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A raça Locathah vive em harmonia com as outras espécies de criaturas

marinhas nas proximidades da costa continental. O povo Locathah costuma viver


dentro de fendas aquáticas e usam os recursos do fundo do mar para construir suas
casas e equipamentos básicos de defesa.
No meio de todo esse povo existe um Locathah chamado Fred, que por
muitos é considerado o Locathah mais inútil entre todos. Normalmente Fred tem
muita dificuldade na caça (a atividade mais importante entre a espécie), ele nunca
foi tão bom quando se tratava de matar outros seres vivos. Por conta disso, o
mesmo é visto como chacota pelos seus companheiros. “Um Locathah sem
coragem não é muito diferente de um peixe morto”. Ele sempre escutava isso dos
habitantes da fenda. Porém mesmo com todas essas críticas, ele parecia não se
importar; “A vida deve ser valorizada, não importa quem ou o que você seja”.

Num fatídico dia Fred foi novamente caçar com o mesmo grupo de sempre.
Porém desta vez ele ficou para trás para recolher algumas conchas e moluscos, a
cada momento que passava parecia que seu grupo se distanciava mais e mais.
Depois de ter finalizado sua coleta Fred foi atrás dos seus companheiros, porém
não encontrou ninguém ao chegar na área de caça, local que normalmente é bem
movimentado. Mas não tinha nenhuma alma por lá, o ambiente parecia bem
sucateado. Ao longe via se algumas lanças, cordas, redes e conchas totalmente
quebradas e rasgadas. Ele sentiu um sentimento de estranheza então resolveu se
aproximar de tudo aquilo. Ao chegar mais perto notou que havia algumas manchas
de sangue pairando na água e outras misturadas na areia.
Preocupado de algo ter acontecido com seus companheiros, o mesmo seguiu
os rastros de luta até a superfície. Se esgueirando em algumas pedras da costa,
avistou um barco próximo a um cais. O olhar dele se enche de espanto quando
avistou seus companheiros totalmente feridos e amordaçados pelos humanos que
os capturaram. Apesar de tudo o Fred não recuou, pegou sua faca de caça e
mergulhou novamente para chegar mais perto dos pescadores. Aproximando-se do
barco, ele viu que uma escotilha estava aberta na lateral. Após ter entrado
escondeu-se numa região cercada de caixotes de madeira. Empunhando a faca o
“peixe morto” esperou o momento certo para soltar seus companheiros. O barqueiro
que comandava a tripulação entrou em sua sala ficando fora de vista, logo depois a
tripulação se deslocava para o cais para desembarcar algumas mercadorias. Esse
parecia ser o momento certo.
Chegando perto do seus companheiros, o pequeno Locathah corta as cordas
de alguns, um deles ergueu a cabeça em sua direção e disse:

- Por que demorou tanto, Peixe morto? Vê se faz alguma coisa de útil e nos
ajude a matar todos esses humanos podres, eles vão pagar pelo que fizeram
com nosso povo.

Apreensivo e agitado, Fred logo responde:

- A gente tem que sair daqui logo, eles devem está voltando. Não precisamos
machucar mais ninguém hoje.

Apesar dos avisos constantes, os companheiros com sede de sangue


pegaram seus armamentos e foram ao encontro dos humanos. Antes de saírem do
barco, todos olharam pro pequeno Locathah e disseram: “Você nunca vai ser um de
nós, estaríamos melhores sem ter que cuidar de você, fracote”. Eles o deixaram
para trás e foram travar a batalha.
Com medo e sem nenhuma certeza de sucesso o pequeno Locathah foge do
barco dos pescadores. Ao longe ele avista seus companheiros travando uma luta
que nunca puderam ganhar. O contingente era alto, haviam muitos humanos, logo
todos os Locathah foram mortos.
Após ter voltado para casa, os habitantes da fenda o perguntam sobre os
outros, e assim o Fred os contou toda a triste história. Eles ficaram com muita
repulsa do pequeno Locathah, o repreenderam pelos seus atos. O mesmo foi
expulso do seu lar, condenado a vagar pelos mares sozinho.
Sem ter para onde ir e com muita fome o pequeno Locathah começa a sentir
uma série de tonturas e mal estar por causa da longa jornada. E depois de mais
dois dias, ele caiu sobre a areia do fundo do mar e permaneceu ali até não ter mais
força para abrir os olhos.
1…….2…….3……..4…….6……13……Você não sabe quantos dias passou
naquele lugar……”Parece que o meu fim é esse, desculpe-me por ser assim”. Seu
corpo foi levado pela maré até a superfície, de repente…a sombra de alguém
pairava sobre seu rosto.

- Tudo bem com você, criatura verde? - O homem pergunta.

- E..u…e…u…eu preciso de comida. - Fred fala com muita dificuldade.

O moço pega uma vasilha com uma sopa muito quente, apoia a colher com
um pouco da sopa sobre sua boca. Tinha um gosto amargo, mas satisfatório. Após
recuperar as energias, o pequeno Locathah vê com mais clareza onde se encontra.
Ao seu redor ver as ondas do mar, se chocando contra as rochas. Mais ao lado, um
pequeno acampamento improvisado com o homem que o salvou acariciando um
gatinho. Ele tinha duas espadas em sua cintura, seus braços eram totalmente
cobertos por bandagens. Sobre sua cabeça tinha um chapéu de palha coberto de
poeira e arranhões em espiral.
O homem pergunta se ele lembrava de alguma coisa antes de perder a
consciência, o Fred conta com muito receio de ser julgado pela falta de coragem
das suas ações. Depois de ter escutado toda a história o senhor se levanta
estendendo a mão e diz: “ Não sei como você aguentou ficar naquele lugar por todo
esse tempo, e daí se você não gosta de machucar os outros? haha…".

Abismado, Fred indaga o moço do chapéu.

- E ainda por cima eu nem sei lutar….. mas se não tivesse saído, talvez os
outros Locathah estariam viv-

- Pare de pensar nisso - O homem do chapéu o interrompe - Você fez bem em


recuar, eram muitos. Eu mesmo teria feito o mesmo. Isso não foi questão de
coragem e sim de inteligência.

Ele continua a falar.

- Mas se você quiser mesmo aprender como lutar, deve primeiro encontrar
alguém para querer proteger. Ter uma motivação, seguir a alguém.

- Você me ensinaria? - o pequeno Locathah pergunta.

- Venha aqui meu jovem - O homem de chapéu solta o gatinho e começa a


andar.

O homem do chapéu sobe uma pequena colina, próximo a costa. Ao chegar


no topo Fred se depara com uma pequeno altar, dedicado a um Deus desconhecido
com aparência de um sapo risonho de cartola.

- Esse aqui é Tahm Kench, Deus do Mar - Fala o homem do chapéu - Ele é o
Deus que me inspira a conquistar todas as minhas profundas ambições,
dando Força e fornecendo toda facilidade do mundo.
Ao redor da estátua era possível ver algumas velas apagadas e bilhetes já
cobertos pela areia.

- Seguir um Deus? como isso ajudaria a ter alguma vantagem nas lutas? -
pergunto o pequeno Locathah.

- Acredite em mim, quando falo que com ele ao seu lado, tudo é possível. Não
haverá demônios fortes o suficiente pra te amedrontar. Não haverá
desconfiança forte o suficiente para ofuscar seu caminho. Não haverá batalha
perdida se confiar nele - Afirma o Homem do Chapéu.

- Eu…não entendo muito sobre tudo isso. Mas vou confiar em suas palavras e
usar desse Deus para proteger não só a mim, mas os outros ao meu redor -
Completa o jovem Locathah.

- Sendo assim está feito. Siga-me e te ensinarei tudo o que precisa. A…a
propósito, pode me chamar de Bartolomeu, qual seu nome? - Bartolomeu
falando enquanto o comprimenta.

- É um prazer conhecê-lo, mestre Bartolomeu. Me chamo Fred.

Assim o longo treinamento do jovem Locathah começa. O primeiro ano foi


dedicado à devoção absoluta ao Deus Tahm Kench, onde ele teve que aprender
como seguir os ensinamentos transmitidos pelos pergaminhos e santuários de
adoração. Nesse período teve que percorrer por longos caminhos em montanhas
abissais, dedicando o máximo de tempo possível fora d'água até criar o costume
com o ar em diferentes altitudes e climas densos.
Para intensificar o treinamento, Bartolomeu com a ajuda de um artesão e
ferreiro de confiança desenvolveu um mecanismo de armazenamento de água.
Fixando nas guelras do Locathah a fim de proporcionar mais tempo na superfície.

Obs: esse sistema de armazenamento foi feito de metal e vidro.

Dando continuidade ao treinamento, foi iniciado o treinamento a base de lutas


com espadas de bambu. Os golpes deveriam ser certeiros e dominados com
consistência. “Eu não lembro mais quantas vezes eu tombei com o chão ... .vendo
minha espada sendo destroçada com um único golpe do mestre”. Os dias ficaram
cada vez mais longos, agora usando apenas um escudo como arma, tendo a outra
mão amarrada nas costas.
Por fim, o dia finalmente havia chegado. Com 3 anos de preparo físico e
mental definidos, chegou o momento de seguir seu próprio caminho.
- E isso é tudo que eu sei. Mas antes de ir embora leve com você esse escudo
com o brasão do nosso Deus para que o mesmo o proteja sempre -
Bartolomeu estendeu a mão com o presente e sorriso no rosto.

- Obrigado por tudo que tem feito por mim, Mestre. Prometo deixá-lo orgulhoso
por onde quer que eu esteja - Fred segura as emoções na frente de seu
mentor.

- Haha. Sei que vai fazer de tudo e mais um pouco - O mestre fica com uma
expressão séria logo em seguida - Tenha cuidado nessa jornada meu rapaz.
E lembre-se do seu código de honra

- Proteger aqueles que precisam, seguindo os ensinamentos do grande Tahm


Kench - o Locathah fala para completar.

E assim ele parte em sua jornada. Deixando para trás seu novo lar e sua nova
família em busca de mais aprendizado e novas experiências.

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