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processo de paz
entre Israel e a
OLP, com a
construção do
Estado palestino,
assegurará ao
Oriente Médio a
estabilidade de que
necessita para
transfarmar-se
num promissor pólo
econômico
~.a; ..,i- A
Jericó: a bandeira palestina, ao lado da israelense, marca o início de uma nova era
Superar o impasse
acesso quando liberado por outros paí- construir do zero o embrião de um Es-
Claudia Guimarães ses. Como um dos símbolos de sobera- tado em duas pequenas áreas - Gaza e
nia de qualquer nação, os passaportes Jericó - cuja dependência econômica
[ti
o guichê de uma repartição
pública do governo autônomo emitidos a partir de abril representam em relação a Israel é quase total. Poli-
palestino, o funcioná rio es- um passo chave rumo à construção dos ticamente, a missão não é menos árdua:
tende um documento às pes- alicerces do futuro Estado palestino. neutralizar os grupos mais radicais e con-
soas _que pacientemente esperam na Passados um ano e oito meses da as- vencer a população dessas áreas a conti-
fila. A primeira vista, trata-se de mais sinatura dos acordos de paz entre Israel nuar apostando no processo de paz, ape-
uma formalidade burocrática. Mas o e a Organização para a Libertação da sar dele ter significado, a curto prazo,
momento, na verdade, é histórico: pela Palestina (OLP), os avanços são visí- uma piora nas suas condições de vida.
primeira vez, os palestinos estão emi- veis, mas os obstáculos ao processo de Já em Israel, grande parte da opi-
tindo seus próprios passaportes, um do- pa z saltam muito mais aos olhos. Na nião pública, traumatizada pelos aten-
cumento ao qual até então só tinham Palestina, a OLP enfrenta o desafio de tados realizados pelos grupos Ramas e
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Jihad Islâmica, olha hoje os acordos de vras do embaixador Pedro Paulo As-
paz com ceticismo. Esse sentimento sumpção, chefe do Departamento de
tem se traduzido na queda de populari- Oriente Médio do Itamaraty, ao afir-
dade do governo do primeiro-ministro mar que "não acreditamos que a histó-
', 1 trabalhista, Yitzhak Rabin, e no cres- ria possa ser corrigida. Acreditamos na
cente apoio ao discurso do direitista lí- evolução da história. Desejamos colabo-
der do partido Likud, Benjamin Neta- rar intensamente para o grande destino
nyeuh, contrário a qualquer mudança que está reservado ao povo palestino,
no atual statu quo da Palestina. mas sempre com uma visão de futuro".
Para discutir estes desafios e as Porém, na prática, não é fácil dar as
perspectivas do processo de paz , as costas para o passado num conflito com
Nações Unidas promoveram recente- raízes tão antigas. "As relações árabe-
mente no Rio de JaneÍ'ro um seminá- israelenses são muito influenciadas
rio , que contou com a participação de pela emoção. E ela é ainda mais forte
delegações de dezenas de países , in- entre palestinos e israelenses. Sem dú-
cluindo Israel. vida, o fato de seus dois dirigentes aper-
A escolha do Brasil para sediar o se- tarem as mãos foi um avanço extraordi-
minário não foi aleatória. Segundo o nário, saudado com entusiasmo. Mas
presidente do Comitê das Nações Uni- há setores insatisfeitos com o processo,
das para os Direitos Inalienáveis do com a sua velocidade ou forma, e que es-
Povo Palestino, o embaixador senega- .t ão recorrendo à força para expressar
lês Keba Birane Cissél, o apoio do go- seu descontentamento. Outros, embora
verno brasileiro à causa palestina, ex- não façam nada, estão céticos", disse o
presso através dos seus votos na ONU, embaixador senegalês.
pesou muito . "O Brasil é um país do
Terceiro Mundo, mas com um marcado Raios x da economia - O diagnós- (PIB) não ultrapassa os dois bilhões de
desenvolvimento em muitos campos, tico da situação econômica da Palestina dólares - e a guerra destruiu boa parte
que já o coloca,.em determinadas áreas, dominou grande parte dos debates. dajá precária infra-estrutura.
no Primeiro Mundo. E tem mantido Houve consenso na reunião de que a so- "Durante estas duas últimas déca-
uma posição positiva em relação à pro- lução da crise na região tem duas ver- das2, Israel praticamente não investiu
blemática do Oriente Médio, cujo centro tentes, a política e a econômica, sendo na Palestina. Eles querem a área ape-
é, sem dúvida, a Palestina. O Brasil tem que esta última é fundamental para a nas como mercado para seus produtos e
procurado uma solução que contemple viabilização do futuro Estado palestino. reserva de mão-de-obra barata", criti-
as duas partes, sempre olhando para O desafio é realmente gigantesco. A cou o professor palestino, naturalizado
frente, nunca para trás", assinalou. região é pequena, tem limitados recur- brasileiro, Omar J aber, que dá aulas de
Esta visão ficou explícita nas pala- sos naturais - o Produto Interno Bruto Economia na Universidade de Pelotas.
Nem o Estado israelense, nem os
empresários daquele país colocaram di-
nheiro na região. Segundo revelou o
professor Jaber, nesses 18 anos, 82%
dos investimentos privados na Cisjor-
dânia e Gaza foram feitos pelos pró-
prios palestinos, e destes, 70% foram
para a construção civil. O setor indus-
trial estagnou, em grande parte devido
às restrições impostas pelos israelenses
para que os palestinos abrissem novas
fábricas.
Sem matérias-primas e carente de
uma base industrial, a Cisjordânia e
Gaza gastam atualmente 50% do seu
Produto Interno Bruto em importações,
criando um círculo vicioso difícil de
romper. "Os dólares que poderíamoses-
tar utilizando para investir em infra-
estrutura, temos que usar para comer e
nos vestir. Como a maior parte do orça-
mento familiar é gasto na comida, não
existe poupança. Se não se faz poupan-
Momento histórico: os palestinos estão emitindo seus próprios passaportes ça, não há recursos para investir. Sem
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