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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE ENGENHARIA
ENGENHARIA DE CONTROLE E AUTOMAÇÃO

FILIPE LAGAREIRO FIORENTINI

DESENVOLVIMENTO DE UM MÓDULO DE BAIXO CUSTO


PARA CONDICIONAMENTO DE SINAIS DE SENSORES
DE TEMPERATURA

Cuiabá
2019
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE ENGENHARIA
ENGENHARIA DE CONTROLE E AUTOMAÇÃO

FILIPE LAGAREIRO FIORENTINI

DESENVOLVIMENTO DE UM MÓDULO DE
BAIXO CUSTO PARA CONDICIONAMENTO DE
SINAIS DE SENSORES DE TEMPERATURA

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentada à Faculdade de
Engenharia, da Universidade Federal
de Mato Grosso como parte dos
requisitos para obtenção do título de
Bacharel em Engenharia de Controle e
Automação

Orientador: Prof. Bruno Silva Marció,


Msc. Eng.

Coorientadores: Hiago Antônio Sirino


Dangui, Msc. Eng.; Prof. Aline Flávia
Nonato da Conta, Msc. Eng.

Cuiabá
2019
Agradecimentos
__________________________________________________________

Aos meus orientadores, prof. Bruno Silva Marció, Msc. Eng. e prof. Rodolfo César
Costa Flesch, Dr. Eng. pelo total apoio durante o desenvolvimento desse trabalho de
conclusão de curso, além da oportunidade em poder realizá-lo em outra
universidade, a qual dispõe de todos os recursos necessários para a conclusão do
mesmo.

À prof. Aline Flavia Nonato da Costa, Msc. Eng. e ao Hiago Antônio Sirino Dangui,
Msc. Eng. por exercerem um papel tão importante quanto ao orientador do presente
trabalho, os quais me acompanharam e instruíram, com as suas experiências,
durante todo o processo.
Aos demais professores do curso de Engenharia de Controle e Automação da
Universidade Federal de Mato Grosso com os seus ensinamentos, permitindo que
eu chegasse aonde eu cheguei, com todas as minhas conquistas no decorrer do
curso.

Ao pessoal do Laboratório de Instrumentação e Automação de Ensaios (LIAE), da


Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), pelo devido auxílio e suporte nas
partes práticas do presente trabalho de conclusão de curso, assim como o
conhecimento compartilhado, sobre os assuntos tratados.

Aos meus amigos do curso de Engenharia de Controle e Automação da


Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), por todos esses longos anos juntos
que, com certeza, irei levar essa amizade para a vida inteira.

Por fim aos meus familiares por todo o suporte que eles me deram e continuam
dando em tudo aquilo que eu faço e decido seguir.
Resumo
__________________________________________________________

Com a evolução da humanidade, criou-se também a necessidade de realizar


medições de determinados tipos de grandezas, as quais encontram-se presentes em
praticamente todos os ramos das atividades humanas. A temperatura, por exemplo,
é uma das variáveis de maior importância para o controle em processos de
produção.
No âmbito industrial, o termoresistor se destaca como um dos instrumentos
de medição de temperatura mais utilizados. Dentre as características observadas, o
referido sensor de temperatura possui uma larga faixa de medição e uma elevada
estabilidade mecânica e térmica.
Contudo, o procedimento de realizar a medição de temperatura cria a
possibilidade de gerar sinais de saída não adequados para efetuar a aquisição
desses dados, devido principalmente à sua baixa intensidade, presença de ruídos e
interferências eletromagnéticas e a necessidade de uma fonte para excitação. Dessa
forma, os processos de medição de temperatura passaram por um longo caminho de
evolução, buscando alcançar resultados mais precisos e exatos, ou seja, próximos
ao valor real.
O condicionamento dos sinais de saída gerados por sensores de
temperatura pode ser realizado de diferentes maneiras. Entretanto, verifica-se que
soluções comerciais disponíveis no mercado para a realização desse
condicionamento podem inviabilizar o desenvolvimento de projetos em instituições
acadêmicas e de ensino.
Mediante a esta contextualização, propõe-se a implementação de uma
solução de baixo custo para o condicionamento de sinais gerados por
termoresistores, visando também uma facilidade no processo de medição de
temperatura.

Palavras Chave: Medição de temperatura, Condicionamento de sinais e


termoresistor.
Abstract
__________________________________________________________

With the evolution of humanity, the need to take measurements of certain


kinds of quantities has also arisen, which are present in almost every branch of
human activity. Temperature, for example, is one of the most controlled variables in
production processes in industries whose main application is monitoring.
For this environment, the thermoresistor stands out as one of the most used
temperature measuring instruments. Among the observed characteristics, the
referred temperature sensor has a wide measurement range and a high mechanical
and thermal stability.
However, the temperature measurement procedure creates the possibility of
generating unsuitable output signals to acquire this data, mainly due to its low
intensity, presence of noise and electromagnetic interference or also the need for a
source for excitation. Thus, temperature measurement processes have gone a long
way in evolution, seeking to achieve more accurate and accurate results, that is,
close to the real value.
The treatment of output signals generated by temperature sensors can be
performed in different ways. However, it is verified that commercial solutions
available for this treatment can make the development of projects in academic and
educational institutions unfeasible.
Through this context, it is proposed to implement a low cost solution for the
conditioning of signals generated by thermoresistors, also aiming at an ease in the
temperature measurement process.

Keywords: Temperature measurement, Signal conditioning and thermoresistor.


Lista de Figuras
__________________________________________________________

Figura 1.1 – Cadeia de medição e atuação em um processo de produção


industrial. Fonte: adaptado de: Instrumatic (2011).............................................

Figura 1.2 – Variáveis mais controladas nos processos de produção industrial.


Fonte: (Control Engineering Magazine, 2002)...................................................

Figura 2.1 – Função do sistema de medição. Fonte: adaptado de: (Bentley,


2005)...................................................................................................................

Figura 2.2 - Esquemática do processo de produção industrial. Fonte: adaptado


de: Instrumatic (2011).........................................................................................

Figura 2.3 - Estrutura de um transdutor de pressão por membrana. Fonte:


adaptado de: Unipinhal (2011)...........................................................................

Figura 2.4 - Circuito Seebeck. Fonte: adaptado de: Thermocom (2002)...................

Figura 2.5 - Construção física de um RTD. Fonte: adaptado de: PR Eletronics


(2014)..................................................................................................................

Figura 2.6 - Configuração de ponte de Wheatstone. Fonte: adaptado de:


(LEKAS et al.; 2012)...........................................................................................

Figura 2.7 - Anderson Loop. Fonte: adaptado de: (LEKAS et al.; 2012)....................

Figura 3.1 - Circuito gerador de corrente contínua constante. Fonte: (IMTC,


2005)...................................................................................................................

Figura 3.2 - Circuito proposto por Muñoz et al. (2005). Fonte: adaptado de
IMTC (2005)........................................................................................................

Figura 3.3 – Novo modelo proposto. Fonte: autor......................................................

Figura 3.4 – Visualização dos valores de tensão e corrente no novo modelo


proposto. Fonte: autor........................................................................................

Figura 3.5 – Fonte de referência para a alimentação do módulo. Fonte: autor.........

Figura 3.6 – Prototipagem do módulo proposto. Fonte: autor....................................

Figura 3.7 – Conversão do sinal de saída do módulo. Fonte: autor...........................

Figura 3.8 - Estrutura interna de um potenciômetro. Fonte: adaptado de:


(Souza; França, 2017)........................................................................................

Figura 3.9 – Ensaio preliminar para ajuste de referência dos termoresistores.


Fonte: autor.........................................................................................................
Figura 3.10 – Exemplificação de multiplexadores existentes. Fonte: adaptado
de: (Lima, 2015)..................................................................................................

Figura 3.11 - Maquina de estados do sistema de medição com multiplexador.


Fonte: autor.........................................................................................................

Figura 3.12 - Diagrama de blocos funcional do multiplexador ADG509AKN.


Fonte: adaptado de: (Analog Devices, 2009).....................................................

Figura 3.13 - Lógica combinacional do multiplexador ADG509AKN. Fonte:


autor....................................................................................................................

Figura 3.14 - Ensaio preliminar com o multiplexador. Fonte: autor............................

Figura 3.15 - Ensaio preliminar sem o multiplexador. Fonte: autor............................

Figura 4.1 - Bancada de ensaios experimentais com o compressor. Fonte:


autor....................................................................................................................

Figura 4.2 - Destaque do compressor e os pontos de medição. Fonte: autor...........

Figura 3.13 – Equipamento comercial utilizado. Fonte: (Keysight Technologies,


2019)...................................................................................................................

Figura 4.3 - Ensaios com o módulo e Agilent para a base do corpo compressor.
Fonte: autor.........................................................................................................

Figura 4.4 - Ensaios com o módulo e Agilent para a lateral do corpo


compressor. Fonte: autor....................................................................................

Figura 4.5 - Ensaios com o módulo e Agilent para o topo do corpo compressor.
Fonte: autor.........................................................................................................
Lista de Tabelas
__________________________________________________________

Tabela 4.1 - Primeira análise comparativa de custo. Fonte: autor.............................

Tabela 4.2 - Segunda análise comparativa de custo. Fonte: autor............................


Lista de Siglas e Abreviaturas
__________________________________________________________

LIAE Laboratório de Instrumentação e Automação de Ensaios

TCC Trabalho de Conclusão de Curso

RTD Resistance Temperature Detectors

VIM Vocabulário Internacional de Termos Gerais e Fundamentais de


Metrologia

PTC Positive Temperature Coefficient

NTC Negative Temperature Coefficient

FEM Força Eletromotriz

PCI Placa de Circuito Impresso

UFMT Universidade Federal de Mato Grosso

UFSC Universidade Federal de Santa Catarina

FSM Finite State Machine

RTD Resistor Temperature Detector

MUX Multiplexador

USB Universal Serial Bus


SUMÁRIO
__________________________________________________________

1 Introdução..........................................................................................................19
1.1 Método de trabalho.....................................................................................22
1.2 Objetivos.....................................................................................................23
1.2.1 Geral................................................................................................23
1.2.2 Específicos.......................................................................................23
1.3 Organização do documento........................................................................24
2 Revisão Bibliográfica........................................................................................27
2.1 Sistemas de Medição..................................................................................27
2.2 Módulos básicos de um sistema de medição.............................................29
2.2.1 Módulo sensor.................................................................................29
2.2.2 Módulo de condicionamento de sinal..............................................33
2.2.3 Módulo de aquisição de dados........................................................38
2.3 Ruídos e interferências...............................................................................38
2.4 Comentários finais......................................................................................39
3 Desenvolvimento..............................................................................................41
3.1 Projeto do módulo e simulação..................................................................42
3.2 Implementação e prototipagem..................................................................52
3.3 Etapas para aprimoramento do módulo proposto......................................56
3.3.1 Potenciômetro para ajuste de tensão de referência.......................56
3.3.2 Utilização do multiplexador..............................................................58
3.4 Comentários finais......................................................................................64
4 Resultados e discussões.................................................................................67
4.1 Bancada de ensaios para a avaliação de desempenho de compressores
herméticos...................................................................................................67
4.2 Análise comparativa dos resultados dos ensaios obtidos com a bancada 69
4.3 Análise estatística do erro de medição.......................................................72
4.4 Análise comparativa dos custos entre o equipamento comercial e o
módulo desenvolvido..................................................................................74
4.5 Comentários finais......................................................................................76
5 Considerações finais........................................................................................79
5.1 Conclusões.................................................................................................79
5.2 Trabalhos futuros........................................................................................81
Referências................................................................................................................83
19

1 Introdução

A instrumentação está presente em praticamente todas as atividades


relacionadas ao dia a dia das pessoas. A ação de condução de um automóvel, por
exemplo, necessita de um velocímetro para o monitoramento da velocidade do
veículo. Da mesma forma, determinados estabelecimentos utilizam balanças para a
pesagem de alimentos.
Em um ambiente industrial, por sua vez, a instrumentação é empregada para
o monitoramento e controle dos processos de produção, como a medição de nível
em tanques, a medição de pressão em vasos de pressão, a medição de temperatura
em processos químicos, o correto envasamento de garrafas e latas, entre outras
aplicações.
Segundo Balbinot e Brusamarello (2010), a importância da instrumentação
poderia ser resumida em uma frase: “a medição é a base do processo experimental”.
O processo de medição é fundamental para um conhecimento mais amplo sobre um
fenômeno, possibilitando a evolução de pesquisas com o âmbito experimental e a
possível utilização desses conhecimentos em processos industriais.
O monitoramento dos processos de produção é fundamental para o aumento
da produtividade e eficiência operacional, além do controle de qualidade (ROURE,
2019). Esse monitoramento é feito a partir de sistemas ou cadeias de medição, cuja
função é realizar a medição de uma determinada variável do processo e enviar tal
informação para um computador. Esse, por sua vez, processa os dados recebidos e,
com o auxílio de um software específico, gera sinais de comando para os atuadores
presentes no processo. A figura 1.1 ilustra o fluxo de informação entre o processo e
os sistemas de medição e de atuação e o computador.
20

Figura 1.1 – Cadeia de medição e atuação em um processo de produção industrial.


Fonte: adaptado de: Instrumatic (2011).
O processo de medição pode apresentar algumas limitações, principalmente
relacionadas à adequação dos sinais gerados por instrumentos presentes no
sistema. Isso ocorre devido a diversos fatores, como a baixa intensidade do sinal
gerado por um sensor, a presença de ruídos ou de interferências, que podem ser de
origem elétrica ou magnética, e a necessidade de uma excitação externa para que a
medição possa ser feita (LEKAS et al., 2012).
O sensor, o qual pode ser definido como o elemento do sistema de medição
diretamente afetado pela grandeza de interesse, produz um sinal elétrico
proporcional que, na maioria das vezes, é inadequado para ser diretamente
transmitido ao computador. Dessa forma, um sistema de medição apresenta não
somente um estágio de sensoriamento, como também um estágio adicional para o
condicionamento dos sinais gerados pelos instrumentos de medição (ROURE,
2019).
No que diz respeito à parte de sensoriamento, a temperatura é uma das
grandezas físicas de maior interesse para o controle de processos no âmbito
industrial (CONTROL ENGINEERING MAGAZINE, 2002). De acordo com Mezzadri
(2012), essa grandeza, além de ser útil para o monitoramento dos processos de
produção, permite determinar o desempenho dos equipamentos presentes em um
ambiente industrial. A figura 1.2 mostra a importância da grandeza temperatura,
perante as demais variáveis controladas nos processos de produção industrial.
21

Figura 1.2 – Variáveis mais controladas nos processos de produção industrial.


Fonte: (Control Engineering Magazine, 2002).
Dentre os instrumentos existentes para realizar a medição de temperatura,
pode-se destacar os termopares, os termistores e os termoresistores. Por possuir
uma adequada proteção em sua construção física, os termoresistores são os
sensores de temperatura de maior aplicabilidade em ambientes industriais. Além
disso, esses sensores de temperatura possuem uma larga faixa de medição e uma
elevada estabilidade mecânica e térmica (WIEGAND, 2009).
Entretanto, o processo de medição de temperatura pode apresentar algumas
limitações. Quando termoresistores são empregados, por exemplo, os sinais
gerados por esse tipo de instrumento de medição são, em geral, de baixa
intensidade, além de apresentar ruídos. Ademais, é necessário utilizar uma fonte de
alimentação externa conectada ao sensor para que a medição possa ser feita. Por
conseguinte, os dispositivos de aquisição de dados não conseguem interpretar de
maneira adequada as informações geradas pelos termoresistores, o que torna
necessário a utilização de um sistema de condicionamento de sinais.
Quando soluções comerciais para o condicionamento de sinais de sensores
de temperatura são avaliadas, verifica-se que o emprego das mesmas reduz o efeito
das limitações inerentes a esses tipos de sensores. Porém, devido ao elevado custo
desses equipamentos, torna-se praticamente inviável a aquisição desse tipo de
sistema de condicionamento por parte de instituições acadêmicas e de ensino.
Trabalhos publicados na literatura cientifica mostram um crescente interesse
no estudo e desenvolvimento de soluções alternativas para o condicionamento de
sinais gerados por termoresistores. Svelto et al. (1999), por exemplo, desenvolveram
22

um sistema remoto para a medição de temperatura, utilizando a técnica de


Anderson Loop. Esse dispositivo apresentou baixa incerteza e custo relativamente
baixo. Além disso, foi adicionado uma tela digital (display) para a visualização dos
valores em tempo real.
Azevedo e Silva (2010) implementaram um módulo de condicionamento de
sinais para termoresistores, com aplicação em laboratórios de ensino e pesquisa. O
módulo foi configurado para a medição de temperatura em um intervalo de 0 ° C a
100 ° C , e a técnica de condicionamento implementada consistia em uma ponte de
Wheatstone em conjunto a um conversor tensão-corrente. Os resultados alcançados
pelos autores se mostraram satisfatórios, cujo processo de medição apresentou um
erro inferior a 0,28 ° C .
Frente a esse cenário, este trabalho de conclusão de curso (TCC) propõe o
desenvolvimento de um módulo de condicionamento de sinais de baixo custo,
baseado na técnica de Anderson Loop, visando a elaboração de uma solução
alternativa para a medição de temperatura por meio de termorresistores. Este
módulo foi desenvolvido em parceria entre a UFMT (Universidade Federal de Mato
Grosso), localizada em Cuiabá, e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
localizada em Florianópolis.

1.1 Método de trabalho

No que concerne o desenvolvimento deste trabalho, as seguintes atividades


foram definidas:

 seleção da técnica de condicionamento de sinais para a medição de


temperatura;
 projeto do módulo de condicionamento de sinais empregando a
técnica selecionada;
 simulações para a validação do projeto do módulo desenvolvido;
 implementação do projeto do módulo e prototipagem;
 ensaios comparativos com soluções comerciais existentes utilizando
uma bancada de ensaios para monitoramento da temperatura externa
de compressores.
23

A definição da técnica de condicionamento de sinais para a medição de


temperatura foi realizada a partir de uma revisão da literatura científica, analisando
vantagens e desvantagens do emprego das opções existentes. De modo geral, as
principais técnicas encontradas foram a Ponte de Wheatstone e o Anderson Loop.
Após a primeira etapa, o módulo de condicionamento de sinais foi projetado
e, posteriormente, simulações foram realizadas, com o objetivo de avaliar o
comportamento do circuito implementado e, dessa forma, verificar a necessidade de
se fazer adaptações ao referido projeto.
Em seguida, a implementação física do módulo foi realizada em uma placa
de prototipagem, utilizando como referência o circuito projetado na etapa anterior.
Ao final da implementação do módulo, ensaios experimentais foram realizados em
uma bancada para monitoramento da temperatura externa de compressores. Com o
intuito de avaliar o desempenho do módulo de condicionamento, os resultados
alcançados nesses ensaios foram comparados aos resultados quando a medição de
temperatura do compressor foi realizada utilizando um equipamento comercial no
lugar do módulo.

1.2 Objetivos

1.2.1 Geral

O objetivo geral do presente trabalho é o desenvolvimento de um módulo de


condicionamento de sinais de baixo custo para medição de temperatura com
sensores do tipo termoresistor.

1.2.2 Específicos

 analisar trabalhos publicados na literatura científica em relação a


diferentes métodos de medição de temperatura;
 analisar trabalhos publicados na literatura científica referente a
diferentes técnicas de condicionamento de sinais para sensores de
temperatura;
 realizar o projeto do módulo de condicionamento de sinais;
24

 realizar simulações do circuito projetado do módulo de


condicionamento de sinais;
 realizar a implementação prática do módulo de condicionamento de
sinais;
 planejar e realizar ensaios experimentais comparativos com o objetivo
de avaliar o comportamento do módulo desenvolvido em relação a um
equipamento comercial;
 produzir relatórios acerca dos resultados obtidos.

1.3 Organização do documento

Este trabalho está organizado em 5 capítulos.


No capítulo 2, serão abordados temas referentes aos sistemas de medição,
como sensores, condicionamento de sinais e aquisição de dados. Como a
temperatura é a grandeza de interesse no presente trabalho, um maior enfoque é
dado para essa variável. Além disso, o desempenho do processo de medição está
diretamente relacionado com a presença ou não de ruídos e interferências
eletromagnéticas. A parte conceitual acerca deste assunto é apresentada ao final do
capítulo.
O capítulo 3 descreve todas as etapas de desenvolvimento do módulo de
condicionamento de sinais para termoresistores. Esse capítulo é organizado em três
partes: projeto e simulação, implementação e prototipagem e comentários finais.
Além disso, são apresentados resultados de ensaios preliminares para avaliar
aprimoramentos feitos na versão inicial do módulo desenvolvido.
O capítulo 4 é dividido em quatro etapas. A etapa inicial contempla a
descrição a bancada de ensaios para monitoramento da temperatura externa de
compressores. Em sequência, é apresenta uma análise comparativa dos resultados
obtidos com os ensaios experimentais realizados na referida bancada. O objetivo
desta etapa é comparar o desempenho do módulo proposto com o equipamento
comercial empregado na bancada. A terceira etapa traz uma análise estatística
acerca dos erros nas medições, os quais foram observados por meio dos ensaios
comparativos realizados na bancada de ensaios em compressores herméticos. Por
fim, a quarta etapa apresenta uma análise comparativa confrontando o custo final do
25

módulo de condicionamento de sinais desenvolvido e a referida solução comercial,


bem como os comentários finais acerca do que foi observado em todo o capítulo.
Por fim, o capítulo 5 traz as considerações finais acerca do trabalho
realizado. Essas considerações são divididas em duas seções: conclusão e
trabalhos futuros. A conclusão relata o que foi observado ao término do trabalho,
identificando os prós e contras do módulo proposto, bem como se dispositivo
atendeu as expectativas definidas. Os trabalhos futuros apresentam as possíveis
novas etapas para a continuação do projeto.
27

2 Revisão Bibliográfica

O presente capítulo é dividido em 5 seções. A primeira é voltada para a


descrição conceitual dos sistemas de medição, com base nas informações coletadas
em trabalhos e instituições acadêmicas e científicas. A seção 2.2 apresenta
conceitos referentes aos módulos que constituem um sistema de medição.
Posteriormente, a seção 2.3 realiza uma breve contextualização sobre ruídos e
interferências eletromagnéticas. Por fim, a seção 2.4 apresenta uma discussão
sobre os conceitos vistos no presente capítulo, destacando pontos fundamentais
para o desenvolvimento do módulo de condicionamento de sinais para medição de
temperatura.

2.1 Sistemas de Medição

Um sistema de medição pode ser definido como um sistema de informação


que apresenta a um observador um valor numérico correspondente a uma variável
que está sendo medida. Basicamente, o propósito de um sistema de medição é criar
uma “ponte” entre o observador e o processo onde a medição está sendo realizada,
conforme ilustrado na figura 2.1 (BENTLEY, 2005).

Figura 2.3 – Função do sistema de medição. Fonte: adaptado de: (Bentley, 2005).

Em 1883, Lorde Kelvin afirmou que “o conhecimento amplo e satisfatório


sobre um processo ou um fenômeno somente existirá quando for possível medi-lo
ou expressá-lo por meio de números”. Com a evolução da humanidade, criou-se
também a necessidade de realizar medições de determinados tipos de grandezas,
as quais encontram-se presentes em praticamente todos os ramos das atividades
humanas, como a agricultura, o comercio e a indústria (ALBERTAZZI, 2008).
28

A ação de medir envolve essencialmente a existência de unidades de


medida, as quais são utilizadas como um meio de comparação na medição, além
dos instrumentos, que irão realizar a aferição de uma grandeza física. Dessa forma,
essa ação significa comparar uma quantidade de uma grandeza física com outra de
mesma natureza, tomando uma delas como um padrão pré-definido, ou seja, um
valor de referência para determinar a medição (PEDHAZUR; SCHMELKIN, 1991).
A aplicação do sistema de medição sobre um processo produz uma
indicação, cujo valor apresentará erros. A exatidão de um sistema de medição é
uma característica de extrema importância e pode ser caracterizada pela
proximidade entre o valor medido e o valor real. Considera-se ideal o sistema que
possui a capacidade de apresentar uma exatidão “perfeita”, com um erro de medição
nulo (BENTLEY, 2005). Dessa forma, a quantificação da exatidão em um sistema
real é feita por meio do cálculo do erro de medição ( E ), o qual pode ser definido por:

E=Valor Medido – Valor Real (2.1)

A fim de reduzir o erro de medição, é indispensável entender o que está


envolvido no processo, como as características do objeto a ser medido, do ambiente
de medição, do instrumento de medida, do procedimento de medição, entre outros.
Portanto, pode-se concluir que o aprendizado sobre o assunto é fundamental para
que a medição ocorra com o mínimo de interferência possível. Dessa forma, julga-se
de suma importância uma análise mais aprofundada sobre os conceitos que
acercam os sistemas de medição.
Um sistema de medição pode ser dividido em três grandes blocos, os quais
são conhecidos como:

 módulo sensor;
 módulo de condicionamento de sinal;
 módulo de aquisição de dados.

O conjunto dos blocos é conhecido também como cadeia de medição,


conforme é mostrado pela figura 2.2. A referida cadeia é a parte do sistema que
realiza todo o processo de leitura do sinal de entrada do sistema, e envia essa
informação para um computador ou microcontrolador. Este, por sua vez, faz a
29

devida interpretação dessa informação com o intuito de controlar um determinado


processo, de acordo programas e rotinas predefinidas (CASSIOLATO, 2011).

Figura 2.4 - Esquemática do processo de produção industrial. Fonte: adaptado de:


Instrumatic (2011).

A cadeia de atuação, também representada na figura 2.2, é responsável por


enviar o sinal de controle para o atuador, de forma que ele possa atuar sobre o
processo. Para que o atuador consiga interpretar o referido sinal de controle, é
necessário converter o sinal de saída do computador, sendo este realizado pelo
conversor D/A e pelo conversor de potência. Como o foco do trabalho é voltado para
a cadeia de medição, os conceitos dos módulos que o constitui serão melhormente
descritos na seção 2.2.

2.2 Módulos básicos de um sistema de medição

A presente seção está organizada em 3 subseções. A primeira realiza a


descrição do módulo sensor, com foco para a medição de temperatura. Em
sequência, a subseção 2.2.2 contempla a descrição das principais técnicas de
condicionamento de sinais. Por fim, os procedimentos para aquisição de dados são
descritos pela subseção 2.2.3.

2.2.1 Módulo sensor

Os sensores são dispositivos amplamente utilizados na automação


industrial, com o objetivo de transformar variáveis físicas em variáveis convenientes
para determinadas aplicações. Esses dispositivos entram em contato direto com a
30

grandeza a ser medida, colhendo os dados emitidos e enviando tais informações


para uma possível unidade de condicionamento de sinais. Dentre as literaturas
existentes sobre o assunto, os elementos formadores desse módulo podem ser
classificados como sensores, transdutores ou transmissores (ALBERTAZZI, 2008).
Os termos sensores e transdutores são definidos por vários autores de
forma diferente, porém, por meio de seus conceitos, é possível concluir que ambos
são conversores de energia. De acordo com o Vocabulário Internacional de termos
gerais e fundamentais de Metrologia (VIM), o transdutor de medida é um dispositivo
utilizado que fornece um sinal de saída proporcional à grandeza de entrada. Já o
sensor, também de acordo com o VIM, é o elemento diretamente afetado por um
fenômeno, corpo ou substância que contém a grandeza a ser medida (BALBINOT;
BRUSAMARELLO, 2010).
Dessa forma, o elemento sensor é a parte sensitiva do transdutor, sendo
que, na maioria das vezes, um circuito eletrônico é associado com o intuito de gerar
um sinal elétrico de saída proporcional a grandeza física. Como exemplo prático,
pode-se citar o transdutor de pressão por membrana (ou diafragma), onde o
elemento sensor seria apenas o elemento elástico, sobre a qual é exercida a
pressão que se espera medir. A figura 2.3 exemplifica o transdutor de pressão por
membrana.

Figura 2.5 - Estrutura de um transdutor de pressão por membrana. Fonte: adaptado


de: Unipinhal (2011).

No presente trabalho, a temperatura apresenta-se como a grandeza física a


ser medida, conforme visto no capítulo 1. Devido a este fato, a subseção 2.2.1.1 faz
uma breve descrição dos principais elementos sensores utilizados para a medição
de temperatura.
31

2.2.1.1 Medição de temperatura

A temperatura é uma grandeza física relacionada ao grau de agitação


térmica das moléculas, ou seja, quanto maior seu valor, maior será a energia
cinética média dos átomos. O termo utilizado para a medição de temperatura é
termometria, o que possibilita quantificar essa grandeza por meio de escalas
padronizadas (BALBINOT; BRUSAMARELLO, 2010).
Como a temperatura não pode ser diretamente determinada, tipicamente
faz-se uma dedução de seu valor, a partir de efeitos elétricos ou físicos produzidos
sobre um material, cujas características são conhecidas. De um modo geral, os
sensores de temperatura podem ser classificados em dois grandes grupos: os
termoelétricos e os resistivos.
Os termopares são sensores do tipo termoelétricos cujo princípio de
funcionamento é baseado na geração de uma força eletromotriz (FEM) entre duas
junções a temperaturas diferentes, as quais são formadas pela união da
extremidade de dois condutores metálicos. Esse efeito foi observado pelo físico
Thomas J. Seebeck quando estudava o efeito eletromagnético em metais,
nomeando o ocorrido de efeito Seebeck. A figura 2.4 exemplifica esse fenômeno,
sendo “a ” e “b ” as respectivas junções do termopar, T 1 e T 2 as diferentes
temperaturas das extremidades dos metais x e y (MEZZADRI, 2012).

Figura 2.6 - Circuito Seebeck. Fonte: adaptado de: Thermocom (2002).

No momento em que as junções “ a ” e “b ” do termopar forem submetidas a


uma diferença de temperatura (T 1−T 2), uma força eletromotriz será gerada, cujo
valor estará diretamente relacionado com o material dos condutores metálicos
empregados e com as temperaturas das junções do termopar (BALBINOT;
BRUSAMARELLO, 2010).
32

No que se refere às vantagens e desvantagens do uso de termopares para a


medição de temperatura, estes são considerados elementos primários compostos
basicamente por apenas dois fios metálicos isolados com as pontas soldadas.
Dessa forma, a sua construção pode ser considerada relativamente simples, sendo
extremamente robusta e confiável, além de apresentarem um baixo custo. Por outro
lado, a FEM produzida pelos pares metálicos é da ordem de milivolts ( mV ), fazendo-
se necessário um condicionamento do sinal para a sua devida utilização
(MEZZADRI, 2012).
Outro tipo de sensor de temperatura muito utilizado é o termômetro por
resistência elétrica, cujo princípio de funcionamento é baseado na variação da
resistência elétrica do material condutor elétrico com a variação da temperatura.
Este tipo de sensor, por sua vez, é dividido em dois grupos: os termoresistores
(RTDs, do inglês, Resistance Temperature Detectors); e os termistores (DARRIGO,
2001). A principal diferença entre eles é dada pela sua composição, sendo o
primeiro constituído de material metálico e o segundo por semicondutores
cerâmicos.
A especificação dos RTDs é dada pelo valor da sua resistência em uma
temperatura de 0 ° C e pelo material de sua construção. O Pt100, por exemplo, é um
termômetro de resistência de platina com resistência de 100 Ω a 0 ° C . No que
concerne o processo de fabricação, os termoresistores podem ser produzidos
através de fios condutores elétricos encapsulados (geralmente compostos por
cobre), os quais energizam as bobinas de platina para a variação da resistência
elétrica. A figura 2.5 ilustra a construção física de um termoresistor de platina
(DARRIGO, 2001).

Figura 2.7 - Construção física de um RTD. Fonte: adaptado de: PR Eletronics


(2014).
33

A proteção com bainha de quartzo permite a utilização desse instrumento de


medição em, basicamente, qualquer tipo de ambiente, criando boas características
de reprodutibilidade. Em uma indústria, por exemplo, cujo ambiente de produção
exige o emprego de dispositivos robustos, a proteção do elemento sensor é
fundamental para que o monitoramento da temperatura desse processo de produção
seja feito de forma adequada (WIEGAND, 2009).
Os termistores, por sua vez, são resistores sensíveis à temperatura
compostos por ligas de óxidos de níquel, manganês e outros metais, sinterizados a
temperaturas acima de 1.000 ° C . Esses sensores podem ser divididos em duas
categorias, de acordo com o coeficiente de variação da resistência com a
temperatura. A primeira é conhecida como PTC (coeficiente positivo de
temperatura), cuja resistência aumenta com a elevação da temperatura, e a segunda
como NTC (coeficiente negativo de temperatura), cuja resistência diminui com o
aumento da temperatura (DARRIGO, 2001).
Os termistores são especificados por meio da sua resistência a temperatura
ambiente, como, por exemplo, um termistor NTC 10k, o qual apresenta uma
resistência de 10 kΩ a temperatura ambiente. Além disso, são geralmente
empregados para operarem em um intervalo de medição de −50 ° C a 150 ° C ,
podendo gerar incertezas na ordem de 1 ° C (DARRIGO, 2001).
Em termos de comparação, em relação aos demais medidores de
temperatura citados anteriormente, o termistor apresenta uma maior sensibilidade,
com uma resposta mais rápida e com melhor exatidão. Porém, o termistor possui
uma resposta não linear, além de operar em um intervalo de medição limitado. A não
linearidade, em especial, pode ser um problema, pois tende a aumentar a
complexidade do processamento e tratamento do sinal gerado pelo sensor
(MEZZADRI, 2012).

2.2.2 Módulo de condicionamento de sinal

O condicionamento de sinal pode ser definido como a manipulação de um


determinado sinal analógico, de tal forma que ele atenda aos requisitos do próximo
estágio do processo de medição. O modo como um sinal analógico será
condicionado dependerá principalmente dos tipos de sensores e do conversor
analógico-digital, quando este último é utilizado. Os termopares, por exemplo,
34

produzem um sinal de tensão de baixa intensidade. Dessa forma, esse sinal precisa
ser primeiramente amplificado antes que a sua transmissão ocorra ao módulo de
aquisição de dados (ASHLOCK; WARREN, 2015).
Dentre as principais técnicas de condicionamento de sinais existentes, pode-
se destacar os processos de amplificação, filtragem, excitação, linearização e
configuração de ponte (LEKAS et al., 2012). O processo de amplificação consiste,
basicamente, em aplicar um ganho ao sinal de saída do sensor, fazendo com que
este tenha um aumento em sua intensidade. Utiliza-se à amplificação em sinais de
baixa potência, susceptíveis a ruídos, com o intuito de ajustar a amplitude do sinal à
entrada da unidade de aquisição de dados (KONZEN, 2019).
A técnica de filtragem é empregada para atenuar componentes do espectro
de frequências do sinal gerado pelo sensor. Dos tipos de filtros existentes, os mais
comumente empregados são os filtros passa-baixas, passa-altas, passa-faixas ou
rejeita-faixas. Além desses mencionados, existem outros para aplicações mais
especificas, como, por exemplo, os filtros anti-aliasing, cujo objetivo é reduzir os
erros em processos de amostragem (KONZEN, 2019). Quanto a sua classificação,
os filtros podem ser divididos entre passivos ou ativos, sendo os primeiros
compostos apenas por resistores, indutores e capacitores, e os últimos por
elementos ativos, como amplificadores operacionais (LIMA, 2012).
Determinados tipos de sensores requerem uma excitação externa, como, por
exemplo, extensômetros, acelerômetros ou termistores. Para o caso dos termistores,
a excitação é feita, normalmente, a partir de uma fonte de corrente que converte a
variação da resistência em uma tensão mensurável (LEKAS et al., 2012).
Em alguns casos, os sinais de saída dos sensores podem não estar
linearmente relacionados com a grandeza medida, necessitando assim, do uso da
técnica de linearização. Esse processo de condicionamento pode ser definido como
um modo de interpretar o sinal medido pelo sensor, compensando a não-linearidade
desse elemento, a partir de parâmetros avaliados durante o processo de calibração
do mesmo (KESTER, 1999).
Por fim, a técnica de configuração de ponte é empregada com o intuito de
definir uma referência fixa para a detecção de pequenas variações de tensão sobre
resistores ativos. O esquema de montagem de resistores em formato de ponte de
Wheatstone permite a medição do valor de uma resistência elétrica desconhecida,
35

sendo constantemente aplicado em extensômetros para a medição de deformações


mecânicas (KESTER, 2012).
A figura 2.6 ilustra a configuração de ponte, sendo R X a resistência
desconhecida, Rw as resistências presentes nos fios metálicos e A e B os pontos de
medição de tensão. O resistor ajustável de precisão conectado ao circuito serve de
referência para o balanceamento da ponte. Quando o elemento resistivo R X atingir o
valor ajustado no resistor de precisão, o qual será representado pelo termoresistor, a
ponte estará balanceada e, portanto, a tensão entre os terminais A e B será
exatamente igual a zero.

Figura 2.8 - Configuração de ponte de Wheatstone. Fonte: adaptado de: (LEKAS et


al.; 2012).

Contudo, o emprego da ponte de Wheatstone, como um circuito de


condicionamento de sinais, pode apresentar algumas limitações para a medição de
diferentes grandezas físicas (MEDEIROS, 2007). Dentre essas limitações, pode-se
citar:

 metade do sinal de cada elemento ativo é atenuado pelo sinal do


elemento adjacente na ponte;
 o sinal de saída é usualmente uma função não linear da variação da
impedância por ramo individual da ponte;
 para garantir uma alimentação confiável, são necessários nove fios de
ligação por ponte;
36

 os fios de ligação e a impedância dos conectores tipicamente


adicionam incertezas à medição.

Gureyev et al. (2006) afirma que os circuitos de ponte podem ser utilizados
como uma técnica de condicionamento de sinais para sensores e transdutores
diversos. Porém, o desempenho dessa técnica pode ser prejudicado devido às
limitações elencadas anteriormente, restringindo o seu emprego. Além disso, o
condicionamento de sinais a partir da ponte é considerado menos efetiva em casos
que ocorre somente uma pequena variação na saída transdutor, especialmente
quando o transdutor possuir uma grande impedância de entrada.
Diante das limitações referentes ao emprego da ponte de Wheatstone para o
condicionamento de sinais para elementos resistivos, Anderson (1998) sugeriu uma
técnica alternativa, cuja configuração ficou conhecida como Anderson Loop. Essa
técnica nada mais é do que uma ponte de Wheatstone aberta e alimentada por uma
fonte de corrente, ao invés de uma fonte de tensão.
O Loop de Anderson combina um subtrator duplamente diferencial e ativo
com um circuito de Kelvin (MEDEIROS, 2007), criando uma fonte de corrente
contínua constante e com precisão sobre os elementos resistivos. A figura 2.7
exemplifica a implementação desse circuito, utilizando dois amplificadores
operacionais para a criação desse subtrator. A queda de tensão em cada elemento
resistivo é amplificada e, posteriormente, subtraídas entre si. Como o sinal de saída
do subtrator é de baixa intensidade, existe um estágio de amplificação posterior para
elevar a potência do referido sinal.
37

Figura 2.9 - Anderson Loop. Fonte: adaptado de: (LEKAS et al.; 2012).
Dentre os elementos presentes na figura 2.7, RW representa as resistências
presentes nos fios metálicos, A1, A2 e A3 os estágios de amplificação, V 1 a tensão
sobre o elemento sensor e V 2 a tensão sobre o elemento de referência. De acordo
com a resistência de referência R F e o elemento sensor ( R+ Δ R ), as tensões V 1 e V 2
são comparadas e subtraídas entre si, conforme a configuração mencionada no
parágrafo anterior (subtrator). A tensão de saída V out , de um circuito genérico, é
dada por:
V out =A 1 V 1 −A 2 V 2 ;

V out =I r ( Δ R g).
Sendo que:

I r = corrente constante gerada pela fonte;


Δ R g = variação da resistência do elemento sensor.

O Loop de Anderson é frequentemente comparado a um circuito passivo de


ponte, fornecendo medições de maior precisão com uma menor tensão de
excitação. Devido ao fato de ser constituído por, basicamente, resistores e
amplificadores, é considerado um dispositivo ativo (KESTER, 1999).
38

A referida configuração permite a geração de uma corrente contínua


constante que circula através do circuito, possibilitando assim o encadeamento de
inúmeros sensores. Dessa forma, todos os elementos resistivos são alimentados
pela mesma fonte, o que elimina possíveis erros de medição entre os sensores
encadeados. Além disso, o Loop permite uma maior liberdade de referência e ganho
sobre cada um dos elementos contidos no circuito (MEDEIROS, 2007).
A possibilidade de encadeamento de diversos sensores também traz
algumas desvantagens, como, por exemplo, a dependência dos sensores em
relação a mesma fonte de energização. Em caso de rompimento e abertura do
circuito, a alimentação é interrompida e, consequentemente, a medição de todos os
sensores conectados ao Loop de corrente será prejudicada (GUREYEV et al., 2006).

2.2.3 Módulo de aquisição de dados

Sistemas de aquisição de dados vêm sendo desenvolvidos para diferentes


áreas de atuação, tanto industriais como acadêmicas. Esse crescente
desenvolvimento tem sido influenciado por diversos fatores, tais como o avanço da
microeletrônica, desenvolvimento de novas tecnologias para as linhas de produção,
aumento na competitividade e o crescimento do mercado industrial (CASSIOLATO,
2010).
O principal objetivo de um sistema de aquisição de dados é apresentar ao
observador os valores das variáveis ou parâmetros que estão sendo medidos, tais
como valores referentes à temperatura, pressão, nível, vazão, tensão, entre outros
(LABVIRTUAL EQ-UC, 2007).
O dispositivo de aquisição de dados é um hardware que atua como uma
interface entre um computador e sinais externos. Seu princípio de funcionamento é
dado, basicamente, como um dispositivo que digitaliza sinais analógicos de entrada,
de forma que a máquina possa interpretá-los. Esse procedimento é feito por meio de
um elemento chamado de conversor analógico-digital (LABVIRTUAL EQ-UC, 2007).
Os sistemas atuais de medição, que possuem sistemas de aquisição de
dados baseados em computadores, exploram a capacidade de processamento,
produtividade, visualização e recursos de conectividade padronizados para
computadores. Com isso, têm-se uma solução de medição eficiente, flexível e com
melhor custo-benefício (CASSIOLATO, 2010).
39

2.3 Ruídos e interferências

A convivência de equipamentos que apresentam diversas tecnologias


diferentes, somada à inadequação das instalações, facilita a emissão de energia
eletromagnética e, com isto, é comum encontrar distúrbios ou ruídos nas aquisições
de sinais. Em um ambiente industrial, por exemplo, o funcionamento simultâneo de
inúmeros equipamentos pode levar ao surgimento de interferências
eletromagnéticas (CASSIOLATO, 2010).
O mesmo acontece em instituições acadêmicas e de ensino, uma vez que os
ruídos interferem nos circuitos eletrônicos, podendo ocasionar o mau funcionamento
dos mesmos. De modo conceitual, ruídos elétricos e interferências eletromagnéticas
são sinais indesejáveis, constituídos por sinais aleatórios. Dentre as fontes
geradoras desses ruídos e interferências eletromagnéticas existentes, pode-se citar
tanto fenômenos naturais, como descargas atmosféricas (raios), como fenômenos
físicos, através do funcionamento de motores, controladores de potência,
computadores, entre outros (PINHEIRO, 2004).
A utilização de aterramento adequado, blindagem, amplificadores
diferenciais, entre outros métodos de proteção são fatores que devem ser
considerados para a minimização dos efeitos causados pelas interferências
elétricas/eletromagnéticas. Em uma instalação apropriada, o uso de equipamentos
adequados para o local pode favorecer tanto na redução dos ruídos elétricos e
distúrbios eletromagnéticos, como na segurança de um modo geral (CASSIOLATO,
2010).

2.4 Comentários finais

No presente capítulo, diferentes conceitos foram abordados acerca dos


sistemas de medição e de seus módulos básicos, dando maior enfoque à relação
desses com a grandeza física temperatura. No que concerne à medição da referida
grandeza, os sensores do tipo termoresistores serão adotados no presente trabalho,
pois possuem maior precisão, com a capacidade de medição em qualquer ambiente
e com boas características de reprodutibilidade (KESTER, 1999).
Outro fator de extrema importância é o emprego de um sistema de
condicionamento de sinais com o intuito de obter um processo de medição confiável
40

e satisfatório. No âmbito das técnicas de condicionamento de sinais para a medição


de temperatura com elementos resistivos, conforme mencionado na subseção 2.2.2,
existem dois métodos principais: ponte de Wheatstone e Anderson Loop.
A implementação da técnica de ponte de Wheatstone é considerada
complexa, pois exige um balanceamento preciso dos elementos resistivos presentes
no circuito. Outro ponto negativo da referida técnica ocorre quando uma determinada
aplicação exige o emprego de dois ou mais termoresistores para medição de
temperatura. Cada elemento sensor utilizado terá que ser conectado a sua própria
ponte de Wheatstone para o condicionamento de sinal, elevando a complexidade e o
custo desse sistema. Além disso, os fios de ligação e as impedâncias nos
conectores adicionam incertezas na medição.
De acordo com essas constatações, adotou-se o método de Anderson Loop
para o condicionamento de sinais do elemento sensor de temperatura. Tal método
possibilita o encadeamento de termoresistores por meio de uma única fonte de
corrente constante, facilitando o processo de medição em pontos distintos. Além
disso, o módulo subtrator presente nessa configuração elimina as quedas de
tensões nos elementos resistivos presentes no circuito, atenuando as incertezas no
processo de medição.
Ainda se tratando do embasamento teórico do presente capítulo, a presença
de ruídos e interferências eletromagnéticas não devem ser ignoradas, pela
possibilidade dessas em prejudicar o processo de medição, tanto em nível industrial,
como em desenvolvimento de projetos e aplicações específicas a nível acadêmico.
41

3 Desenvolvimento

O presente capítulo apresenta todas as etapas para o desenvolvimento de


um sistema de condicionamento de sinais baseado na técnica de Anderson Loop
para medição de temperatura.
O módulo proposto deve tratar os sinais medidos por termoresistores, de
forma que atenda a um intervalo de medição entre 0 ° C e100 ° C . O referido
condicionamento é realizado em três diferentes estágios: excitação; amplificação; e
filtragem. O sinal de saída do módulo é dado em nível de tensão elétrica, variando
dentro de um intervalo entre 0 V e 5 V . O motivo pela escolha desse intervalo é dado
pelo fato de que, geralmente, os dispositivos de aquisição de dados trabalham com
sinais de tensão entre 0 V e 5 V ou entre 0 V e 10 V .
Como base para a implementação do módulo, realizou-se uma análise sobre
estudos publicados na literatura em relação ao referido assunto. Muñoz et al. (2005),
por exemplo, desenvolveu um conversor de impedância generalizado, com o intuito
de converter a variação da resistência do termoresistor do tipo Pt100 em uma escala
de tensão proporcional.
Outro trabalho utilizado como referência para o desenvolvimento do módulo
de condicionamento deste trabalho foi o de Svelto et al. (1999). Os autores
implementaram um termômetro digital compacto, cujo princípio de funcionamento é
baseado no método de Anderson Loop, utilizando um termoresistor do tipo Pt100
como elemento sensor. O objetivo do termômetro era medir a temperatura em um
intervalo de −10 a 50 ° C , gerando sinais de saída do tipo analógico e digital.
Analisando os dois trabalhos citados anteriormente, foi possível verificar que
ambos utilizaram estruturas e montagens relativamente parecidas. Um aspecto
fundamental da técnica de Anderson Loop, de acordo com os autores, é desenvolver
uma fonte de corrente contínua de referência bem definida e regulada, a qual é
empregada para alimentar os sensores de temperatura associados em série no
circuito. Vale destacar que a corrente gerada é fixa, independentemente da
quantidade de sensores que estiverem presentes no circuito.
42

Para o presente trabalho, as seguintes etapas foram definidas para o


desenvolvimento do módulo de condicionamento de sinais:

 projeto do módulo e simulações para sua validação;


 implementação e prototipagem;
 aprimoramento do módulo proposto.

A descrição das referidas etapas será apresentada nas seções 3.1, 3.2 e 3.3
do presente capítulo.

3.1 Projeto do módulo e simulação

Para o início do projeto do módulo de condicionamento deste trabalho,


realizou-se um estudo mais aprofundado da estrutura proposta por Muñoz et al.
(2005), por ser um método de fácil de compreensão, entre todos os analisados na
literatura científica. Os autores concluíram que, para criar uma fonte de corrente
contínua de referência bem definida, eram necessários uma fonte de tensão de
referência, dois amplificadores operacionais e cinco resistores. O circuito gerador de
corrente contínua apresentado pelos autores pode ser visto na figura 3.1.

Figura 3.10 - Circuito gerador de corrente contínua constante. Fonte: (IMTC, 2005).

A fonte de tensão de referência (V ref ) limita a tensão de alimentação do


circuito em um valor específico, sendo esta comparada pelos amplificadores
operacionais conectados, de forma a subtrair as quedas de tensões existentes em
43

cada elemento resistivo presente. Considerando os amplificadores ideais, a tensão


de referência é aplicada sobre todas as resistências elétricas conectadas em série
na estrutura, o que implica na circulação de uma corrente constante ( I 0) através do
resistor R 4 . O valor dessa corrente é definido por:

V ref
I 0= . (3.1)
R5

Na sequência, a resistência R 4 R 4 R 4 R 4 R 4 é substituída pelo sensor de


temperatura do tipo Pt100, o qual é conectado em paralelo com um amplificador de
instrumentação (INA118), com o intuito de converter a variação da sua resistência
interna em uma escala de tensão elétrica. O amplificador permite tanto o ajuste na
tensão de referência do circuito, como no aprimoramento da sensibilidade do Pt100,
cuja característica pode ser modificada através de um ganho interno do próprio
amplificador de instrumentação.

A figura 3.2 apresenta um sistema de medição de temperatura, com o


respectivo condicionamento de sinal, assim como os resultados parciais obtidos por
Muñoz et al. (2005). Esse sistema é composto por um circuito de Anderson Loop e
por dois elementos resistivos ( Rs 1 e Rs 2) atuando como sensores de temperatura.

Figura 3.11 - Circuito proposto por Muñoz et al. (2005). Fonte: adaptado de IMTC
(2005).
44

Por meio da figura 3.2, é possível notar que a alimentação do circuito é feita
a partir de uma fonte de referência de 15 V , cujo valor é limitado para 2,5 V através
de um diodo zener modelo LM4040DIZ-2.5. A partir do resistor R 5 de 2,2 kΩ, a
referida configuração resulta em uma corrente constante fixa de 1,15 mA sobre os
RTDs, de acordo com a equação 3.1.
Para o módulo subtrator presente na técnica de Anderson loop, os autores
utilizaram dois amplificadores operacionais modelo OP07, os quais foram
interligados de forma estratégica por resistores de 33 kΩ e 1 kΩ. Com essa
configuração, a tensão sobre os elementos resistivos é mantida no valor delimitado
pelo diodo zener.
Em relação aos resultados apresentados na tabela presente na figura 3.2, os
autores obtiveram um sinal de tensão de saída entre 0 V e 1 V para uma variação de
temperatura entre 0 ° C e 100 ° C . Pode-se concluir que o desempenho alcançado
pelo módulo de condicionamento desenvolvido não será o mais adequado, já que
geralmente os dispositivos de aquisição de dados trabalham com sinais de tensão
entre 0 V e 5 V ou entre 0 V e 10 V .
Outro fator observado no trabalho de Muñoz et al. (2005) é o valor da
corrente contínua que circula através dos termoresistores. De acordo com as
especificações fornecidas pelos fabricantes desse instrumento, a corrente não deve
ultrapassar o valor máximo de 1 mA . Caso a corrente no circuito passe o referido
limite, o fabricante não garante a confiabilidade da medição realizada.
Dessa forma, determinadas alterações foram feitas no circuito proposto por
Muñoz et al. (2005) para o presente trabalho. A primeira mudança se refere à
alteração do valor do resistor R5 (2,2 kΩ para 2,7 kΩ ) e adaptações de algumas
características do amplificador de instrumentação (ajuste da tensão de referência e
ganho). Além disso, como uma parte dos componentes empregados no trabalho do
autor não estavam disponíveis para este projeto, modificações adicionais foram
realizadas no circuito: substituição do diodo zener (LM4040DIZ-2.5 pelo 1N746A);
substituição do amplificador de instrumentação (INA118 pelo INA114AP);
substituição dos amplificadores operacionais (UA741CP pelo TL084AC); e
substituição do valor de alguns resistores. O circuito para a implementação do
módulo de condicionamento deste trabalho é mostrado na figura 3.3.
45

Figura 3.12 – Novo modelo proposto. Fonte: autor.


De acordo com simulações realizadas no software Multisim, o modelo
proposto tem a capacidade de trabalhar com um sinal de saída em tensão entre 0 V
e 5 V para uma variação de temperatura entre 0 ° C e 100 ° C . Dessa forma, é
possível afirmar que o intervalo do sinal de saída do circuito mostra-se satisfatório
para os objetivos do trabalho.
Além disso, a tensão no novo modelo é mantida próxima ao valor de tensão
no modelo proposto por Muñoz et al. (2005), isto é, em 2,5 V . Porém, a corrente que
circula através dos termoresistores foi reduzida para o valor de 924 µA . Os referidos
valores de tensão e corrente presentes no circuito de condicionamento durante o
seu funcionamento podem ser vistos na figura 3.4.
46

Figura 3.13 – Visualização dos valores de tensão e corrente no novo modelo


proposto. Fonte: autor.
Em relação ao sinal de saída gerado pelo circuito, o intervalo de 0 V até 5 V
pôde ser alcançado por meio do ajuste de dois parâmetros do amplificador de
instrumentação conectado ao sensor, os quais são conhecidos como tensão de
referência e ganho. O primeiro parâmetro define o valor de referência (offset) para a
tensão de saída do circuito. O ganho, por sua vez, estabelece qual vai ser o intervalo
do sinal de saída do circuito. Para a regulagem desse segundo parâmetro, este pode
ser determinado por meio da equação 3.2.

50000
G=1+ . (3.2)
Rg

Sendo que:

Rg = resistência de ganho do amplificador de instrumentação;


G = ganho do amplificador de instrumentação.
Um dos cuidados necessários para definir o valor do ganho se refere à
saturação do sinal de saída do amplificador. Valores consideravelmente elevados
47

podem fazer com que o amplificador fique inapto a exercer as suas funções. Além
disso, como ambos os parâmetros (tensão de referência e ganho) influenciam no
sinal de saída do circuito (V out ), o ajuste de um deve ser levado em consideração
para o ajuste do outro, caso deseja-se evitar tensões negativas no intervalo de
medição.
Outra característica importante do circuito de condicionamento é a sua
tensão de alimentação. De acordo com a figura 3.3, é possível verificar que os
componentes presentes são simétricos, requerendo uma alimentação específica de
± 15V . Este fator foi levado em consideração na seleção da tensão de referência do
amplificador de instrumentação, possibilitando o uso de apenas uma única fonte
para alimentar todo o circuito.
A partir da definição da tensão de referência, o ganho foi calculado de forma
que os pontos de referência correspondessem ao intervalo de tensão estabelecidos
para o modelo proposto (0 ° C=0V e 100 °C=5 V ). Conforme simulações feitas no
Multisim, os valores de resistência de ganho ( Rg) e tensão de referência, para
atender a essa configuração, foram definidos como 300 Ω e −15 V , respectivamente.
Com isso, o ganho foi calculado, utilizando a equação 3.2, o qual resultou em um
valor aproximado de 167,67 .
Para o desenvolvimento da fonte de alimentação do sistema, um circuito
elétrico foi projetado no software Proteus, conforme pode ser visto na figura 3.5.

Figura 3.14 – Fonte de referência para a alimentação do módulo. Fonte: autor.


48

A fonte de alimentação é formada por um transformador do tipo abaixador,


um retificador de onda completa (RS207), um barramento de capacitores e dois
reguladores de tensão (L7815CV para +15 V e KA7915 para −15 V ).
O objetivo do transformador abaixador é transformar a tensão de entrada da
rede (220 V eficaz ) em um valor aproximadamente igual a 31,4 V eficaz (tensão no
secundário do transformador). Em seguida, a tensão de saída desse transformador é
aplicada ao retificador de onda completa, que converte a tensão alternada em
tensão contínua. O barramento de capacitores é conectado na saída da ponte
retificadora, com o intuito de atenuar o nível de ondulação do sinal. Por fim, os
reguladores de tensão (L7815CV e KA7915) mantém as tensões em valores
próximos de ± 15V .
Para especificar os valores das capacitâncias do barramento da fonte de
alimentação, fez-se necessário estabelecer qual seria o consumo total do módulo.
Para isso, foi calculado a potência consumida em cada componente presente no
circuito, para, então, realizar o somatório desses valores. Como considerações
práticas, os cálculos foram feitos com aproximações, considerando uma carga
puramente resistiva.
Levando em consideração a Lei de Ohm e cálculos referente a potência
elétrica, tem-se que:

V =R × I ; (3.3)

S=V × I ; (3.4)

P
FP= . (3.5)
S

A tensão (V ) calculada na equação 3.3 é a diferença de potencial elétrico,


sendo I a intensidade de corrente e R a resistência elétrica. A potência aparente ( S)
presente na equação 3.4, corresponde ao produto entre a tensão eficaz e a corrente
eficaz em um dipolo elétrico (ANEEL, 2015). Por fim, o fator de potência ( FP ) pode
ser definido como a razão entre a potência ativa e a potência aparente do sistema,
indicando a eficiência do uso de energia.
49

Adotando o fator de potência igual a 1 (carga puramente resistiva), é


possível concluir que a potência aparente é similar a potência ativa consumida por
cada componente presente no módulo. Ao isolar I em 3.3 e substituir em 3.4, a
equação final é dada por:

2
V
S=P= . (3.6)
R

Com isso, o valor de consumo de cada componente presente na placa pode


ser determinado, conforme valores abaixo:

2,52
P33 kΩ= =0,189 mW ;
33 × 103

2,52
P1 kΩ= =6,25 mW ;
1×10 3

2,52
P2,7kΩ= =2,31 mW ;
2,7 ×10 3

2
15
P10 kΩ= =22,5 mW .
10 × 103

As potências dissipadas pelos amplificadores operacionais, pelo diodo zener


e pelo amplificador de instrumentação puderam ser determinadas a partir dos
respectivos documentos de dados técnicos fornecidos pelos fabricantes, conforme
valores apresentados abaixo (TL084AC; 1N746A; INA114AP, 2018):

PTL 084 AC =680 mW ;

P1 N 746 A =500 mW ;

P INA114 AP=66,67 mW .

Dessa forma, pode-se concluir que o valor final da média de consumo do


módulo ( PT ) é de:
50

PT =P33 kΩ ×2+ P1 kΩ + P2,7kΩ + P10 kΩ+ PTL 084 AC ×2+ P1 N 746 A + PINA 114 AP

PT =1.958,108 mW .

Deve-se destacar que as perdas nos fios e nas trilhas não foram
consideradas no cálculo, adotando um modelo ideal. Além disso, a dissipação de
energia sobre o termoresistor foi desprezada, uma vez que esse dado não foi
encontrado no documento de dados técnicos fornecido pelo fabricante do
instrumento.
Através do valor da média de consumo ( PT ) calculado, é possível definir a
carga total do circuito ( R L), dada de acordo com a seguinte equação:

2
VS (3.7)
R L= .
PT

Sendo que:

V S = Tensão no secundário do transformador.

Logo, a carga total do circuito ( R L) será igual a:

2
31,4
R L= =503,527 Ω.
1,958108

Para especificar o valor de capacitância necessário para suportar o sistema,


é necessário adotar um valor máximo de resíduo (ripple). Esse valor depende
diretamente da aplicação em que o circuito está inserido, ficando este como
parâmetro de escolha do projetista. Para o presente trabalho, o valor de resíduo
adotado foi de 10 %, uma vez que este é um valor considerado aceitável para
aplicações em ambientes industriais (OLIVEIRA, 2018). Pela equação 3.8, a tensão
de pico no secundário do transformador é dada por:

V S =V S × √ 2 ;
P
(3.8)

V S =31,4 × √2=44,4 V .
P
51

A tensão de pico sobre o capacitor ( V C ) é dada pelo valor de pico da tensão


P

do secundário do transformador, subtraída pelas quedas de tensões nos diodos da


ponte retificadora de onda completa. Considerando o uso de diodos de silício para a
construção da ponte, a queda de tensão é de 0,7 V por diodo (V D). Portanto, conclui-
se que:

V C =V S −(V ¿¿ D× 2)=43 V . ¿
P P

Por fim, a tensão de resíduo ( V R) pode ser definida pelas equações 3.9 e
3.10.

IP
V R= ; (3.9)
f ×C

V R=V C ×% Ondulação máxima .


P
(3.10)

Sendo que:

I P = Corrente de pico do circuito;


f = Frequência da rede para a retificação de onda completa;
C = Valor de capacitância do circuito.

A partir do valor da carga total do sistema ( R L), previamente calculado, é


possível quantificar o valor da corrente de pico, conforme pode ser visto abaixo:

VC
I P= P
; (3.11)
RL

43
I P= =85,397 mA .
503,527

Substituindo a equação 3.10 em 3.9 e isolando a variável C , é possível


definir o valor final de capacitância mínima para o consumo do módulo a ser
desenvolvido.
52

0,085397
C= =165,499 µF .
120× 43 ×0,1

A capacitância calculada se refere ao valor mínimo necessário para que o


módulo possa suprir o consumo da carga total estipulada sobre ele. Com base nos
modelos comerciais existentes, optou-se pelo uso de dois capacitores eletrolíticos
com valor de 220 µF , os quais foram conectados aos reguladores de tensão. Como
não foi levado em consideração a quantidade de sensores que serão utilizados no
circuito, adotou-se um valor superior ao calculado.
Posteriormente ao projeto e simulação do circuito de condicionamento de
sinais, deu-se início ao processo de implementação e prototipagem do mesmo. Essa
etapa subsequente tem como objetivo principal conferir se os resultados práticos
coincidem com os resultados obtidos pelas simulações.

3.2 Implementação e prototipagem

Seguindo o projeto apresentado na figura 3.3, o circuito condicionamento de


sinais foi montado em uma placa de prototipagem. O sensor de temperatura
escolhido para a implementação do sistema foi o termoresistor do tipo Pt100 a 4 fios,
por fornecer o melhor índice de exatidão nas medições (WIGEN, 2018). A figura 3.6
apresenta o sistema montado no protoboard, com destaque para o Pt100 e os
componentes que formam o módulo de condicionamento projetado na etapa
anterior.

Figura 3.15 – Prototipagem do módulo proposto. Fonte: autor.


53

Ao analisar a tensão de alimentação dos componentes presente no circuito,


uma das divergências observadas entre a simulação e a implementação prática foi
que a tensão presente na saída do diodo zener apresentou um valor menor do que o
esperado, em torno de 2,34 V . Este fato ocorreu devido as perdas existentes nos
diversos cabos utilizados para a conexão dos componentes, uma vez que o software
adota o modelo ideal. Além disso, os reguladores de tensão da fonte de alimentação
simétrica não são exatamente precisos, isto é, fixos em ± 15V .
Com o objetivo de solucionar a diferença de tensão verificada na saída do
diodo zener, optou-se por substituir o resistor conectado ao cátodo do mesmo (de
10 kΩ para 5,6 kΩ ), obtendo assim o valor desejado de 2,5 V . A referida resistência
associada em série ao diodo zener serve para limitar a corrente que circula através
do circuito (MAGANHA, 2017).
Com o protótipo implementado e a verificação da alimentação do circuito
concluída, iniciou-se o processo de ensaios preliminares, cujo procedimento adotado
foi realizar medições da temperatura ambiente de um determinado local. O sistema
de medição empregado era formado por um Pt100, pelo módulo de condicionamento
de sinais implementado neste trabalho e por um dispositivo de aquisição de dados
(NI USB-6210). Conforme mencionado na seção 3.1, o sinal de saída do módulo é
dado em níveis de tensão elétrica, dentro de um intervalo de 0 V a 5 V ,
correspondente a uma faixa de medição de temperatura entre 0 ° C a 100 ° C .
A conversão entre as grandezas de tensão e temperatura é feita por meio de
equacionamentos matemáticos, os quais estão organizados em duas etapas:
conversão tensão-resistência; e conversão resistência-temperatura. Para a obtenção
do valor da resistência equivalente a tensão medida no módulo proposto, faz-se
necessário determinar a tensão sobre o sensor Pt100 (antes do estágio de
amplificação realizado pelo INA114AP). Como o estágio de amplificação leva em
consideração os parâmetros de ganho e tensão de referência do amplificador de
instrumentação, os mesmos são utilizados para o cálculo do caminho inverso.
Com o valor de tensão determinado e, a partir da corrente constante que
circula através dos sensores presentes no circuito, a resistência pode ser calculada,
de acordo com a equação 3.3. Vale relembrar que essa corrente foi estabelecida
com base na técnica de Anderson Loop adotada para o módulo proposto ( 924 µA ).
Portanto, conclui-se que:
54

V out −V ref
V Pt 100 = ; (3.12)
G

V Pt 100
Rt = .
I ref

Em sequência, a medição de temperatura é obtida a partir de um


equacionamento matemático, o qual é encontrado no apêndice X 1 da norma ASTM
E 1137. O referido equacionamento é dado por:

T=
√ 2
A −4 B 1−
(
2B
)
Rt
R0
−A
.
(3.13)

Sendo que:

V Pt 100 = tensão elétrica sobre o elemento sensor;


V out = tensão de saída do módulo;
V ref = tensão de referência do amplificador de instrumentação;
G = ganho do amplificador de instrumentação;
I ref = corrente constante do Loop;
Rt = resistência elétrica da temperatura t (Ω );
T = temperatura (° C );
R0 = resistência elétrica para a temperatura de 0 ° C (Ω );
A = constante (3,9083 ×10−3 ° C−1);
B = constante (−5,775 ×10−7 ° C−2).

Os valores obtidos pela equação 3.12 são válidos apenas para temperaturas
positivas (T ≥ 0 °C ). Para temperaturas negativas, a norma fornece outro método de
equacionamento matemático, o qual é encontrado na mesma norma (ASTM E 1137).
A figura 3.7 mostra a conversão dos valores medidos nos ensaios preliminares entre
as grandezas de tensão elétrica, resistência e temperatura, respectivamente.
55

Figura 3.16 – Conversão do sinal de saída do módulo. Fonte: autor.


56

É importante destacar que foi implementado um filtro digital do tipo média


móvel com o intuito de eliminar valores espúrios dos dados convertidos em graus
Celsius. Esse filtro permite definir um parâmetro denominado rank, cujo valor
estabelece a quantidade de amostras utilizada para o cálculo da média. Por
exemplo, se o rank do filtro for igual a 5, a resposta final do módulo será em função
de uma média aritmética calculada de 5 em 5 amostras, do total de dados coletados.
Para a realização de ensaios, adotou-se o rank igual a 3, a fim de filtrar os
resultados sem que este filtro traga um elevado atraso na resposta de saída do
módulo de condicionamento de sinais.

3.3 Etapas para aprimoramento do módulo proposto

Esta seção apresenta as etapas de aprimoramento do módulo de


condicionamento de sinais proposto, tanto em questão de desempenho, como em
custo/benefício. De acordo com essas etapas, a seção foi dividida em duas
subseções: potenciômetro para ajuste de tensão referência e utilização do
multiplexador.
No decorrer do desenvolvimento prático, foram observados alguns
problemas para a implementação do módulo. Dentre eles, destaca-se a necessidade
de um amplificador de instrumentação para o condicionamento do sinal de cada
termoresistor conectado. Como os amplificadores de instrumentação são
componentes de custo relativamente elevado, isso leva a um aumento substancial
no custo final do módulo de condicionamento, caso inúmeros temoresistores forem
empregados.
Além disso, o sinal de saída de cada amplificador é ajustado manualmente e
de forma exclusiva, podendo acarretar na presença de uma certa diferença na
medição de cada um dos termoresistores. Dessa forma, a presente seção propõe
soluções alternativas para os referidos problemas.

3.3.1 Potenciômetro para ajuste de tensão de referência

Durante a realização de ensaios preliminares com mais de um Pt100 ao


mesmo tempo, verificou-se que houve uma pequena diferença nas medições dos
termoresistores. Apesar de apresentarem a mesma dinâmica, os sensores de
57

temperatura apresentaram um erro em relação à medição realizada por um sistema


de referência (Agilent).
A principal causa desse erro está relacionada com a etapa de amplificação
do sinal de saída do módulo, feita por meio de amplificadores de instrumentação.
Conforme visto na seção 3.1 do presente capítulo, os ajustes na tensão de saída do
módulo são feitos através de dois parâmetros: ganho e tensão referência. Como
cada Pt100 possui o seu próprio amplificador de instrumentação, os ajustes nos
respectivos parâmetros são feitos individualmente. Como consequência, isso pode
resultar em ajustes distintos entre os amplificadores de instrumentação, gerando a
referida diferença na medição dos termoresistores.
Para solucionar esse problema, foi proposto um método de calibração para
os termoresistores, com o emprego de potenciômetros para o ajuste da tensão
referência dos amplificadores de instrumentação presentes no módulo de
condicionamento de sinal.
O potenciômetro é um componente eletrônico que possui uma resistência
elétrica ajustável, a qual é regulada por meio de um eixo móvel. O resistor interno ao
potenciômetro possui três terminais, formando um divisor de tensão ajustável
(SOUZA; FRANÇA,2017). Ao rotacionar o eixo para uma das extremidades, a sua
resistência interna será nula ou máxima, dependendo da forma de conexão. Essa
dinâmica é ilustrada pela figura 3.8.

Figura 3.17 - Estrutura interna de um potenciômetro. Fonte: adaptado de: (Souza;


França, 2017).

Para o módulo proposto, utilizou-se três potenciômetros de 10 kΩ para


calibrar três termoresistores. Cada potenciômetro foi conectado individualmente na
fonte de alimentação de referência dos amplificadores de instrumentação, os quais
estão associados aos referidos sensores do tipo Pt100.
58

No ensaio de calibração, os três termoresistores foram ajustados até


alcançarem valores próximos aos medidos pelo sistema de referência. A figura 3.9
apresenta os resultados obtidos com a calibração desses termoresistores. A
oscilação apresentada pela curva vermelha, a qual representa a temperatura medida
pelo Pt100 1, foi feita propositalmente para mostrar como o uso do potenciômetro
para a calibração é efetivo, podendo alcançar diferentes valores.

Figura 3.18 – Ensaio preliminar para ajuste de referência dos termoresistores. Fonte:
autor.

3.3.2 Utilização do multiplexador

O módulo proposto neste trabalho tem a característica realizar o


encadeamento de diferentes termoresistores do tipo Pt100 sobre o mesmo circuito
de condicionamento de sinais. Porém, sabe-se que cada Pt100 necessita de um
amplificador de instrumentação associado para que o referido circuito possa
funcionar de maneira adequada. Este fato observado pode ser considerado como
um ponto negativo em relação ao objetivo principal do presente trabalho, uma vez
que o amplificador de instrumentação é considerado como um dos componentes
mais caros dentre os demais utilizados no módulo (INA114AP, 2019).
Devido a esta observação, foi verificado a viabilidade do emprego de um
multiplexador no circuito de condicionamento de sinais. O multiplexador (MUX) é um
dispositivo eletrônico utilizado para selecionar um sinal de entrada, dentre os demais
59

existentes, tornando-o presente na saída do dispositivo. Esse sinal de entrada pode


ser analógico ou digital, dependendo da aplicação desejada (LIMA, 2015).
A seleção do sinal aplicado na entrada do multiplexador é feita a partir de um
processamento de sinais digitais, realizando um arranjo combinacional em pinos de
comando. Esses pinos possuem dois estados distintos: nível alto ( 1) ou baixo (0 ).
Pode-se concluir, então, que o número de pinos de comando é igual a quantidade de
bits que são necessários para descrever o número de entradas existentes no
multiplexador (ROCHA, 2018). A figura 3.10 apresenta alguns exemplos de MUX
com número de entradas distintas, em que:

E1 … 4 = entradas do multiplexador;
S = saída do multiplexador;
C 1… 3 = pinos de comando do multiplexador.

Para um multiplexador de 2 entradas, por exemplo, será necessário apenas


1 pino de comando (Caso o pino receber nível baixo, ele conectará a primeira
entrada com a saída, caso contrário, a segunda entrada será associada com a
saída). Já para um multiplexador com 4 entradas, são necessários 2 pinos de
comando, e assim por diante (ROCHA, 2018).

Figura 3.19 – Exemplificação de multiplexadores existentes. Fonte: adaptado de:


(Lima, 2015).
60

A importância de se utilizar um MUX é dada justamente em situações onde o


custo de implementação de canais individuais é maior que o custo para o emprego
da multiplexação (LIMA, 2015). Como o propósito do presente trabalho é realizar a
medição de temperatura empregando mais de um sensor de temperatura, o
emprego do MUX será de grande relevância.
O primeiro passo para integrar o MUX ao módulo de condicionamento de
sinais foi desenvolver uma máquina de estados finitos (FSM, do inglês Finite State
Machine). Essa FSM foi projetada para realizar o sequenciamento dos comandos do
MUX e também para sincronização da aquisição de dados. A esquemática da
máquina de estados para um sistema de medição de temperatura utilizando quatro
temoresistores é representada pela figura 3.11, em que:

E0 … 3 = estados da FSM;
Pt 1001 … 4 = termoresistores conectados ao módulo de condicionamento de
sinal.

Figura 3.20 - Maquina de estados do sistema de medição com multiplexador. Fonte:


autor.

De acordo com a figura 3.11, o primeiro estado representa a leitura da


medição feita pelo Pt100 de número 1, o segundo estado é caracterizado pela leitura
da medição feita pelo segundo Pt100, o terceiro pelo Pt100 de número 3 e, por fim, o
quarto e último estado define a leitura do Pt100 de número 4.
Para o presente trabalho, a máquina de estados foi implementada em
Labview, utilizando um dispositivo de aquisição de dados (NI USB-6210) para a
conexão das portas digitais dos pinos de comandos do multiplexador. Ela atua de
forma cíclica, retornando sempre para o estado inicial, após a conclusão do
sequenciamento de todos os estados.
61

O multiplexador escolhido para o uso no módulo proposto é o ADG509AKN.


Esse componente possui oito entradas para duas saídas, separadas de forma que
quatro das oito entradas estão fixas a uma das saídas e, consequentemente, as
outras quatro entradas na outra saída. Conforme visto anteriormente, para um
multiplexador com quatro entradas, são necessários dois pinos de comandos para a
seleção dessas entradas. Além desses dois pinos, o referido multiplexador possui
um terceiro pino para habilitar ou desabilitar a operação de comando.
A figura 3.12 ilustra o diagrama de blocos funcional do ADG509AKN, sendo
que S 1 A … S 4 A representam as entradas do canal A , S 1 B … S 4 B as entradas do
canal B, DA e DB as saídas dos canais A e B, respectivamente, A 0 e A 1 os pinos
de comando para a seleção combinacional das entradas e, por fim, EN a entrada
digital para habilitar ou desabilitar essa seleção.
As três entradas digitais são conectadas a um decodificador, que irá
converter o código binário de entrada em linhas de saída, de modo que cada linha
será ativada de acordo com a combinação das entradas. Os canais A e B do
ADG509AKN são independentes, porém são ativados de forma simultânea. Quando,
por exemplo, A 0 e A 1 receberem nível baixo (0 ), as saídas DA e DB serão
conectadas as entradas S 1 A e S 1 B , respectivamente.

Figura 3.21 - Diagrama de blocos funcional do multiplexador ADG509AKN. Fonte:


adaptado de: (Analog Devices, 2009).

As saídas do multiplexador DA e DB são conectadas a um único


amplificador de instrumentação (INA114AP), o qual será utilizado para amplificar os
sinais de todos os termoresistores presentes nas entradas do MUX. Dessa forma, foi
possível reduzir o número de amplificadores de instrumentação no circuito de
condicionamento de sinais de quatro para apenas um.
62

O Pt100 a 4 fios utilizado no módulo possui 2 fios positivos e 2 fios


negativos, sendo identificados pelas colorações vermelha e branca, respectivamente
(CAMTEC, 2015). No circuito, um conjunto de fios positivo e negativo é separado
para a parte de alimentação (cujos termoresistores estão associados em série),
enquanto o outro conjunto é conectado na parte de medição (composto pelo
multiplexador e o amplificador de instrumentação). Portanto, para a conexão dos
termoresistores no multiplexador, separou-se o canal A para os pontos positivos de
cada Pt100, e o canal B para os pontos negativos. Dessa forma, o esquema de
combinações é representado pela figura 3.13.

Figura 3.22 - Lógica combinacional do multiplexador ADG509AKN. Fonte: autor.

Com o multiplexador inserido no circuito de condicionamento de sinais e o


programa da FSM implementado em Labview, ensaios preliminares foram realizados
para avaliar o módulo com a substituição dos amplificadores de instrumentação pelo
MUX. O sistema de referência utilizado nos ensaios realizados na seção 3.3.1 foi
mantida (medição com o Agilent 34972A).
A primeira etapa dos ensaios incluiu a medição de temperatura com 3
termoresistores e com o módulo proposto utilizando o multiplexador. Para a segunda
etapa, medições foram feitas empregando o módulo sem a presença do
multiplexador, isto é, cada termoresistor possuía o seu próprio amplificador de
instrumentação.
O procedimento adotado nos ensaios foi realizar a medição da temperatura
ambiente de um determinado local (temperatura de aproximadamente 21 ° C ). Após
63

um breve período de tempo, os termoresistores foram colocados em um recipiente


contendo água aquecida (temperatura próxima a 100 ° C ). Posteriormente, os
termoresistores foram retirados do recipiente, a fim de verificar o comportamento dos
mesmos até atingirem a temperatura ambiente do local.
Os resultados obtidos na primeira e na segunda etapa podem ser vistos nas
figuras 3.14 e 3.15, respectivamente.

Figura 3.23 - Ensaio preliminar com o multiplexador. Fonte: autor.

Figura 3.24 - Ensaio preliminar sem o multiplexador. Fonte: autor.


64

Analisando os resultados apresentados nas figuras 3.14 e 3.15, é possível


verificar que o comportamento da medição não é alterado de forma significativa com
a utilização do multiplexador. Dessa forma, ambas as soluções podem ser validadas,
uma vez que apresentaram a referência adotada foi seguida. Além disso, é possível
observar a presença de pequenas oscilações nas medições feitas com o módulo
proposto, mesmo com o uso do multiplexador. Entretanto, pode-se afirmar que tais
oscilações não influenciaram negativamente no processo de medição empregando o
circuito de condicionamento desenvolvido neste trabalho.

3.4 Comentários finais

O módulo proposto neste capítulo foi desenvolvido e implementado com


base na arquitetura elaborada por Muñoz et al. (2005), mencionado na seção 3.1.
Para que a aquisição de dados fosse feita de forma adequada, fez-se necessário
algumas adaptações nesse modelo, aprimorando a faixa do sinal de saída do
circuito (0 V até 5 V ).
O desenvolvimento do módulo deste trabalho foi feito por meio de
simulações e cálculos demonstrados na seção de projeto e simulação (3.1). A partir
desse modelo, foi feito a prototipagem para a sua implementação física.
A inclusão de termoresistores no módulo também mostrou algumas
consequências, em termos experimentais. Conforme visto no capítulo 2, o método
de Anderson Loop permite o encadeamento de inúmeros sensores, possibilitando a
medição em mais de um ponto. Entretanto, cada termoresistor conectado ao módulo
necessita de um amplificador de instrumentação exclusivo para a amplificação do
sinal de saída do mesmo.
De acordo com a seção 3.1, o processo de amplificação foi feito por meio do
ajuste de dois parâmetros do amplificador de instrumentação. Como tais ajustes são
feitos manualmente, este fato pode acarretar a geração de erros de medição entre
os sensores de temperatura. Para solucionar essa limitação, foi proposto um método
de calibração para os termoresistores a partir do uso de potenciômetros.
A inclusão de mais termoresistores no módulo também influencia
diretamente no seu custo final. Devido a este fato, foi proposto uma solução
alternativa que incluiu o uso de um multiplexador, com o objetivo de substituir os
inúmeros amplificadores de instrumentação necessários no circuito por apenas um
65

único componente. A partir dessa substituição, todos os termoresistores presentes


puderam ser conectados em somente um amplificador de instrumentação, reduzindo
o custo final do circuito, além de eliminar todo o processo de ajuste de inúmeros
amplificadores e, consequentemente, excluindo a necessidade do uso do
potenciômetro.
67

4 Resultados e discussões

O presente capítulo está organizado em cinco seções. A primeira delas traz


uma breve descrição sobre a bancada de ensaios utilizada neste trabalho para
realizar medições de temperatura em um corpo de prova (compressor hermético). A
seção 4.2 apresenta uma análise comparativa dos resultados dos ensaios obtidos na
referida bancada para avaliar o desempenho do módulo de condicionamento de
sinais desenvolvido neste trabalho. Para isso, dois sistemas de medição foram
utilizados: um deles já empregado na bancada (sistema de referência); e um outro
formado por sensores de temperatura, pelo módulo de condicionamento de sinais
desenvolvido neste trabalho e por um dispositivo de aquisição de dados. A seção 4.3
mostra uma análise comparativa dos custos entre o equipamento comercial
empregado no sistema de medição de referência da bancada e o módulo de
condicionamento desenvolvido. Em sequência, a seção 4.4 traz uma análise
estatística acerca dos resultados obtidos, nos ensaios comparativos realizados na
bancada de ensaios para a avaliação de desempenho do compressor, com o módulo
de condicionamento de sinais desenvolvido. Por fim, a seção 4.5 apresenta os
comentários finais acerca do que foi discutido neste capítulo.

4.1 Bancada de ensaios para a avaliação de desempenho de


compressores herméticos

Uma das linhas de pesquisa do Laboratório de Instrumentação e Automação


de Ensaios (LIAE), que se encontra na Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC), é o desenvolvimento de soluções em automação, instrumentação e controle
para ensaios de compressores de refrigeração.
Em uma das bancadas de ensaios construídas no respectivo laboratório, o
desempenho de compressores herméticos de refrigeração é avaliado. Uma variável
tipicamente medida durante os ensaios é a temperatura do corpo do compressor,
pois a mesma pode ser usada como indicativo das perdas do equipamento em teste.
Essa grandeza é monitorada em, pelo menos, três pontos distintos: na base, no topo
68

e na lateral da carcaça do compressor. Além disso, a temperatura ambiente onde a


bancada se encontra também é registrada.
Os quatro termoresistores utilizados para medição de temperatura são
conectados a um equipamento comercial, o Agilent 34972A, da empresa Keysight
Technologies. Esse equipamento tem a função de realizar o condicionamento dos
sinais gerados pelos sensores de temperatura, bem como fazer a aquisição desses
dados. O Agilent 34972A possui uma entrada de porta universal (USB, do inglês
Universal Serial Bus) para realizar a transmissão dos dados ao computador. A figura
4.1 apresenta a bancada para a avaliação de desempenho de compressores e a
figura 4.2 destaca os termoresistores do tipo Pt100 fixados na carcaça do
compressor.

Figura 4.25 - Bancada de ensaios experimentais com o compressor. Fonte: autor.

Figura 4.26 - Destaque do compressor e os pontos de medição. Fonte: autor.


69

O Agilent 34972A é um equipamento adequado para os ensaios


experimentais realizados na bancada, pois, além de ser robusto e confiável, permite
o condicionamento de inúmeros termoresistores para a medição da temperatura do
compressor em pontos distintos, bem como a aquisição dos dados obtidos. Além
disso, é possível fazer o condicionamento de sinais de outros tipos de sensores de
temperatura, como termopares e termistores (Agilent 34972A, 2019). A figura 4.3
ilustra esse equipamento comercial.

Figura 4.27 – Equipamento comercial utilizado. Fonte: (Keysight Technologies,


2019).

Entretanto, tal solução possui custo elevado, dificultando a implementação


desse equipamento em outras bancadas existentes no laboratório. Por isso, faz-se
necessário o desenvolvimento de soluções alternativas e de baixo custo, para que,
ao empregá-los em ambientes acadêmicos e laboratórios de pesquisa, o mesmo
cumpra as funções exercidas pelos equipamentos comerciais de forma adequada e
satisfatória.

4.2 Análise comparativa dos resultados dos ensaios obtidos com a


bancada

Na presente seção, uma análise comparativa dos resultados dos ensaios


obtidos na bancada (seção 4.1) será realizada, com o objetivo de avaliar o
desempenho do módulo de condicionamento de sinais desenvolvido neste trabalho.
Para isso, ensaios foram realizados utilizando dois sistemas de medição: um da
própria bancada (sistema de medição de referência), formado por três sensores de
temperatura Pt1001 e o equipamento Agilent 34972A; e outro composto pelos
mesmos três termoresistores, pelo módulo de condicionamento de sinais

1
A medição da temperatura ambiente foi desconsiderada nesta etapa.
70

desenvolvido neste trabalho e por um dispositivo de aquisição de dados da National


Instruments modelo NI USB-6210.
O procedimento adotado nos ensaios foi realizar a medição de temperatura
do compressor em funcionamento durante um período de tempo em três pontos
distintos: na base, no topo e na lateral do corpo desse equipamento. As figuras 4.3,
4.4 e 4.5 apresentam os resultados dos ensaios obtidos com ambos os sistemas
para a medição da temperatura na base, na lateral e no topo do corpo do
compressor, respectivamente.

Figura 4.28 - Ensaios com o módulo e Agilent para a base do corpo compressor.
Fonte: autor.

Por meio das figuras 4.3, 4.4 e 4.5, é possível verificar que as medições de
temperatura realizadas pelo sistema que possui o módulo de condicionamento se
mostraram bem próximas às do sistema de referência. Entretanto, quando se analisa
os resultados obtidos pelo sistema em teste para a medição de temperatura na base
e lateral do compressor, observa-se que as curvas de resposta apresentaram uma
oscilação maior se compararmos com a medição feita pelo mesmo sistema no topo
do compressor. Isso pode ter ocorrido devido à má fixação do Pt100 nesses pontos
do compressor ou uma possível influência de ruídos eletromagnéticos na entrada do
módulo de condicionamento onde os respectivos Pt100 estão conectados. Em um
estudo posterior a este trabalho, essas e outras possíveis causas poderão ser
melhor avaliadas, com o intuito de elucidar as oscilações de maior intensidade.
71

Figura 4.29 - Ensaios com o módulo e Agilent para a lateral do corpo compressor.
Fonte: autor.

Figura 4.30 - Ensaios com o módulo e Agilent para o topo do corpo compressor.
Fonte: autor.
Diante do exposto, pode-se afirmar que o módulo apresentou um excelente
desempenho em relação aos objetivos deste trabalho. Apesar das oscilações
presentes nas medições de temperatura na base e lateral do compressor, tais
irregularidades não influenciaram de forma significativa na resposta do sistema em
teste.
72

4.3 Análise estatística do erro de medição

Com os ensaios comparativos realizados, fez-se necessário elaborar uma


análise estatística, com o objetivo de verificar o erro de medição presente nos
resultados obtidos. A análise do erro é fundamental para determinar o desempenho
do processo de medição do sistema formado pelo módulo de condicionamento
desenvolvido. Para quantificar esse erro de medição, utiliza-se equacionamento
matemático, o qual é dado por:

E=I −VV . (4.1)

Sendo que:

E = erro de medição;
I = indicação do sistema de medição;
VV = valor verdadeiro do mensurando.

O erro de medição pode ser decomposto em duas partes, conhecidas como


erro sistemático e erro aleatório. O primeiro corresponde ao valor médio do erro de
medição, ou seja, é uma porção previsível dos valores discrepantes da medição,
sendo estes passível de compensação (ALBERTAZZI, 2008). Essa compensação é
feita por meio do cálculo de tendência e correção do sistema de medição, os quais
são dados por:

Td=I −VVC ; (4.2)

C=−Td . (4.3)

Sendo que:

Td = tendência do erro de medição;


I = média de uma quantidade finita de amostras;
VVC = valor verdadeiro convencional do mensurando;
C = correção para a compensação dos erros sistemáticos do sistema.

O erro aleatório ( E ai ) é a diferença entre o resultado de uma medição ( I i) e a


média de um determinado conjunto de amostras das medições realizadas ( I ). Este
73

tipo de erro é considerado como uma parcela imprevisível do sistema, cujos valores
ficam “espalhados” em torno do valor médio de todas as medições coletadas
(ALBERTAZZI, 2008). O equacionamento do erro aleatório é dado por:

E ai =I i −I . (4.4)

O erro aleatório pode ser estimado por meio da repetibilidade ( ℜ), parâmetro
que determina o intervalo dentro do qual espera-se que esse tipo de erro esteja
contido. A repetibilidade pode ser calculada por meio de dois parâmetros, o
coeficiente de Student (t ), e a incerteza-padrão (u), obtida a partir das medições
realizadas. A incerteza-padrão é obtida por meio de equacionamento matemático e o
coeficiente de Student através de tabelas (ALBERTAZZI, 2008). Portanto, a
repetibilidade é calculada por meio de:

ℜ=t . u ; (4.5)


n

∑ ( I i−I )2 (4.6)
i=1
u= ;
n−1

Calculando, primeiramente, o fator de correção do erro sistemático do


sistema de medição composto pelo módulo de condicionamento de sinais
desenvolvido, com a inclusão de 1 termoresistor do tipo Pt100 e do dispositivo de
aquisição de dados (NI USB-6210) conectados a ele. O ensaio experimental
utilizado para a análise estatística dos erros de medição foi realizado com o sistema
medindo a temperatura ambiente do laboratório de instrumentação e automação de
ensaios (LIAE), o qual encontrava-se a uma temperatura aproximada de 20 °C. Com
isso, conclui-se que:

Td Pt 100 =20,3531−20=0,3531 ;

C Pt 100 =−0,3531.

Por fim, calculando o intervalo de medição no qual o erro aleatório está


contido, é possível analisar se o erro de medição é significativo ou não. O coeficiente
de Student utilizado foi de 2,0253, que equivale a uma medição com probabilidade de
95,75 % e com graus de liberdade igual a 99 (100 amostras de medições coletadas
74

para este ensaio experimental). O cálculo da incerteza-padrão foi feito por meio da
equação 4.6, previamente mencionada. Portanto, têm-se que:

u=0,2114 ;

ℜ=0,4281.

A partir desses valores, é possível concluir que os erros de medição não


influenciam o sistema de forma significativa, uma vez que os mesmos são
consideravelmente pequenos. Com isto, é possível afirmar que, apesar das
oscilações presentes nos ensaios comparativos apresentados na seção 4.3, o
sistema possui um comportamento aceitável para a aplicação em que ele foi
inserido, cujo objetivo é monitorar o desempenho de compressores herméticos de
refrigeração.

4.4 Análise comparativa dos custos entre o equipamento


comercial e o módulo desenvolvido

Nesta seção, uma análise comparativa de custos é realizada entre o


equipamento Agilent 34972A, empregado no sistema de medição de referência da
bancada, e o módulo de condicionamento desenvolvido neste trabalho. Vale
destacar que o custo de fabricação e de montagem, fios para a conexão dos
componentes e o custo de mão-de-obra não foram considerados no cálculo do custo
final.
Em relação ao módulo desenvolvido neste trabalho, foram realizadas
cotações nos principais fornecedores de componentes eletrônicos. A relação dos
componentes utilizados no módulo é listada abaixo:

 transformador abaixador (15+15 para 220 V ac );


 retificador de ponte completa (RS207);
 capacitor eletrolítico (220 µF );
 regulador de tensão positiva (L7815CV);
 regulador de tensão negativa (KA7915);
 diodo zener (1N746A);
 amplificador operacional (TL084AC);
75

 amplificador de instrumentação (INA 114AP);


 resistor (5,6 kΩ; 33 kΩ; 1 kΩ; 2,7 kΩ; 300 Ω);
 multiplexador (ADG509AKN);
 potenciômetro (Baoter 3296).

Uma primeira análise comparativa foi feita considerando a primeira versão


do módulo, isto é, empregando um amplificador de instrumentação para cada
termoresistor conectado ao circuito de condicionamento de sinais. Como o módulo
deve operar com quatro sensores de temperatura do tipo Pt100 para os ensaios na
bancada, o levantamento de custo do módulo considerou o uso de quatro
amplificadores de instrumentação2. Em relação ao equipamento comercial, a cotação
do Agilent 34972A foi feita através do próprio fabricante (Keysight Technologies,
2019).
A tabela 4.1 apresenta os valores de custo para a implementação da
primeira versão do módulo e a cotação do Agilent 34972A. Conforme mencionado
na seção 4.2, para realizar a medição com o sistema formado pelo módulo de
condicionamento de sinais desenvolvido, é necessário utilizar um dispositivo de
aquisição de dados. Dessa forma, o custo de um dispositivo de aquisição de dados
também foi levado em consideração para a análise comparativa de valores. O
equipamento escolhido para a inclusão na cotação foi o mesmo utilizado nos
ensaios comparativos (NI USB-6210).
O Agilent, dentre as suas diversas características citadas na seção 4.1, é um
equipamento considerado robusto, versátil e confiável, permitindo o
condicionamento de temperatura por meio de diversos instrumentos de medição.
Além disso, este equipamento também realiza o processo de aquisição de dados.
Devido a estes fatos, para que a comparação seja no mínimo justa e técnica, foi
incluído esses custos adicionais ao módulo de condicionamento de sinais
desenvolvido.

2
São necessários quatro termoresistores caso a medição da temperatura ambiente for realizada.
76

Tabela
Tabela 4.2
4.1 -- Segunda
Primeira análise
análise comparativa
comparativa de
de custo.
custo. Fonte:
Fonte: autor.
autor.

Equipamento
Equipamento Custo
Custo(R$)
(R$)

Primeira
Última versão
versão do
do módulo
módulo 3.297,04
3.253,02

Agilent
Agilent 34972A
34972A 10.100,00
10.100,00

Uma segunda análise comparativa foi realizada considerando a última


versão do módulo, ou seja, 3 dos 4 amplificadores de instrumentação foram
substituídos por um multiplexador (ADG509AKN). A tabela 4.2 apresenta os valores
de custo para a implementação da segunda versão do módulo e a cotação do
Agilent 34972A. Vale destacar que o dispositivo de aquisição de dados (NI USB-
6210) também está incluso nessa segunda análise.

4.5 Comentários finais

O presente capítulo apresenta uma análise comparativa dos resultados dos


ensaios obtidos para avaliar o desempenho do módulo de condicionamento de sinais
desenvolvido neste trabalho. Para isso, ensaios foram realizados na bancada
utilizando o sistema formado pelo módulo desenvolvido e o de referência.
Ao analisar os resultados obtidos com o sistema em teste e o de referência,
é possível verificar que ambos apresentaram medições de temperatura bem
semelhantes. Dessa forma, pode-se afirmar que o módulo apresentou um ótimo
desempenho diante dos objetivos deste trabalho, visando a análise de desempenho
em compressores herméticos de refrigeração. Além disso, com a análise estatística
dos erros de medição, feita na seção 4.3, concluiu-se que esses erros não impactam
de forma significativa no processo de medição com o módulo desenvolvido.
Em relação à análise comparativa de custos feita na seção 4.4, verifica-se
que foi realmente possível desenvolver um módulo de condicionamento de sinais de
baixo custo. Entretanto, apesar do valor de compra elevado, o Agilent 34972A é um
produto que apresenta versatilidade e confiabilidade, sendo capaz de realizar o
condicionamento de sinais de diversas grandezas físicas, como dos demais
77

sensores para a medição de temperatura (termopar, termistor e termoresistor). Além


disso, o respectivo equipamento também realiza a função de aquisição de dados.
79

5 Considerações finais

As considerações finais a respeito deste trabalho estão organizadas em 2


seções. A seção 5.1 contempla as conclusões relacionadas ao desenvolvimento do
trabalho, como a metodologia adotada, o processo de prototipagem, a avaliação dos
resultados obtidos e a análise comparativa dos custos entre o equipamento
comercial e o módulo desenvolvido. Por fim, a seção 5.2 descreve o que ainda pode
ser feito, apresentando as possíveis novas etapas para a continuação do projeto.

5.1 Conclusões

O objetivo do presente trabalho de conclusão de curso foi desenvolver um


módulo de condicionamento de sinais para a medição de temperatura a partir de
termoresistores, sendo este de baixo custo. Para o desenvolvimento, fez-se
necessário o entendimento de conhecimentos teóricos como a instrumentação e os
principais processos em que ela está envolvida. Além disso, trabalhos publicados na
literatura científica também foram analisados, na busca por soluções para a
elaboração do referido projeto.
A partir dessa análise da literatura, dois trabalhos apresentaram módulos de
condicionamento compatíveis com os objetivos deste projeto, sendo os mesmos
mencionados na seção 3.1. As soluções propostas por ambos autores possibilitaram
o desenvolvimento do módulo proposto no presente trabalho, o qual foi dividido em
duas etapas. Primeiramente, foi feito a elaboração do projeto do módulo, com a
realização de algumas adaptações nas estruturas adotadas como referência. Em
continuidade, o novo modelo foi simulado e o seu funcionamento foi validado em
software específico.
A validação possibilitou a implementação física do módulo de
condicionamento de sinais, a qual seguiu o mesmo modelo projetado. Essa
implementação é descrita na seção 3.2, cujo objetivo é permitir a realização de
ensaios experimentais para a avaliação do comportamento do módulo. Com o
80

módulo implementado em placa de prototipagem, os ensaios foram organizados em


duas etapas: ensaios experimentais preliminares para o aprimoramento do módulo e
ensaios comparativos para a validação final do mesmo, quanto ao seu propósito
estabelecido. Ambas as etapas de ensaios foram realizadas no laboratório de
Instrumentação e Automação de Ensaios (LIAE), que se encontra na Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC).
Em relação à primeira etapa, ensaios preliminares foram realizados com o
intuito de aprimorar o desempenho e o custo/benefício do módulo. Primeiramente,
um potenciômetro foi adicionado ao circuito de condicionamento de sinais para
atenuar possíveis diferenças nas medições de temperatura entre os termoresistores,
as quais eram causadas pelos distintos ajustes feitos no estágio de amplificação de
cada sensor de temperatura. Um próximo passo foi incluir um multiplexador no
circuito de condicionamento, visando a redução do número de amplificadores de
instrumentação no módulo. A partir do emprego multiplexador, todos os sensores de
temperatura foram conectados a um mesmo amplificador de instrumentação,
reduzindo os custos do módulo de condicionamento, além de atenuar os possíveis
erros nas medições de temperatura entre os termoresistores, já que nesta versão do
circuito é necessário realizar o ajuste de somente um único estágio de amplificação.
Os resultados obtidos nos ensaios preliminares mostraram que ambas as versões
do circuito, isto é, com o potenciômetro ou com o multiplexador, são viáveis para
realizar medições de temperatura.
A etapa de ensaios definitivos foi realizada em uma bancada de ensaios,
cujo objetivo era avaliar o desempenho de compressores herméticos. Uma variável
tipicamente medida durante os ensaios é a temperatura do corpo do compressor, a
qual pode ser empregada como um indicativo das perdas desse equipamento. O
monitoramento dessa grandeza foi realizado em três pontos do corpo do compressor
tanto com um sistema formado pelo módulo proposto, como a partir de uma solução
comercial já empregada na bancada. A partir disso, uma análise comparativa dos
resultados foi realizada, conforme apresentado na seção 4.2.
Ao analisar os resultados obtidos com o sistema em teste e o de referência,
é possível verificar que ambos apresentaram medições de temperatura bem
semelhantes. Pode-se afirmar, então, que o módulo apresentou um desempenho
satisfatório diante dos objetivos deste trabalho. Entretanto, observou-se uma certa
oscilação na curva de resposta do sistema de medição formado pelo módulo de
81

condicionamento de sinais desenvolvido. Em relação às causas dessas oscilações,


algumas possíveis causas foram elencadas, tais como: má fixação do Pt100 no
compressor, influência de ruídos elétricos ou interferências eletromagnéticas na
medição, a própria vibração do compressor em funcionamento, entre outras.
Portanto, um estudo posterior será necessário para determinar o real motivo dessas
oscilações.
Em todo caso, foi incluído a tarefa de emprego de filtros analógicos como
trabalhos futuros, a fim de atenuar essas dispersões nos dados coletados nos
ensaios. O único tipo de filtro implementado no módulo foi um digital por meio do
software Labview. Vale destacar que o processo de inclusão de filtros analógicos
serve apenas para o aprimoramento do módulo, uma vez que a resposta do sistema
é considerada muito satisfatória para o local onde os ensaios foram realizados.
Em relação à seção 4.4, a mesma apresenta uma análise comparativa dos
custos entre o equipamento Agilent 34972A empregado no sistema de medição de
referência da bancada e o módulo de condicionamento desenvolvido neste trabalho.
A partir dessa análise, verifica-se que foi possível desenvolver um módulo de
condicionamento de sinais de baixo custo, alcançado o objetivo deste trabalho.
Deve-se destacar que, apesar de seu elevado custo, o Agilent 34972A é um produto
que apresenta uma grande versatilidade e confiabilidade, além de realizar tanto a
função de condicionamento de sinais como também a aquisição de dados.
Com a conclusão do módulo de condicionamento de sinais proposto, espera-
se que o conhecimento desenvolvido no trabalho possa ser aproveitado nas demais
instituições acadêmicas e de ensino.

5.2 Trabalhos futuros

Em relação aos objetivos propostos no trabalho, alguns fatores podem ser


considerados importantes para a continuação do desenvolvimento do módulo de
condicionamento de sinais, como:

 Emprego de filtros no hardware;


 Elaboração do circuito de placa impressa (PCB, do inglês Printed
Circuit Board);
 Verificação de desempenho com o módulo feito em PCB.
82

Apesar dos resultados obtidos na parte de desenvolvimento serem


satisfatórios, julga-se necessário a utilização de filtros no hardware, a fim de atenuar
a presença de possíveis ruídos nas medições de temperaturas realizadas pelo
sistema de medição. Os únicos filtros adotados foram apenas em software, pelo
emprego do filtro de média móvel no software Labview.
A implementação do módulo em placa de circuito impresso, quando
elaborado de forma correta, elimina o excesso de fios e cabos para a conexão dos
componentes, possibilitando um novo caminho para interligá-los através de trilhas
feitas com material condutor. A placa de circuito impresso permite também uma
maior mobilidade do módulo, podendo ser utilizado nas demais bancadas de ensaios
presentes no LIAE, assim como em outras instituições acadêmicas e de ensino.
Posteriormente à implementação do módulo em placa de circuito impresso,
ensaios devem ser realizados com o intuito de verificar o seu desempenho.
83

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