetorial é uma grandeza veto-
10. Uma pessoa caminha do seguinte modo: 3,1
rial orientada sempre perpendicular ao
km para o norte, depois 2,4 km para oeste e,
plano formado pelos vetores multiplica-
finalmente, 5,2 km para o sul. a) Construa o
dos e com sentido definido pela regra da
diagrama vetorial que representa este movi-
mão direita.
mento. b) Que distância um pássaro deveria
voar, em linha reta, em que direção, de modo
a chegar ao mesmo ponto final?

EXERCÍCIOS 11. Quais são os componentes de um vetor ~a lo-


calizado no plano xy, se sua direção faz um
ângulo de 205o com o eixo x positivo e o seu
1. Determine (a) a soma de ~a + ~b, em termos módulo é igual a 7,3 unidades?
de vetores unitários para ~a = 4ı̂ + 3̂ e ~b =
12. Um vetor deslocamento ~r no plano xy tem um
−13ı̂ + 7̂. Determine (b) o módulo e (c) a
comprimento igual a 15 m e faz um ângulo
orientação de ~a + ~b.
de 15o com o eixo x positivo. Determine os
2. Um vetor pode ter módulo igual a zero se uma componentes x e y deste vetor.
de suas componentes for diferente de zero?
13. Determine, utilizando os vetores unitários, a)
3. É possı́vel que a soma dos módulos de dois a soma dos dois vetores ~a = 4ı̂ + 3̂ e ~b =
vetores seja sempre igual à soma destes dois −3ı̂ + 4̂. B) Quais são o módulo e a direção
vetores? do vetor ~a e ~b?

24
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

14. No sistema de coordenadas da figura abaixo, 20. Um vetor F~ forma um ângulo θ = 30o com
mosque que: um vetor G.~ Sabendo que | F~ |= 5 e | G
~ |= 8,
ı̂.ı̂=̂.̂=k̂ .k̂ = 1 e ı̂.̂=̂.k̂=k̂ .ı̂= 0 ~
calcule: (a) o módulo da resultante R; (b) o
ângulo formado entre a resultante e o vetor
F~ .

PROBLEMAS ADICIONAIS

21. Uma ciclovia circular possui raio igual a 500


m. a) Qual a distância percorrida por uma
ciclista que percorre a pista da extremidade
norte para a extremidade sul? b) Qual o
módulo do deslocamento feito pela ciclista da
15. Um vetor ~a de módulo igual a 10 unidades e
extremidade norte para a extremidade sul?
outro vetor ~b de módulo igual a 6 unidades
c) Qual o módulo do deslocamento feito pela
apontam para direções que fazem um ângulo
ciclista ao executar uma volta completa na
de 60o entre si. a) Determine o produto esca-
ciclovia?
lar entre os dois vetores e b) o produto veto-
rial ~a × ~b. 22. Os controladores de tráfego aéreo fornecem
instruções para os pilotos informando em que
16. A soma de três vetores é igual a zero, como direção e sentido eles devem voar. Essas ins-
nos mostra a figura abaixo. Calcule o módulo truções são chamadas de “vetores”. Se es-
de: tas forem as únicas informações dadas aos pi-
a) ~a × ~b; b) ~a × ~c; c) ~b × ~c. lotos, o nome de “vetor”está sendo ou não
usado corretamente? Explique por que sim
ou por que não.

23. Um engenheiro civil desorientado em uma


grande obra dirige 3,25 km para o norte, de-
pois 4,75 km para o oeste, por seguinte 1,50
km para o sul e por fim 2,50 km para o leste.
Determine o módulo, a direção e o sentido do
deslocamento resultante feito pelo engenheiro
civil em sua obra.

17. Sejam dois vetores representados em termos 24. Um explorador polar foi surpreendido por
de suas coordenadas como: uma nevasca, que reduziu a visibilidade a pra-
~a = ax ı̂ + ay ̂ + az k̂ e ~b = bx ı̂ + by ̂ + bz k̂ ticamente zero, quando retornava ao acampa-
mento. Para chegar ao acampamento, deve-
Mostre que: ~a.~b = ax bx + ay by + az bz ria ter caminhado 5,6 km para o norte, em
seguida 3,4 km na direção 30o a nordeste me-
18. Uma força de F~1 , de módulo igual a 2 N forma dido do norte e por fim 2,3 km fazendo um
um ângulo de 30o com o eixo Ox .Uma força ângulo de 85o em relação a oeste no sentido
F~2 , de módulo igual a 6 N forma um ângulo de anti-horário. Quantos quilômetros e em que
80o com o eixo Ox . Calcule: (a) o módulo |F~r| direção o explorador deverá seguir em linha
da força resultante F~r ; (b) o ângulo formado reta para chegar ao acampamento?
entre a resultante e o eixo Ox .
25. Uma pesquisadora está indo fazer uma pes-
19. Um vetor ~a forma um ângulo θ = 60 com um quisa em uma caverna e para isso ela deve
vetor ~b. Sabendo que | ~a |= 3 e | ~b |= 4, cal- percorrer 180 m para oeste, depois 210 m fa-
cule o módulo do vetor resultante ~r (unidades zendo um ângulo de 45o em relação a oeste no
de força em Newton). sentido horário e por fim 280 m fazendo um

25
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

ângulo de 30o em relação a leste no sentido


anti-horário. Depois um quarto deslocamento
não medido, ela retorna ao ponto de partida,
pois esqueceu seu material de pesquisa. De-
termine o módulo, a direção e o sentido desse
quarto deslocamento.

26. Determine a soma de ~a + ~b em termos de ve-


tores unitários para ~a = (4, 0m)ı̂ + (3, 0m)̂ e
~b = (−13, 0m)ı̂ + (4, 0m)̂ juntamente com o
seu módulo e a orientação de ~a + ~b relativa a
̂. Obs.: O sı́mbolo m é expresso nos vetores
é pra denotar que esses possuem dimensão de
comprimento.

27. O módulo do vetor ~a é 6,00 unidades, o


módulo do vetor ~b é 7,00 unidades e ~a.~b = 14.
Qual o ângulo entre ~a e ~b?

26
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

3 LEIS DE NEWTON dessas leis. É também muito importante entender


as relações que cada uma das leis possui entre si,
3.1 Objetivos de aprendizagem: ou seja, não devemos apenas pensar em cada uma
• Entender a diferença entre referenciais inerci- das leis separadamente. Antes disso, vamos olhar
ais e não inerciais. rapidamente a questão do referencial voltada para
o estudo da dinâmica.
• Aprender o significado de força resultante e
força resultante nula.
3.3 Referencial do ponto de vista da
• Aprender como relacionar força resultante, dinâmica
massa e aceleração de um corpo.
Conforme veremos, ao falar sobre Leis de New-
• Identificar as forças decorrentes da interação ton precisaremos saber em que referenciais tais leis
entre dois corpos. são válidas (tais como a conhecemos) e em que re-
ferenciais não são válidas. No caso da 1a Lei fa-
3.2 Introdução laremos também sobre estado de repouso de um
corpo.
Uma pergunta interessante para iniciar este
tópico seria: O que é mecânica do ponto de vista
da Fı́sica? Podemos dizer que a mecânica é uma Todas essas questões fazem necessária uma pe-
área da fı́sica que trata as questões de movimento quena discussão sobre o conceito de referencial.
dos corpos levando em conta, de uma maneira ge- Vamos trazer algumas situações do cotidiano para
ral, as causas do movimento. Nesse sentido, a discutir sobre esse conceito.
mecânica inclui a cinemática e a dinâmica. A
mecânica estuda também situações de equilı́brio Imagine que você está no banco de trás de
dos corpos (estático e dinâmico) e, portanto, po- um carro a 40 Km/h. Para o motorista, você
demos dizer que a estática também está compreen- está parado, com velocidade igual a 0 km/h. Já
dida nessa importante área da fı́sica. Acrescenta- para alguém que te observa da calçada, você está
se também que se o corpo ou sistema fı́sico se mo- se locomovendo a 40 Km/h. Quem está errado
vimenta de maneira acelerada, a descrição desse nessa discussão? Resposta: Ninguém! As análises,
tipo de movimento também é objeto de estudo tanto do ponto de vista de um referencial (o mo-
da mecânica. Uma outra maneira de descrever a torista) quanto do outro referencial (o observador
mecânica é por meio da influência que corpos exer- na calçada) são válidas. Portanto, desta simples
cem nas interações entre si via forças (sejam forças discussão podemos tirar algumas conclusões im-
de contato ou de qualquer outra natureza). Vemos portantes: 1- Repouso (ausência de movimento)
que não temos pouca coisa pela frente: Interações é algo relativo (repouso em relação a quem?).
entre corpos; estudos de situações de equilı́brio e Depende do referencial adotado! 2 – Velocidade
de movimento acelerado, entre outras tantas coi- também é um conceito referente a algum referen-
sas. Do ponto de vista de formação profissional, a cial’ (velocidade em relação a quem?). Em relação
mecânica é imprescindı́vel para o engenheiro, qual- ao estado de repouso, alguém pode tentar argu-
quer que seja a sua área. Do ponto de vista de per- mentar que um referencial fixo em relação à su-
cepção e entendimento do mundo ao nosso redor é perfı́cie da Terra (uma árvore, por exemplo) está
tão importante quanto o aspecto formativo. Con- absolutamente em repouso. Mas se levarmos em
vidamos então você para ir adiante ao fascinante conta que a Terra também está em movimento,
estudo da mecânica! como fica essa “certeza”? Bem, do que já sabe-
mos pelos avanços da Fı́sica e da Astronomia, ao
Neste contexto, estudaremos a Dinâmica: que contrário do que se cogitava na antiguidade, não
é a parte da Mecânica que estuda os movimen- existe movimento absoluto e nem repouso abso-
tos e as causas que os produzem ou os modificam. luto. Temos que prestar atenção no referencial
Costumamos construir o arcabouço da mecânica que estamos adotando para fazer a análise do mo-
a partir do enunciado das Leis de Newton. As vimento. O estudo do referencial reserva ainda
Leis de Newton formam um conjunto consistente algumas surpresas. Veremos que nem todos os re-
para descrever uma imensa variedade de situações ferenciais são equivalentes, e entender esse ponto é
e fenômenos que vemos ao nosso redor. É nosso de- muito importante para a correta compreensão das
ver entender ao máximo o que significa cada uma Leis de Newton.

27
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

Mais um exemplo (na verdade estamos re- (comparáveis à aceleração da gravidade ou


alizando experiências de pensamento1 !). Imagi- maiores). Mas o observador não conseguirá
nemos agora que nos encontramos num elevador descrever essa(s) força(s) do ponto de vista do
movendo-se para baixo num movimento retilı́neo próprio referencial. Por esse motivo essa força(s)
com velocidade constante. Se o observador que é(são) chamada(s) de força(s) fictı́cia(s). O que o
se encontra dentro dele deixar cair um objeto, ele leitor precisa mesmo ter em mente é o seguinte:
cairá normalmente por ação da força de gravidade
normal. Imaginemos agoraque num dado instante
há um problema com o cabo e o elevador entra em IMPORTANTE!
queda livre. Se o observador largar agora o mesmo
1- Um referencial inercial não está acelerado.
objeto ele não cairá (em relação ao observador que
2- A aplicação e entendimento das leis de New-
também está caindo aceleradamente).
ton conforme estudaremos nesse material são
válidos para referenciais inerciais.
No primeiro caso (elevador que desce com ve-
locidade constante) podemos tomar o observador
3.4 Primeira lei de Newton (Princı́pio
como sendo um referencial inercial. Na outra
da Inércia)
situação (cabo arrebentado) o “pobre” observador
que está no elevador não pode mais ser tomado A primeira lei de Newton afirma que se a
como um referencial inercial. É, portanto, um força resultante, atuante sobre um corpo é nula,
referencial não-inercial. Aqui avisamos ao leitor então o corpo que estiver em repouso, permanecerá
que o estudo de referencial é algo bem sutil e em repouso ou se estiver em movimento com
procuraremos ser tão “light” quanto possı́vel, mas velocidade constante, ele continuará nesse mesmo
sem perder de vista que referencial inercial e movimento.. Em outras palavras, essa proprie-
referencial não inercial do ponto de vista fı́sico dade da matéria de resistir a qualquer variação
e matemático são não equivalentes, portanto não em sua velocidade recebe o nome de inércia. Essa
devem ser confundidos2 . Vamos colocar a questão propriedade é diretamente proporcional à massa
de duas maneiras simples e complementares. A do corpo.
primeira é que um referencial que está sofrendo
uma aceleração é não inercial. A outra é a
seguinte. Só é válida a aplicação direta das leis de
Newton em referenciais inerciais. Se um observa-
dor está em um referencial acelerado ele sentirá o
efeito de força(s) que ele não conseguirá descrever
no próprio referencial. O efeito dessa(s) força(s) é
tão real quanto qualquer outra. Não duvide disso,
prezado leitor! (quem nunca foi “espremido” con-
tra a parede de um ônibus fazendo uma curva?).
O ponto é que nosso corpo “sabe” quando Figura 34: Quanto mais lisa a superfı́cie, mais
estamos submetidos a acelerações apreciáveis longe um disco desliza após tomar uma velocidade
1
Experiências de pensamento são recursos utilizados por inicial.Se ele se move em um colchão de ar sobre
grandes fı́sicos, tais como Galileu Galilei e Albert Einstein. a mesa (c) a força de atrito é praticamente zero,
Em tais experiências o arcabouço teórico é utilizado e as de modo que o disco continua a deslizar com ve-
consequências podem ser deduzidas sem custos e sem riscos
locidade quase constante (YOUNG. H. D; FRE-
para ninguém. Não substitui a experiência de fato, mas
nem por isso deixam de ser interessantes. EDMAN. Fı́sica 1-Sears & Zemansky. Mecânica.
2
Apenas para o leitor saber. A Terra por conta dos mo- 12a . Edição. Ed. Pearson)
vimentos que executa em seu “passeio” pelo espaço sideral
sofre efeito de acelerações. Ou seja, “para valer, para valer
mesmo”, a Terra não é um referencial inercial. Como es-
sas acelerações são muito pequenas quando comparadas à A 1a Lei de Newton pode ser ilustrada com
aceleração da gravidade, nós consideramos apenas de ma- algumas experiências de pensamento (ok, podem
neira aproximada a Terra como sendo um referencial iner- ser ilustradas na prática também!). Quem já an-
cial. Isso quer dizer que numa grande variedade de ex-
perimentos de mecânica que realizamos em laboratório os
dou de carro, ônibus ou avião sabe que quando o
resultados não são afetados apreciavelmente por conta dos meio de transporte viaja com velocidade estabili-
movimentos acelerados que o nosso planeta sofre. zada em linha reta tudo se passa como se o mesmo

28
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

estivesse parado. Mas tudo muda quando o meio Essa é a importância. Não enxergar de ma-
de transporte sofre uma variação de direção ou no neira plena a relação entre velocidade e aceleração
módulo da velocidade. pode comprometer seu entendimento sobre as leis
de Newton. Mas agora você já sabe! Se o ob-
3.5 Relação vetorial entre velocidade e jeto está acelerado, ele não está em equilı́brio e,
aceleração portanto, há uma força resultante não nula atu-
ando sobre ele (somente enquanto o objeto estiver
Não são poucos alunos que confundem concei- acelerado).
tualmente e operacionalmente dois conceitos veto-
riais muito importantes para a dinâmica: veloci-
dade e aceleração. Há ainda alguns comentários importantes a se-
rem feitos sobre a primeira lei de Newton. A pri-
meira lei trata sobre estados de equilı́brio (não ace-
São conceitos que estão relacionados, mas são
lerados – força resultante nula). O repouso é ape-
distintos. É fundamental que o leitor tenha em
nas uma forma de equilı́brio (também chamado
mente o seguinte. Velocidade é um vetor, e qual-
de equilı́brio estático). Um objeto que se mova
quer variação nesse vetor (velocidade) corresponde
com rapidez constante numa trajetória retilı́nea
a uma aceleração. Sem exceção! Mas o que isso
também se encontra em equilı́brio. O equilı́brio,
quer dizer? Sejamos ainda mais explı́citos.
do ponto de vista da mecânica, é um estado em
1. Situação em linha reta. Pense num carro ace- que não ocorrem mudanças no estado de movi-
lerando ou frenando (qualquer coisa que al- mento do objeto. Uma bola de boliche rolando
tere o módulo da velocidade). Nesse caso a com rapidez constante numa trajetória retilı́nea
aceleração é facilmente visualizável pela mai- também está em equilı́brio (equilı́brio dinâmico) –
oria dos alunos. Nesse caso, temos uma ace- até que bata nos pinos.
leração associada a uma variação do módulo
da velocidade e que possui a mesma direção A forma vetorial da resultante nula é dada pela
do vetor velocidade. Equação 14 enquanto que as formas escalares são
mostradas na Equação 15.
2. Situação de curva realizada com veloci-
dade escalar constante (curva realizada com F~ = 0
X
(14)
pressão constante no acelerador, resultando
em leitura constante no velocı́metro). Nesse (partı́cula em equilı́brio,forma vetorial)
caso temos aceleração associada à variação de
direção do vetor velocidade. Essa aceleração
X X X
Fx = 0; Fy = 0; Fz = 0 (15)
é perpendicular ao vetor velocidade (veremos
mais a respeito no estudo do movimento cir- (partı́cula em equilı́brio, forma de componentes)
cular uniforme)
Outro ponto importante da primeira lei de
3. Bola que ricocheteia horizontalmente contra
Newton. Um objeto sob a influência de uma
uma parede e retorna com o mesmo módulo
única força jamais pode estar em equilı́brio. A
da velocidade, mas tem seu sentido de movi-
força resultante não poderia ser nula. Apenas
mento alterado. Nesse caso, não temos mu-
quando duas ou mais forças atuam é que pode
dança de módulo ou de direção, mas ainda
haver equilı́brio. Podemos testar se algo está ou
assim temos uma aceleração associada à mu-
não em equilı́brio observando se ocorrem ou não
dança de sentido do vetor velocidade.
alterações em no estado de movimento do corpo.
Mas por que essa discussão é importante? Para
responder façamos outra leitura da primeira Lei IMPORTANTE!
de Newton: A velocidade de um objeto, vetori-
almente falando, não muda “de graça”. Se há Uma força resultante nula sobre um objeto não
variação do vetor velocidade (seja de módulo, de significa que ele esteja necessariamente em re-
direção ou apenas mudança de sentido) há ace- pouso, e sim que seu estado de movimento
leração e se há aceleração há também a presença mantém-se inalterado. Ele pode estar tanto em
de uma força resultante que perdura enquanto repouso quanto em movimento uniforme em li-
houver mudança do vetor velocidade. nha reta.

29
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

3.6 Segunda lei de Newton


De acordo com a primeira lei de Newton,
quando um corpo sofre uma força resultante nula,
ele se move com velocidade constante e aceleração
zero. Mas o que acontece quando a força resul-
tante é diferente de zero? Sobre um disco em mo-
vimento na Figura 34 com atrito desprezı́vel, apli- Figura 35: Massa, aceleração e a segunda lei de
camos uma força horizontal constante na mesma Newton.
P
direção e sentido em que ele se move. Logo, F é
constante e se desloca na mesma direção horizon-
Quando você joga uma bola, pelo menos duas
tal de v. Descobrimos que enquanto a força está
forças agem sobre ela: o empurrão da sua mão e
atuando, a velocidade do disco varia a uma taxa
o puxão para baixo da gravidade. Experiências
constante. A velocidade escalar do disco aumenta,
comprovam que, quando duas forças F~1 e F~2
de modo que a aceleração a está na mesma direção
atuam simultaneamente em um ponto A de um
de v e F~ (YOUNG. H. D; FREEDMAN. Fı́sica
P
corpo (Figura 36), o efeito sobre o movimento do
1-Sears & Zemansky. Mecânica. 12a . Edição. Ed.
corpo é o mesmo que o efeito produzido por uma
Pearson.). Concluı́mos que uma força resultante
única força R dada pela soma vetorial das
não nula que atua sobre um corpo faz com que
duas forças F~1 e F~2 .. Generalizando, o efeito
o corpo acelere na mesma direção que a força
sobre o movimento de um corpo produzido por um
resultante. O vetor força resultante é igual ao
número qualquer de forças é o mesmo efeito pro-
produto da massa pela aceleração do corpo. Esta
duzido por uma força única igual à soma veto-
é uma das formulações da 2a Lei de Newton.
rial de todas as forças. Esse resultado impor-
tante denomina-se princı́pio da Superposição das
F~ = m~a
X
(16)
Forças. (YOUNG. H. D; FREEDMAN. Fı́sica 1-
Sears & Zemansky. Mecânica. 12a . Edição. Ed.
(Segunda Lei de Newton, Forma Vetorial)
Pearson.)

Normalmente usaremos essa relação na forma


de componentes:
X X X
Fx = max Fy = may Fz = maz (17)

(segunda lei de Newton, forma de componentes)

Figura 36: Duas forças F~1 e F~2 que atuam sobre


A aceleração de um corpo submetido à ação um ponto A exercem o mesmo efeito que uma força
de um conjunto de forças é diretamente proporci- R dada pela soma vetorial.
onal à soma vetorial das forças que atuam sobre o
corpo (a força resultante) e inversamente propor-
cional à massa do corpo. Esta é outra formulação
da segunda lei de Newton. Como na primeira lei, a Em problemas de mecânica, só entendemos (e
segunda lei de Newton vale apenas em sistemas de em muitos casos, só resolvemos) os problemas se
referência inerciais. A unidade de força é definida tratamos as forças pelo o que elas são. Entes veto-
em termos das unidades de massa e de aceleração. riais! Normalmente precisamos determinar o vetor
Em unidades SI, a unidade de força denomina-se soma (resultante) de todas as forças que atuam so-
Newton (N), sendo igual a 1 Kg.m/s2 . Discutire- bre um corpo. Chamaremos essa soma de força
mos um pouco mais sobre a segunda lei tratando resultante que atua sobre um corpo.
do princı́pio da superposição de forças.
N
~ = F~i
X
R
PRINCÍPIO DA SUPERPOSIÇÃO DE i=1
FORÇAS:

30
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

Segunda Lei de Newton na Engenha-


ria

Figura 37: Achando os componentes do vetor


soma (resultante) R de duas forças F~1 e F~2 .

Figura 38: O projeto de uma motocicleta de


3.7 Relação entre força e aceleração alto desempenho depende fundamentalmente da
segunda lei de Newton. Para maximizar a ace-
1. Uma força resultante que atua sobre um leração, o projetista deve fazer a motocicleta ser
corpo faz com que o corpo acelere na mesma mais leve possı́vel (isto é, minimizar sua massa) e
direção da força e sentido da força. usar o motor mais potente possı́vel (isto é, maxi-
mizar a força motriz).
2. Se o módulo da força resultante for constante
a aceleração produzida sobre o corpo também
será.
3.8 Terceira lei de Newton
3. Quanto maior a força resultante aplicada so-
bre o corpo maior a aceleração produzida. Das três leis de Newton, a 3a Lei talvez
seja a mais conhecida pelos estudantes e pelo
4. Corpos de massas distintas adquirem ace- grande público, embora com alguns equı́vocos,
lerações distintas quando submetidos à em geral. Nesse sentido é importante termos
mesma força resultante. claro o que é e o que não é a 3a Lei de New-
ton. Uma das maneiras menos formais e tal-
5. Quanto mais massivo for o corpo menor a ace- vez mais poéticas de se enunciar essa lei seria:
leração produzida para uma mesma força re- “É impossı́vel tocar sem ser tocado”. Com isso
sultante. queremos dizer que o ato de tocar traz uma
consequência intrı́nseca. Você toca em algo ou
em alguém e necessariamente é tocado de volta
IMPORTANTE! no com o contato fı́sico com o objeto ou pes-
soa. Outra maneira interessante de colocar a
Todo corpo que não está em equilı́brio sob a 3a Lei: “Forças acontecem aos pares!”, uma vez
ação de uma ou mais forças está acelerado, que é impossı́vel haver uma ação sem reação.
e a recı́proca é verdadeira. Se o corpo está Já sabemos que a reação não é nem mais in-
acelerado é porque há uma força resultante tensa e nem menos intensa que a ação. Outro
não nula atuando sobre ele. ponto importantı́ssimo: A ação se dá num
corpo e a reação se dá em outro corpo. Se
você estiver analisando um par de forças atu-
ando sobre o mesmo corpo pode afirmar com
IMPORTANTE! certeza que não é um par de ação e reação. Va-
mos agora estabelecer de forma mais precisa a
A segunda lei de Newton refere-se a forças terceira lei por meio de alguns enunciados equi-
externas. A segunda lei de Newton é válida valentes.
somente em sistemas de referenciais inerciais,
assim como é também para a primeira lei de
Newton. Enunciados

31
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

“Quando um corpo A exerce uma força so- num esquema ou representação do objeto de es-
bre um corpo B (uma ‘ação’), então o corpo tudo livre de sua “vizinhança”, contendo, além
B exerce uma força sobre o corpo A (uma do objeto ou corpo, as forças (representadas
‘reação’). Essas duas forças possuem mesmo por vetores) que atuam sobre ele. Vamos ten-
módulo e mesma direção, porém são orienta- tar sistematizá-lo através de perguntas e res-
das em sentidos contrários. Essas duas forças postas.
atuam em corpos diferentes.”
1) Qual o primeiro passo?
“Quando dois corpos interagem, as forças R: Seria desenhar uma figura, um esboço da
que cada força exerce sobre o outro são sem- situação que será estudada, contendo o objeto
pre iguais em módulo e possuem sentidos ou sistema fı́sico que será estudado e a repre-
contrários.” sentação geométrica (vetores indicados por se-
tas) de todas as forças que atuam sobre o
corpo. No primeiro passo, você deve enten-
der e responder por meio desse recurso gráfico
a seguinte pergunta: O que eu estou es-
tudando? Em linguagem de fı́sico, dizemos
que ao responder a essa pergunta você está
delimitando o objeto de estudo. Muitas
vezes, para poupar tempo, representamos o ob-
jeto estudado por um ponto e colocamos sobre
o mesmo a representação geométrica de todas
as forças que atuam sobre o objeto.
Figura 39: Identificação das forças em ação,
quando uma mão puxa uma corda amarrada a um
bloco. a) Mão, corda e bloco. b) Pares de ação e
reação. (As forças verticais não são mostradas).

Figura 40: Não são pares de ação e reação. a)


Essas forças não são um par de ação e reação por
que atuam no mesmo corpo. b) Essas forças serão
iguais somente se a corda estiver em equilı́brio ou Figura 41: A figura acima representa: a) um
se sua massa for desprezada. (As forças verticais esboço da situação a ser estudada. b) as forças
não são mostradas). atuantes no corpo A. c) a força atuante no corpo
B.

3.9 Diagrama de corpo livre


2) Qual o próximo passo?
O que é um diagrama de corpo livre? Po- R:Representar todas as forças que atuam
demos encarar como uma parte (fundamental) sobre o objeto. Ou seja: Não deixe força de
de um procedimento padrão para resolver fora (das que atuam sobre o objeto); não colo-
diversos problemas de mecânica. Consiste que forças que o objeto exerce na vizinhança.

32
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

Após a representação de todas as forças que mos as componentes do vetor força resultante.
atuam sobre o objeto, em geral é necessário Em geral, podemos afirmar que problemas
escolher um sistema de coordenadas para de dinâmica necessitam de procedimentos de
decompor as forças (se todas as forças soma vetorial. Observação 1: Se for um pro-
estiverem contidas em uma única direção, blema de estática, temos que a força resultante
ou seja, se o problema for unidimensional, sobre o sistema é nula. Nesse caso vamos tra-
basta estabelecer o sentido positivo do eixo). balhar com um sistema de equações em que
cada componente da força resultante é igual
à zero. Observação 2: Ao longo da resolução
IMPORTANTE! dos problemas vamos ganhando experiência na
escolha de eixos coordenados de modo a sim-
Não se deve confundir a representação das
plificar a resolução do problema.
forças que atuam sobre o objeto com as
componentes das forças que atuam sobre
o objeto. As componentes já implicam em 4) Tendo as componentes do vetor força re-
uma escolha de sistema de coordenadas es- sultante, temos todos os elementos para pros-
pecı́fica. seguir até o final da resolução do problema.

5) Após chegar ao final da resolução do pro-


blema, você como engenheiro, vai analisar a va-
lidade da solução encontrada. Para isso, faça
uma análise dimensional da resposta; análise
situações limites¸ e veja se o a resposta fornece
resultado fisicamente aceitáveis ou se fornece
resultados absurdos.

Uma vez que entendemos o passo a passo do


diagrama de corpo livre, podemos resumi-lo.
Diagrama de corpo livre é uma representação
(esboço ou figura) do problema a ser estudado
em que você define o objeto (corpo ou sis-
tema fı́sico) que você vai estudar e nele você
representa todas as forças que atuam sobre
o próprio. Atenção! Você deve colocar no
diagrama as forças que atuam sobre o corpo,
e não as forças que o corpo exerce sobre a sua
vizinhança.
Figura 42: a) Uma caixa sobe um plano inclinado, Principais pontos do capı́tulo:
puxada por uma corda . (b) As três forças que
agem cobre a caixa: a força da corda T a força • Um sistema de referência para o qual a
gravitacional Fq e a força normal FN . (c) As com- primeira e segunda leis de Newton são va-
ponentes de Fq na direção ao plano inclinado e na lidas denomina-se Sistema de Referencial
direção perpendicular. Inercial.

• Quando um corpo está inicialmente em


3) Após escolher o sistema de coordenadas repouso, ele permanece em repouso, se a
que usaremos para decompor as forças, prosse- soma vetorial das forças que atuam sobre
guimos na resolução do problema encontrando ele for igual a zero. O mesmo é válido para
a força resultante para cada eixo do sistema de um corpo inicialmente em movimento de-
coordenadas. Para isso fazemos a somatória senvolvendo uma trajetória retilı́nea e ve-
de forças para cada eixo, ou seja, encontra- locidade constante.

33
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

• A aceleração de um corpo sujeito a ação de um fio no limite de sua elasticidade,


diversas forças é diretamente proporcional puxando-se o fio suavemente o peso pode
a a força resultante das forças que agem so- ser levantado; porém, se você puxar brus-
bre ele e inversamente proporcional a sua camente, o fio se rompe. Explique isso
massa. usando as Leis de Newton para o movi-
mento.
• Quando dois corpos interagem a força que
um exerce sobre o outro é igual em módulo 8. (SEARS & ZEMANSKY, 12a Ed)
e direção e oposta em sentido. Portanto, Um cavalo puxa uma carroça. Uma vez
um par de ação e reação nunca atua sobre que a carroça puxa o cavalo para trás com
o mesmo corpo. uma força igual e contrária à força exer-
cida pelo cavalo sobre a carroça, por que
PERGUNTAS CONCEITUAIS: a carroça não permanece em equilı́brio, in-
dependentemente da força que o cavalo im-
1. (SEARS & ZEMANSKY, 12a Ed) prime na carroça?
Pode um corpo permanecer em equilı́brio
quando somente uma força atua sobre ele?
Explique.
2. (SEARS & ZEMANSKY, 12a Ed)
Uma bola lançada verticalmente de baixo
para cima possui velocidade nula em seu
ponto mais elevado. A bola está em
equilı́brio nesse ponto? Por que sim ou 9. (SEARS & ZEMANSKY, 12a Ed)
porque não? Em um cabo-de-guerra duas pessoas pu-
xam as extremidades de uma corda em
3. (SEARS & ZEMANSKY, 12a Ed) sentidos opostos. Pela terceira Lei de New-
Quando um carro para repentinamente os ton, a força que A exerce em B tem módulo
passageiros tendem a se mover para frente igual à força que B exerce em A.O que de-
em relação aos seus assentos. Quando um termina quem é o vencedor?(Dica desenhe
carro faz uma curva abrupta para um lado um diagrama de corpo livre para cada pes-
os passageiros tendem a escorregar para soa)
um lado do carro. Por quê?
a
10. (SEARS & ZEMANSKY, 12a Ed)
4. (SEARS & ZEMANSKY, 12 Ed) Al- Você amarra um tijolo na extremidade de
gumas pessoas dizem que , quando um uma corda e o faz girar em torno de você
carro para repentinamente, os passageiros em um cı́rculo horizontal. Descreva a tra-
são empurrados para frente por uma ‘força jetória do tijolo quando você larga repen-
de inércia’ (ou ‘força de momento linear’). tinamente a corda usando diagrama de
O que existe de errado nessa explicação? corpo livre.
5. (SEARS & ZEMANSKY, 12a Ed) 11. (CUTNELL & JOHNSON, 6a Ed)
Por que o chute em uma rocha grande pode Uma casinha para alimentar pássaros pos-
machucar mais o seu pé do que o chute em sui grande massa e está pendurada em um
uma rocha pequena? A rocha grande deve galho de árvore, como mostrado no dese-
sempre machucar mais? Explique nho. Um fio preso ao fundo da casinha
6. (SEARS & ZEMANSKY, 12a Ed) foi deixado solto e fica balançando. Uma
Por que motivo de segurança um carro criança fica curiosa com o fio balançando e
é projetado para sofrer esmagamento na puxa o fio tentando ver o que existe dentro
frente e na traseira? Por que não para co- da casinha. O fio que fica balançando foi
lisões laterais e capotagens? cortado do mesmo carretel do que prende a
casinha ao galho. É mais provável que o fio
7. (SEARS & ZEMANSKY, 12a Ed) entre a casinha e o galho arrebente com um
Quando um peso grande é suspenso por puxão contı́nuo e lento , ou com um puxão

34
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

repentino para baixo. Apresente seu ra-


ciocı́nio.

12. (CUTNELL & JOHNSON, 6a Ed) A


força externa resultante que age sobre um
objeto é nula. É possı́vel que o objeto es-
teja viajando com uma velocidade que não
seja nula? Se a resposta é sim, diga se
há condições que devam ser impostas ao
módulo, direção e sentido do vetor veloci-
dade. Se a sua resposta for não, forneça
uma explicação para ela.
13. (CUTNELL & JOHNSON, 6a Ed)
Um pai e sua filha de sete anos de idade
estão frente a frente em cima de patins de
gelo. Com suas mãos, eles se empurram
de modo a se afastarem. (a) Comparem os
módulos das forças que eles experimentam.
(b) Qual deles, em caso positivo, sente a
maior aceleração? Justifique sua resposta.

35
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

4 APLICAÇÕES DAS LEIS DE 4.3 Aplicações da primeira lei de new-


ton: partı́culas em equilı́brio
NEWTON
No capı́tulo 3, aprendemos que um corpo está
4.1 Objetivos de aprendizagem: em equilı́brio quando está em repouso ou em
movimento retilı́neo uniforme em um sistema
• Utilizar a primeira lei de Newton para re-
de referência inercial. Uma lâmpada suspensa,
solver problemas referentes às forças que
uma ponte pênsil, um avião voando em linha
atuam sobre um corpo em equilı́brio.
reta e plana a uma velocidade escalar cons-
• Utilizar a segunda lei de Newton para re- tante – são todos exemplos de situações de
solver problemas referentes às forças que equilı́brio. Nesta seção vamos considerar ape-
atuam sobre um corpo em aceleração. nas o equilı́brio de corpos que podem ser mo-
delados como partı́culas, ou seja, as dimensões
• Aprender a fórmula empı́rica para forças dos corpos não são relevantes para os proble-
de atrito estático e de atrito cinético e mas que estamos resolvendo, isto é, dizer que
como resolver problemas que envolvem es- podemos considerar todas as forças como sendo
sas forças. aplicadas em um mesmo ponto. O principio
fı́sico essencial é a primeira lei de Newton:
• Solucionar problemas referentes às forças quando uma partı́cula está em repouso ou em
que atuam sobre um corpo que se move movimento retilı́neo uniforme em um sistema
ao longo de uma trajetória circular com de referencia inercial, a força resultante que
velocidade escalar uniforme. atua sobre ela – isto é, a soma vetorial de to-
das as forças que atuam sobre ela – deve ser
igual à zero:
4.2 Introdução X
F~ = 0 (18)
Vimos no Capitulo 3 que as três leis de New- (partı́cula em equilı́brio, forma vetorial)
ton do movimento, o fundamento da mecânica
clássica, podem ser formuladas de modo sim- Normalmente usaremos essa relação utilizando os
ples. Porém, as aplicações dessas leis em si- componentes:
tuações tais como um rebocador rebocando um X X X
Fx = 0; Fy = 0; Fz (19)
navio mais pesado do que ele ou um avião fa-
zendo uma curva acentuada requerem habilida- (partı́cula em equilı́brio, forma de componentes)
des analı́ticas e técnicas para solução de pro-
blemas. Neste capı́tulo aprofundaremos as ha-
bilidades para a solução de problemas que você
Esta seção é sobre o uso da primeira lei de New-
começou a aprender no capı́tulo anterior. ton para resolver problemas envolvendo corpos em
equilı́brio. Alguns deles podem parecer complica-
dos, mas o importante é lembrar que todos esses
Começamos com problemas envolvendo o
problemas são resolvidos do mesmo modo.
equilı́brio, nos quais o corpo está ou em re-
pouso ou movendo-se com velocidade vetorial-
4.4 Aplicações da segunda lei de new-
mente constante. A seguir, generalizamos nos-
ton: dinâmica das partı́culas
sas técnicas para a solução de problemas que
envolvem corpos que não estão em equilı́brio, Agora estamos preparados para discutir proble-
para os quais precisamos considerar com exa- mas de dinâmica. Nesses problemas, aplicamos a
tidão as relações entre as forças e o movimento. segunda lei de Newton para corpos sobre os quais
Vamos ensinar como descrever e analisar as a força resultante é diferente de zero e, portanto,
forças de contato entre corpos em repouso ou não estão em equilı́brio; mas sim em aceleração. A
quando um corpo desliza sobre uma superfı́cie. força resultante sobre o corpo é igual ao produto
Finalmente, estudaremos o caso importante do da massa pela aceleração do corpo.
movimento circular uniforme, no qual o corpo X
F~ = m~a (20)
de desloca ao longo de uma circunferência com
velocidade escalar constante. (partı́cula acelerada, forma vetorial)

36
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

Normalmente usaremos essa relação na forma de atômicas” invisı́veis na superfı́cie da mesa sejam
componentes: comprimidas, produzindo, assim, uma força nor-
X X X mal sobre o bloco.
Fx = max ; Fy = may ; Fz = maz (21)

(segunda lei de Newton, forma de componentes) A terceira lei de Newton tem um papel im-
portante relacionado com a força normal. Na Fi-
gura 43, por exemplo, o bloco exerce uma força
IMPORTANTE! sobre a mesa comprimido-a para baixo. Consis-
tente com a terceira lei, a mesa exerce uma força
Todo corpo que não está em equilı́brio sob a na mesma direção, dirigida no sentido oposto, de
ação de uma ou mais forças está acelerado, e a mesmo módulo sobre o bloco. Esta força de reação
recı́proca é verdadeira. Se o corpo está acele- é a força normal. O módulo da força normal indica
rado é porque há uma força resultante não nula o grau de compressão mútua dos dois objetos.
atuando sobre ele.
Se um objeto estiver em repouso sobre uma
4.5 Forças de contato superfı́cie horizontal e não existirem forças atu-
ando na vertical, com exceção do peso do objeto
Em muitas situações, um objeto está em con-
e da força normal, os módulos destas duas forças
tato com uma superfı́cie, como, por exemplo, a
são iguais; ou seja, | F~N |=| P~ |. Esta é a si-
superfı́cie de uma mesa. Por conta do contato, há
tuação mostrada na Figura 43. O peso deve ser
uma força agindo sobre o objeto. Esta seção dis-
contrabalançado pela força normal para que o ob-
cute apenas uma componente desta força, a com-
jeto permaneça em repouso sobre a mesa. Se os
ponente que atua perpendicularmente à superfı́cie.
módulos destas forças não fossem iguais, haveria
A próxima seção discute a componente que atua
uma força resultante sobre o bloco, e o bloco esta-
na direção paralela à superfı́cie. A componente
ria acelerado para cima ou para baixo, de acordo
perpendicular é chamada de força normal.
com a segunda lei de Newton.
4.5.1 Força normal

Figura 44: (a) A força normal F~N é maior do que o


peso da caixa, pois a caixa está sendo pressionada
Figura 43: Duas forças atuam sobre o bloco, o para baixo com uma força de 11 N. (b) A força
seu peso P~ e a força normal F~N exercida pela su- normal é menor do que o peso, pois há uma força
perfı́cie da mesa. de 11 N para cima que sustenta parcialmente a
caixa.

A Figura 43 mostra um bloco repousado sobre


uma mesa horizontal e identifica as duas forças que Se houver outras forças atuando na direção ver-
agem sobre o bloco, o peso P~ e a força normal F~N . tical além de P~ e F~N , os módulos da força normal
Para entender como um objeto inanimado, como e do peso não são mais iguais. Na Figura 44.a,
o tampo de uma mesa, pode exercer uma força por exemplo, uma caixa cujo peso é de 15 N está
normal, pense no que ocorre quando você senta sendo empurrado para baixo contra uma mesa. A
sobre um colchão. Seu peso faz com que as molas força de compressão possui um módulo de 11 N.
no colchão sejam comprimidas. Em consequência Assim, a força total para baixo exercida sobre a
disso, as molas comprimidas exercem em você uma caixa é de 26 N, e deve ser contrabalançada pela
força para cima (a força normal). De maneira se- força normal orientada para cima para que a caixa
melhante, o peso do bloco faz com que “molas permaneça em repouso. Nesta situação, então, a

37
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

força normal é de 26 N, que é consideravelmente O atrito é um fenômeno complexo, não total-


maior do que o peso da caixa. mente compreendido, que surge da atração entre
as moléculas de duas superfı́cies em contato. A na-
tureza desta atração é eletromagnética – a mesma
A Figura 44.b ilustra uma situação diferente. da ligação molecular que mantém um objeto co-
Neste caso, a caixa está sendo puxada para cima eso. Esta força atrativa de curto alcance se torna
por uma força de 11 N. A força resultante que age insignificante após apenas alguns diâmetros mole-
sobre a caixa devido ao seu peso e a força para culares.
cima é de apenas 4 N. Não é difı́cil imaginar o que
aconteceria se a força aplicada para cima fosse au-
mentada para 15 N – exatamente igual ao peso da
caixa. Nesta situação, a força normal se anularia.
Na verdade, a mesa poderia ser retirada, já que o
bloco estaria inteiramente sustentando pela força.
As situações na Figura 44 são consistentes com a
ideia de que o módulo da força normal indica o
grau de compressão mútua de dois objetos. Evi-
dentemente, a caixa e a mesa se comprimem mais
fortemente na Figura 44.a do que na Figura 44.b.

4.5.2 Forças de atrito

O atrito é importante em muitos aspectos de


nossa vida cotidiana, ou seja, normalmente pensa-
mos o atrito como algo indesejável, mas o atrito é Figura 46: A área microscópica de contato entre a
necessário. O óleo no motor de um automóvel mi- caixa e o piso é apenas uma pequena fração da área
nimiza o atrito entre as partes móveis, porém, não macroscópica da superfı́cie do tampo da caixa. A área
microscópica é proporcional à força normal exercida
fosse o atrito entre os pneus do carro e o solo, não
entre as superfı́cies. Se a caixa repousa sobre um de
poderı́amos dirigir um carro e nem fazer curvas. O seus lados, a área microscópica aumenta, mas a força
arraste do ar – a força de atrito exercida pelo ar por unidade diminui, de forma que área microscópica
sobre um corpo que nele se move – faz aumentar o de contato não muda. Não importa se a caixa está de
consumo de combustı́vel de um carro, mas possi- pé ou deitada, a mesma força horizontal F aplicada é
bilita o uso de paraquedas. Sem atrito, os pregos necessária para mantê-la deslizando com rapidez cons-
pulariam facilmente, os bulbos das lâmpadas se tante (PAUL A. TIPLER, GENE MOSCA, 2012).
desenrolariam sem nenhum esforço e o hóquei no
gelo seria impraticável (Figura 45).
Como mostrado na Figura 46, objetos comuns
que parecem lisos, e que sentimos como lisos são
ásperos em escala atômica (microscópica). Isto
ocorre mesmo quando as superfı́cies são muito
bem polidas. Quando as superfı́cies entram em
contato, elas se tocam apenas nas saliências, as
chamadas asperezas, mostradas na Figura 46. À
medida que um bloco desliza sobre um piso,
ligações microscópicas se formam e se rompem, e
o numero total dessas ligações é variável. Alisar as
superfı́cies em contato pode, na verdade, aumen-
Figura 45: A prática do hóquei no gelo depende deci- tar o atrito, visto que mais moléculas se tornam
sivamente do atrito entre os patins do jogador e o gelo. aptas a formar ligações; juntar duas superfı́cies li-
Quando o atrito é muito elevado, o jogador se locomove sas de um mesmo metal pode produzir uma ‘solda
muito lentamente; quando o atrito é muito pequeno, o a frio’. Os óleos lubrificantes fazem diminuir o
jogador dificilmente evita sua queda. atrito porque uma pelı́cula de óleo se forma en-
tre as duas superfı́cies (como no caso do pistão e

38
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

das paredes do cilindro no motor de um carro), A orientação da força de atrito estático é tal que
impedido – as de entrar em contato efetivo. ela se opõe a tendência de deslizamento da caixa.

ATRITO ESTÁTICO
IMPORTANTE!

Se a força horizontal que você exerce sobre


uma caixa aponta para esquerda, então a
força de atrito estático aponta para a direita.
A força de atrito estático sempre se opõe à
tendência de deslizamento.

Figura 47: Atrito Estático.


IMPORTANTE!
Você aplica uma pequena força horizontal F~ A Equação 23 é uma desigualdade porque a
(Figura 47) sobre uma grande caixa que esta em magnitude da força de atrito estático varia de
repouso sobre o piso. A caixa pode não vir a se zero até fe máx .
mover perceptivelmente, porque a força de atrito
estático fe exercida pelo piso sobre a caixa contra-
balança a força que você aplica. Atrito estático
é a força de atrito que atua quando não existe des- IMPORTANTE!
lizamento entre as duas superfı́cies em contato – é
a força que evita que a caixa escorregue. A força Lembre-se de que a Equação 22 não é uma
de atrito estático, em sentido contraria a força equação vetorial porque fe e FN são sem-
aplicada sobre a caixa, pode variar em magnitude pre perpendiculares. Em vez disso, representa
de zero até um valor máximo fe máx , dependendo uma relação escalar entre os módulos das duas
do seu empurrão. Isto é, enquanto você empurra forças.
a caixa, a força oposta de atrito estático vai au-
mentando para se manter igual em magnitude à
força aplicada, até que a magnitude da força apli- ATRITO CINÉTICO
cada exceda o valor máximo da força de atrito
fe máx . Dados mostram que fe máx é proporcional Se você empurrar a caixa da Figura 47 com su-
à intensidade das forças que pressionam as duas ficiente vigor, ela deslizará sobre o piso. Enquanto
superfı́cies uma contra outra. Isto é,fe máx é pro- ela escorrega, o piso exerce uma força de atrito
porcional à magnitude da força normal excedida cinético fc (também chamado de atrito dinâmico,
por uma superfı́cie sobre a outra: ou de deslizamento) que se opõe ao movimento.
Para manter a caixa deslizando com velocidade
fe máx = µe FN (22) constante, você deve exercer uma força sobre a
(módulo da força de atrito estático) caixa igual em magnitude e oposta em sentido à
força de atrito cinético exercida pelo piso. As-
sim como a magnitude da força de atrito estático
Onde a constante de proporcionalidade µe é o máxima, a magnitude de fc da força de atrito
coeficiente de atrito estático. Este coeficiente de- cinético é proporcional à magnitude fn da força
pende dos materiais de que são feitas as superfı́cies normal exercida por uma superfı́cie sobre a outra:
em contato e das temperaturas das superfı́cies. Se
você exerce uma força horizontal com uma mag- fc = µc FN (24)
nitude menor ou igual a fe máx sobre a caixa, a
força de atrito estático irá justo contrabalançar Onde a constante de proporcionalidade µc é
esta força horizontal o mı́nimo que seja maior que o coeficiente de atrito cinético. Este coefici-
fe máx sobre a caixa, então a caixa começará a ente depende dos materiais de que são feitas as
deslizar. Assim, podemos escrever a Equação 22 superfı́cies em contato e das temperaturas das
como: superfı́cies em contato. Diferentemente do atrito
fe máx ≤ µe FN (23) estático, a força de atrito cinético é independente

39
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

da magnitude da força horizontal aplicada. Ex- sua vez, aplica uma força a sua vizinha. Con-
perimentos mostram que µc é aproximadamente sequentemente, a força é aplicada à caixa, como
constante para uma larga faixa de valores de mostra a Figura 49.b.
rapidez.

Figura 48: Gráfico da força de atrito.


Figura 49: (a) A força T~ está sendo aplicada à
extremidade direita de uma corda. (b) a força
é transmitida para caixa. (c) Forças são apli-
IMPORTANTE! cadas às duas extremidades da corda. Estas
forças possuem mesmos módulos e direções opos-
O atrito entre o pneu e o piso é aproximada- tas (mesma direção e sentidos contrários), (CUT-
mente o mesmo, seja o pneu largo ou estreito. NELL & JOHNSON, 2012).
O propósito da maior área de contato é diminuir
o aquecimento e o desgaste. Em situações como a da Figura 49, dizemos que
“a força T~ é aplicada na caixa por causa da tração
na corda”, significando que a tração e a força
aplicada à caixa possuem o mesmo módulo. En-
IMPORTANTE! tretanto, a palavra “tração” é comumente usada
para significar a tendência de a corda ser esticada.
Os pneus possuem ranhuras não para aumentar Para ver a relação entre estes dois usos da pala-
o atrito, mas para deslocar e redirecionar a água vra “tração”, considere a extremidade esquerda
entre a superfı́cie da rodovia e o lado externo da corda, que aplica a força T~ à caixa. De acordo
dos pneus. Muitos carros de corrida usam pneus com a terceira lei de Newton, a caixa aplica uma
sem ranhuras, porque correm em dias secos. força de reação à corda. A força de reação possui
o mesmo módulo e mesma direção que T~ , mas sen-
A Figura 48 mostra um gráfico da força de tido contrário. Em outras palavras, uma força −T~
atrito exercida sobre a caixa pelo piso em função atua na extremidade esquerda da corda. Desta
da força aplicada. A força de atrito contrabalança forma, forças de mesmo módulo atuam em extre-
a força aplicada até que a caixa começa a desli- midades opostas da corda, como na figura 48.c, e
zar, o que ocorre quando a força aplicada excede tendem esticá-la.
a µe FN por uma quantidade infinitesimal. En-
quanto a caixa está deslizando, a força de atrito 4.5.4 Massa e peso
permanece igual a µc FN . Para quaisquer duas su-
perfı́cies em contato, µc é menor que µe . Isto sig- O peso de um corpo é uma das forças mais fami-
nifica que você deve empurrar com mais vigor para liares que a Terra exerce sobre o corpo. (Quando
fazer com que a caixa comece a deslizar, do que você estiver em outro planeta, seu peso será a força
para mantê-la deslizando com rapidez constante. gravitacional que o planeta exerce sobre você.)
infelizmente, os termos massa e peso em geral
são mal empregados e considerados sinônimos em
4.5.3 Forças de tração nossa conversação cotidiana. É extremamente im-
Forças são frequentemente aplicadas por meio portante que você saiba a diferença entre essas
de cabos ou cordas usados para puxar um objeto. duas grandezas fı́sicas.
Por exemplo, a Figura 49.a mostra uma força T~
sendo aplicada à extremidade direita de uma corda A massa caracteriza a propriedade da inércia
presa a uma caixa. Cada partı́cula na corda, por de um corpo. Por causa de sua massa, a louça

40
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

fica praticamente em repouso sobre a mesa quando


você puxa repentinamente a toalha. Quanto maior
IMPORTANTE!
a massa, maior a força necessária para produzir
uma dada aceleração; isso se reflete na segunda lei
Lembre-se que o peso de um corpo atua eterna-
de Newton, F~ = m~a.
P
mente sobre o corpo, independentemente de ele
estar ou não em queda livre. Quando um ob-
O peso de um corpo, por outro lado, é a força jeto de 10 kg está em equilı́brio, suspenso por
de atração gravitacional exercida pela Terra so- uma corrente, sua aceleração é igual a zero. Po-
bre o corpo. Massa e peso se relacionam: um rem, seu peso, dado pela Equação 26, continua
corpo que possui massa grande também possui puxando-o para baixo (Figura 50). Nesse caso,
peso grande. É difı́cil lançar horizontalmente uma a corrente exerce uma força que puxa o objeto
pedra grande porque ela possui massa grande, e de baixo para cima. A soma vetorial das forças
é difı́cil levantá-la porque ela possui peso grande. é igual a zero, mas o peso ainda atua.
Qualquer corpo próximo da superfı́cie da terra que
possua massa de 1 kg deve possuir um peso igual a
9,8 N para que ele tenha a aceleração que observa- 4.6 Dinâmica do movimento circular
mos quando o corpo está em queda livre. Genera- Movimentos circulares são muito comuns na
lizando, qualquer corpo de massa m deve possuir natureza. As palhetas de um ventilador, um CD
um peso com módulo P dado por: e o pneu de um carro são apenas alguns exem-
plos que fazem parte de nosso cotidiano. De uma
| P~ |= m. | ~g | (25) maneira geral podemos afirmar que uma partı́cula
está em movimento circular quando sua trajetória
~
Logo, o módulo | P | do peso de um corpo é é uma circunferência. Em situações onde o va-
diretamente proporcional à sua massa m. O peso lor numérico da velocidade permanece constante,
de um corpo é uma força, uma grandeza vetorial, dizemos que o corpo descreve um Movimento Cir-
de modo que podemos escrever a Equação 25 cular Uniforme (MCU).
como uma equação vetorial (Figura 50):
Quando uma partı́cula se desloca ao longo de
uma circunferência com velocidade escalar cons-
tante, a aceleração da partı́cula é sempre orientada
para o centro do cı́rculo (perpendicular à veloci-
dade instantânea). O módulo arad da aceleração
é constante, sendo dado em termos da velocidade
v e do raio R por:

v2
arad = (27)
R

O ı́ndice inferior ‘rad’ é um lembrete de que


a aceleração da partı́cula é sempre orientada ao
longo da direção radial, para o centro do cı́rculo e
perpendicular à velocidade instantânea. Podemos
Figura 50: A relação entre massa e peso.
também representar a aceleração centrı́peta, arad ,
em termos do perı́odo T , o tempo necessário para
uma revolução:
P~ = m~g (26)
2πR
T = (28)
v
Lembre-se de que | ~g | é o módulo de ~g , a
aceleração da gravidade, logo, g é sempre positivo. Em termos do perı́odo,arad é dada por:
Portanto, P , dado pela Equação 25, é o módulo
do peso e também é sempre um número positivo. 4π 2 R
arad = (29)
T2

41
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

O movimento circular uniforme, como qualquer movimento circular uniforme é dado por:
movimento de uma partı́cula, é governado pela se-
| v |2
gunda lei de Newton. A aceleração da partı́cula | F~total |= m. | arad |= m. (30)
orientada para o centro deve ser produzida por al- R
guma força, ou diversas forças, tais que a soma O movimento circular uniforme pode ser
vetorial F~ seja um vetor sempre orientado para
P
produzido por qualquer conjunto de forças, desde
o centro do cı́rculo (Figura 51). O módulo da ace- que a força resultante F~ seja sempre orientada
P
leração é constante, logo o módulo da força re- para o centro do cı́rculo e possua módulo cons-
sultante F~total também é constante. Caso a força tante. Note que o corpo não precisa se mover
para dentro deixe de atuar, a partı́cula é expelida em torno de um cı́rculo completo: a Equação 30
para fora do cı́rculo descrevendo uma linha reta é valida para qualquer trajetória que possa ser
tangente ao cı́rculo (Figura 52). considerada como parte de um arco circular.

IMPORTANTE!

A força centrı́peta não é uma força real. Este


é meramente um nome que se dá para a
componente da força resultante que aponta
para o centro de curvatura da trajetória. As-
sim como a força resultante, a força centrı́peta
não está presente em um diagrama de corpo li-
vre. Apenas forças reais pertencem a diagramas
de corpo livre.

Principais pontos do capı́tulo:


Figura 51: Em um movimento circular uniforme,
tanto a aceleração, como a força resultante são • Forma vetorial da Primeira Lei de Newton:
orientadas para o centro do circulo.
F~ = 0
X

• Forma de componentes da Primeira Lei de


Newton:
X X X
Fx = 0; Fy = 0; Fz

• Forma vetorial da Segunda Lei de Newton:


F~ = m~a
X

• Forma de componentes da Segunda Lei de


Newton:
X X X
Fx = max ; Fy = may ; Fz = maz

• Módulo da Força de Atrito Estático:


fe máx ≤ µe FN
Figura 52: O que acontece quando a força orien-
tada para o centro deixa de atuar sobre um movi- • Módulo da Força de Atrito Cinético:
mento circular?
fc = µc FN

• O movimento circular uniforme é estudado


O módulo da aceleração radial é dado por pela Segunda Lei de Newton, sob a forma:
2
|arad | = |v| ~
R , logo o módulo | Ftotal | da força re- |v|2
sultante sobre uma partı́cula de massa m em um |F~total | = m.|arad | = m.
R

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PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

EXERCÍCIOS

1. (HALLIDAY & RESNICK, 8a Ed)


Em um cabo-de-guerra bidimensional, Alex,
Charles e Betty puxam horizontalmente um
pneu de automóvel nas orientações mostradas
na vista superior da figura abaixo. Apesar
dos esforços da trinca, o pneu permanece no
mesmo lugar. Alex puxa com a força FA de
4. (MOYSÉS NUSSENZVEIG, 4a Ed) O
módulo 220N, Charles puxa com uma força
sistema da figura está em equilı́brio. A
FC de módulo 170N e Betty puxa com uma
distância ‘d’ é de 1 m e o comprimento re-
força FB . Qual é o módulo da força FB exer-
laxado de cada uma das duas molas iguais
cida por Betty?
é de 0,5 m. A massa ‘m’ de 1 kg faz des-
cer o ponto ‘P’ de uma distância h=15 cm e
a massa das molas é desprezı́vel. Calcule a
constante k das molas.
Dados: K=Força/Deformação da mola

2. (CUTNELL & JOHNSON, 6a Ed) Um


alpinista, durante a travessia entre dois pe-
nhascos, faz uma pausa para descansar. Ele
pesa 535N. Como mostrado no desenho, ele
está mais próximo do penhasco da esquerda
5. (MOYSÉS NUSSENZVEIG, 4a Ed) Um
do que do penhasco da direita, isto faz com
acrobata de 60 kg se equilibra no centro de
que a tração no trecho à esquerda da alpi-
uma corda bamba de 20m de comprimento.
nista seja diferente da tração no trecho à sua
O centro desceu de 30 cm em relação às ex-
direita. Determine as trações na corda à es-
tremidades, presas em suportes fixos. Qual é
querda e à direita da alpinista.
a tração em cada metade da corda?

6. (SEARS & ZEMANSKY, 12a Ed) Um


carro de 1130 kg está seguro por um cabo
leve, sobre uma rampa muito lisa (sem
atrito), como indicado na figura. O cabo
3. (SEARS & ZEMANSKY, 12a Ed) O forma um ângulo de 31,0o sobre a superfı́cie
motor de um automóvel com peso ‘P’ está da rampa, e a rampa ergue-se 25,0o acima da
suspenso por uma corrente que está ligada horizontal.
por um anel ‘o’ a duas outras correntes, uma a) Desenhe um diagrama do corpo livre para
delas amarrada ao teto e a outra presa na o carro.
parede. Ache as tensões nas três correntes b) Ache a tração no cabo.
em função de ‘P’ e despreze o peso das c) Com que intensidade a superfı́cie da rampa
correntes e do anel. empurra o carro?

43
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

10. (MOYSÉS NUSSENZVEIG, 4a Ed)


O sistema representado na figura está em
7. (CUTNELL & JOHNSON, 6a Ed) A equilı́brio. Determine as tensões nos fios 1,
viga ‘I’ de aço do desenho possui um peso 2 e 3 e o valor do ângulo θ
de 8,00 kN e está sendo suspensa com veloci-
dade constante. Qual a tração em cada cabo
às suas extremidades?

11. (HALLIDAY & RESNICK, 9a Ed) Se


um corpo-padrão de 1 kg tem uma aceleração
de 2,00 m/s2 a 20,0o com o semieixo positivo,
quais são (a) a componente x e (b) a compo-
nente y da força resultante a que o corpo está
submetido e (c) qual é a força resultante em
termos dos vetores unitários? (trabalhando
vetores no contexto de força).
8. (HALLIDAY & RESNICK, 8a Ed) A fi-
gura abaixo mostra um arranjo no quais qua- 12. (HALLIDAY & RESNICK, 9a Ed) Duas
tro discos estão suspensos por uma corda. A forças horizontais agem sobre um bloco de
corda mais comprida, do alto, passa por uma madeira de 2 kg que pode deslizar sem atrito
polia sem atrito e exerce uma força de 98N so- na bancada de uma cozinha, situada em um
bre a parede à qual está presa. As tensões nas plano xy. Uma das forças é F~1 = 3ı̂ + 4̂.
cordas mais curtas são T1 = 58, 8N T2 = 49N Determine a aceleração do bloco em termos
T3 = 9, 8N . Quais as massas (a) do disco A, dos vetores unitários se a outra é: (a) F =
(b) do disco B, (c) do disco C e (d) do disco −3ı̂ + (−4)̂; (b) F = −3ı̂ + 4̂; (c) F =
D? 3ı̂ +(−4)̂.(obs.: todas as forças são dadas em
Newtons) (trabalhando vetores no contexto
de força)

13. (HALLIDAY & RESNICK, 9a Ed)Na fi-


gura abaixo, três blocos conectados são puxa-
dos para a direita sobre uma mesa horizontal
sem atrito por uma força de módulo T3 =65N.
Se m1 =12kg, m2 =24kg e m3 =31kg, calcule
(a) o módulo da aceleração do sistema, (b) a
tração e T1 (c) a tração T2

9. (MOYSÉS NUSSENZVEIG, 4a Ed) No


sistema representado na figura, calcule as
Tensões nas cordas A e B a compressão na
viga C, desprezando as massas da viga e das 14. (HALLIDAY & RESNICK, 9a Ed) A fi-
cordas. gura abaixo mostra dois blocos ligados por
uma corda (de massa desprezı́vel) que passa
por uma polia sem atrito (também de massa

44
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

desprezı́vel). O conjunto é conhecido como e dos fios e o atrito, calcule a aceleração do


máquina de Atwood. Um bloco de massa sistema e as tensões nos fios 1, 2, 3.
m1 =1,3kg; o outro tem massa m2 =2,8kg.
Quais são (a) o módulo da aceleração dos blo-
cos e (b) a tração na corda?

18. (HALLIDAY & RESNICK, 9a Ed) A fi-


gura abaixo mostra três blocos ligados por
cordas que passam por polias sem atrito. O
bloco B está sobre uma mesa sem atrito. As
massas são mA = 6,00 kg, mB = 8,00 kg e
mC = 10,0 kg. Quando os blocos são libera-
dos qual a tração na corda da direita?

15. (HALLIDAY & RESNICK, 9a Ed) Um


bloco de massa m1 = 3,70 kg sobre um plano
sem atrito inclinado, de ângulo θ = 30,0o , está
preso por uma corda de massa desprezı́vel,
que passa por uma polia de massa e atrito
desprezı́veis, a um outro bloco de massa m2 =
2,30 kg. Quais são (a) o módulo da aceleração 19. (CUTNELL & JOHNSON, 6a Ed) No
de cada bloco, (b) a orientação da aceleração desenho, o peso do bloco sobre a mesa é de
do bloco que está pendurado e (c) a tração da 422N e o bloco pendurado tem peso de 185N.
corda? Ignorando todos os efeitos de atrito e supondo
que a roldana não possui massa, determine:
(a) a aceleração dos dois blocos e (b) a tração
no cabo.

16. (HALLIDAY & RESNICK, 9a Ed) A


figura abaixo mostra uma caixa de dinheiro
sujo (m1=3 kg) sobre um plano inclinado sem
atrito de ângulo θ1 =30o . A caixa está ligada
por uma corda de massa desprezı́vel a uma
caixa de dinheiro lavado (m2=2 kg) situada
sobre um plano sem atrito de ângulo θ2 =60o
. A polia não tem atrito e tem massa des- 20. (HALLIDAY & RESNICK, 9a Ed) Uma
prezı́vel. Calcule a tração da corda. lata de antioxidantes (m1 = 1,0 kg) sobre
um plano inclinado sem atrito esta ligado a
uma lata de apresuntado (m2 = 2,0 kg). A
polia tem massa e atrito desprezı́veis. Uma
força vertical para cima de módulo F = 6,0
N atua sobre a lata de apresuntado, que
tem uma aceleração para baixo de 5,5 m/s2 .
Determine (a) a tração da corda e (b) o
17. (MOYSÉS NUSSENZVEIG, 4a Ed) No ângulo β
sistema da figura, m1 = 20 kg, m2 = 40 kg,
m3 = 60 kg. Desprezando as massas das polias

45
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

cinético entre o bloco 2 e a mesa?

24. HALLIDAY & RESNICK, 9a Ed) O


21. (MOYSÉS NUSSENZVEIG, 4a Ed) No bloco A da figura abaixo Pesa 102N, e o bloco
sistema da figura, o bloco 1 tem massa 10 Kg B pesa 32N. Os coeficientes de atrito entre o
e seu coeficiente de atrito estático com o plano bloco A e a rampa são µe =0,56 e µc =0,25. O
inclinado é 0,5. Entre que valores mı́nimo e ângulo de inclinação da rampa com a horizon-
máximo pode variar a massa m bloco 2 para tal é de 40o . Suponha que o eixo x é paralelo
que o sistema permaneça em equilı́brio? Des- à rampa, com o sentido positivo para cima.
considere o atrito entre o bloco 2 e a parede. Em termos de vetores unitários, qual é a ace-
1 leração de A se A está inicialmente (a) em
repouso, (b) subindo a rampa e (c) descendo
a rampa?

22. (HALLIDAY & RESNICK, 9a Ed) O


25. (HALLIDAY & RESNICK, 9a Ed) Um
bloco B da figura abaixo pesa 711N. O co-
bloco de 3,5kg é empurrado ao longo de um
eficiente de atrito estático entre o bloco e a
piso horizontal por uma força F de módulo
mesa é de 0,25; o ângulo θ é de 30o . Deter-
15N que faz um ângulo de 40o com a hori-
mine o peso máximo de A para que o sistema
zontal (figura abaixo). O coeficiente de atrito
permaneça em repouso.
cinético entre o bloco e o piso é 0,25. Cal-
cule (a) o módulo da força de atrito que o
piso exerce sobre o bloco e (b) o módulo da
aceleração do bloco.

23. HALLIDAY & RESNICK, 9a Ed) Os 26. (HALLIDAY & RESNICK, 9a Ed) Um
três blocos da figura abaixo são liberados bloco de 4,1 kg é empurrado sobre o piso pela
a partir do repouso. Aceleram com um aplicação de uma força horizontal constante
módulo de 0,500 m/s2 . O bloco 1 tem massa de módulo 40N. A figura abaixo mostra a ve-
M, o bloco 2 tem massa 2M e o bloco três locidade do bloco v em função do tempo t
tem massa 2M. Qual o coeficiente de atrito quando o bloco se desloca sobre o piso ao

46
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

longo de um eixo x. A escala vertical do o bloco 2. Encontre (a) a magnitude da ace-


gráfico é definida por vs=5 m/s. Qual é o leração dos blocos e (b) a tração no cordão.
coeficiente de atrito cinético entre o bloco e o
piso?

30. (HALLIDAY & RESNICK, 9a Ed) Um


caixote de 68 kg é arrastado sobre um piso,
puxado por uma corda inclinada 15o acima
da horizontal. (a) Se o coeficiente de atrito
estático é 0,50, qual é o valor mı́nimo do
27. (CUTNELL & JOHNSON, 6a Ed) O de- módulo da força para que o caixote comece a
senho mostra um caixote de 25,0 kg que ini- se mover? (b) se µc = 0,35, qual é o módulo
cialmente está em repouso. Observe que a da aceleração do caixote?
vista mostrada é uma vista da parte de cima
do caixote. Duas forças, F1 e F2 são aplica- 31. (HALLIDAY & RESNICK, 9a Ed) Su-
das ao caixote, e ele começa a se mover. O ponha que o coeficiente de atrito estático en-
coeficiente de atrito cinético entre o caixote e tre a estrada e os pneus de um carro é 0,60
o piso é µc = 0,35. Determine o módulo e o e não há sustentação negativa. Que veloci-
sentido (em relação ao eixo +x) da aceleração dade deixa o carro na iminência de derrapar
do caixote. quando faz uma curva não compensada com
30,5 m de raio?

32. (HALLIDAY & RESNICK, 9a Ed) Qual


o menor raio de uma curva sem compensação
(plana) que permite um ciclista a 29 km/h
faça a curva sem derrapar se o coeficiente de
atrito estático* entre os pneus e a pista é de
0,32?

33. (HALLIDAY & RESNICK, 9a Ed) Du-


rante uma corrida de trenós nas Olimpı́adas
de Inverno, a equipe jamaicana fez uma curva
28. (CUTNELL & JOHNSON, 6a Ed) Um de 7,6m de raio com uma velocidade de 96,6
caixote de 225 kg repousa sobre uma su- km/h. Qual foi a sua aceleração em unidades
perfı́cie que está inclinada de um ângulo de de g?
20o acima da horizontal. Uma força hori-
zontal (módulo = 535 N e paralela ao chão, 34. (HALLIDAY & RESNICK, 9a Ed) Na
não ao plano inclinado) é necessária para dar figura abaixo, um carro passa com velocidade
inı́cio ao movimento de descida do caixote no constante por uma elevação circular e por
plano inclinado. Qual o coeficiente de atrito uma depressão circular de mesmo raio. No
estático entre o caixote e o plano inclinado? alto da elevação a força exercida sobre o
motorista pelo assento do carro é zero. A
29. (PAUL A. TIPLER, GENE MOSCA, massa do motorista é de 70 kg. Qual é a
6a Ed) Dois blocos ligados por um cordão força normal exercida pelo motorista no
como mostra a figura abaixo, deslizam para banco quando ele passa pelo fundo vale?
baixo sobre um plano inclinado de 10o . O
bloco 1 tem a massa m1 = 0,80 kg e o bloco
2 tem massa m2 = 0,25 kg. Ademais, os co-
eficientes de atrito cinético entre os blocos e
o plano são 0,30, para o bloco 1 e 0,20 para

47
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

está molhada o coeficiente de atrito diminui


e a compensação se torna essencial. A figura
abaixo mostra um carro que se move com ve-
locidade escalar constante de 20 m/s em uma
pista circular compensada de raio 190 m. Se
a força de atrito é desprezı́vel, qual o menor
35. (HALLIDAY & RESNICK, 9a Ed) ângulo de inclinação para o qual o carro não
Um avião está voando em uma circun- derrapa?
ferência horizontal com uma velocidade de
480 km/h(figura abaixo). Se as asas estão in-
clinadas formando 40o com a horizontal, qual
é o raio da circunferência? Suponha que a
força necessária para manter esse avião na
trajetória resulte inteiramente de uma “sus-
tentação aerodinâmica” perpendicular à su-
perfı́cie das asas.

38. (HALLIDAY & RESNICK, 9a Ed) Uma


curva circular compensada de uma rodovia foi
planejada para uma velocidade de 60 km/h.
O raio da curva é 200 m. Em um dia chuvoso,
a velocidade dos carros diminui para 40 km/h.
Qual é o menor coeficiente de atrito entre os
pneus e a estrada para que os carros façam a
36. (HALLIDAY & RESNICK, 9a Ed) Um curva sem derrapa?
disco de metal de massa m=1,5 kg descreve
39. (HALLIDAY & RESNICK, 9a Ed) Uma
uma circunferência de raio r = 20 cm so-
bola de 1,34 kg é ligada por meio de dois fios
bre uma mesa sem atrito, enquanto perma-
de massa desprezı́vel, cada um com compri-
nece ligado a um cilindro de massa M=2,5
mento L = 1,70 m, a uma haste vertical gi-
kg, pendurado por um fio que passa no cen-
ratória. Os fios estão amarrados à haste a
tro da mesa (figura abaixo). Que velocidade
uma distância d = 1,70 m um do outro e estão
do disco mantém o cilindro em repouso?
esticados. A tração do fio de cima é 35 N. de-
termine (a) a tração do fio de baixo; (b) o
modulo da força resultante a que esta sujeita
a bola; (c) a velocidade escalar da bola; (d) a
direção da força resultante.

37. HALLIDAY & RESNICK, 9a Ed) As


curvas das rodovias costumam ser compensa-
das (inclinadas) para evitar que os carros der-
rapem. Quando a estrada está seca a força de 40. (MOYSÉS NUSSENZVEIG, 4a Ed) O
atrito entre os pneus e o piso pode ser sufici- coeficiente de atrito estático entre as roupas
ente para evitar derrapagens. Quando a pista de uma pessoa e a parede cilı́ndrica de uma

48
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

centrı́fuga de parque de diversões de 2 m de


raio é 0,5. Qual é a velocidade mı́nima da cen-
trifuga para que a pessoa permaneça colada
à parede, suspensa acima do chão?

49
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

5 NOÇÕES DE CÁLCULO DI- A ideia é colocar aqui os elementos fundamen-


tais mais básicos do cálculo diferencial e integral.
FERENCIAL E INTEGRAL Em sı́ntese, queremos lhe dar uma primeira visão
NA CINEMÁTICA do assunto a partir de três frentes:

5.1 Objetivos de aprendizagem: • Dando uma ideia geral do que é tratado nessa
área da matemática;
• Entender como ocorre o estudo do movimento
via introdução dos conceitos básicos da ci- • Apresentando caracterı́sticas básicas do
nemática. São eles: posição, deslocamento, cálculo em nı́vel conceitual-operacional, mas
velocidade e aceleração. sem aprofundar no rigor matemático;
• Compreender os fundamentos (aspectos es- • Relacionando a estrutura conceitual-
senciais) do cálculo diferencial e integral apli- operacional do cálculo com as representações
cados em problemas da cinemática. gráficas correspondentes.
• Mostrar exemplos de aplicações de cálculo di-
ferencial nas engenharias em nı́vel informa- Além disso, para que essa introdução seja va-
tivo introdutório. liosa e representativa para você, é necessário o
entendimento das relações entre os conceitos ci-
5.2 Introdução: nemáticos tanto do ponto de vista conceitual-
operacional quanto do ponto de vista gráfico. Isso
O cálculo diferencial e integral é um ramo da quer dizer que precisaremos ter domı́nio das fer-
matemática muito adequado para tratar questões ramentas do cálculo (em nı́vel básico) e entendi-
dinâmicas de uma maneira geral. Determinar mento dos conceitos da cinemática conforme aca-
como determinadas quantidades variam ou deter- bamos de mencionar. Mas temos mais uma coisa
minar a quantidade total (valores) de uma gran- para dizer para você, leitor. Não apenas isso é
deza num dado intervalo (de qualquer natureza) possı́vel de ser conseguido como também tem tudo
são problemas gerais que podem ser atacados por para ser muito divertido!
essa área da matemática. Hoje em dia, o cálculo
é usado para achar órbitas de satélites, estimar
5.3 Uma breve discussão sobre referen-
o crescimento populacional, calcular a inflação, e
cial do ponto de vista da cinemática
também é utilizado em questões importantes de
processos de otimização. Assim, o cálculo di- Antes de comentarmos sobre os aspectos de
ferencial e integral é hoje considerado um ins- posição e deslocamento é importante nos basear
trumento indispensável em todos os campos da no fato de que o referencial pode interferir di-
ciência pura e aplicada: em Fı́sica, Quı́mica, Bi- retamente nestas duas grandezas fı́sicas posição e
ologia, Astronomia e principalmente em todas as deslocamento. Por exemplo, numa conversa por
Engenharias. Isso nos mostra que as aplicações telefone, ao dizer a sua posição a alguém, você fa-
de cálculo estão entre as maiores realizações in- talmente adotará um referencial que também seja
telectuais da civilização, tanto do ponto de vista conhecido para a pessoa com quem você está fa-
cientı́fico, como também do ponto de vista cultu- lando (Exemplo: Tô aqui perto do Mercado de
ral e social. E você, prezado leitor, terá oportu- São Braz!).
nidade de ter um primeiro contato com esse ma-
ravilhoso e vasto campo do conhecimento humano Mas afinal de contas o que é referencial?
tendo a cinemática como porta de entrada (aqui
neste capı́tulo nos restringiremos ao movimento
Já discutimos um pouco sobre referencial no
em linha reta, ou seja, restritos a uma dimensão).
capı́tulo de vetores quando tratamos da adoção
Isso mesmo: o estudo do movimento é um dos mui-
tos campos da fı́sica em que o cálculo diferencial integral. Outro inventor do cálculo foi o filósofo, e ma-
e integral é importante.3 temático alemão Gottfried Wilhelm Leibniz. Ambos os
gênios, dos maiores que a humanidade já conheceu, se en-
3
O fı́sico inglês Isaac Newton estudava questões rela- volveram em uma terrı́vel pendenga pela honra de ter a
cionadas ao movimento e às explicações do movimento primazia na invenção do cálculo. Tal briga polarizou boa
(dinâmica). Pelas necessidades matemáticas implicadas em parte dos cientistas europeus daquela época, com os ingle-
tais estudos, com muita labuta e genialidade, desenvolveu ses ficando do lado de Newton enquanto que os cientistas
o inı́cio do que conhecemos hoje como cálculo diferencial e alemães tomaram partido por Leibniz.

50
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

de um sistema de eixos coordenados para fazer a mas também para onde ele anda (direção e sen-
decomposição de vetores (ver Seção 2.5). Também tido). Veremos esses aspectos com mais detalhes
falamos de referencial no inı́cio do capı́tulo de na seção seguinte.
Leis de Newton quando vimos que referenciais
que estão acelerados (referenciais não-inerciais) se
Não vamos desenvolver extensivamente o
comportam e são descritos de maneira diferente
estudo da cinemática. Nosso interesse é abordar
dos referenciais que não estão acelerados (referen-
tudo o que é estritamente necessário para o estudo
ciais inerciais) (Seção 3.2).
da dinâmica. Logo, não vamos desenvolver aqui
estudos e manipulações de equações cinemáticas.
Vamos falar mais um pouco sobre referencial, Mas fica o alerta! Quando for tratar problemas
agora no contexto de cinemática. Conforme ex- de cinemática, não tente apenas decorar as
presso no inı́cio desta introdução, a nossa dis- equações e usa-las cegamente. Estabeleça o seu
cussão está restrita a movimentos em uma di- referencial, ou seja, estabeleça a origem do
mensão. Ou seja, tudo acontece em cima de uma seu sistema de medidas e oriente o sistema
linha reta. Essa discussão pode ser facilmente ge- de eixos coordenados que você estiver traba-
neralizada para duas e três dimensões, pois nós lhando. Esse é o primeiro passo. Sempre! Depois
temos conhecimento de vetores! veja como essa escolha afeta as equações que
você está trabalhando. Caso resolva “pular” essa
Mas voltemos à discussão. Toda medida de etapa, com alta probabilidade você encontrará
posição se faz a partir de um ponto. Fisicamente o resultado errado para o problema que está
esse ponto é a nossa origem (onde a gente põe o resolvendo ou de fato não será capaz de explicar
“zero” da fita métrica, por exemplo). Matema- como o resolveu, mesmo que esteja “certo” (a
ticamente, é a origem do nosso sistema de eixos última parte tem probabilidade igual a 100%).
coordenados (lá na Seção 2.5 nós já havı́amos fa-
lado sobre a necessidade de adotar formalmente
um sistema de coordenadas para efetuar medidas IMPORTANTE!
de posição). Todo eixo coordenado possui uma Para estabelecer um referencial do ponto de
parte positiva a partir da origem e uma parte ne- vista da cinemática, precisamos estabelecer a
gativa a partir da mesma. Veja a Figura 53. origem do seu sistema de coordenadas, bem
como a orientação do sistema de eixos
coordenados.

5.4 5.3 Posição x deslocamento


Figura 53: Indicação de referencial graduada em O que é posição?
metros

Posição, de maneira simples, é a localização de


Digamos que um objeto esteja na posição 1m um corpo ou objeto em um determinado espaço
(portanto, à direita da origem). Se o objeto estiver em relação a um referencial estabelecido por quem
à mesma da distância da origem, mas à esquerda está efetuando a análise. Ou seja, para medir a
desta, ele estará na posição -1m. posição de alguém, precisamos medi-la a partir de
um ponto (origem do referencial).
Essa discussão é importante para o conceito de
deslocamento (que também já foi mencionado Para descrever o movimento de uma partı́cula,
no capı́tulo de vetores). Como já foi dito, deslo- precisamos ser capazes de descrever a posição
camento é um conceito vetorial. No exemplo que da partı́cula e como essa posição varia enquanto
estamos desenvolvendo, embora a distância para a essa partı́cula se move para um ponto final.
origem seja a mesma (nos casos +1m ou -1m) faz Para o movimento unidimensional, normalmente
diferença do ponto de vista de deslocamento se o escolhemos o eixo x como linha ao longo da qual
objeto sai da origem para a posição +1m ou da o movimento o movimento ocorre, mas pode ser
origem para a posição -1m. Ou seja, para o des- o eixo y como, por exemplo, queda livre.
locamento não importa apenas o quanto ele anda,

51
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

O que é deslocamento? 5.5 Velocidade vetorial média x veloci-


dade escalar média
Em relação ao deslocamento já vimos que é Qual a diferença entre essas velocidades?
uma grandeza vetorial. Um aspecto crucial para
efeito de deslocamento é que importa apenas as
A diferença é que a velocidade média é uma
posições final e inicial que o corpo ocupa. Ou
grandeza vetorial e a velocidade escalar média é
seja, para efeito de deslocamento não importa o
uma grandeza escalar. Podemos perceber essa
caminho tomado para ir do ponto inicial ao ponto
afirmação na própria definição de ambas como se
final. Duas pessoas que saem do mesmo ponto
segue abaixo:
de partida e chegam a um mesmo local possuem o
mesmo deslocamento, independente do espaço que
percorrem para fazer esse trajeto. Velocidade Vetorial Média

A propósito! A origem do verbo deslocar A velocidade vetorial média é a razão entre o


significa tirar de uma localização e levar para vetor deslocamento e o tempo transcorrido (∆t).
outra localização. Tão somente isso! Com base
~x − x~0 ∆~x
no que foi discutido acima, responda: Um corpo ~v = = (32)
t − t0 ∆t
sai de uma determinada posição, dá “meia volta
ao mundo” e volta para a mesma posição. Esse Onde: ~x é a posição final no instante t final
corpo teve um deslocamento nulo ou diferente de e x~0 é a posição inicial no instante t0 inicial.
zero?

IMPORTANTE!
O vetor velocidade média é um vetor que
IMPORTANTE! aponta na mesma direção e no mesmo sentido
É importante reconhecer a diferença entre que o deslocamento, pois a constante ∆t é
deslocamento e distância percorrida. A sempre positiva. Do mesmo modo que no
distância percorrida por uma partı́cula é o deslocamento, usaremos os sinais de mais (+)
comprimento do caminho descrito pela e o de menos (-) para indicar os dois sentidos
partı́cula de sua posição inicial até a sua possı́veis para uma dada direção.
posição final. Deslocamento é a variação de
posição de uma partı́cula.
Velocidade Escalar Média

A velocidade escalar média é a razão entre a


IMPORTANTE! distância percorrida e o tempo gasto para realizar
É positivo se a variação de posição ocorre no o percurso.
sentido crescente de x (o sentido +x ) e
Distância percorrida
negativo se ocorrer no sentido decrescente vescalar = (33)
(sentido –x ). Portanto deslocamento é de Tempo gasto
natureza vetorial e distância percorrida é de Obs: Unidade no SI: metros por segundo (m/s).
natureza escalar.

5.6 Velocidade instantânea


O deslocamento é a diferença entre as Antes de analisarmos o conceito de velocidade
posições final e inicial (~x e x~0 ). instantânea vamos ver o exemplo abaixo para es-
clarecer com mais detalhes o significado de veloci-
∆~x = ~x − x~0 (31) dade instantânea. Em uma competição de Moto
Cross, um engenheiro, por meio de equipamentos
Onde temos como variáveis: de medição, conseguiu descrever a função posição
∆~x - Deslocamento. de uma das motos como apresentado a seguir:
~x - Posição Final.
x~0 - Posição Inicial. x(t) = 5t2

52
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

Calcule a velocidade média entre os instantes função varia em função de um parâmetro ponto-
t = 1s e t = 2s. a-ponto (taxa de variação instantânea da função).
x(2) − x(1) 20 − 5 Veremos que quanto maior for a taxa de variação
v= = = 15m/s; ∆t = 1s da função num dado ponto maior será a inclinação
t1 − t0 2−1
(tangente) da função naquele ponto. No estudo do
Agora, entre t = 1s e t = 1, 1. movimento a partir do cálculo diferencial vemos
que encontrar a reta tangente à função horária da
x(1,1) − x(1) 6, 05 − 5
v= = = 10, 5m/s; ∆t = 0, 1s posição em função do tempo e o problema para
t1 − t0 1, 1 − 1 encontrar a velocidade de um objeto num deter-
minado instante envolve determinar o mesmo tipo
E então, entre t = 1s e t = 1, 01. de limite. Esse tipo especial de limite é cha-
x −x(1)
mado de derivada e veremos que pode ser inter-
5,1−5
v = (1,01)
t1 −t0 = 1,01−1 = 10, 05m/s; ∆t = 0, 01s pretado como uma taxa de variação ou razão
incremental tanto nas ciências quanto na enge-
nharia. Veremos que o estudo de cálculo integral
relaciona-se ao processo inverso da derivada (so-
IMPORTANTE!
matório das áreas).
À medida que ∆t diminui, a velocidade média
se aproxima de um valor-limite, que é a
velocidade instantânea. Para poder entender
melhor a definição de velocidade instantânea, Conceito
precisamos aprimorar o entendimento do que
vem a ser cálculo diferencial e integral.
Seja uma função f (x) qualquer, e sobre ela
traçamos uma reta que intercepta dois pontos
quaisquer desta função, f (x). A essa reta, cha-
5.7 Noções de cálculo diferencial mamos de reta secante, conforme segue na Figura
53, que mostra como extraı́mos o fator coeficiente
Para começar, qual o problema fundamen- angular da reta.
tal que o cálculo diferencial responde? Procura-
remos responder intuitivamente a essa pergunta
(portanto em nı́vel básico) tanto do ponto de
vista conceitual-operacional quanto do ponto de
vista gráfico. Começando pelo ponto de vista
conceitual- operacional. O cálculo diferencial, cuja
operação matemática correspondente é chamada
de derivada, busca responder a seguinte questão
fundamental: Como uma função varia ponto a
ponto? Ou ainda, de maneira equivalente: Qual
a taxa de variação que uma função apresenta em
função de um determinado parâmetro? É difı́cil
superestimar a importância dessa pergunta. Tal-
vez não seja difı́cil imaginar que responder como a Figura 54: Reta secante a uma função f (x)
posição de um corpo varia em função do tempo é
importante para o estudo da cinemática e que essa
variação da posição do corpo em função do tempo,
ou melhor, a taxa de variação da posição do corpo IMPORTANTE!
em função do tempo tem algo a ver com a veloci- A reta secante a uma curva é uma reta que
dade do corpo. Veremos que quanto menor for o cruza dois ou mais pontos desta mesma curva
intervalo de tempo considerado, mais nos aproxi- e o coeficiente angular da reta secante acima é
mamos do conceito matemático da derivada, que é dado pela fórmula da geometria analı́tica:
definido em termos de um processo de limite. Gra-
ficamente, grosso modo, tudo o que vamos fazer é f (x + h) − f (x)
m= (34)
sair acompanhando a tangente à função, ponto- h
a-ponto, para responder a questão de como uma

53
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

Note que a Equação 34, quando aplicada à ci-


nemática, nos fornece uma equação conhecida que
é a velocidade média. Em outras palavras, pode-
mos afirmar que velocidade média é a in-
clinação de uma reta secante como podemos
ver na Figura 55.

Figura 56: Reta secante tendendo a uma tangente.

Em outras palavras podemos di-


zer que quando h tende a zero, o va-
lor da inclinação da reta secante tende
ao valor da inclinação da reta tangente.
Figura 55: Gráfico de posição no tempo.
IMPORTANTE!
Através da expressão da velocidade
Logo a velocidade média em x é dada pelo coe- instantânea.
ficiente angular da reta secante à curva como segue ∆x dx
abaixo: vx = lim = (39)
∆t→0 ∆t dt
f (x + h) − f (x)
mx = (35)
h Onde dx
dt é a taxa de variação com a qual a
posição x está variando com o tempo t,
Substituindo, temos: podemos ver isso de forma clara em um
velocı́metro de um automóvel.
x2 − x1 ∆x
vmx = = (36)
t2 − t1 ∆t

Agora, aproximando o ponto x2 do ponto x1 , 5.8 Aceleração vetorial média x Ace-


o próprio ∆t se aproxima de zero e consequente- leração escalar média
mente a reta secante vai se aproximando de uma
Qual é a diferença entre aceleração média e
reta tangente no ponto P1 , ou seja, numa reta que
aceleração escalar média? A diferença é que ace-
intercepta a função somente neste ponto, além de
leração média é uma grandeza vetorial e aceleração
ser “rente” ao gráfico. Note que o coeficiente an-
escalar média é a intensidade ou magnitude dessa
gular dessa reta é a velocidade instantânea.
grandeza vetorial. Quando a velocidade de uma
partı́cula varia, diz-se que a partı́cula foi acele-
Vemos que a reta tangente a uma curva é a reta rada. Para movimentos ao longo de um eixo, a
que intercepta essa mesma curva em somente um aceleração média, em um intervalo de tempo
ponto, ou seja, mx = inclinação da reta tangente. ∆t é:
v~2 − v~1 ∆~v
f (x + h) − f (x) a~m = = (40)
mx = lim (37) t2 − t1 ∆t
h→0 h
Para a partı́cula que tem velocidade v~1 no ins-
Substituindo, temos:
tante t1 e velocidade v~2 no instante t2 , onde a uni-
∆x dx dade no SI de aceleração é metros por segundo
vx = lim = (38) ao quadrado (m/s2 ).
∆t→0 ∆t dt

54
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

5.9 Aceleração instantânea


Também chamada de aceleração pode ser de-
finida seguindo o mesmo procedimento adotado
quando definimos velocidade instantânea. Por-
tanto, temos que:

∆v dv
a = lim = (41)
∆t→0 ∆t dt

Como podemos ver que a velocidade ins-


tantânea é dada por: Figura 57: Reta horizontal de uma função cons-
tante
dx
v= (42)
dt
função permanece constante, ou seja, não varia.
Então: Portanto, só relembrando, a taxa de variação
d2 x
a= 2 (43) da função em termos de x , ou seja, a derivada
dt é igual à zero.

Ou seja, a aceleração de uma partı́cula


em qualquer instante é a derivada segunda DERIVADA DE UMA FUNÇÃO
da posição x(t) em relação ao tempo. A POTÊNCIA EM X
aceleração também é uma grandeza vetorial.
(xn )0 = n.xn−1 (45)

IMPORTANTE! Obs.:Para qualquer n real diferente de zero.


Tome cuidado para não confundir aceleração Escolhemos fornecer a regra da derivada para
com velocidade! A velocidade indica como a a função potência, pois uma grande variedade
posição de um corpo varia com o tempo e é de fórmulas importantes para a fı́sica é descrita
um vetor cujo módulo indica a velocidade da por esse tipo de função (também conhecida como
variação de deslocamento do corpo e sua função polinomial). Por exemplo, veremos que
direção e sentido mostram a direção e sentido no estudo do movimento em uma dimensão que
do movimento. Já a aceleração depende de a posição de um objeto em função do tempo pode
como o vetor velocidade varia em relação ao ser descrita da seguinte forma:
tempo.
at2
x = x0 + v0 t + (46)
2
PROPRIEDADES DA DERIVADA
Como podemos encontrar a velocidade ins-
DERIVADA DE UMA CONSTANTE k tantânea em função do tempo para a função
0 acima? Veremos a seguir os procedimentos a se-
k =0 (44)
rem feito para se determinar a velocidade ins-
tantânea e a sua aceleração instantânea em função
O leitor pode estar se perguntando: Por que a do tempo através da regra de soma ou a subtração
derivada de uma função constante é igual à zero? das derivadas das funções.
Bem, o que caracteriza uma função constante é
que independentemente do valor que a variável as-
sume, o valor da função permanece o mesmo, ou SOMA OU SUBTRAÇÃO
seja, a taxa de variação é igual à zero para a
função abaixo conforme a Figura 57. f (t) = u(t) ± v(t)

Vimos que a derivada nada mais é do que f 0 (t) = u0 (t) ± v 0 (t) (47)
a taxa de variação da função. Para o caso da
função constante, a resposta da pergunta “Como A derivada da soma (subtração) é igual à soma
varia a função em termos de x ?” é simples. A (subtração) das derivadas.

55
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

CONSTANTE k MULTIPLICANDO A
FUNÇÃO
(kf (t))0 = kf 0 (t) (48)

IMPORTANTE!
A derivada obedece, portanto, à propriedade
da distributividade para a soma e subtração.
Ou seja, para calcular a derivada de uma
função com dois ou mais termos, derive cada
um dos termos e depois some tudo. A regra
exposta em 5.7 expõe que a derivada de uma
função f (t) multiplicada por k é igual a
derivada de f (t) vezes k. Ou seja, a constante
fica “esperando” para ser multiplicada pelo
resultado da derivada de f (t).

Sendo a derivada igual à taxa de variação


de uma função em termos do parâmetro do qual Figura 58: Derivada indicando se a) f (x) é cres-
ela depende. A pergunta de interesse é o quanto cente ou se b) f (x) é decrescente.
varia a função em um ponto especı́fico. Para
isso procedemos da seguinte forma: Derivamos a De outra forma, percebe-se que uma função é
função e em seguida substituı́mos na derivada crescente em x0 se a reta tangente à função em
da função o ponto especı́fico no qual estamos in-x0 está “subindo”, e “mergulhando” em direção
teressados. Com base no conhecimento adquirido ao eixo x para o caso decrescente. Para o caso de
até aqui, usando a derivada, calcule a velocidade f 0 (x0 ) = 0, como já visto, diz-se que x0 é um ponto
instantânea e a aceleração instantânea da seguinte
crı́tico de f . Um ponto crı́tico é basicamente um
expressão: ponto cuja derivada é nula ou não existe. Intuiti-
at2 vamente, os pontos que anulam a derivada são di-
x = x0 + v0 t +
2 tos máximos ou mı́nimos locais de uma função, já
que a reta tangente a eles é horizontal e, portanto
Em seguinte verifique se a velocidade e a ace- tem coeficiente angular igual a zero, conforme fi-
leração dependem do tempo e reflita sobre os re- gura abaixo:
sultados obtidos.

ANÁLISE DA DERIVADA

A derivada é uma ferramenta muito poderosa


que nos diz se uma função é crescente ou não em
um determinado ponto. Isso é possı́vel analisando-
se o sinal da derivada da função neste ponto, con-
forme a regra abaixo: Figura 59: Na figura acima, c é máximo local e d
0 0
f (x0 ) > 0: A função f é crescente em x = x0 ; é mı́nimo local (f (c) = f (d) = 0).
0

f 0 (x0 ) < 0: A função f é decrescente em x = x0 ;


f 0 (x0 ) = 0: x = x0 é um ponto crı́tico de f .
Um ponto de máximo local pode ser de-
finido como o “cume da montanha”, ou seja,
As duas primeiras afirmações podem ser cons- é um ponto cuja imagem (f (c)) é maior
tatadas pela figura a seguir sobre aspectos impor- que as imagens dos pontos imediatamente
tantes: à esquerda e à direita de c (c − 0, 00001 e

56
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

c + 0, 00001, por exemplo). Explicação análoga


vale para o mı́nimo local (“vale da montanha”).

IMPORTANTE!
O estudo dos máximos e mı́nimos de uma
função é uma das aplicações mais importantes
da derivada para um engenheiro, o qual usa
essa ferramenta, entre outras finalidades, para
minimizar o custo de seus projetos.

APLICAÇÕES DO CÁLCULO DIFE- Figura 60: Tabela representativa de derivada e


RENCIAL integral de modo sintético.

O calculo diferencial ou simplesmente derivada Antes de nos depararmos com a ferramenta


é encontrado nos mais diversos ramos da fı́sica e matemática de imensa aplicabilidade na engenha-
engenharia. Podemos encontrar na 2a Lei de New- ria que é cálculo integral aplicado na cinemática,
ton com mais sofisticação, como sendo a taxa de iremos abordar pontos importantes das equações
variação do momento linear com o tempo. usadas no ensino médio quando temos uma ace-
dP~ leração constante; as equações que conhecemos do
F~ = ensino médio como segue abaixo:
dt

Encontramos na definição de potência como at2


x = x0 + v0 t +
taxa de variação de energia com o tempo: 2
dU
P = v = v0 + at
dt

Na engenharia elétrica, podemos encontrar na v 2 = v0 2 + 2a∆x


simples definição de tensão e corrente, temos:
dq dw Se analisarmos um gráfico com aceleração cons-
i= v=
dt dq tante temos:

Outro exemplo da aplicação da derivada


encontra-se na engenharia de telecomunicações
com a famosa Lei de Faraday em campos variantes
no tempo, onde podemos obter a força eletromo-
triz induzida através da taxa de variação do fluxo
magnético com o tempo:
dΦs
ε=−
dt

Sem contar com as aplicações da derivada na


medicina, biologia, economia e outras áreas do co-
nhecimento. Portanto, podemos perceber a gran-
diosidade e aplicabilidade dessa valiosa ferramenta Figura 61: Gráfico de aceleração no tempo.
que é o calculo diferencial. Observando a Figura
60, percebemos que o caminho de “ida” a partir da
posição para a velocidade e posteriormente para a
aceleração, nós sabemos! Agora como fazer o ca- Com a aceleração constante podemos traçar o
minho de “volta”? gráfico v x t e encontrar o espaço total.

57
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

pois somar todos os pedaços para obter a área do


todo.”(Cálculo para Leigos).

CONCEITO DE INTEGRAL

O conceito de integral está bastante relacionado


à noção de áreas. Os povos gregos se perguntavam
na Antiguidade: “como calcular a área de uma
figura qualquer?”, como mostra a Figura 64.

Figura 62: Gráfico de velocidade no tempo.

Agora façamos a seguinte pergunta: e se a ace-


leração não for constante? Ou seja, se a aceleração
depender do tempo como poderemos encontrar a
velocidade e o espaço? Nessa configuração que
citamos, o gráfico, em termos puramente exposi- Figura 64: Gráfico de uma curva qualquer.
tivos, é:
Como a curva da figura acima não pertence
às figuras clássicas, como quadrado, triângulo e
cı́rculo, não são possı́veis calcular sua área com
fórmulas “prontas” da geometria. Bom, mas
existe uma figura geométrica cuja área é bem co-
nhecida na geometria: o retângulo. Sua área pode
ser calculada pelo produto da base com a altura.
Numa tentativa de calcular a área da figura acima,
poderı́amos desenhar vários retângulos cujas al-
turas são determinadas pela própria figura, como
segue:

Figura 63: Gráfico da aceleração no tempo.

Por não se tratar de um problema simples a ob-


tenção dessa área, apropriamo-nos de um método
matemático chamado integral.

5.10 Noções de cálculo integral


A integral é um recurso matemático inverso
ao da derivada, ou seja, ao invés de achar deri-
dy
vada dx de uma função f (x), calcula-se a função Figura 65: Curva sendo aproximada grosseira-
dy
f (x) a partir da derivada da função dx , ou seja, mente por retângulos.
também é conhecida como Anti-Derivada. “A
integração é uma adição sofisticada. É a modo de
processo de pegar uma forma cuja área você não Como se vê, a aproximação não é perfeita, mas
pode determinar diretamente, cortar em pequenos quanto menores forem as bases desses retângulos,
pedaços cujas áreas você pode determinar, e de- mais próxima à soma de suas áreas vai ficar em

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PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

relação à área A desejada, como podemos ver na INTEGRAL DE UMA CONSTANTE k


Figura 66 a seguir. Z
kdx = kx + c (49)

INTEGRAL DE UMA FUNÇÃO


POTÊNCIA EM X
xn+1
Z
xn dx = +c (50)
n+1
Para qualquer n 6= −1. Obs.: Se n = −1, sua
integral será dada pela função logarı́tmica ln(x) +
c, ou seja, temos:
dx
Z Z
x−1 dx = = ln(x) + c (51)
x
Figura 66: Aproximação melhorada com o uso de
retângulos mais finos. SOMA OU SUBTRAÇÃO

f (x) = u(x) ± v(x)


Z Z Z
f (x)dx = u(x)dx ± v(x)dx (52)
IMPORTANTE!
A ideia da integral é que a área de uma figura A integral da soma (subtração) é igual à soma
qualquer é aproximada pela soma das áreas de (subtração) das integrais.
incontáveis retângulos de espessura
praticamente nula. Daı́ pode-se considerar a CONSTANTE MULTIPLICANDO
integral um processo de soma de UMA FUNÇÃO
pequenı́ssimas parcelas, que seriam as áreas de Z Z
cada retângulo, até chegar ao total esperado kf (x)dx = k f (x)dx (53)
(área A da Figura 66).

IMPORTANTE!
NOTAÇÃO Como se podem perceber, essas duas últimas
propriedades da integral são análogas às da
A integral deR uma função f (x) é denotada por derivada.
R
f (x)dx, onde se assemelha a um S estendido,
de soma. Tal qual fizemos em relação à derivada,
vamos colocar algumas propriedades da integral. 5.11 Aplicação na cinemática
A derivada foi usada para obter a velocidade
IMPORTANTE! instantânea a partir do espaço e a aceleração ins-
As propriedades de distributividade da soma e tantânea a partir da velocidade instantânea. Já
da multiplicação de uma integral por uma que a integral é o processo inverso da derivada,
constante são mantidas na integração, tal como dito no inı́cio do capı́tulo, era de se esperar
como na operação de diferenciação. que a integral fosse usada para calcular a variação
de espaço em função da velocidade instantânea
e a velocidade instantânea a partir da aceleração
instantânea. Essa suposição, felizmente, é verda-
PROPRIEDADES DA INTEGRAL deira, da qual vêm as equações:
Z
∆S = vinstantânea dt (54)
Assim como na seção derivadas, f , u e v são
funções de x. Vamos considerar c uma constante Z
arbitrária que aparece no processo de integração. vinstantânea = ainstantânea dt (55)

59
PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

Ora, se a integral de uma grandeza é igual à Principais pontos do capı́tulo:


área do gráfico dessa mesma grandeza, então se
nos for apresentado um gráfico da velocidade ins- • Gráficos trazem informações importantes e
tantânea em relação ao tempo (vxt), sua área en- precisamos relacionar essas informações com
tre dois instantes t1 e t2 será igual à variação de base nos conceitos que estamos estudando.
espaço ocorrida entre esses mesmos instantes. A Neste capı́tulo fizemos a extração da in-
Figura 67 a seguir exemplifica melhor essa ideia. formação a partir de gráficos da cinemática e
relacionamos a informação com as ferramen-
tas básicas do cálculo diferencial e integral.

• Seja o problema de determinar a taxa de va-


riação de uma função ponto-a-ponto ou calcu-
lar a área de um gráfico delimitada por uma
dada função em certo intervalo, precisamos
prestar atenção na dimensionalidade da taxa
de variação e na dimensionalidade da área que
estamos trabalhando.

• Cálculo diferencial (a derivada) e o cálculo in-


tegral (a integral) são operações matemáticas
inversas. Isso quer dizer que, atuar com
Figura 67: A variação no espaço é igual a área do uma das duas operações matemáticas sobre
gráfico vxt a função e, em seguida atuar com a outra
operação, o efeito da primeira é anulado.
Isso nos “devolve” a função original. Esse
Embora possa parecer estranho obter o espaço é, grosso modo, o que quer dizer operações
percorrido a partir de um gráfico da velocidade matemáticas serem inversas.
em função do tempo, fizemos isso sem perceber
quando resolvı́amos problemas de cinemática no
ensino médio. O mesmo raciocı́nio vale para a ve-
locidade instantânea. Por ser a integral da ace-
leração no tempo, pode ser calculada também
como a área do gráfico da aceleração versus
tempo(axt):

Figura 68: A variação no espaço é igual a área do


gráfico axt

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PCNA-FÍSICA ELEMENTAR

GABARITO GERAL 23o Questão


R: a) 2,85 km e b) O vetor deslocamento,
ANÁLISE VETORIAL BÁSICA θ = 142, 12o em relação ao eixo x positivo.
24o Questão
o
1 Questão R: a) 6,43km e b) O vetor deslocamento,
R: a) ~a + ~b = −9ı̂ + 10̂, b) 13,45 e c) θ = 132o , θ = 76, 5o em relação ao eixo x positivo.
em relação ao eixo x positivo. 25o Questão
o
2 Questão R: a) 301,04 metros e b) O vetor deslocamento,
R: Conceitual θ = 286, 6o em relação ao eixo x positivo.
o
3 Questão 26o Questão
R: Conceitual R: a) ~a + ~b = −9ı̂ + 7̂ e b) O vetor desloca-
o
4 Questão mento, θ = 52, 13o em relação à ̂ , no sentido
R: Conceitual anti-horário.
5o Questão 27o Questão
R: Conceitual R: θ = 70, 52o .
o
6 Questão
R: Conceitual
LEIS DE NEWTON
7o Questão
R: Conceitual 1o Questão
8o Questão R: Conceitual
R: Conceitual 2o Questão
o
9 Questão R: Conceitual
R: a) 370 m e b) 425 m 3o Questão
o
10 Questão R: Conceitual
o
R: a) Gráfico, b) 3,19 Km e c) θ = −138, 81 4o Questão
o
11 Questão R: Conceitual
R: Ax = −6, 61 unid. e Bx = −3, 08 unid. 5o Questão
12o Questão R: Conceitual
R: Rx = 14, 48m e Ry = 3, 88m 6o Questão
13o Questão R: Conceitual
R: a) ~a + ~b = ı̂ + 7̂, b) | ~a |= 5 e θ = 36, 87o ; 7o Questão
| ~b |= 5 e θ = 126, 87o . R: Conceitual
o
14 Questão 8o Questão
R: Conceitual R: Conceitual
15o Questão 9o Questão
R: a) ~a.~b = 30 unid. e b) ~a × ~b = 51, 96 unid. R: Conceitual
16o Questão 10o Questão
R: a) ~a × ~b = 12 unid., b) ~a × ~c = 12 unid. R: Conceitual
c)~b × ~c = 12 unid. 11o Questão
o
17 Questão R: Conceitual
R: Conceitual 12o Questão
o
18 Questão R: Conceitual
o
R: a) 7,43 N e b) 68,12 13o Questão
o
19 Questão R: Conceitual
R: 6,08 N
20o Questão APLICAÇÕES DAS LEIS DE NEW-
R: a) 12,58 N e b) 11,46o
TON
PROBLEMAS ADICIONAIS 1o Questão
R: 241N
21o Questão 2o Questão
R: a) 1570,8 m, b) 1000 m e c) zero R: T~e = 918, 57N e T~d = 845, 35N
22o Questão 3o Questão
R: Conceitual R: T~1 = P~ , T~2 = 0, 577P~ e T~2 = 1, 155P~

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4o Questão R: a) 0, 96m/s2 e b) T~ = 0, 18N


R: k = 775N/m 30o Questão
5o Questão R: a) 304,2 N e b) 1, 29m/s2
R: T~ = 9804N 31o Questão
6o Questão R: 13 m/s
R: T~ = 5459, 93N e N ~ = 7224, 38N 32o Questão
o
7 Questão R: 20,69 m
R: T~ = 4257N 33o Questão
8o Questão R: 9, 7~g
R: a) 4,0 kg b) 1,0 kg c) 4,0 kg d) 1,0 kg 34o Questão
9o Questão R: 1372 N
R: T~a = 980N , T~b = 2677N e T~c = 3279N . 35o Questão
10o Questão R: 2, 4x103 m
R: T~1 = 1960N , T~2 = 1697, 4N , T~3 = 3394, 8N e 36o Questão
θ = 60o R: 1,81 m/s
11o Questão 37o Questão
R: a) 1,88 N, b) 0,684 N e c) (1, 88N )ı̂ +(0, 684N )̂ R: 12o
12o Questão 38o Questão
R: a) 0m/s2 , b) (4, 0m/s2 )̂ e c) (3m/s2 )ı̂ R: 0,063
13o Questão 39o Questão
R: a) 0, 97m/s2 , b) T~1 = 11, 6N e c) T~2 = 34, 9N R: a) 8,74 N, b) 37,9 N e c) 6,45 m/s
14o Questão 40o Questão
R: a) 3, 59m/s2 ; b) T~ = 17, 4N R: 6,26 m/s
15o Questão
R: a) 0, 735m/s2 e c) T~ = 20, 8N
16o Questão
R: T~ = 15, 8N
17o Questão
R: a) 1, 79m/s2 b) T~1 = 134N c) T~2 = 402N d)
T~3 = 402N
18o Questão
R: a) T~ = 81, 67N
19o Questão
R: a) 2, 99m/s2 e b) T~ = 129N
20o Questão
R: a) T~ = 2, 6N e β = 17, 21o
21o Questão
R: a) 3, 54kg < m < 10, 6kg.
22o Questão
R: P~ = 102, 62N
23o Questão
R: 0,37
24o Questão
R: a) 0m/s2 , b) −3, 88m/s2 e c) –1, 03m/s2
25o Questão
R: a) 11 N; b) 0, 14m/s2
26o Questão
R: a) 0,54
27o Questão
R: a) 1, 68m/s2
28o Questão
R: 0,665
29o Questão

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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