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34 Sessões do imaginário Cinema Cibercultura Tecnologias da Imagem Porto Alegre no 20 dezembro 2008 Famecos/PUCRS 35
uma comunidade digital que se organizou em torno principalmente norteiam de onde parte o olhar do como, ao centrar os estudos nesses usos, é
de um blog cujo tema central é a maternidade pesquisador e sua identidade teórica. É este ponto possível descrever as negociação sobre o estado
(BRAGA, 2007). Outros estudos analisam o portal que trataremos de forma condensada no próximo das redes no contexto tanto das práticas
jornalístico ClicRBS7, (ROCHA, 2006); o ambiente segmento do texto, ao abordar o posicionamento profissionais e/ou sociais como de suas lógicas
on-line dos games (SEPÉ, 2007); o Last.fm8, uma do pesquisador em relação ao objeto. operativas (FISCHER, 2008), sejam elas no
plataforma social voltada para a música contexto macro ou micro.
(AMARAL, 2007), entre outros. Hine (2000) também acredita ser uma
A partir da inserção do pesquisador na DE ONDE OLHAR? metodologia ideal para iniciar esta classe de
comunicação mediada por computador para a estudos, pois serve para explorar as complexas
observação e investigação de práticas culturais e As análises netnográficas “podem variar relações existentes entre as afirmações previsíveis
de comunicação, troca-se o campo não por um ao longo de um espectro que vai desde ser das novas tecnologias em diferentes contextos,
“não-lugar” como aferia Augé (1994) nos anos intensamente participativa até ser completamente como jogos, espaços de trabalho, meios de
90, mas por um território contíguo ao off-line que não-obstrutiva e observacional” (KOZINETS, comunicação de massa, etc. Uma etnografia virtual
tanto constitui um meio de comunicação, um 2007: 15). Para Hine (2000), o etnógrafo habita pode observar com detalhe as formas de
ambiente de relacionamento e um artefato cultural numa espécie de mundo intermediário, sendo experimentação do uso de uma tecnologia, se
(SHAH, 2005) o que “fornece pistas evidentes da simultaneamente um estranho e um nativo, tendo fortalecendo como método justamente por sua
conexão da antropologia com a cibercultura” que cercar-se suficientemente tanto da cultura que falta de receita, sendo um artefato e não um
(MONTARDO & ROCHA, 2005, p. 08) estuda para entender seu funcionamento, como método protocolar, é uma metodologia inseparável
Não só a disponibilidade de informações manter a distância necessária para dar conta de do contexto onde se desenvolve, sendo
a respeito de objetos de pesquisa na internet é fator seu estudo. considerada adaptativa.
determinante para o emergir de uma metodologia A netnografia também se apresenta como
de pesquisas on-line, mas também a localização interessante para o “mapeamento dos perfis de
dos objetos no ciberespaço, além do consumo de seus participantes a partir de suas
posicionamento da internet como próprio objeto A superação das dificuldades práticas comunicacionais nas plataformas sociais”
de estudo em sua intrínseca relação com diversas dificuldades do pesquisador frente à utilização da (AMARAL, 2007), que corrobora com o
culturas. tecnologia em si, conforme nos indica Markham
técnicas do pesquisador acerca dos pensamento de Hine (2005):
A netnografia, como transposição virtual (1998). objetos pesquisados e a própria
das formas de pesquisa face a face e similares8, Nesse sentido é que as Tecnologias de A chegada da Internet colocou um desafio
apresenta vantagens explícitas tais como consumir Comunicação e Informação (TICs) se apresentam limitação de alguns objetos significante para a compreensão dos
menos tempo, ser menos dispendiosa e menos como “artefatos culturais” (HINE, 2000; 2005, representam barreiras a serem métodos de pesquisa. Através das ciências
subjetiva, além de menos invasiva já que pode se SHAH, 2005), passíveis elas mesmas de sociais e humanidades as pessoas se
comportar como uma janela ao olhar do dificuldades acerca da acessibilidade do transportas pela análise do trabalho encontraram querendo explorar as novas
pesquisador sobre comportamentos naturais de pesquisador mediante as interfaces adjacentes aos formações sociais que surgem quando as
uma comunidade durante seu funcionamento, fora objetos no campo virtual, como no caso do blogs.
netnográfico pessoas se comunicam e se organizam via
de um espaço fabricado para pesquisa, sem que email, websites, telefones móveis e o resto
este interfira diretamente no processo como Como artefatos culturais, eles são das cada vez mais mediadas formas de
participante fisicamente presente (KOZINETS, apropriados pelos usuários e constituídos Tão importante como escolher o grau de comunicação. Interações mediadas
2002). Por outro lado, ela perde em termos de através de marcações e motivações. Além inserção em uma comunidade virtual, é deixar claro chegaram à dianteira como chave, na qual,
gestual e de contato presencial off-line que podem disso, perceber os blogs como artefatos, o ponto de observação ao fazer as considerações as práticas sociais são definidas e
revelar nuances obnubiladas pelo texto escrito, indica também (...) que são eles o sobre seu objeto, pois o posicionamento do experimentadas (HINE, 2005, p. 01).
emoticons, etc. repositório das marcações culturais de pesquisador pode interferir na forma como os
O acesso à informação também é determinados grupos e populações no dados são compilados e analisados. Tendo o ciberespaço como um meio rico
facilitado, pois a própria criação de dados on-line ciberespaço, nos quais é possível, também, para a comunicação a partir do aumento do número
é feita de forma textual. Nos métodos face a face recuperar seus traçados culturais de usuários (HINE, 2005), as novas tecnologias
de pesquisa qualitativa, é necessário que os dados (AMARAL, RECUERO e MONTARDO, PARA ONDE OLHAR? ampliam a questão da multiplexidade metodológica
sejam transcritos para posterior análise. 2008). por transpor a discussão da evolução tecnológica
O pesquisador quando vestido de Ainda de acordo com Hine (2000), a em si para as questões de sociabilidade e
netnógrafo, se transforma num experimentador Os traçados culturais demarcados pela forma pela qual a perspectiva etnográfica funciona apropriação, já “o agente de mudança não é a
do campo, engajado na utilização do objeto interação nas comunidades, fóruns, blogs, para os estudos da internet é através do estudo de tecnologia em si, e sim os usos e as construções
pesquisado enquanto o pesquisa (KOZINETS, plataformas são as pistas seguidas pelos seus diferentes usos. Segundo a autora, a definição de sentido ao redor dela” (HINE, 2005: 13). A
2007). Assim, o acesso à informação enfrenta pesquisadores em sua análise. Eles indicam uma de Knorr-Cetina (1983) em relação ao “caráter autora defende ainda a utilização da etnografia
dificuldades igualmente proporcionais às gama variada de posicionamentos, mas ocasionado, localmente situado” exemplifica transposta ao ciberespaço como metodologia para
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suprir o espaço de estudo das práticas cotidianas entre elas, apontando vivência de “sobreposições pesquisa as respostas e feedbacks vindas dos outros desdobramentos comportamentais além da
em torno da internet. e interferências (aqui num sentido positivo) no participantes ativos das comunidades. comunicação (gestual, apropriações físicas, etc.),
qual os procedimentos acontecem de forma Além de eticamente recomendável, para sendo esse um dos principais diferenciais entre o
interligada” (AMARAL, 2008). Kozinets (2002), a checagem de dados com os processo etnográfico off-line e o on-line.
COMO OLHAR? OU PREMISSAS PARA FUTURAS A entrée cultural é uma etapa delimitada próprios membros do grupo, legitima e acrescenta
INVESTIGAÇÕES pelo pesquisador previamente, como preparação credibilidade à pesquisa. Através dos membros do
para o trabalho de campo. Para se começar um grupo e da solicitação de suas opiniões, pode-se NOTAS
A netnografia mantém as premissas procedimento netnográfico o pesquisador chegar a insights e conclusões além das observadas
básicas da tradição etnográfica (SÁ, 2002, p. 159) primeiramente precisa preparar-se, levantando em campo. *O presente artigo, cujo caráter é muito mais uma propos-
ta em andamento, foi produzido no âmbito das discussões
levantadas a partir dos trabalhos de Geertz (2001): quais tópicos e quais questões ele deseja analisar; do Grupo de Pesquisa Cibercultura do MCL-UTP. É im-
manter postura inicial de estranhamento do e em que tipo de comunidades, fóruns e grupos portante salientar as contribuições de todos os seus inte-
pesquisador em relação ao objeto; considerar a pode obter respostas satisfatórias e pertinentes à CONSIDERAÇÕES FINAIS grantes e também a alguns professores que participaram de
subjetividade; considerar os dados resultantes sua pesquisa. Os participantes atuantes nestas reuniões e debates ao longo do ano de 2008, em especial
Gisela Castro (ESPM-SP), João Freire Filho (UFRJ) e
como interpretações de segunda e terceira mão; e comunidades são também de grande importância Da mesma forma que a comunicação Sandra Montardo (FEEVALE-RS). Também contribuiu
finalmente considerar o relato etnográfico como quando estudados individualmente, e através de mediada por computador (CMC) corre na trilha para algumas problemáticas e questionamentos a conferên-
sendo de textualidades múltiplas. ferramentas de busca e de pesquisa on-line pode- das inovações tecnológicas, as metodologias cia “Antropologia no ciberespaço: fundamentos teórico-
Por se tratar de uma transposição de se chegar a resultados efetivos para o encontro utilizadas para pesquisa nessa área seguem o metodológicos da cibercultura” proferida pelo pesquisa-
dor Teóphilos Rifiótis na mesa de abertura do II Simpósio
metodologia do espaço físico ao espaço on-line, de específicas informações. mesmo caminho e precisam ser constantemente da ABCiber – Associação Brasileira dos Pesquisadores em
ao utilizar a netnografia faz-se necessário incluir Para a coleta e análise, três tipos de revisadas para que permaneçam pertinentes e Cibercultura, realizado em novembro de 2008 na PUCSP.
procedimentos específicos acerca da tipologia dos captura de dados são eficazes, segundo Kozinets atualizadas de acordo com as dinâmicas de
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objetos estudados. (2002). A primeira são os dados coletados e sociabilidade da rede. Adriana Amaral é doutora em Comunicação Social pela
PUCRS com doutorado Sanduíche pelo Boston College,
Primeiramente, ressaltamos os critérios de copiados diretamente dos membros das A superação das dificuldades técnicas do EUA (Bolsa CNPq). Professora e Pesquisadora do
confiabilidade frente à filtragem dos informantes comunidades on-line de interesse, onde, devido pesquisador acerca dos objetos pesquisados e a Mestrado em Comunicação da UTP-PR. Autora de Visões
dentro das comunidades virtuais para que se analise ao grande número de informações coletadas e às própria limitação de alguns objetos representam Perigosas – uma arque-genealogia do cyberpunk (Ed.
as questões contextualizadas em seu objeto. Dentre dúvidas que estas possam causar, é prudente o barreiras a serem transportas pela análise do Sulina, 2006). Email: adriamaral@yahoo.com Blog: http://
palavrasecoisas.blogspot.com.
as diversas maneiras de aferir essa confiabilidade, pesquisador se utilizar de vários tipos filtros para trabalho netnográfico, e não pela metodologia em
destacamos os critérios utilizados por Kozinets que sobrem apenas informações de relevância para si, e assim, oferecem ainda muitas indagações para *** Geórgia Natal é mestranda em Comunicação e Lingua-
(1997) para a escolha de seus informantes e grupos o contorno da pesquisa. A segunda coleta refere- futuras pesquisas. gens da UTP. E-mail: ggnatal@homail.com.
estudados: se às informações que o pesquisador observou
**** Lucina Viana é mestranda em Comunicação e Lingua-
das práticas comunicacionais dos membros das O etnógrafo não é um simples voyeur ou gens da UTP e bolsista do CNPq. E-mail:
(1) indivíduos familiarizados entre eles, (2) comunidades, das interações, simbologias e de sua um observador desengajado, mas é, em lucka@onda.com.br.
comunicações que sejam especificamente própria participação. A terceira, finalmente, são certo sentido, um participante 1
As traduções de todos textos em língua estrangeira apre-
identificadas e não-anônimas, (3) grupos os dados levantados em entrevistas com os compartilhando algumas das preocupações, sentadas nesse texto foram feitas pelas autoras.
com linguagens, símbolos, e normas indivíduos, através da troca de e-mails ou em emoções e compromissos dos sujeitos
específicas e, (4) comportamentos de conversas em chats, mensagens instantâneas ou pesquisados. Essa forma estendida depende 2
Como no caso do trabalho de Recuero (2006).
manutenção do enquadramento dentro das outras ferramentas. também da interação, em um constante 3
Para efeito de definição, nesse artigo o termo “comunida-
fronteiras de dentro e fora do grupo Os pontos cruciais que requerem a questionamento do que é possuir uma de virtual” foi adotado para designar as comunidades medi-
(KOZINETS, 1997, p. 9). discussão de uma ética de pesquisa, segundo compreensão etnográfica do fenômeno adas por computador que se formam em torno de platafor-
Kozinets (2002) são, até onde a informação contida (HINE, 2000: 47). mas on-line de interação social.
Ainda segundo o autor, “a intenção da num site é pública ou privada e o que é o uso 4
Para um aprofundamento maior sobre a disseminação do
utilização desses quatro critérios garante que se consensual de informações no ciberespaço. Sendo No presente artigo, de caráter método etnográfico da antropologia às outras ciências como
está de fato estudando uma cultura ou uma a netnografia uma metodologia que se utiliza da introdutório, procuramos indicar alguns estudos a comunicação ver Caiafa (2007).
comunidade, (...) e não simplesmente examinando captura de informações interativas vindas de e procedimentos que constituem a netnografia
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uma reunião temporária” (KOZINETS,1997). pessoas reais, não apenas de informações textuais enquanto ferramenta metodológica utilizada na Há uma ampla gama de estudos netnográficos, principal-
mente nos países anglo-saxões. Kozinets (1997, 2002,
A partir dessa validação da comunidade e passadas por uma edição. Assim, o caminho pesquisa em cibercultura e comunicação, pensando 2007), Hine (2000, 2005), Markham (1998), Strangelove
de seus informantes, Kozinets (2007) recupera eticamente recomendável, é que o pesquisador se os objetos (games, chats, plataformas sociais, (2007) entre outros utilizam-se da metodologia para a pes-
os quatro procedimentos básicos de metodologia identifique e identifique o interesse de sua pesquisa, etc.) como dinâmicos e mutáveis frente às quisa sobre diversas ferramentas tecnológicas tais como
específicos da transposição da etnografia para a pedindo as permissões necessárias para o uso das atualizações não apenas tecnológicas, mas, chats, listas de discussão, fóruns virtuais e videogames.
netnografia. São elas: “Entrée cultural; coleta e informações obtidas em postagens e em conversas sobretudo de ordem comportamental e subjetiva. 6
Praticantes do cosplay, junção das palavras inglesas cos-
análise dos dados; ética de pesquisa; e feedback e com os participantes das comunidades e fóruns. O pesquisador deve permanecer tume play, e que se refere ao hábito de fãs vestirem-se e
checagem de informações com os membros do Além da garantia de confidencialidade e anonimato consciente de que está observando um recorte teatralizarem um personagem escolhido a partir de quadri-
grupo” As etapas não acontecem de forma estática, aos informantes, tratando-os por pseudônimos e nhos, filmes, games, etc.
comunicacional das atividades de uma comunidade
e os pesquisadores trabalham indo e vindo por não por seus nomes de usuário, incorporando na on-line, e não a comunidade em si, composta por 7
http://www.clicrbs.com.br
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http://www.last.fm knowledge: an essay on the constructivist and
contextual nature of science. Oxford: Pergamon, 1983.
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