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e cidadania:
Consumo de redes sociais no contexto
da Zona Leste de São Paulo
São Paulo
2020
Renato Vercesi Mader
São Paulo
2020
Autorizo a reprodução total ou parcial da minha tese COMUNICAÇÃO, JUVENTUDE
CIDADANIA: Consumo de redes sociais no contexto da Zona Leste de São Paulo. no
contexto da Zona Leste de São Paulo, para fins de estudo e pesquisa, desde que seja sempre
citada a fonte.
Renato Vercesi Mader
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________
Orientadora e Presidente da Banca:
Profa. Dra. Denise Cogo (ESPM)
____________________________________________________________
Avaliador Externo
Profa. Dra.Simone Luci Pereira (UNIP)
____________________________________________________________
Avaliadora Externa
Profa. Dra. Ana Cristina Suzina - Loughborough University London
____________________________________________________________
Avaliador Interno
Prof. Dr.Luiz Peres-Neto (ESPM)
____________________________________________________________
Avaliadora Interna
Profa. Dra. Tânia Hoff (ESPM)
DEDICATÓRIA
Meu projeto de doutorado começou a ser gestado em 2010, quando encerrei o processo de
Mestrado acadêmico no PPGCOM – ESPM – SP, e comecei a localizar o Programa de Pós-
graduação em Comunicação que abordasse a perspectiva desejada para o desenvolvimento de
tese e pesquisa. Em 2013, o PPGCOM ESPM abre sua 1º turma de doutorado, mas por razões
outras, só consegui entrar como doutorando na ESPM, em 2016. Agradeço ao publicitário Nelson
de Abreu Mader, meu pai – formado em 1966 pela ESPM – minha melhor referência. Agradeço
aos alunos, professores e pesquisadores, que me inspiram há 25 anos em propósito acadêmico, e
que possibilitaram a realização desta tese. Agradeço especialmente à minha orientadora, Denise
Cogo, por ter me apresentado o universo da cidadania e suas articulações com comunicação e
consumo. Aos colegas todos, com quem há quatro anos, divido salas de aula e grupos de pesquisa,
eventos e seminários. Agradeço aos jovens alunos da ETEC-MLK na Vila Carrão, São Paulo, e
a seus professores, Eloísa Lages, Vagner Sarti, Luana Aracre, e Daniel Capella, que se
disponibilizaram a viabilizar a realização desta pesquisa.
Durante todo o percurso da tese, tive o prazer de compartilhar experiências de pesquisa
com meus colegas Joana Pellerano, Viviane Riegel e Wilson Bekesas, e a eles sou eternamente
grato. Agradeço à equipe da ESPM que me acolhe há 20 anos como professor da graduação.
Agradeço à Carolina Figueiredo pela cumplicidade em todo o trabalho de revisão e ajustes
editoriais. Agradeço a meus amigos, meus familiares, minha esposa Geraldine e minha filha Ana,
que me apoiaram ao longo de todo esse percurso.
“Diré que lo que merece la pena investigarse es
aquello que nos dé esperanzas de cambiar esta sociedad;
no lo que nos provoque o bien ganas de quedarnos
tranquilos, o bien ganas de injuriar este mundo. Estamos
hartos de gente que vive tranquila y no quiere que nadie
le quite su tranquilidad, pero también de aquellos que se
quedan maldiciendo este mundo, pero no nos dan las
herramientas, ni la menor esperanza o posibilidad, para
pensar en la manera cambiarlo”. Jesus Martín-Barbero.
MADER, Renato V.; Comunicação, juventude e cidadania: Consumo de redes sociais no
contexto da Zona Leste de São Paulo. 2020. Tese (Doutorado em Comunicação e Práticas de
Consumo) – Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Práticas de Consumo, Escola
Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), São Paulo.
RESUMO
ABSTRACT
The central objective of this thesis is to investigate whether the daily communication
practices of young students, from the city of São Paulo, function as an evidence of a pubic media
connection, based on the study of their media consumption on digital social spaces, such as the
social networked sites Facebook, Twitter and Instagram. We are seeking to identify their
perceptions and actions on citizenship in the daily context of the city's East Zone. In order to
study these practices, the theoretical framework consists of: 1) The configuration of a networked
society, with a high degree of communicational power through a digital mediating environment;
2) the post-massive media condition, in the process of mass-self communication; 3) the young
subject, based on their social plurality; 4) the contemporary condition of citizenship in its
different dimensions; and 5) The construction of citizenship senses and meanings, based on the
subjects' daily communication practice, on social networks. The research universe consists of 26
subjects, all of whom are residents of the East Zone of São Paulo and students of the State
Technical High School - ETEC - Martin Luther King unit, located in Vila Carrão, East Zone of
São Paulo. The research methodology consists of: 1) online questionnaire, at ETEC; 2) semi-
structured individual interview; 3) non-participant observation in the school environment; and 4)
Non-participant observation on digital social networks - Facebook, Instagram and Twitter - from
59 profiles belonging to the subjects, between October 2018 and June 2019. The theoretical path
is based on the process of mass-self communication (CASTELLS, 2008), with a post-massive
characteristic (GARCÍA CANCLINI, 2010) in digital social networks (BRIGNOL and COGO
2011), in which the young (BOURDIEU, 1984; FEIXA, 1998; and COGO, 2010) through daily
media practice (COLDRY, LIVINGSTONE and MARKHAM, 2010) streamlines both their civic
culture (DALHGREN, 2011), as well as their consumer culture (GARCÍA CANCLINI, 1997)
establishing their perception of citizenship, from the possible dimensions (CORTINA, 1997;
COGO, 2010; COGO, ELHAJJI and HUERTAS, 2012), as well as forms of mobilization and
citizen action (DALHGREN, 2011; MOUFFE, 2015). The results of the research show how the
consumption of social networks operates in the cultural and civic formation of young people from
the post-massive media condition, especially through their interest in interactions around content
linked to racial and gender relations and inequality Social. However, the study also reveals that
the post-massive media condition of consumption circumscribes youth mobilizations and actions
to social networks, making their exercise incipient in contexts that go beyond digital
communication spaces.
Keywords: communication; consumption; citizenship; youth; digital social networks.
LISTA DE IMAGENS
Imagem 1 - Ele 03- Guarulhos – Twitter: Post depoimento acerca do espaço de Lugar ocupado pelo
deslocamento urbano.. ........................................................................................................................81
Imagem 2 - ELA03- Artur Alvim – Twitter: Post depoimento acerca do espaço de Lugar ocupado
pelo deslocamento urbano.. ................................................................................................................87
Imagem 3 - ELA11 – Aricanduva – Twitter – imagem selfie dela e ELE03 com legenda... ............91
Imagem 5 - ELA07- Itaquera – Facebook – repost ETEC MLK; celebrando o destaque da ETEC
MLK na ambiência social digital do Facebook. .................................................................................99
Imagem 6 - Ela 09- Tatuapé – Twitter – posts depoimento; após visitar Instituto Fernando Henrique
Cardoso e conhecê-lo em palestra. ...................................................................................................142
Imagem 7- ELA06- Penha – Twitter – post depoimento após visita Instituto Fernando Henrique
Cardoso.............................................................................................................................................143
Imagem 8 - Ele 02- Tatuapé – Twitter – posts depoimento após visita Universidade São Judas –
Economia ..........................................................................................................................................145
Imagem 9 - Ela 15- Vila Carrão – Twitter – post de registro em visita ao Facebook em S. Paulo –
Zona Sul ...........................................................................................................................................146
Imagem 16 - ELA02 – Itaquera e ELA12 – Vila Matilde – Facebook – páginas de “check in” de
locais visitados.. ...............................................................................................................................154
Imagem 23 - ELA15– Vila Carrão – Facebook – compartilhamento conteúdo marca Burger King a
favor das minorias LGBTQI+, e comentário de aprovação de ELA15. ...........................................161
Imagem 27- ELA04 - Vila Matilde – Twitter – Conteúdos compartilhados, acerca da moral em
relação a conduta de liberdade sexual da mulher .............................................................................169
Imagem 29 ELA10 - Penha – Twitter, conteúdo compartilhado sobre posições sociais feminina e
masculina em relação ao assédio sexual...........................................................................................151
Imagem 30 - ELA15- Vila Carrão e ELA14 –Itaquera – Facebook, mesmo conteúdo compartilhado
sobre a desigualdade de gêneros pelo profissional............................................................................152
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Crianças e Adolescentes que acessaram internet nos últimos 3 meses (2018).......27
LISTA DE QUADROS
Quadro 7 - O mapa da morte; relação de latrocínios - assalto seguido de homicídio por região e por
distrito na cidade de São Paulo. Fonte: Jornal Folha de São Paulo, (2017). ......................................86
Quadro 10 - Composição famíliar por quantidade de pessoas, dos jovens da pesquisa. .................91
Quadro 11 - Estrutura familiar – presença de ambos os responsáveis na casa dos sujeitos da pesquisa.
............................................................................................................................................................92
Quadro 12- Nível de Ensino formal dos pais ou responsáveis pelos sujeitos da pesquisa. ..............93
Quadro 13 - Ocupação econômica dos pais ou responsáveis dos jovens da pesquisa. .....................94
Quadro 16 - Redes sociais ativas por sujeito da pesquisa para Facebook, Twitter e Instagram .....112
Quadro 17 - Os 10 perfis com maior audiência de seguidores nas três ambiências digitais e os sujeitos
correspondentes. ...............................................................................................................................113
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 20
3.5.2 Gênero, diversidade e cidadania no cotidiano jovem da "ZL" de São Paulo .. 136
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................173
BIBLIOGRAFIA...............................................................................................................176
Vou dizer que vale a pena investigar é o que nos dá esperança de mudar
essa sociedade; não o que nos provoca desejo de permanecer calmo ou
de insultar este mundo. Estamos fartos de pessoas que vivem em paz e
não querem que ninguém tire sua paz de espírito, mas também daqueles
que continuam amaldiçoando este mundo, mas eles não nos dão as
ferramentas, nem a menor esperança ou possibilidade de pensar em
como mudar isso”1. (MARTÍN-BARBERO, 2008:8).
1 Tradução nossa. No original: “Diré que lo que merece la pena investigarse es aquello que nos dé
esperanzas de cambiar esta sociedad; no lo que nos provoque o bien ganas de quedarnos tranquilos, o bien
ganas de injuriar este mundo. Estamos hartos de gente que vive tranquila y no quiere que nadie le quite su
tranquilidad, pero también de aquellos que se quedan maldiciendo este mundo, pero no nos dan las
herramientas, ni la menor esperanza o posibilidad, para pensar en la manera cambiarlo” (2008:8).
2 Tradução nossa. No original: “¿cómo pensar juntas la comunicación y la cultura en una sociedad en la
que todavía buena parte de la intelectualidad sigue oponiéndolas de manera radical?” – (2008:6)
20
do mercado, são estruturadas para permanecer”3 (2008:12). Enquanto os tempos da mídia
massiva e da cultura se contradizem por conceito, a comunicação pós-massiva (GARCÍA
CANCLINI, 2010) reveste-se de ubiquidade, anulando qualquer ação do tempo sobre o
espaço onde opera. Pois, como afirma Castells: “ [...] a difusão da internet e uma
variedade de ferramentas de software social levou ao desenvolvimento de redes
horizontais de comunicação interativa que conectam local e global a todo e qualquer
tempo (2009:65)4”.
3 Tradução nossa. No original: “Pensar estas temporalidades es otra encrucijada: frente a la obsolescencia
cada vez más rápida del mercado –todo se produce para que cada vez dure menos–, está la durabilidad de
las culturas que, al contrario del mercado, están hechas para permanecer. “porque é pensar nos longos
tempos da cultura versus os tempos efêmeros do mercado” (2008:12).
4 Tradução nossa, no original: “the difusion of internet and a vairety of tools of social software has
prompted the development of horizontal networks of interactive communication that connect local and
global in chosen time” (Castells, 2009:65)
5 Tradução nossa. No original: “En la actualidad tendríamos que ponernos a formular preguntas sobre el
sentido de los procesos de comunicación y de cultura en los que juega, como ya se ha dicho, la
construcción colectiva del sentido” ( 2008:6).
6 Tradução nossa, no original: “Mediated public connection” (Couldry, Livingstone &Markham, 2010:65)
21
midiática (COULDRY, LIVINGSTONE e MARKHAM, 2010) em condição pós-
massiva (GARCIA CANCLINI, 2010); bem como estudos relacionados a jovens e sua
rotina de comunicação e práticas de consumo em redes sociais digitais – KIDS On Line
Brasil (2018), e em especial, a partir de uma perspectiva política de cidadania e juventude,
desenvolvidos por Livingstone, Mascheroni e Staksrud, (2015), Huertas e Maz (2014),
Cogo e Brignol (2011) e Porto (2005).
7 Tradução nossa, no original: “Public mediated connection” Couldry, Livingstone e Markham, (2010:3)
22
Individual de Massa, ( individualismo e comunalismo8) através das quais a prática
comunicacional do sujeito pode ser verificada como tendo o indivíduo, ou seus coletivos,
como centro de valor de suas dimensões culturais cívicas. Da mesma forma que o âmbito
Global/local se sobressai a partir de sua prática comunicacional, parametrizando tanto a
referência cultural cívica cotidiana do sujeito, quanto a dimensão de representatividade e
legitimidade de sua cidadania constituída.
9
Tradução nossa, no original: “Mass-self communication. Castells (2008:52)
23
A partir destas três instâncias, buscamos levantar, junto ao universo de jovens, a
materialização destas instâncias pelo campo empírico, de forma a construir um percurso
analítico em torno das duas dimensões que compõem o objetivo da pesquisa através das
evidências reunidas, sobre perfil, comportamento, consumo e interações cotidianas dos
jovens estudante e consumo de redes digitais: 1º) as percepções de cidadania e temáticas
relacionadas que mobilizam estes jovens em sua prática midiática cotidiana; e 2º) as
formas de ação cidadã – mobilização cidadã dos jovens relacionadas a seu consumo
midiático.
24
redes digitais, (CASTELLS, 2008; KIDD, 2019 e BAKARDJIEVA, 2015), que compõem
o campo empírico desta tese – Facebook, Instagram e Twitter.
25
METODOLOGIA DA PESQUISA
10
Como veremos adiante, Pierre Bourdieu estrutura o conceito de juventude como categoria a
partir da perspectiva de hierarquia e dominação dos mais velhos sobre os mais jovens e a disputa de poder
que se dinamiza entre as gerações em um dado meio social.
26
Gráfico 1: Crianças e Adolescentes que acessaram a internet nos últimos 3 meses (2018)
A partir da perspectiva de que esta faixa etária assume maior presença em termos
de acesso e práticas comunicacionais nos espaços digitais que nos interessam – as redes
sociais Facebook11, Twitter12 e Instagram13 – e representa uma etapa da vida na qual o
sujeito demanda uma articulação mais intensa na constituição de si como cidadão,
definimos a faixa etária 15 a 18 anos para composição do universo da pesquisa.
11 Facebook.com: rede social digital de acesso gratuito a maiores de 13 anos, desenvolvida desde 2004 por
Mark Zuckerberg. Em janeiro de 2020, contava com 120 milhões de usuários brasileiros ativos.
12 Twitter.com: rede social digital de acesso gratuito a maiores de 13 anos, desenvolvida desde 2006, por
Jack Dorsey, Evan Williams, Biz Stone e Noah Glass. Em dezembro de 2019, contava com 8,28 milhões
de usuários brasileiros ativos.
13 Instagram.com: Rede social digital de acesso gratuito a maiores de 13 anos, desenvolvida desde 2010,
por Kevin Systrom e Mike Krieger, e vendido ao Facebook em 2012. Em janeiro de 2020, o Instagram
contava com 77 milhões de usuários brasileiros ativos.
27
correlacionar o cotidiano da prática comunicacional dos sujeitos tanto em espaços
digitais, quanto em espaços presenciais, não mediados pelas mídias.
15 Uma ETEC é uma escola técnica estadual que oferece admissão mediante aprovação em concurso
vestibular próprio, com escalas de pontuação que objetivam equalizar as distâncias de formação entre
candidatos de escolas públicas em relação a candidatos de escolas particulares. Verificamos, por conta da
formação técnica pública de alta qualidade oferecida e por seus critérios de ingresso, que a ETEC poderia
ser um ambiente escolar mais diverso em termos de classe, raça e gênero.
16 A vinculação dos sistemas de Ensino Médio regular, privado e público municipal às normativas da
Secretaria Municipal de Educação e ao Estatuto da Criança e Adolescente vigente, proíbem a realização de
qualquer pesquisa dentro das dependências das escolas. No entanto, por serem as ETECs vinculadas ao
Instituto Paula Souza – uma autarquia -, e à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, as Escolas Técnicas
possuem uma política mais flexível para autorizar a realização de pesquisas como esta em suas
dependências. Existem, na cidade de São Paulo, 44 escolas técnicas, dentre as 223 existentes no Estado
de São Paulo. As ETECs oferecem um total de 151 cursos voltados a todos os setores produtivos em âmbito
público e privado.
28
Procuramos, então, a direção acadêmica da ETEC Martim Luther King – ETEC
MLK – onde já havíamos estado, para estabelecer um protocolo de parceria para
realização da pesquisa de campo. Após resposta positiva da direção acadêmica, firmamos,
no dia 28 de setembro de 2018, em reunião realizada com a direção acadêmica da ETEC
MLK, termo de parceria que estabeleceu o protocolo, os procedimentos e as condições de
aplicação da pesquisa, bem como a autorização de pais/responsáveis para que os sujeitos
pudessem participar da pesquisa.17
18 O conteúdo da apresentação, com todas as telas utilizadas pode ser consultado nos anexos desta tese.
29
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA
20
O questionário como aplicado, está no Apêndice D – Formulário de pesquisa Survey – 3º parte
do questionário p.200.
30
ETEC para sua aplicação. Dividimos o questionário em partes, a fim de constituir um
quadro mais objetivo de cada sujeito, de forma que a primeira parte se refere à sua
trajetória individual (idade, raça, opção e gênero sexual, religião), e seu contexto
socioeconômico familiar (composição da unidade familiar, nível de formação dos
pais/responsáveis, ocupação profissional atual de pais/responsáveis, o núcleo e
quantidade de pessoas e gerações de parentes que compõem o núcleo familiar. Fechando
a primeira parte, apresentamos 18 temáticas relacionadas a várias dimensões de
cidadania, – Questões familiares, Questões políticas, Questões escolares, Pobreza,
Transporte público, Assaltos, Saúde pública, Racismo, Homofobia, Corrupção, Questões
do Bairro, Direitos Humanos, Violência de Gênero, Questões Pessoais, Direito ao Livre
Pensar, Direitos e Deveres dos Cidadãos, Direitos do Estatuto da Criança e do
Adolescente, Violência a Crianças e Adolescentes – perguntando aos jovens quais destes
temas são conversados em cotidiano e quem são as pessoas a quem recorre para a
abordagem dessas temáticas relacionadas à cidadania.
21
Estas questões estão reproduzidas no Apêndice D – Formulário de pesquisa Survey – 3º parte
do questionário p.215.
31
de pesquisa firmado, seu conteúdo não poderá ser disponibilizado publicamente em
áudio, mas apenas para a banca da defesa desta tese através do link : shorturl.at/jloJU. A
fim de preservar suas identidades, nomeamos os jovens por ELA01 a ELA17 (meninas)
e ELE01 a ELE09 (meninos). Nos registros de imagem inseridos na tese, desfocamos os
nomes dos perfis e dos rostos das pessoas retratadas, quando se tratava de postagens
autorais.
Planejamos a entrevista para durar entre 20 e 45 minutos, de forma que pudessem
ser realizadas em espaços intercalados com aulas e outras atividades das turmas que os
jovens participantes das pesquisas integravam. O roteiro elaborado para a condução das
entrevistas22 abrangeu desde a preparação do ambiente– sala da direção acadêmica da
ETEC, durante manhãs e tardes letivas – até a preparação de recursos acessórios, como
imagens e vídeos utilizados como recursos adicionais, conforme as questões perguntadas.
Foram estruturados eixos temáticos a fim de descobrirmos aspectos fundamentais sobre
os sujeitos e suas práticas midiáticas em espaços digitais.
22
O roteiro completo das entrevistas individuais semiestruturadas está nos apêndices desta tese.
32
dentre os temas, algum relacionado à cidadania e, em caso positivo, de que forma o tema
se relaciona com a cidadania. Nesta mesma direção, apresentamos 8 temáticas específicas
próximas do cotidiano jovem: Bullying, preconceito, cyberbullying, sexismo,
discriminação, ativismo social, voluntariado e rede de apoio social, a fim de descobrir
quais destes temas mobilizam os sujeitos, e de que forma se mobilizam.
33
série – integradas pelos 26 sujeitos participantes, houve um rodizio por parte do
pesquisador pelas três salas, acompanhando as atividades em período letivo de duas
professoras de disciplinas técnicas – Profa. Eloísa Lages (Marketing I e II), e Profa. Luana
Aracre, (Ciências da Computação). Em três oportunidades diferentes, observamos uma
aula de marketing pela manhã, duas aulas de ciências da computação à tarde e outros dois
momentos de atividades comuns realizadas pelos alunos na escola – a hora do almoço (os
sujeitos almoçam na ETEC) e uma exposição pública de trabalhos da disciplina de
Marketing II, realizada na quadra esportiva da escola.
Foi possível observar, assim, o cotidiano midiático dos sujeitos relacionado aos
espaços digitais pesquisados, na convivência em salas de aula – tradicional com carteiras,
e de informática, com 1 computador para cada dois alunos – e fora dela, nos espaços livres
de convivência na ETEC MLK.
34
ambientes urbano e conectado – revelada a partir de observação não participativa dos
estudantes e sua prática comunicacional; da mobilização e ação cotidiana de cidadania
ativa, exercida nos ambientes urbano e conectado deste jovem estudante, residente e
conectado a partir da Zona Leste de São Paulo.
Para análise, em torno desses dois eixos, nos orientamos pela combinação de
aspectos de constituição objetiva e subjetiva dos 26 jovens da pesquisa, relacionando três
instâncias de seu cotidiano: a do indivíduo urbano, ( localizado a partir da Zona Leste
de São Paulo e seu contexto cotidiano de circulação e uso da cidade onde reside); a do
consumidor midiático pós-massivo (seus dispositivos e formas de acesso digital, hábitos
de consumo midiático, esferas pública de ação, perfis ativos em redes sociais digitais); e
a do cidadão (a noção de cidadania e pertencimento cidadão nas diversas instâncias
sociais de interação desse sujeito, e as temáticas cidadãs que mais afetam seu cotidiano),
que se manifestam através de sua prática comunicacional cotidiana.
35
temas relacionados a cidadania pelos jovens. Realizamos ainda – em algumas salas de
aula e espaços de convivência social – um período de observação não-participativa no
ambiente escolar. Além de observação não-participativa nas respectivas redes sociais
destes jovens. No que diz respeito aos processos de coleta de dados, procuramos
investigar o comportamento social dos jovens em espaço social urbano – da escola – e
em espaço social digital – das redes sociais – para atendermos as demandas do protocolo
de análise.
36
1. COMUNICAÇÃO PÓS-MASSIVA.
23 Tradução nossa. No original: “ésta fue una empresa infructuosa: cada teoría propuso su propio modelo
y definición de comunicación.” (2008:24) SCOLARI,Carlos, Hipermediaciones: Elementos para una
Teoría de lá Comunicación Digital Interactiva; Gedisa, Barcelona.
37
filiações teórico-metodológicas, combinadas ao longo da história, em especial, a partir do
século XIX em diante. De forma que, como afirma Scolari (2008), é para tentar traduzir
a confusão empregada nesta construção gramatical da ciência da comunicação, que foi
proposta uma classificação paradigmática relacionando as filiações teóricas da
comunicação de forma a dimensionar ordenadamente a epistemologia do campo das
ciências da comunicação. Esta classificação – seu sistema explicativo, seus níveis de
organização, suas premissas epistemológicas e sua concepção implícita da prática
comunicacional – operam critérios claros e objetivos, estruturados ao redor do fenômeno
da comunicação de massa, em que pese a amplitude histórica – desde a metade do século
XIX e por todo o século XX – e sua consequência tecnológica no século XXI, como
delimitações deste exercício conceitual, conforme exposto no quadro a seguir:
38
- Suas premissas epistemológicas (empíricas, críticas etc.); ou ainda;
- Sua concepção implícita de prática comunicacional (retórica, semiótica,
fenomenológica etc.).
39
Quadro 2 - Os paradigmas da ciência
40
destes só se vale como um esquema geral, pois “felizmente, a realidade dos estudos de
comunicação de massa é muito mais dinâmica e apresenta inúmeras contaminações entre
paradigmas” 24(SCOLARI, 2008, p. 43).
24 No original: “este mapa teórico és un esquema general. Por fortuna la realidad de los estudios de
comunicación de masas és mucho más dinámica y presenta numerosas contaminaciones entre paradigmas,
Gedisa, Barcelona, (2008:43).
25 Tradução nossa. Do original: “La llegada de nuevas formas de comunicación multimedia e interactivas
está incrementado aún más los malentendidos al descolocar estas viejas conversaciones teóricas y
aumentar el número de interlocutores que se suman al debate”. (2008:43)
41
Estruturada como indústria midiática, a cultura se amplia tanto quanto as formas
de transmissão do modelo mecânico de comunicação ao qual, como ressaltou Martín-
Barbero (2002), não apenas fortalece a performance econômica, mas fundamenta a
condição política da comunicação de massa como principal gerador de sentidos sociais
da era moderna.
26 Tradução nossa, no original: “En este sentido, para muchos de los estudiosos de fenómenos
comunicacionales nos encontramos ahora en un es-cenario de doble crisis, pues, por un lado, no sólo
tenemos elementos antiguos que buscan una mejor explicación, sino sobre todo horizontes emergentes y
complejos que pregun-tan por su estatuto de ser y es tar en un escenario limite, don-de hace falta construir
un nuevo arsenal de epistemologias y respuestas que sean capaces de explicar nuevos fenómenos
comunicacionales, como las ciberculturas y las sociedades de redes”. (OROZCO; GONZALEZ,
(2012, p; 92)
27 Tradução nossa. No original: “Mass-self communication”CASTELLS, 2009:58.
42
co-criação, frequentemente transmidiáticos, ou, como conceitua Jenkins (2008), que
atravessam, em sua narrativa, diversos suportes midiáticos para estabelecerem sua
condição discursiva.
Se, por um lado, os paradigmas já relacionados não parecem dar conta do pós-
massivo, como dimensiona Scolari, relacionando os elementos estruturados para
apreender a condição massiva da comunicação, de outro lado, são os novos horizontes
midiáticos emergentes e complexos que demandam seu próprio estatuto de ser e estar, a
partir de um cenário limite. Horizontes que exigem epistemologia e respostas passíveis
de explicar os novos fenômenos comunicacionais a partir da sociedade individualista de
massa e de processos de comunicação individual de massa.
43
Quadro 3 - Comparativo entre os modos de comunicação massiva e pós-massiva
28 Tradução nossa: “la web es, simultáneamente, una forma de comunicación de masas y un uno-a-uno”
Burnett y Marshall, apud SCOLARI, Carlos, Hipermediacones. Elementos para una Teoría de la
Comunicecion Digital Interactiva. Barcelona: Gedisa, 2008:92. (2003: 59)
44
relacionadas à simbiose humano versus computador, assim como das discussões acerca
das condições sistêmicas, de linguagens, protocolos e programação.
45
Como resposta social a esta tensão conceitual da modernidade, Wolton (2009) chama
a atenção para emergência de uma sociedade individualista de massa, na qual opera uma
nociva inversão de valores na instância da cidadania que, como forma de distinção social,
privilegia o individual em detrimento do coletivo. A comunicação opera para o autor
como instância política, social e cultural relevante na construção dessa experiência
individualista no sujeito moderno.
Assim como Wolton (2009), Castells (2009) também credita à comunicação um poder
e força institucional de abrangência social, econômica e política no mundo
contemporâneo. Para Castells, a partir do momento em que nos tornamos uma sociedade
estruturada em redes imateriais de conexão e comunicação pós-massiva, passamos a
praticar um modelo individual de produção e consumo midiático – Mass-self
Comunication29 (2009: 53) – que localiza e amplia as dimensões de poder da comunicação
no cotidiano, provocando transformações sociais e políticas. Ao contrapor o indivíduo
consumidor – o individualismo – à noção coletiva e cidadã de pertencimento– o
comunalismo – Castells sinaliza a contradição do sujeito contemporâneo que transita
entre paixões hedonistas e instâncias coletivas da prática comunicacional.
29
Tradução nossa: Comunicação individual de massa. (2009:)
46
[…] no intuito de melhor nomear as múltiplas atividades dos sujeitos
com as mídias no contexto contemporâneo, que incluem desde a
produção de sentido (pensada no âmbito de vertentes historicamente
dedicadas à recepção) às renovadas formas de participação como
produtores midiáticos no âmbito da comunicação digital. (BONIN,
2016, p.214)
Assim, García Canclini (1997, 2004) atribui a condição híbrida cultural resultante
da comunicação a todo o contexto contemporâneo e não apenas à mudança do paradigma
comunicacional pelo seu aspecto massivo/pós-massivo. Dito desta forma, acreditamos
que a perspectiva de um hibridismo midiático apenas reforça o caráter global da lógica
de mercado como princípio de orientação política e social do sujeito, consubstanciado em
sua prática cotidiana de consumo midiático pós-massivo. O ponto é que a referência do
consumo invade a referência política do sujeito na constituição de sua cidadania ao
hibridizar práticas de consumo e de cidadania.
47
Tendo as apropriações midiáticas pós-massivas como principal elemento
cotidiano estruturante de sua dimensão cultural, o sujeito necessariamente opera as
concepções políticas estruturantes de sua cidadania através de práticas sociais antagônicas
de representação, negociação e marcação de suas condições de sujeito consumidor.
Peter Dalhgren destaca que existem formas de se compreender os usos políticos e cívicos
da internet, no que diz respeito à cultura cívica e à percepção da cidadania, assim como
situa a participação cívica cidadã na internet a partir de três níveis conceituais:
48
Appadurai postula, ainda, que, para se lançar luz sobre a circulação das coisas no
mundo concreto e histórico: “temos de seguir as coisas em si mesmas, pois seus
significados estão em suas formas, seus usos, suas trajetórias. Somente pela análise destas
trajetórias, podemos interpretar as transações e os cálculos humanos que dão vida às
coisas” (APPADURAI, 2008, p.17).
Para Cogo e Brignol :“A centralidade que a esfera midiática assume na vida cotidiana
e nas relações sociais vem sendo discutida como uma importante reconfiguração com
implicações de diversas ordens, inclusive nas relações de tempo e espaço e nas vivências
30 Tradução do autor, no original: “ Sociality work in SNS entails highly rationalized activities […] that
can affect, or so we believe, the opportunities that open up for us as consumers (Turow, 2010),
professionals (Marwick 2013), and social beings (Bakardjieva and Gaden 2012). (Bakardjieva, 2015:523).
49
identitárias.” (Cogo e Brignol, 2011:76). Afirmam ainda, que “as pesquisas de recepção
vêm sinalizando para modos de usos sociais das mídias que se estendem ou desdobram
para além dos momentos e espaços de consumo midiático” (Cogo e Brignol, 2011:77).
Para Turkle (2011), nossas conexões digitais instantâneas muitas vezes levam à
solidão emocional; acreditamos que podemos alcançar relações íntimas genuínas sem
precisar lidar com suas demandas e responsabilidades. Como se a crença no espaço digital
pudesse, de todas as formas, substituir o espaço urbano, onde se materializam as
afetividades.
50
Para Araüna, Tortajada e Capdevilla, redes sociais digitais se configuram como “
os espaços privilegiados de interação que se somam aos ambientes offline existentes e
dão continuidade às interpretações cotidianas31” (2014, p.161). No entanto, ainda que
tenhamos a continuidade das interpretações cotidianas como perspectiva integrativa dos
espaços urbano e digital em um território informacional juvenil, Bakardjieva (2015),
alerta para o fato de que toda rede social digital a priori, existe como negócio e
investimento de capital, voltado a lucro e rentabilidade – com exceção da Wikipedia e
algumas poucas iniciativas sem fins lucrativos – o que remonta a uma condição de fato
híbrida.
A noção do que privar e do que tornar público também pode ser relacionado aos
espaços urbano e digital. Do sujeito jovem, o espaço digital demanda uma confiança
elevada (DALHGREN, 2011), da mesma forma que requer deste sujeito, a noção clara de
que estará interagindo com perfis construídos em sites de rede social, espaços sociais nos
31 Tradução do autor, no original: “ Las redes sociales son espacios privilegiados de interacción que se
suman a los entornos offline ya existentes y dan continuidad a las interpretaciones cotidianas. Ahora bien,
los entornos online establecen una lógica propia a partir de las posibilidades técnicas y de las dinámicas
que generan las personas que participan en ellos. Buena parte de las actividades que se llevan a cabo en
estos espacios tienen que ver con la construcción de la identidad.” Araüna, Tortajada e Capdevilla in
Huertas e Maz (eds) Audiencias juveniles y cultura digital, Institu de la comunicació, (2014:161)
32 Tradução do autor, no original: “ También es frecuente compatibilizar más de una red social
simultáneamente. Normalmente, se atribuyen funciones distintas a cada una de ellas, en relación a los
recursos y herramientas que ponga al alcance de quien las usa” Araüna, Tortajada e Capdevilla in Huertas
e Maz (eds) Audiencias juveniles y cultura digital, Institu de la comunicació, (2014:166)
51
quais as pessoas criam perfis, que são tidos como “atores” (RECUERO, 2009),
representações de si mesmos, com a finalidade de construir sua presença na rede. O que
significa na prática, “não falar com estranhos” – reconhecendo que estranho seria um
perfil que não tem nenhuma afinidade, nenhuma amizade relacionada em algum nível de
contato.
Estes espaços sociais, plataformas altamente racionalizadas de socialização
(BAKARDJIEVA, 2015:253), além de propiciar condições multimidiáticas de expressão,
proporcionam processos interativos nos quais:
33 Tradução do autor, no original: “Thus, when people put on their Facebook page that they have been
taking their kids to a lot of activities or when they post the greetings they sent to their mom on Mother’s
Day, something happens. On the one hand, that they do these private things is splendid. But that they post
such acts on Facebook turns the acts into public performances, parts of the digital presentation of self, acts
that will hopefully elicit likes” Dalhgren, 2018: 206).
52
promessa. Nesse sentido a primeira característica da rede é ser virtual. Ela somente é
realmente real, realmente efetiva, historicamente válida, quando utilizada no processo da
ação” (SANTOS, 2006:187). Na perspectiva das redes sociais digitais, a premissa de
validade histórica proposta por Santos se mantém, especialmente a partir da perspectiva
de serem “partes da apresentação digital do eu” (DALHGREN, 2018, p.206).
34 Celeste Kidd é professora assistente de Psicologia na universidade de Berlekey, com passagens por
Rochester, Stanford e o próprio MIT, construindo uma carreira significativa nos campos da psicologia
cognitiva, a partir da correlação entre o cérebro, a cognição, a emoção, a certeza e a crença humana em
adultos, jovens e crianças.
35 Tradução do autor, no original: “There’s no such thing as a neutral platform,”. “The algorithms pushing
content online have profound impacts on what we believe.”,
36 Tradução do autor, no original : “At a time when SNS have been taken up by politicians and citizens
alike as strategic sites for public opinion formation, mobilization, and political organizing, the enticement
53
Uma das evidências deste direcionamento e impacto, pode ser avaliado a partir do
projeto Caretas37, no qual a partir de inteligência artificial, uma personagem do sexo
feminino, jovem, vítima de exposição virtual, dialoga com outras jovens, sujeitos em
perfis ativos na rede Facebook, a fim de direcionar posturas de localização emocional,
racional, e curso de ação positivo. Toda a estrutura de diálogo se dá por algoritmos.
Neste aspecto, pudemos verificar, em relação aos jovens que participaram desta
pesquisa, que o consumo diário das notícias e assuntos são condicionados pelos
algoritmos do Google e das redes sociais investigadas, assim como também, algumas de
to use the same techniques, factories, and markets to engineer bot invasion of political discussions has
proven too hard to resist. Platformed sociality, extended and amplified by the sociality of robots, has serve
as a model for the engineering of robopolitics” (Bakardjieva, 2015:252).
37 O projeto Caretas é um desenvolvimento conjunto entre as empresas Sherpa – empresa que desenha
projetos digitais de mudanças comportamentais – a empresa Chat-tonic – que desenvolve práticas de
melhoria em comunicação conectada, em iniciativa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef)
no Brasil, estrutura um roteiro de assistência e atendimento a jovens vítimas de cyberbulling e
constrangimento, totalmente suportado em Inteligência artificial, baseada em algoritmos que direcionam o
diálogo a partir de sua própria construção, gerando um processo de resgate social extremamente eficiente e
positivo. In: Pesquisa sobre o uso da internet por crianças e adolescentes no Brasil : TIC kids online Brasil
2018, São Paulo : Comitê Gestor da Internet no Brasil, (2019:30)
54
suas posturas de crença e certeza sobre o que consomem nessas redes condicionam seu
exercício da cidadania – tanto on line, quanto off-line. Em relação a esse aspecto,
Dalhgren (2011) relaciona o ambiente pós massivo midiático e a noção de cultura cívica
do sujeito jovem e contemporâneo, da mesma forma que Castells, ao postular que “[…]
as informações em si não alteram atitudes, a menos que haja um nível extraordinário de
dissonância cognitiva. Isso ocorre porque as pessoas selecionam informações de acordo
com seus quadros cognitivos” (2009:169)38.
Castells (2009), em seguida, apresenta uma minuciosa análise das redes de poder
e de tomada de poder no uso midiático, para embasar sua fundamentação em torno das
redes, (networks) e da relação cognitiva-emocional envolvida diariamente na prática
midiática do sujeito norte-americano. Destaca o empenho da raiva e da ansiedade como
emoções operadas no processo de tomada de decisão da população, bem como de suas
certezas e crenças, em confiar ou não nesta premissa inicial que motivou as ofensivas ao
Iraque, e desta forma, oferecer suporte ao governo para seguir com suas ações bélicas na
região do Iraque.
38
Tradução nossa, no original: “ […] information per se does not alter attitudes unless there is an
extraordinary level of cognitive dissonance. This is because people select information according to their
cognitive frames.
39
Tradução nossa, no original: “People tend to believe what they want to believe” (2009:167).
55
o potencial cognitivo e emocional diretamente relacionado a condições dos algoritmos
que dinamizam o funcionamento das redes de comunicação digitais, as TIC, e os
resultados possíveis desta condição.
40
No original: Communication happens by activating minds to share meaning.(2009:137)
56
2. JUVENTUDE: SUJEITOS (IN)DETERMINADOS
O jovem, como sujeito histórico de seu tempo, apresenta as demandas relacionadas por
García Canclini (2010) no manejo da condição comunicacional pós-massiva, construindo
seu cotidiano em torno de espaços sociais digitais pós-massivos. De fato, gravita em “um
outro planeta”, como afirma Martín-Barbero:
[...] coletivamente uma ampla escala cronológica [...] Essa faixa etária
indica até que ponto a categoria de idade cultural de 'juventude' se
expande, a fim de abrigar em uma perspectiva global, sujeitos
legalmente reconhecidos como crianças, em outras partes da sociedade,
e outros como adultos, em outras partes da sociedade global.[...]
estamos menos preocupados com o status oficial e mais com as práticas
sociais e culturais nas trajetórias de vida dos jovens. Nosso interesse
reside na construção social da identidade, nos jovens como atores
sociais criativos, no consumo cultural e nos movimentos sociais [...]
(NOLAN E FEIXA, 2006, p.1)42.
41
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Los jóvenes siguen queriendo ser ciudadanos, pero de otro planeta
[2014. 1 post (17min 42s)]. Entrevistador: Omar Rincón. [S.I.]. Entrevista concedida durante I Bienal
Latinoamericana de Infancias y Juventudes. Manizales, Colômbia. Disponível em:
https://www.youtube.com/ watch?v=VdvwSHvEob0 Acesso em: 17 de novembro de 2019.
42 Tradução nossa. No original “By ‘youth’ we refer collectively to a wide chronological scale […]This
age range indicates the extent to which the cultural age category of ‘youth’ has expanded to include some
who are legally recognized elsewhere in society as children, and some who are legally recognized elsewhere
in society as adults. […] we are less concerned with offi cial status, and more concerned with social and
57
Bourdieu, pelo enquadramento da sociologia, define a divisão social por faixas
etárias como arbitrária, uma vez que se define simultaneamente a fronteira social entre a
juventude e a velhice – ou a idade adulta. O autor retoma historicamente os períodos
diversos onde a juventude recebeu conotações e designações sociais várias, dependendo
da cultura da sociedade estudada. Segundo Bourdieu, “a representação ideológica da
divisão entre jovens e velhos concede aos mais jovens, coisas que fazem com que, em
contrapartida, eles deixem muitas outras coisas aos mais velhos” (1983, p. 112).
A partir das mesmas concepções iniciais, o pesquisador Carles Feixa (1998, p.18),
compartilha da compreensão de que a juventude não é um coletivo, mas uma junção de
segmentos diversos em uma dada faixa etária. Porém quando os jovens são classificados
sob uma mesma etiqueta sociocultural, o risco é a generalização de comportamentos ou
concepções sobre a juventude que escondem as dimensões específicas e plurais da
juventude como categoria simbólica e do jovem como ator social.
cultural practices in the life trajectories of young people. Our interest lies in the social construction of
identity, in young people as creative social actors, in cultural consumption and social
movements[…]”(2006:1).
58
[...] das pausadas transições de adolescentes samoanas, para
classificações rígidas por faixas etárias de algumas sociedades de África
Subsaariana, a duração e a própria existência da juventude é algo
problemático. A única coisa que a maioria dessas sociedades
compartilha é o valor dado à puberdade como uma vantagem
fundamental no curso da vida, fundamental para a reprodução da
sociedade como um todo. (FEIXA, 1998:20)43
43 Tradução nossa. No original: “de las pausadas transiciones de las adolescentes samoanas a las rígidas
clasificaciones por clases de edad de algunas sociedades del África subsahariana, la duración y la misma
existencia de la juventud es algo problemático. Lo único que comparten la mayoría de estas sociedades es
el valor otorgado a la pubertad como linde fundamental en el curso de la vida, básico para la reproducción
de la sociedad en su conjunto.” (1998:20)
59
Dos rituais tribais de passagem, aos rituais culturais contemporâneos, a juventude
experimenta dimensões de consumo associadas ao cultural, industrial, midiático e pós-
massivo, (Lemos, 2007), e atrelados às formas de comunicação individual de massa
(Castells, 2009). É desta localização que García Canclini (2008) visualiza e dimensiona
novos aspectos políticos, associando cidadania e consumo, acionados e praticados de
forma híbrida.
No que se refere à categoria simbólica, Feixa lembra que há uma ampla produção
de bens culturais destinada aos sujeitos que envelhecem que se recusam a abrir mão de
seu capital social jovem. De tal forma que não o jovem, mas o próprio conceito de
juventude, se materializa em consumo, tornando-se um forte operador conceitual de
valores no âmbito da oferta de produtos.
60
etária, assim como dos ritos de passagem da juventude. Historicamente a representação
social da juventude oscila por entre uma completa anulação e o protagonismo, na estrutura
social de cada época. É pela afirmação ou contestação, que a juventude constitui a marca
da eterna promessa civilizatória. E, na condição de jovem a ser orientado à idade adulta,
o novo e as novidades são apresentados como aprendizado necessário à construção
cultural deste futuro prometido.
61
2.1. JOVEM, POLÍTICA E CULTURA CÍVICA: DESINTERESSE OU
DESCONEXÃO?
62
Dalhgren propõe uma perspectiva analítica sobre a participação política da
juventude, que não considera os espaços de mediação política e dispositivos tradicionais
de acesso de sujeitos à esfera pública, mas que olha para a cultura cívica, na perspectiva
de interesse “pelos processos através dos quais os indivíduos se transformam em
cidadãos, a forma como se veem a si mesmos como membros e potenciais participantes
no desenvolvimento da sociedade, e o modo como se sustentam estes sentimentos de
fortalecimento do Eu.” (DALHGREN, 2011, p.21).
[...] são também aquelas que mais sentem que as mudanças no sistema
político terão pouco impacto nas suas vidas.[…] verifica-se que
também os jovens sentem que a política convencional é irrelevante para
63
suas vidas e que os poderes estabelecidos nunca lhes dão realmente
ouvidos (DALHGREN, 2011, p.14)
64
poucas palavras, as culturas cívicas incluem os recursos culturais que servem de suporte
para a participação dos cidadãos. Além disso, no mundo moderno, as culturas cívicas
operam, em larga medida, através dos media”. (2011, p. 17)
Por valores, Dalhgren explica que, dado o caráter mobilizador das culturas
cívicas, estas “operam ao nível da realidade quotidiana dos cidadãos, dada como
adquirida ou, utilizando a expressão de Habermas, operam no mundo da vida”
(DALHGREN, 2011, p. 16). De forma que os valores definidores da cultura cívica de
uma sociedade democrática, devem operar em torno do cotidiano de seus cidadãos, no
que diz respeito aos valores de convivência coletiva e pacífica.
65
cívica (cf. Scheller & Urry, 2003; Drotner, 2005; Stalld, 2007; Heike,
2008) (Dalhgren, 2011:22).
Por fim, quanto a identidade cívica, Dalhgren admite que “talvez de uma forma
paradoxal” a identidade cívica “é a dimensão menos provável de ser identificada como
algo pertinente pelos próprios jovens em questão”. (2011, p. 24). No entanto, defende que
esta se torna a dimensão das culturas cívicas que “constitui o recurso mais importante
para a ação”. (2011, p.24). Relaciona esta invisibilidade da própria condição de
participação cívica do jovem, com o fato de “a identidade comportar ressonâncias tanto
de nível individual como coletivo. Podemos mais facilmente identificar e compreender a
nossa afinidade em relação a coletividades específicas, mas cada um especificar
analiticamente o seu próprio sentido de "self" pode muitas vezes ser um grande desafio”
(DALHGREN, 2011, p. 24).
A identidade cívica é que transmite força aos indivíduos, de modo que sintam que
podem participar coletivamente na democracia. Os indivíduos sentem que, em conjunto:
[...] com outros, podem ter algum tipo de impacto na vida política. Até
certo ponto, obviamente, este sentimento de ‘força’ deve ser
experienciado como tendo por efeito algum tipo de resultados. Isto não
significa necessariamente que o impacto desejado se concretize sempre,
mas é importante que os indivíduos e os grupos sintam que os seus
esforços, pelo menos, contribuem significativamente para um dado
contexto político. (DALHGREN, 2011, p. 23)
66
em grupo e disponibilização de materiais informativos digitais, aumentam
consideravelmente as chances de uma participação cívica mais expressiva. No que diz
respeito às disposições subjetivas relativas ao sujeito jovem, Dalhgren (2011) considera
dois conceitos centrais: envolvimento e motivação. “Estes dois conceitos provêm de
diferentes tradições intelectuais, mas creio que, em conjunto, oferecem uma via útil para
observar a participação do ponto de vista da realidade subjetiva do indivíduo.”
(DALHGREN, 2011, p. 24).
67
mulheres, minorias étnicas ou religiosas, imigrantes ou jovens”. (DALHGREN, 2011, p.
16).
Numa sociedade democrática, a comunicação e a informação desempenham
papeis essenciais na cultura cívica, por serem as instâncias de formação desta cultura pelo
sujeito. Nessa perspectiva, a comunicação pós-massiva, estruturada em redes sociais
digitais, oferece possibilidades maiores de ação e participação cívica. Como afirma
Dalhgren: “Estas oportunidades de participação não têm precedentes em termos históricos
– mesmo que permaneçam subutilizadas” (2011, p. 15).
Essa diluição das fronteiras, entre mercado e política, se reflete da mesma forma
no ambiente midiático pós-massivo, onde a cultura cívica e a cultura do consumo se
entrelaçam de forma constante. Neste aspecto, o terreno do consumo midiático oferece
oportunidades várias de envolvimento. Dalhgren cita atrações como Big Brother, ou
Ídolos, ressaltando os aspectos cívicos de motivação, pertencimento e participação,
associados ao midiático.
68
“como a outra face do consumo; ou seja o estudo do consumo objetiva o exercício dela”
(2014, p.55).
De modo que uma parte considerável do mundo cultural e social mais abrangente,
“que se liga com as vidas cotidianas dos indivíduos, bem como com o funcionamento de
grupos, organizações e instituições” (DALHGREN, 2011:17), se define a partir da
condição midiática pós-massiva do sujeito. É inegável o impacto “nas estratégias e nas
táticas da vida cotidiana e dos quadros de referência que lhes conferem significado.
Sobretudo para os jovens […]” (DALHGREN, 2011, p. 17).
69
O desenvolvimento da cultura cívica é “sempre, até certo ponto, um processo de
ação, em que o sujeito está envolvido na autodefinição e na autoprodução de si mesmo,
através de encontros estabelecidos com o ambiente social.” (DALHGREN, 2011, p. 27).
No mundo contemporâneo, a identidade é algo plural, operada de forma diversa pelo
cotidiano a partir das diferentes realidades a que estamos sujeitos, de forma a termos
conosco “diversos conjuntos de conhecimentos pressupostos, regras e papéis de acordo
com circunstâncias diferentes” (DALHGREN, 2011, p. 23), agindo a partir de registros e
contextos distintos e diferentes.
44
Greta Thumberg, jovem sueca, atualmente com 17 anos, eleita pela revista Time, uma das personalidades
do ano de 2019.
70
que se refere à educação, ao ativismo cultural e a liberdades individuais, a participação
cívica da jovem paquistanesa Malala Yousafzai45, hoje com 22 anos.
Para Dalhgren, (2011), as esferas públicas assumem uma perspectiva plural, pois
“constituem também lugares onde os diversos grupos que detêm agendas cívicas e
políticas podem construir e aprofundar as suas identidades coletivas”. (2011, p.13). Em
princípio, as esferas públicas democráticas deveriam existir onde dois ou mais cidadãos
discutam questões cívicas atuais, no entanto, “no mundo moderno, as esferas públicas são
predominantemente constituídas pelos media” (DALHGREN, 2011, p.13). Em essência,
a função democrática das esferas públicas, se define em facilitar a comunicação aos
cidadãos de forma que estes possam influenciar a tomada de decisão política relativa à
sua própria condição cidadã.
Neste sentido – da condição cidadã a partir das esferas pública e privada operadas
pelo sujeito – Adela Cortina vislumbra a cidadania como um conceito dependente por
completo de marcações geopolíticas do espaço e tempo modernos. Tempo que não mais
existe para uma cidadania que pouco alargou suas fronteiras, tornando-se insuficiente
para oferecer as mesmas garantias universais que o consumo já oferece há bom tempo,
pela convergência midiática. Nas palavras de Cortina, o conceito de cidadania representa
“o reconhecimento oficial da integração do indivíduo na comunidade política,
45
Malala Yousafzai, jovem ativista paquistanesa, que com 17 anos, foi a mais jovem ganhadora de um
Nobel na história, ao receber o Prêmio Nobel da Paz de 2014.
71
comunidade que, desde as origens da era moderna, adquire a forma de Estado nacional
de direito”. (CORTINA, 2005, p. 31). Fazendo coro com Leblanc46, Cortina reforça que:
46 “A ciência política nos diz muito pouco sobre como os sujeitos percebem sua cidadania”. (Tradução
do autor, no original: “polítical anthropologist Robin Leblanc is right to suggest political science tells us
little about how people ‘perceive their citizenship.”(1999:7) apud Couldry, Livingstone e Markham
(2010:4)
72
globalizado, como a liberdade e igualdade de gêneros e etnias, ainda são reivindicações
correntes em outras nações.
Como afirma Cogo:
47
COGO, Denise, A Comunicação cidadã sob o enfoque do Transnacional, in Intercom – Revista
Brasileira de Ciências da Comunicação São Paulo, v.33, n.1, p. 81-103, jan./jun. 2010. 2010, p.87-88).
48
Tradução nossa. No original: “ En la última década del siglo xx se puso de actualidad un término tan
antiguo como el de «ciudadanía» en esa área del saber que los anglosajones designan con el vocablo Morals,
y que tiene por objeto reflexionar tanto sobre la moral como sobre el derecho y la política. Se han
multiplicado las «teorias de la ciudadanía», y en los discursos morales, en el amplio sentido mencionado,
menudean las referencias a ella: ciudadania política de los miembros de un Estado nacional, ciudadanía
transnacional, en el caso de comunidades supraestatales como la Unión Europea, ciudadania cosmopolita,
como referente necesario de una república mundial.Que razones abonan la deslumbrante actualidad de un
tan afiéjo concepto?”)
73
com um déficit de adesão dos cidadãos ao todo da comunidade e, sem
essa adesão, é impossível responder em conjunto aos desafios
colocados a todos.(CORTINA, 1997, p. 20).49
49 Tradução nossa. No original: “[…] la necesidad, en las sociedades postindustriales, de generar entre
sus miembros un tipo de identidad en la que se reconozcan y que les haga sentirse pertenecientes a ellas,
porque este tipo de sociedades adolece diáramente de un déficit de adhésion por parte de los ciudadanos
al conjunto de la comunidad, y sin esa adhésion resulta imposible responder conjuntamente a los
retos que a todos se plantean”. (1997:20)
74
Ao repensar a cidadania em conexão com o consumo e como estratégia política,
García Canclini (1997) busca por “um marco conceitual em que possam ser consideradas
conjuntamente as atividades do consumo cultural que configura uma nova dimensão de
cidadania” (GARCÍA CANCLINI, 1997, p.24). Em sintonia com a reflexão de Dalhgren,
(2008), o autor observa que a revisão dos vínculos entre Estado e sociedade não pode ser
feita sem levar em consideração as novas condições culturais de rearticulação entre o
público e o privado” (GARCÍA CANCLINI, 1997, p. 24).
50
Tradução nossa, no original: “Public connection”(2010:3).
75
A primeira assunção considera que, como cidadãos, compartilhamos
uma consciência ao universo da coisa pública, onde questões
compartilhadas são, ou deveriam, ser articuladas: a esta consciência,
denominamos como ‘conexão pública’. A segunda assunção é de que a
conexão pública é sustentada principalmente pela convergência
midiática consumida pelas pessoas. Juntas, estas duas assunções
implicam à noção de “conexão pública mediatizada” A questão
investigada por este livro é até que ponto a conexão pública mediatizada
existe além da literatura acadêmica, na prática cotidiana da vida
mundana.51(2007:3).
51
Tradução nossa. No original: “Two assumptions are involved here wich provide, in effect, th bottom line
of most polítical science and polítical theory, and indeed much media research. The first assumption is that,
as citizens, we share an orientation to a public world where matters of shared concern are, or at least
should be, addressed: we call this orientation as ‘public connection’. The second assumption is that public
connection is principally sustained by a convergence in the media people consume. Taken together, this
two assumptions imply the notion of ‘mediated public connection’. The question which this book
investigates is wether mediated public connection exists beyond the academic literature and in the practice
of everyday life”( 2010:3)
76
3. CONSUMO, REDES SOCIAIS E CIDADANIA, NO COTIDIANO DOS
JOVENS DA ZONA LESTE:
De forma que o campo que divisamos para estudar estes 26 jovens estudantes se
define tanto pelo espaço social urbano da Zona Leste de São Paulo; quanto pelo espaço
social digital das redes sociais Instagram, Facebook e Twitter. São estes os espaços sociais
que pesquisamos a fim de evidenciar a constituição individual de cidadania, suas
mobilizações; e a ação coletiva por parte destes jovens. Milton Santos (1996) afirma que
um território é caracterizado pela forma como os espaços e lugares são ocupados e
utilizados pelos indivíduos que o constituem. Assim, se a constituição de um território –
e sua permanência como tal – se definem a partir da ação efetiva dos sujeitos que o
ocupam, podemos compreender que território, como afirma Lopes, : “é [...] um espaço
mediado pelas representações construídas por um determinado grupo ao estabelecer seu
poder frente a outro e que se apropria do espaço como forma de sua expressão e
projeção52” (2007:80).
52
LOPES, J.J. 2007. Reminiscências na paisagem: vozes, discursos e materialidades na configuração das
escolas na produção do espaço brasileiro”. In: J.J. LOPES; S.M. CLARETO (orgs.), Espaço e educação:
travessias e atravessamentos. Araraquara, JM Editores, p.73-98.
77
Na constituição urbana esta marcação territorial define não apenas a zona
ocupada, mas principalmente, a condição civica destas ocupações. Como afirma Souza
Santos:
As próprias cidades hoje são atravessadas por uma lógica de território
que se torna fracturante, e que cria dentro delas uma linha abissal entre
as zonas que eu chamo civilizadas, das urbanizações que são cada vez
mais contra o espaço público (condomínios fechados), e as zonas
selvagens onde vivem as classes populares nos subúrbios, nos guetos e
nas favelas”. (SOUZA SANTOS, 2014, p. 171)
78
nos espaços – urbano e conectados – observados, que guardam relação com o consumo
midiático.
A moratória social a que se refere Feixa (1998), quando remete à juventude como
uma categoria, nos parece ser a principal marcação inerente aos 26 sujeitos da pesquisa:
Indivíduos em condições familiares e sociais adequadas para se dedicarem
exclusivamente à educação formal como modo de alcançar autonomia econômica futura.
No que se refere à faixa etária, temos apenas 01 jovem com dezoito anos de idade. 03
jovens possuem dezessete anos e outros 03, quinze anos. Outros 19 jovens possuem 16
anos ou mais. Dos 26 jovens participantes da pesquisa, 23 deles, com dade acima de 16
anos poderiam ter votado na última eleição para a Presidência da República e governos
estaduais, realizada em 201853. Número que, certa forma, poderia sugerir a condição de
compromisso, de conexão pública destes jovens pelo exercício maior da cidadania em
democracias ativas.
No entanto, descobrimos pelas entrevistas, que apenas uma jovem declarou ter
votado nestas eleições. A respostas de outros 22 jovens com idade suficiente para
participar do pleito, apontavam para duas justicativas para não terem votado: a de tempo,
para providenciar o título eleitoral, e a falta de informação sobre prazos e locais para
requerer o título. Pudemos observar ainda, que o cotidiano específico destes jovens –
marcado por oito horas diárias de estudo e algo como uma a duas horas de deslocamento
diário – não deixa muita margem para esta ação política autônoma de requerer o título e
comparecer à votação. Ao contrário, seria uma ação mobilizada a partir dos pais, como
ocorreu com ELA01, que requereu seu título em prazo adequado e cadastrou a biometria
como forma de voto. Assim uma primeira impressão do campo no aspecto da cidadania,
foi a distância estabelecida pelos jovens entre a cidadania do cotidiano da Zona Leste e a
cidadania nacional, participativa pelo voto e voz política.
53
Entre 16 e 18 anos, o jovem brasileiro pode optar por votar ou não. Após os 18 ano o
compromisso se torna obrigatório em todo o Brasil, por conta da legislação eleitoral.
79
enquanto 15 deles, de escolas particulares, até serem aprovados no vestibular de ingresso
à ETEC-MLK. O que os distingue, no ambiente escolar, é o sentido de pertença à
instituição e à confiança na qualidade da formação em período integral recebida. Em
relação a isso, os estudantes do primeiro ano evidenciam um maior orgulho em pertencer
à ETEC -MLK. Como respondeu ELA01 em entrevista: Quem está aqui, passou que nem
a gente, pelo vestibular (Entrevistada ELA01). ELA01 é residente em Guaianazes, onde
também se formou no Ensino fundamental completo, em escola pública.
80
Imagem 1 - Ele 03- Guarulhos – Twitter: Depoimento acerca do deslocamento urbano
Oriundos de todas as áreas da Zona Leste, estes jovens sinalizam a distância física
– entre as residências e a ETEC MLK – e também a distância social da cidade – pela
geografia de suas residências. Assim, no marco da complexidade econômica e política do
arranjo social urbano, temos 23 jovens residentes em 09 dos 34 bairros da região da Zona
Leste de São Paulo e 3 deles no município de Guarulhos, vizinho à zona leste da cidade.
No quadro a seguir, o detalhamento das singularidades relacionadas a cada jovem:
81
Quadro 4- Perfil - Sexo, idade, série escolar, raça, orientação sexual, bairro de residência, origem
escolar, tempo de transporte, horário de despertar, religião.
São jovens que residem tanto nas regiões de elite econômica da Zona Leste –
como Tatuapé, Vila Carrão e a Mooca – quanto nas regiões de padrão socioeconômico
mais baixo54, como Itaquera, Artur Alvim e Guaianazes. De forma que, para os quatro
jovens que residem na região da Mooca, seu trajeto diário até a escola varia entre 20 a
35 minutos por trecho. Para três deles que residem na região de Aricanduva, Vila Formosa
e Vila Carrão, os deslocamentos variam entre 10 a 45 minutos por trecho, enquanto que
para os dois jovens que residem na região de Guaianazes a viagem por trecho, dura entre
70 a 100 minutos. De Itaquera, região onde residem cinco jovens, o percurso varia entre
54
Itaquera, Artur Alvim e Guaianazes são áreas que apresentam indicadores sociais de alto risco,
sendo representadas na mídia pelo aspecto de violência e risco social urbano.
82
15 a 40 minutos e da região da Penha, onde oito deles residem, entre 20 a 50 minutos. De
Sapopemba, onde mora apenas um jovem, o percurso até a escola incluir um tempo de
60 a 75 minutos por trecho de deslocamento diário. E ainda há três jovens residentes no
município vizinho de Guarulhos que declaram levar entre 55 a 80 minutos em
deslocamento por trecho.
55
São Paulo conta com 11.2 milhões de habitantes em 1.526 Km2 de área metropolitana e
densidade media demográfica de 7.365 Habitantes por Km2, composta por 32 sub-prefeituras e 96 bairros.
A cidade tem o conceito de administração regional, centralizando bairros em subrefeituras e estas em zonas
cardeais. Fonte: IBGE, em: https://censo2010.ibge.gov.br/ acessado em: 29/11/2019.
56
A Zona Leste de São Paulo equivale a 13 sub-prefeituras, distribuídas por 348 Km2 em 39 bairros, com
população total de 4 milhões de habitantes, e densidade media da região em torno de 58% maior que a
média da cidade, com 11.643 habitantes por Km2Fonte: IBGE, em https://censo2010.ibge.gov.br/ acessado
em: 29/11/2019.
83
amadurecimento social. No cotidiano, observamos o trânsito juvenil entre a cidadania
apreendida e sua realidade, vivenciada na Zona Leste paulistana. É no espaço social
urbano – e seus deslocamentos residência-escola-residência – que este jovem esbarra sua
singularidade em atritos e conflitos de tratamento cidadão, fazendo-o renegociar sentido,
prática e pertencimento cidadão.
84
Quadro 5 - A percepção de discriminação sofrida pelos 2017 entrevistados, em relação a origem de seus
endereços de moradia pela cidade de São Paulo
85
Ainda, pelo Quadro 6 a seguir, podemos compreender a Zona Leste da cidade
como a região mais populosa da cidade, sendo residência de 35,1% da população de São
Paulo, capital; seguido pelas Zona Sul, 31,9%; Zona Norte, com 26,1 %; Zona Oeste,
com 9,1 % e, por fim, a região central, com apenas 4,2% da população residente.
Quadro 6 - Distribuição da população residente na cidade de São Paulo entre as regiões definidas.
Quadro 7 - O mapa da morte; relação de latrocínios - assalto seguido de homicídio por região e por
distrito na cidade de São Paulo.
86
As marcações locais são determinantes, pois situam o indivíduo pela região onde vive.
ELA10, por exemplo, residente no bairro da Penha, faz questão de não expor seu endereço
de residência: eu não sei se publiquei sobre isso, mas acho que o lugar onde eu moro, só
meus amigos reais sabem (Entrevistada ELA10).
Assim como para ELA03, residente em Artur Alvim, uma das regiões relacionadas à
violência urbana, como veremos adiante. Na imagem a seguir, um post publicado em seu
perfil na rede social Twitter, ilustra o deslocamento como espaço social urbano destes
jovens.
87
Quadro 1 - Letalidade policial por região da cidade de São Paulo
88
Imagem 3 - ELA11 – Aricanduva – Twitter – imagem selfie dela e ELE03 com legenda.
Fonte: O autor,(2020).
Por todo o quadro que encerra o cotidiano urbano da Zona Leste pudemos
apreender realidades sociais diversas, desde um esforço familiar coletivo para viabilizar
a permanência do jovem na ETEC-MLK, até um elevado consumo global familiar – com
viagens à Disney e Nova York, restaurantes e espetáculos culturais diversos. Certa forma,
a dimensão familiar regula a dimensão de acesso e consumo cultural e midiático, senão
pela orientacão e influência cultural, ao menos na estrutura das condições conectivas que
estes jovens dispõem.
89
3.2.2. A FAMÍLIA.
Como primeira instância formativa da cultura cívica do indivíduo, a família têm
grande influência na maneira com que estes jovens constituem e operam sua cidadania,
através do cotidiano. Pela família, se conformam as primeiras orientações sobre questões
raçiais, classe social, crença religiosa e influência cultural. É também pela família que
estas percepções de condução ética coletiva são questionadas quando estes jovens
constituem um espaço individual de acesso e prática social, confrontando suas escolhas
com os valores familiares de partida. Levantamos dados sobre a composição familiar dos
jovens, tanto a partir das respostas em questionários, quanto pela percepção aprofundada
nas entrevistas, incluindo, dentre outros, a presença de pai e mãe no lar, irmãos, grau de
parentesco de familiars que residem na família e gerações envolvidas.
90
Outro aspecto diferencial observado nas composições familiares destes jovens, é
a quantidade de pessoas que residem na mesma casa, a partir dos graus de parentesco, de
atividades cotidianas e de hábitos familiares constituidos. Dos 26 jovens, nove vivem em
uma família com cinco membros; sete jovens fazem parte de uma unidade familiar com
quatro membros, seis sujeitos possuem uma família com três membros. Há ainda, ELA08
e ELA16, que dividem a família apenas com um responsável, a mãe e a avó,
respectivamente. Da mesma forma, que temos em ELA02 e ELE02, os maiores núcleos
familiares, com sete integrantes de várias gerações – pai/mãe, avós/tios, primos.
Jovens de famílias com cinco a sete integrantes, declaram uma convivência mais
intensa com os integrantes mais velhos – pais, avós, tios e primos – sobretudo no consumo
midiático massivo a partir da televisão aberta – especialmente de telejornais durante a
semana e de transmissões esportivas nos finais de semana.
91
Quadro 3 - Estrutura familiar – presença de ambos os responsáveis na casa dos sujeitos da pesquisa.
PAI E MAE PRESENTES 19
PAI AUSENTE 4
MÃE AUSENTE 3
Fonte: O autor, (2020).
92
Imagem 4 - ELE03- Guarulhos – Twitter – post e comentário, sobre cheiro de maconha em casa
Ainda pela estrutura familiar verificada, metade dos jovens da pesquisa está
inserida em uma unidade familiar cujo chefe da família têm um nível de educação formal
circunscrito ao Ensino Fundamental I e II completos – ou equivalente - ao que o jovem
focalizado nessa pesquisa está matriculado hoje – Ensino médio ou Ensino Médio
Técnico completo. Há, portanto, uma maior presença de pais – cerca de 50% – que
concluíram o Ensino Médio/Médio Técnico, seguida por cerca de 35% que apresentam
formação Superior completa e por fim, cerca de 15% dos pais ou responsáveis com uma
formação básica de Ensino Fundamental I e II completo, conforme podemos observar
pelo quadro a seguir:
Quadro 4- Nível de Ensino formal dos pais ou responsáveis pelos sujeitos da pesquisa.
Para muitos dos jovens inseridos nessas famílias, o desejo que manifestaram,
conforme indicam os dados empíricos, é serem os primeiros de suas famílias a terem
acesso ao Ensino Superior. Outros 13 jovens, cujos pais ou responsáveis têm uma
93
educação formal de nível superior – Graduação e Pós-graduação – a perspectiva de capital
social adquirido, gera a expectativa manutenção desse capital social.
94
as notícias da primeira hora na televisão: Algumas vezes é minha mãe que vem aqui falar
as notícias porque chega de madrugada e liga o jornal. Daí me chama pra ver na
televisão (Entrevistada ELA06). Prática comum também para ELA02, a quem o pai é a
referência em termos de consume de informação midiatica é sempre seu pai: Minha fonte
de checagem é meu pai, que passa o dia no computador no trabalho. Então sempre checo
com ele antes (Entrevistada ELA02).
57
Alunos de escolas públicas e privadas disputam cada uma das 80 vagas anuais do curso médio
técnico de administração de empresas com especialização em vendas ou em marketing.
58
Ao se inscrever para as provas vestibulares da ETEC, o aluno define em qual ETEC e curso
médio técnico deseja concorrer, de forma que a ETEC MLK de fato, possui um alto volume de inscrições
de jovens de toda a Zona Leste e municípios vizinhos.
95
Imagem 05: ELA07- Itaquera – Facebook –celebrando o destaque da ETEC MLK na rede social
Facebook
Imagem 06: Ela 09- Tatuapé – Twitter –depoimento; visita Instituto Fernando Henrique Cardoso.
96
Imagem 07: ELA06- Penha – Twitter – post depoimento após visita Instituto Fernando Henrique
Cardoso
Imagem 08: Ele 02- Tatuapé – Twitter – posts depoimento após visita Universidade São Judas –
Economia.
Nos três registros anteriores de postagens dos jovens dessa pesquisa, são
destacados dois momentos deste acesso cultural fornecido pela ETEC-MLK: a visita ao
Instituto Fernando Henrique Cardoso, onde puderam conhecer o ex-presidente do país –
(postagens de ELA09 e ELA06) – e um relato da visita técnica realizada à Universidade
São Judas – (postagens de ELE02).
97
Imagem 09: Ela 15- Vila Carrão – Twitter –visita ao Facebook em S. Paulo – Zona Sul.
98
Para os sete sujeitos que têm seu espaço social urbano ampliado por atividades
formativas cívicas extra-escolares, três estudam outro idioma, o inglês – ELA09, ELA15
e ELE03. Apenas dois sujeitos – ELA17 e ELE02 – praticam esportes de forma regular:
atletismo e basquete, respectivamente. A dança é atividade realizada por uma jovem -
ELA02, que pratica ballet, e ELA06, que pratica dança contemporânea. A música, a partir
do aprendizado de um instrumento, está no cotidiano de ELA02, e ELE03, através de
aulas de violão. ELA02 possui uma rotina de atividades extra-escolares mais intensa:
além de ballet e violão, pratica canto, duas vezes por semana. ELE03 frequentou por cerca
de cinco anos o escotismo em Guarulhos, vínculo que mantém ocasionalmente, quando a
tropa é convocada para atividades voluntárias e sociais. Para os outros 19 jovens, a rotina
semanal está limitada às atividades escolares e domiciliares e aos deslocamentos urbanos.
99
3.2.4. CONDIÇÕES A ACESSO E CONEXÃO DIGITAL.
100
Através das condições de conexão, dimensionamos o território informacional
(LEMOS, 2007) de cada um dos 26 jovens, como parâmetro de acesso e pertencimento
ao espaço social urbano e digital. Assim, o smartphone 4G se configura como principal
dispositivo de conexão para os 26 jovens. Além do Smartphone, sete dos 26 jovens
também possuem, para uso pessoal e exclusivo, um computador desktop. Enquanto que
11 deles, possuem além do smartphone, um laptop ou notebook portátil; 10 deles têm,
além do smartphone, o videogame para conexão e apenas três jovens possuem além do
smartphone, um tablet para realizarem suas conexões.
Uma das evidências deste modo de consumo operado pelos jovens, está na
postagem de ELE03, em seu perfil ativo no Twitter. ELE03 escreve: “Bom de chegar
antes das 7:30 é q eu pego o wi-fi só p mim e consigo baixar série p assistir no caminho
de volta p casa”. – ELE03 – Guarulhos – Publicação no Twitter. ELE03 gasta cerca de
60 minutos por trajeto, entre sua residência e a ETEC-MLK.
101
Em função de suas propriedades de remediação ( BOLTER & GRUSIN, 2000), o
espaço social digital possibilita ao jovem conectado acesso contínuo e constante a
conteúdos midiáticos que circulam pelas redes sociais digitais. Conteúdos originais, que,
a partir de situações e contextos expecíficos de cada jovem, são remediados, apropriados
e transformados em outro contexto.
Imagem 11: ELE03 – Guarulhos – TWITTER: Remediação política: personagem Max Steel associado a
prisões política e cultural.
102
individual, levantamos também como se dão as práticas cotidianas de consumo
midiático– se individual ou coletivamente ; e também com qual frequência – no decorrer
da semana e nos finais de semana.
Muitos destes jovens têm seus hábitos de consumo midiático divididos entre o
modo massivo e o pós-massivo, condicionados tanto por suas condições de conexão
quanto pela forma como a família participa e intervém nesse consumo. Quando coletivo,
esse consumo midiático não significa necessariamente, para os jovens, uma opção ou
interesse, mas ocorre mais em função dos horários comuns da família quando se encontra
para as refeições e consome a televisão aberta
Para ELA01 por exemplo, a televisão não tem nada que eu goste, então não vejo.
Mas de vez em quando, acompanho minha mãe vendo a novela, só para ficarmos juntas.
(Entrevistada ELA01) ELA02, por outro lado, declarou que nunca começa a consumir
notícias pela busca na internet, pois espera as recomendações enviadas diariamente pelo
pai, que opera como referência para o consume midiática.
59
Trend topics: a rede social Twitter oferece diariamente, uma relação de “trend topics” – notícias mais
marcadas em tempo real, dentro da rede social Twitter.
103
jogo, musica, twitter, Instagram, Facebook (ELA10). Ao perguntarmos se ELA10 usa
mais o celular ou a televisão,’ responde: 100% mais no celular do que na televisão, uso
o celular para ver programas de televisão (Entrevistada ELA10).
104
O consumo midiático massivo dos jovens sinaliza a preferência por gêneros como
o jornalismo e as transmissões esportivas, motivados pelo próprio contexto de consumo
familiar. Alguns jovens admitem, ainda, o consumo de novelas, para desfrutarem de um
momento coletivo em família.
A partir das respostas acerca das práticas de consumo midiático destes jovens,
perguntamos, em entrevista individual, sobre o receio em relação ao consumo e
compartilhamento de fakenews e, em caso positivo, quais as formas de checagem destes
conteúdos. Dos 26 jovens, 22 deles afirmam se preocupar com fakenews e realizar
checagens a partir da fonte, autoria, data e título das notícias, mas efetivamente apenas
dois jovens – ELA12 e ELE07, afirmaram conhecer e utilizar o site boatos.org.br60 como
verificador de notícias falsas. Assim, dos 4 jovens que não se preocupam em verificar as
notícias que consomem – ELE01, ELE02, ELE03, e ELE09 – os argumentos apresentados
como justificativa para não realizar a checagem foram bastante semelhantes: os quatro
jovens afirmam consumir notícias apenas a partir das mídias massivas – em especial a
televisão aberta. E respondem de forma semelhante a ELE09, nesta questão: Como vejo
as notícias pela televisão, não tenho porque conferir se são falsas (Entrevistado ELE09).
60
O site www.boatos.org é uma iniciativa particular, de cinco jornalistas brasileiros, que se dedicam a
verificação e denúncia de fakenews, na mídia brasileira. Desde 2018 tiveram um aumento de consultas,
proporcional ao aumento do volume de notícias faltas que se passou a ser publicada a partir do início das
campanhas eleitorais a presidência do Brasil.
105
pelas redes Instagram e Facebook, mas apenas por 24 horas. São também avidamente
contabilizados pelas quantidades de views e likes, em clara mensuração de audiência.
Das três redes sociais digitais e pós-massivas que estamos trabalhando nesta tese,
embora o Instagram seja a mais ativa com 24 jovens mantendo atualizados seus perfis, as
evidências extraídas do campo em relação aos conteúdos publicados se mostraram em
menor número do que o material coletado no Facebook e Twitter. No Facebook, temos
20 jovens com perfil ativo, e no Twitter, 15 jovens ativos.
106
Considerando a quantidade de tempo que estes jovens empregam nos
deslocamentos pela cidade e dentro da ETEC MLK, as possibilidades de consumo
midiático se expandem: o jovem acessa e consome o que desejar, quando e como desejar.
O tempo, fragmentado pelo cotidiano deste jovem, se torna outro aspecto da comunicação
midiática pós-massiva ainda mais atraente. Produções Netflix costumam apresentar
episódios entre 20 a 60 minutos, correspondendo ao tempo de deslocamento da maioria
dos jovens que se utilizam de transporte público multi-modal para ir a ETEC-MLK.
A questão da privacidade ou exposição nas redes sociais, para estes jovens foi um
aspecto importante da entrevista individual semi-estruturada. Por este aspeto, pudemos
observar que a condição de utilização das redes sociais por cada jovem está diretamente
associada à maneira pela qual este jovem vivencia seu espaço social urbano. Pois, em
espaços sociais digitais como Instagram, Facebook e Twitter, a condição de midiatização
constante demanda que sejam publicadas as ações cotidianas deste jovem, acompanhadas
por marcações sociais que referenciam a cena retratada – local, hora, dia, companhias,
preço, importância do fato – a fim de receber em retorno, marcações sociais de
visualização e apreço social –quantidade de likes, comentários e compartilhamentos
recebidos.
107
não dispõe: o jovem pode tornar seu perfil fechado, protegendo-o de visualização pública
e garantindo acesso restrito apenas a quem deseja interagir a partir dos conteúdos
publicados.
Quando perguntamos aos jovens se havia receio em se expor nas redes sociais
digitais, tivemos 18 jovens que admitiram ter receio da exposição digital e oito jovens
que não se preocupam com a questão. No entanto, observamos que, mesmo entre os
jovens que afirmaram não ter receio de se expor, existe uma cautela em relação a qual
rede social será utilizada para qual conteúdo. Assim, eles diferenciam o nível de
exposição pessoal em função dos contatos que possuem em cada rede. Nas palavras de
ELA14: Eu não tenho mais receio não! Agora no Twitter, você pode postar o que quiser,
porque a família não está lá. No Facebook eu só olho, compartilho pouco. Compartilho
mais do que escrevo autoral.( Entrevistada ELA14).
Visão compartilhada também por outros jovens, que não usam o Facebook – rede
acessada por seus colegas de escola, familiares, grupos sociais religiosos, esportivos,
artísticos, culturais e sociais. – para publicações conteúdos relacionadas a perspectivas de
sua vida privada– como a sexualidade. Ou, quando usam, esses temas não são tratados
em primeira pessoa autoral no Facebook, como fazem em outras redes. Como afirma
ELA10:
Eu tinha mais receio, não queria postar muita coisa, mas agora ainda
mais no Twitter que é um lugar muito aberto, você coloca tudo de boa,
no Facebook não chego a compartilhar muita coisa, eu tinha mais
medo de mexer nos lugares. Eu leio mais do que publico, eu não publico
autoral, compartilho mais do que escrevo, e mais vejo que compartilho.
(Entrevistada ELA10).
108
A condição de exposição pública do Facebook, no sentido de que todo usuário
têm seu perfil localizável – ainda que protegendo os conteúdos dentro dele – gera uma
cautela maior entre os jovens que a utilizam, especialmente em determinadas questões,
como a política. Para ELA02, a condição de exposição pública no Facebook se torna um
risco social alto, a partir da prerrogativa de que as críticas abertas tendem a ser agressivas,
especialmente se a temática envolve política, sociedade, crenças ou opções individuais de
comportamento:
Eu já fui mais de compartilhar coisas, hoje nem tanto, meu Instagram
era cheio quando era mais nova, hoje em dia não compartilho mais, seis
fotos no Instagram e Facebook, quase nada. Passei a não me expor mais,
acho que não é necessária, e dependendo, é estranho, por exemplo,
política, nunca fiz comentários ou publicações, porque acho que temos
que ter essa privacidade. Se tivesse que falar, tinha que ter muita certeza
do que falo. Publicando gera polêmica, uma amiga minha, criticavam
ela forte por apoiar o Bolsonaro. Ela compartilhou muita fake news a
respeito, quero fazer o contrário dela, melhor evitar, para não ter
dissabores. (Entrevistada ELA02).
Para ELE04, que só possui um perfil ativo na rede social Instagram, o receio de
se expor vai além de tornar seu perfil privado – apenas quem ELE04 autoriza, podem ver
os conteúdos publicados – uma vez que utiliza a rede social Instagram como canal privado
e não público, acerca de seu cotidiano: Tenho bastante receio de me expor, eu tenho
instagram, minha unica rede social, mas eu posto coisas tipo bem reservadas, e é privado,
só coloco meus amigos, eu não gosto de me expor (Entrevistado ELE04).
Para ELA03, ELA05 e ELA08, o receio em se expor é real, mas não é maior do
que o desejo de estar presente e atuante na rede. As três jovens reconhecem que não tem
jeito, posto assim mesmo (Entrevistada ELA03). Já para ELE01, esta questão de
109
exposição pública faz com que os conteúdos postados sejam dirigidos a redes diferentes.
Ambos os jovens reconhecem no Twitter, a condição privativa do perfil fechado como
confortável para publicarem seus conteúdos, mas operam com mais cautela nas outras
redes. Depende de onde eu me exponho, por exemplo, Twitter, que eu tenho fechado, eu
me exponho mais. Facebook, que eu nem uso mais, so compartilho umas coisas de
interesse, música ou filme (Entrevistado ELE01).
ELE02, por outro lado, não tem mais receio de se expor, considerando a
privacidade que o perfil fechado do Twitter oferece, mas ao mesmo tempo, expressa um
outro medo: Não, porque o Twitter hoje em dia pros jovens é uma rede pra gente
desabafar sempre, mas eu tento tomar cuidado pra não atingir as pessoas de uma forma
negativa (Entrevistado ELE02).
Percebemos, também, que o espaço social digital de ELA03 é operado a partir das
posições sociais que a jovem entende mais ou menos consolidadas. O pensamento em
formação, o questionamento ou a crítica formulados por ELA03 ficam reservados ao
110
perfil fechado no Twitter, enquanto aquilo que já está assimilado por ELA03, como valor
e crença pessoal, podem ser midiatizados no Facebook e Instagram da jovem.
111
Quatro sujeitos possuem apenas um perfil ativo na ambiência digital social do Instagram.
Não por acaso, o Instagram é a rede social digital mais adotada pelo universo dos 26
sujeitos, totalizando 24 perfis. Uma das principais razões por essa prefgerência , é a
característica do Instagram de poder exibir conteúdos curtos – uma foto, texto ou vídeo
rápido – por um período de 24 horas, quando o conteúdo é perdido e deletado.
No quadro a seguir, temos relação completa dos perfis ativos por jovem e suas principais
marcações para cada rede social digital, observada no espaço social digital dos jovens
estudantes:
Quadro 16 - Redes sociais ativas por sujeito da pesquisa para Facebook, Twitter e Instagram
112
No Facebook, averiguamos as quantidades de contatos de cada perfil, volumes de
postagens, e marcações de check in, onde o jovem marca os locais onde esteve e registra
sua presença naquele momento. No Twitter, averiguamos as quantidades de seguidores
do perfil, de postagens e de perfis seguidos pelo jovem. No Instagram, verificamos o
número de seguidores do perfil, de postagens fixas e de perfis seguidos pelo sujeito61.
No quadro a seguir, a relação dos dez perfis com maior audiência em cada uma
delas:
Quadro 8 - Os 10 perfis com maior audiência de seguidores nas três redes e os sujeitos correspondentes
61
Cabe a ressalva de que, em termos qualitativos, os números de audiência observados em cada
perfil – a quantidade de outros sujeitos que seguem este perfil e a quantidade de perfis que este sujeito
segue – tendem a nublar peculiaridades e formas de utilização destas ambiências sociais digitais.
113
midiático compartilhado, estão notícias, quizzes, memes, piadas, frases, citações,
ilustrações, efemérides e depoimentos. São conteúdos que legitimam publicamente o
percurso social realizado pelo indivíduo, girando em torno de conquistas pessoais, de
consumo, referências de estilo – moda, arte, música, ideologias. São temas midiatizados
pelos jovens, na intenção de se midiatizarem eles próprios em torno da publicação.
A única motivação aparente das redes sociais digitais é o fato de que quem ali
está, quer tanto ver conteúdos, quanto ter seus conteúdos visualizados. No entanto, o
volume de publicidade, que no Facebook e Instagram é relativamente alto, em relação aos
conteúdos não comerciais ou publicitários, faz com que cada uma das redes adote
funcionalidades de origem, e funcionalidades de expansão de uso, conforme detalharemos
a seguir
114
As temáticas postadas observadas nos stories são visibilizadas em rápidos takes,
momentos de inserção social e simbólica dos sujeitos, modos de consumo cultural e
prazer estético – o novo: penteado, tênis, visual de looks e make ups daquele instante;
roupa nova, sempre referenciando momentos de êxito e inserção social dos usuários. E,
claro, sempre avaliados a partir do desempenho obtido na quantidade de likes que cada
story alcança.
115
Dos 26 perfis mantidos pelos jovens no Instagram, 24 são perfis ativos – que
indicam postagens ou interações pelos menos uma vez por semana. Os outros dois jovens,
embora tenham o perfil funcionando, jamais publicaram algum conteúdo. O que também
caracteriza outro tipo de usuário no Instagram: o que vai à rede a fim de ver, mas não de
ser visto.
ELA02, também possui perfil ativo no Instagram e age como a maioria dos mais
de 66 milhões de brasileiros que utilizam o aplicativo social62. No perfil de ELA02,
podemos acessar fotografias e montagens audiovisuais em videoclips rápidos,
apresentando ELA02 em poses de retrato. São apenas 06 imagens postadas pela jovem
em seu perfil. Há imagens de seu cotidiano social como eventos e festas, onde se encontra
bem produzida e maquiada, imagens de cotidiano cultural e de lazer, como espetáculos
de Dança e viagens à Disney e à Nova York. Um aspecto também importante do
Instagram, que podemos verificar no perfil de ELA02 se refere ao fato de que, embora a
jovem disponibilize apenas seis imagens suas, essas imagens estão relacionada a outras
32 imagens onde foi marcada pelos outros usuários de sua rede.
62
Dados de outubro de 2018, acessado em 03/01/2020.
Disponível em: https://napoleoncat.com/stats/instagram-users-in-brazil/2018/10
116
ELA04, por sua vez, afirma utilizar o Instagram como sua principal ambiência
social digital, na qual percorre todos os dias, os conteúdos postados pelos 316 perfis que
acompanha. No entanto, ELA04 não tem nenhum post publicado no Instagram, assim
como também não tem nenhum post onde é marcada por outros usuários de sua rede.
ELA12, que também possui perfil no Instagram – além do Facebook – tem uma
página com 46 publicações próprias e 36 publicações onde foi marcada. Nada diferente
em termos de conteúdo, do que nos apresenta ELA02, como momentos de destaque
social, confraternização entre pessoas queridas, sorrisos, intimidade cotidiana, alguns
lugares de destaque em visitas escolares – como o Facebook – algumas imagens de pôr
do sol.
117
Imagem 14 – ELA12 – Telas de publicações e de marcações – Instagram.
ELA01 também opera ativamente seu perfil do Instagram, sendo a jovem que mais
publicações fixas apresenta: 115. Mas, diferente da maioria dos jovens que pesquisamos,
para ELA01, pouco interessa exibir-se em modo selfie, ostentar consumo, pertencimento
ou diferença social, conforme podemos observar na imagem a seguir, onde vemos duas
telas com as publicações da jovem:
118
Imagem 15 - ELA01–Guaianazes–Telas de seu perfil Instagram
63
Dados de outubro de 2018, acessado em 03/01/2020, em: https://napoleoncat.com/stats/facebook-users-
in-brazil/2018/10
119
quanto pelas várias formas de interação social oferecidas a partir da página de perfil dos
usuários como publicação de conteúdos e quizzes pessoais, marcações de check in, troca
de mensagens instantâneas diretas, transmissão “live”, video-chamadas, ligações
telefônicas, montagem de grupos de discussão – públicos e restritos.
120
O Facebook eu uso pra compartilhar memes e dando “haha” na
postagem dos outros, uso mais como lazer mesmo. Raramente posto,
não gosto de expor opinião minha, prefiro ficar quieta. Também não
comento posts dos outros. O Instagram, meu uso é mais pessoal mesmo,
coisas minhas, fotos, viagens, acho que uso mais pra uso pessoal
(Entrevistada ELA02).
A análise dos perfis das duas jovens, na área de check ins, nos permite, ainda,
comparar a diferença de quantidade e variedade de atividades realizadas por ambas as
jovens que foram visibilizadas na rede social. Assim, ELA02 – imagem da esquerda –
soma 243 registros, em 158 lugares diferentes. Entre eles, cidades estrangeiras como
Nova York e Miami nos Estados Unidos, praias no litoral paulista, Escola de Samba,
restaurantes e locais internacionais. Enquanto ELA12 – imagem da direita – conta com
28 registros de em 10 lugares; sendo quatro registros relacionados a ETEC-MLK, um
registro ao condomínio residencial onde vive, um registro de atividade cultural no
Belenzinho – Zona Leste de São Paulo e quatro registros relacionados a viagens ao
Balneário Camboriú e Penha - SC.
121
Imagem 16 - ELA02 – Itaquera e ELA12 – Vila Matilde – Facebook – “check in” de locais visitados.
Fonte: O autor.
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Como formas de interação entre seus usuários, o Twitter apresenta as
possibilidades de marcação, compartilhamento e comentários nas postagens, o que faz
com que haja um grande número de interações entre os usuários – em apoio ou crítica
aberta ao conteúdo postado por seus autores. O Twitter oferece, ainda, aos usuários a
possibilidade de marcarem os conteúdos com hashtags, ou “#” seguido da marcação
desejada. O que impulsiona diversas campanhas e causas sociais e cidadãs, a partir da
adesão pública no uso das hashtags, ampliando alcance e impacto das postagens.
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vezes ao dia, contextualizando seu estado de espírito, a partir das situações vivenciadas
por eles. O desabafo social, a partir de discriminação e preconceitos vividos e a
sinceridade em relação ao risco social que enfrentam em situações cotidianas, também
são publicações dos jovens bastante encontradas no Twitter. Ainda, e talvez mais
importante a esta tese, são as reflexões sobre como estes jovens operam individualmente
sua cultura cívica, de maneira autônoma à família e escola.
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Imagem 17 - ELA06 –Penha – Twitter – Post Religião – violência política: Crítica.
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cidadão na internet?”; “Suas telas digitais ajudam você a ser cidadão?” – com os dados
registrados na observação não participante nos ambientes da ETEC MLK.
Quando ELE09 afirma, em entrevista, que: […] as pessoas como cidadãs, elas
podem fazer o que querem, contanto que aquilo não atinja a outra pessoa, então eu como
cidadão posso ter meu senso crítico sobre outras pessoas (Entrevistado ELE09) , temos
a expressão do conceito de responsabilidade coletiva a partir da ideia de que a Liberdade
de um termina onde começa a Liberdade do outro. ELE09 relaciona, ainda, os critérios
que utiliza para avaliar o que seria o certo e errado no campo do comportamento:
Isso é certo? Isso é normal, é normal de uma pessoa ter senso crítico
de várias coisas, muitas das matérias estão ai pra gente trabalhar isso,
mas o errado começa no momento em que eu prejudico outras pessoas
com o que eu acho certo, eu forçar a minha verdade, meu certo, em
cima de outras pessoas (Entrevistado ELE09).
Nessa perspectiva, foi possível observar também que a cidadania, para muitos
destes jovens, se constitui a partir de conceitos desenvolvidos no contexto familiar. Os
relatos dos jovens evidenciam que a cidadania implica na compreensão do coletivo e o
em comum como uma dimensão relevante da vida social. O coletivo e o respeito ao outro,
acima da noção do indivíduo, é uma constante na definição de cidadania para vários dos
126
entrevistados, conforme ilustram os depoimentos a seguir: […] é você entender que não
está sozinho, mesmo estando sozinho. É preciso exercer certas coisas na vida que eu não
quero fazer, pensando no bem comum. É voce entender que é uma peça numa mecânica
inteira que é a sociedade, o país, o mundo (Entrevistada ELA01); […]você ter cidadania,
é saber conviver e respeitar as outras pessoas e seus limites (Entrevistada ELA02); […]
a maior definição de cidadania é saber viver com os outros. Quando pratico cidadania
pratico para os outros, por isso é uma coisa coletiva (Entrevistada ELA06); [...] você
saber se comportar em sociedade, não pensar só em você, e fazer as coisas que te fazem
sentir bem também (Entrevistada ELA07); cidadania pra mim é o jeito que a pessoa se
comporta em relação a sociedade, eu quando saio na rua, quando estou em um meio, o
que vou fazer, vou falar as atitudes que tenho, que fazem minha cidadania (Entrevistada
ELA09).
A conceituação da cidadania para estes jovens sujeitos também está diretamente
associada à segurança social de que cada um dispõe, vinculada à família ou ainda à rua e
bairro onde reside. Foi possível perceber uma sensibilidade em todos os 26 sujeitos frente
às situações de exclusão e insegurança social cotidianas – preconceitos racial e de gênero,
violência, discriminação social e econômica.
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O que nos levou a considerar em qual ou quais dimensões de seu espaço social
urbano, este jovem opera sua cidadania? Até onde o pertencimento cidadão destes jovens,
compreende o local e o nacional, mas também se estende a contextos globais? Na
dinâmica aplicada em entrevista individual para observar este aspecto, aplicamos uma
escala crescente de dimensões sociais, as quais o jovem deveria relacionar em quais delas
sente que tem participação ativa, ou seja, que sua voz é escutada e sua opinião e voto
considerados. Foram 12 dimensões sociais empregadas na escala: Família, Escola,
Turma, Tribo, Grupo, Bando, Clube, Cidade, Estado, País, Mundo e Planeta.
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Quadro 18 - Escala de pertencimento cidadão dos sujeitos, a partir de 12 âmbitos socio-políticos
crescentes
Acho que tenho voz mais ativa quanto a amigos, na família não. Existe
uma hierarquia, não há facilidade em falar com a minha mãe sobre as
opiniões, daí que pra evitar o choque, prefiro expor o que falo aos
amigos do que à família. Na escola nem sempre a gente pode ter
opinião, muitas vezes sou coagida pela hierarquia de novo. Na cidade
não, sozinha não, mas em conjunto talvez possa pertencer mais. Eu não
me mobilizo em manifestações e participações públicas. Assim, lá onde
eu moro, as pessoas não protestam (Entrevistada ELA01).
129
sujeitos consideram que têm uma instância ativa de cidadania, enquanto apenas 11
sujeitos se identificam com “Grupo”, bem como com “Bando64”. Apenas três sujeitos
reconhecem o “Clube” como instância ativa de cidadania – o que está relacionada à
limitada quantidade de jovens que praticam atividades culturais e cívicas complementares
à escola.
Por sua vez, a dimensão física da “Cidade” se mostra relevante para apenas três
jovens, enquanto que, para 23 deles, a instância da cidade, ao contrário, representa não
uma dimensão física de cidadania ativa, mas sim de distanciamento. Como podemos
observar pela resposta de ELE06: […] cidade não, a minha cidade é muito grande, minha
presença não tem tanta importância, não saio, eu moro num condomínio grande, minha
mãe prefere que eu fique dentro dele, então não saio, não tenho essa conexão com a
cidade (Entrevistado ELE06).
[…] acho que de todos, o que eu mais pertenço acho que é “Escola” e
“Turma”, contando os amigos de escola e de fora dela. Em alguns
aspectos sou respeitado com cidadão, mas em outros não. Por exemplo
a causa da maconha – pela liberação do uso medicinal da maconha e
sua descriminalização – tem uma representatividade, mas é pouca,
perante todo mundo (Entrevistado ELE05).
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A intenção do pesquisador foi relacionar as dimensões físicas, a partir da linguagem praticada
pelos jovens, assimilada a partir da observação não participante. Notadamente, os termos associados aos
grupos cotidianos de afinidade e atividades se mostram as instâncias mais ativas e próximas a todos os
sujeitos
130
Acho que sou representada como cidadã, porque as pessoas ao redor,
o jeito que me porto, a gente procura sempre crescer neste aspecto um
ensinando o outro e cada um fazendo seu papel. Na família sempre, na
escola, quando era particular, não sentia que fazia diferença, aqui na
Etec sinto que faço mais a diferença; Turma com certeza me sinto
perteNcente acho que o círculo de amigos me faz feliz e me da
importância. Às vezes a gente é educado pra nunca ser o cara lá, mas
eu acho que a gente pode sim, ser. Me sinto importante no Mundo,
Estado País, Planeta. Me sinto importante, porque eu tenho essa
consciência, porque tipo, se eu quiser posso conseguir isso, não por
mérito, mas por querer fazer a diferença (Entrevistada ELA09).
131
espaço social digital, até como forma de resistência a partir da circulação midiática das
informações e notícias.
O que, certa forma, estimulou a emergência do uso do espaço social digital das
redes, como forma de resistência cultural – veremos isso adiante, nas formas de
mobilização e ação cidadã. Dentre as temáticas mais caras a estes jovens, além da política
e eleições, estão as questões dos direitos das minorias raciais, de gênero e de classes
sociais mais baixas.
132
E se para ELA01, o racismo é uma questão de silêncio e convívio, para ELA03,
é assunto de família, escola e midiatização pelo Twitter. Em uma postagem, ELA03
compartilha o seguinte conteúdo: “ Minha e tia e negra e filha de branco com negro, casou
com uma cara branco,ai a ilha deles nasceu super loira. Ela esses dias quis mata uma
mulher que disse que ela era baba da menina, em um hospital “melhor chamar a mae da
criança dona” eu pensei que ela ia bater no ser”. Em seguida escreve: “isso aconteceu
com a minha mãe quando meu irmão nasceu, ela negra e ele loiro, no mercado comprando
fralda, elogiaram falando que ele era lindo e ainda perguntaram pra ela ‘você é a babá?’
E a mulher ainda quis paquerar meu pai que estava junto. Isso entristece minha mãe até
hj”.
ELA10 – também negra – compartilha em seu Twitter, outro episódio: “Gabriel é
preto, tava fazendo fotos e foi denunciado como suspeito. Procurou a delegacia e foi
aconselhado a ‘andar com um certificado de algum curso de fotógrafo, um crachá, nota
fiscal da câmera, e andar acompanhado’ Nenhum branco precisa disso mas o preto precisa
PROVAR”. A postagem que ELA10 compartilhou, obteve até então, 58 comentários,
6.400 compartilhamentos e 22.800 curtidas.
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Na imagem a seguir, podemos observar dois conteúdos compartilhados por
ELA07: à esquerda, em seu Twitter, compartilha o post do próprio DJ Renan da Penha
sobre sua libertação, que recebeu ao todo, 1.600 comentários, 45 mil compartilhamentos,
e 193 mil curtidas. À direita ELA07 compartilha em seu Facebook, matéria jornalística
do portal Quebrando o Tabu, dando como fato jornalístico a presença de Maju Coutinho,
como primeira apresentadora negra do Jornal Nacional em 50 anos, que recebeu 19
curtidas.
ELA07 de fato, se mostra ativa e mobilizada, tanto em espaço social urbano, quanto em
espaço social digital, frente a temáticas relacionadas às questões raciais. A seguir, o
conteúdo publicado pela jovem relacionado ao caso do senhor que foi alvejado no Rio de
Janeiro com 80 tiros disparados por uma patrulha do exército:
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Imagem 19 - ELA07 – Itaquera – Facebook – compartilhamentos do disparo de 80 tiros pelo exército, no
Rio de janeiro, em direção a uma familia negra, em batida policial.
Fonte: O autor.
Não podemos deixar de mencionar que ELA07 também midiatiza um episódio bastante
relevador do racismo cotidiano, uma abordagem policial que vivenciou junto com um
colega negro. ELA07 – branca – relata na postagem sua completa surpresa ao comprender
que aquele tratamento que vivenciou como exceção em seu cotidiano, é na verdade,
rotina para o colega negro.
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imagens, e o texto diz: “Ano passado Marielle foi morta com 5 tiros na cabeça Há 6 meses
um jovem negro asfixiado até a morte no Extra Há 04 meses uma familia negra levou 80
tiros Mês passado um garoto com chuteira na mão Ontem um chicoteado nu Se vc não vê
racismo no Brasil, ou você é cego ou é mau caráter”. Na segunda postagem também no
Facebook, ELA14 reproduz a notícia do negro que foi chicoteado nu. Na imagem, vemos
as costas chicoteadas do negro que sofreu a violência e o texto que diz: “Quando um
jovem negro, nu, amarrado, amordaçado, é chicoteado dentro de um supermercado por
roubar chocolate, sem nenhuma indignação da sociedade... O RACISMO NO BRASIL
FICA ESCANCARADO”.
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A midiatização, pelos jovens, de conteúdos sobre relações de gênero, como a
questão LGBTQI +, o assédio sexual, a violência contra a mulher, o feminismo pode ser
observada nas postagens em suas redes sociais. Dos 26 jovens, 13 postaram sobre
feminismo, com 49 registros, enquanto 14 sujeitos postaram sobre assédio sexual, com
37 registros. Ainda em relação à orientação sexual, embora apenas 11 dos 26 jovens se
declarem homossexuais, as temáticas são sensíveis para 16 jovens – quando relacionadas
à violência de gênero – e a 17 deles, quando relacionadas à homofobia.
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acontece qd vc apoia quem fere sua existência. fica o alerta pros lgbts e outras minorias
pró-bozo”.
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publicações dos jovens, no Facebook, a respeito destas declarações ministeriais,
realizadas por Damares Alves, Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos
do governo Bolsonaro, – uma de ELA08, outra de ELA07.
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O presidente brasileiro Jair Bolsonaro não apenas ordenou a retirada da campanha, como
criticou publicamente sua realização.
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Imagem 23 - ELA15– Vila Carrão – Facebook – compartilhamento conteúdo marca Burger King a favor
das minorias LGBTQI+, e comentário de aprovação de ELA15.
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Imagem 24- ELE04– Penha – Twitter – compartilhamento publicação portal G1 sobre decisão Tribunal
Justiça RN, obrigando o Estado a aceitar doações de sangue de pessoas de todas as orientações sexuais.
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ELE09 compartiha diversos conteúdos acerca da homofobia e repressão de gênero
em suas redes. No Facebook, ELE09 compartilha manchete do portal de internet Huff
Post Brasil, com o título: “O que deveria escandalizar a Igreja não é duas mulheres se
beijando, mas sendo agredidas”. O post refere-se a perspectiva da violência de gênero,
conferida em episódio no qual duas jovens lésbicas foram agredidas de forma ostensiva,
por estarem se beijando. ELE09 mantém uma série de publicações sobre relações de
gênero, dentre as quais algumas que levantam questionamentos sobre repressão e
opressão das instituições a direitos conquistados.
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Imagem 26 - ELE09 – Guarulhos – Facebook – compartilhamento matéria ONG TODAS FRIDAS,
acerca do ciclo social repressivo a condição profissional de pessoas Trans.
Outro episódio que mobiliza os jovens para a questão de gênero foi aquele
ocorrido na cidade do Rio de Janeiro quando o prefeito Crivella, proibiu, durante a
Bienal do Livro, que fossem comercializados livros com conteúdo LGBTQI+, se
utilizando do aparato policial para invadir o espaço do evento e recolher todas as
publicações.
O episódio foi acompanhado por ELE04 que fez uma série de publicações em seu
Twitter, relatando a situação de repressão policial, e, em seguida, o movimento contrário,
realizado pelo Youtuber Felipe Neto, ao adquirir 14 mil livros da temática LGBTQI+e
distribui-los gratuitamente em frente ao prédio da Bienal do livro.
São duas postagens com maior volume de conteúdo do que normalmente ELE04
publica ELE04 em seu Twitter. Na primeira delas, ELE04 compartilha uma publicação
que recebeu pela sua rede, de alguém que, ao compartilhar a postagem de Felipe Neto,
comenta sobre o conteúdo: “EXISTE JUSTIÇA NESTE CARLHO DESTE PAIS, OU
VAMOS TER Q PARTIR PRA UMA GUERRA CIVIL?!? Alô @STF_oficial PQP
HEIM”. Na postagem compartilhada Felipe Neto – youtuber de grande influência jovem
– escreve: “Os agentes do Crivella estão cheios de sacos para remover todos os livros
143
com conteúdo LGBT! ATENÇÃO TODOS, FILMEM CADA AÇÃO DOS AGENTES!
FILMEM TUDO!!”. Acompanhando o texto, duas imagens da ação policial.
Ao compartilhar este conteúdo, ELE04 faz outra publicação autoral onde escreve:
“E essa mobilização toda desse prefeito só mostra a porra do retrocesso, IRMÃO JÁ
ESQUECERAM DO SE FERE MINHA EXISTÊNCIA SEREMOS RESISTÊNCIA? Ele
tá basicamente eliminando cultura q reconhece nossa existência e isso é só o começo,
ficar calado ou ceder pro retrocesso amores”. O compartilhamento e legenda de ELE04
neste conteúdo, gerou um comentário, dois compartilhamentos e duas curtidas.
144
Imagem 27 - ELA04- Vila Matilde – Twitter – Conteúdos compartilhados, acerca da moral em relação a
conduta de liberdade sexual da mulher.
145
As questões de violência contra a mulher, assédio, legalização do aborto e tratamento
misógino e machista se articulam nos conteúdos postados. Na imagem a seguir,
exemplificamos com o post que ELA07 compartilha, acerca da atitude masculina e
feminina, ante uma gravidez indesejada.
Imagem 28 - ELA07- Itaquera –Facebook, conteúdo compartilhado e comentado, sobre posições sociais
feminina e masculina em relação ao aborto e ao direito de abortar
Imagem 29 - ELA10- Penha – Twitter, conteúdo compartilhado sobre posições sociais feminina e
masculina em relação ao assédio sexual.
146
Fonte: O autor.
Imagem 30 - ELA15- Vila Carrão e ELA14 –Itaquera – Facebook, mesmo conteúdo compartilhado
sobre a desigualdade de gêneros pelo profissional.
147
ELA11 é a jovem mais ativa no compartilhamento de conteúdo sobre as questões
de gênero relacionada aos direitos da mulheres, com um total de 20 publicações entre as
que escreve e as que compartilha. Na imagem a seguir, ELA11 compartilha em seu
Twitter, publicação da revista Veja, com citação do então Ministro da Justiça brasileiro a
favor do porte de armas ser ampliado ao cidadão comum:
148
Imagem 2 - ELA17 – Vila Carrão – Twitter – compartilhamento de conteúdo que documenta assédio no
metro de Brasília, a denúncia realizada por aplicativo, e a remoção do problema masculino, dentro do
vagão feminino
Fonte: O autor.
149
Imagem 3 - ELA15 – Vila Carrão – Facebook – compartilhamento de duas publicações, uma sobre
machismo e misoginia do candidato a presidência de extrema direita, e outra sobre o abandono paternal.
ELA06, publica em seu Twitter, reflexão sobre o descaso que ocorre diante do
assédio contra as mulheres, inclusive, nas dependênciasda ETEC MLK. Em seu post, não
há imagens associadas, apenas o texto escrito por ela: “ É frustrante demais ver uma
escola fechar os olhos pra casos de assédio dentro dela. Eu realmente não consigo
entender o porquê de quererem esconder tanto a ponto de esquecerem a saúde física e
mental das alunas que são as mais vítimas em toda história. Hoje percebi o quanto +”.
150
São postagens autorais e biográficas, nas quais percebemos o assédio, a violência
contra a mulher, o machismo e as condições estruturais a partir mesmo do espaço social
urbano – desde o familiar e escolar – em torno da formação do indivíduo pela igualdade
de gêneros, lugar e papel da mulher na sociedade.
Pela perspectiva masculina dos jovens da ETEC MLK, a partir dos conteúdos
relacionados à temática feminista, podemos destacar a publicação de ELE03, no Twitter,
sem imagens, apenas com seu texto: “Como vou falar pros caras respeitar as mina se eles
vivem num campeonato de punheta?” pela qual, obteve 03 curtidas.
151
A desigualdade de classes sociais é também um tema relevante para, pelo menos
onze dos 26 jovens do universo da pesquisa – cerca de 42% – e é um tema que parece
refletir diretamente as temáticas do racismo, da diferença e a violência de gênero.
evidenciando a fragilidade do entorno social e político onde estão inseridos os jovens que
demarca suas percepções sobre a cidadania nacional, especialmento após a posse do novo
presidente.
152
Imagem 33 - ELA07 – Itaquera – Facebook – compartilhamento de posts revista VejaSP, sobre
desigualdade social e cerceamento de liberdades individuais
ELA09, por exemplo, publica em seu twitter: “Só orgulho dos meus amigos
turando 800/900 nas redações! ISSO MESMO MIGOS, TIREM AS VAGAS DOS
BURGUESES”. ELA11, em duas publicações no Twitter, relaciona o apoio aos colegas
que prestarão o ENEM, com o seguinte texto: “Boa sorte pra todos que vão fazer a fuvest
hj Lembrem-se que essa vaga é de vcs por direito e nenhum burguês safado vai pegar ela
de vcs pq vcs são fodas. HOJE É DIA DE TIRAR BURGUÊS DA UNIVERSIDADE
PUBLICA. Foco total, amo vcs”. E na segunda publicação, ELA11 compartilha, em
janeiro de 2019, postagem antiga: “Metas para 2018: 1- Não se apaixonar; 2- Não deixar
um burguês pegar minha vaga na faculdade”.
153
“meme” a respeito do universo elitizado da universidade privada – no caso, a
Universidade Presbiteriana Mackenzie – tradicional instituição de ensino superior na zona
central da cidade. Em ambos os casos, podemos observar tanto a seriedade em relação à
temática e sua dimensão de cidadania; quanto o caráter lúdico, de ironia, de remediação,
tão própria das redes sociais digitais. Em ambas, na imagem a seguir, podemos perceber
o sentido de distância e exclusão socio-econômica operado por ELE01:
154
BURGUESES”. Na imagem a seguir, ELA06 compartilha no Twitter, um post do Jornal
O Estadão sobre a desigualdade de classes sociais envolvidas nesta disputa, e escreve:
“estatísticas que chocam zero pessoas mas meritocracia existe sim gente fica na paz”:
Imagem 35 - Ela 06- Penha – Repost e comentário sobre desigualdade social no vestibular de ensino
superior.
155
Em outra postagem, ELA11 compartilha em seu Twitter o conteúdo do perfil
versátil radical, ironizando a figura do jovem branco, classe média e alto poder de
consumo, com a seguinte legenda: “que classe média é essa que pega HB20 zero com 18
anos kk”:
Imagem 36 - ELA11 – Aricanduva –Twitter – compartilhamento e comentário: diferenças de
classe social
156
Imagem 5 - ELE03 – Guarulhos – Twitter – Manchete jornal Folha de S. Paulo e comentário autoral.
Fonte: O autor, (2020).
Imagem 38 - ELA04 – Vila Matilde – Twitter – Compartilhamento de Post com reflexão política acerca
dos padrões de consumo acima dos seus
66
Entre 16 e 18 anos, o jovem pode optar por votar ou não, após os 18 anos o compromisso se torna
obrigatório no Brasil, por conta da legislação eleitoral.
157
a ideia de ser um voto em milhões que mudam um país, não me senti solitária, mas achei
que não tinha tanta importância do que deveria ter (Entrevistada ELA01).
Desta forma, notamos uma forte afinidade dos jovens com o discurso social do
candidato petista Fernando Haddad67. Ainda, após as eleições e a posse do novo governo
eleito de extrema direita, observamos o aumento expressivo na quantidade de conteúdos
midiatizados de forma crítica, irônica, amedrontada, e em tom de preocupação em relação
à conduta do novo governo de extrema direita
67
Na disputa dos segundo turno das eleições presidenciais de 2018, estiveram os candidatos Fernando
Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT), e Jair Bolsonaro, do Partido Social Liberal (PSL)
158
Atentos e críticos, os jovens passaram a se preocupar também com a verificação
da veracidade das fontes das notícias e informações que compartilham– ratificando a
adoção de práticas informais de checagem de fakenews, anteriormente mencionadas
durante a entrevista. Assim, quando perguntamos sobre consumo midiático, relacionamos
também algumas práticas conhecidas de checagem, como o cruzamento de fontes
diferentes para a mesma notícia; a credibilidade da fonte da notícia – autor e veículo; o
exagero em adjetivos e exageros em manchetes e títulos; a leitura completa antes do
compartilhamento; a busca reversa pela imagem associada à postagem e, por fim, o acesso
a sites especializados, como boatos.org.
159
Ao midiatizar o retrato político do seu tempo, o jovem midiatiza também sua
reflexão e ressignificação cotidianas da cidadania que constitui e opera socialmente.
Cidadania que se esfarela pela dureza das reformas impostas na economia, no trabalho e
na previdência; na saúde e na educação em nível federal.
Imagem 6 - ELA04- Vila Matilde – Twitter – comentário crítico e compartilhamento de post de extrema
direita, difamando candidato da esquerda, sua esposa e a candidata a vice-presidente.
160
Imagem 7 - ELA11- Aricanduva – Twitter, 2 conteúdos criticando o candidato de extrema direita e
apoiando o candidato de esquerda
Fonte: O autor (2020).
161
no Twitter, se mostra bastante irritada com o post do Presidente eleito, sobre os cortes e
redirecionamentos politicos dados à educação superior no Brasil:
162
Imagem 43: ELE04 - Penha – Twitter – contraponto do discurso opressor da direita e discurso midiático
oficial.
Nas práticas de mobilização cidadã verificadas junto aos 26 jovens desta pesquisa,
tivemos a oportunidade de observar a ocorrência de duas formas de ação pelo espaço
social digital dos 59 perfis ativos nas redes sociais Instagram, Facebook e Twitter. Aqui,
desconsideramos as diferentes características midiáticas de cada rede, para nos
concentrarmos nas ações de cidadania verificadas pelo questionário, entrevistas e
observação realizados. Divisamos então, duas modalidades de ação, a partir do
comportamento cotidiano destes jovens em espaço social digital: 1) A comunicação
cidadã nas redes sociais através da qual o jovem compartilha, autora e remedia nas redes
sociais conteúdos relacionados à cidadania ou se engaja em campanhas digitais (abaixo-
assinados, petições, etc.; 2) A ação cidadã fora das redes sociais na qual o jovem participa
e atua realizando uma ação cidadã
Como forma de ação cidadã, a comunicação cidadã nas redes diz respeito ao
processo midiático cotidiano, de compartilhar, autorar e remediar conteúdos que
promovam a cidadania defendida pelo jovem, a partir de seu espaço social digital.. O que
163
significa muitas vezes, para estes jovens, apenas o compartilhamento de uma causa, sem
que haja maior comprometimento direto com a cidadania midiatizada em seu perfil. O
Facebook se mostra mais associado a esta prática, tanto pela condição mais exposta dos
jovens, ante seus contatos familiares, escolares e institucionais, quanto pela autonomia
com que este jovem configura sua cidadania. Na imagem a seguir, dois posts de ELA07,
em seu Facebook, Ambos os posts são relacionados ao cachorro “Manchinha”, um vira-
lata, morto de forma cruel e violenta pelos seguranças do supermercado Carrefour de
Osasco –região distante da Zona Leste, onde ELA07 reside e estuda. Na imagem à
eaquerda, ELA07 compartilha notícia do Estadao, sobre iniciativa de uma fábrica de
cervejas, para gerar renda para a causa da proteção aos animais. Na imagem à direita,
ELA07 compartilha outra postagem do Estadao, noticiando o desfecho jurídico da
crueldade infringida ao cão “Manchinha”. Não são eventos próximos a ELA07, pela
localização no espaço social urbano de São Paulo, mas mobilizam a jovem a compartilhar
a postagem, a partir da causa de proteção aos animais, como aspecto de cidadania.
Imagem 44 - Ela 07- Itaquera – Twitter – 2 compartilhamentos de ações de resposta ao caso do “cachorro
do Carrefour”.
164
jovem, que podem relacionar seu universo de consumo cultural – games, séries, filmes,
música, quadrinhos, animações, etc – de forma a dar um sentido e orientação claros para
a remediação praticada.
Na comunicação cidadã nas redes sociais, em alguns, os jovens não apenas remediam,
mas criam seu próprio conteúdo autoral, vinculando-se pessoalmente à causa cidadã que
promovem. Não se trata de remediação – apropriação e ressignificação de conteúdos – mas
de criar ele próprio, a postagem completa, seja áudio, vídeo, imagem, texto ou a combinação
destes elementos.
165
Na imagem a seguir, postagem autoral de ELA10, acerca do Dia Internacional da
Mulher, e a situação extrema de violência de gênero, mobilizando uma comunicação cidadã
de caráter autoral:
Imagem 46: ELA10 – Penha – Twitter Autoral - Violência de gênero – dia internacional da mulher.
Além disso, pudemos observar, nessa modalidade de ação cidadã nas redes, a
predisposição dos jovens da pesquisa a se engajarem em abaixo-assinados e petições on
line68, Change,org, Avaaz.org, são alguns dos websites que oferecem condição de
produzir um abaixo-assinado ou uma petição pública que são conhecidos destes jovens,
que costumam divulgar suas ações e campanhas. Nesta condição, o jovem tanto pode
assinar petições e abaixo-assinados que visualiza, como criar seu próprio instrumento
coletivo, divulgando-o para atingir sua meta em assinaturas.
68
Outras formas de ação cidadã pelas redes sociais têm sido o crowndfounding/ crowndsourcing, prática
autônoma e coletiva pela qual diversos indivíduos contribuem com recursos financeiros para materialização
de uma ação cidadã efetiva no espaço social urbano. No entanto, nenhum dos jovens da pesquisa declararam
participação nessa modalidade.
166
Imagem 47 - quatro publicações mobilizadoras para participação em abaixo-assinados para causas
relevantes aos sujeitos, promovidos por ELE03, ELA07 e ELA15.
Todas estas ações cidadã, foram observadas no Facebook – que por ser a rede
social com mais usuários das três, e ainda, a que, entre as três, oferece mais condições de
exposição pública e, portanto, se torna o espaço social digital ideal para estas ações.
ELE03 compartilha e endossa petição coletiva no site change.org, para levar à justiça
americana dois jovens que cortaram as orelhas de um filhote de cachorro. ELA07, e
ELA15, através da plataforma Avaaz.org, criaram elas mesmas, seus abaixo-assinados.
ELA07, em defesa de um cão no prédio vizinho, que fica todo o dia preso e solitário na
sacada. ELA15 criou um abaixo-assinado em protesto contra o desmatamento da
Amazônia. ELA07 também compartilhou petição coletiva da Avaaz.org que reivindicava
a reabertura do projeto social GURI, do Governo do Estado de São Paulo, voltado a
menores carentes no estado.
167
[...] por exemplo, está surgindo a petição para irem atrás do cachorro
do carrefour. ... e ano que vem vai ter a marcha da maconha, pra
pressionar o uso medicinal, então é uma causa que eu apoio e vou atras
pra poder defender minha posição. Mesma coisa esse caso do
cachorro, é uma causa a favor dos animais, então eu fico atrás e vendo
pela internet, pelos amigos, alguns mandaram a petição pra assinar,
então eu fui junto, e pretendo compartilhar também, ainda não deu
porque recebi ontem a notícia, mas vou sim (Entrevistado ELE05)
168
Imagem 8 - ELA10 – Penha –Facebook – Post onde ELA10 foi marcada; relata a emoção desta mãe,
pela conquista da filha e colegas, ao concluírem a formação
169
Imagem 49 - ELA15– Vila Carrão – Facebook – Post depoimento de ELA15, sobre a formação
vo;luntária realizada ao final de 2018.
Enquanto ELA15 relata pessoalmente o quanto sua cultura cívica se ampliou pela
formação a partir das pessoas a quem se integrou, das capacidades que desenvolveu e da
perspectiva de ação cidadã representada pelo voluntariado, ELA14 se mostra mais
engajada ao projeto, pelo conteúdo que publica, referenciando a continuidade do projeto
em função da confiança e credibilidade alcançada, e comemorando a formatura de “mais
19 palhaços voluntários”:
170
Imagem 50 – ELA14 – Itaquera – Facebook – Post onde ELA14 comemora a formação voluntária
recebida
171
para os treinos. É muito bacana poder ensinar o esporte as
crianças, mas não penso em publicar nada nas redes ainda. A
gente tem um trabalho grande pra fazer funcionar todo sábado.(
Entrevistado ELE02).
Fonte: O autor,(2020).
172
policial foi, meu pai é advogado, e ele nem é... menti e respondi, realizei meu sonho de
princesa”. Este post apresenta dois comentários e sete curtidas.
Interessante que, embora ELA07 tenha publicado que não sabia o que fazer no
momento, sua atitude imediata foi de se interpor entre a opressão policial e seu colega
negro: “Eu nunca tinha presenciado uma situação de racismo tão discrepante, a cena mais
horrível da minha vida Como milituda respondi pro policia e levei meu primeiro
enquadro, faria novamente” Este post recebeu 18 curtidas para ELA07.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
173
diferenças. Articulações que se materializam através do interesse demonstrado pelos
jovens no consumo das redes sociais para a visibilidade e posicionamento sobre questões
vinculadas às relações raciais e de gênero e à desigualdade social.
Ainda que, nessa pesquisa, tenhamos assumido a premissa de uma conexão digital
intermitente, sem limites de alcance geográfico, volume de dados ou quantidade de
pessoas conectadas, não podemos desconsiderar a condição dos algoritmos que
direcionam a lógica dos acessos, dos conteúdos, e da interação midiática pós-massiva. Da
mesma forma, entendemos também que as barreiras econômicas de acesso e
conectividade eclipsam o conceito amplo de democracia participativa pela perspectiva do
consumo.. E, neste aspecto, devemos sempre considerar o consumo com uma certa
cautela, pelo fato de que estas três redes sociais digitais observadas – Instagram, Facebook
e Twitter – serem empresas privadas, com objetivos de mercado, que se sobressaem,
antes mesmo de se considerar que tenham vocação política para promover a interação
entre o jovem e sua esfera política de cidadania.
174
Das experiências dos 26 jovens que constituíram o campo empírico desta tese,
pudemos observar ainda, que a conexão pública midiatizada, operada em modo midiático
pós-massivo, fortalece tanto condição de uma cidadania autônoma orientada pelo espaço
urbano e operada a partir da perspectiva comunalista e coletiva, quanto abre a condição
da diferença individual na construção de uma cidadania global. No entanto, o estudo
também trouxe evidências de que a condição midiática pós-massiva de consumo dos
jovens parece apontar para a predominância de mobilizações e ações desses jovens
circunscritas a redes sociais digitais e seu exercício ainda incipiente em contextos sociais
e urbanos que extrapolem os espaços sociais digitais.
175
BIBLIOGRAFIA
APPADURAI, Arjun; A vida social das coisas: as mercadorias sob uma perspectiva
cultural. Rio de Janeiro: Editora Univ Federal Fluminense, 2008.
BARBOSA, A. ICT Kids Online Brazil: Survey on internet use by children in Brazil.
São Paulo: Cetic.br. disponível em :” http:// cetic.br/media/docs/publicacoes/2/tic-kids-
online-2018.pdf.
176
COGO,Denise e BRIGNOL, Liliane Dutra. Redes sociais e os estudos de recepção na
internet. Revista Matrizes, São Paulo, Ano 4 – nº 2 , p. (75-92), jan./jun.
CORTINA, Adela. Cidadãos do mundo: para uma teoria da cidadania. São Paulo:
Loyola, 2005.
177
FEIXA Carles; NILAN, Pam. “¿Una joventut global? Identidats híbrides, móns plurals”.
Revista d’Educació Social, Barcelona, Fundació Pere Tarres, 43. p. 73-87. 2006.
LIVINGSTONE, Sonia. Children and the Internet, Cambridge: Polity Press, 2009.
178
LOPES, Jader Janner Moreira. Reminiscências na paisagem: vozes, discursos e
materialidades na configuração das escolas na produção do espaço brasileiro. In:
___________; CLARETO, Sonia Maria (orgs.), Espaço e educação: travessias e
atravessamentos. Araraquara, JM Editores, p.73-98.
MARGULIS, Mario; e URRESTI, Marcelo. La juventud es más que una palabra¡Error!
Marcador no definido. In: MARGULIS, Marcelo. La juventud es más que una palabra.
Ensayos sobre cultura y juventud. Buenos Aires: Biblos. 2008. P. 13-30.
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Jóvenes: comunicación e identidad. Revista Pensar
Iberoamérica, Madrid, Numero0, Fevereiro, 2002. Disponível em:
https://www.oei.es/historico/pensariberoamerica/ric00a03.htm. Acesso em: 25/10/2019.
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Políticas de la comunicación y la cultura: Claves de la
investigación. Barcelona, CIDOB, 2008.
179
RODRIGUES, João Victor. A pesquisa etnográfica e a gramática dos sentimentos:
Introdução à antropologia das emoções através das mídias sociais. In: Silva, Tarcízio.;
Buckstegge, Jaqueline e Rogedo, Pedro. (Orgs). Estudando cultura e comunicação
com mídias sociais.IBPAD, Brasília, 2018. p. 67-79.
TURKLE, Sherry. Alone together: Why We Expect More From Technology and Less
From Each Other. Nova York: Basic Books, 2011.
180
5 APÊNDICE A - Termo de parceria e protocolo de pesquisa firmado entre o
doutorando e a coordenadoria de corpo técnico da ETEC- MARTIM-LUTHER-
KING, em SÃO PAULO- SP, Zona Leste – região metropolitana da cidade.
181
- Observação netnográfica dos perfis sociais dos jovens:
- Perfil de observação da pesquisa será apresentado previamente junto ao aluno;
- Não haverá contato algum entre o perfil de observação e os perfis dos jovens;
- Serão observadas até 03 redes sociais no máximo por aluno, dependendo de seu uso – Instagram
Youtube – Twitter – Facebook;
- O que será monitorado por rede:
Instagram: Temática das imagens/textos publicadas; reações e comentários.
Youtube: Temáticas de conteúdo seguidas e publicadas; reações e comentários.
Twitter: postagens e interações recebidas e realizadas;
Facebook: postagens e conteúdos comentados, compartilhados, recebidos e realizados;
- Como será realizado o monitoramento por rede:
Realização remota, por 90 dias corridos, no modo de observação participativa.
Coleta e arquivamento individual e remoto, realizado sem contato direto com os jovens – vídeos, imagens
e textos públicos nas redes pesquisadas.
Inserção do material coletado em vídeos, imagens e textos em possível software de análise de mídias
sociais.
- Como serão tratados os dados coletados:
Identidade dos jovens pesquisados sob sigilo: a partir da realização do primeiro questionário, pelo qual
cada jovem receberá um número de identificação e será somente relacionado a partir do número
correspondente, em todas as publicações, análises, e relatórios realizados.
Em hipótese alguma, será divulgada a relação entre nomes de alunos e números de registro da pesquisa,
assegurando que cada formulário on line, uma vez tabulado, será deletada sua versão on line.
Todas as identidades mencionadas, relatadas ou compartilhadas, serão apagadas quando em publicações e
apresentações de pesquisa. Para conseguir cumprir o proposto, em termos de horas envolvidas na
montagem dos instrumentos de pesquisa, aplicação e coleta de dados, propomos, a partir da conveniência
à Etec Martin Luther King, um percurso de 10 semanas, considerando 03 semanas de outubro, 04 de
novembro de 2018 e 03 semanas de dezembro de 2018.
Desta forma apresentamos esta solicitação de parceria e protocolos de pesquisa relacionados afim de que,
uma vez em acordo mútuo, possamos assinar duas vias de igual teor, considerando a confecção do texto
de autorizacão para os pais e responsáveis, afim de que a pesquisa possa ser iniciada com o
preenchimento de questionário on line, como primeiro contato.
Assinam em ambas as vias:
Renato Mader – pesquisador PPGCOM-ESPM-SP – Doutorando
Vagner Sarti. – coordenador Corpo técnico administrativo ETEC Martin Luther King.
182
APÊNDICE B – Termo de autorização do pai ou responsável pelos alunos de 1ª e 2ª séries do Ensino
Médio Técnico em Administração de Empresas e Marketing, para participação na pesquisa de campo
realizada durante os anos de 2018 e 2019.
À partir dos protocolos de pesquisa desenvolvidos por Kozinets, desenvolvemos toda a
documentação que legitima, autoriza e explica toda a condução da pesquisa, de forma a obtermos
autorização por escrito de pais e responsáveis pelos sujeitos participantes. A seguir a reprodução completa
do termo que foi devidamente preenchido e assinado por 35 dos 80 alunos que receberam o documento:
Autorização de participação de Alunos na pesquisa Juventude e Cidadania
183
Em relação a RISCOS POSSÍVEIS ENVOLVIDOS NA PESQUISA:
ESTA PESQUISA NÃO ENVOLVE RISCOS PREVISÍVEIS OU DESCONFORTOS:
Os riscos envolvidos não são maiores do que aqueles envolvidos em atividades diárias, como falar ao
telefone ou usar correio eletrônico. Uma vez que alguns dos temas relacionados a cidadania podem ser
sensíveis, é possível que algumas situações relatadas tornem-se pessoais ou emocionais.
Em relação a benefícios ou compensações pela participação na pesquisa:
A PARTICIPAÇÃO NESTA PESQUISA É VOLUNTÁRIA: Sua participação não irá beneficiar o aluno
de forma alguma - material, financeiro ou de desempenho escolar. Contudo sua participação irá nos
ajudar a compreender as formas pelas quais a juventude se relaciona com sua identidade, sua consciência
cidadã em sua comunicação cotidiana através das redes sociais.
Em relação a SIGILO e CONFIDENCIALIDADE:
TODOS os dados pessoais de identidade, localização, parentesco, ou quaisquer dados privados, pessoais e
sigilosos, serão alterados, deletados, ou apagados quando em imagens, de forma que todos os dados
coletados pela pesquisa, sejam sempre anônimos, relacionados apenas a pseudônimo, NUNCA à
identidade real dos jovens pesquisados.
Em relação a custos para o participante voluntário:
Não haverá qualquer despesa financeira ou de qualquer ordem, para o jovem participante voluntário, toda
a condição de produção da pesquisa ocorre por conta do pesquisador.
Em relação aos direitos do participantes voluntários desta pesquisa:
A participação é totalmente voluntária, sem obrigação alguma de participação.
O jovem tem a qualquer tempo o direito de desistir da participação e sair da pesquisa sem que haja motivo
para isso.
Qualquer nova informação sobre esta pesquisa e seus procedimentos será imediatamente informada ao
jovem voluntário participante.
SÃO PAULO, OUTUBRO DE 2018.
184
APÊNDICE C – Apresentação formal da pesquisa de campo junto ao corpo discente – 80 alunos de
1ª e 2ª séries do Ensino Médio Técnico em Administração e Marketing
185
APÊNDICE D – Formulário de pesquisa Survey
Aos alunos que trouxeram a autorização de participação preenchida por pais ou responsáveis legais, 35
deles, aplicamos o seguinte questionário on line, em formulário google:
Juventude e cidadania . etapa 1: questionário
ESTE QUESTIONARIO É PARTE DA PESQUISA JUVENTUDE E CIDADANIA, CONDUZIDA
PARA A TESE DE DOUTORADO DO PROFESSOR RENATO MADER, PARA PARTICIPAR É
PRECISO ASSINAR O TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE PARTICIPAÇÃO.
CASO DESEJE PARTICIPAR, ENVIE UM EMAIL PARA renato.mader@gmail.com E
AGENDAREMOS UMA DATA PARA SUA PARTICIPAÇÃO. ESTE QUESTIONARIO É A
PRIMEIRA ETAPA DE PESQUISA, TEM A FUNÇÃO DE MAPEAR SOCIALMENTE O UNIVERSO
JOVEM, IDENTIFICAR SUAS FORMAS DE PRODUÇÃO E CONSUMO DE INFORMAÇÃO NO
ÂMBITO DIGITAL.
* Required
1. Email address *
PARTE 1: Quem é você?
ALGUMAS INFORMAÇÕES INICIAIS SOBRE VOCÊ,
POR GENTILEZA PREENCHA TODAS AS RESPOSTAS.
2. Sexo *
Masculino. Feminino
3. Idade *
☐14 ☐15 ☐16 ☐17 ☐18 ☐19 ☐20 ☐21 ☐22 ☐23 ☐24 ☐+ de 24
4. Em que série estuda? *
☐1º médio ☐2º médio ☐3º médio
5. Em qual região da cidade você mora? *
186
6. Quem mora com você ?
(relacione a quantidade de pessoas, e o grau de parentesco de cada um)
__________________________________________________________________
7. Qual a formação escolar de seus pais e a profissão atual de ambos?
__________________________________________________________________
8. Quais destes itens você possui para uso individual e exclusivo seu?
(Marcar quantas forem necessárias).
☐TELEFONE CELULAR SMART PHONE COM ACESSO A INTERNET
☐COMPUTADOR DE MESA
☐COMPUTADOR LAPTOP
☐VIDEO GAME (PSP/ XBOX /NINTENDO)
☐DVD/VIDEO
☐APARELHO DE SOM
☐APARELHO DE TELEVISÃO
☐TABLET
☐TELEFONE FIXO
☐Não tenho nenhum destes equipamentos para meu uso individual e exclusive
9. Em sua casa você dispõe de: *
(Marcar quantas forem necessárias.)
☐ Televisão por assinatura NET, SKY, etc. ☐ Internet banda larga NET, VIVO, etc.
☐ Netflix, Amazon TV, etc.
10. Sobre quais destes assuntos vocês conversam em casa? Assinale quantos forem os temas *
☐Política ☐Corrupção ☐Direitos Humanos ☐ Direitos da Criança e do Adolescente
☐Violência contra Mulher ☐Violência contra criança ☐Preconceito racial
☐Discriminação de gênero ☐Pobreza ☐Roubo e assaltos ☐Transporte público
☐Saúde pública ☐Direito ao livre pensar ☐Direitos e deveres do cidadão
☐Questões Familiares ☐Questões da escola ☐Questões do bairro/comunidade
☐Questões pessoais ☐Nenhum destes temas fazem parte da conversa em casa.
11. Quem você procura, se precisar falar sobre os assuntos da questão anterior. *
_______________________
PARTE 2: Como você se conecta?
PRECISAMOS SABER MAIS SOBRE A FORMA COMO VOCE SE CONECTA E SE UTILIZA DA
INTERNET. (SUAS RESPOSTAS SÃO CONFIDENCIAIS, NÃO ENTRAREMOS EM CONTATO
DIRETO COM VOCÊ DE FORMA ALGUMA, VIA INTERNET).
Respostas obrigatórias, se for o caso escreva "não", mas não deixe de responder nenhuma questão.
12. Você se conecta na internet:
(Escolha as alternativas que mais representam suas formas de conexão no dia a dia. *
☐pelo MEU PROPRIO CELULAR SMARTPHONE com 4G ILIMITADO
☐pelo MEU PROPRIO CELULAR SMARTPHONE com 4G Pré - pago LIMITADO.
☐pelo MEU PROPRIO TABLET, com 4G ILIMITADO
☐pelo MEU PROPRIO TABLET, com 4G pré – pago LIMITADO.
☐pelo MEU DESKTOP DE CASA, VIA BANDA LARGA.
☐pelo MEU VIDEOGRAME, VIA BANDA LARGA DE CASA.
☐Outro:
13. MEU CELULAR é DA MARCA/modelo: *
_________________________
14. Quantos aparelhos celulares você já teve na sua vida, e de quanto em quanto tempo
costuma trocar de aparelho? *
_________________________
15. Em quais redes sociais você tem perfil ativo? (assinale quantas forem necessário) *
☐Twitter ☐Instagram ☐Snapchat ☐Facebook ☐Youtube ☐Tumblr
☐não tenho perfil cadastrado em redes sociais, mas frequento o youtube.
☐Prefiro redes de trabalho como GITHUB e SLACK. ☐Other:
16. TWITTER: se sim, colocar o perfil, se não apenas responder nao. *
_____________________________________
187
17. INSTAGRAM: se sim, colocar o perfil, se não apenas responder nao. *
_____________________________________
18. SNAPCHAT: se sim, colocar o perfil, se não apenas responder nao. *
_____________________________________
19. FACEBOOK: se sim, colocar o perfil, se não apenas responder nao. *
_____________________________________
20. YOUTUBE: se sim, colocar o perfil, se não apenas responder nao. *
_____________________________________
21. TUMBLR: se sim, colocar o perfil, se não apenas responder nao. *
_____________________________________
22. OUTRAS: se sim, identifique rede e perfil, se não apenas responder nao. *
_____________________________________
PARTE 3: DIGITAL CITIZENSHIP SCALE SURVEY:
NA internet, EU...
A SEGUIR, ALGUMAS AFIRMAÇÕES EM PRIMEIRA PESSOA, PARA ENTENDERMOS A
FORMA COMO VOCÊ CONSIDERA A INTERNET E SUA CONEXÃO DE INFORMAÇÕES.
ESTÃO EM ESCALA DE VALOR ENTRE 0 A 7, SENDO ZERO TOTALMENTE FALSO, SETE
TOTALMENTE VERDADEIRO.
Todas as questões desta seção são obrigatórias.
23. Sei USAR A INTERNET PARA ENCONTRAR TODAS as informações que eu preciso.*
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
24. Sei USAR A INTERNET PARA ENCONTRAR e BAIXAR todos os aplicativos (app) que me são
úteis. *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
25. Sei USAR OS DISPOSITIVOS DIGITAIS (por exemplo: celular, smartphone, Tablets, PCs, Laptops)
PARA atingir meus objetivos. *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
26. Eu POSSO ACESSAR A INTERNET SEMPRE que quiser, através de várias formas. (Ex.:
celulares / smartphones, Tablets, Laptops, PCs) *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
QUANDO ESTOU ON LINE, EU GOSTO DE ...
A SEGUIR, ALGUMAS AFIRMAÇÕES EM PRIMEIRA PESSOA, PARA ENTENDERMOS A
FORMA COMO VOCÊ CONSIDERA A INTERNET E SUA CONEXÃO DE INFORMAÇÕES.
ESTÃO EM ESCALA DE VALOR ENTRE 0 A 7, SENDO ZERO TOTALMENTE FALSO, SETE
TOTALMENTE VERDADEIRO.
Todas as questões desta seção são obrigatórias.
27. Gosto de FAZER COMENTÁRIOS sempre que possível, sobre CONTEÚDOS DE OUTRAS
PESSOAS nos sites de notícias, blogs ou redes sociais que visito. *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
28. Gosto de ME COMUNICAR via messenger, ou outro instantâneo, com os outros. *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
29. Gosto de COLABORAR COM OUTROS, (Mais pela internet e ON LINE do que fora da
internet). * 0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
30. Gosto de PODER ENVIAR MENSAGENS ORIGINAIS MINHAS (áudio fotos vídeos) para me
expressar na internet. (sentimentos / pensamentos / ideias / opiniões). *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
O QUE ESTAR CONECTADO SIGNIFICA? A SEGUIR, ALGUMAS AFIRMAÇÕES EM PRIMEIRA
PESSOA, PARA ENTENDERMOS A FORMA COMO VOCÊ CONSIDERA A INTERNET E SUA
CONEXÃO DE INFORMAÇÕES.
ESTÃO EM ESCALA DE VALOR ENTRE 0 A 7, SENDO ZERO TOTALMENTE FALSO, SETE
TOTALMENTE VERDADEIRO.
Todas as questões desta seção são obrigatórias.
31. Minha participação online é uma MANEIRA EFETIVA DE PROVOCAR MUDANÇA em algo em
que acredito ser injusto ou desonesto. *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
32. Quando uso a internet, SOU LEVADO A REPENSAR MINHAS CRENÇAS sobre uma questão ou
tópico específico. * 0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
33. MINHA PARTICIPAÇÃO ON LINE É UMA FORMA EFICAZ DE ME ENVOLVER COM
QUESTÕES POLÍTICAS OU SOCIAIS. *
188
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
34. MINHA PARTICIPAÇÃO ON LINE PROMOVE O ENGAJAMENTO em ação presencial *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
35. ACREDITO QUE A INTERNET REFLETE OS MESMOS PRECONCEITOS E DOMINÂNCIA,
presentes nas estruturas de poder offline.*
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
36. Quando ESTOU ON LINE, SOU MAIS COMPROMETIDO SOCIAL OU OLITICAMENTE, do que
quando estou offline. *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
37. Uso a internet PARA PODER PARTICIPAR DE MOVIMENTO SOCIAL, MUDANÇA SOCIAL
OU PROTESTO SOCIAL. *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
O QUE VOCÊ REALIZA PELA INTERNET?
A SEGUIR, ALGUMAS AFIRMAÇÕES EM PRIMEIRA PESSOA, PARA ENTENDERMOS A
FORMA COMO VOCÊ CONSIDERA A INTERNET E SUA CONEXÃO DE INFORMAÇÕES.
ESTÃO EM ESCALA DE VALOR ENTRE 0 A 7, SENDO ZERO TOTALMENTE FALSO, SETE
TOTALMENTE VERDADEIRO.
Todas as questões desta seção são obrigatórias.
38. Eu ASSISTO A REUNIÕES POLÍTICAS OU DEBATES PÚBLICOS sobre assuntos locais,
municipais ou escolares através de algum método online.*
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
39. Eu TRABALHO COM OUTRAS PESSOAS DE FORMA ON LINE PARA RESOLVER
PROBLEMAS locais, nacionais ou globais. *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
40. Eu ORGANIZO PETIÇÕES SOBRE QUESTÕES sociais, culturais, políticas ou econômicas online.*
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
41. Eu PUBLICO REGULARMENTE PENSAMENTOS relacionados a questões políticas ou
sociais online.*
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
42. Eu, às vezes, ENTRO EM CONTATO COM FUNCIONÁRIOS DO GOVERNO sobre uma questão
que é importante para mim ATRAVÉS DE MÉTODOS ONLINE.*
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
43. Eu EXPRESSO MINHAS OPINIÕES ONLINE para DESAFIAR PERSPECTIVAS dominantes ou o
status quo em relação a questões políticas ou sociais. *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
44. Eu ASSINO PETIÇÕES ONLINE SOBRE questões sociais, culturais, políticas ou
econômicas. *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
45. Eu TRABALHO OU SOU VOLUNTÁRIO, ATRAVÉS DE MÉTODOS ONLINE,
de um Partido político ou candidato. *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
46. Eu PERTENÇO A GRUPOS ONLINE envolvidos em questões políticas ou sociais. *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
Autorias digitais
Queremos saber se além de redes sociais, você também produz alguma página, canal, ou perfil sobre tema
que seja importante pra você.
47. Se tiver algum canal digital ativo, descreva aqui, e se possível, forneça o link de acesso,
caso contrário, escreva "Não", pois é uma etapa de resposta obrigatória. *
_________________________________________________________________________
TERMINAMOS A ETAPA DE QUESTIONÁRIO.
Agradecemos muito sua participação, neste questionário, convidamos você a continuar as etapas
seguintes, de entrevista individual e grupo focal de discussão.
Com sua participação, você está nos auxiliando a compreender as formas pelas quais o jovem urbano se
relaciona sua cidadania com sua atividade digital cotidiana. Muito obrigado.
189
6 APÊNDICE E – Roteiro final de entrevista aplicado a 26 sujeitos participantes
A partir das duas entrevistas exploratórias, aprimoramos o roteiro final da entrevista a partir das seguintes
questões:
1- Quem é você:
Como é seu dia de semana?
Quais são seus hábitos de estudo?
Como é seu final de semana?
Quais são seus hábitos de lazer e estudo no final de semana?
E, quanto ao lazer: você assiste algo na televisão? O que assiste? Qual periodicidade?
Netflix, você assiste? O que prefere assistir na Netflix?
E jornal, noticiário, como você fica informado do que importa pra você?
Rádio, televisão, internet, whatsapp?
2- Privacidade//fakenews:
Você não tem receio de se expor na internet?
O que você considera publicar sobre você na internet?
O que você considera confidencial, privado, que é apenas de seu interesse?
Você tem receio de fakenews, quando está nas redes sociais?
Quais medidas você toma? Conhece o boatos.org?
3- Temáticas cidadãs:
Nesta régua você vê algum assunto relacionado a cidadania?
_RACISMO_ASSÉDIO_VIOLÊNCIA_SOLIDÃO_POBREZA_FOME_DOENÇA_
_RISCOSOCIAL_DESEMPREGO_CORRUPÇÃO_FAVORITISMO
Qual destes temas mobiliza você? Como você se mobiliza a partir deste tema?
A quem procura em casa, quando precisa conversar sobre eles?
Vamos exibir um vídeo _ da tribo ubuntu, africana, sobre o coletivo social tribal_
Após ver o vídeo, você pode nos dizer destas dimensões todas que fazem parte da sua vida, em
qual delas você se sente seguro de pertencer, de ter sua voz ativa no conjunto coletivo?
_FAMILIA_ESCOLA_TURMA_TRIBO_GRUPO_BANDO_CLUBE_CIDADE_
_ ESTADO_PAÍS_MUNDO_PLANETA.
190