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Comunicação, juventude

e cidadania:
Consumo de redes sociais no contexto
da Zona Leste de São Paulo

Renato Vercesi Mader


São Paulo | 2020
ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING – ESPM/SP

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO E

PRÁTICAS DE CONSUMO - PPGCOM

Renato Vercesi Mader

COMUNICAÇÃO, JUVENTUDE E CIDADANIA:


Consumo de redes sociais no contexto da Zona Leste de São Paulo

São Paulo
2020
Renato Vercesi Mader

COMUNICAÇÃO, JUVENTUDE E CIDADANIA:


Consumo de redes sociais no contexto da Zona Leste de São Paulo.

Tese apresentada ao PPGCOM ESPM como


requisito parcial para obtenção do título de Doutor
em Comunicação e Práticas de Consumo.

Orientadora: Denise Cogo

São Paulo
2020
Autorizo a reprodução total ou parcial da minha tese COMUNICAÇÃO, JUVENTUDE
CIDADANIA: Consumo de redes sociais no contexto da Zona Leste de São Paulo. no
contexto da Zona Leste de São Paulo, para fins de estudo e pesquisa, desde que seja sempre
citada a fonte.
Renato Vercesi Mader

COMUNICAÇÃO, JUVENTUDE E CIDADANIA:

Consumo de redes sociais no contexto da Zona Leste de São Paulo.

Tese apresentada ao PPGCOM ESPM como como


requisito parcial para obtenção do título de Doutor em
Comunicação e Práticas de Consumo.

São Paulo, junho de 2020.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________________
Orientadora e Presidente da Banca:
Profa. Dra. Denise Cogo (ESPM)

____________________________________________________________
Avaliador Externo
Profa. Dra.Simone Luci Pereira (UNIP)

____________________________________________________________
Avaliadora Externa
Profa. Dra. Ana Cristina Suzina - Loughborough University London

____________________________________________________________
Avaliador Interno
Prof. Dr.Luiz Peres-Neto (ESPM)

____________________________________________________________
Avaliadora Interna
Profa. Dra. Tânia Hoff (ESPM)
DEDICATÓRIA

Dedico esta tese à Família da Silveira Mader.


AGRADECIMENTOS

Meu projeto de doutorado começou a ser gestado em 2010, quando encerrei o processo de
Mestrado acadêmico no PPGCOM – ESPM – SP, e comecei a localizar o Programa de Pós-
graduação em Comunicação que abordasse a perspectiva desejada para o desenvolvimento de
tese e pesquisa. Em 2013, o PPGCOM ESPM abre sua 1º turma de doutorado, mas por razões
outras, só consegui entrar como doutorando na ESPM, em 2016. Agradeço ao publicitário Nelson
de Abreu Mader, meu pai – formado em 1966 pela ESPM – minha melhor referência. Agradeço
aos alunos, professores e pesquisadores, que me inspiram há 25 anos em propósito acadêmico, e
que possibilitaram a realização desta tese. Agradeço especialmente à minha orientadora, Denise
Cogo, por ter me apresentado o universo da cidadania e suas articulações com comunicação e
consumo. Aos colegas todos, com quem há quatro anos, divido salas de aula e grupos de pesquisa,
eventos e seminários. Agradeço aos jovens alunos da ETEC-MLK na Vila Carrão, São Paulo, e
a seus professores, Eloísa Lages, Vagner Sarti, Luana Aracre, e Daniel Capella, que se
disponibilizaram a viabilizar a realização desta pesquisa.
Durante todo o percurso da tese, tive o prazer de compartilhar experiências de pesquisa
com meus colegas Joana Pellerano, Viviane Riegel e Wilson Bekesas, e a eles sou eternamente
grato. Agradeço à equipe da ESPM que me acolhe há 20 anos como professor da graduação.
Agradeço à Carolina Figueiredo pela cumplicidade em todo o trabalho de revisão e ajustes
editoriais. Agradeço a meus amigos, meus familiares, minha esposa Geraldine e minha filha Ana,
que me apoiaram ao longo de todo esse percurso.
“Diré que lo que merece la pena investigarse es
aquello que nos dé esperanzas de cambiar esta sociedad;
no lo que nos provoque o bien ganas de quedarnos
tranquilos, o bien ganas de injuriar este mundo. Estamos
hartos de gente que vive tranquila y no quiere que nadie
le quite su tranquilidad, pero también de aquellos que se
quedan maldiciendo este mundo, pero no nos dan las
herramientas, ni la menor esperanza o posibilidad, para
pensar en la manera cambiarlo”. Jesus Martín-Barbero.
MADER, Renato V.; Comunicação, juventude e cidadania: Consumo de redes sociais no
contexto da Zona Leste de São Paulo. 2020. Tese (Doutorado em Comunicação e Práticas de
Consumo) – Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Práticas de Consumo, Escola
Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), São Paulo.

RESUMO

O objetivo dessa tese é, na perspectiva dos estudos de recepção em comunicação e


práticas de consumo, investigar as práticas comunicacionais cotidianas de jovens estudantes, do
município de São Paulo, pelo estudo de suas apropriações midiáticas de espaços digitais,
especialmente nas redes sociais Instagram, Facebook e Twitter identificando suas percepções e
ações sobre cidadania no contexto da Zona Leste da cidade. O referencial teórico constitui-se por
reflexões em torno dos processos de comunicação individual de massa (CASTELLS, 2008), de
característica pós-massiva (GARCÍA CANCLINI, 2010) em redes sociais digitais (COGO e
BRIGNOL, 2011), nas quais o jovem (BOURDIEU, 1084; FEIXA,1998; e COGO, 2010) através
da prática midiática cotidiana (COULDRY, LIVINGSTONE e MARKHAM, 2010) dinamiza
tanto sua cultura cívica e cidadã (DALHGREN, 2011), tanto quanto sua cultura de consumo (
GARCÍA CANCLINI,1997) estabelecendo sua percepção da cidadania, a partir das dimensões
possíveis (CORTINA, 1997; COGO, 2010; COGO, ELHAJJI e HUERTAS, 2012), bem como
de formas de mobilização e ação cidadã (DALHGREN, 2011; MOUFFE, 2015). O universo da
pesquisa empírica é formado por 26 jovens, residentes na Zona Leste de São Paulo e estudantes
do Ensino Estadual Médio Técnico – ETEC– localizada na Vila Carrão, também Zona Leste da
cidade São Paulo. A metodologia da pesquisa é constituída por: 1) questionário on line,; 2)
entrevista individual semi-estruturada; 3) observação não participante no ambiente escolar; e 4)
observação nas redes sociais – Facebook, Instagram e Twitter – a partir de 59 perfis pertencentes
aos sujeitos, entre outubro de 2018 a junho de 2019. Os resultados da pesquisa evidenciam como
se opera o consumo das redes sociais na formação cultural e cívica dos jovens a partir da condição
midiática pós-massiva, especialmente através do seu interesse por interações em torno de
conteúdos vinculados às relações raciais e de gênero e à desigualdade social. No entanto, o estudo
revela também que a condição midiática pós-massiva de consumo circunscreve as mobilizações
e ações juvenis às redes sociais, tornando incipiente seu exercício em contextos que extrapolem
os espaços comunicacionais digitais

Palavras-chave: comunicação; consumo; cidadania; juventude; redes sociais digitais.


MADER, Renato Vercesi. Communication, youth and citizenship: consumption of social
networks in the context of the East Zone of São Paulo, 2020. Thesis (Doctorate in
Communications and Consumption Practices) – Postgraduate Research Program in
Communications and Consumption Practices, School of Advanced Studies in Advertising
and Marketing/Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), São Paulo.

ABSTRACT
The central objective of this thesis is to investigate whether the daily communication
practices of young students, from the city of São Paulo, function as an evidence of a pubic media
connection, based on the study of their media consumption on digital social spaces, such as the
social networked sites Facebook, Twitter and Instagram. We are seeking to identify their
perceptions and actions on citizenship in the daily context of the city's East Zone. In order to
study these practices, the theoretical framework consists of: 1) The configuration of a networked
society, with a high degree of communicational power through a digital mediating environment;
2) the post-massive media condition, in the process of mass-self communication; 3) the young
subject, based on their social plurality; 4) the contemporary condition of citizenship in its
different dimensions; and 5) The construction of citizenship senses and meanings, based on the
subjects' daily communication practice, on social networks. The research universe consists of 26
subjects, all of whom are residents of the East Zone of São Paulo and students of the State
Technical High School - ETEC - Martin Luther King unit, located in Vila Carrão, East Zone of
São Paulo. The research methodology consists of: 1) online questionnaire, at ETEC; 2) semi-
structured individual interview; 3) non-participant observation in the school environment; and 4)
Non-participant observation on digital social networks - Facebook, Instagram and Twitter - from
59 profiles belonging to the subjects, between October 2018 and June 2019. The theoretical path
is based on the process of mass-self communication (CASTELLS, 2008), with a post-massive
characteristic (GARCÍA CANCLINI, 2010) in digital social networks (BRIGNOL and COGO
2011), in which the young (BOURDIEU, 1984; FEIXA, 1998; and COGO, 2010) through daily
media practice (COLDRY, LIVINGSTONE and MARKHAM, 2010) streamlines both their civic
culture (DALHGREN, 2011), as well as their consumer culture (GARCÍA CANCLINI, 1997)
establishing their perception of citizenship, from the possible dimensions (CORTINA, 1997;
COGO, 2010; COGO, ELHAJJI and HUERTAS, 2012), as well as forms of mobilization and
citizen action (DALHGREN, 2011; MOUFFE, 2015). The results of the research show how the
consumption of social networks operates in the cultural and civic formation of young people from
the post-massive media condition, especially through their interest in interactions around content
linked to racial and gender relations and inequality Social. However, the study also reveals that
the post-massive media condition of consumption circumscribes youth mobilizations and actions
to social networks, making their exercise incipient in contexts that go beyond digital
communication spaces.
Keywords: communication; consumption; citizenship; youth; digital social networks.
LISTA DE IMAGENS

Imagem 1 - Ele 03- Guarulhos – Twitter: Post depoimento acerca do espaço de Lugar ocupado pelo
deslocamento urbano.. ........................................................................................................................81

Imagem 2 - ELA03- Artur Alvim – Twitter: Post depoimento acerca do espaço de Lugar ocupado
pelo deslocamento urbano.. ................................................................................................................87

Imagem 3 - ELA11 – Aricanduva – Twitter – imagem selfie dela e ELE03 com legenda... ............91

Imagem 4 - ELE03- Guarulhos – Twitter – post compartilhado e comentário, sobre cheiro de


maconha em casa... .............................................................................................................................96

Imagem 5 - ELA07- Itaquera – Facebook – repost ETEC MLK; celebrando o destaque da ETEC
MLK na ambiência social digital do Facebook. .................................................................................99

Imagem 6 - Ela 09- Tatuapé – Twitter – posts depoimento; após visitar Instituto Fernando Henrique
Cardoso e conhecê-lo em palestra. ...................................................................................................142

Imagem 7- ELA06- Penha – Twitter – post depoimento após visita Instituto Fernando Henrique
Cardoso.............................................................................................................................................143

Imagem 8 - Ele 02- Tatuapé – Twitter – posts depoimento após visita Universidade São Judas –
Economia ..........................................................................................................................................145

Imagem 9 - Ela 15- Vila Carrão – Twitter – post de registro em visita ao Facebook em S. Paulo –
Zona Sul ...........................................................................................................................................146

Imagem 10 - ELA14 – Itaquera – Facebook – post comemorando com colegas a ralização de


seminário sobre diversidade e igualdade de gêneros........................................................................146

Imagem 11 - ELE03 – Guarulhos – TWITTER: Compartilhamento – Remediação política:


personagem Max Steel associado a prisões política e cultural.........................................................147

Imagem 12 - ELA02 – Tatuapé – 2 Telas iniciais de seu perfil Instagram.....................................148

Imagem 13 - ELA04 –Vila Matilde – Telas de publicações e de marcações - Instagram. .............149

Imagem 14 - ELA12 – Vila Matilde – Telas de publicações e de marcações – Instagram.................150

Imagem 15 - ELA01 – Guaianazes–Telas de seu perfil Instagram. ................................................153

Imagem 16 - ELA02 – Itaquera e ELA12 – Vila Matilde – Facebook – páginas de “check in” de
locais visitados.. ...............................................................................................................................154

Imagem 17 - ELA06 –Penha – Twitter – Post Religião e violência política ..................................155


Imagem 18 - ELA07 – Itaquera – Twitter – compartilhamento liberdade de Rennan da Penha.
ELA07– Facebook – compartilhamento conteúdo Quebrando o tabu, relativo a estréia de jornalista
negra no Jornal Nacional. .................................................................................................................156

Imagem 19 - ELA07 – Itaquera – Facebook – compartilhamentos do disparo de 80 tiros pelo exército,


no Rio de janeiro, em direção a uma familia negra, em batida policial.. .........................................157

Imagem 20 - ELA07 – Itaquera -– Twitter –relato de opressão racial ............................................157

Imagem 21 ELA06– Penha – Twitter – compartilhamento de postagem a respeito da política de


exclusão norte-americana com governo de extrema direita, e comentário alertando para o risco
brasileiro da extrema direita assumir o governo em relação aos direitos de minorias. ....................160

Imagem 22 - ELA08– Tatuapé – Facebook – mensagem de marca Trident, em oposição à declaração


da Ministra sobre identidade de gênero azul e rosa e ELA07 – Itaquera –Facebook – compartilhando
matéria jornalística acerca de outra declaração homofóbica da Ministra da Família ......................161

Imagem 23 - ELA15– Vila Carrão – Facebook – compartilhamento conteúdo marca Burger King a
favor das minorias LGBTQI+, e comentário de aprovação de ELA15. ...........................................161

Imagem 24 - ELE04– Penha – Twitter – compartilhamento publicação portal G1 sobre decisão


Tribunal Justiça RN, obrigando o Estado a aceitar doações de sangue de pessoas de todas as
orientações sexuais...........................................................................................................................145

Imagem 25 - ELE09 – Guarulhos – Facebook – compartilhamento portal HuffPostBrasil..... Error!


Bookmark not defined.

Imagem 26 - ELE09 – Guarulhos – Facebook – compartilhamento matéria ONG TODAS FRIDAS,


acerca do ciclo social repressivo a condição profissional de pessoas Trans....................................167

Imagem 27- ELA04 - Vila Matilde – Twitter – Conteúdos compartilhados, acerca da moral em
relação a conduta de liberdade sexual da mulher .............................................................................169

Imagem 28 ELA07- Itaquera –Facebook, conteúdo compartilhado e comentado, sobre posições


sociais feminina e masculina em relação ao aborto e ao direito de abortar .....................................172

Imagem 29 ELA10 - Penha – Twitter, conteúdo compartilhado sobre posições sociais feminina e
masculina em relação ao assédio sexual...........................................................................................151

Imagem 30 - ELA15- Vila Carrão e ELA14 –Itaquera – Facebook, mesmo conteúdo compartilhado
sobre a desigualdade de gêneros pelo profissional............................................................................152

Imagem 31 - ELA11 - Aricanduva – Twitter – compartilhamento de post jornalístico com texto


ironizando a matéria e encaminhando a temática do aborto. ...........................................................153
Imagem 32 - ELA15 – Vila Carrão – Facebook – compartilhamento de duas publicações, uma sobre
machismo e misoginia do candidato a presidência de extrema direita, e outra sobre o abandono
paternal............................................................................................................................................. 154
Imagem 33 - ELA07 – Itaquera – Facebook – compartilhamento de posts revista VejaSP, sobre
desigualdade social e cerceamento de liberdades individuais..........................................................155
Imagem 34 - ELE01 – Sapopemba– Facebook – compartilhamentos: 1 jornal Elpaís, matéria sobre
as distâncias urbanas em São Paulo, 2 Meme da página Ursal Mackenzie, com três fotos de meninos
claramente ricos, brancos e felizes, e o texto: PRA MIM TODO MACKENZISTA É.................. 159
Imagem 35 - ELA 06- Penha – Repost e comentário sobre desigualdade social no vestibular de ensino
superior.............................................................................................................................................160
Imagem 36 - ELA11 – Aricanduva –Twitter – compartilhamento e comentário: diferenças de classe
social.................................................................................................................................................161
Imagem 37 - ELE03 – Guarulhos – Twitter – Manchete jornal Folha de S. Paulo e comentário
autoral...............................................................................................................................................162
Imagem 38 - ELA04 – Vila Matilde – Twitter – Compartilhamento de Post com reflexão política
acerca dos padrões de consumo acima dos seus...............................................................................162
Imagem 39 - ELA04- Vila Matilde – Twitter – comentário crítico e compartilhamento de post de
extrema direita, difamando candidato da esquerda, sua esposa e a candidata a vice-presidente......166
Imagem 40 - ELA11- Aricanduva – Twitter, 2 conteúdos criticando o candidato de extrema direita e
apoiando o candidato de esquerda.....................................................................................................166
Imagem 41 - ELA05 - Vila Matilde – Facebook – compartilhamento mensagem critica a
Bolsonaro..........................................................................................................................................167
Imagem 42 - ELA09 – Tatuapé – TWITTER: Política / Educação.................................................168
Imagem 43 - ELE04 - Penha – Twitter – contraponto do discurso opressor da direita e discurso
midiático oficial................................................................................................................................169
Imagem 44 - ELA09- Tatuapé – Twitter – repost de crítica à condição simbólica de atitude ambiental,
apenas como ganho de capital social................................................................................................170
Imagem 45 - ELA07- Itaquera – Twitter – 2 reposts ações de resposta ao caso do “cachorro do
Carrefour”.........................................................................................................................................171
Imagem 46 - Quatro publicações mobilizadoras para participação em abaixo-assinados para causas
relevantes aos sujeitos, promovidos por ELE03, ELA07 e ELA15..................................................172
Imagem 47 - ELA10 – Penha –Facebook – Post onde ELA10 foi marcada; relata a emoção desta
mãe, pela conquista da filha e colegas, ao concluírem a formação..................................................173
Imagem 48 - ELA15– Vila Carrão – Facebook – Post depoimento de ELA15, sobre a formação
vo;luntária realizada ao final de 2018.............................................................................................. 175
Imagem 49 - ELA14 – Itaquera – Facebook – Post onde ELA14 comemora a formação voluntária
recebida.............................................................................................................................................176
Imagem 50 - – ELE04 – TWITTER – Registro de deslocamento urbano de caráter político.........178
Imagem 51 - Ela 07- Itaquera – Twitter – 2 compartilhamentos de ações de resposta ao caso do
“cachorro do Carrefour”....................................................................................................................169
Imagem 52: ELE01 – Sapopemba – Facebook; Compartilhamento - Remediação: filme Jogos
Vorazes + crítica política ao Presidente eleito, em função das devastações ambientais e queimadas
registradas até maio de 2019.............................................................................................................170

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Crianças e Adolescentes que acessaram internet nos últimos 3 meses (2018).......27
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - As Teorias de comunicação de massas ...........................................................................38

Quadro 2 - Os paradigmas da ciência ...............................................................................................40

Quadro 3 - Comparativo entre modos de comunicação massiva e pós-massiva...............................44


Quadro 4- Perfil - Sexo, idade, série escolar, raça, orientação sexual, bairro de residência, origem
escolar, tempo de transporte, horário de despertar, religião……………………..………………….84

Quadro 5 - A percepção de discriminação sofrida pelos 2017 entrevistados, em relação a origem de


seus endereços de moradia pela cidade de São Paulo. .......................................................................85

Quadro 6 - Distribuição da população da cidade de São Paulo entre as regiões definidas...............86

Quadro 7 - O mapa da morte; relação de latrocínios - assalto seguido de homicídio por região e por
distrito na cidade de São Paulo. Fonte: Jornal Folha de São Paulo, (2017). ......................................86

Quadro 8 - Letalidade policial por região da cidade de São Paulo ...................................................88

Quadro 9 - Composição familiar, educação formal e ocupação profissional de pais/responsáveis..90

Quadro 10 - Composição famíliar por quantidade de pessoas, dos jovens da pesquisa. .................91

Quadro 11 - Estrutura familiar – presença de ambos os responsáveis na casa dos sujeitos da pesquisa.
............................................................................................................................................................92

Quadro 12- Nível de Ensino formal dos pais ou responsáveis pelos sujeitos da pesquisa. ..............93

Quadro 13 - Ocupação econômica dos pais ou responsáveis dos jovens da pesquisa. .....................94

Quadro 14 - rotina de despertar e atividades formativas fora da ETEC-MLK................................ 102

Quadro 15 - Relação de dispositivos e formas de conexão dos sujeitos da pesquisa. ....................100

Quadro 16 - Redes sociais ativas por sujeito da pesquisa para Facebook, Twitter e Instagram .....112

Quadro 17 - Os 10 perfis com maior audiência de seguidores nas três ambiências digitais e os sujeitos
correspondentes. ...............................................................................................................................113

Quadro 18 - Escala de pertencimento cidadão dos sujeitos, a partir de 12 âmbitos socio-políticos


crescentes. ........................................................................................................................................129
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 20

Metodologia da pesquisa .................................................................................................... 26

Procedimentos metodológicos da pesquisa ....................................................................... 30

1. COMUNICAÇÃO PÓS-MASSIVA. ....................................................................... 37

1.1. Uma questão paradigmática..................................................................................... 37

1.2. Comunicação, consumo e apropriação midiática. .................................................. 45

1.3. Ambiências sociais digitais: Instagram, Facebook e Twitter ................................ 49

2. JUVENTUDE: SUJEITOS (IN)DETERMINADOS ............................................. 57

2.1. Jovem, política e cultura cívica: desinteresse ou desconexão? .............................. 62

2.2. Jovem, comunicação e cultura do consumo: pertencimento e participação…........68

3. CONSUMO, REDES SOCIAIS E CIDADANIA, NO COTIDIANO DOS


JOVENS DA ZONA LESTE: ............................................................................................ 77

3.1. Caracterização dos jovens entrevistados.................................................................79

3.2. O espaço social urbano: cidade, família, escola, consumo e cotidiano.................83

3.2.1. A “ZL”: uma das cidadanias paulistanas .............................................................. 84

3.2.2. A família. ................................................................................................................. 90

3.2.3. Escola e outras atividades formativas cívicas. .................................................... 95

3.2.4. Condições a acesso e conexão digital ................................................................. 100

3.2.5. Consumo midiático: modos massivo e pós-massivo. ........................................ 102

3.2.6. Exposição midiática; o público e o privado na dimensão pós-massiva. ......... 107


3.3 Práticas midiáticas nas redes sociais digitais ........................................................ 111

3.3.1. Instagram: palavra-chave: selfie..........................................................................114

3.3.2. Facebook:palavra-chave:pertencimento............................................................ 119

3.3.3. Twitter: palavra-chave: contestação....................................................................122

3.4. Entre os espaços sociais: o jovem e a cidadania que o constitui…………………125

3.5. Temáticas de mobilização cidadã de jovens da “ZL” de São Paulo.....................131

3.5.1 Relações raciais e racismo......................................................................................132

3.5.2 Gênero, diversidade e cidadania no cotidiano jovem da "ZL" de São Paulo .. 136

3.5.3. Conflitos de classe e cidadania no cotidiano jovem da "ZL" de São Paulo.......151

3.5.4. Política, eleições e cidadania no cotidiano jovem da "ZL" de São Paulo............157

4. FORMAS DE AÇÃO CIDADÃ JUVENIL NO ESPAÇO SOCIAL – URBANO E


DIGITAL –DA “ZL” PAULISTANA……….………………………….............163

4.1 Comunicação cidadã nas redes sociais………..……………………….…............163

4.2 Ação cidadã fora das redes..............................................................................168

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................173

BIBLIOGRAFIA...............................................................................................................176

APÊNDICE A - Termo de parceria e protocolo de pesquisa firmado entre o doutorando


e a coordenadoria de corpo técnico da ETEC- MARTIM-LUTHER-KING, em
SÃO PAULO- SP, Zona Leste – região metropolitana da cidade.....................181
APÊNDICE B – Termo de autorização do pai ou responsável pelos alunos de 1ª e 2ª
séries do Ensino Médio Técnico em Administração de Empresas e Marketing,
para participação na pesquisa de campo realizada durante os anos de 2018 e
2019.........................................................................................................................183
APÊNDICE C – Apresentação formal da pesquisa de campo junto ao corpo discente –
80 alunos de 1ª e 2ª séries do Ensino Médio Técnico em Administração e
Marketing...............................................................................................................185
APÊNDICE D – Formulário de pesquisa Survey..........................................................186

APÊNDICE E – Roteiro de entrevista aplicado aos 26 sujeitos participantes.............190


INTRODUÇÃO

Vou dizer que vale a pena investigar é o que nos dá esperança de mudar
essa sociedade; não o que nos provoca desejo de permanecer calmo ou
de insultar este mundo. Estamos fartos de pessoas que vivem em paz e
não querem que ninguém tire sua paz de espírito, mas também daqueles
que continuam amaldiçoando este mundo, mas eles não nos dão as
ferramentas, nem a menor esperança ou possibilidade de pensar em
como mudar isso”1. (MARTÍN-BARBERO, 2008:8).

É a partir da perspectiva que nos apresenta Martín-Barbero – de uma pesquisa em


comunicação que trabalhe a partir da ideia de mudança social, inerente à condição
midiática pós-massiva – que iniciamos esta tese. Enquanto marco epistemológico,
partilhamos da proposição de entrelaçamento entre os campos da cultura e da
comunicação ao observarmos a forma pela qual sociedade e ciência os têm separado:
“Como pensar em conjunto sobre comunicação e cultura a partir de uma sociedade em
que boa parte da intelectualidade ainda os opõe de maneira radical?” (MARTÍN-
BARBERO, 2008, p.6.)2

Nesse processo de dissociação, Martín-Barbero destaca a distinção entre a cultura


como algo superior, norteador de qualidade e elitização social; e a comunicação como
algo menor, industrial, replicada e encerrada pelo simulacro da mercadoria, erigido por
BAUDRILLARD (2000).

Diante de encruzilhadas teóricas recorrentes de como comunicação e cultura se


chocam e se interdependem, Martín-Barbero destaca: “Pensar estas temporalidades é
outra encruzilhada: frente à obsolescência cada vez mais rápida do mercado – tudo se
produz para que cada vez dure menos –, está a durabilidade das culturas, que ao contrário

1 Tradução nossa. No original: “Diré que lo que merece la pena investigarse es aquello que nos dé
esperanzas de cambiar esta sociedad; no lo que nos provoque o bien ganas de quedarnos tranquilos, o bien
ganas de injuriar este mundo. Estamos hartos de gente que vive tranquila y no quiere que nadie le quite su
tranquilidad, pero también de aquellos que se quedan maldiciendo este mundo, pero no nos dan las
herramientas, ni la menor esperanza o posibilidad, para pensar en la manera cambiarlo” (2008:8).

2 Tradução nossa. No original: “¿cómo pensar juntas la comunicación y la cultura en una sociedad en la
que todavía buena parte de la intelectualidad sigue oponiéndolas de manera radical?” – (2008:6)

20
do mercado, são estruturadas para permanecer”3 (2008:12). Enquanto os tempos da mídia
massiva e da cultura se contradizem por conceito, a comunicação pós-massiva (GARCÍA
CANCLINI, 2010) reveste-se de ubiquidade, anulando qualquer ação do tempo sobre o
espaço onde opera. Pois, como afirma Castells: “ [...] a difusão da internet e uma
variedade de ferramentas de software social levou ao desenvolvimento de redes
horizontais de comunicação interativa que conectam local e global a todo e qualquer
tempo (2009:65)4”.

Por isso mesmo acreditamos na intersecção que nos propõe Martín-Barbero


(2008:6), ao sugerir que “atualmente, teríamos que fazer perguntas sobre o significado
dos processos de comunicação e cultura nos quais desempenham, como já foi dito, a
construção coletiva de sentido”5. Para compreendermos como a prática cotidiana de
consumo midiático pós-massivo repercute sobre a construção dos sentidos de percepção
e ação cidadã do sujeito contemporâneo, partilhamos também das proposições
metodológicas desenvolvidas por Couldry, Livingstone e Markham (2010), ao
postularem a investigação dos processos e práticas cotidianas de consumo midiático
massivo como forma de tangibilizar percepção e ação política do sujeito, através do
conceito denominado conexão pública midiatizada6. Do estudo de Couldry et.al.(2010)
nos atrai especialmente a condição analítica da prática cotidiana de consumo midiático,
na reconfiguração empírica de percepções e ações do sujeito jovem, a partir do conceito
mais amplo de apropriação midiática.

O marco teórico, a partir do campo das ciências de comunicação – estudos dos


processos de recepção e de práticas de consumo – é definido a partir de uma sociedade
em rede (CASTELLS, 2008), na qual ocorrem processos cotidianos de comunicação

3 Tradução nossa. No original: “Pensar estas temporalidades es otra encrucijada: frente a la obsolescencia
cada vez más rápida del mercado –todo se produce para que cada vez dure menos–, está la durabilidad de
las culturas que, al contrario del mercado, están hechas para permanecer. “porque é pensar nos longos
tempos da cultura versus os tempos efêmeros do mercado” (2008:12).

4 Tradução nossa, no original: “the difusion of internet and a vairety of tools of social software has
prompted the development of horizontal networks of interactive communication that connect local and
global in chosen time” (Castells, 2009:65)
5 Tradução nossa. No original: “En la actualidad tendríamos que ponernos a formular preguntas sobre el
sentido de los procesos de comunicación y de cultura en los que juega, como ya se ha dicho, la
construcción colectiva del sentido” ( 2008:6).

6 Tradução nossa, no original: “Mediated public connection” (Couldry, Livingstone &Markham, 2010:65)

21
midiática (COULDRY, LIVINGSTONE e MARKHAM, 2010) em condição pós-
massiva (GARCIA CANCLINI, 2010); bem como estudos relacionados a jovens e sua
rotina de comunicação e práticas de consumo em redes sociais digitais – KIDS On Line
Brasil (2018), e em especial, a partir de uma perspectiva política de cidadania e juventude,
desenvolvidos por Livingstone, Mascheroni e Staksrud, (2015), Huertas e Maz (2014),
Cogo e Brignol (2011) e Porto (2005).

Partimos do trabalho de Dalhgren, (2005, 2011, 2018), para situar a percepção e


ação cidadã, a partir do enquadramento da cultura cívica, e da centralidade da prática
midiática na formação desta mesma cultura cívica, especialmente pelo sujeito jovem,
urbano e conectado. Das relações que definem a formação desta cultura cívica através do
consumo midiático, referenciamos a pesquisa de Couldry, Livingstone e Markham
(2010), de onde apropriamos o conceito de conexão pública midiatizada7, materializado
por observação, registro e análise da prática comunicacional cotidiana dos sujeitos da
pesquisa. Situamos, no entanto, que o conceito de conexão pública midiatizada foi
deslocado a partir da dimensão pós-massiva (GARCIA CANCLINI, 2010), que constitui
o objeto midiático da pesquisa operado na perspectiva da noção conceitual de
Comunicação Individual de Massa (CASTELLS, 2008).

Para estabelecermos as diversas dimensões acerca da cidadania, apropriamos as


reflexões de Cortina, (1997); Cogo, (2010); Cogo, Elhajji e Huertas, (2012) em direção a
uma cidadania plural, na perspectiva de uma cultura cívica fortemente influenciada pela
prática comunicacional cotidiana e pós-massiva do sujeito (DALHGREN,2011).
Parametrizando esta condição pós-massiva, do consumo midiático cotidiano,
referenciamos de Bonin (2016), a noção de apropriação midiática para observação,
registro e análise da prática comunicacional cotidiana dos sujeitos da pesquisa.

Para classificação dos conteúdos registrados em espaços digitais, procuramos


relacioná-los a partir da perspectiva das dimensões culturais cívicas de ação do sujeito
(Dalhgren, 2011, 2018), no enquadramento analítico proposto pela Comunicação

7 Tradução nossa, no original: “Public mediated connection” Couldry, Livingstone e Markham, (2010:3)

22
Individual de Massa, ( individualismo e comunalismo8) através das quais a prática
comunicacional do sujeito pode ser verificada como tendo o indivíduo, ou seus coletivos,
como centro de valor de suas dimensões culturais cívicas. Da mesma forma que o âmbito
Global/local se sobressai a partir de sua prática comunicacional, parametrizando tanto a
referência cultural cívica cotidiana do sujeito, quanto a dimensão de representatividade e
legitimidade de sua cidadania constituída.

O objetivo dessa tese é, na perspectiva dos estudos de recepção em comunicação


e consumo, investigar as práticas comunicacionais de jovens em espaços digitais
relacionadas às suas percepções e ações sobre cidadania. O universo da pesquisa é
constituído por jovens, alunos regulares da Escola Técnica Estadual de Ensino Médio
Técnico, ETEC, vinculada ao ensino público e localizada na Zona Leste de São Paulo,
região onde também residem. A metodologia, de caráter qualitativo, abrangeu pesquisa
bibliográfica e documental, observação no contexto escolar e em espaços digitais,
aplicação de questionários e entrevistas que envolveram um universo de 26 sujeitos
jovens, 17 do sexo feminino, e 9 do sexo masculino, com idades entre 15 a 18 anos,
regularmente matriculados no Ensino Técnico Integrado ao Médio em Escola Técnica
estadual – ETEC– na Zona Leste da cidade de São Paulo.

Na construção do objeto da pesquisa, consideramos três instâncias teóricas: 1º) a


instância da Comunicação Individual de Massa9 (Castells, 2008:52); 2º) a instância de
cidadania, (CORTINA,1997; COGO, 2010; COGO, ELHAJJI e HUERTAS, 2012), que
marca a constituição do sujeito cidadão e referencia os vários níveis de pertencimento
social observado, além das dimensões de acesso e práticas midiáticas cotidianas; 3º) a
instância de consumo midiático (GARCÍA CANCLINI, 2010); que marca as dimensões
de percepção e ação cidadã observadas pelo prática cotidiana nos jovens sujeitos da
pesquisa.

8 Tradução nossa, no original:”individualism and communalism” CASTELLS (2008:56)

9
Tradução nossa, no original: “Mass-self communication. Castells (2008:52)

23
A partir destas três instâncias, buscamos levantar, junto ao universo de jovens, a
materialização destas instâncias pelo campo empírico, de forma a construir um percurso
analítico em torno das duas dimensões que compõem o objetivo da pesquisa através das
evidências reunidas, sobre perfil, comportamento, consumo e interações cotidianas dos
jovens estudante e consumo de redes digitais: 1º) as percepções de cidadania e temáticas
relacionadas que mobilizam estes jovens em sua prática midiática cotidiana; e 2º) as
formas de ação cidadã – mobilização cidadã dos jovens relacionadas a seu consumo
midiático.

Para isso nos dedicamos a mapear e analisar a prática cotidiana de consumo


midiático dos jovens, tanto pelas mídias massivas quanto pelos espaços comunicacionais
digitais, na perspectiva de compreender como se dá a constituição e percepção de sua
cidadania, bem como a mobilização e ação social destes estudantes. Especificamente
pelas redes sociais Facebook, Instagram e Twitter, investigamos a prática cotidiana
midiática dos sujeitos, para identificar as temáticas cidadãs e as instâncias em que se
constituem estas referências temáticas. As seguintes perguntas nortearam a construção do
objeto de estudo : 1) Como os diferentes sujeitos, jovens estudantes, residentes na Zona
Leste do município, se constituem cidadãos, a partir de seu consumo midiático, observado
tanto no espaço urbano quanto no âmbito social digital? 2) Como a utilização destas redes
sociais digitais pelos jovens atuam no exercício cotidiano de cidadania, a partir da cultura
cívica que praticam?

O capítulo 1 dessa tese apresenta a estrutura e os processos metodológicos da


pesquisa, detalhando os procedimentos empíricos realizados no ambiente escolar público
de Ensino Médio na cidade de São Paulo e no contexto das mídias em geral e das redes
sociais digitais. O capítulo 2 é dedicado ao debate teórico sobre comunicação (SCOLARI,
2008; OROZCO e GONZALEZ, 2011) em sua dimensão pós-massiva (GARCÍA-
CANCLINI, 2010), de convergência digital (JENKINS, 2008), ede hibridismo político
(GARCÍA CANCLINI, 2010). Na centralidade com que comunicação e consumo
assumem a cultura contemporânea (KELNNER, 2001; CASTELLS, 2008 e WOLTON,
2009), relacionamos o viés tecnicista do algoritmo (KIDD, 2019), assim como o viés
cognitivo de conexão neuronal (CASTELLS, 2008) para localizar a dimensão social das

24
redes digitais, (CASTELLS, 2008; KIDD, 2019 e BAKARDJIEVA, 2015), que compõem
o campo empírico desta tese – Facebook, Instagram e Twitter.

No capítulo 3, partimos das categorias sociais de juventude (BOURDIEU, 1983)


e de seu espaço de ação social (FEIXA, 1998), para situar as condições coletivas que
definem as dimensões familiar e escolar destes jovens. Da mesma forma, as categorias
culturais relacionadas à cultura cívica (DALHGREN, 2011) e à cultura de consumo,
(MCKRACKEN, 20XX; FONTENELE, 2007 e BACCEGA, 2011), colaboram para o
entendimento da dimensão de suas rotinas enquanto consumidores (GARCIA
CANCLINI, 2008) e cidadãos (DAHLGREN, 2011). As discussão sobre o indivíduo e o
cidadão desdobram na de esfera pública (HABERMAS, 1973 e DALHGREN, 2010), e
esfera pública conectada (GARCIA CANCLINI 2009; CASTELLS, 2009 e
DALHGREN, 2011).

O capítulo 4 trata das demarcações contemporâneas da cidadania (CORTINA,


1997, COGO, 2010); a partir de suas fronteiras político-econômicas (CORTINA, 1997,
GARCÍA CANCLINI, 2010); e de representação do cidadão (DALHGREN, 2011).
Partimos da premissa estabelecida por Couldry, Livingstone e Markham, (2010), sobre
as práticas cotidianas de consumo midiático e a dimensão de conexão pública mediatizada
como esfera pública de consciência e ação política (HABERMAS, 1973; e DALHGREN,
2011) e abrangemos a perspectiva de uma cidadania plural e transcultural (CORTINA,
1997), pela qual a interculturalidade (COGO,2006) assume um status privilegiado nesta
produção de sentidos e práticas da cidadania. No capítulo 5, orientados pela discussão
teórica, sistematizamos e analisamos os dados empíricos da pesquisa sobre consumo
midiático, redes sociais e cidadania de jovens da Escola Técnica Estadual de Ensino
Médio Técnico, ETEC, vinculada ao ensino público e localizada na Zona Leste de São
Paulo.

25
METODOLOGIA DA PESQUISA

A partir de uma metodologia de caráter qualitativo, a abordagem empírica dessa


pesquisa envolveu a aproximação com jovens e seus consumos midiáticos no ambiente
escolar e em espaços digitais no contexto da Zona Leste da cidade de São Paulo. No
marco das definições de sentido para a juventude e o jovem como categoria (Bourdieu,
198410), procuramos compor o universo de jovens participantes da pesquisa orientados
pelos seguintes critérios: As faixas etárias empregadas em pesquisas relacionadas, tanto
a jovens, quanto aos espaços digitais por eles ocupados, das quais destacamos a pesquisa
KIDS on-line Brasil 2018, segundo a qual, “dos 24,3 milhões de sujeitos entre 9 e 17 anos
que acessam a internet regularmente, cerca de 20 milhões – 82% deles – possuíam perfis
ativos em alguma rede social em 2018, (CETIC-BR; 2018:10).”

No âmbito da categoria de 9 a 17 anos, a faixa etária de 15 a 17 anos é a que mais


se destaca em volume – 94% deles estão conectados – e ainda quanto à frequência de
conexão: 81% destes, relataram utilizar a Internet todos os dias (.CETIC-BR, KIDS On
Line Brasil, 2018:112). No gráfico 01 a seguir, relacionamos algumas das principais
características sociodemográficas desta faixa etária, em especial, dos jovens entre 15 e 17
anos de idade levantadas pela pesquisa KIDS on-line

10
Como veremos adiante, Pierre Bourdieu estrutura o conceito de juventude como categoria a
partir da perspectiva de hierarquia e dominação dos mais velhos sobre os mais jovens e a disputa de poder
que se dinamiza entre as gerações em um dado meio social.

26
Gráfico 1: Crianças e Adolescentes que acessaram a internet nos últimos 3 meses (2018)

Fonte : KIDS On Line Brasil (2018:111).

A partir da perspectiva de que esta faixa etária assume maior presença em termos
de acesso e práticas comunicacionais nos espaços digitais que nos interessam – as redes
sociais Facebook11, Twitter12 e Instagram13 – e representa uma etapa da vida na qual o
sujeito demanda uma articulação mais intensa na constituição de si como cidadão,
definimos a faixa etária 15 a 18 anos para composição do universo da pesquisa.

Além disso, a condição de ser estudante regularmente matriculado em instituição


educativa também operou como premissa de escolha destes jovens, nos levando a
considerar os ambientes escolares da capital paulista – escolas públicas e privadas – como
os mais propícios para implementar o campo empírico desta tese, de forma a podermos

11 Facebook.com: rede social digital de acesso gratuito a maiores de 13 anos, desenvolvida desde 2004 por
Mark Zuckerberg. Em janeiro de 2020, contava com 120 milhões de usuários brasileiros ativos.
12 Twitter.com: rede social digital de acesso gratuito a maiores de 13 anos, desenvolvida desde 2006, por
Jack Dorsey, Evan Williams, Biz Stone e Noah Glass. Em dezembro de 2019, contava com 8,28 milhões
de usuários brasileiros ativos.
13 Instagram.com: Rede social digital de acesso gratuito a maiores de 13 anos, desenvolvida desde 2010,
por Kevin Systrom e Mike Krieger, e vendido ao Facebook em 2012. Em janeiro de 2020, o Instagram
contava com 77 milhões de usuários brasileiros ativos.

27
correlacionar o cotidiano da prática comunicacional dos sujeitos tanto em espaços
digitais, quanto em espaços presenciais, não mediados pelas mídias.

Em função das atividades docentes deste pesquisador, desenvolvidas em colégios


particulares e públicos do município de São Paulo, pela ESPM-SP – Instituição de Ensino
Superior onde é Professor Assistente II – foi possível realizar duas abordagens
exploratórias durante o ano letivo de 2018: 1º) Em escola particular localizada como da
elite paulistana por conta de seu currículo europeu14 e alto valor financeiro das anuidades
– em torno de R$ 70.000,00 (setenta mil reais) /ano – pudemos organizar uma discussão
em grupo focal de uma hora e meia de duração, composto por quatro alunas de segunda
série de ensino médio regular, a fim de verificamos o interesse e relevância da temática
da cidadania para os sujeitos jovens; 2º) Na Escola Técnica (ETEC15) Martim Luther
King, estadual – portanto gratuita – localizada na Zona Leste de São Paulo, tivemos a
oportunidade de realizar duas palestras técnicas sobre Comunicação e Consumo, em duas
turmas de segunda série do Ensino Técnico Integrado ao Médio em Administração de
Empresas. Neste caso, percebemos uma diferença significativa na diversidade do grupo
de jovens presentes em relação à escola particular também visitada.

Após conhecermos a realidade estatuária do ensino regular público/privado e do


ensino técnico oferecido pelas ETECs16, para a possibilidade efetiva de realizarmos a
pesquisa, decidimos por estabelecer, em uma ETEC, o campo empírico da pesquisa.

14 O currículo Europeu adotado pela instituição, é oferecido em complemento ao currículo brasileiro, de


forma que o aluno formado possua certificados de formação de ensino médio válidos na Europa, com
perspectiva de ingresso ao ensino superior europeu.

15 Uma ETEC é uma escola técnica estadual que oferece admissão mediante aprovação em concurso
vestibular próprio, com escalas de pontuação que objetivam equalizar as distâncias de formação entre
candidatos de escolas públicas em relação a candidatos de escolas particulares. Verificamos, por conta da
formação técnica pública de alta qualidade oferecida e por seus critérios de ingresso, que a ETEC poderia
ser um ambiente escolar mais diverso em termos de classe, raça e gênero.

16 A vinculação dos sistemas de Ensino Médio regular, privado e público municipal às normativas da
Secretaria Municipal de Educação e ao Estatuto da Criança e Adolescente vigente, proíbem a realização de
qualquer pesquisa dentro das dependências das escolas. No entanto, por serem as ETECs vinculadas ao
Instituto Paula Souza – uma autarquia -, e à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, as Escolas Técnicas
possuem uma política mais flexível para autorizar a realização de pesquisas como esta em suas
dependências. Existem, na cidade de São Paulo, 44 escolas técnicas, dentre as 223 existentes no Estado
de São Paulo. As ETECs oferecem um total de 151 cursos voltados a todos os setores produtivos em âmbito
público e privado.

28
Procuramos, então, a direção acadêmica da ETEC Martim Luther King – ETEC
MLK – onde já havíamos estado, para estabelecer um protocolo de parceria para
realização da pesquisa de campo. Após resposta positiva da direção acadêmica, firmamos,
no dia 28 de setembro de 2018, em reunião realizada com a direção acadêmica da ETEC
MLK, termo de parceria que estabeleceu o protocolo, os procedimentos e as condições de
aplicação da pesquisa, bem como a autorização de pais/responsáveis para que os sujeitos
pudessem participar da pesquisa.17

Em 6 de novembro de 2018, fomos autorizados a apresentar o projeto de pesquisa


a quatro turmas de 20 alunos dos cursos já mencionados, duas turmas de primeira série e
as outras duas de segunda série do Ensino técnico-médio integral18. Pudemos explicar,
em palestra, o protocolo de pesquisa desenvolvido e o conteúdo da autorização de
participação, exigida pela ETEC MLK para continuarmos com o processo de pesquisa.
Do universo disponibilizado pela ETEC MLK de 80 alunos, tivemos 26 autorizados pelos
responsáveis a participar da pesquisa, constituindo o universo final de aplicação da
pesquisa, dos quais 17 do sexo feminino, e nove do sexo masculino19.

Tivemos uma acolhida significativa por parte da coordenação acadêmica da ETEC


MLK, que não apenas abriu as portas da instituição para a realização da pesquisa junto a
seus alunos, mas também forneceu a estrutura de computadores e sala de informática para
preenchimento dos questionários pelos alunos, sala para realização das entrevistas
individuais e espaço interno circulante para a realização da observação de campo.

17 O termo de parceria estabelecendo as condições de pesquisa, estrutura demanda e obrigações implícitas


ao pesquisador e à ETEC, encontra-se na seção de anexos deste trabalho. Representando o corpo técnico
administrativo da ETEC Martim Luther King, o Sr. Vagner Sarti assinou termo de parceria entre o
pesquisador e a ETEC MLK, para a realização de todas as fases relacionadas a esta pesquisa. A elaboração
da autorização de pais/responsáveis e sujeitos, e dos protocolos adotados, se deu a partir de Kozinets
(2011),tanto quanto o tratamento dos dados, atende às práticas recomendadas pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da ESPM-SP, a partir do seminário “Comitês de Ética em Pesquisa e a pesquisa com seres
humanos em Ciências Sociais Aplicadas” do qual fui participante ouvinte.

18 O conteúdo da apresentação, com todas as telas utilizadas pode ser consultado nos anexos desta tese.

19 A partir da apresentação da pesquisa e protocolos, foram distribuídas 80 autorizações de participação


para coleta de assinaturas de pais/responsáveis, das quais 26 retornaram assinadas.

29
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

Ao definirmos, como contexto empírico da pesquisa, a ETEC-MLK na Vila


Carrão, Zona Leste de São Paulo, adequamos os procedimentos de campo à agenda
escolar vigente, tendo em vista que a escola tem carga de oito horas diárias e 40 horas
semanais Determinamos o cronograma de datas de realização de cada etapa da pesquisa.

Iniciamos com a aplicação do questionário individual, entre 23 a 28 de novembro


de 2018; posteriormente, realizamos entrevistas individuais semiestruturadas, entre 3 e 7
de dezembro de 2018. A observação não participante no ambiente escolar – salas de aula
e áreas coletivas de convivência – foi desenvolvida entre 23 de novembro e 15 de
dezembro de 2018. Paralelamente realizamos a observação, registro e análise da prática
comunicacional pós-massiva destes jovens estudantes, acompanhando os 59 perfis por
eles operados, nos espaços digitais já mencionados -redes sociais Facebook, Twitter e
Instagram, no período entre novembro de 2018 e junho de 2019.

Para a observação em ambiente escolar, trabalhamos em diferentes períodos, com


duração de uma hora a duas horas, conforme a disponibilidade tanto da agenda escolar
como da agenda do pesquisador, sempre no decorrer do período letivo, entre 8h20min e
17h40min. Desta forma, pudemos observar as salas de aula durante a dinâmica das
disciplinas de Marketing e Computação, bem como nas áreas comuns da ETEC MLK –
pátio e refeitório. Para o período de observação das práticas cotidianas de comunicação e
consumo dos sujeitos, a partir de seus 59 perfis ativos nos espaços digitais, foi realizado
monitoramento e registro fotográfico diário dos conteúdos. A seguir, detalhamos o
processo de realização cada um dos procedimentos da pesquisa.

Estruturamos o questionário20 para ser aplicado em um único intervalo letivo de


45 minutos por participante, de acordo com as turmas e a agenda disponibilizada pela

20
O questionário como aplicado, está no Apêndice D – Formulário de pesquisa Survey – 3º parte
do questionário p.200.

30
ETEC para sua aplicação. Dividimos o questionário em partes, a fim de constituir um
quadro mais objetivo de cada sujeito, de forma que a primeira parte se refere à sua
trajetória individual (idade, raça, opção e gênero sexual, religião), e seu contexto
socioeconômico familiar (composição da unidade familiar, nível de formação dos
pais/responsáveis, ocupação profissional atual de pais/responsáveis, o núcleo e
quantidade de pessoas e gerações de parentes que compõem o núcleo familiar. Fechando
a primeira parte, apresentamos 18 temáticas relacionadas a várias dimensões de
cidadania, – Questões familiares, Questões políticas, Questões escolares, Pobreza,
Transporte público, Assaltos, Saúde pública, Racismo, Homofobia, Corrupção, Questões
do Bairro, Direitos Humanos, Violência de Gênero, Questões Pessoais, Direito ao Livre
Pensar, Direitos e Deveres dos Cidadãos, Direitos do Estatuto da Criança e do
Adolescente, Violência a Crianças e Adolescentes – perguntando aos jovens quais destes
temas são conversados em cotidiano e quem são as pessoas a quem recorre para a
abordagem dessas temáticas relacionadas à cidadania.

Uma segunda parte do questionário abrangeu os primeiros aspectos relativos ao


consumo midiático dos jovens em espaços digitais, contemplando dispositivos de
conexão em rede pertencentes aos sujeitos; recursos de conexão, como banda larga de
internet doméstica, serviços de televisão por assinatura e serviços de streaming como
Netflix, ou Globoplay, entre outros existentes; as combinações entre dispositivos e formas
de conexão utilizadas.
Na terceira e última parte do questionário21, replicamos 24 das questões propostas por
Choi, Glassman e Cristol (2017) para parametrizar a maneira como os sujeitos
compreendem as relações entre sua prática comunicacional pós-massiva e sua cidadania
on/off-line.

As entrevistas individuais semiestruturadas foram programadas para ocorrer cerca


de 30 dias após a realização dos questionários, de forma a podermos estruturar a condução
de cada entrevista a partir dos dados coletados em questionário e necessidades de maior
detalhamento. Todas as entrevistas foram gravadas em áudio. No entanto, pelo protocolo

21
Estas questões estão reproduzidas no Apêndice D – Formulário de pesquisa Survey – 3º parte
do questionário p.215.

31
de pesquisa firmado, seu conteúdo não poderá ser disponibilizado publicamente em
áudio, mas apenas para a banca da defesa desta tese através do link : shorturl.at/jloJU. A
fim de preservar suas identidades, nomeamos os jovens por ELA01 a ELA17 (meninas)
e ELE01 a ELE09 (meninos). Nos registros de imagem inseridos na tese, desfocamos os
nomes dos perfis e dos rostos das pessoas retratadas, quando se tratava de postagens
autorais.
Planejamos a entrevista para durar entre 20 e 45 minutos, de forma que pudessem
ser realizadas em espaços intercalados com aulas e outras atividades das turmas que os
jovens participantes das pesquisas integravam. O roteiro elaborado para a condução das
entrevistas22 abrangeu desde a preparação do ambiente– sala da direção acadêmica da
ETEC, durante manhãs e tardes letivas – até a preparação de recursos acessórios, como
imagens e vídeos utilizados como recursos adicionais, conforme as questões perguntadas.
Foram estruturados eixos temáticos a fim de descobrirmos aspectos fundamentais sobre
os sujeitos e suas práticas midiáticas em espaços digitais.

Um eixo biográfico inicia a entrevista individual semiestruturada, mapeando o


cotidiano semanal do sujeito. O eixo seguinte, de consumo midiático, aprofunda a
investigação sobre a amplitude e diversidade do consumo midiático realizado. Neste
sentido observamos uma prática comum entre os sujeitos, a partir das redes conectadas:
Ao iniciar o smartphone em modo de navegação pela internet, abrem a tela inicial do
buscador Google. Nela estão expostas notícias selecionadas pelo algoritmo direcionador
de conteúdo, a partir dos hábitos de acesso e frequência dos sujeitos. Nesta etapa,
questionamos os sujeitos sobre a crença/descrença no conteúdo consumido em relação à
checagem de fontes ou origem da informação. O terceiro eixo condutor da entrevista
individual semiestruturada levanta as dimensões pública e privada pelas quais os sujeitos
pautam as informações que disponibilizam a seu respeito nos espaços digitais.

Em seguida, o roteiro contemplou o eixo de cidadania e temáticas cidadãs,


dividido em duas partes: na 1º parte, apresentamos 11 temáticas sem fazer referência
explícita à cidadania; racismo, assédio, violência, solidão, pobreza, fome, doença, risco
social, desemprego, corrupção e favoritismo. Questionamos então, se o sujeito visualiza

22
O roteiro completo das entrevistas individuais semiestruturadas está nos apêndices desta tese.

32
dentre os temas, algum relacionado à cidadania e, em caso positivo, de que forma o tema
se relaciona com a cidadania. Nesta mesma direção, apresentamos 8 temáticas específicas
próximas do cotidiano jovem: Bullying, preconceito, cyberbullying, sexismo,
discriminação, ativismo social, voluntariado e rede de apoio social, a fim de descobrir
quais destes temas mobilizam os sujeitos, e de que forma se mobilizam.

Eixo de pertencimento cidadão: A fim de compreender as dimensões de


pertencimento cidadão, relacionamos 12 instâncias de mediação social cidadã, e pedimos
que os jovens relacionasse em quais delas se sente seguro, pertencente e ativo: Família,
Escola, Turma, Tribo, Grupo, Bando, Clube, Cidade, Estado, País, Mundo, Planeta.

Eixo de espaços digitais ativos ao sujeito: Relacionamos aqui, nove espaços


digitais de redes sociais mais comuns, para que os jovens assinalassem em quais mantém
perfis ativos, com qual frequência de acesso e que tipos de conteúdo costuma processar
nestes espaços. Perguntamos, ainda, se os jovens acreditam que sua utilização cotidiana
influencia sua percepção de mundo.

Eixo conceitual de cidadania: Perguntamos os jovens se os conceitos de “certo”


e “errado” são importantes para sua definição de cidadania, bem como de qual forma os
sujeitos avaliam o que vem a ser certo e errado, na sociedade em que vivemos. Em
seguida, pedimos uma definição de cidadania ao sujeito, bem como sua crença de estar
sendo cidadão enquanto está interagindo nos espaços digitais da pesquisa.
O desenvolvimento da observação não-participativa no campo social dos sujeitos da
pesquisa se deu no âmbito escolar, uma vez que estes jovens passam todo o dia em
atividades letivas, chegando às 08:20 horas e retornando a suas casas por volta das 17:40
horas. Assim pudemos observar as interações entre estes jovens, seus colegas e suas
práticas de apropriação midiática pós-massiva durante o cotidiano escolar objetivando
apreender deste cotidiano a forma pela qual estes espaços digitais são operados pelos
jovens.

Entre 23/11/2018 e 15/12/2018, estivemos na ETEC MLK, para cinco sessões de


observação não participante, de 30 a 90 minutos de duração cada, envolvendo espaços e
contextos diversos. Por termos três turmas – uma de primeira série e duas de segunda

33
série – integradas pelos 26 sujeitos participantes, houve um rodizio por parte do
pesquisador pelas três salas, acompanhando as atividades em período letivo de duas
professoras de disciplinas técnicas – Profa. Eloísa Lages (Marketing I e II), e Profa. Luana
Aracre, (Ciências da Computação). Em três oportunidades diferentes, observamos uma
aula de marketing pela manhã, duas aulas de ciências da computação à tarde e outros dois
momentos de atividades comuns realizadas pelos alunos na escola – a hora do almoço (os
sujeitos almoçam na ETEC) e uma exposição pública de trabalhos da disciplina de
Marketing II, realizada na quadra esportiva da escola.

Foi possível observar, assim, o cotidiano midiático dos sujeitos relacionado aos
espaços digitais pesquisados, na convivência em salas de aula – tradicional com carteiras,
e de informática, com 1 computador para cada dois alunos – e fora dela, nos espaços livres
de convivência na ETEC MLK.

No período entre fins de novembro de 2018 e junho de 2019, foram realizados os


processos de observação e registro das práticas cotidianas de comunicação e consumo
midiático em espaços digitais, compreendendo ao todo 59 perfis ativos dos 26 sujeitos
sendo: 20 perfis ativos no facebook.com; 24 perfis ativos no instagram.com e 15 perfis
ativos no twitter.com.

Pela condição de utilização destes espaços digitais, estabelecemos o regime de


visitas diárias aos perfis constando de uma hora de navegação pelos conteúdos postados
pelos sujeitos nos três espaços digitais, com registro fotográfico das atualizações
catalogadas por perfil. De forma a percorrer todo o universo dos 59 perfis ao longo dos
dias úteis da semana, trabalhamos à razão de 10 perfis ao dia. Desta forma, pudemos
equacionar a quantidade de perfis com os ritmos de postagem por espaço digital
específico, intercalando a observação e coleta entre Facebook, Instagram e Twitter.

A partir da observação e registro das práticas comunicacionais cotidianas nos


espaços digitais constituídos por 59 perfis ativos dos 26 sujeitos, pudemos registrar e
classificar os conteúdos a partir das três instâncias dimensionadas para esta tese; da
comunicação pós-massiva, – processo de comunicação individual de massa – como lócus
do processo comunicacional do jovem; da percepção de sua cidadania e de si – nos

34
ambientes urbano e conectado – revelada a partir de observação não participativa dos
estudantes e sua prática comunicacional; da mobilização e ação cotidiana de cidadania
ativa, exercida nos ambientes urbano e conectado deste jovem estudante, residente e
conectado a partir da Zona Leste de São Paulo.

Para articulação dos dados coletados a partir dos diferentes procedimentos


metodológicos utilizados , desenvolvemos nossa análise a partir de dois eixos ;1º) As
percepções de cidadanias – urbana e conectada – destes sujeitos, suas temáticas
mobilizadoras, identificadas por sua prática midiática pós-massiva e; 2º) As formas de
ação e mobilização cidadã dos sujeitos nos espaços – urbano e conectados – observados,
que guardam relação com o consumo midiático.

Para análise, em torno desses dois eixos, nos orientamos pela combinação de
aspectos de constituição objetiva e subjetiva dos 26 jovens da pesquisa, relacionando três
instâncias de seu cotidiano: a do indivíduo urbano, ( localizado a partir da Zona Leste
de São Paulo e seu contexto cotidiano de circulação e uso da cidade onde reside); a do
consumidor midiático pós-massivo (seus dispositivos e formas de acesso digital, hábitos
de consumo midiático, esferas pública de ação, perfis ativos em redes sociais digitais); e
a do cidadão (a noção de cidadania e pertencimento cidadão nas diversas instâncias
sociais de interação desse sujeito, e as temáticas cidadãs que mais afetam seu cotidiano),
que se manifestam através de sua prática comunicacional cotidiana.

A partir do território informacional dimensionado por espaços sociais – urbano e


digital – desenvolvemos uma metodologia de coleta de dados multivariada, estruturada a
partir das condições de acesso ao campo: 1) a ETEC MLK, das 08:00 horas às 16:40
horas; 2) o espaço digital deste jovens, a partir dos perfis mantidos nas redes sociais
Instagram, Facebook e Twitter.

Nas dependências da ETEC-MLK, iniciamos pela aplicação de um questionário


na sala de informática, para o levantamento inicial de características pessoais, familiares,
sociais e econômicas dos jovens estudantes. Em seguida, realizamos uma entrevista
individual semi-estruturada para obter um aprofundamento das crenças e posições sociais
destes jovens, abrindo o detalhamento a partir do consumo midiático, na percepção de

35
temas relacionados a cidadania pelos jovens. Realizamos ainda – em algumas salas de
aula e espaços de convivência social – um período de observação não-participativa no
ambiente escolar. Além de observação não-participativa nas respectivas redes sociais
destes jovens. No que diz respeito aos processos de coleta de dados, procuramos
investigar o comportamento social dos jovens em espaço social urbano – da escola – e
em espaço social digital – das redes sociais – para atendermos as demandas do protocolo
de análise.

A seguir, passamos a desenvolver os principais conceitos que compõem o referencial


teórico dessa pesquisa e que, posteriormente, serão orientadores da análise dos dados
empíricos.

36
1. COMUNICAÇÃO PÓS-MASSIVA.

Na condição de uma pesquisa estruturada a partir do campo de estudo dos


processos de recepção midiática em comunicação e práticas de consumo, é importante
que divisemos os paradigmas que nos sustentaram pela construção metodológica, teórica
e empírica a partir dos objetivos já mencionados. Neste sentido, temos a condição de olhar
o campo acadêmico das ciências da comunicação, como propõe Scolari (2008), ou ainda,
um passo atrás, a condição de olhar o campo acadêmico que estrutura toda e qualquer
ciência autônoma, como propõem Orozco e Gonzalez (2011). Partimos com Scolari
(2008), pela construção paradigmática a partir da comunicação, em sua condição massiva
predominante desde a metade do século XIX, como localização do fenômeno
comunicacional a partir do qual os teóricos compõem o saber do campo.

1.1. UMA QUESTÃO PARADIGMÁTICA.

Scolari (2008), ao abordar o campo dos estudos da comunicação, afirma que as


teorias erigidas especialmente ao longo do século XX, período consolidado tanto pelo
estabelecimento de uma comunicação de massas quanto pela hegemonia de uma cultura
midiática (KELNNER, 2001), estabeleceram como objetivo de encontrar uma definição
compartilhada para seu objeto de estudo e um modelo que representasse fielmente o
processo comunicativo. Ao que refuta como infrutífera: “…pois cada teoria propôs um
modelo e definição próprios de comunicação”23 (SCOLARI, 2008:24). Ao destacar a
pluralidade que fundamenta a epistemologia da comunicação, Scolari questiona acerca
da exclusividade que se atribui ao campo, da comunicação, levando em conta o caráter
interdisciplinar que a estrutura como campo. A esta noção de exclusividade, Scolari
classifica como um sintoma de miopia epistemológica.

O autor nos apresenta as teorias como conjuntos de conversas científicas sobre um


determinado tema, propondo a existência inequívoca do campo discursivo da
comunicação de massa. Um campo formado ao longo de seu registro e análise por várias

23 Tradução nossa. No original: “ésta fue una empresa infructuosa: cada teoría propuso su propio modelo
y definición de comunicación.” (2008:24) SCOLARI,Carlos, Hipermediaciones: Elementos para una
Teoría de lá Comunicación Digital Interactiva; Gedisa, Barcelona.

37
filiações teórico-metodológicas, combinadas ao longo da história, em especial, a partir do
século XIX em diante. De forma que, como afirma Scolari (2008), é para tentar traduzir
a confusão empregada nesta construção gramatical da ciência da comunicação, que foi
proposta uma classificação paradigmática relacionando as filiações teóricas da
comunicação de forma a dimensionar ordenadamente a epistemologia do campo das
ciências da comunicação. Esta classificação – seu sistema explicativo, seus níveis de
organização, suas premissas epistemológicas e sua concepção implícita da prática
comunicacional – operam critérios claros e objetivos, estruturados ao redor do fenômeno
da comunicação de massa, em que pese a amplitude histórica – desde a metade do século
XIX e por todo o século XX – e sua consequência tecnológica no século XXI, como
delimitações deste exercício conceitual, conforme exposto no quadro a seguir:

Quadro 1 - As Teorias de comunicação de massas

Fonte: SCOLARI,Carlos, Hipermediaciones: Elementos para una Teoría de lá Comunicación Digital


Interactiva; Gedisa, Barcelona, (2008:42).

A classificação por paradigmas estrutura as filiações teóricas em termos de


matrizes operativas e suas origens disciplinares, a partir de uma abordagem rigorosamente
científica:
- Seu sistema explicativo – cognitivo, sistêmico;

- Seus níveis de organização – interpessoal, grupo, institucional, massiva etc.;

38
- Suas premissas epistemológicas (empíricas, críticas etc.); ou ainda;
- Sua concepção implícita de prática comunicacional (retórica, semiótica,
fenomenológica etc.).

O que se apresenta como um mapa dos paradigmas que norteiam o campo da


comunicação, a partir de sua condição midiática massiva, funciona em primeira leitura
também como marcação da tributação de campos autônomos na construção
interdisciplinar do campo científico da comunicação – como se dá com a cibernética, a
matemática e a engenharia, presentes na matriz teórica relativa ao paradigma
informacional. Ou, ainda, a psicanálise, que junto à psicologia aplicada, figura em três
dos cinco paradigmas – crítico, empírico-analítico e semiótico-discursivo – e também a
economia política e a sociologia, que figuram em três deles – crítico, empírico-analítico
e interpretativo-cultural – além de algumas das ciências recentes, tributárias da sociologia
e da economia, como a antropologia cultural e a etnografia, presentes em conjunto no
paradigma interpretativo-cultural. De fato, percebe-se claramente a transversalidade da
comunicação massiva, por muitos dos campos científicos empregados no curso de sua
constituição.

Deixemos por um instante essa perspectiva evolucionista, para observar quatro


paradigmas que, como apontam Orozco e Gonzalez (2011), são anteriores à ciência da
comunicação, pois são norteadores das ciências, e desta forma, aplicados a todo e
qualquer campo científico como forma de legitimação. Praticada como uma forma de
confronto, pelas propostas que oferecem sobre como e o que é fazer ciência que ,em suas
visões em maior ou menor grau, se alteram em função do paradigma adotado. Assim
podemos observar os paradigmas e suas formas de confronto conceitual no Quadro 2, a
seguir:

39
Quadro 2 - Os paradigmas da ciência

Fonte: OROZCO e GONZALEZ, Una coartada metodológica: Abordajes cualitativos en la investigción en


comunicación, medios y audiencias. Tintable, México, (2011:93).

A partir dos paradigmas Positivista – focado em previsões – e Realista – focado


em explicações – busca-se a legitimação através da verificação da realidade, comprovada
com base em dados – concretos, estatísticos, numéricos, quantificados – no intuito de dar
conta do que está acontecendo, do que deveria existir, determinado pelas concretudes
verificadas. De forma que, para positivistas e realistas, as coisas existem
independentemente do sujeito que as conhece. Nesse caso, o papel do sujeito está restrito
a verificar se o que se supõe, realmente se verifica, através de matemática e suas possíveis
regularidades fenomenológicas registradas.

Para os paradigmas Hermenêutico – focado em interpretações – e Interacional –


focado em associações – a pesquisa constitui uma compreensão mais subjetiva do que
existe. Ao associar e interpretar, buscamos constituir uma compreensão, uma profunda
apreensão dos fatos e ações dos sujeitos, para visualizar sua rede de significados
construídos.

É pela característica multifocal empregada na estrutura teórica dos cinco


paradigmas de Scolari (2008) para as ciências da comunicação, que dimensionamos a
condição massiva como a principal estrutura epistemológica das teorias relacionadas. O
que nos ajuda a compreender o incômodo de Scolari, ao classificar a condição
interdisciplinar que caracteriza todo o campo das ciências, como sendo exclusiva da
comunicação. Pois, como ele mesmo afirma, com cautela e otimismo, um mapa teórico

40
destes só se vale como um esquema geral, pois “felizmente, a realidade dos estudos de
comunicação de massa é muito mais dinâmica e apresenta inúmeras contaminações entre
paradigmas” 24(SCOLARI, 2008, p. 43).

Podemos afirmar que esta contaminação entre os paradigmas estabelecidos se dá


não pela complexidade dos modelos da comunicação de massa, mas pelo fato da
contaminação se tornar uma condição inerente ao fenômeno, se entendermos a
comunicação como um fluxo midiático através de meios e dispositivos conectados. Uma
comunicação praticada cotidianamente por sujeitos em fruição contínua, pelo qual se
imbricam cultura e tecnologia como instâncias de sua constituição social como cidadão.

E, de fato, se analisarmos sob esta perspectiva, também a noção de comunicação


proposta por García Canclini (2008), é sedimentada ao redor da cultura como matriz
teórica, na qual a comunicação desempenha um papel imprescindível – ao materializar o
encadeamento social contemporâneo da cultura – através de seus processos midiáticos.

Ao ponto em que consumidores – sujeitos finais do processo de recepção em


comunicação – e cidadãos – detentores de direitos sociais relativos ao estado-nação a que
pertencem – se entrelaçam pela dinâmica cotidiana do contemporâneo, confundindo suas
instâncias sociais por entre demandas e ofertas culturais e midiáticas pós-massivas.
Assim nos parece, quando Scolari (2008, p.43) afirma que “a chegada de novas formas
de comunicação multimídia e interativa está aumentando ainda mais os mal-entendidos,
realocando essas antigas conversas teóricas e aumentando o número de interlocutores que
participam do debate.25” Pois entre paradigmas e contaminações teóricas, é fato que a
comunicação, em sua configuração massiva, expande as dimensões do campo do
simbólico, a partir da crescente valorização social de signos e bens culturais e, claro, de
seu consumo.

24 No original: “este mapa teórico és un esquema general. Por fortuna la realidad de los estudios de
comunicación de masas és mucho más dinámica y presenta numerosas contaminaciones entre paradigmas,
Gedisa, Barcelona, (2008:43).
25 Tradução nossa. Do original: “La llegada de nuevas formas de comunicación multimedia e interactivas
está incrementado aún más los malentendidos al descolocar estas viejas conversaciones teóricas y
aumentar el número de interlocutores que se suman al debate”. (2008:43)

41
Estruturada como indústria midiática, a cultura se amplia tanto quanto as formas
de transmissão do modelo mecânico de comunicação ao qual, como ressaltou Martín-
Barbero (2002), não apenas fortalece a performance econômica, mas fundamenta a
condição política da comunicação de massa como principal gerador de sentidos sociais
da era moderna.

É quando a prática comunicacional passa a ser cotidiana também em sua forma


pós-massiva, instantânea, intermitente e ubíqua, no marco de uma sociedade
individualista de massa (Wolton, 2008), operada através de redes digitais, globalmente
configuradas (Castells, 2009). Assim, tanto o modelo mecânico, quanto os paradigmas
relacionados a partir dele, passam a não dar conta de apreender todo o fenômeno
comunicacional, eclipsado pelo adjetivo “novo”, aplicado a todos os elementos recém
adicionados aos processos midiáticos pós-massivos, como escrevem Orozco e Gonzalez:

Nesse sentido, para muitos dos estudantes dos fenômenos da


comunicação, estamos agora em um cenário de dupla crise,
porque, por um lado, não temos apenas elementos antigos que
buscam uma melhor explicação, mas, acima de tudo, horizontes
emergentes e complexos que solicitam seu estatuto de ser e estar
em um cenário limite, onde é necessário construir um novo
arsenal de epistemologias e respostas capazes de explicar novos
fenômenos comunicacionais, como ciberculturas e sociedades em
rede26 (OROZCO E GONZALEZ 2012, p. 92).

Assim. a possibilidade ampliada de produção e consumo midiático de qualquer


que seja o discurso, por qualquer que seja o sujeito conectado, como pontua Castells
(2009), dá suporte a estas possibilidades discursivas observadas no contemporâneo
midiático pós-massivo, através do processo de comunicação individual de massa27. Tal
processo é formatado por discursos diversos, de amplo compartilhamento, colaboração e

26 Tradução nossa, no original: “En este sentido, para muchos de los estudiosos de fenómenos
comunicacionales nos encontramos ahora en un es-cenario de doble crisis, pues, por un lado, no sólo
tenemos elementos antiguos que buscan una mejor explicación, sino sobre todo horizontes emergentes y
complejos que pregun-tan por su estatuto de ser y es tar en un escenario limite, don-de hace falta construir
un nuevo arsenal de epistemologias y respuestas que sean capaces de explicar nuevos fenómenos
comunicacionales, como las ciberculturas y las sociedades de redes”. (OROZCO; GONZALEZ,
(2012, p; 92)
27 Tradução nossa. No original: “Mass-self communication”CASTELLS, 2009:58.

42
co-criação, frequentemente transmidiáticos, ou, como conceitua Jenkins (2008), que
atravessam, em sua narrativa, diversos suportes midiáticos para estabelecerem sua
condição discursiva.

Se, por um lado, os paradigmas já relacionados não parecem dar conta do pós-
massivo, como dimensiona Scolari, relacionando os elementos estruturados para
apreender a condição massiva da comunicação, de outro lado, são os novos horizontes
midiáticos emergentes e complexos que demandam seu próprio estatuto de ser e estar, a
partir de um cenário limite. Horizontes que exigem epistemologia e respostas passíveis
de explicar os novos fenômenos comunicacionais a partir da sociedade individualista de
massa e de processos de comunicação individual de massa.

Nessa perspectiva, Scolari, propondo uma distância por entre as teorias de


comunicação de massa e as relacionadas à comunicação digital interativa – inscreve no
campo, a perspectiva de uma comunicação midiática pós-massiva, que conceitua por
Hipermediações. E, desta forma, propõe uma teoria da comunicação pós-massiva, ao
relacionar a Comunicação Digital Interativa praticada em novos meios, pelos mesmos
paradigmas Hermenêutico e Interacionista apresentados por Orozco e Gonzalez (2011).
Scolari então, ao comparar as instâncias operativas entre os velhos e os novos meios de
comunicação para embasar sua teoria da Hipermediação, caracteriza justamente as
diferenças entre a condição massiva / pós-massiva da mídia, como sua primeira marcação.

De forma que podemos divisar pelo quadro a seguir, as características pós-


massivas que constituem tanto a Hipermediação (SCOLARI,2008) quanto a comunicação
individual de massa ( CASTELLS, 2008):

43
Quadro 3 - Comparativo entre os modos de comunicação massiva e pós-massiva

Fonte: SCOLARI,Carlos, Hipermediaciones: Elementos para una Teoría de lá Comunicación Digital


Interactiva; Gedisa, Barcelona, (2008:44).

O primeira, e principal atributo da mídia pós-massiva está pela tecnologia digital


empregada, que atomiza estruturalmente todo e qualquer gênero e formato midiático à
unidade digital do bit e, a partir daí, subverte drasticamente as condições de distribuição,
materialização e reprodutibilidade midiática. O que abre caminho para as outras
instâncias operativas; a reticularidade, a hipertextualidade, o multimídia, e a
interatividade.

A reticularidade – modo de transmissão e recepção – subverte a condição de


difusão de um-para-muitos, ao estabelecer a condição de muitos-para-muitos. A
hipertextualidade subverte a lógica sequencial induzida, fornecendo uma infinidade de
possibilidades associativas entre textos, trechos, formatos, ordem de acesso, entre outras
características, típicas da comunicação, mas que se transformam, quando revistas pela
perspectiva da comunicação pós-massiva. Neste sentido, é interessante notar que Scolari
recorre a Burnett e Marshall, em citação datada de 2003, quando afirmam que "a web é
simultaneamente uma forma de comunicação de massa e individual28", seis anos antes de
Castells publicar em Communication Power (2009) o conceito de comunicação individual
de massa.

Interatividade e multimídia representam os outros dois vetores essenciais para


estruturar a teoria da comunicação digital interativa proposta por Scolari. Pela
interatividade, entramos na condição de interação humano x dispositivo de forma intensa
e crescente, sendo o smartfone sua representação mais atualizada das discussões

28 Tradução nossa: “la web es, simultáneamente, una forma de comunicación de masas y un uno-a-uno”
Burnett y Marshall, apud SCOLARI, Carlos, Hipermediacones. Elementos para una Teoría de la
Comunicecion Digital Interactiva. Barcelona: Gedisa, 2008:92. (2003: 59)

44
relacionadas à simbiose humano versus computador, assim como das discussões acerca
das condições sistêmicas, de linguagens, protocolos e programação.

O caráter multimídia das comunicações digitais interativas colabora, ainda, para a


convergência transmídia ao favorecer a hibridização entre formatos e meios. De certa
forma, podemos relacionar aqui o conceito de remediação, em que Bolter & Grusin,
(2000) definem como a condição de conectar formas de troca/interação entre os
paradigmas comunicativos e os modos de contato entre meios digitais e analógicos.
É portanto, através do paradigma interacionista, a partir de práticas pós-massivas de
comunicação, que estruturamos nossa problemática de pesquisa, objetivando
compreender os aspectos do fenômeno comunicacional a partir da perspectiva midiática
digital e pós-massiva. Mais especificamente, nas instâncias de cidadania e consumo que
distinguem do sujeito jovem, o indivíduo, a partir de seus processos cotidianos de
apropriação midiática verificados nas redes sociais.

1.2. COMUNICAÇÃO, CONSUMO E APROPRIAÇÃO MIDIÁTICA.

A modernidade, marcada pelos avanços técnicos e transformações sociais diretamente


associadas pela indústria, urbanização e midiatização da civilização, situa a condição
cultural como principal operador social do período. Neste sentido, propomos uma
reflexão acerca do campo da comunicação e consumo, desde o período moderno, partindo
da perspectiva de Wolton, com a comunicação “como centro da modernidade” (2004:50).

Um centro que articula as dimensões sociais normativa e funcional, pressionadas


fortemente por um viés tecnicista – que, em velocidade industrial e giro capitalista,
acelera potência e volume de absorção do cotidiano pela prática midiática, tal a
necessidade de uma referência social massiva. Wolton (2009) nos apresenta uma
sociedade industrializada, edificada pelos ideais coletivos da democracia na igualdade
dos cidadãos, tanto quanto pelos ideais libertários do indivíduo na diferenciação de
consumidores. Uma sociedade imersa pela intensa prática da comunicação de massa em
pleno embate conceitual entre liberdade individual e a igualdade coletiva. É quando
distinção e pertença se tornam elementos simultâneos e constituintes das modernas
noções de cidadão e de cidadania.

45
Como resposta social a esta tensão conceitual da modernidade, Wolton (2009) chama
a atenção para emergência de uma sociedade individualista de massa, na qual opera uma
nociva inversão de valores na instância da cidadania que, como forma de distinção social,
privilegia o individual em detrimento do coletivo. A comunicação opera para o autor
como instância política, social e cultural relevante na construção dessa experiência
individualista no sujeito moderno.

Assim como Wolton (2009), Castells (2009) também credita à comunicação um poder
e força institucional de abrangência social, econômica e política no mundo
contemporâneo. Para Castells, a partir do momento em que nos tornamos uma sociedade
estruturada em redes imateriais de conexão e comunicação pós-massiva, passamos a
praticar um modelo individual de produção e consumo midiático – Mass-self
Comunication29 (2009: 53) – que localiza e amplia as dimensões de poder da comunicação
no cotidiano, provocando transformações sociais e políticas. Ao contrapor o indivíduo
consumidor – o individualismo – à noção coletiva e cidadã de pertencimento– o
comunalismo – Castells sinaliza a contradição do sujeito contemporâneo que transita
entre paixões hedonistas e instâncias coletivas da prática comunicacional.

Na perspectiva do consumo e dos processos cotidianos de apropriação midiática pós-


massiva, Dalhgren lembra que “se, desde o início do século XIX, os mass media se
transformaram nas instituições dominantes da esfera pública e, a sua posição, nos últimos
15 anos, tem sido cada vez mais posta em causa pelas novas TIC. (DALHGREN, 2011,
p.13).

É a partir desta centralidade da comunicação e do consumo que adotamos o termo de


“apropriações midiáticas” para nos referirmos às novas modalidades nas práticas de
recepção em processos de comunicação pós-massiva, (ou comunicação individual de
massa) dos jovens abordado nessa pesquisa. Como propõe Bonin, optamos pelo uso do
termo apropriação midiática no contexto do consumo das mídias:

29
Tradução nossa: Comunicação individual de massa. (2009:)

46
[…] no intuito de melhor nomear as múltiplas atividades dos sujeitos
com as mídias no contexto contemporâneo, que incluem desde a
produção de sentido (pensada no âmbito de vertentes historicamente
dedicadas à recepção) às renovadas formas de participação como
produtores midiáticos no âmbito da comunicação digital. (BONIN,
2016, p.214)

Pelo conceito de apropriação midiática, relacionamos as práticas do processo


comunicacional pós-massivo como representativas do sujeito, em suas instâncias sociais
cotidianas, tanto como cidadão quanto como consumidor. Na medida em que, é a partir
do fluxo midiático operado cotidianamente, que o sujeito estabelece suas dimensões de
cidadania – percebida e praticada – evidenciando sua ressignificação do mundo e da
sociedade a qual pertence. Mundo híbrido, no qual circulam diferentes aspirações
individuais do sujeito, pois, como afirma Peter Dalghren: “Nas sociedades ocidentais
pautadas por uma relativa estabilidade, a utilização da Internet para fins políticos é
habitualmente menos frequente do que os usos para fins pessoais, sociais, de
entretenimento e de consumo” (DALHGREN, 2011, p.11). Culturalmente nos situamos
através de nossas apropriações midiáticas e, desta forma, nos localizamos no campo da
cidadania e do consumo, pelo que sabemos de nós e do mundo.

Ou seja; através do processo cotidiano de apropriação midiática pós-massiva,


divisamos a hibridização das culturas cívica e de consumo que constituem o sujeito. De
forma que pela cultura cívica, apontamos a formação do cidadão jovem (DALHGREN,
2011), enquanto que pela cultura de consumo, segundo Mc Cracken (2007) e Fontenelle,
(2017), se constitui o consumidor jovem; ambas imbricadas a partir da prática midiática
pós-massiva e cotidiana do sujeito.

Assim, García Canclini (1997, 2004) atribui a condição híbrida cultural resultante
da comunicação a todo o contexto contemporâneo e não apenas à mudança do paradigma
comunicacional pelo seu aspecto massivo/pós-massivo. Dito desta forma, acreditamos
que a perspectiva de um hibridismo midiático apenas reforça o caráter global da lógica
de mercado como princípio de orientação política e social do sujeito, consubstanciado em
sua prática cotidiana de consumo midiático pós-massivo. O ponto é que a referência do
consumo invade a referência política do sujeito na constituição de sua cidadania ao
hibridizar práticas de consumo e de cidadania.

47
Tendo as apropriações midiáticas pós-massivas como principal elemento
cotidiano estruturante de sua dimensão cultural, o sujeito necessariamente opera as
concepções políticas estruturantes de sua cidadania através de práticas sociais antagônicas
de representação, negociação e marcação de suas condições de sujeito consumidor.
Peter Dalhgren destaca que existem formas de se compreender os usos políticos e cívicos
da internet, no que diz respeito à cultura cívica e à percepção da cidadania, assim como
situa a participação cívica cidadã na internet a partir de três níveis conceituais:

[…] as oportunidades estruturais, os recursos culturais e as disposições


subjetivas. Estes níveis articulam-se entre si, mas as distinções
conceptuais são, ainda assim, significativas.Este esquema de base é
válido para cidadãos de qualquer faixa etária, mas adquire particular
relevância para os jovens e para a sua utilização da Internet, uma vez
que, como explicarei mais à frente, a Internet emerge
fundamentalmente como um recurso cultural para a participação.
(DALHGREN, 2011:11).

Para Dalhgren, “a Internet como fenómeno massificado já não é novidade” (2011:11),


no entanto, como espaço social digital de comunicação pós-massiva, ressalta que:

A importância e o impacto das TIC na participação democrática das


pessoas devem ser entendidos como fundamentalmente contingentes
em relação a outros fatores sociais e culturais; a participação
democrática nunca opera num vazio. […] Além disso, creio que deve
ser sublinhada a importância das conexões entre os âmbitos online e
offline, isto é, as ligações às experiências quotidianas, à comunidade
local, aos processos de formação de identidade e à política.
(DALHGREN, 2011, p.12).

Assim, se as apropriações midiáticas se ampliam no âmbito da comunicação


individual de massa, aceleradas pela compressão do espaço/tempo e complexificada pelos
rearranjos sociais de toda ordem, podemos inferir que é justamente pela observação
multivariada e sistemática das práticas comunicacionais cotidianas que poderemos
apreender as formas pelas quais se dá a construção de sentidos da cidadania pelos jovens
abordados nessa pesquisa. E daí, apreendermos os sentidos que se reconstroem
diariamente pelo tecido midiático pós-massivo através da perspectiva da cultura cívica.
Como ressalta Appadurai (2008, p.17), “embora de um ponto de vista teórico atores
humanos codifiquem as coisas por meio de significações, de um ponto de vista
metodológico, são as coisas em movimento que elucidam seu contexto humano e social”.

48
Appadurai postula, ainda, que, para se lançar luz sobre a circulação das coisas no
mundo concreto e histórico: “temos de seguir as coisas em si mesmas, pois seus
significados estão em suas formas, seus usos, suas trajetórias. Somente pela análise destas
trajetórias, podemos interpretar as transações e os cálculos humanos que dão vida às
coisas” (APPADURAI, 2008, p.17).

Assim, a prática comunicacional que nos interessa é a que se desenvolve de forma


cotidiana, em espaços digitais formados por uma estrutura de redes conectadas, pela qual
produção e consumo midiáticos são dinâmicas simultâneas e contínuas do sujeito,
constituindo suas percepções sobre cidadania e possíveis ações nesse âmbito.

1.3. AMBIÊNCIAS SOCIAIS DIGITAIS: FACEBOOK, TWITTER E


INSTAGRAM.

Iniciamos esta pesquisa com o propósito de investigar as práticas comunicacionais


cotidianas de jovens estudantes, residentes na Zona Leste do município de São Paulo, a
partir do estudo de suas apropriações midiáticas em ambiências sociais digitais,
especialmente as redes Facebook, Twitter e Instagram, buscando identificar suas
percepções e ações em torno de temáticas relacionadas à cidadania. Neste contexto,
conceituamos os sites de redes sociais Facebook, Twitter e Instagram, como espaços
sociais digitais, pela condição de espaço público/privado (Canclini, 2010) que as redes
sociais pós-massivas assumem. Na perspectiva de autores como Dalhgren, as redes
sociais são “espaços cívicos de comunicação quase ilimitados” (Dalhgren, 2011, p. 15)
Bakardjieva (2015), as considera “plataformas altamente racionalizadas de socialização :
que podem afetar potencialmente, ou assim acreditamos, as oportunidades que se abrem
para nós como consumidores, profissionais e seres sociais30” (Bakardjieva , 2015:253).

Para Cogo e Brignol :“A centralidade que a esfera midiática assume na vida cotidiana
e nas relações sociais vem sendo discutida como uma importante reconfiguração com
implicações de diversas ordens, inclusive nas relações de tempo e espaço e nas vivências

30 Tradução do autor, no original: “ Sociality work in SNS entails highly rationalized activities […] that
can affect, or so we believe, the opportunities that open up for us as consumers (Turow, 2010),
professionals (Marwick 2013), and social beings (Bakardjieva and Gaden 2012). (Bakardjieva, 2015:523).

49
identitárias.” (Cogo e Brignol, 2011:76). Afirmam ainda, que “as pesquisas de recepção
vêm sinalizando para modos de usos sociais das mídias que se estendem ou desdobram
para além dos momentos e espaços de consumo midiático” (Cogo e Brignol, 2011:77).

O que nos remete ao conceito de território informacional de Lemos (2007):


“Devemos então reconhecer a instauração de uma dinâmica que faz com que o espaço e
as práticas sociais sejam reconfigurados com a emergência das novas tecnologias de
comunicações e das redes telemáticas” (LEMOS, 2007:122). Assim, reconhecemos os
espaços urbanos e as redes sociais digitais, como territórios informacionais do sujeito
jovem e conectado, a partir da distinção processada por Lemos, ao sinalizar que: “os
tradicionais espaços de lugar estão, pouco a pouco, se transformando em ambiente
generalizado de acesso e controle da informação […] criando zonas de conexão permanente,
ubíquas, os territórios informacionais” (Lemos, 2007:123).

Na articulação entre as dimensões física e digital que estruturam este território


informacional, Castells(2009), divisa o digital como sendo espaço de Fluxo – fruição
digital conectada – e a dimensão urbana, como espaço de Lugar – interação física,
intimidade e interação presenciais. Espaços definidores do território juvenil ocupado pelos
sujeitos desta pesquisa.
No que se refere à função social dos espaços digitais, embora Dalhgren destaque seu uso
para fins políticos como menos frequente do que para fins pessoais de entretenimento,
reconhece sua condição política mobilizadora como potencial:

existe de facto uma quantidade significativa de atividade política na


Internet, desde grupos locais no Facebook ou redes no Twitter, que
tentam influenciar as opiniões no caso de uma eleição municipal, até
aos movimentos sociais transnacionais, que lutam contra a globalização
neoliberal (DALHGREN, 2011:12).

Para Turkle (2011), nossas conexões digitais instantâneas muitas vezes levam à
solidão emocional; acreditamos que podemos alcançar relações íntimas genuínas sem
precisar lidar com suas demandas e responsabilidades. Como se a crença no espaço digital
pudesse, de todas as formas, substituir o espaço urbano, onde se materializam as
afetividades.

50
Para Araüna, Tortajada e Capdevilla, redes sociais digitais se configuram como “
os espaços privilegiados de interação que se somam aos ambientes offline existentes e
dão continuidade às interpretações cotidianas31” (2014, p.161). No entanto, ainda que
tenhamos a continuidade das interpretações cotidianas como perspectiva integrativa dos
espaços urbano e digital em um território informacional juvenil, Bakardjieva (2015),
alerta para o fato de que toda rede social digital a priori, existe como negócio e
investimento de capital, voltado a lucro e rentabilidade – com exceção da Wikipedia e
algumas poucas iniciativas sem fins lucrativos – o que remonta a uma condição de fato
híbrida.

A diversidade de usos, intenções e práticas entre os espaços sociais digitais variam


conforme a rede social digital operada pelos sujeitos, assim como também variam as
formas midiáticas que constituem a operação destas redes. De acordo com Araüna,
Tortajada e Capdevilla (2014), Facebook e Twitter assumem o caráter de uma rede social
mais madura, no sentido em que os sujeitos que se dirigem a elas, o fazem após terem já
iniciado sua prática pós-massiva em outras redes – como as infantis habbo.com.br;
clubpenguim.com; e as pré-adolescentes musically e Tik-tok. Os autores ressaltam, ainda,
que o processo de migração de uma rede a outra é tido como um processo evolutivo entre
os jovens entrevistados, vinculando diferentes serviços a diferentes estágios de
maturidade. Afirmam também que: “é comum tornar mais de uma rede social compatível
simultaneamente. Normalmente, funções diferentes são atribuídas a cada uma delas, em
relação aos recursos e ferramentas disponíveis para quem as utiliza32” (2014:166).

A noção do que privar e do que tornar público também pode ser relacionado aos
espaços urbano e digital. Do sujeito jovem, o espaço digital demanda uma confiança
elevada (DALHGREN, 2011), da mesma forma que requer deste sujeito, a noção clara de
que estará interagindo com perfis construídos em sites de rede social, espaços sociais nos

31 Tradução do autor, no original: “ Las redes sociales son espacios privilegiados de interacción que se
suman a los entornos offline ya existentes y dan continuidad a las interpretaciones cotidianas. Ahora bien,
los entornos online establecen una lógica propia a partir de las posibilidades técnicas y de las dinámicas
que generan las personas que participan en ellos. Buena parte de las actividades que se llevan a cabo en
estos espacios tienen que ver con la construcción de la identidad.” Araüna, Tortajada e Capdevilla in
Huertas e Maz (eds) Audiencias juveniles y cultura digital, Institu de la comunicació, (2014:161)
32 Tradução do autor, no original: “ También es frecuente compatibilizar más de una red social
simultáneamente. Normalmente, se atribuyen funciones distintas a cada una de ellas, en relación a los
recursos y herramientas que ponga al alcance de quien las usa” Araüna, Tortajada e Capdevilla in Huertas
e Maz (eds) Audiencias juveniles y cultura digital, Institu de la comunicació, (2014:166)

51
quais as pessoas criam perfis, que são tidos como “atores” (RECUERO, 2009),
representações de si mesmos, com a finalidade de construir sua presença na rede. O que
significa na prática, “não falar com estranhos” – reconhecendo que estranho seria um
perfil que não tem nenhuma afinidade, nenhuma amizade relacionada em algum nível de
contato.
Estes espaços sociais, plataformas altamente racionalizadas de socialização
(BAKARDJIEVA, 2015:253), além de propiciar condições multimidiáticas de expressão,
proporcionam processos interativos nos quais:

[...] situações em que somos interpelados a demonstrar nossos


sentimentos e emoções. No Facebook, reações para interagir com
emoções são: gostei; amei!; me fez rir!; poxa, triste! e que raiva! No
Twitter, um coração é o símbolo usado para designar uma interação
positiva com outros perfis – curti!, que legal!, . isso!, concordo! O
mesmo acontece no Instagram, em que um coração também é sinal de
que um usuário curtiu, amou, gostou ou identificou-se com uma
publicação”. (Rodrigues in: Estudando cultura e comunicação com
mídias sociais. Silva, T.; Buckstegge,J e Rogedo, P. (Orgs.), IBPAD,
Brasília, 2018:67).

Assim, estes espaços digitais, de caráter pós-massivo, se destinam a uma


variedade de usos e apropriações midiáticas de ordem emocional, social, política e
cultural, entre outras, pelo sujeito. São usos e apropriações que operam pelos padrões de
interação estabelecidos pelas redes, que, enquanto capital social, passam a ser valorizados
sob a forma de número de “likes”, comentários ou emoticons. Como afirma Dalhgren
(2018):

Assim, quando as pessoas colocam em sua página no Facebook que


estão levando suas crianças em muitas atividades ou quando postam os
cumprimentos enviados à mãe no dia das mães, algo acontece. Por um
lado, que eles façam essas coisas particulares é esplêndido. Mas eles
publicam tais atos no Facebook, transformando-os em apresentações
públicas, partes da apresentação digital do eu, atos que, esperamos,
provocam likes33”(DALHGREN, 2018, p. 206).

Quando se refere ao conceito de rede social, Milton Santos relaciona realidade e


virtualidade ao conceito: “[…] a realidade material independente das redes é ser uma

33 Tradução do autor, no original: “Thus, when people put on their Facebook page that they have been
taking their kids to a lot of activities or when they post the greetings they sent to their mom on Mother’s
Day, something happens. On the one hand, that they do these private things is splendid. But that they post
such acts on Facebook turns the acts into public performances, parts of the digital presentation of self, acts
that will hopefully elicit likes” Dalhgren, 2018: 206).

52
promessa. Nesse sentido a primeira característica da rede é ser virtual. Ela somente é
realmente real, realmente efetiva, historicamente válida, quando utilizada no processo da
ação” (SANTOS, 2006:187). Na perspectiva das redes sociais digitais, a premissa de
validade histórica proposta por Santos se mantém, especialmente a partir da perspectiva
de serem “partes da apresentação digital do eu” (DALHGREN, 2018, p.206).

Na abordagem das redes sociais digitais, não podemos desconsiderar ainda o


quanto sua configuração na comunicação pós-massiva, está condicionada por lógicas
econômicas e políticas relacionadas ao desenvolvimento da inteligência artificial e dos
algoritmos. Em discurso durante a conferência NeurIPS – Vancouver, Canadá, 2019 –
Celeste Kidd34 (2019), evidencia que “não existe uma plataforma neutra […] Os
algoritmos que colocam o conteúdo on-line têm impactos profundos no que
acreditamos"35.

Neste sentido, Bakardjieva (2015) que traçou a evolução da socialidade online, vê


um processo de racionalização técnica da “amizade” - a socialidade se torna um objeto
de computação e assume formas e gestos cada vez mais padronizados e banalizados. Na
atualidade, esse processo culminou também com o surgimento de robôs sociais, ou seja,
funções on-line robotizadas que se disfarçam de "amigos" on-line. Como afirma a autora:

Numa época em que os espaços digitais sociais (SNS - Social


Networked Sites no original ) foram adotados por políticos e
cidadãos da mesma forma que locais estratégicos para formação
de opinião pública, mobilização e organização política, a tentação
de usar as mesmas técnicas, fábricas e mercados para projetar a
invasão de bot de discussões políticas se mostrou muito difícil de
resistir. A socialidade a partir das plataformas, ampliada pela
socialidade dos robôs, serviu de modelo para a engenharia da
robopolítica. Como esses desenvolvimentos afetam a amizade - e
afetam - na era digital36? (Bakardjieva, 2015:252)

34 Celeste Kidd é professora assistente de Psicologia na universidade de Berlekey, com passagens por
Rochester, Stanford e o próprio MIT, construindo uma carreira significativa nos campos da psicologia
cognitiva, a partir da correlação entre o cérebro, a cognição, a emoção, a certeza e a crença humana em
adultos, jovens e crianças.

35 Tradução do autor, no original: “There’s no such thing as a neutral platform,”. “The algorithms pushing
content online have profound impacts on what we believe.”,

36 Tradução do autor, no original : “At a time when SNS have been taken up by politicians and citizens
alike as strategic sites for public opinion formation, mobilization, and political organizing, the enticement

53
Uma das evidências deste direcionamento e impacto, pode ser avaliado a partir do
projeto Caretas37, no qual a partir de inteligência artificial, uma personagem do sexo
feminino, jovem, vítima de exposição virtual, dialoga com outras jovens, sujeitos em
perfis ativos na rede Facebook, a fim de direcionar posturas de localização emocional,
racional, e curso de ação positivo. Toda a estrutura de diálogo se dá por algoritmos.

Castells (2009) fundamenta parte de sua teoria acerca da sociedade em redes e


comunicação individual de massas pela neurociência, especialmente no trabalho dos
pesquisadores Hanna e Antonio Damasio, para afirmar que o conceito de sociedade em
redes se assemelha ao conceito e funcionamento de redes neurais e ao enquadramento
mental. Para Castells (2009), a mente não é um órgão, mas a condição de funcionamento
do cérebro, em processo de criação e manipulação de imagens mentais, sejam estas
visuais ou não.

De imagens a padrões mentais e destes, a padrões neurais, o autor estabelece


paralelos entre a dinâmica associativa cognitiva cerebral e os processos de decisão,
indecisão, crença e razão de sujeitos conectados pela comunicação em redes. Castells
relaciona, assim a emoção e a cognição – também referenciadas no trabalho atual de Kidd
(2019) – com a política, a partir da premissa de que a política se fundamenta não só pela
crença e pela certeza, mas principalmente, pelas emoções associadas nas definições e
afirmações destas crenças e certezas.

Neste aspecto, pudemos verificar, em relação aos jovens que participaram desta
pesquisa, que o consumo diário das notícias e assuntos são condicionados pelos
algoritmos do Google e das redes sociais investigadas, assim como também, algumas de

to use the same techniques, factories, and markets to engineer bot invasion of political discussions has
proven too hard to resist. Platformed sociality, extended and amplified by the sociality of robots, has serve
as a model for the engineering of robopolitics” (Bakardjieva, 2015:252).

37 O projeto Caretas é um desenvolvimento conjunto entre as empresas Sherpa – empresa que desenha
projetos digitais de mudanças comportamentais – a empresa Chat-tonic – que desenvolve práticas de
melhoria em comunicação conectada, em iniciativa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef)
no Brasil, estrutura um roteiro de assistência e atendimento a jovens vítimas de cyberbulling e
constrangimento, totalmente suportado em Inteligência artificial, baseada em algoritmos que direcionam o
diálogo a partir de sua própria construção, gerando um processo de resgate social extremamente eficiente e
positivo. In: Pesquisa sobre o uso da internet por crianças e adolescentes no Brasil : TIC kids online Brasil
2018, São Paulo : Comitê Gestor da Internet no Brasil, (2019:30)

54
suas posturas de crença e certeza sobre o que consomem nessas redes condicionam seu
exercício da cidadania – tanto on line, quanto off-line. Em relação a esse aspecto,
Dalhgren (2011) relaciona o ambiente pós massivo midiático e a noção de cultura cívica
do sujeito jovem e contemporâneo, da mesma forma que Castells, ao postular que “[…]
as informações em si não alteram atitudes, a menos que haja um nível extraordinário de
dissonância cognitiva. Isso ocorre porque as pessoas selecionam informações de acordo
com seus quadros cognitivos” (2009:169)38.

De fato, Castells reconhece o forte papel das emoções e da cognição no processo


mental de tomada de decisões a que se refere Kidd (2019), quando afirma que “as pessoas
tendem a acreditar naquilo que desejam acreditar39”, ao abordar os conceitos de cognição,
emoção – raiva e ansiedade, neste caso. O autor relembra o processo cognitivo na tomada
mental de decisão de sujeitos cidadãos norte-americanos, a partir da crise política
relacionada ao ataque das forças armadas norte-americanas ao Iraque e a Saddam
Hussein, referindo o forte esforço midiático governamental para sustentar percepções
equivocadas, operando através de fakenews e envolvendo a localização de armas
nucleares de destruição em massa em poder iraquiano (CASTELLS, 2009,p.165).

Castells (2009), em seguida, apresenta uma minuciosa análise das redes de poder
e de tomada de poder no uso midiático, para embasar sua fundamentação em torno das
redes, (networks) e da relação cognitiva-emocional envolvida diariamente na prática
midiática do sujeito norte-americano. Destaca o empenho da raiva e da ansiedade como
emoções operadas no processo de tomada de decisão da população, bem como de suas
certezas e crenças, em confiar ou não nesta premissa inicial que motivou as ofensivas ao
Iraque, e desta forma, oferecer suporte ao governo para seguir com suas ações bélicas na
região do Iraque.

Para Castells, processos de manipulação da percepção popular, a partir de


situações políticas, econômicas, históricas e sociais, decorrem diretamente da condição
neural de redes mentais, que trabalhamos em nosso cérebro, ao passo que Kidd reconhece

38
Tradução nossa, no original: “ […] information per se does not alter attitudes unless there is an
extraordinary level of cognitive dissonance. This is because people select information according to their
cognitive frames.
39
Tradução nossa, no original: “People tend to believe what they want to believe” (2009:167).

55
o potencial cognitivo e emocional diretamente relacionado a condições dos algoritmos
que dinamizam o funcionamento das redes de comunicação digitais, as TIC, e os
resultados possíveis desta condição.

Suficiente afirmar que as condições cognitivas e emocionais operadas pelos


processos neurais, tanto quanto os processos psicológicos, cognitivos e emocionais
ativados pela certeza e pela crença prévia do sujeito, têm um papel maior na comunicação
individual de massa, do que se poderia supor. A partir da própria dinâmica evolutiva da
comunicação em rede digital, operada por algoritmos e inteligência artificial –
notadamente nas eleições presidenciais realizadas durante 2018 e 2019 em diversos países
democráticos – podemos estabelecer a correlação entre algoritmos e a condição de
consciência política resultante do processo cotidiano de apropriação midiática.

Como afirma Castells, “Comunicação acontece ativando as mentes, para compartilhar


significados40”( 2009, p.137), e neste sentido, acreditamos jamais termos vivenciado um
cenário midiático tão pródigo a atribuir sentidos, via comunicação pós-massiva,
individualmente produzida e consumida.

40
No original: Communication happens by activating minds to share meaning.(2009:137)

56
2. JUVENTUDE: SUJEITOS (IN)DETERMINADOS

O jovem, como sujeito histórico de seu tempo, apresenta as demandas relacionadas por
García Canclini (2010) no manejo da condição comunicacional pós-massiva, construindo
seu cotidiano em torno de espaços sociais digitais pós-massivos. De fato, gravita em “um
outro planeta”, como afirma Martín-Barbero:

Os jovens ainda querem ser cidadãos, mas de outro planeta, de outra


sociedade, de outra família, de outra escola, em outra rua, […]Eles
estão tentando fazer com que as redes sirvam seriamente à política,
para poder contar com mais e mais pessoas que não apenas pensem,
mas que decidam o que vamos propor a este país’. (Martín-Barbero –
entrevista – 2014)41,

Um planeta que orbita em torno da condição de “moratória social” (Feixa,1998,


p.25), definida pelo tempo social designado para a progressão da infância a idade adulta.
Um tempo cultural, que é definido por cada sociedade, a partir de sua estrutura e lógicas
política e econômica.

Embora o conceito de juventude tenha um caráter universal, de sujeitos


diferenciados por uma faixa etária transitória entre a infância e a idade adulta, cada cultura
e sociedade determina suas próprias regras desta moratória social, bem como as formas e
rituais de passagem. Como afirmam Nolan e Feixa:

[...] coletivamente uma ampla escala cronológica [...] Essa faixa etária
indica até que ponto a categoria de idade cultural de 'juventude' se
expande, a fim de abrigar em uma perspectiva global, sujeitos
legalmente reconhecidos como crianças, em outras partes da sociedade,
e outros como adultos, em outras partes da sociedade global.[...]
estamos menos preocupados com o status oficial e mais com as práticas
sociais e culturais nas trajetórias de vida dos jovens. Nosso interesse
reside na construção social da identidade, nos jovens como atores
sociais criativos, no consumo cultural e nos movimentos sociais [...]
(NOLAN E FEIXA, 2006, p.1)42.

41
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Los jóvenes siguen queriendo ser ciudadanos, pero de otro planeta
[2014. 1 post (17min 42s)]. Entrevistador: Omar Rincón. [S.I.]. Entrevista concedida durante I Bienal
Latinoamericana de Infancias y Juventudes. Manizales, Colômbia. Disponível em:
https://www.youtube.com/ watch?v=VdvwSHvEob0 Acesso em: 17 de novembro de 2019.

42 Tradução nossa. No original “By ‘youth’ we refer collectively to a wide chronological scale […]This
age range indicates the extent to which the cultural age category of ‘youth’ has expanded to include some
who are legally recognized elsewhere in society as children, and some who are legally recognized elsewhere
in society as adults. […] we are less concerned with offi cial status, and more concerned with social and

57
Bourdieu, pelo enquadramento da sociologia, define a divisão social por faixas
etárias como arbitrária, uma vez que se define simultaneamente a fronteira social entre a
juventude e a velhice – ou a idade adulta. O autor retoma historicamente os períodos
diversos onde a juventude recebeu conotações e designações sociais várias, dependendo
da cultura da sociedade estudada. Segundo Bourdieu, “a representação ideológica da
divisão entre jovens e velhos concede aos mais jovens, coisas que fazem com que, em
contrapartida, eles deixem muitas outras coisas aos mais velhos” (1983, p. 112).

O que atribui à experiência da juventude uma perspectiva política, pois como


conclui , “as classificações por idade ( mas também por sexo, ou é claro, por classes[…]
acabam sempre por impor limites e produzir uma ordem onde cada um deve se manter,
em relação à qual cada um deve se manter em seu lugar” (BOURDIEU, 1983, p. 112).
Assim, pelo viés da sociologia, as relações de poder se estabelecem entre os mais velhos
– com o poder de estruturação das classificações sociais vigentes; e os jovens – herdeiros
e desejosos deste poder – ao mesmo tempo condicionados à designação de autoridade dos
mais velhos.

Além de focalizar as questões inerentes ao poder geracional, Bourdieu (1983)


alerta sobre questões resultantes do entendimento da juventude como um coletivo social,
uniforme em sua constituição, comportamento e poder social. Trata-se de um
entendimento que , na visão do autor, ignora outras dimensões sociais que atravessam a
existência do sujeito, jovem ou velho, como classe social, padrão cultural e econômico, e
principalmente, o acesso à cultura, como propulsor de mobilidade e capital social.

A partir das mesmas concepções iniciais, o pesquisador Carles Feixa (1998, p.18),
compartilha da compreensão de que a juventude não é um coletivo, mas uma junção de
segmentos diversos em uma dada faixa etária. Porém quando os jovens são classificados
sob uma mesma etiqueta sociocultural, o risco é a generalização de comportamentos ou
concepções sobre a juventude que escondem as dimensões específicas e plurais da
juventude como categoria simbólica e do jovem como ator social.

cultural practices in the life trajectories of young people. Our interest lies in the social construction of
identity, in young people as creative social actors, in cultural consumption and social
movements[…]”(2006:1).

58
[...] das pausadas transições de adolescentes samoanas, para
classificações rígidas por faixas etárias de algumas sociedades de África
Subsaariana, a duração e a própria existência da juventude é algo
problemático. A única coisa que a maioria dessas sociedades
compartilha é o valor dado à puberdade como uma vantagem
fundamental no curso da vida, fundamental para a reprodução da
sociedade como um todo. (FEIXA, 1998:20)43

Aproximando o natural do cultural, Feixa define juventude como uma “construção


cultural”, inscrita no tempo e no espaço. O autor refuta a classificação etária e
generalizada da juventude, reiterando que, embora este processo tenha base biológica, o
importante é a percepção social das transições e suas repercussões para a comunidade:

entendida como uma passagem marcante por entre a condição ‘natural’


do sujeito – a puberdade fisiológica – e a condição ‘cultural’ de seu
reconhecimento por um status adulto, a juventude se dá como uma
condição universal, uma “fase do desenvolvimento humano encontrada
em todas as sociedades e momentos históricos. (FEIXA, 1998:16).

Há, nessa perspectiva, uma percepção social de rebeldia e inconformismo


atribuída à juventude da metade do século XX, o que favorece o nascimento de fortes
indústrias midiáticas e culturais, a partir do novo e do amanhã como promessa embalada
e distribuída à juventude.

Para García Canclini (2004), no entanto, a condição cultural contemporânea é


definidora, não apenas do que vem a ser a juventude e o jovem na sociedade
contemporânea, mas principalmente da compreensão de como rituais e transformações
culturais – franqueadas ao jovem pelo fato de ser jovem e ter este tempo designado –
operam mudanças e transformações sociais:

O que significam, por exemplo, as variadas complexidades de línguas


e rituais? Para que homens e mulheres pintam a pele, das sociedades
mais arcaicas até a atualidade? O que significa dependurar coisas no
corpo ou dependurá-las em casa, ou realizar cerimônias para alcançar
certos objetivos e chegar a atos ou produtos que, afinal de contas, não
pareceriam requerer caminhos tão sinuosos? (García Canclini, 2004, p.
39)

43 Tradução nossa. No original: “de las pausadas transiciones de las adolescentes samoanas a las rígidas
clasificaciones por clases de edad de algunas sociedades del África subsahariana, la duración y la misma
existencia de la juventud es algo problemático. Lo único que comparten la mayoría de estas sociedades es
el valor otorgado a la pubertad como linde fundamental en el curso de la vida, básico para la reproducción
de la sociedad en su conjunto.” (1998:20)

59
Dos rituais tribais de passagem, aos rituais culturais contemporâneos, a juventude
experimenta dimensões de consumo associadas ao cultural, industrial, midiático e pós-
massivo, (Lemos, 2007), e atrelados às formas de comunicação individual de massa
(Castells, 2009). É desta localização que García Canclini (2008) visualiza e dimensiona
novos aspectos políticos, associando cidadania e consumo, acionados e praticados de
forma híbrida.

No que se refere à categoria simbólica, Feixa lembra que há uma ampla produção
de bens culturais destinada aos sujeitos que envelhecem que se recusam a abrir mão de
seu capital social jovem. De tal forma que não o jovem, mas o próprio conceito de
juventude, se materializa em consumo, tornando-se um forte operador conceitual de
valores no âmbito da oferta de produtos.

Na perspectiva do consumo, cabe lembrar, ainda, que fazer parte da juventude


significa na prática dispor de um tempo social que crianças e adultos não dispõem. Um
tempo livre, que conforme afirma Featherstone, significa que “atividades rotineiras de
subsistência, e lazer, são progressivamente mediados pela aquisição de mercadorias”
(FEATHERSTONE, 1995, p. 95). O que torna o jovem especialmente inclinado à cultura
do consumo, como parte de seu processo de crescimento e individualização social

No contexto do consumo, as generalizações imperam em torno tanto do jovem,


como segmento consumidor; quanto da temática da juventude, como promessa de
consumo ao adulto, representando toda a dimensão dos valores sociais associados ao
coletivo jovem. Feixa (1998) relaciona estas generalizações de mercado a uma forma
coletiva de pertencimento individual, evidenciada sempre por uma moda, estilos
musicais, linguagens e locais de socialização que remetam ao novo. É a partir de estilos
de vida materializados em produtos, experiências e cultura midiática que a oferta cultural
e material de juventude se tangibiliza para o jovem e ao adulto que se deseja jovial. Neste
sentido, duas associações poderosas definem a imagem de juventude: o conceito do novo
e a promessa do amanhã.

Mas tanto o valor do novo quanto a promessa do amanhã, como conceitos


atribuídos à juventude, dependem do contexto histórico em que se inscreve essa faixa

60
etária, assim como dos ritos de passagem da juventude. Historicamente a representação
social da juventude oscila por entre uma completa anulação e o protagonismo, na estrutura
social de cada época. É pela afirmação ou contestação, que a juventude constitui a marca
da eterna promessa civilizatória. E, na condição de jovem a ser orientado à idade adulta,
o novo e as novidades são apresentados como aprendizado necessário à construção
cultural deste futuro prometido.

61
2.1. JOVEM, POLÍTICA E CULTURA CÍVICA: DESINTERESSE OU
DESCONEXÃO?

Ao relacionar as pesquisas que inter-relacionam política, jovem e Internet, Dalhgren


(2011), distingue questões que dizem respeito à juventude e antecedem o surgimento da
internet e da comunicação pós-massiva: o desinteresse, ou o desencanto juvenil, com a
condição de ação dentro dos sistemas políticos vigentes.

Para o autor, a questão reside, em parte, na constituição de uma agenda política


incapaz de abordar os temas cotidianos que circundam a juventude e, desta forma, não
são motivadores cívicos suficientes para engajar os jovens em uma participação
expressiva. “Entre os jovens existe o sentimento de que prevalece uma visão limitada da
política, que ignora as preocupações das suas vidas cotidianas, como a ética, a identidade,
a justiça, os tabus e as relações sociais de poder”. (DALHGREN, 201, p.26). Para Sonia
Livingstone (2009), se os jovens sentem – e, na maior parte das vezes justificadamente –
que aqueles que se encontram no poder não o escutam, perde rapidamente o sentido de se
fazer ouvir. Nessa perspectiva, Dalhgren contesta a retórica sobre o abandono do sistema
político por parte dos jovens a partir do contra-argumento de que:
[…] os sistemas democráticos também, e em grande medida,
abandonaram os jovens, marginalizaram as suas vozes nas discussões
públicas da sociedade, ao mesmo tempo que colocaram, direta ou
indiretamente, muita da ‘culpa’ da apatia política, nos jovens
(DALHGREN, 2011, p.15).

Além de destacar os estereótipos sobre a apatia e alienação da juventude, Dalhgren


aponta para “os sentimentos de impotência e de cinismo” que constituem uma das
“consequências da exclusão sistemática e de longo prazo” dos jovens (DALHGREN,
2011, p.15). O autor localiza a exclusão da juventude – ao invés de seu abandono –
justamente nos sistemas políticos tradicionais. “Muitas vezes, é difícil confrontar estes
mecanismos de exclusão […] precisamente porque não estão formalizados – são, antes,
uma expressão de relações de poder imbricadas, às quais não se pode responder no
contexto da política ‘normal’,” (2011, p.15). E, desta forma, situa a falta de oportunidades
de participação juvenil em contextos políticos diversos como “o centro dos dilemas da
democracia contemporânea” (201, p. 15).

62
Dalhgren propõe uma perspectiva analítica sobre a participação política da
juventude, que não considera os espaços de mediação política e dispositivos tradicionais
de acesso de sujeitos à esfera pública, mas que olha para a cultura cívica, na perspectiva
de interesse “pelos processos através dos quais os indivíduos se transformam em
cidadãos, a forma como se veem a si mesmos como membros e potenciais participantes
no desenvolvimento da sociedade, e o modo como se sustentam estes sentimentos de
fortalecimento do Eu.” (DALHGREN, 2011, p.21).

Ao mesmo tempo que a reputação das democracias assegura, entre outros


aspectos, o direito de participação de todos os cidadãos na vida política, é preciso
reconhecer que esta participação está condicionada pelas oportunidades específicas,
circunstâncias e ocasiões, moldadas pelas estruturas e padrões sociais.
“Consequentemente, as oportunidades são, de alguma forma, limitadas por determinadas
configurações – habitualmente não formais ou legais, mas antes através do funcionamento
frequentemente implícito e invisível do poder social” (DALHGREN, 2011, p.13).

Dalhgren (2011) relaciona diversas formas de participação política, desde as


tradicionais, como assinatura de petições e abaixo-assinados, contatos com os
representantes políticos e mesmo manifestações de massa, como passeatas e protestos
públicos. Paralelamente, ao analisar a questão dos afetos na deliberação política do
sujeito jovem, Dalhgren (2018) questiona os níveis de participação a partir dos esforços
envolvidos, assinalando, por exemplo, a comodidade de se tornar um ativista digital com
um envolvimento de curto prazo – mas, principalmente, das emoções associadas ao
processo mais amplo de envolvimento e motivação.

Dalhgren reconhece que, em muitos países democráticos, as bases das hierarquias


sócio-econômicas da sociedade “são habilmente excluídas das normas de participação
[…] uma vez que as estruturas de oportunidade são menores para estes grupos” (2011,
p.13), incluindo os jovens. Além do fato de que estas pessoas:

[...] são também aquelas que mais sentem que as mudanças no sistema
político terão pouco impacto nas suas vidas.[…] verifica-se que
também os jovens sentem que a política convencional é irrelevante para

63
suas vidas e que os poderes estabelecidos nunca lhes dão realmente
ouvidos (DALHGREN, 2011, p.14)

Defende, portanto, a tese de que a não participação, ou a participação fraca, “nunca


deveriam ser reduzidas de forma simples à questão do caráter moral, à falta de virtude
cívica” (DALHGREN, 2011, p.14)”. E vislumbra as poucas oportunidades variáveis de
participação oferecidas, a diferentes grupos sociais, pelos sistemas políticos. E, no caso
dos jovens, “eles são também sujeitos a um grau de relativa exclusão, no sentido de que
não recebem uma resposta comunicativa igual à dos adultos, por parte dos detentores do
poder.” (DALHGREN, 2011, p.14).

As práticas da cultura cívica conjugam obrigatoriamente o cotidiano e a noção de


continuidade democrática a partir do sujeito cidadão. Sobre estas práticas cívicas, o autor
avalia que colaboram para “definir, utilizar ou criar espaços adequados e, mais
importante, ajudam a promover identidades cívicas” (DALHGREN, 2011, p. 23).

Ao questionar “quais os ‘melhores’ ou mais ‘verdadeiros’ valores democráticos e


a forma como devem ser aplicados” (DALHGREN, 2011, p.16), relaciona questões
motivadoras – ou ao menos que devessem motivar os sujeitos – em discussões políticas
importantes. É na perspectiva dos processos pelos quais indivíduos se motivam e se
transformam em cidadãos, das formas como se tornam membros participantes do
desenvolvimento da sociedade, e, ainda, o modo como se sustentam estes sentimentos
cívicos, que Dalhgren caracteriza o conceito de cultura cívica como um circuito integrado,
constituído por seis dimensões recíprocas. As três primeiras dimensões – Conhecimento,
Valores e Confiança – são familiares à tradição estabelecida pela comunicação política;
e as três últimas – Espaços, Práticas e Competências; e Identidades – são emergentes na
cultura contemporânea. (DALHGREN, 2011, p.20)

O conhecimento é necessário aos sujeitos para participarem civicamente dos


destinos da sociedade democrática onde estão inseridos. Um conhecimento que,
inicialmente, está relacionado ao acesso a informações, relatórios, análises, discussões e
pesquisas que vão determinar o necessário à participação cívica. Conhecer os fatos e
dados se torna o ponto de partida, no entanto, são os valores empregados a partir deste
conhecimento que irão nortear a cultura cívica do sujeito. Como afirma Dalhgren: “Em

64
poucas palavras, as culturas cívicas incluem os recursos culturais que servem de suporte
para a participação dos cidadãos. Além disso, no mundo moderno, as culturas cívicas
operam, em larga medida, através dos media”. (2011, p. 17)

Por valores, Dalhgren explica que, dado o caráter mobilizador das culturas
cívicas, estas “operam ao nível da realidade quotidiana dos cidadãos, dada como
adquirida ou, utilizando a expressão de Habermas, operam no mundo da vida”
(DALHGREN, 2011, p. 16). De forma que os valores definidores da cultura cívica de
uma sociedade democrática, devem operar em torno do cotidiano de seus cidadãos, no
que diz respeito aos valores de convivência coletiva e pacífica.

Quanto à Confiança, Dalghren afirma sua importância institucional necessária


para a manutenção da democracia, tanto quanto da cultura cívica participativa, por parte
dos sujeitos cidadãos. Para o autor, “a democracia tem de ocorrer em algum lugar: a
participação dos cidadãos requer os espaços comunicativos das esferas públicas”
(DALHGREN, 2011, p. 22), da mesma forma que, segundo ele, “Os governos precisam
da participação dos cidadãos, não apenas para a vitalidade do sistema, mas também para
a legitimidade dos titulares dos cargos.” (DALHGREN, 2011, p.17).

Dalhgren refere-se ao Espaço, como uma das dimensões do circuito integrado da


cultura cívica associadas à emergência cultural contemporânea. Partindo do princípio de
que, se a participação envolve formas de comunicação, seu lugar de ação é o que
comumente se denomina como esfera pública; ou “espaços comunicacionais visíveis e
acessíveis da sociedade onde a informação, a discussão, o debate e a formação de opinião
têm lugar” (DALHGREN, 2011, p. 23). E, neste sentido, a mídia pós-massiva se
transforma em esfera pública prioritária para muitos cidadãos, jovens principalmente. Na
verdade, a partir da mídia pós-massiva, esta esfera pública mediatizada e digital se torna
uma entidade maleável, definida, constituída e apropriada de maneiras jamais vistas, em
termos de participação cívica. Como afirma Dalhgren:

A capacidade para enviar e receber texto, som e imagem através da Net


enquanto nos deslocamos pode melhorar as ligações entre os contextos
online e offline e fortalecer, de um modo geral, a eficácia da
participação dos jovens. Este panorama é ainda incerto, mas as
pesquisas iniciais sugerem a importância desta mobilidade para a acção

65
cívica (cf. Scheller & Urry, 2003; Drotner, 2005; Stalld, 2007; Heike,
2008) (Dalhgren, 2011:22).

No entanto, ao considerar a dimensão das práticas e competências do circuito


integrado da cultura cívica, o autor adverte sobre a condição híbrida implicada na mídia
pós-massiva para a formação destas culturas cívica e do consumo. De forma que a
ubiquidade conectiva pode mesmo significar pouco ou nada em termos de envolvimento
e motivação, da mesma forma que pode significar uma nova forma de participação cívica.
A cultura cívica demanda uma competência por vezes só apreendida na condução efetiva
de sua prática. A competência social para organizar, convocar, conduzir um encontro
amplo, gerir as pautas, administrar a atividade coletiva, “Todas estas, constituem práticas
importantes que pressupõem competências. O potencial da Net a este nível, sem dúvida,
tem crescido muito”. (DALHGREN, 2011, p. 22)

Por fim, quanto a identidade cívica, Dalhgren admite que “talvez de uma forma
paradoxal” a identidade cívica “é a dimensão menos provável de ser identificada como
algo pertinente pelos próprios jovens em questão”. (2011, p. 24). No entanto, defende que
esta se torna a dimensão das culturas cívicas que “constitui o recurso mais importante
para a ação”. (2011, p.24). Relaciona esta invisibilidade da própria condição de
participação cívica do jovem, com o fato de “a identidade comportar ressonâncias tanto
de nível individual como coletivo. Podemos mais facilmente identificar e compreender a
nossa afinidade em relação a coletividades específicas, mas cada um especificar
analiticamente o seu próprio sentido de "self" pode muitas vezes ser um grande desafio”
(DALHGREN, 2011, p. 24).

A identidade cívica é que transmite força aos indivíduos, de modo que sintam que
podem participar coletivamente na democracia. Os indivíduos sentem que, em conjunto:

[...] com outros, podem ter algum tipo de impacto na vida política. Até
certo ponto, obviamente, este sentimento de ‘força’ deve ser
experienciado como tendo por efeito algum tipo de resultados. Isto não
significa necessariamente que o impacto desejado se concretize sempre,
mas é importante que os indivíduos e os grupos sintam que os seus
esforços, pelo menos, contribuem significativamente para um dado
contexto político. (DALHGREN, 2011, p. 23)

Para os cidadãos jovens, as diversas práticas comunicacionais oferecidas pela


mídia pós- massiva, desde a mensagem instantânea um a um, até a comunicação coletiva

66
em grupo e disponibilização de materiais informativos digitais, aumentam
consideravelmente as chances de uma participação cívica mais expressiva. No que diz
respeito às disposições subjetivas relativas ao sujeito jovem, Dalhgren (2011) considera
dois conceitos centrais: envolvimento e motivação. “Estes dois conceitos provêm de
diferentes tradições intelectuais, mas creio que, em conjunto, oferecem uma via útil para
observar a participação do ponto de vista da realidade subjetiva do indivíduo.”
(DALHGREN, 2011, p. 24).

Assim, se compreendemos a participação cívica como formas de ação


comunicativa por parte dos cidadãos, devemos compreender o envolvimento e a
motivação como pré-condições subjetivas a esta prática. Neste sentido, Dalhgren (2011),
diferencia níveis de participação cívica a partir do cidadão que “meramente desempenha
um papel cívico de forma rotineira e não-reflexiva – um cidadão cumpridor – e não um
cidadão ‘autorrealizado’ [self-actualized] para usar a distinção de Bennett (2007b) no que
respeita à ação cívica entre os jovens” (DALHGREN, 201, p. 25). O autor pontua, ainda
que, muitas vezes, a ausência de envolvimento político pode não significar falta de
motivação, mas sim “que essa ausência é a expressão de uma posição política – as
situações em que os indivíduos escolhem não se envolver”. (DALHGREN, 2011, p. 25)

Neste aspecto, da ausência da participação e do envolvimento relacionado ao


jovem e ao universo da política, Dalhgren (2011), Couldry, Livingstone e Markham
(2010), Livingstone, Mascheroni e Staksrud (2015), são pesquisadores que desafiam
algumas premissas que reputam a alienação natural da juventude como a causa desta
distância em relação à política. Para Dalhgren, “entre os jovens existe o sentimento de
que prevalece uma visão limitada da política, que ignora as preocupações das suas vidas
quotidianas, como a ética, a identidade, a justiça, os tabus e as relações sociais de poder”
(DALHGREN, 2011, p.16).

Da mesma forma, todos os sistemas políticos apontam constrangimentos e


oportunidades à participação cívica. Quanto aos constrangimentos, “estes não precisam
ser formais ou oficiais, mas podem funcionar de modo latente”. (DALHGREN, 2011,
p.16). Quanto às oportunidades, “podem de fato ser abertas vias de comunicação, embora
os detentores de poder não deem ouvidos às vozes de grupos específicos, sejam eles

67
mulheres, minorias étnicas ou religiosas, imigrantes ou jovens”. (DALHGREN, 2011, p.
16).
Numa sociedade democrática, a comunicação e a informação desempenham
papeis essenciais na cultura cívica, por serem as instâncias de formação desta cultura pelo
sujeito. Nessa perspectiva, a comunicação pós-massiva, estruturada em redes sociais
digitais, oferece possibilidades maiores de ação e participação cívica. Como afirma
Dalhgren: “Estas oportunidades de participação não têm precedentes em termos históricos
– mesmo que permaneçam subutilizadas” (2011, p. 15).

Dalhgren reconhece a importância da comunicação midiática pós-massiva para a


democracia, mas também alerta para a importância de outros desenvolvimentos “como a
tendência para um escrutínio do poder político que vá além de um sistema político formal,
resultante da investida de versões neo-liberais do desenvolvimento da sociedade.” (2011,
p. 16). Neste sentido, afirma em concordância com a visão de García Canclini (2008) que
“quando as dinâmicas de mercado são vistas como a força mais democrática na sociedade,
as oportunidades para uma participação cívica significativa sofrem uma erosão.”
(DALHGREN, 2011, p.16).

2.2 JOVEM, COMUNICAÇÃO E CULTURA DO CONSUMO; PERTENCIMENTO E


PARTICIPAÇÃO.

Essa diluição das fronteiras, entre mercado e política, se reflete da mesma forma
no ambiente midiático pós-massivo, onde a cultura cívica e a cultura do consumo se
entrelaçam de forma constante. Neste aspecto, o terreno do consumo midiático oferece
oportunidades várias de envolvimento. Dalhgren cita atrações como Big Brother, ou
Ídolos, ressaltando os aspectos cívicos de motivação, pertencimento e participação,
associados ao midiático.

A política, da mesma forma, se vale desta aproximação com o universo da cultura


do consumo “quando oferece ‘escolhas’ específicas de uma forma consumista, ao mesmo
tempo em que se afasta de assuntos ideológicos mais abrangentes.” (DALHGREN, 2011,
p. 16). Neste sentido, ambas as culturas – cívica e do consumo – demandam respostas
racionais, tanto quanto afetivas. Podemos, como afirma Baccega, entender cidadania:

68
“como a outra face do consumo; ou seja o estudo do consumo objetiva o exercício dela”
(2014, p.55).

A partir da comunicação pós-massiva, em sua ubiquidade midiática, a cultura do


consumo sugere uma forte base de relevância afetiva também para a vida política.
Dalhgren lembra que “A orientação geral para a ‘personalização’ da política, em que
temas e figuras são crescentemente enquadrados por discursos de preferências
individuais, é também um outro aspecto desta tendência” (DALHGREN, 2011, p. 26).
Em ambos os domínios portanto – cívico e de consumo – uma conexão mediatizada se
constitui a referência de orientação, especialmente para os jovens. No entanto, enquanto
os julgamentos morais têm forte apelo na prática cultural do consumo, são os valores
sociais advindos desta prática, que apresentam importância para a política. Assim, a
cultura do consumo “providencia imagens e símbolos que expressam e convocam
emoção, sendo utilizadas para moldar as identidades individuais e coletivas, o sentido de
quem somos, o que está certo, o que é importante, etc,”. (DALHGREN, 2011, p. 26).

De modo que uma parte considerável do mundo cultural e social mais abrangente,
“que se liga com as vidas cotidianas dos indivíduos, bem como com o funcionamento de
grupos, organizações e instituições” (DALHGREN, 2011:17), se define a partir da
condição midiática pós-massiva do sujeito. É inegável o impacto “nas estratégias e nas
táticas da vida cotidiana e dos quadros de referência que lhes conferem significado.
Sobretudo para os jovens […]” (DALHGREN, 2011, p. 17).

Como afirma Livingstone (2009), desde a interação social – como comprar e


consumir; ou encontrar e se envolver com um parceiro afetivo – aquilo que podemos
denominar como prática cotidiana do jovem se transforma pelos espaço digital e urbano,
dados por adquiridos, nos quais a vida dos jovens está cada vez mais imersa. Podemos
enfim, questionar até que ponto os jovens de fato utilizam as potencialidades midiáticas
pós-massivas da melhor forma. Neste sentido, há certamente uma gama de riscos,
ameaças e oportunidades das quais os jovens precisam estar cientes. (LIVINGSTONE,
MASCHERONI e STAKSRUD, EU Kids on Line, 2015). “No entanto, o fato é que as
possibilidades de ação no ambiente da Net se tornaram centrais nas suas vidas”.
(DALHGREN, 2011, p. 17).

69
O desenvolvimento da cultura cívica é “sempre, até certo ponto, um processo de
ação, em que o sujeito está envolvido na autodefinição e na autoprodução de si mesmo,
através de encontros estabelecidos com o ambiente social.” (DALHGREN, 2011, p. 27).
No mundo contemporâneo, a identidade é algo plural, operada de forma diversa pelo
cotidiano a partir das diferentes realidades a que estamos sujeitos, de forma a termos
conosco “diversos conjuntos de conhecimentos pressupostos, regras e papéis de acordo
com circunstâncias diferentes” (DALHGREN, 2011, p. 23), agindo a partir de registros e
contextos distintos e diferentes.

E, neste sentido, embora as identidades cívicas da cidadania tenham um


componente individual e integrem a subjetividade de cada sujeito, em “termos de culturas
cívicas, também implicam, de alguma forma, um certo sentido de ‘self’ como parte de
uma comunidade política, e pelo menos, alguma afinidade com outros indivíduos que
pensem de maneiras semelhantes”(DALHGREN, 2011, p. 23). Assim, a emergência de
conjuntos de polaridades antagônicas na política – “nós-eles” – com correspondentes
níveis de familiaridade e estranhamento é uma manifestação importante, segundo
Dalhgren (2011), das identidades cívicas. E, dentro da fluidez que define a cultura cívica,
podemos mesmo concordar com Dalhgren, quando afirma que “as crescentes
oportunidades para o consumo tornam as identidades dos consumidores mais fortes e
predominantes que as identidades cívicas”. (2011, p. 24).

Neste aspecto, Fontenelle (2017), relaciona mesmo a condição midiática pós-


massiva, e a crise ambiental, como fatores de transformação da cultura do consumo. Que
se divisa a partir de uma orientação dupla; referenciando o hedonismo e o consumo
individualizado ao extremo de um lado; e o consumo consciente, ambiental e coletivo, do
outro. Ou, como define Castells: “Comunalismo e Individualismo” (2009). Aqui podemos
remeter ao protagonismo jovem nos últimos eventos globais relacionados ao meio-
ambiente, através da figura da jovem sueca Greta Thumberg44 com 16 anos, ou, ainda, no

44
Greta Thumberg, jovem sueca, atualmente com 17 anos, eleita pela revista Time, uma das personalidades
do ano de 2019.

70
que se refere à educação, ao ativismo cultural e a liberdades individuais, a participação
cívica da jovem paquistanesa Malala Yousafzai45, hoje com 22 anos.

A cultura cívica do sujeito é forjada na experiência de seu cotidiano, a partir das


singularidades de sua classe social e arranjo familiar, integradas à localizações urbanas
com níveis diversos de garantias civis e de cidadania. É essa cultura singular que
dimensiona as esferas pública e privada de ação individual e coletiva do sujeito, nos
âmbitos tanto da cidadania quanto do consumo. Como afirma Dalhgren:
Se a participação envolve formas de comunicação, o lugar para essa
mesma actividade é aquilo que comumente se denomina esfera pública
– os espaços comunicacionais visíveis e acessíveis da sociedade, onde
a informação, a discussão, o debate e a formação de opinião têm
lugar.Dalhgren […] Além disso – e aqui regressamos ao ponto de
partida do nosso tema –, a tecnologia e a arquitetura da Internet
fornecem espaços cívicos de comunicação quase ilimitados.
(DALHGREN, 2011, p. 13-15)

Para Dalhgren, (2011), as esferas públicas assumem uma perspectiva plural, pois
“constituem também lugares onde os diversos grupos que detêm agendas cívicas e
políticas podem construir e aprofundar as suas identidades coletivas”. (2011, p.13). Em
princípio, as esferas públicas democráticas deveriam existir onde dois ou mais cidadãos
discutam questões cívicas atuais, no entanto, “no mundo moderno, as esferas públicas são
predominantemente constituídas pelos media” (DALHGREN, 2011, p.13). Em essência,
a função democrática das esferas públicas, se define em facilitar a comunicação aos
cidadãos de forma que estes possam influenciar a tomada de decisão política relativa à
sua própria condição cidadã.

Neste sentido – da condição cidadã a partir das esferas pública e privada operadas
pelo sujeito – Adela Cortina vislumbra a cidadania como um conceito dependente por
completo de marcações geopolíticas do espaço e tempo modernos. Tempo que não mais
existe para uma cidadania que pouco alargou suas fronteiras, tornando-se insuficiente
para oferecer as mesmas garantias universais que o consumo já oferece há bom tempo,
pela convergência midiática. Nas palavras de Cortina, o conceito de cidadania representa
“o reconhecimento oficial da integração do indivíduo na comunidade política,

45
Malala Yousafzai, jovem ativista paquistanesa, que com 17 anos, foi a mais jovem ganhadora de um
Nobel na história, ao receber o Prêmio Nobel da Paz de 2014.

71
comunidade que, desde as origens da era moderna, adquire a forma de Estado nacional
de direito”. (CORTINA, 2005, p. 31). Fazendo coro com Leblanc46, Cortina reforça que:

[...] ainda dizemos muito pouco sobre a natureza da cidadania, porque


o vínculo político em que consiste constitui um elemento de
identificação social para os cidadãos, é um dos fatores que constituem
sua identidade. E neste ponto tem origem a grandeza e a miséria do
conceito [...] porque a identificação com um grupo supõe descobrir as
características comuns, as semelhanças entre os membros do grupo,
mas, ao mesmo tempo tomar consciência das diferenças com relação
aos de fora. ...A cidadania em sua trama urdida com dois tipos de fio:
Aproximação dos semelhantes e separação em relação aos diferentes.
(CORTINA, 2005, p. 31-32).

Etnocentrismo, xenofobia, nacionalismos, são tecidos em dupla costura,


aproximação e afastamento entre iguais e estranhos – nós e eles – no embate político. O
que, para Mouffe, representa o maior risco possível para a manutenção de um estado
democrático:

O ponto crucial é estabelecer essa discriminação ‘nós eles’ de um modo


compatível com a democracia, [...] é construir o ‘eles’ de tal modo que
não sejam percebidos como inimigos a serem destruídos, mas como
adversários, ou seja, pessoas cujas idéias são combatidas, mas cujo
direito de defender tais idéias não é colocado em questão. (MOUFFE,
2005, p. 20).

Assim, o conceito original de cidadania se configura politicamente ao longo da


civilização pela perspectiva eurocêntrica, demarcando as instâncias pública e privada do
indivíduo a partir do Estado, enquanto pessoa pública, constituída pela soma de forças
individuais. E, pelo ordenamento político e econômico entre os Estados modernos
constituídos, ocorre a produção e circulação global de produtos e bens multiculturais. Mas
é no limite político do Estado neoliberal que a cidadania cultural apresenta suas ausências
e presenças por sociedades mais democráticas e outras nem tanto.

Pelo caráter pervasivo da comunicação praticada pela sociedade global em rede,


ainda hoje, no início da segunda década do século XXI, nos chocamos, ao compreender
que direitos cidadãos já adquiridos em diversas repúblicas democráticas no mundo

46 “A ciência política nos diz muito pouco sobre como os sujeitos percebem sua cidadania”. (Tradução
do autor, no original: “polítical anthropologist Robin Leblanc is right to suggest political science tells us
little about how people ‘perceive their citizenship.”(1999:7) apud Couldry, Livingstone e Markham
(2010:4)

72
globalizado, como a liberdade e igualdade de gêneros e etnias, ainda são reivindicações
correntes em outras nações.
Como afirma Cogo:

Mais recentemente, a elasticidade do termo cidadania revelada por um


tempo em que a empresa, os governos, a mídia, a educação, a cultura, o
consumo, o jovem, o motorista, se propõem a serem cidadãos, aponta
para um reordenamento na lógica dialética – inclusão e exclusão – e ao
mesmo tempo a ascensão de uma perspectiva multidimensional (civil,
política, econômica, cultural, global, etc.) na conformação empírico-
conceitual da cidadania, como resultado de práticas heterogêneas e
esparsas, e nem sempre conciliáveis, que a conformam nas sociedades
contemporâneas (COGO,2010)47.

Para Cortina (1997), a localização da cidade-estado, como dimensão operativa da


cidadania se desloca do nacional para transnacional, supranacional, cosmopolita e, em
última instância, global:

Na última década do século XX, um termo tão antigo quanto


"cidadania" foi destacado nessa área de conhecimento que os anglo-
saxões designam com a palavra Moral, e que visa refletir tanto na
moralidade quanto na lei e a política. As "teorias da cidadania" se
multiplicaram e, nos discursos morais, no sentido amplo mencionado,
as referências a ela são limitadas: cidadania política dos membros de
um Estado nacional, cidadania transnacional, no caso de comunidades
supra estaduais como União Européia, uma cidadania cosmopolita,
como referência necessária para uma república mundial. Que razões
justificam a deslumbrante atualidade de um conceito tão antigo?
(CORTINA, 1997, p. 17)48

Dentre as várias demandas que justificam uma direção menos territorialista na


constituição de cidadania, Cortina destaca a principal como sendo:

[…] a necessidade, nas sociedades pós-industriais, de gerar entre seus


membros um tipo de identidade em que se reconheçam e façam com
que se sintam pertencentes a eles, porque esse tipo de sociedade sofre

47
COGO, Denise, A Comunicação cidadã sob o enfoque do Transnacional, in Intercom – Revista
Brasileira de Ciências da Comunicação São Paulo, v.33, n.1, p. 81-103, jan./jun. 2010. 2010, p.87-88).
48
Tradução nossa. No original: “ En la última década del siglo xx se puso de actualidad un término tan
antiguo como el de «ciudadanía» en esa área del saber que los anglosajones designan con el vocablo Morals,
y que tiene por objeto reflexionar tanto sobre la moral como sobre el derecho y la política. Se han
multiplicado las «teorias de la ciudadanía», y en los discursos morales, en el amplio sentido mencionado,
menudean las referencias a ella: ciudadania política de los miembros de un Estado nacional, ciudadanía
transnacional, en el caso de comunidades supraestatales como la Unión Europea, ciudadania cosmopolita,
como referente necesario de una república mundial.Que razones abonan la deslumbrante actualidad de un
tan afiéjo concepto?”)

73
com um déficit de adesão dos cidadãos ao todo da comunidade e, sem
essa adesão, é impossível responder em conjunto aos desafios
colocados a todos.(CORTINA, 1997, p. 20).49

Neste sentido ressaltamos a emergência da condição cultural ao status da


legalidade e da moralidade política, em direção a uma teoria da cidadania global, “que
satisfaça a todos os requisitos exigidos por noções atuais de justiça e de pertença [...]capaz
de motivar os membros de uma sociedade a dar sua adesão a projetos comuns.”
(CORTINA, 2005, p. 28).

Se, para Cogo, a instância intercultural da cidadania se configura como sendo:


“passível de ser construída a partir de um diálogo capaz de produzir um ‘lugar’ ou uma
‘ética’ que permita a combinação multidimensional entre aspectos mais ou menos
universais e/ou particulares das identidades culturais” (COGO, 2010, p.90)”, para
Cortina, são as formas transnacionais culturais que conferem um “conceito pleno de
cidadania que considera simultaneamente, um status legal, um status moral e uma
identidade pela qual se sabe e se sente pertencente a uma sociedade” (CORTINA, 2005,
p. 139).

Na emergência e fortalecimento de uma esfera pública midiatizada, hibridizam-se


política e economia em discursos embaralhados pela cultura do consumo. García Canclini
(2008) destaca que esse processo alterou também a forma de participação, que assume
um âmbito global e que se torna acessível apenas a quem pode pagar o preço para
consumir sua cidadania pelo sofá da sala de tv.

Para García Canclini (1997), a questão maior é a de “repensar a cidadania como


estratégia política” de forma a abranger também “as práticas emergentes não consagradas
pela ordem jurídica, o papel das subjetividades na renovação da sociedade, e ao mesmo
tempo, para entender o lugar relativo destas práticas dentro da ordem democrática”
(GARCÍA CANCLINI, 1997, p. 24).

49 Tradução nossa. No original: “[…] la necesidad, en las sociedades postindustriales, de generar entre
sus miembros un tipo de identidad en la que se reconozcan y que les haga sentirse pertenecientes a ellas,
porque este tipo de sociedades adolece diáramente de un déficit de adhésion por parte de los ciudadanos
al conjunto de la comunidad, y sin esa adhésion resulta imposible responder conjuntamente a los
retos que a todos se plantean”. (1997:20)

74
Ao repensar a cidadania em conexão com o consumo e como estratégia política,
García Canclini (1997) busca por “um marco conceitual em que possam ser consideradas
conjuntamente as atividades do consumo cultural que configura uma nova dimensão de
cidadania” (GARCÍA CANCLINI, 1997, p.24). Em sintonia com a reflexão de Dalhgren,
(2008), o autor observa que a revisão dos vínculos entre Estado e sociedade não pode ser
feita sem levar em consideração as novas condições culturais de rearticulação entre o
público e o privado” (GARCÍA CANCLINI, 1997, p. 24).

Embora o conceito de cidadania seja fundamental para as democráticas modernas,


e, portanto, vital para a economia política global contemporânea, ainda muito precisa ser
percebido sobre como este se materializa no cotidiano dos sujeitos. Além disso, em
termos comunicacionais, Dahlgren lembra que “se desde o início do século XIX, a mídia
massiva se configura como instituição dominante da esfera pública, ao longo dos últimos
15 anos, tem sido cada vez mais posta em causa pelas novas TIC” (DALHGREN, 2011,
p. 13).

Outra questão vinculada ao conceito de esfera pública e sua perspectiva


comunicacional diz respeito à “fundação da democracia […] e que, de certa forma, é
exacerbada pela internet: até que ponto podem e devem as expressões de opinião ter
impacto na tomada de decisão, e dentro de que quadro temporal? (DALHGREN, 2011,
p. 15)

Nessa perspectiva, podemos divisar, no trabalho de Couldry, Livingstone e


Markham (2010), o conceito de uma “conexão pública50” entre o sujeito e o Estado,
atuando como uma dimensão contemporânea das esferas públicas (Habermas, 1973); e a
premissa de que esta conexão pública se mantém, a partir da instância do consumo
midiático e sua prática cotidiana. Assim, Couldry et.al. (2010), partem de duas assunções
complementares para dimensionar a problemática:

50
Tradução nossa, no original: “Public connection”(2010:3).

75
A primeira assunção considera que, como cidadãos, compartilhamos
uma consciência ao universo da coisa pública, onde questões
compartilhadas são, ou deveriam, ser articuladas: a esta consciência,
denominamos como ‘conexão pública’. A segunda assunção é de que a
conexão pública é sustentada principalmente pela convergência
midiática consumida pelas pessoas. Juntas, estas duas assunções
implicam à noção de “conexão pública mediatizada” A questão
investigada por este livro é até que ponto a conexão pública mediatizada
existe além da literatura acadêmica, na prática cotidiana da vida
mundana.51(2007:3).

O que Couldry et.al. (2010), propõem é a verificação do conceito de conexão


pública mediatizada, a partir da análise empírica da cultura cívica do sujeito, verificada a
partir de seu consumo midiático massivo. Assim, da pesquisa desenvolvida, nos interessa
o conceito de conexão pública mediatizada, pela operação da interface entre comunicação
e consumo midiático, na constituição desta cultura cívica. Perspectiva que também
defende Sousa Santos, quando considera que a democracia contemporânea do século XXI
opere não apenas pelo parlamento, mas:

[...]também por cidadãos organizados nos municípios, que participam


nas decisões. [...] facilitado por vias que temos hoje, como as redes
sociais e os meios electrónicos disponíveis que permitem formas de
democracia electrónica. É toda uma questão nova que está aí, de um
espaço público virtual e que é um espaço com um potencial enorme
(SOUZA SANTOS, 2014, p. 172).

51
Tradução nossa. No original: “Two assumptions are involved here wich provide, in effect, th bottom line
of most polítical science and polítical theory, and indeed much media research. The first assumption is that,
as citizens, we share an orientation to a public world where matters of shared concern are, or at least
should be, addressed: we call this orientation as ‘public connection’. The second assumption is that public
connection is principally sustained by a convergence in the media people consume. Taken together, this
two assumptions imply the notion of ‘mediated public connection’. The question which this book
investigates is wether mediated public connection exists beyond the academic literature and in the practice
of everyday life”( 2010:3)

76
3. CONSUMO, REDES SOCIAIS E CIDADANIA, NO COTIDIANO DOS
JOVENS DA ZONA LESTE:

É pela observação, classificação e análise das práticas de comunicação e consumo


midiático pós-massivo, que investigamos as dimensões da cidadania pelo cotidiano
destes jovens, residentes e estudantes na Zona Leste de São Paulo. Procuramos
compreender a forma como transformam e renegociam o conceito cultural cívico da
cidadania, desenvolvido a partir de suas origens familiar e escolar, na interface
comunicação, consumo e cidadania. Buscando evidências da consciência cidadã e dos
níveis de autonomia desta cidadania em singular e plural – por mobilizacões individuais
e ações coletivas – demarcamos as localizações iniciais dos espaços sociais que definem
o território informacional juvenil (LEMOS, 2007), para esta tese. No sentido em que o
território informacional que dimensiona o campo empírico desta pesquisa se constitui
tanto pelo espaço social fisicamente ocupado, quanto pela conectividade midiática
espaço sociaL digitalmente ocupado.

De forma que o campo que divisamos para estudar estes 26 jovens estudantes se
define tanto pelo espaço social urbano da Zona Leste de São Paulo; quanto pelo espaço
social digital das redes sociais Instagram, Facebook e Twitter. São estes os espaços sociais
que pesquisamos a fim de evidenciar a constituição individual de cidadania, suas
mobilizações; e a ação coletiva por parte destes jovens. Milton Santos (1996) afirma que
um território é caracterizado pela forma como os espaços e lugares são ocupados e
utilizados pelos indivíduos que o constituem. Assim, se a constituição de um território –
e sua permanência como tal – se definem a partir da ação efetiva dos sujeitos que o
ocupam, podemos compreender que território, como afirma Lopes, : “é [...] um espaço
mediado pelas representações construídas por um determinado grupo ao estabelecer seu
poder frente a outro e que se apropria do espaço como forma de sua expressão e
projeção52” (2007:80).

52
LOPES, J.J. 2007. Reminiscências na paisagem: vozes, discursos e materialidades na configuração das
escolas na produção do espaço brasileiro”. In: J.J. LOPES; S.M. CLARETO (orgs.), Espaço e educação:
travessias e atravessamentos. Araraquara, JM Editores, p.73-98.

77
Na constituição urbana esta marcação territorial define não apenas a zona
ocupada, mas principalmente, a condição civica destas ocupações. Como afirma Souza
Santos:
As próprias cidades hoje são atravessadas por uma lógica de território
que se torna fracturante, e que cria dentro delas uma linha abissal entre
as zonas que eu chamo civilizadas, das urbanizações que são cada vez
mais contra o espaço público (condomínios fechados), e as zonas
selvagens onde vivem as classes populares nos subúrbios, nos guetos e
nas favelas”. (SOUZA SANTOS, 2014, p. 171)

Consideramos então, como formação de cultura cívica, o conjunto das estruturas


familiar, escolar e social, que tangibilizam o território informacional ocupado pelos
jovens estudantes da cidade de São Paulo. Da mesma forma, também consideramos desde
suas condições conectivas – formas e dispositivos de conexão – até os hábitos de consumo
midiático e comunicação pós-massiva em redes sociais, como transformadores da cultura
cívica destes jovens.

A análise dos dados empíricos coletados, cujos procedimentos foram descritos


anteriormente no capítulo da metodologia, foi orientada, inicialmente, para construção de
um quadro das dimensões sociais que envolvem o cotidiano dos jovens pesquisados . A
partir das singularidades destes jovens – idade, sexo, raça, religião, opção de gênero –
caracterizamos seus perfis individuais. Neste sentido, alguns dados coletados do campo,
precisaram ser cruzados como, por exemplo, aqueles que se referem ao levantamento de
tempo gasto pelos jovens em transporte público pela cidade – que se refletiu em tempo
alocado para o consumo diário de mídia pós-massiva para 50% dos jovens pesquisados –
como detalharemos mais adiante nessa tese. Em seguida, sistematizamos dados referentes
à dimensão do espaço urbano cotidiano – residência escola, família, atividades e rotinas
semanais.

Quanto à dimensão comunicacional, analisamos dados sobre consumo em mídias


massivas e pós-massivas buscando estabelecer relações entre as práticas midiáticas e a
dimensão de cultura cívica e cidadã dos jovens. Nessa perspectiva , categorizamos e
analisamos as formas de mobilização individual e ação coletiva dos jovens, tendo em
vistas os dois eixos definidos nos objetivos da tese 1º) As percepções de cidadanias –
urbana e conectada – destes sujeitos, suas temáticas mobilizadoras, identificadas por sua
prática midiática pós-massiva e; 2º) As formas de ação e mobilização cidadã dos sujeitos

78
nos espaços – urbano e conectados – observados, que guardam relação com o consumo
midiático.

3.1. CARACTERIZAÇÃO DOS JOVENS ENTREVISTADOS

A moratória social a que se refere Feixa (1998), quando remete à juventude como
uma categoria, nos parece ser a principal marcação inerente aos 26 sujeitos da pesquisa:
Indivíduos em condições familiares e sociais adequadas para se dedicarem
exclusivamente à educação formal como modo de alcançar autonomia econômica futura.
No que se refere à faixa etária, temos apenas 01 jovem com dezoito anos de idade. 03
jovens possuem dezessete anos e outros 03, quinze anos. Outros 19 jovens possuem 16
anos ou mais. Dos 26 jovens participantes da pesquisa, 23 deles, com dade acima de 16
anos poderiam ter votado na última eleição para a Presidência da República e governos
estaduais, realizada em 201853. Número que, certa forma, poderia sugerir a condição de
compromisso, de conexão pública destes jovens pelo exercício maior da cidadania em
democracias ativas.

No entanto, descobrimos pelas entrevistas, que apenas uma jovem declarou ter
votado nestas eleições. A respostas de outros 22 jovens com idade suficiente para
participar do pleito, apontavam para duas justicativas para não terem votado: a de tempo,
para providenciar o título eleitoral, e a falta de informação sobre prazos e locais para
requerer o título. Pudemos observar ainda, que o cotidiano específico destes jovens –
marcado por oito horas diárias de estudo e algo como uma a duas horas de deslocamento
diário – não deixa muita margem para esta ação política autônoma de requerer o título e
comparecer à votação. Ao contrário, seria uma ação mobilizada a partir dos pais, como
ocorreu com ELA01, que requereu seu título em prazo adequado e cadastrou a biometria
como forma de voto. Assim uma primeira impressão do campo no aspecto da cidadania,
foi a distância estabelecida pelos jovens entre a cidadania do cotidiano da Zona Leste e a
cidadania nacional, participativa pelo voto e voz política.

Destes 26 jovens estudantes, cinco estão matriculados no 1º ano ensino médio


técnico; e 21, no 2º ano ensino médio técnico; 11 jovens vieram de escolas públicas,

53
Entre 16 e 18 anos, o jovem brasileiro pode optar por votar ou não. Após os 18 ano o
compromisso se torna obrigatório em todo o Brasil, por conta da legislação eleitoral.

79
enquanto 15 deles, de escolas particulares, até serem aprovados no vestibular de ingresso
à ETEC-MLK. O que os distingue, no ambiente escolar, é o sentido de pertença à
instituição e à confiança na qualidade da formação em período integral recebida. Em
relação a isso, os estudantes do primeiro ano evidenciam um maior orgulho em pertencer
à ETEC -MLK. Como respondeu ELA01 em entrevista: Quem está aqui, passou que nem
a gente, pelo vestibular (Entrevistada ELA01). ELA01 é residente em Guaianazes, onde
também se formou no Ensino fundamental completo, em escola pública.

São oito os jovens que se auto-declaram negros, frente a 18 que se auto-declaram


brancos. No que se refere à orientação sexual – solicitada no questionários e confirmada
pelas entrevistas individuais – 11 deles se auto-declaram homossexuais e 15
heterossexuais. No que diz respeito à religião, apenas sete jovens mencionaram suas
religiões – cristã e evangélica – durante a entrevista individual como algo importante e
relevante em seu cotidiano. Os outros 19 indivíduos não mencionaram nada a respeito de
religião , assim como não foi possível observar menções à religião nos conteúdos
postados em seus perfis das redes sociais.

No que se refere à rotina e deslocamento para chegar à escola e às aulas que


iniciam às 08:20 horas, na ETEC-MLK em Vila Carrão, os horários de despertar se
iniciam a partir das 04:00 horas da manhã. Dos 26 jovens da pesquisa, 23 deles se
deslocam através do transporte público em mais de uma modalidade, misturando ônibus,
metrô e trem, por até 01:20 horas por trajeto. O que nos dá uma dimensão tanto do
cotidiano quanto da presença urbana destes jovens, pela Zona Leste da cidade.

Na imagem a seguir, vemos um post de ELE03 morador de Guarulhos – cidade


vizinha à Zona Leste de São Paulo – com a imagem de um ônibus completamente vazio
e o seguinte texto: “Bom de morar no ponto final é que só tem você no busão e o motorista
faz um caminho especial cortando o trânsito, só pra você.” ELE03.

80
Imagem 1 - Ele 03- Guarulhos – Twitter: Depoimento acerca do deslocamento urbano

Fonte: O autor (2020).

Oriundos de todas as áreas da Zona Leste, estes jovens sinalizam a distância física
– entre as residências e a ETEC MLK – e também a distância social da cidade – pela
geografia de suas residências. Assim, no marco da complexidade econômica e política do
arranjo social urbano, temos 23 jovens residentes em 09 dos 34 bairros da região da Zona
Leste de São Paulo e 3 deles no município de Guarulhos, vizinho à zona leste da cidade.
No quadro a seguir, o detalhamento das singularidades relacionadas a cada jovem:

81
Quadro 4- Perfil - Sexo, idade, série escolar, raça, orientação sexual, bairro de residência, origem
escolar, tempo de transporte, horário de despertar, religião.

Fonte: O autor (2020).

São jovens que residem tanto nas regiões de elite econômica da Zona Leste –
como Tatuapé, Vila Carrão e a Mooca – quanto nas regiões de padrão socioeconômico
mais baixo54, como Itaquera, Artur Alvim e Guaianazes. De forma que, para os quatro
jovens que residem na região da Mooca, seu trajeto diário até a escola varia entre 20 a
35 minutos por trecho. Para três deles que residem na região de Aricanduva, Vila Formosa
e Vila Carrão, os deslocamentos variam entre 10 a 45 minutos por trecho, enquanto que
para os dois jovens que residem na região de Guaianazes a viagem por trecho, dura entre
70 a 100 minutos. De Itaquera, região onde residem cinco jovens, o percurso varia entre

54
Itaquera, Artur Alvim e Guaianazes são áreas que apresentam indicadores sociais de alto risco,
sendo representadas na mídia pelo aspecto de violência e risco social urbano.

82
15 a 40 minutos e da região da Penha, onde oito deles residem, entre 20 a 50 minutos. De
Sapopemba, onde mora apenas um jovem, o percurso até a escola incluir um tempo de
60 a 75 minutos por trecho de deslocamento diário. E ainda há três jovens residentes no
município vizinho de Guarulhos que declaram levar entre 55 a 80 minutos em
deslocamento por trecho.

Desta forma, nosso sujeito de pesquisa é o jovem urbano, estudante de Ensino


público estadual, cidadão do município de São Paulo – a parte global do Brasil e sua
maior metrópole55 – mas, ressaltamos, é também o cidadão da Zona Leste paulistana56.

São jovens de um perfil diferenciado – estudam na elite do Ensino médio técnico


estadual em período integral de oito horas diárias, moram com suas famílias, possuem
acesso a consumo cultural e midiático diverso – mas, são também os residentes de uma
região da cidade representada como de risco, tanto em indicadores governamentais, como
na mídia. Daí começamos a poder inferir os níveis de autonomia cidadã – a partir mesmo,
da dimensão que a cidade tem para cada um destes jovens.

3.2. O ESPAÇO SOCIAL URBANO: CIDADE, FAMÍLIA, ESCOLA, CONSUMO


E COTIDIANO

Entendemos o espaço social urbano como o conjunto de instâncias cotidianas em


que se formam a cultura e prática cívica da cidadania. Um espaço de significação e
negociação constantes deste jovem, à medida em que deixa a infância e se aproxima da
idade adulta. Sua geografia é marcada por contextos diversos, onde a cidadania forjada
pela crença coletiva do que é correto – familiar, escolar, religiosa – se conflita
cotidianamente com a cidadania forjada pela singularidade deste jovem em

55
São Paulo conta com 11.2 milhões de habitantes em 1.526 Km2 de área metropolitana e
densidade media demográfica de 7.365 Habitantes por Km2, composta por 32 sub-prefeituras e 96 bairros.
A cidade tem o conceito de administração regional, centralizando bairros em subrefeituras e estas em zonas
cardeais. Fonte: IBGE, em: https://censo2010.ibge.gov.br/ acessado em: 29/11/2019.

56
A Zona Leste de São Paulo equivale a 13 sub-prefeituras, distribuídas por 348 Km2 em 39 bairros, com
população total de 4 milhões de habitantes, e densidade media da região em torno de 58% maior que a
média da cidade, com 11.643 habitantes por Km2Fonte: IBGE, em https://censo2010.ibge.gov.br/ acessado
em: 29/11/2019.

83
amadurecimento social. No cotidiano, observamos o trânsito juvenil entre a cidadania
apreendida e sua realidade, vivenciada na Zona Leste paulistana. É no espaço social
urbano – e seus deslocamentos residência-escola-residência – que este jovem esbarra sua
singularidade em atritos e conflitos de tratamento cidadão, fazendo-o renegociar sentido,
prática e pertencimento cidadão.

3.2.1. A “ZL”: UMA DAS CIDADANIAS PAULISTANAS.

A designação “ZL” representa uma baixa condição social, associada ao conceito


de periferia como região de alto risco social, assim como se associa também à favela
como forma típica de moradia na região. Essa discriminação se observa não apenas entre
os moradores de outras regiões da cidade, mas também entre os próprios habitantes da
“ZL”. Em pesquisa realizada pelo instituto Datafolha, publicada pela Fundação Tide
Setúbal e Folha de São Paulo, em apresentação durante os Seminários Folha – cidades e
territórios (2016) - , podemos observar alguns dados que elucidam a identidade atribuída
à Zona Leste pelos 2017 entrevistados que fizeram parte da pesquisa.

Na pesquisa sobre a periferia do município de São Paulo, fica explícita a


percepção construída em torno do que vem a ser periferia, bem como da discriminação
percebida pelos habitantes, especialmente nas situações em que mencionam seus
endereços na cidade. O Quadro 5, a seguir, detalha a forma pela qual o habitante
reconhece a discriminação recebida quando menciona seu endereço de residência. Em
particular, a condição pejorativa atribuída à Zona Leste da Cidade, através do apelido
“ZL”, como aquela que se reveste de precariedade e baixo capital social no contexto da
cidade de São Paulo.

84
Quadro 5 - A percepção de discriminação sofrida pelos 2017 entrevistados, em relação a origem de seus
endereços de moradia pela cidade de São Paulo

Fonte: Fundação Tide Setúbal e Folha de São Paulo (2016).

Desta forma, podemos observar na pesquisa mencionada que, dentre os cidadão


residentes na Zona Leste – nas áreas classificadas com índices de Leste1, Leste 2 e Leste
3 –, 34% dos que residem na Zona Leste 3 afirmaram sofrer discriminação em função de
seu endereço, enquanto 80% afirmam ser da periferia. Os índices diminuem para 25%
discriminados e 54% afirmando ser da periferia em Leste 2 – região intermediária –
reduzindo-se ainda para 17% de discriminados e 22% afirmando ser de periferia em Leste
1, mesmo considerando que é nesta região onde estão localizados os bairros nobres, de
elite da região.

85
Ainda, pelo Quadro 6 a seguir, podemos compreender a Zona Leste da cidade
como a região mais populosa da cidade, sendo residência de 35,1% da população de São
Paulo, capital; seguido pelas Zona Sul, 31,9%; Zona Norte, com 26,1 %; Zona Oeste,
com 9,1 % e, por fim, a região central, com apenas 4,2% da população residente.

Quadro 6 - Distribuição da população residente na cidade de São Paulo entre as regiões definidas.

Fonte: Fundação Tide Setúbal e Folha de São Paulo (2016).

Em relação à violência urbana, o quadro a seguir, publicado pela Folha de São


Paulo, relaciona a Zona Leste da cidade como uma das mais letais em quantidade de
latrocínios – assalto seguido de morte – de São Paulo.

Quadro 7 - O mapa da morte; relação de latrocínios - assalto seguido de homicídio por região e por
distrito na cidade de São Paulo.

Fonte: Jornal Folha de São Paulo, (2017).

Pelo mosaico social e de classes, existente na Zona Leste do município de São


Paulo, a mera localização geográfica de residência tem uma conotação negativa entre
estes jovens, mais relacionada à referência de segurança pública, violência, e risco social.

86
As marcações locais são determinantes, pois situam o indivíduo pela região onde vive.
ELA10, por exemplo, residente no bairro da Penha, faz questão de não expor seu endereço
de residência: eu não sei se publiquei sobre isso, mas acho que o lugar onde eu moro, só
meus amigos reais sabem (Entrevistada ELA10).

Assim como para ELA03, residente em Artur Alvim, uma das regiões relacionadas à
violência urbana, como veremos adiante. Na imagem a seguir, um post publicado em seu
perfil na rede social Twitter, ilustra o deslocamento como espaço social urbano destes
jovens.

Imagem 2 - ELA03- Artur Alvim – Twitter: Depoimento acerca do deslocamento urbano.

Fonte: O autor (2020).

Para o jovem ELE03, residente em Guarulhos, a violência urbana se apresenta fardada,


entre outras formas, mobilizando seu medo. Em seu Twitter, ELE03 compartilha a
mensagem: “A fita é q a polícia me dá medo, um medo q se tornou ódio com o tempo e
com td q foi vivido e visto”. A publicação original, compartilhada por ELE03, recebeu
no dia em que foi publicada, 484 compartilhamentos, 1.100 curtidas, e 1 comentário.

Em setembro de 2019, o Portal de notícias UOL publicou reportagem a partir da


pesquisa realizada pela ouvidoria da Polícia Militar de São Paulo, relacionando a Zona
Leste da cidade como a que apresenta maior letalidade policial dentro do município, como
podemos observar no quadro a seguir:

87
Quadro 1 - Letalidade policial por região da cidade de São Paulo

Fonte: portal uol.com.br

ELA11 é residente no bairro de Aricanduva, inserida em núcleo familiar de três


pessoas, ela, pai e mãe, sendo o pai funcionário público de formação superior e a mãe
dona de casa, com ensino médio completo. Em seu perfil no Twitter, pudemos coletar
duas instâncias de deslocamento cotidiano, apresentadas pelos registros a seguir.
Percebemos que seu deslocamento urbano está diretamente vinculado ao transporte
público seja qual for a ocasião ou o horário do dia ou da noite. Na primeira postagem, há
uma foto selfie, acompanhada do texto: “Vestido longo florido Ônibus 15 pra meia noite”.
Na segunda postagem, a sequência final deste itinerário, conforme a imagem a seguir:

88
Imagem 3 - ELA11 – Aricanduva – Twitter – imagem selfie dela e ELE03 com legenda.

Fonte: O autor,(2020).

De forma que pela geografia da “ZL” paulistana, temos os 26 jovens residentes


em onze bairros da região e três jovens na cidade vizinha de Guarulhos. Dois destes
jovens vivem em Guaianazes, um deles em Artur Alvim, três em Vila Matilde, quatro na
Penha, três em Itaquera, um em Aricanduva, dois em Vila Carrão, um em Sapopemba,
três em Garulhos, um no Parque do Carmo e por fim, cinco jovens residem no Tatuapé.
Para os cinco jovens residentes no Tatuapé, bairro da elite econômica da região, onde está
construído um grande número de condomínios de luxo, a marcação do local de residência
é distinção social, assumida sem constrangimento por todos eles em seus espaços sociais
digitais.

Por todo o quadro que encerra o cotidiano urbano da Zona Leste pudemos
apreender realidades sociais diversas, desde um esforço familiar coletivo para viabilizar
a permanência do jovem na ETEC-MLK, até um elevado consumo global familiar – com
viagens à Disney e Nova York, restaurantes e espetáculos culturais diversos. Certa forma,
a dimensão familiar regula a dimensão de acesso e consumo cultural e midiático, senão
pela orientacão e influência cultural, ao menos na estrutura das condições conectivas que
estes jovens dispõem.

89
3.2.2. A FAMÍLIA.
Como primeira instância formativa da cultura cívica do indivíduo, a família têm
grande influência na maneira com que estes jovens constituem e operam sua cidadania,
através do cotidiano. Pela família, se conformam as primeiras orientações sobre questões
raçiais, classe social, crença religiosa e influência cultural. É também pela família que
estas percepções de condução ética coletiva são questionadas quando estes jovens
constituem um espaço individual de acesso e prática social, confrontando suas escolhas
com os valores familiares de partida. Levantamos dados sobre a composição familiar dos
jovens, tanto a partir das respostas em questionários, quanto pela percepção aprofundada
nas entrevistas, incluindo, dentre outros, a presença de pai e mãe no lar, irmãos, grau de
parentesco de familiars que residem na família e gerações envolvidas.

Quadro 9 - Composição familiar, educação formal e ocupação profissional de pais/responsáveis.

Fonte: O autor, (2020).

90
Outro aspecto diferencial observado nas composições familiares destes jovens, é
a quantidade de pessoas que residem na mesma casa, a partir dos graus de parentesco, de
atividades cotidianas e de hábitos familiares constituidos. Dos 26 jovens, nove vivem em
uma família com cinco membros; sete jovens fazem parte de uma unidade familiar com
quatro membros, seis sujeitos possuem uma família com três membros. Há ainda, ELA08
e ELA16, que dividem a família apenas com um responsável, a mãe e a avó,
respectivamente. Da mesma forma, que temos em ELA02 e ELE02, os maiores núcleos
familiares, com sete integrantes de várias gerações – pai/mãe, avós/tios, primos.

Jovens de famílias com cinco a sete integrantes, declaram uma convivência mais
intensa com os integrantes mais velhos – pais, avós, tios e primos – sobretudo no consumo
midiático massivo a partir da televisão aberta – especialmente de telejornais durante a
semana e de transmissões esportivas nos finais de semana.

Quadro 2 - Composição famíliar por quantidade de pessoas, dos jovens da pesquisa.


Quantidade pessoas
Jovens da pesquisa %
que moram na casa.
2 PESSOAS 2 7,5 %
3 PESSOAS 6 22,5%
4 PESSOAS 7 27%
5 PESSOAS 9 35,5%
6 PESSOAS 0 0%
7 PESSOAS 2 7,5%

Fonte: O autor (2020).

A composição familiar destes jovens aponta tanto para a presença de ambos os


pais na casa, bem como para unidades familiares onde apenas pai ou mãe estão presentes.
No caso dos jovens aqui estudados, pudemos verificar, como exposto no quadro a seguir,
que cerca de 73% (19 famílias) possuem ambos os responsáveis presentes no lar.
Enquanto 15% ( 4 familias) apresentam apenas a mãe presente e cerca de 12% (3
famílias) contam apenas com a presença do pai no lar. Há ainda, o caso de um dos jovens,
que embora tenha pai e mãe residindo em Guarulhos, reside em São Paulo apenas com a
avó, a fim de viabilizar a sua condição de estudante na ETEC-MLK.

91
Quadro 3 - Estrutura familiar – presença de ambos os responsáveis na casa dos sujeitos da pesquisa.
PAI E MAE PRESENTES 19
PAI AUSENTE 4
MÃE AUSENTE 3
Fonte: O autor, (2020).

Os diversos arranjos familiares, além de particularizar a constituicão inicial destes


jovens em torno dos padrões sociais de identidade e cidadania, condicionam também as
maneiras pelas quais estes jovens constroem seu pertencimento à sociedade em que estão
inseridos. A escola e outras atividades formativas cívicas, assim como rituais religiosos e
sociais de que participam esses jovens, colaboram para que renegociem continuamente,
o sentido e prática cidadã, apreendidos em família.

Ao mesmo tempo em que a família é o núcleo importante na cultura cívica destes


jovens, é também o núcleo dos embates conceituais acerca da noção coletiva apreendida
de adequação social. Há exemplos, entre os entrevistados, que apontam que as
individualidades do jovem afloram em direções sociais por vezes opostas à orientação
familiar. ELE01, em entrevista individual, comenta sobre as diferentes concepções em
relação à temática do aborto entre ele e sua família,

sempre vem do circulo social, sua familia, que te ensina desde


pequeno, mas com o tempo voce muda o jeito de observar as
coisas, eu por exemplo, sou a favor do aborto, mas minha
familia é toda contra. Eu fui criado nesta opinião, mas com base
no que afeta uma pessoa, a mim, com isso eu criei meu
pensamento, entendeu? Acho que acabo fazendo isso com tudo
que eu observe na sociedade, assim que eu vejo (Entrevistado
ELE01).

Ou seja, uma dicotomia entre a autonomia do jovem em seu cotidiano


individualizado e os valores professados em família. É ilustrativa dessa tensão, uma
postagem de ELE03 no Twitter em que o jovem reproduz uma publicação na qual uma
ilustração de um ônibus lotado ao extremo do desconforto, é acompanhado do texto:
“cheiro de maconha na casa”. Junto ao conteúdo, ELE03 escreve: “Num tá mais dando
certo, meu irmão tá ficando ligeiro”:

92
Imagem 4 - ELE03- Guarulhos – Twitter – post e comentário, sobre cheiro de maconha em casa

Fonte: O autor (2020).

Ainda pela estrutura familiar verificada, metade dos jovens da pesquisa está
inserida em uma unidade familiar cujo chefe da família têm um nível de educação formal
circunscrito ao Ensino Fundamental I e II completos – ou equivalente - ao que o jovem
focalizado nessa pesquisa está matriculado hoje – Ensino médio ou Ensino Médio
Técnico completo. Há, portanto, uma maior presença de pais – cerca de 50% – que
concluíram o Ensino Médio/Médio Técnico, seguida por cerca de 35% que apresentam
formação Superior completa e por fim, cerca de 15% dos pais ou responsáveis com uma
formação básica de Ensino Fundamental I e II completo, conforme podemos observar
pelo quadro a seguir:

Quadro 4- Nível de Ensino formal dos pais ou responsáveis pelos sujeitos da pesquisa.

Nível de Formação Completo Pai Mãe


Ensino Fundamental 4 4
Ensino Médio/ Médio Técnico 13 14
Ensino Superior e Pós G. 6 8
Fonte: O autor, (2020).

Para muitos dos jovens inseridos nessas famílias, o desejo que manifestaram,
conforme indicam os dados empíricos, é serem os primeiros de suas famílias a terem
acesso ao Ensino Superior. Outros 13 jovens, cujos pais ou responsáveis têm uma

93
educação formal de nível superior – Graduação e Pós-graduação – a perspectiva de capital
social adquirido, gera a expectativa manutenção desse capital social.

Na verdade, alguns destes jovens se tornam os norteadores culturais da unidade


familiar a que pertencem, na medida em que seus níveis de escolarização e suas práticas
midiáticas pós-massiva são mais amplas e regulares que a de seus pais ou responsáveis.
O que, muitas vezes, intensifica o antagonismo entre valores coletivos, que estruturam a
noção de cidadania constituída em família, de valores individuais, constituídos pela
singularidade de cada jovem.

Quanto à ocupação econômica de pais ou responsáveis, podemos observar a


predominância das ocupações formais – administrativo gerencial– e também em funções
como de sócios ou proprietários de negócios. Enquanto cerca de metade das famílias dos
jovens apresenta uma condição econômica estável que pode se inferir das ocupações
mencionadas e de outros aspectos relatados pelos jovens nas entrevistas, a outra metade
dos jovens – com famílias que exercem trabalhos informais – apresenta uma condição
econômica mais instável . No quadro a seguir, detalhamos a ocupação econômica dos pais
e responsáveis pelos 26 jovens.

Quadro 5 - Ocupação econômica dos pais ou responsáveis dos jovens da pesquisa.


Ocupação Econômica Pai Mãe
Desempregado 2 0
Dona de casa 0 6
Informal – vendedor autônomo 6 4
Formal – administrativo e
7 11
gerencial
Sócio ou Proprietário 5 5
M.E.I. (UBBER, Personal trainer) 2 0
Fonte: O autor, (2020).

Pelas diversas ocupações econômicas e arranjos familiares, temos nas familias


mais numerosas e com nível de formação superior, uma experiência de consumo
midiático que opera continuamente pela reflexão e conceituação de valores de cidadania,
na medida em que conta com a participação da família. Como no caso de ELA06, que
relata em entrevista, o processo cotidiano de conversa com a mãe, de manhã cedo, sobre

94
as notícias da primeira hora na televisão: Algumas vezes é minha mãe que vem aqui falar
as notícias porque chega de madrugada e liga o jornal. Daí me chama pra ver na
televisão (Entrevistada ELA06). Prática comum também para ELA02, a quem o pai é a
referência em termos de consume de informação midiatica é sempre seu pai: Minha fonte
de checagem é meu pai, que passa o dia no computador no trabalho. Então sempre checo
com ele antes (Entrevistada ELA02).

3.2.3. ESCOLA E OUTRAS ATIVIDADES FORMATIVAS CÍVICAS

Na perspectiva de uma distinção social e perspectiva profissional que o ingresso


na ETEC MLK assume para muitos jovens57, compreendemos a grande concorrência no
vestibular procurado por jovens de toda a Zona Leste e municípios vizinhos – incluindo
os jovens participantes desta pesquisa58. Na imagem a seguir – um post da ETEC MLK a
partir de seu perfil no Facebook, republicado por ELA07 – exemplifica essa relação que
os jovens estabelecem com a ETEC:

57
Alunos de escolas públicas e privadas disputam cada uma das 80 vagas anuais do curso médio
técnico de administração de empresas com especialização em vendas ou em marketing.

58
Ao se inscrever para as provas vestibulares da ETEC, o aluno define em qual ETEC e curso
médio técnico deseja concorrer, de forma que a ETEC MLK de fato, possui um alto volume de inscrições
de jovens de toda a Zona Leste e municípios vizinhos.

95
Imagem 05: ELA07- Itaquera – Facebook –celebrando o destaque da ETEC MLK na rede social
Facebook

Fonte: O autor, (2020).

Através de programa autônomo de visitas técnicas e educativas, a ETEC MLK


promove excursões a empresas, faculdades e organizações de setores variados, ampliando
as dimensões geográficas de pertencimento destes jovens pela cidade, tanto quanto as
dimensões culturais de acesso local e global. Muitas destas atividades terminam por
resultar em potenciais entrevistas de estágios e vagas para menor-aprendiz ao longo dos
anos de formação. Acesso e pertencimento social – os valores sociais atribuídos à ETEC
MLK – aparecem em postagens de ELA09, ELA06, e ELE02, em seus perfis no Twitter:

Imagem 06: Ela 09- Tatuapé – Twitter –depoimento; visita Instituto Fernando Henrique Cardoso.

Fonte: O autor, (2020).

96
Imagem 07: ELA06- Penha – Twitter – post depoimento após visita Instituto Fernando Henrique
Cardoso

Fonte: O autor, (2020).

Imagem 08: Ele 02- Tatuapé – Twitter – posts depoimento após visita Universidade São Judas –
Economia.

Fonte: O autor, (2020).

Nos três registros anteriores de postagens dos jovens dessa pesquisa, são
destacados dois momentos deste acesso cultural fornecido pela ETEC-MLK: a visita ao
Instituto Fernando Henrique Cardoso, onde puderam conhecer o ex-presidente do país –
(postagens de ELA09 e ELA06) – e um relato da visita técnica realizada à Universidade
São Judas – (postagens de ELE02).

Dessa forma, percebemos entre os jovens participantes da pesquisa uma forte


noção de pertencimento ao espaço social urbano da ETEC MLK e sua cultura que fica
evidenciada pela publicação de ELA15 – coletada em seu perfil ativo na rede social
Facebook – onde posta uma foto de sua turma, durante visita técnica à empresa Facebook,
com o seguinte texto: “Nasci para exaltar o meu país 2ºC, uma sala dessas bixo!”

97
Imagem 09: Ela 15- Vila Carrão – Twitter –visita ao Facebook em S. Paulo – Zona Sul.

Fonte: O autor, (2020).

Ao longo do percurso da pesquisa, constatamos que a restrição de acesso à outras


atividades formativas cívicas além da escola (DALHGREN, 2011), representa a realidade
na formação educativa e cidadã de 19 destes jovens. Dos 26 jovens, apenas sete
desenvolvem algum tipo de atividade extra-escolar após do período de oito horas diárias
em que estão na ETEC MLK. No quadro a seguir, apresentamos a relação de horários de
despertar e atividades extra-escolares realizadas pelos sujeitos:

Quadro 6 - rotina de despertar e atividades formativas fora da ETEC-MLK.

Fonte: O autor, (2020).

98
Para os sete sujeitos que têm seu espaço social urbano ampliado por atividades
formativas cívicas extra-escolares, três estudam outro idioma, o inglês – ELA09, ELA15
e ELE03. Apenas dois sujeitos – ELA17 e ELE02 – praticam esportes de forma regular:
atletismo e basquete, respectivamente. A dança é atividade realizada por uma jovem -
ELA02, que pratica ballet, e ELA06, que pratica dança contemporânea. A música, a partir
do aprendizado de um instrumento, está no cotidiano de ELA02, e ELE03, através de
aulas de violão. ELA02 possui uma rotina de atividades extra-escolares mais intensa:
além de ballet e violão, pratica canto, duas vezes por semana. ELE03 frequentou por cerca
de cinco anos o escotismo em Guarulhos, vínculo que mantém ocasionalmente, quando a
tropa é convocada para atividades voluntárias e sociais. Para os outros 19 jovens, a rotina
semanal está limitada às atividades escolares e domiciliares e aos deslocamentos urbanos.

Neste sentido, a ETEC MLK realiza em diversas disciplinas oferecidas durante o


ano letivo, a produção pelos estudantes, de seminários e oficinas acerca de valores
cidadãos, como a diversidade, a igualdade e a violência de gênero; também a pluralidade
das minorias – econômica, social e racial; direitos humanos e cidadania, como forma de
ampliar os sentidos comprendidos e praticados de cidadania pelos jovens. A seguir,
podemos observar publicação de ELA14 em seu perfil da rede social Facebook, junto
com ELE04, ELA06 E ELA10, após apresentarem um seminário sobre a diversidade de
gêneros, em aula na ETEC_MLK.

Imagem 10: ELA14 – Itaquera – Facebook –com colegas em seminário diversidade/igualdade de


gêneros.

Fonte: O autor, (2020).

99
3.2.4. CONDIÇÕES A ACESSO E CONEXÃO DIGITAL.

As condições de acesso e conexão digitais conformam a existência, o acesso e a


permanência dos jovens aqui pesquisados no espaço social digital, assim como suas
práticas de consumo. No questionário, pedimos aos jovens que discrimassem tanto seus
dispositivos de conexão, quanto as formas empregadas para se manterem conectados. Por
dispositivos de conexão compreendemos aqueles com capacidade e condição técnica de
conexão à Internet – Smartphones, Desktops, Laptops, Videogames e Tablets. Já como
formas de conexão, relacionamos as modalidades de televisão por assinatura, a existência
de banda larga fixa de conexão residencial, e, ainda, a assinatura vigente de serviços de
streaming de mídia, como Netflix, ou Amazon Prime, por serem formas de acesso pelos
diversos dispositivos relacionados. Quanto a conexão pela tecnologia 4G, foi
exclusivamente relacionada ao dispositivo smartphone, por compreendermos que esta
conexão se dá exclusivamente através do smartphone. No quadro a seguir, apresentamos
o levantamento, tanto por dispositivos de conexão como pelas formas de acesso:

Quadro 7 : Relação de dispositivos e formas de conexão dos sujeitos da pesquisa.

Fonte: O autor, (2020).

100
Através das condições de conexão, dimensionamos o território informacional
(LEMOS, 2007) de cada um dos 26 jovens, como parâmetro de acesso e pertencimento
ao espaço social urbano e digital. Assim, o smartphone 4G se configura como principal
dispositivo de conexão para os 26 jovens. Além do Smartphone, sete dos 26 jovens
também possuem, para uso pessoal e exclusivo, um computador desktop. Enquanto que
11 deles, possuem além do smartphone, um laptop ou notebook portátil; 10 deles têm,
além do smartphone, o videogame para conexão e apenas três jovens possuem além do
smartphone, um tablet para realizarem suas conexões.

Ao mapearmos a condição conectiva destes jovens, notamos que as formas de


acesso e consumo midiático pós-massivo adotadas envolvem sua prática em mais de um
dispositivo. Em casa, os que possuem computador, videogame, tablet ou laptop,
costumam utilizar a banda larga residencial para se conectarem. Enquanto, em
deslocamentos urbanos, o smartphone 4G é utilizado por todos os jovens entrevistados.
O Smartphone opera também, como o arquivo midiático para consumo digital off-line. O
serviço de banda larga doméstica dos jovens abrange entre 10MBps até 250 MBps,
configurando acesso rápido, se considerada uma medida mínima de oferta.

Uma das evidências deste modo de consumo operado pelos jovens, está na
postagem de ELE03, em seu perfil ativo no Twitter. ELE03 escreve: “Bom de chegar
antes das 7:30 é q eu pego o wi-fi só p mim e consigo baixar série p assistir no caminho
de volta p casa”. – ELE03 – Guarulhos – Publicação no Twitter. ELE03 gasta cerca de
60 minutos por trajeto, entre sua residência e a ETEC-MLK.

Assim, pelo levantamento das condições de conexão destes jovens, pudemos


verificar que todos apresentam dispositivos e formas de conexão suficientes, para se
manterem conectados ao espaço social digital entre 4 a 6 horas diárias, principalmente –
mas não exclusivamente – via smartphone 4G. A aferição do tempo diário conectado,
pelos jovens em espaços sociais digitais, foi feito através da entrevista individual e pela
observação não-participativa tanto nos perfis destes jovens nas redes sociais Instagram,
Facebook e Twitter, quanto nos espaços sociais da ETEC-MLK.

101
Em função de suas propriedades de remediação ( BOLTER & GRUSIN, 2000), o
espaço social digital possibilita ao jovem conectado acesso contínuo e constante a
conteúdos midiáticos que circulam pelas redes sociais digitais. Conteúdos originais, que,
a partir de situações e contextos expecíficos de cada jovem, são remediados, apropriados
e transformados em outro contexto.

Na imagem a seguir, ELE03 compartilha uma publicação que originalmente,


remete ao personagem de animação Max Steel, super herói infantil. Ao associar a imagem
do desenho animado com o contexto politico e social – prisão do ex-presidente do Brasil,
Luis Inácio Lula da Silva, prisão dos artistas MC Poze e Rennan da Penha – ELE03 dá
outro sentido à imagem do desenho animado. Trata-se de uma ressignificação midiática
característica a partir da condição pós-massiva da comunicação individual de massa.

Imagem 11: ELE03 – Guarulhos – TWITTER: Remediação política: personagem Max Steel associado a
prisões política e cultural.

Fonte: O autor, (2020).

3.2.5. CONSUMO MIDIÁTICO: MODOS MASSIVO E PÓS-MASSIVO.

Para compreender o consumo midiático destes jovens, incluimos no questionário


e na entrevista, um levantamento de suas práticas de consumo midiático massivo e pós
massivo, incluindo os tipos de conteúdo consumidos, como notícias, esportes, filmes,
novelas, seriados, documentários, entrevistas, games e vídeos. Durante a entrevista

102
individual, levantamos também como se dão as práticas cotidianas de consumo
midiático– se individual ou coletivamente ; e também com qual frequência – no decorrer
da semana e nos finais de semana.

Muitos destes jovens têm seus hábitos de consumo midiático divididos entre o
modo massivo e o pós-massivo, condicionados tanto por suas condições de conexão
quanto pela forma como a família participa e intervém nesse consumo. Quando coletivo,
esse consumo midiático não significa necessariamente, para os jovens, uma opção ou
interesse, mas ocorre mais em função dos horários comuns da família quando se encontra
para as refeições e consome a televisão aberta

Para ELA01 por exemplo, a televisão não tem nada que eu goste, então não vejo.
Mas de vez em quando, acompanho minha mãe vendo a novela, só para ficarmos juntas.
(Entrevistada ELA01) ELA02, por outro lado, declarou que nunca começa a consumir
notícias pela busca na internet, pois espera as recomendações enviadas diariamente pelo
pai, que opera como referência para o consume midiática.

ELA03, ELA04, ELA05 e ELA06 não consomem a mídia televisiva, mas


ortientam seu consume midiáticos para Plataformas como Netflix, Youtube e redes
sociais. ELA07, ELA11 e ELA12, ao contrário, só assistem jornalismo pela televisão
aberta e utilizam o smartphone para assistir apenas séries, filmes e documentários pela
Netflix. Já ELA08, utiliza o Twitter como canal de notícias59, e , a exemplo como os
colegas, utiliza o smartphone para consumir principalmente, Youtube e Netflix.

ELA09 gosta de ver programas no Youtube que comentam as notícias diárias,


afirmando que: os youtubers deixam mais fáceis para entender as notícias com os
comentários que fazem (Entrevistada ELA09). Afirma também que na televisão só assiste
futebol, esporte que acompanha regularmente através de transmissões abertas. ELA10 e
outros 16 dos 26 jovens pesquisados afirmam que utilizam principalmente o smartphone
tanto para o consumo midiático pós-massivo quanto para o consumo midiático massivo:

59
Trend topics: a rede social Twitter oferece diariamente, uma relação de “trend topics” – notícias mais
marcadas em tempo real, dentro da rede social Twitter.

103
jogo, musica, twitter, Instagram, Facebook (ELA10). Ao perguntarmos se ELA10 usa
mais o celular ou a televisão,’ responde: 100% mais no celular do que na televisão, uso
o celular para ver programas de televisão (Entrevistada ELA10).

Para ELA15, a televisão: demora muito para passar as notícias, normalmente


procuro na internet, é difícil esperar passar a notícia no jornal da televisão (Entrevistada
ELA15). No entanto, ELA15 admite que gosta de assistir programas documentários, de
ecologia e de empreendedorismo, por várias emissoras da televisão aberta. Já ELA16,
consome apenas jornalismo na televisão aberta, deixando filmes, series, documentários e
animações japonesas, para consumo em conexão digital, através da Netflix. ELA17,
embora se declare curiosa, admite que não tem o hábito de consumir notícias
regularmente: Apenas quando alguém comenta sobre algum tema, aí vou buscar no
Google (Entrevistada ELA17).

ELE01 e ELE08, também se utiliza do Google, como porta de entrada para o


jornalismo – principais notícias e manchetes no dia – como também buscam as notícias
que os amigos comentam pela ETEC MLK. ELE02 apresenta uma rotina vinculada a da
mãe, que, diariamente, pela manhã, lhe informa das principais notícias do dia por ela
acessadas. Quando vai ao Google: normalmente começo pelas notícias do meu time de
futebol, daí do mundo e da cidade (Entrevistado ELE02). Já para ELE03, a televisão é
suficiente para consumir conteúdo jornalístico, costuma assistir aos programas de
jornalismo das redes Globo e Band. Enquanto ELE04, consome jornalismo em formato
digital, a partir do jornal A Folha de SP, mas prefere assistir na televisão os jornais da
rede Globo e Rede Record.

Para ELE05, o jornalismo não é um motivador de consumo midiático: Assisto


notícias na hora do jantar, pela televisão junto com minha família, mas não me demoro
muito com eles não. Tirando isso as vezes pesquiso no facebook por alguma notícia
(Entrevistado ELE05). Já ELE06, tinha a prática de ler o jornal Folha de São Paulo
impresso, que: costumava guardar em casa, mas ocupava muito espaço, agora minha
mãe que me acorda já falando as notícias que viu na televisão (Entrevistado ELE06). E
ELE07, busca por notícias no Facebook, mas checa estas notícias em canais do Youtube
que comentam sobre os assuntos midiáticos.

104
O consumo midiático massivo dos jovens sinaliza a preferência por gêneros como
o jornalismo e as transmissões esportivas, motivados pelo próprio contexto de consumo
familiar. Alguns jovens admitem, ainda, o consumo de novelas, para desfrutarem de um
momento coletivo em família.

A partir das respostas acerca das práticas de consumo midiático destes jovens,
perguntamos, em entrevista individual, sobre o receio em relação ao consumo e
compartilhamento de fakenews e, em caso positivo, quais as formas de checagem destes
conteúdos. Dos 26 jovens, 22 deles afirmam se preocupar com fakenews e realizar
checagens a partir da fonte, autoria, data e título das notícias, mas efetivamente apenas
dois jovens – ELA12 e ELE07, afirmaram conhecer e utilizar o site boatos.org.br60 como
verificador de notícias falsas. Assim, dos 4 jovens que não se preocupam em verificar as
notícias que consomem – ELE01, ELE02, ELE03, e ELE09 – os argumentos apresentados
como justificativa para não realizar a checagem foram bastante semelhantes: os quatro
jovens afirmam consumir notícias apenas a partir das mídias massivas – em especial a
televisão aberta. E respondem de forma semelhante a ELE09, nesta questão: Como vejo
as notícias pela televisão, não tenho porque conferir se são falsas (Entrevistado ELE09).

Pelo consumo midiático pós-massivo, os hábitos cotidianos indicam, por um lado,


um consumo individual, e, por outro coletivo pela conexão intermitente – como
observado também entre os deslocamentos diários do jovem pela cidade. Na perspectiva
de consumo cultural midiático pós-massivo, são os conteúdo em streaming de Netflix,
Amazonprime, Youtube, Globoplay e redes sociais, que têm a preferência de
praticamente todos os jovens que realizam a prática midiática pós-massiva.

Quando se trata de conexão midiática relacionada ao consumo realizado no espaço


social urbano, os jovens transformam as experiências vividas em rápidos stories visuais
– pequenos videos, animações e publicações estáticas. Os stories são então, midiatizados

60
O site www.boatos.org é uma iniciativa particular, de cinco jornalistas brasileiros, que se dedicam a
verificação e denúncia de fakenews, na mídia brasileira. Desde 2018 tiveram um aumento de consultas,
proporcional ao aumento do volume de notícias faltas que se passou a ser publicada a partir do início das
campanhas eleitorais a presidência do Brasil.

105
pelas redes Instagram e Facebook, mas apenas por 24 horas. São também avidamente
contabilizados pelas quantidades de views e likes, em clara mensuração de audiência.

Outro dos modos de comunicação midiática pós-massiva – neste caso, específico


da rede social Facebook – se dá pelo registro da função de check in. Nela o jovem marca
em seu perfil, o local, data, hora e a atividade realizada. Todos os check ins permanecem
no perfil como um registro histórico de por onde este jovem já realizou suas práticas de
consumo. Como eventos, viagens, jantares, cinemas, teatros, dança, shows musicais e
demais acontecimentos, que conferem capital social ao jovem consumidor.

Ainda, na comunicação midiática pós-massiva, a lógica da exposição pública a


todo custo, se mantém relativa. É possível que o jovem possa configurar seu Instagram e
Twitter para que seja visto somente por pessoas autorizadas, dimensionando uma
perspectiva de privacidade relativamente controlada. O que dá ao Instagram pouca
utilidade, uma vez que o uso em massa se destina justamente a midiatizar os
acontecimentos e stories ali veiculados.

Das três redes sociais digitais e pós-massivas que estamos trabalhando nesta tese,
embora o Instagram seja a mais ativa com 24 jovens mantendo atualizados seus perfis, as
evidências extraídas do campo em relação aos conteúdos publicados se mostraram em
menor número do que o material coletado no Facebook e Twitter. No Facebook, temos
20 jovens com perfil ativo, e no Twitter, 15 jovens ativos.

Na constituição midiática, as diferenças essenciais entre os modos massivo e pós-


massivo, se dão pelos formatos e pela disponibilidade midiática. No modo massivo, são
diversos os formatos vigentes, enquanto que no modo pós-massivo, há apenas um formato
midiático: o bit – a menor unidade digital. Quanto à disponibilidade midiática, a mídia
massiva obedece rígidas escalas de transmissão, enquanto que, no modo pós-massivo,
qualquer indivíduo conectado pode acessar a mídia a qualquer tempo, desde que
conectado. O que confere liberdades de ação, escolha, consume, produção e interação
midiática pós-massiva ao jovem conectado.

106
Considerando a quantidade de tempo que estes jovens empregam nos
deslocamentos pela cidade e dentro da ETEC MLK, as possibilidades de consumo
midiático se expandem: o jovem acessa e consome o que desejar, quando e como desejar.
O tempo, fragmentado pelo cotidiano deste jovem, se torna outro aspecto da comunicação
midiática pós-massiva ainda mais atraente. Produções Netflix costumam apresentar
episódios entre 20 a 60 minutos, correspondendo ao tempo de deslocamento da maioria
dos jovens que se utilizam de transporte público multi-modal para ir a ETEC-MLK.

3.2.6. EXPOSIÇÃO MIDIÁTICA: O PÚBLICO E O PRIVADO NA DIMENSÃO


PÓS-MASSIVA.

Pela comunicação midiática pós-massiva, não há condição de anonimato entre os


indivíduos conectados em rede. Cada rede social força o individuo a se identificar de
alguma forma – ainda que com apelidos – a fim de que seja descoberto e seguido por
outros usuários, para ter seu conteúdo midiático curtido, compartilhado e comentado. O
que confere um forte caráter de exposição dos indivíduos e de seus conteúdos pelas redes
a que se insere, de modo que os usuários da rede possam se reconhecer e interagir entre
sí, através dos conteúdos e interações oferecidas.

A questão da privacidade ou exposição nas redes sociais, para estes jovens foi um
aspecto importante da entrevista individual semi-estruturada. Por este aspeto, pudemos
observar que a condição de utilização das redes sociais por cada jovem está diretamente
associada à maneira pela qual este jovem vivencia seu espaço social urbano. Pois, em
espaços sociais digitais como Instagram, Facebook e Twitter, a condição de midiatização
constante demanda que sejam publicadas as ações cotidianas deste jovem, acompanhadas
por marcações sociais que referenciam a cena retratada – local, hora, dia, companhias,
preço, importância do fato – a fim de receber em retorno, marcações sociais de
visualização e apreço social –quantidade de likes, comentários e compartilhamentos
recebidos.

Neste processo de midiatização do indivíduo, a privacidade e a exposição


assumem especificidades em cada uma das redes sociais digitais. Instagram e Twitter,
por exemplo, apresentam uma especificidade em relação à privacidade que o Facebook

107
não dispõe: o jovem pode tornar seu perfil fechado, protegendo-o de visualização pública
e garantindo acesso restrito apenas a quem deseja interagir a partir dos conteúdos
publicados.

Quando perguntamos aos jovens se havia receio em se expor nas redes sociais
digitais, tivemos 18 jovens que admitiram ter receio da exposição digital e oito jovens
que não se preocupam com a questão. No entanto, observamos que, mesmo entre os
jovens que afirmaram não ter receio de se expor, existe uma cautela em relação a qual
rede social será utilizada para qual conteúdo. Assim, eles diferenciam o nível de
exposição pessoal em função dos contatos que possuem em cada rede. Nas palavras de
ELA14: Eu não tenho mais receio não! Agora no Twitter, você pode postar o que quiser,
porque a família não está lá. No Facebook eu só olho, compartilho pouco. Compartilho
mais do que escrevo autoral.( Entrevistada ELA14).

Visão compartilhada também por outros jovens, que não usam o Facebook – rede
acessada por seus colegas de escola, familiares, grupos sociais religiosos, esportivos,
artísticos, culturais e sociais. – para publicações conteúdos relacionadas a perspectivas de
sua vida privada– como a sexualidade. Ou, quando usam, esses temas não são tratados
em primeira pessoa autoral no Facebook, como fazem em outras redes. Como afirma
ELA10:
Eu tinha mais receio, não queria postar muita coisa, mas agora ainda
mais no Twitter que é um lugar muito aberto, você coloca tudo de boa,
no Facebook não chego a compartilhar muita coisa, eu tinha mais
medo de mexer nos lugares. Eu leio mais do que publico, eu não publico
autoral, compartilho mais do que escrevo, e mais vejo que compartilho.
(Entrevistada ELA10).

Há, na exposição midiática das redes sociais digitais, um misto do desejo em se


expor e ter ciência da quantidade de usuários que viram o conteúdo publicado, e a cautela
em não querer se destacar na diferença de opinião ou visão de mundo. Isso se observa
especialmente no Facebook – onde os jovens entendem que podem ser publicamente
criticados, ou mesmo ficarem em evidência frente a outros usuários da rede social. Como
afirma ELA04: Receio mais pela minha opinião que prefiro não por, porque as pessoas
são muito críticas, e prefiro não postar. Curto mas não comento, nem compartilho
tambem. (Entrevistada ELA04).

108
A condição de exposição pública do Facebook, no sentido de que todo usuário
têm seu perfil localizável – ainda que protegendo os conteúdos dentro dele – gera uma
cautela maior entre os jovens que a utilizam, especialmente em determinadas questões,
como a política. Para ELA02, a condição de exposição pública no Facebook se torna um
risco social alto, a partir da prerrogativa de que as críticas abertas tendem a ser agressivas,
especialmente se a temática envolve política, sociedade, crenças ou opções individuais de
comportamento:
Eu já fui mais de compartilhar coisas, hoje nem tanto, meu Instagram
era cheio quando era mais nova, hoje em dia não compartilho mais, seis
fotos no Instagram e Facebook, quase nada. Passei a não me expor mais,
acho que não é necessária, e dependendo, é estranho, por exemplo,
política, nunca fiz comentários ou publicações, porque acho que temos
que ter essa privacidade. Se tivesse que falar, tinha que ter muita certeza
do que falo. Publicando gera polêmica, uma amiga minha, criticavam
ela forte por apoiar o Bolsonaro. Ela compartilhou muita fake news a
respeito, quero fazer o contrário dela, melhor evitar, para não ter
dissabores. (Entrevistada ELA02).

Naturalmente que o espaço social urbano do jovem opera sentidos e significados


relacionados à exposição ou privacidade de seu conteúdo nas redes sociais. ELA02,
residente no Tatuapé, uma das regiões mais valorizadas da Zona Leste, relata
agressividade e crítica recebidas por sua amiga, ao publicar sua crença política. Decide
então, ter cautela, diminuindo a quantidade de publicações, consequentemente, revendo
as temáticas que midiatiza, a fim de manter em seu perfil no Facebook, interações sociais
que possam permanecer públicas, ou seja, que possam ser associadas à ELA02, sem
motivar desaprovação e críticas na rede Facebook.

Para ELE04, que só possui um perfil ativo na rede social Instagram, o receio de
se expor vai além de tornar seu perfil privado – apenas quem ELE04 autoriza, podem ver
os conteúdos publicados – uma vez que utiliza a rede social Instagram como canal privado
e não público, acerca de seu cotidiano: Tenho bastante receio de me expor, eu tenho
instagram, minha unica rede social, mas eu posto coisas tipo bem reservadas, e é privado,
só coloco meus amigos, eu não gosto de me expor (Entrevistado ELE04).

Para ELA03, ELA05 e ELA08, o receio em se expor é real, mas não é maior do
que o desejo de estar presente e atuante na rede. As três jovens reconhecem que não tem
jeito, posto assim mesmo (Entrevistada ELA03). Já para ELE01, esta questão de

109
exposição pública faz com que os conteúdos postados sejam dirigidos a redes diferentes.
Ambos os jovens reconhecem no Twitter, a condição privativa do perfil fechado como
confortável para publicarem seus conteúdos, mas operam com mais cautela nas outras
redes. Depende de onde eu me exponho, por exemplo, Twitter, que eu tenho fechado, eu
me exponho mais. Facebook, que eu nem uso mais, so compartilho umas coisas de
interesse, música ou filme (Entrevistado ELE01).

ELE02, por outro lado, não tem mais receio de se expor, considerando a
privacidade que o perfil fechado do Twitter oferece, mas ao mesmo tempo, expressa um
outro medo: Não, porque o Twitter hoje em dia pros jovens é uma rede pra gente
desabafar sempre, mas eu tento tomar cuidado pra não atingir as pessoas de uma forma
negativa (Entrevistado ELE02).

Na definição de público e privado, em relação ao espaço social digital destes


jovens, a dimensão pública se associa mais à condição de exposição do jovem na rede, do
que necessariamente à dimensão política da esfera pública. De forma que o privado
também se refere ao que é oculto pelo jovem, aquilo que lhe parece inconveniente, que
lhe trará problemas sociais ou que lhe pareça ser agressivo demais, ainda que concorde
com o conteúdo da mensagem. Para ELA02: tenho muita coisa que compartilho com
pessoas que eu quero; mas com todo o público do Facebook, compartilho só coisas
simples (Entrevistada ELA02).

Percebemos nas respostas de ELA03, a mesma concepção de ELA02. Em relação


ao que considera público, ELA03 afirma que são: fotos, qualquer coisa que no futuro não
possa ser usada contra mim, coisas que estou segura, que quero que vejam, e não me
causam problemas (Entrevistada ELA03). E quanto ao que se considera privado ELA03
afirma: qualquer coisa que ache que possa ser mal interpretado, principalmente redes
em que escrevo o que quero, como o Twitter. Coisas que ainda não tenho ideia formada
e não partilho (Entrevistada ELA03).

Percebemos, também, que o espaço social digital de ELA03 é operado a partir das
posições sociais que a jovem entende mais ou menos consolidadas. O pensamento em
formação, o questionamento ou a crítica formulados por ELA03 ficam reservados ao

110
perfil fechado no Twitter, enquanto aquilo que já está assimilado por ELA03, como valor
e crença pessoal, podem ser midiatizados no Facebook e Instagram da jovem.

Neste aspecto, o privado para ELA15 está relacionado a seus dissabores e


desconfortos cotidianos, que prefere não midiatizar em rede, embora reconheça nas redes
sociais, também a possibilidade de externar suas questões e inquietações, como forma de
processá-las. Segundo a jovem, ela escolhe não publicar por exemplo, briga familiar, não
vou postar, porque sei lá, é meu, mas chega uma hora que você precisa falar isso pra
alguém e você acaba postando entendeu? Algo relacionado a sexualidade (Entrevistada
ELA15).

O auto-exercício da censura é parte integrante da dinâmica de usos das redes pelos


jovens, no sentido de que, para alguns, cada publicação que fazem irá se desdobrar em
consequências cotidianas. Nas palavras de ELE04, eu penso bastante pra postar, pra
compartilhar, pra escrever a legenda, se escrever assim posso gerar uma preocupação,
eu penso muito antes de publicar, meu pai fala assim: não deixe dúvidas no que voce
postar (Entrevistado ELE04).

Os jovens tornam público nas redes sociais Facebook e Instagram, conteúdos


relacionados a de cenas e situações que remetam a prestígio, distinção e diferenciação.
Afinal, em redes sociais digitais, nada se publica sem que haja uma agenda definida pelo
jovem, que dê sentido social à sua publicação. De forma que podemos observar pelos
perfis destes jovens nas redes sociais, tanto a representação mais positiva de seu cotidiano
inserido socialmente, quanto a representação negativa das restrições sociais vivenciadas
neste cotidiano.

3.3. PRÁTICAS MIDIÁTICAS NAS REDES SOCIAIS DIGITAIS

A prática midiática observada nas redes sociais de Instagram, Facebook e Twitter


se revelou intensa entre os jovens, estudantes e residentes na Zona Leste de São Paulo. ao
Os 26 jovens mantêm e atualizam 59 perfis ativos nas três redes sociais. Destes, 11
sujeitos possuem perfis nas três ambiências sociais digitais e outros 11, em duas delas.

111
Quatro sujeitos possuem apenas um perfil ativo na ambiência digital social do Instagram.
Não por acaso, o Instagram é a rede social digital mais adotada pelo universo dos 26
sujeitos, totalizando 24 perfis. Uma das principais razões por essa prefgerência , é a
característica do Instagram de poder exibir conteúdos curtos – uma foto, texto ou vídeo
rápido – por um período de 24 horas, quando o conteúdo é perdido e deletado.

O Facebook é a segunda rede social em preferência, com 20 perfis ativos, e o


Twitter é a rede menos adotada pelos jovens desta pesquisa, com apenas 15 perfis ativos.
Notadamente, a característica de perfil “fechado” existente no Twitter justifica tanto o
menor número de sujeitos dentro dele, quanto a condição de permanência dos jovens que
lá estão.

No quadro a seguir, temos relação completa dos perfis ativos por jovem e suas principais
marcações para cada rede social digital, observada no espaço social digital dos jovens
estudantes:
Quadro 16 - Redes sociais ativas por sujeito da pesquisa para Facebook, Twitter e Instagram

Fonte: O autor, (2020).

112
No Facebook, averiguamos as quantidades de contatos de cada perfil, volumes de
postagens, e marcações de check in, onde o jovem marca os locais onde esteve e registra
sua presença naquele momento. No Twitter, averiguamos as quantidades de seguidores
do perfil, de postagens e de perfis seguidos pelo jovem. No Instagram, verificamos o
número de seguidores do perfil, de postagens fixas e de perfis seguidos pelo sujeito61.

No quadro a seguir, a relação dos dez perfis com maior audiência em cada uma

delas:

Quadro 8 - Os 10 perfis com maior audiência de seguidores nas três redes e os sujeitos correspondentes

Fonte: O autor, (2020).

As práticas midiáticas pós-massivas observadas nas três redes sociais digitais


incluem a produção constante de marcações entre os usuários conectados ao jovem.
Textos, animações, imagens do cotidiano, selfies, stories e vídeos, estão entre os formatos
mais utilizados pelos usuários destas redes sociais. Como parte integrante do volume

61
Cabe a ressalva de que, em termos qualitativos, os números de audiência observados em cada
perfil – a quantidade de outros sujeitos que seguem este perfil e a quantidade de perfis que este sujeito
segue – tendem a nublar peculiaridades e formas de utilização destas ambiências sociais digitais.

113
midiático compartilhado, estão notícias, quizzes, memes, piadas, frases, citações,
ilustrações, efemérides e depoimentos. São conteúdos que legitimam publicamente o
percurso social realizado pelo indivíduo, girando em torno de conquistas pessoais, de
consumo, referências de estilo – moda, arte, música, ideologias. São temas midiatizados
pelos jovens, na intenção de se midiatizarem eles próprios em torno da publicação.

Em comum, algoritmos que realizam programações automáticas, relacionando a


cada perfil de usuário, conteúdos diversos, de modo a estimular a interação dos jovens
entre si. Esses algoritmos também promovem os conteúdos publicados pelas pessoas que
o usuário segue regularmente, de modo que a cada publicação realizada, aqueles que o
seguem, são notificados com a mesma rapidez com que foi publicado o conteúdo.

A única motivação aparente das redes sociais digitais é o fato de que quem ali
está, quer tanto ver conteúdos, quanto ter seus conteúdos visualizados. No entanto, o
volume de publicidade, que no Facebook e Instagram é relativamente alto, em relação aos
conteúdos não comerciais ou publicitários, faz com que cada uma das redes adote
funcionalidades de origem, e funcionalidades de expansão de uso, conforme detalharemos
a seguir

3.3.1 INSTAGRAM: PALAVRA-CHAVE: SELFIE.

Na ambiência digital do Instagram é como se o presente fosse uma contínua


transmissão ao vivo, com conteúdos em animações, imagens e audiovisuais, produzidos
pelos próprios usuários e exibidos para aqueles ao quais o autor outorga acesso. No
Instagram, as interações escritas são de menor volume, pois a linguagem principal é a
visual, ainda que com algum texto curto associado. Pela predominância visual,
fundamentada no conceito de fotografia instantânea – como a fotografia polaroid, mas
conectada em rede – o Instagram estimula seus usuários a postarem várias vezes ao dia,
sempre que houver algum novo aspecto cotidiano que se deseja valorizar: o treino de
academia realizado com os índices de performace atingidos, o bolo e o café fotografados
em um lugar aconchegante, cães e gatos realizando travessuras, piadas, video clips, enfim,
não há limites para o conteúdo midiatizado no Instagram – com exceção de nudez, sexo,
terrorismo, fascimo e extremismo.

114
As temáticas postadas observadas nos stories são visibilizadas em rápidos takes,
momentos de inserção social e simbólica dos sujeitos, modos de consumo cultural e
prazer estético – o novo: penteado, tênis, visual de looks e make ups daquele instante;
roupa nova, sempre referenciando momentos de êxito e inserção social dos usuários. E,
claro, sempre avaliados a partir do desempenho obtido na quantidade de likes que cada
story alcança.

Assim, o Instagram, pelo aspecto instantâneo de seus conteúdos, aliado à


exposição midiática gerada, se caracteriza também pela transmissão digital do que é
novo, imediato, vivenciado ou simulado, abrindo a possibilidade do jovem transmitir ao
vivo, em formato live, explorando o conceito de duração temporal do stories. Pelo
dinamismo visual com que os stories e lives se constituem, os usuários do Instagram
atribuem cada vez menos importância aos conteúdos fixo nos perfis. Neste sentido, a
maioria dos jovens que utiliza o Instagram para publicar seus conteúdos, o faz via stories
ou lives, ao invés de postagens fixas. O que nos deu uma condição de observação
interessante, justamente a partir dos registros fixos em cada perfil ativo.

O nível de exposição pessoal detes jovens é alto dentro do Instagram, pois os


usuários costumam se fotografar ou filmar em ações cotidianas, como uma prova de
veracidade de que aquela pessoa realmente esteve na cena retratada. Há um cuidado com
a produção visual das imagens, pela aplicação de filtros de correção da imagem, tanto
quanto filtros que inserem marcas visuais na postagem.

A interação entre os usuários do Instagram é assíncrona, normalmente realizada


como marcação de ciência do que foi publicado por um like, um compartilhamento, ou
pela condição de envio de mensagens de texto dentro da rede social. Na métrica do
Instagram, sucesso significa ter um perfil com mais seguidores do que pessoas seguidas.
De forma a sinalizar popularidade, influência e autoridade a quem resolve descobrir seu
perfil. De tempos em tempos, o Instagram lança novos filtros visuais, de forma a manter
a motivação dos usuários em produzir e publicar suas imagens.

115
Dos 26 perfis mantidos pelos jovens no Instagram, 24 são perfis ativos – que
indicam postagens ou interações pelos menos uma vez por semana. Os outros dois jovens,
embora tenham o perfil funcionando, jamais publicaram algum conteúdo. O que também
caracteriza outro tipo de usuário no Instagram: o que vai à rede a fim de ver, mas não de
ser visto.
ELA02, também possui perfil ativo no Instagram e age como a maioria dos mais
de 66 milhões de brasileiros que utilizam o aplicativo social62. No perfil de ELA02,
podemos acessar fotografias e montagens audiovisuais em videoclips rápidos,
apresentando ELA02 em poses de retrato. São apenas 06 imagens postadas pela jovem
em seu perfil. Há imagens de seu cotidiano social como eventos e festas, onde se encontra
bem produzida e maquiada, imagens de cotidiano cultural e de lazer, como espetáculos
de Dança e viagens à Disney e à Nova York. Um aspecto também importante do
Instagram, que podemos verificar no perfil de ELA02 se refere ao fato de que, embora a
jovem disponibilize apenas seis imagens suas, essas imagens estão relacionada a outras
32 imagens onde foi marcada pelos outros usuários de sua rede.

Na imagem a seguir, o perfil de ELA02, em suas publicações e nas publicações


onde ELA02 foi publicamente marcada pelos usuários com quem se relaciona
cotidianamente.
Imagem 12 - ELA02 – Tatuapé – 2 Telas iniciais de seu perfil Instagram.

Fonte: O Autor (2020)

62
Dados de outubro de 2018, acessado em 03/01/2020.
Disponível em: https://napoleoncat.com/stats/instagram-users-in-brazil/2018/10

116
ELA04, por sua vez, afirma utilizar o Instagram como sua principal ambiência
social digital, na qual percorre todos os dias, os conteúdos postados pelos 316 perfis que
acompanha. No entanto, ELA04 não tem nenhum post publicado no Instagram, assim
como também não tem nenhum post onde é marcada por outros usuários de sua rede.

Imagem 13 - ELA04 – Telas de publicações e de marcações - Instagram

Fonte: O Autor (2020)

ELA12, que também possui perfil no Instagram – além do Facebook – tem uma
página com 46 publicações próprias e 36 publicações onde foi marcada. Nada diferente
em termos de conteúdo, do que nos apresenta ELA02, como momentos de destaque
social, confraternização entre pessoas queridas, sorrisos, intimidade cotidiana, alguns
lugares de destaque em visitas escolares – como o Facebook – algumas imagens de pôr
do sol.

117
Imagem 14 – ELA12 – Telas de publicações e de marcações – Instagram.

Fonte: O Autor (2020)

Já pra ELA 09, o videoclipe cotidiano e dinâmico do Instagram é o maior apelo:


Instagram é a primeira rede forte. Hoje em dia é a ferramenta dos stories, acabo
perdendo mais tempo lá, vendo os stories das pessoas (Entrevistada ELA 09). Para
ELA10, que possui perfil ativo nas três redes sociais da pesquisa, o uso que faz do
Instagram é motivada pela ampliação de suas percepções políticas e cidadãs através do
acesso a diferentes percepções e condutas publicadas em perfis que segue. Como afirma
ELA10:

Falando mais sobre o Instagram e Twitter, que eu mais uso: […] no


Instagram tem mais percepções, porque sigo pessoas diferentes, uma
moça feminista, uma moça acima do peso feliz com isso, eu não tô em
nenhuma destas realidades, mas consigo enxergar por elas […] acho
que influencia porque amplio minha visão (Entrevistada ELA10).

ELA01 também opera ativamente seu perfil do Instagram, sendo a jovem que mais
publicações fixas apresenta: 115. Mas, diferente da maioria dos jovens que pesquisamos,
para ELA01, pouco interessa exibir-se em modo selfie, ostentar consumo, pertencimento
ou diferença social, conforme podemos observar na imagem a seguir, onde vemos duas
telas com as publicações da jovem:

118
Imagem 15 - ELA01–Guaianazes–Telas de seu perfil Instagram

. . Fonte: O Autor (2020)

Ao analisarmos o conteúdo de ELA01 em seu perfil do Instagram, pudemos


verificar, que os 115 posts fixos que mantêm dizem respeito à prática de seu hobby
artístico com a fotografia – que já desenvolve há cerca de 2 anos, possuindo inclusive
equipamento de qualidade profissional que costuma carregar com muito cuidado para
locais externo à sua casa quando deseja fotografar. Não há uma única imagem onde
ELA01 se mostra em close ou em situações cotidianas, uma vez que a jovem procura
restringir sua exposição pública pelo espaço social digital.

3.3.2 FACEBOOK: PALAVRA-CHAVE: PERTENCIMENTO.

A rede social digital Facebook oferece a seus usuários uma condição de


midiatização ampliada tanto pela quantidade de usuários ativos no Brasil – 126 milhões63,

63
Dados de outubro de 2018, acessado em 03/01/2020, em: https://napoleoncat.com/stats/facebook-users-
in-brazil/2018/10

119
quanto pelas várias formas de interação social oferecidas a partir da página de perfil dos
usuários como publicação de conteúdos e quizzes pessoais, marcações de check in, troca
de mensagens instantâneas diretas, transmissão “live”, video-chamadas, ligações
telefônicas, montagem de grupos de discussão – públicos e restritos.

Pela grande variedade de modos de interações e pelo alcance nacional, o Facebook


se tornou a rede social digital que mais se favorece a exposição pública irrestrita, tão
evitado pelos jovens pesquisados em sua prática comunicacional. De certo modo, assume
um caráter institucional a partir da prerrogativa de que as instituições sociais, escolares,
religiosas, políticas, civis, podem não apenas figurar em perfil ativo, mas promover
grupos, atividades e agendamentos coletivos pela rede social.

De forma que, ao ingressar na rede social Facebook, o jovem rapidamente percebe


que além de marcar seu território cotidiano e pessoal, é também marcado pelas
instituições a que está vinculado. Tanto pela condição pública de acesso a conteúdos
midiatizados pelo Facebook, quanto por manifestações de apoio e repúdio, or meio de
comentários vinculados a cada publicação, a exposição irrestrita deste jovem no Facebook
costuma gerar conflitos entre a manifestação de opinião do jovem e suas vinculações
institucionais.

O Facebook permite aos usuários postar conteúdos sobre todos os temas,


independente das posições éticas ou morais de quem publica – com exceção de alguns
temas, como nudez, sexo, pornografia, drogas, terrorismo e fakenews – o que acarreta
invariavelmente, uma série de conflitos em relação à veracidade, atualidade e adequação
dos conteúdos midiatizados. De outra forma, essa mesma facilidade de publicação se
mantém na condição de manifestação irrestrita dos outros usuários da rede, a qualquer
conteúdo publicado por qualquer usuário ativo. O que gera constrangimentos, ameaças,
práticas coercitivas e risco social associado à prática midiática no context do Facebook.

Para ELA 02, a marcação do público e do privado é mais acentuada no Facebook,


fazendo com que ELA02 não publique nada que demonstre suas crenças pessoais,
opiniões ou posturas críticas. Da mesma forma, ELA02 não costuma interagir nos posts
que visualiza, mantendo uma postura mais superficial nas interações que realiza:

120
O Facebook eu uso pra compartilhar memes e dando “haha” na
postagem dos outros, uso mais como lazer mesmo. Raramente posto,
não gosto de expor opinião minha, prefiro ficar quieta. Também não
comento posts dos outros. O Instagram, meu uso é mais pessoal mesmo,
coisas minhas, fotos, viagens, acho que uso mais pra uso pessoal
(Entrevistada ELA02).

No entanto, pudemos observar pelos seus conteúdos publicados, uma forte


presença da família, promovendo atividades culturais e artísticas cotidianas. Na maioria
destas publicações, estão marcados os parentes ou pessoas envolvidas nessas atividades.
Desta maneira, pudemos observar que ELA02 empreende uma grande quantidade de
atividades sociais em família, participando coletivamente da Escola de Samba do bairro,
realizando atividades de lazer e cultura, viagens nacionais e internacionais. Da mesma
forma, figuram em seu perfil, as atividades domésticas e festivas das quais participa,
como aniversários, intercâmbios e formaturas diversas, de seus integrantes, referenciando
as situações sociais de prestígio e diferenciação que a família lhe proporciona. Já ELA12,
que possui perfis ativos tanto no Facebook como no Instagram, os conteúdos observados
em seus perfis sugere que seu cotidiano é protagonizado mais pelas atividades individuais
do que por atividades em família.

A análise dos perfis das duas jovens, na área de check ins, nos permite, ainda,
comparar a diferença de quantidade e variedade de atividades realizadas por ambas as
jovens que foram visibilizadas na rede social. Assim, ELA02 – imagem da esquerda –
soma 243 registros, em 158 lugares diferentes. Entre eles, cidades estrangeiras como
Nova York e Miami nos Estados Unidos, praias no litoral paulista, Escola de Samba,
restaurantes e locais internacionais. Enquanto ELA12 – imagem da direita – conta com
28 registros de em 10 lugares; sendo quatro registros relacionados a ETEC-MLK, um
registro ao condomínio residencial onde vive, um registro de atividade cultural no
Belenzinho – Zona Leste de São Paulo e quatro registros relacionados a viagens ao
Balneário Camboriú e Penha - SC.

121
Imagem 16 - ELA02 – Itaquera e ELA12 – Vila Matilde – Facebook – “check in” de locais visitados.

Fonte: O autor.

3.3.3 TWITTER: PALAVRA-CHAVE: CONTESTAÇÃO

Com mais de 27 milhões de usuários brasileiros, o Twitter se caracterizou como


a rede social da contestação política, a partir do protagonismo midiático que assumiu por
ocasião da Primavera Árabe, quando se tornou a principal mídia de articulação de
protestos politicos na região. Suas características midiáticas vêm se ampliando conforme
as outras redes sociais expandem suas ofertas midiáticas aos usuários. Nasceu como uma
rede social de textos curtos: 144 caracteres por postagem. Posteriormente, dobrou o
número de caracteres, permitiu a inserção de imagens, vídeos e áudios nas postagens, para
finalmente, liberar até quatro imagens e um video de até dois minutos também como
acréscimo à repostagem de conteúdos.

122
Como formas de interação entre seus usuários, o Twitter apresenta as
possibilidades de marcação, compartilhamento e comentários nas postagens, o que faz
com que haja um grande número de interações entre os usuários – em apoio ou crítica
aberta ao conteúdo postado por seus autores. O Twitter oferece, ainda, aos usuários a
possibilidade de marcarem os conteúdos com hashtags, ou “#” seguido da marcação
desejada. O que impulsiona diversas campanhas e causas sociais e cidadãs, a partir da
adesão pública no uso das hashtags, ampliando alcance e impacto das postagens.

No Twitter, a contestação poder ser pública e aberta – todos os usuários podem


acessar o conteúdo deste perfil – ou privada e fechada – somente os usuários autorizados,
têm acesso ao conteúdo deste perfil. Muito em função da faixa etária e condição de
moratória social em que se encontram, dos 15 jovens pesquisados que utilizam o twitter,
todos eles afirmam manter seus perfis fechados, franqueando o acesso a seus conteúdos
de forma criteriosa. Em função principalmente desta característica, acaba sendo a rede
social digital preferida dos jovens pesquisados para publicação de conteúdos polêmicos,
carregados de sinceridade, criticismo e intimidade. Como afirma ELA10 em entrevista:

Twitter é minha principal, a maior fonte de referência, eu acho


Facebook muito artificial, no Twitter você é 100% porque não tem
família, então você pode postar o que quiser. O que não postei no
Facebook sobre meu relacionamento, no Twitter posso mostrar as
coisas todas que quero, posso compartilhar minha namorada. Se zoar
no Facebook, publicar minha namorada, a família vem em cima, o
Facebook é engessado, minha família só permite até aqui. No
Instagram gosto de ver, para acompanhar quem eu gosto, tipo meus
amigos, alguma personalidade ou artista (Entrevistada ELA10).

ELA14 também ratifica a condição de Liberdade e privacidade do Twitter, como


local “livre”, especialmente porque no Twitter, segundo ELA14 não tem família, pode-se
postar o que quiser:
Twitter é onde fico mais tempo comentando, olhando, como fonte de
referência, acho que é mais legal que Facebook, porque no Facebook
tudo é artificial, como no Instagram. No Twitter não, ali você pode
postar o que quiser, ainda mais porque no Twitter, não tem família, e
ninguém vai te julgar. A minha namorada por exemplo, só existe no
Twitter (Entrevistada ELA14).

Nesta perspectiva, a privacidade outorgada pelo Twitter a seus usuários é o


motivador principal de seu uso entre os jovens. Algumas das modalidades de conteúdo
comuns encontrados dizem respeito à autobiografia, onde estes jovens postam diversas

123
vezes ao dia, contextualizando seu estado de espírito, a partir das situações vivenciadas
por eles. O desabafo social, a partir de discriminação e preconceitos vividos e a
sinceridade em relação ao risco social que enfrentam em situações cotidianas, também
são publicações dos jovens bastante encontradas no Twitter. Ainda, e talvez mais
importante a esta tese, são as reflexões sobre como estes jovens operam individualmente
sua cultura cívica, de maneira autônoma à família e escola.

ELE03 é negro, residente em Guarulhos e inserido em unidade familiar de três


pessoas; ele, o irmão e a mãe. A partir dos conteúdos publicados em seu perfil no Twitter,
ELE03 evidencia a distância social que passou a existir entre ELE03 e os antigos colegas
de ensino fundamental em Guarulhos, após seu ingresso na ETEC-MLK e sua atual
condição cultural cívica: “É foda pensar que os meus amigos de GR tem a msm idade que
o povo da Etec, diferença é que o pessoal de GR tá correndo atrás de emprego, cuidando
de filho ou até msm fugindo da polícia, enquanto a única preocupação do povo da Etec é
em passar na faculdade mais cara.” ELE03 – Guarulhos – Twitter – desigualdades sociais.

Por outro lado, ELA07, Branca, residente de Itaquera e inserida em unidade


familiar também de três pessoas com ela, a irmã e a mãe, escreve em seu Twitter: “6 da
manha e eu discutindo com a minha mae que matar bandido nao é a solução para acabar
com o crime”. ELA – 7 – Itaquera – Twitter – post violência policial.

A prática da cidadania e sua constituição, a partir dos espaços sociais urbano e


digital que circundam cada indivíduo, aparece nas entrevistas individuais de forma
inequívoca. Em especial, pela referência de postura e ação social que os jovens dizem
receber tanto de suas famílias, quanto da ETEC MLK; e, por vezes, vivenciando ambas
de modo contraditório. É pelo Twitter que estas reflexões e questionamentos são
publicados com mais frequência, sem reservas e sempre com uma linguagem autoral
bastante acentuada.

Na imagem a seguir, três publicações de ELA06 – Penha, em seu Twitter, onde


demonstra sua indignação com a comunidade evangélica e cristã, ao caracterizar no texto,
a forma pela qual ambas as religiões promovem uma aceitação do discurso politico,
entrelaçando conceitos religiosos:

124
Imagem 17 - ELA06 –Penha – Twitter – Post Religião – violência política: Crítica.

Fonte: O autor, (2020).

ELA09, residente no Tatuapé, posta um desabafo em relação à diferença de


crenças políticas entre ela e a família relacionada às eleições presidenciais de 2018.
Escreve: “ vocês não querem um país melhor, vocês querem estar certos”. O que retrata
tanto seu descontentamenteo com a posição política oposta a de sua família, quanto à
limitação que a família impõe à sua opinião.
.
Foi no ambiente do Twitter, onde encontramos os conteúdos mais contundentes em
relação à formação cívica destes jovens, com uma grande quantidade de questionamentos
em relação a posições familiares e da escola. A condição de privacidade utlizada pelos 15
jovens que possuem perfil ativo na rede, é sem dúvida, um diferencial a mais, no sentido
de compreender as formas de relação destes jovens com seu entorno social e urbano.

3.4 ENTRE OS ESPAÇOS SOCIAIS: O JOVEM E A CIDADANIA QUE O


CONSTITUI.

Para compreender a cidadania constituida e praticada por estes jovens em seu


cotidiano, cruzamos os dados das respostas obtidas nas entrevistas individuais
relacionadas às seguintes questões: “Como você define o ato de ser cidadão?”; “O que
é cidadania para você?”; “Certo e errado definem cidadania para você?”; “Como é ser

125
cidadão na internet?”; “Suas telas digitais ajudam você a ser cidadão?” – com os dados
registrados na observação não participante nos ambientes da ETEC MLK.

Sistematizamos, ainda, os resultados de uma dinâmica de percepção de dimensão


física da cidadania realizada ao final da entrevista – onde relacionamos diversas instâncias
sociais que representam dimensões físicas de espaço social urbano – família, escola,
turma, tribo, grupo, bando, clube, cidade, estado, país, mundo, planeta – e pedimos a cada
jovem para situar as dimensões que consideravam mais importantes.

O cruzamento destes dados nos ofereceu referências sobre o pertencimento


cidadão destes jovens, bem como nos auxiliou a compreender como constituem suas
experiências de cidadania a partir do dos espaços da família, escola, atividades culturais,
esportivas e cívicas. Da mesma forma, os dados nos auxiliaram a refletir sobre como os
jovens se movem em torno das ideias de “certo e errado”, e do conceito de liberdade em
sua dimensão individual e coletiva.

Quando ELE09 afirma, em entrevista, que: […] as pessoas como cidadãs, elas
podem fazer o que querem, contanto que aquilo não atinja a outra pessoa, então eu como
cidadão posso ter meu senso crítico sobre outras pessoas (Entrevistado ELE09) , temos
a expressão do conceito de responsabilidade coletiva a partir da ideia de que a Liberdade
de um termina onde começa a Liberdade do outro. ELE09 relaciona, ainda, os critérios
que utiliza para avaliar o que seria o certo e errado no campo do comportamento:

Isso é certo? Isso é normal, é normal de uma pessoa ter senso crítico
de várias coisas, muitas das matérias estão ai pra gente trabalhar isso,
mas o errado começa no momento em que eu prejudico outras pessoas
com o que eu acho certo, eu forçar a minha verdade, meu certo, em
cima de outras pessoas (Entrevistado ELE09).

Nessa perspectiva, foi possível observar também que a cidadania, para muitos
destes jovens, se constitui a partir de conceitos desenvolvidos no contexto familiar. Os
relatos dos jovens evidenciam que a cidadania implica na compreensão do coletivo e o
em comum como uma dimensão relevante da vida social. O coletivo e o respeito ao outro,
acima da noção do indivíduo, é uma constante na definição de cidadania para vários dos

126
entrevistados, conforme ilustram os depoimentos a seguir: […] é você entender que não
está sozinho, mesmo estando sozinho. É preciso exercer certas coisas na vida que eu não
quero fazer, pensando no bem comum. É voce entender que é uma peça numa mecânica
inteira que é a sociedade, o país, o mundo (Entrevistada ELA01); […]você ter cidadania,
é saber conviver e respeitar as outras pessoas e seus limites (Entrevistada ELA02); […]
a maior definição de cidadania é saber viver com os outros. Quando pratico cidadania
pratico para os outros, por isso é uma coisa coletiva (Entrevistada ELA06); [...] você
saber se comportar em sociedade, não pensar só em você, e fazer as coisas que te fazem
sentir bem também (Entrevistada ELA07); cidadania pra mim é o jeito que a pessoa se
comporta em relação a sociedade, eu quando saio na rua, quando estou em um meio, o
que vou fazer, vou falar as atitudes que tenho, que fazem minha cidadania (Entrevistada
ELA09).
A conceituação da cidadania para estes jovens sujeitos também está diretamente
associada à segurança social de que cada um dispõe, vinculada à família ou ainda à rua e
bairro onde reside. Foi possível perceber uma sensibilidade em todos os 26 sujeitos frente
às situações de exclusão e insegurança social cotidianas – preconceitos racial e de gênero,
violência, discriminação social e econômica.

A religião é fator crítico na concepção, da cidadania, para ELA02, ELA03,


ELA04, ELA09, ELA12, ELA14 e ELE08. Além de ter sido espontaneamente
mencionado durante as entrevistas individuais semi-estruturadas, a prática religiosa e os
conceitos principais do cristianismo norteiam fortemente a construção social e ética de
“certo” e “errado”. No entanto para ELA02, ELA14, e ELE08 – autodeclarados
homossexuais – há um conflito entre o religioso e a orientação sexual, na construção
ética e de valores, uma vez que as religiões cristãs e evangélicas, a qual se declaram
pertencentes, não aceitam o homossexualismo.

Assim, na constituição cidadã destes jovens, as noções coletivas de família, igreja,


escola, grupo, se tornam definidoras da cidadania. E, por isso mesmo, contrastantes com
a individualidade juvenil, fazendo com que as singularidades evidenciadas em suas
experiências com a homossexualidade, a igualdade de gênero, o racismo, a violência,
operem para uma reconfiguração conceitual da própria noção de cidadania

127
O que nos levou a considerar em qual ou quais dimensões de seu espaço social
urbano, este jovem opera sua cidadania? Até onde o pertencimento cidadão destes jovens,
compreende o local e o nacional, mas também se estende a contextos globais? Na
dinâmica aplicada em entrevista individual para observar este aspecto, aplicamos uma
escala crescente de dimensões sociais, as quais o jovem deveria relacionar em quais delas
sente que tem participação ativa, ou seja, que sua voz é escutada e sua opinião e voto
considerados. Foram 12 dimensões sociais empregadas na escala: Família, Escola,
Turma, Tribo, Grupo, Bando, Clube, Cidade, Estado, País, Mundo e Planeta.

O objetivo foi justamente verificar em quais destas dimensões espaciais se


dinamiza a cidadania ativa e cotidiana dos jovens. Assim, os termos “Turma”, “Tribo”,
“Grupo”, “Bando” e “Clube” foram incluídos na escala, a partir das observações não
participativas em ambiente escolar em que esses termos apareciam nas conversas dos
jovens. Na outra ponta da escala, situamos as dimensões geo-políticas: “Cidade”,
“Estado”, “País”, “Mundo” e “Planeta”, na perspectiva de levantar em que medida a
constituição da cidadania posiciona os jovens em uma ordem social e política mais
global.

Ao contrário do que tínhamos como hipótese, apenas três jovens se localizaram


cidadãos na dimensão da Cidade – e apenas dois jovens nas demais dimensões; Estado,
País, Mundo e Planeta, conforme podemos verificar no quadro a seguir:

128
Quadro 18 - Escala de pertencimento cidadão dos sujeitos, a partir de 12 âmbitos socio-políticos
crescentes

Fonte: O autor, (2020).

A “Família”, que posicionamos na escola como primeira dimensão espacial, foi


referenciada por 25 dos 26 jovens. Apenas ELA01 não considera a “Família” como
instância de sua cidadania. Na verdade, para ELA01, apenas a turma de amigos representa
uma instância segura de voz ativa e política:

Acho que tenho voz mais ativa quanto a amigos, na família não. Existe
uma hierarquia, não há facilidade em falar com a minha mãe sobre as
opiniões, daí que pra evitar o choque, prefiro expor o que falo aos
amigos do que à família. Na escola nem sempre a gente pode ter
opinião, muitas vezes sou coagida pela hierarquia de novo. Na cidade
não, sozinha não, mas em conjunto talvez possa pertencer mais. Eu não
me mobilizo em manifestações e participações públicas. Assim, lá onde
eu moro, as pessoas não protestam (Entrevistada ELA01).

A “Escola” representa espaço de cidadania para 20 jovens, enquanto a “Turma”


de amigos é instância ativa para 21 dos 26 estudantes. Em relação à “Tribo”, apenas 14

129
sujeitos consideram que têm uma instância ativa de cidadania, enquanto apenas 11
sujeitos se identificam com “Grupo”, bem como com “Bando64”. Apenas três sujeitos
reconhecem o “Clube” como instância ativa de cidadania – o que está relacionada à
limitada quantidade de jovens que praticam atividades culturais e cívicas complementares
à escola.

Por sua vez, a dimensão física da “Cidade” se mostra relevante para apenas três
jovens, enquanto que, para 23 deles, a instância da cidade, ao contrário, representa não
uma dimensão física de cidadania ativa, mas sim de distanciamento. Como podemos
observar pela resposta de ELE06: […] cidade não, a minha cidade é muito grande, minha
presença não tem tanta importância, não saio, eu moro num condomínio grande, minha
mãe prefere que eu fique dentro dele, então não saio, não tenho essa conexão com a
cidade (Entrevistado ELE06).

Para ELE05, as dimensões físicas de sua cidadania cotidiana se resumem a


“Escola” e “Turma”. Contudo, é interessante observar que ELE05 relaciona dimensões
legais e sociais da cidadania como limites mais influentes que a dimensão física:

[…] acho que de todos, o que eu mais pertenço acho que é “Escola” e
“Turma”, contando os amigos de escola e de fora dela. Em alguns
aspectos sou respeitado com cidadão, mas em outros não. Por exemplo
a causa da maconha – pela liberação do uso medicinal da maconha e
sua descriminalização – tem uma representatividade, mas é pouca,
perante todo mundo (Entrevistado ELE05).

Para as demais dimensões físicas de cidadania – “Estado”, “País”, “Mundo” e


“Planeta”, apenas duas jovens – ELA02 e ELA09 – se consideram ativas, influentes e
participantes. Me considero cidadã em todos os níveis. Embora não seja conhecida na
cidade em diante, me considero sim, com uma voz cidadã na cidade (Entrevistada
ELA02). Já para ELA09:

64
A intenção do pesquisador foi relacionar as dimensões físicas, a partir da linguagem praticada
pelos jovens, assimilada a partir da observação não participante. Notadamente, os termos associados aos
grupos cotidianos de afinidade e atividades se mostram as instâncias mais ativas e próximas a todos os
sujeitos

130
Acho que sou representada como cidadã, porque as pessoas ao redor,
o jeito que me porto, a gente procura sempre crescer neste aspecto um
ensinando o outro e cada um fazendo seu papel. Na família sempre, na
escola, quando era particular, não sentia que fazia diferença, aqui na
Etec sinto que faço mais a diferença; Turma com certeza me sinto
perteNcente acho que o círculo de amigos me faz feliz e me da
importância. Às vezes a gente é educado pra nunca ser o cara lá, mas
eu acho que a gente pode sim, ser. Me sinto importante no Mundo,
Estado País, Planeta. Me sinto importante, porque eu tenho essa
consciência, porque tipo, se eu quiser posso conseguir isso, não por
mérito, mas por querer fazer a diferença (Entrevistada ELA09).

Para ELA09, a cidadania não se divide em dimensões físicas de pertencimento,


mas antes, se articula no cotidiano em que os jovens vivem suas experiências :

todos estes níveis se relacionam, porque todos são relacionados a


pessoas, e quando você é uma pessoa é um cidadão automaticamente.
E estes níveis isolados, tem a ver com a sociedade das pessoas, tudo
que se relaciona a pessoas é cidadania (Entrevistada ELA09).

3.5 TEMÁTICAS DE MOBILIZAÇÃO CIDADÃ DE JOVENS DA “ZL” DE SÃO


PAULO.

Compreendemos as temáticas de mobilização cidadã destes jovens, a partir tanto


das situacões e contextos sociais individuais em que se encontram, quanto das situações
e contextos sociais coletivos – politico, econômico, social e cultural – em que se encontra
o país, estado e cidade em que vivem. O contexto eleitoral e pós-eleitoral brasileiro em
que realizamos esta pesquisa – entre outubro de 2018 e junho de 2019 - e que culminou
com a vitória da extrema direita, esteve marcado por conflitos políticos, sociais, culturais
e econômicos. A sistematização dos dados da pesquisa – à partir das temáticas de
cidadania assinaladas no questionário e aprofundadas pelas entrevistas – nos indicam que
a situação política de fato, opera a temática de cotidiano midiático para 19 dos 26 jovens.

Em especial, a agressividade com que as minorias de gênero, raça e diversidade


são tratadas desde a campanha eleitoral pelo governo e apoiadores, fez com que estes 19
jovens prestassem mais atenção às notícias relacionadas ao seu espaço social. Questões
relacionadas a educação, saúde, família, direitos individuais, passaram a ser debatidas no

131
espaço social digital, até como forma de resistência a partir da circulação midiática das
informações e notícias.

O discurso armamentista, neoliberal e reformista do governo influiu diretamente


na forma como os conteúdos midiatizados são relacionados por estes jovens. Ainda, é
preciso relembrar que, nesse período, as redes sociais digitais foram utilizadas uma
campanha eleitoral extremamente agressiva, segregacionista e de caráter preconceituoso.

O que, certa forma, estimulou a emergência do uso do espaço social digital das
redes, como forma de resistência cultural – veremos isso adiante, nas formas de
mobilização e ação cidadã. Dentre as temáticas mais caras a estes jovens, além da política
e eleições, estão as questões dos direitos das minorias raciais, de gênero e de classes
sociais mais baixas.

3.5.1 RELAÇÕES RACIAIS E RACISMO

Dos 26 jovens da pesquisa, oito se autodeclaram negros – dos quais inclusive,


alguns relatam casos pessoais ou próximos de racismo – como ELA01 e ELA03,
mencionados a seguir. Embora o racismo não seja praticado pelos colegas, pela escola
ou pela família, aos oito jovens negros somam-se mais dez jovens brancos, totalizando
18 de 26 jovens que têm o racismo entre os temas midiáticos do cotidiano.

A questão racial se apresenta de formas diversas entre os jovens, especialmente


os de raça negra, mas não só a estes. ELA01, não apenas professa essa consciência a
respeito de sua etnia negra, como se retrai pelo espaço social urbano, por conta de uma
defesa interna contra as situações de racismo que já vivenciou:

um dia saindo da escola, fui ao supermercado, comprar coisas para o


trabalho, com uma amiga branca. Dentro do supermercado, fui seguida
pelo segurança, que me pediu que mostrasse sua mochila, dizendo que
eu era suspeita de roubo. Ele 'tirou minha cidadania por eu ser negra’,
não quis abrir a mochila e sai do mercado. Não quis ‘me humilhar
mostrando a mochila (Entrevistada ELA01).

132
E se para ELA01, o racismo é uma questão de silêncio e convívio, para ELA03,
é assunto de família, escola e midiatização pelo Twitter. Em uma postagem, ELA03
compartilha o seguinte conteúdo: “ Minha e tia e negra e filha de branco com negro, casou
com uma cara branco,ai a ilha deles nasceu super loira. Ela esses dias quis mata uma
mulher que disse que ela era baba da menina, em um hospital “melhor chamar a mae da
criança dona” eu pensei que ela ia bater no ser”. Em seguida escreve: “isso aconteceu
com a minha mãe quando meu irmão nasceu, ela negra e ele loiro, no mercado comprando
fralda, elogiaram falando que ele era lindo e ainda perguntaram pra ela ‘você é a babá?’
E a mulher ainda quis paquerar meu pai que estava junto. Isso entristece minha mãe até
hj”.
ELA10 – também negra – compartilha em seu Twitter, outro episódio: “Gabriel é
preto, tava fazendo fotos e foi denunciado como suspeito. Procurou a delegacia e foi
aconselhado a ‘andar com um certificado de algum curso de fotógrafo, um crachá, nota
fiscal da câmera, e andar acompanhado’ Nenhum branco precisa disso mas o preto precisa
PROVAR”. A postagem que ELA10 compartilhou, obteve até então, 58 comentários,
6.400 compartilhamentos e 22.800 curtidas.

Ainda em relação ao racismo, destacamos alguns episódios que mobilizaram o


universo juvenil pesquisado e que foram citados pelos jovens em suas postagens: 1) O
DJ Renan da Penha, do Rio de Janeiro, com atuação social nas comunidades periféricas
e entrada na elite do consumo cultural a partir de sua arte, foi preso, mantido em cárcere,
sem justificativa legal. 2) Maju Coutinho, jornalista da Rede Globo de Televisão, foi a
primeira jornalista negra a apresentar o Jornal Nacional, programa de grande audiência e
influência nacional, sofreu ataques racistas. Houve, ainda, outros episódios violentos que
marcaram o cotidiano midiático destes sujeitos: como o de uma criança morta com bala
perdida; um senhor, músico, alvejado com 80 tiros de policiais; um negro mantido em
cárcere, e chicoteado, como na época da escravidão.

Neste sentido, ELA07 – Branca – compartilha em seu Twitter, a libertação de


Renan da Penha, assim como a crítica feroz recebida pela jornalista Maju Coutinho, da
Rede Globo de Televisão, após sua estreia como primeira apresentadora negra do Jornal
Nacional, o programa de maior audiência nacional da rede Globo de televisão.

133
Na imagem a seguir, podemos observar dois conteúdos compartilhados por
ELA07: à esquerda, em seu Twitter, compartilha o post do próprio DJ Renan da Penha
sobre sua libertação, que recebeu ao todo, 1.600 comentários, 45 mil compartilhamentos,
e 193 mil curtidas. À direita ELA07 compartilha em seu Facebook, matéria jornalística
do portal Quebrando o Tabu, dando como fato jornalístico a presença de Maju Coutinho,
como primeira apresentadora negra do Jornal Nacional em 50 anos, que recebeu 19
curtidas.

Imagem 18 - ELA07 – Itaquera – Twitter – compartilhamento liberdade de Rennan da Penha. ELA07–


Facebook – compartilhamento conteúdo Quebrando o tabu, relativo a estréia de jornalista negra no Jornal
Nacional

Fonte: O autor (2020).

ELA07 de fato, se mostra ativa e mobilizada, tanto em espaço social urbano, quanto em
espaço social digital, frente a temáticas relacionadas às questões raciais. A seguir, o
conteúdo publicado pela jovem relacionado ao caso do senhor que foi alvejado no Rio de
Janeiro com 80 tiros disparados por uma patrulha do exército:

134
Imagem 19 - ELA07 – Itaquera – Facebook – compartilhamentos do disparo de 80 tiros pelo exército, no
Rio de janeiro, em direção a uma familia negra, em batida policial.

Fonte: O autor.

Não podemos deixar de mencionar que ELA07 também midiatiza um episódio bastante
relevador do racismo cotidiano, uma abordagem policial que vivenciou junto com um
colega negro. ELA07 – branca – relata na postagem sua completa surpresa ao comprender
que aquele tratamento que vivenciou como exceção em seu cotidiano, é na verdade,
rotina para o colega negro.

Imagem 020: ELA07 – Itaquera – Twitter –relato de opressão racial.

Fonte: O autor, (2020).

ELA14 – negra e homossexual – compartilha em seu Facebook.um balanço da


violência racista relacionadas a esses acontecimentos. Na primeira postagem, não há

135
imagens, e o texto diz: “Ano passado Marielle foi morta com 5 tiros na cabeça Há 6 meses
um jovem negro asfixiado até a morte no Extra Há 04 meses uma familia negra levou 80
tiros Mês passado um garoto com chuteira na mão Ontem um chicoteado nu Se vc não vê
racismo no Brasil, ou você é cego ou é mau caráter”. Na segunda postagem também no
Facebook, ELA14 reproduz a notícia do negro que foi chicoteado nu. Na imagem, vemos
as costas chicoteadas do negro que sofreu a violência e o texto que diz: “Quando um
jovem negro, nu, amarrado, amordaçado, é chicoteado dentro de um supermercado por
roubar chocolate, sem nenhuma indignação da sociedade... O RACISMO NO BRASIL
FICA ESCANCARADO”.

No destaque de conteúdo publicado por ELE09, ao compartilhar notícia


jornalística do portal Globo.com, vemos a foto do então empossado Presidente da
Fundação Palmares, e o título: “Novo Presidente da Fundação Palmares nega existência
de racismo e pede fim do movimento negro”.

Ao longo da pesquisa, em decorrência dos acontecimentos nacionais em política,


economia, saúde, educação, pudemos presenciar nas redes sociais digitais destes sujeitos,
uma incidência crescente de conteúdos críticos e engajados frente às situações de ameaça
à cidadania, seja por iniciativa do governo, seja no cotidiano. As marcações midiáticas
se multiplicam e retratam situações onde políticas de diversidade, aceitação e integração
social deixaram de existir – ou nunca foram implantadas – sendo substituidas por políticas
de extermínio, segregação e opressão.

Ao observarmos as redes digitais dos 26 jovens, nos deparamos com postagens


que remetem a situações nas quais verificamos a violação da cidadania em seus diferentes
aspectos. Como veremos a seguir, nas percepções dos jovens dessa pesquisa, a questão
racial aparece imbricada com a desigualdade social, assédio e violência sexual e
diversidade, como dimensões inter-relacionadas de cidadania. De modo que seguimos
para o detalhamento das temáticas mobilizadora de cidadania entre estes jovens, iniciando
pelas questões de Gênero, diversidade, e cidadania.

3.5.2 GÊNERO, DIVERSIDADE E CIDADANIA NO COTIDIANO JOVEM DA


“ZL” DE SÃO PAULO.

136
A midiatização, pelos jovens, de conteúdos sobre relações de gênero, como a
questão LGBTQI +, o assédio sexual, a violência contra a mulher, o feminismo pode ser
observada nas postagens em suas redes sociais. Dos 26 jovens, 13 postaram sobre
feminismo, com 49 registros, enquanto 14 sujeitos postaram sobre assédio sexual, com
37 registros. Ainda em relação à orientação sexual, embora apenas 11 dos 26 jovens se
declarem homossexuais, as temáticas são sensíveis para 16 jovens – quando relacionadas
à violência de gênero – e a 17 deles, quando relacionadas à homofobia.

Dos 26 jovens, 11 publicaram conteúdos relacionados a direitos LGBTQI+,


diversidade de gêneros, violência de gênero e homofobia. Destes 11 que publicaram
conteúdos relacionados aos direitos LGBTQI+ e diversidade, seis se auto-declararam
homossexuais. Os outros cinco sujeitos – ELA07, ELA08, ELA09, ELA11 e ELA15 –
que se declararam heterossexuais, também se mobilizaram em torno da questões
envolvendo os direitos LGBTQI+ em suas redes sociais.

Com uma quantidade de 48 postagens, a temática fica apenas um post atrás da


temática sobre feminismo, e duas postagens à frente do racismo e da desigualdade social.
Na abordagem das temáticas LGBTQI+ nas redes sociais dos jovens, observamos alguns
temas que ganham centralidade : 1) a questão política a respeito das identidades e direitos
LGBTQI+, desde pronunciamentos repressivos por parte de integrantes do atual governo
eleito em 2018, até situações de homofobia e cerceamento da diversidade em escolas; 2)
publicações relacionadas a atos sociais de inclusão por parte de celebridades; 3)
Homofobia e violência de gênero; 4) preconceito cotidiano, onde são publicados
episódios cotidianos de preconceito e segregação; 5) avanços, conquistas e vitórias
públicas em relação aos direitos LGBTQI+. 6) situações cotidianas, onde há respeito à
diversidade, que são publicadas indicando que são exceção, assim como são motivo de
comemoração entre os jovens.

Podemos exemplificar com a publicação de ELA06, no Twitter – ainda antes das


eleições – onde compartilha um conteúdo da americana Caitlyn Jenner, transexual, em
post de apoio a Donald Trump. Ao compartilhar este conteúdo, ELA06 escreve: “Caitlyn
Jenner é trans e votou num cara q sempre deixou claro ser contra minorias, agora ela tá
incrédula e revoltada por Trump ter dito q vai remover os direitos trans. bom, é isso q

137
acontece qd vc apoia quem fere sua existência. fica o alerta pros lgbts e outras minorias
pró-bozo”.

Imagem 21 - ELA06– Penha – Twitter – compartilhamento de postagem a respeito da política de exclusão


norte-americana com governo de extrema direita, e comentário alertando para o risco brasileiro da extrema
direita assumir o governo em relação aos direitos de minorias.

Fonte: O autor, (2020).

ELA15 compartilha em seu Facebook, manchete jornalística do portal


purebreak.com.br, na qual o título diz: “O Bolsonaro assinou uma MP que retira a
população LGBT+ das diretrizes de Direitos Humanos! E agora?” Acompanha a imagem
de uma bandeira brasileira, na qual o verde é substituído pelas cores do arco-íris, símbolo
internacional da comunidade LGBTQI+. ELA15 ao compartilhar este conteúdo em seu
perfil de Facebook, escreve: “Era isso que vcs queriam ? Parabéns aos idiotas que acham
que ele vai fazer bem pro país. É muito legal mesmo, você ver amigos e familiares
desesperados justo nos primeiros dias do ano. Desumanização de algo assim, é a coisa
mais PODRE que alguém poderia fazer. Ps: não vem tentar me convencer de que ele
presta nos comentários pq só vai queimar a você mesmo. Ninguém tem o direito de tentar
acobertar isso”. ELA15 não se declara homossexual, mas apoia a causa das minorias
reprimidas por conta da convivência com amigos que são LGBTQI+ e enfrentam
situações cotidianas de preconceito e opressão constantemente.

O tom das publicações é, de forma geral de indignação, temor, alerta e


preocupação. Logo no início do ano de 2019, diversas declarações do Presidente Jair
Bolsonaro e seus Ministros recém empossados foram realizadas com o objetivo de
criminalizar e reduzir os direitos LGBTQI+. Na imagem a seguir, podemos ver duas

138
publicações dos jovens, no Facebook, a respeito destas declarações ministeriais,
realizadas por Damares Alves, Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos
do governo Bolsonaro, – uma de ELA08, outra de ELA07.

Imagem 22 - ELA08– Tatuapé – Facebook – mensagem de marca Trident, em oposição à declaração da


Ministra sobre identidade de gênero azul e rosa e ELA07 – Itaquera –Facebook – compartilhando matéria
jornalística acerca de outra declaração homofóbica da Ministra da Família

Fonte: O autor, (2020).

Há, ainda, o caso de uma jovem, que se manifesta no episódio de censura


governamental de uma propaganda do Banco do Brasil65, onde os personagens do filme
publicitário representam minorias: LGBTQI+, Mulheres, Negros, sendo convidadas a se
tornarem clientes do banco. Aproveitando o episódio, a empresa Burger King, publica no
dia seguinte à retirada do anúncio das mídias, uma convocação de atores para uma nova
campanha, com a condição de que os atores deveriam ter sido “banido de campanhas
recentes de banco, por homofobia”. Como podemos verificar na imagem a seguir:

65
O presidente brasileiro Jair Bolsonaro não apenas ordenou a retirada da campanha, como
criticou publicamente sua realização.

139
Imagem 23 - ELA15– Vila Carrão – Facebook – compartilhamento conteúdo marca Burger King a favor
das minorias LGBTQI+, e comentário de aprovação de ELA15.

Fonte: O autor, (2020).

Quando o Supremo Tribunal Federal julgou a criminalização da Homofobia. ELA09


compartilhou em seu Twitter, conteúdo sobre o julgamento afirmando que: “ to assistindo
ao vivo o STF julgando a lei que Criminaliza a homofobia. Um senhor acabou de subir
ao palanque e disse que homofobia e racismo não existem e essas pautas só ocupam o
tempo do tribunal. um senhor, branco, hetero, rico. ATÉ QUANDO? #CriminalizaSTF”.
A postagem recebeu 36 comentários, 869 compartilhamentos, 4.200 curtidas, sinalizando
a relevância temática.

Na imagem a seguir, vemos o conteúdo compartilhado por ELE04 em seu Twitter,


sobre notícia publicada no portal G1, que aborda a decisão da justiça do Rio Grande do
Norte de proibir o governo do Estado de impedir doação de sangue de pessoas LGBTQI+.
O post original obteve com 316 comentários, 3.900 compartilhamentos, e 16.300 curtidas.

140
Imagem 24- ELE04– Penha – Twitter – compartilhamento publicação portal G1 sobre decisão Tribunal
Justiça RN, obrigando o Estado a aceitar doações de sangue de pessoas de todas as orientações sexuais.

Fonte: O autor, (2020).

A intolerância e segregação relacionadas à condição LGBTQI+ no ambiente


urbano da Zona Leste é foco da postagem de ELE04, em seu Twitter, onde menciona uma
situação de homofobia que vivenciou. Sem imagens, ELE04 relata: “daora é q a gnt só
tava tranquilo na fila pra comprar passagens, mas SÓ PQ EU TAVA DE MÃOS DADAS
COM O VINI, um cara vem e pergunta se a gnt é gay e o amigo dele solta pra ele um ‘ah
se eu tivesse uma arma’ encarando a gente???????? HOMOFOBIA NÃO EXISTE O
CARALHO”

Nesta mesma perspectiva, surgem conteúdos autorais e compartilhados de jovens


– heterossexuais tanto quanto homossexuais – relatando situações em escala de violência
crescente. ELE04, em outro post, relata uma situação de repressão de gênero no próprio
espaço da ETEC MLK, ambiente onde a diversidade sempre havia sido respeitada e
estimulada dentro da cultura cívica da instituição, conforme muitos comentaram durante
a pesquisa. Na primeira postagem ELE04 responde a ELA10: “Sim Mih e de vdd é
revoltante demais sabe. Olhares, ameaças, levar um tapão na cabeça hj, lá no auditório da
etec de uma mulher que nunca vi na vida pq “aqui n é lugar pra essas coisas”. Mas né,
homofobia n existe amores”. Na segunda publicação, ELA10 comenta: “menino eu
chamava a polícia e fazia um escândalo”. Ao que ELE04 responde, na terceira publicação:
“mo problema ia ser a passada de pano enorme q iam dar k”.

141
ELE09 compartiha diversos conteúdos acerca da homofobia e repressão de gênero
em suas redes. No Facebook, ELE09 compartilha manchete do portal de internet Huff
Post Brasil, com o título: “O que deveria escandalizar a Igreja não é duas mulheres se
beijando, mas sendo agredidas”. O post refere-se a perspectiva da violência de gênero,
conferida em episódio no qual duas jovens lésbicas foram agredidas de forma ostensiva,
por estarem se beijando. ELE09 mantém uma série de publicações sobre relações de
gênero, dentre as quais algumas que levantam questionamentos sobre repressão e
opressão das instituições a direitos conquistados.

` Na imagem a seguir, ELE09 compartilha conteúdo da página “Visibilidade trans


e o mercado de trabalho pra transgêneros”:

Imagem 25 - ELE09– Guarulhos – Facebook – compartilhamento manchete portal HuffPostBrasil.

Fonte: O autor, (2020).

ELE09 segue a causa LGBTQI+, compartilhando post da ONG TODAS FRIDAS,


acerca da visibilidade do transexual relacionada ao universo profissional:

142
Imagem 26 - ELE09 – Guarulhos – Facebook – compartilhamento matéria ONG TODAS FRIDAS,
acerca do ciclo social repressivo a condição profissional de pessoas Trans.

Fonte: O autor, (2020).

Outro episódio que mobiliza os jovens para a questão de gênero foi aquele
ocorrido na cidade do Rio de Janeiro quando o prefeito Crivella, proibiu, durante a
Bienal do Livro, que fossem comercializados livros com conteúdo LGBTQI+, se
utilizando do aparato policial para invadir o espaço do evento e recolher todas as
publicações.

O episódio foi acompanhado por ELE04 que fez uma série de publicações em seu
Twitter, relatando a situação de repressão policial, e, em seguida, o movimento contrário,
realizado pelo Youtuber Felipe Neto, ao adquirir 14 mil livros da temática LGBTQI+e
distribui-los gratuitamente em frente ao prédio da Bienal do livro.

São duas postagens com maior volume de conteúdo do que normalmente ELE04
publica ELE04 em seu Twitter. Na primeira delas, ELE04 compartilha uma publicação
que recebeu pela sua rede, de alguém que, ao compartilhar a postagem de Felipe Neto,
comenta sobre o conteúdo: “EXISTE JUSTIÇA NESTE CARLHO DESTE PAIS, OU
VAMOS TER Q PARTIR PRA UMA GUERRA CIVIL?!? Alô @STF_oficial PQP
HEIM”. Na postagem compartilhada Felipe Neto – youtuber de grande influência jovem
– escreve: “Os agentes do Crivella estão cheios de sacos para remover todos os livros

143
com conteúdo LGBT! ATENÇÃO TODOS, FILMEM CADA AÇÃO DOS AGENTES!
FILMEM TUDO!!”. Acompanhando o texto, duas imagens da ação policial.

Ao compartilhar este conteúdo, ELE04 faz outra publicação autoral onde escreve:
“E essa mobilização toda desse prefeito só mostra a porra do retrocesso, IRMÃO JÁ
ESQUECERAM DO SE FERE MINHA EXISTÊNCIA SEREMOS RESISTÊNCIA? Ele
tá basicamente eliminando cultura q reconhece nossa existência e isso é só o começo,
ficar calado ou ceder pro retrocesso amores”. O compartilhamento e legenda de ELE04
neste conteúdo, gerou um comentário, dois compartilhamentos e duas curtidas.

Embora tenhamos a orientação sexual declarada espontaneamente pelos jovens


pesquisados, notamos que no caso de sujeitos que se declaram homossexuais, alguns não
sentem que sua sexualidade seja respeitada pela família, ao passo que dois dos 26 jovens
– Ela 10 e Ela 12 – declaram sentir esse respeito, inclusive podendo assumir seus
relacionamentos frente à família em atividades sociais, como viagens, festa, e finais de
semana.

Além da temática LGBTQI+, também a questão da violência de gênero mobiliza


os jovens para o compartilhamento de experiências nas redes sociais. Podemos observar
o dilema vivenciado por ELA03, ao relatar a situação doméstica de polêmica em torno da
violência feminina e questões de gênero, às vésperas do dia internacional da mulher de
2019. Não há imagens, apenas o relato de ELA03, que escreve no primeiro post: “calei
minha família toda numa sentença e só agora eu to vendo o quão pesado isso é.” E, no
post seguinte, relata o episódio: “meu pai: ‘ai eu acho que essas coisas de violência contra
a mulher acontecem pq as mulheres batem de frente com os homens e isso é uma coisa
da sociedade que não sabe lidar com isso e tem q maneirar’ Silêncio mortal. eu “vou
continuar batendo de frente e espero não morrer por aí.”.

Na imagem a seguir, dois conteúdos compartilhados por ELA04 no Twitter


relacionam a visão machista que constrangem as liberdades individuais da mulher.

144
Imagem 27 - ELA04- Vila Matilde – Twitter – Conteúdos compartilhados, acerca da moral em relação a
conduta de liberdade sexual da mulher.

Fonte: O autor (2020).

ELA11, publica em seu Twitter, dois conteúdos a respeito da militância feminista,


e sua importância efetiva, na garantia dos direitos cidadãos da mulher. Na primeira
postagem, o conteúdo não recebe imagens, apenas o texto: “ por mais que muitos pensem
que ‘militar’ sobre algo é exagero, que não precisava, que é chato, mimi, É
NECESSÁRIO. A mudança se faz de algum lugar, e em partes, foi deixando passar
pequenas coisas que se criou o abismo de diferenças entre homens e mulheres”. Esta
publicaçao teve um compartilhamento, e 04 curtidas.

Na outra postagem, vemos três conteúdos publicados em sequência ao anterior,


como que complementando a argumentação em depoimento pessoal. Não há imagens, o
texto, em sequência dos três conteúdos está da seguinte forma: 1º conteúdo: “e é nesse
abismo que tentam nos inferiorizar, esteriotipar e até tratar como histérica se vc discute
sobre a desigualdade. Até hoje tem momentos que eu fico quieta quando eu poderia tentar
fazer algo pra mostrar que o assunto e pauta segrega, machuca e diminui as mulheres”.
No 2º conteúdo o texto segue, como se fosse continuação do anterior, e diz: “mas eu
cresci sendo ensinada que tem coisas que não se discute, se é seu pai, aceita, meu tio, não
fala nada, meu avô então, outra cabeça… Mas é a reflexão do assunto que traz o
progresso, eu não deveria em um almoço de família ouvir coisas misóginas e machistas”.
E o 3º conteúdo segue a sequência da reflexão de ELA11, também sem imagens
associadas: “mas eu ouço, e é exatamente por isso que a militância deve existir, eles
precisam entender que não ta tudo bem, não é normal, e não é só uma brincadeira.
A mudança já começou há muito tempo, a gente não pode desistir. Ser mulher é ser
resistência.

145
As questões de violência contra a mulher, assédio, legalização do aborto e tratamento
misógino e machista se articulam nos conteúdos postados. Na imagem a seguir,
exemplificamos com o post que ELA07 compartilha, acerca da atitude masculina e
feminina, ante uma gravidez indesejada.

Imagem 28 - ELA07- Itaquera –Facebook, conteúdo compartilhado e comentado, sobre posições sociais
feminina e masculina em relação ao aborto e ao direito de abortar

Fonte: O autor, (2020).

ELA10, em seu Twitter, compartilha conteúdo relacionando o tratamento dado a


homens e mulheres, a partir da perspectiva do assédio sexual em um post que alcança
293 comentários,40 mil compartilhamentos e 84 mil curtidas:

Imagem 29 - ELA10- Penha – Twitter, conteúdo compartilhado sobre posições sociais feminina e
masculina em relação ao assédio sexual.

146
Fonte: O autor.

Na perspectiva da desigualdade salarial de gênero, ELA14 e ELA15


compartilharam o mesmo conteúdo no Facebook. O conteúdo relaciona a jogadora de
futebol Marta e o jogador de futebol Neymar Jr. Ao lado das duas imagens, o comparativo
de salário recebido por ambos, a quantidade de gols realizados por cada um na seleção
nacional de futebol e o valor unitário de cada gol, em dólares, caso recebessem por gol
marcado.

Imagem 30 - ELA15- Vila Carrão e ELA14 –Itaquera – Facebook, mesmo conteúdo compartilhado
sobre a desigualdade de gêneros pelo profissional.

Fonte: O autor, (2020).

Embora a condição social feminina em uma sociedade eminentemente machista


prevaleça, nem todas as jovens da pesquisa se referem ao machismo. Das 17 jovens na
pesquisa, apenas nove – cerca de 55% – publicaram conteúdos desta temática. Ao mesmo
tempo, dos nove jovens pesquisados, quatro deles – cerca de 45% – publicaram
conteúdos relacionados ao feminismo de forma favorável ao questionamento feminino.

147
ELA11 é a jovem mais ativa no compartilhamento de conteúdo sobre as questões
de gênero relacionada aos direitos da mulheres, com um total de 20 publicações entre as
que escreve e as que compartilha. Na imagem a seguir, ELA11 compartilha em seu
Twitter, publicação da revista Veja, com citação do então Ministro da Justiça brasileiro a
favor do porte de armas ser ampliado ao cidadão comum:

Imagem 31 - ELA11- Aricanduva – Twitter – compartilhamento de post jornalístico com texto


ironizando a matéria e encaminhando a temática do aborto

Fonte: O autor, (2020).

O conteúdo que ELA17 compartilha em seu Twitter dá uma referência da importância da


ação coletiva das mulheres como forma de combate ao machismo e a submissão feminina.
Podemos conferir o registro pela imagem a seguir:

148
Imagem 2 - ELA17 – Vila Carrão – Twitter – compartilhamento de conteúdo que documenta assédio no
metro de Brasília, a denúncia realizada por aplicativo, e a remoção do problema masculino, dentro do
vagão feminino

Fonte: O autor.

ELA15, publica ainda, dois conteúdos em seu Facebook; um deles acerca do


panorama eleitoral e o risco feminino com a extrema direita, e, também outro conteúdo,
acerca da questão do aborto em relação ao abandono parental pelos homens. Na imagem
a seguir, podemos conferir ambas as postagens:

149
Imagem 3 - ELA15 – Vila Carrão – Facebook – compartilhamento de duas publicações, uma sobre
machismo e misoginia do candidato a presidência de extrema direita, e outra sobre o abandono paternal.

Fonte: O autor, (2020).

A violência contra a mulher, na forma de relacionamentos abusivos ede assédio,


se materializa nos conteúdos publicados por ELA11 sobre episódios de violência e abuso
em relacionamento de famosos. Eu seu perfil no Twitter, ELA11 visibiliza o episódio
ocorrido com a cantora Rihana e seu namorado Chris Brown. Sem imagem associada ao
conteúdo, ELA11 compartilha: “ o chris brown não foi babaca, ele ESPANCOU a
rihana”.

ELA06, publica em seu Twitter, reflexão sobre o descaso que ocorre diante do
assédio contra as mulheres, inclusive, nas dependênciasda ETEC MLK. Em seu post, não
há imagens associadas, apenas o texto escrito por ela: “ É frustrante demais ver uma
escola fechar os olhos pra casos de assédio dentro dela. Eu realmente não consigo
entender o porquê de quererem esconder tanto a ponto de esquecerem a saúde física e
mental das alunas que são as mais vítimas em toda história. Hoje percebi o quanto +”.

150
São postagens autorais e biográficas, nas quais percebemos o assédio, a violência
contra a mulher, o machismo e as condições estruturais a partir mesmo do espaço social
urbano – desde o familiar e escolar – em torno da formação do indivíduo pela igualdade
de gêneros, lugar e papel da mulher na sociedade.

Pelas práticas de comunicação e cidadania observadas, existe uma realidade


cultural de desigualdade de gênero iniciada na família, muitas vezes, com a conivência
de uma cultura machista, e perpetuada em termos geracionais. A dicotomia entre as
concepções familiares e a percepção dos jovens é, de fato, marcante pelos conteúdos a
que tivemos acesso.

Pela perspectiva masculina dos jovens da ETEC MLK, a partir dos conteúdos
relacionados à temática feminista, podemos destacar a publicação de ELE03, no Twitter,
sem imagens, apenas com seu texto: “Como vou falar pros caras respeitar as mina se eles
vivem num campeonato de punheta?” pela qual, obteve 03 curtidas.

ELE09, de Guarulhos, compartilha em seu Facebook, um conteúdo que provoca


a reflexão sobre o sentimento masculino em relação as mulheres como objeto sexual. Um
post de texto, autoral de Letícia Goulart, onde está escrito: “Pra os meninos: é ok se sentir
sexualmente atraído por uma mulher mas você aprecia mulheres fora de contextos
sexualizados? Existe alguma mulher que você admira intelectualmente, artisticamente?
Você tem mulheres como amigas estritamente platônicas, com as quais não tem nenhuma
intenção sexual? Você gosta da companhia de mulheres apenas porque elas são
engraçadas, interessantes, divertidas? Você está ciente de que pode desfrutar da
presença/personalidade de uma mulher sem ter sexo com ela? Você acha que as relações
com mulheres devem envolver sexo? Basicamente, você enxerga mulheres como
pessoas? Por Letícia Goulart”.

3.5.3 CONFLITOS DE CLASSE E CIDADANIA NO COTIDIANO JOVEM DA “ZL”


DE SÃO PAULO.

151
A desigualdade de classes sociais é também um tema relevante para, pelo menos
onze dos 26 jovens do universo da pesquisa – cerca de 42% – e é um tema que parece
refletir diretamente as temáticas do racismo, da diferença e a violência de gênero.
evidenciando a fragilidade do entorno social e político onde estão inseridos os jovens que
demarca suas percepções sobre a cidadania nacional, especialmento após a posse do novo
presidente.

A desigualdade social, para os jovens da pesquisa, emerge a partir da comparação


que fazem da situação de sua região – a Zona Leste – em relação a outras regiões da
cidade e também de sua condição particular em relação a de outros jovens. Neste sentido,
observamos que os temas que mobilizam suas interações nas redes sociais giram em torno
da desigualdade no acesso a vagas em universidades públicas, no acesso a bens de
consumo e nas diferenciações de padrão de vida.

A questão da desigualdade de classe aparece tanto como uma consciência pessoal


dos jovens em relação à distância social que experimentam quando se comparam com
parcelas mais elitizadas da sociedade, quanto a consciência de que estão em situação de
privilégio social ante a realidade nacional. Bom exemplo é a sequência de postagens que
ELA07 realizou em seu Facebook sobre o episódio envolvendo um dos shopping centers
mais elitizados da cidade na zona Sul da capital, que proibiu crianças de uma escola
pública de visitarem um evento sobre a Disney e Mickey Mouse, na alegação de que “
este shopping é de elite, não é pra vocês”.

Na primeira postagem, à esquerda, ELA07 compartilha matéria jornalística da


revista VejaSP, que noticia a situação de restrição social. E, na postagem da direita – uma
semana depois –, compartilha do mesmo veículo- VejaSP - , post sobre a iniciativa de
uma dupla de publicitários que criou uma vaquinha virtual para levar estas crianças ao
shopping elitizado e à exposição da Disney.

152
Imagem 33 - ELA07 – Itaquera – Facebook – compartilhamento de posts revista VejaSP, sobre
desigualdade social e cerceamento de liberdades individuais

Fonte: O autor, (2020).

Na perspectiva das desigualdades sociais relacionadas diretamente à condição de


restrição destes jovens, aparecem postagens relacionadas ao acesso à escolarização
superior pública. Especialmente, os conteúdos que remetem a eventos como as provas do
ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio – que credenciam o aluno, a partir de sua
pontuação, a ingressar em universidades públicas. Alguns dos jovens da ETEC MLK
produzem postagens críticas e irônicas, sobre a inclusão no ensino superior público.

ELA09, por exemplo, publica em seu twitter: “Só orgulho dos meus amigos
turando 800/900 nas redações! ISSO MESMO MIGOS, TIREM AS VAGAS DOS
BURGUESES”. ELA11, em duas publicações no Twitter, relaciona o apoio aos colegas
que prestarão o ENEM, com o seguinte texto: “Boa sorte pra todos que vão fazer a fuvest
hj Lembrem-se que essa vaga é de vcs por direito e nenhum burguês safado vai pegar ela
de vcs pq vcs são fodas. HOJE É DIA DE TIRAR BURGUÊS DA UNIVERSIDADE
PUBLICA. Foco total, amo vcs”. E na segunda publicação, ELA11 compartilha, em
janeiro de 2019, postagem antiga: “Metas para 2018: 1- Não se apaixonar; 2- Não deixar
um burguês pegar minha vaga na faculdade”.

ELE01 compartilha no Facebook, matéria jornalística do jornal El País,


comparando as realidades socioeconômicas de duas jovens candidatas ao vestibular: uma
da Zona Sul, outra da Zona Leste de São Paulo, que esperam ingressar em uma
universidade pública no vestibular. Sua postagem obteve nove curtidas e 27
compartilhamentos, mas não obteve comentários. Em outra postagem, ELE01 publica um

153
“meme” a respeito do universo elitizado da universidade privada – no caso, a
Universidade Presbiteriana Mackenzie – tradicional instituição de ensino superior na zona
central da cidade. Em ambos os casos, podemos observar tanto a seriedade em relação à
temática e sua dimensão de cidadania; quanto o caráter lúdico, de ironia, de remediação,
tão própria das redes sociais digitais. Em ambas, na imagem a seguir, podemos perceber
o sentido de distância e exclusão socio-econômica operado por ELE01:

Imagem 4 - ELE01 – Sapopemba– Facebook – compartilhamentos: 1 jornal Elpaís, matéria sobre as


distâncias urbanas em São Paulo, 2 Meme da página Ursal Mackenzie, com três fotos de meninos
claramente ricos, brancos e felizes, e o texto: PRA MIM TODO MACKENZISTA É...

Fonte: O autor, (2020).

A identidade coletiva conferida pela ETEC MLK, ou ainda, a moratória social em


que estão imersos enquanto estudantes, colabora para que os jovens empreendam esforços
conjuntos de estudo e cooperação entre si, para obterem bom desempenho no vestibular
do ensino superior. De forma coletiva, desejam neutralizar esta desigualdade social, ao
menos no que se refere às vagas em universidades públicas, que disputam com outros
jovens oriundos de escolas particulares de elite do ensino médio paulistano. De modo
que, para muitos dos jovens, como ELA09, ELA06 e ELE02, estudar na ETEC MLK
significa de fato uma distinção social, assim como também uma expectativa – tanto dos
jovens como da família – sobre possibilidades de êxito futuro. Como podemos observar
no post de ELA09, em seu Twitter, no qual escreve: “Só orgulho dos meus amigos tirando
800/900 nas redações! ISSO MESMO MIGOS, TIREM AS VAGAS DOS

154
BURGUESES”. Na imagem a seguir, ELA06 compartilha no Twitter, um post do Jornal
O Estadão sobre a desigualdade de classes sociais envolvidas nesta disputa, e escreve:
“estatísticas que chocam zero pessoas mas meritocracia existe sim gente fica na paz”:

Imagem 35 - Ela 06- Penha – Repost e comentário sobre desigualdade social no vestibular de ensino
superior.

Fonte: O autor (2020).

As publicações nas redes sociais, carregadas de ironia e cinismo, muitas vezes,


explicitam a distância socioeconômica entre estes sujeitos e o “lado mais nobre da
cidade”, traduzido pela zona Sul da capital, como referência de elite paulistana. ELA03
compartilha em seu Facebook, postagem da página Depressão universitária – página
irônica que denuncia desigualdades e outros aspectos restritivos da vida em classes mais
restritas economicamente. Na postagem compartilhada pela jovem, vemos uma imagem
de um menino com três anos de idade, feliz, brincando em um local que sugere alguém
recém-chegado de viagem, dando presentes ao menino. Que feliz, brinca com uma vara
de pescar de brinquedo. O texto da postagem diz: “E o José que além de fofo, lindo,
educado, ainda é BILÍNGUE?????? Gente, ele só tem 3 anos???????”. ELA03 ao
compartilhar o conteúdo apenas escreve: “chama ser rico”.

155
Em outra postagem, ELA11 compartilha em seu Twitter o conteúdo do perfil
versátil radical, ironizando a figura do jovem branco, classe média e alto poder de
consumo, com a seguinte legenda: “que classe média é essa que pega HB20 zero com 18
anos kk”:
Imagem 36 - ELA11 – Aricanduva –Twitter – compartilhamento e comentário: diferenças de
classe social

Fonte: O autor (2020).

Na dimensão das diferenças e conflitos de classe social, ELE03 publica no Twitter


uma reflexão sobre a distância social entre ele e jovens de classe média alta que
frequentam sua região de moradia quando desejam adquirir drogas. Na primeira
postagem, ELE03, publica apenas texto e diz: “ Os casa grande ainda pegam suas drogas
em senzalas”. Referindo-se a sua localidade como sendo a “senzala” da frase,
dimensionando a condição cotidiana de consumo de drogas na região, tanto quanto o
diferença social entre quem consome e quem comercializa as drogas. Na imagem a seguir
– também no Twitter – ELE03 evidencia a diferença de tratamento midiático dado a
lugares mais nobres da cidade em relação à Zona Leste da cidade, na localização de
atividades de tráfico de drogas.

156
Imagem 5 - ELE03 – Guarulhos – Twitter – Manchete jornal Folha de S. Paulo e comentário autoral.
Fonte: O autor, (2020).

Na imagem a seguir, vemos um exemplo de postagem de ELA04, residente na


Vila Matilde, que compartilha pelo Twitter uma publicação sobre as diferenças de
percepção política entre os jovens de sua idade a partir de seu padrão de consumo.

Imagem 38 - ELA04 – Vila Matilde – Twitter – Compartilhamento de Post com reflexão política acerca
dos padrões de consumo acima dos seus

Fonte: O autor, (2020).

3.5.4 POLÍTICA, ELEIÇÕES E CIDADANIA NO COTIDIANO JOVEM DA “ZL”


DE SÃO PAULO.

Durante os meses de outubro de 2018, em diante, em função das eleições nacionais


para a Presidência da República e governos estaduais, pudemos observar que, embora 23
dos 26 jovens desta pesquisa estivessem aptos legalmente a participar do pleito66, apenas
uma jovem - ELA01, residente em Guaianazes, declarou ter votado nas eleições,
manifestando, contudo, que a experiência não correspondeu às suas expectativas:[...] foi
estranho, achei que seria mais memorável, foi estranho porque no momento não me deu

66
Entre 16 e 18 anos, o jovem pode optar por votar ou não, após os 18 anos o compromisso se torna
obrigatório no Brasil, por conta da legislação eleitoral.

157
a ideia de ser um voto em milhões que mudam um país, não me senti solitária, mas achei
que não tinha tanta importância do que deveria ter (Entrevistada ELA01).

Se, na participação eleitoral, o jovem residente e estudante na “ZL” paulistana que


acompanhamos nessa pesquisa parece se alinhar à premissa de desconexão e desinteresse
pela política, atribuída à juventude, o mesmo não observamos em relação às suas
interações nas redes sociais, em que demonstra grande interesse em se posicionar frente
ao contexto político e às formas anti-democráticas que caracterizam o novo governo. Os
conteúdos midiatizados revelam principamente a preocupação com questões que afetam
diretamente seus direitos cidadãos. A preocupação com a crescente violência associada
aos atos e discursos de extrema direita no espaço social digital destes jovens, também
ajudam a entender as opções de privacidade que mantêm seus perfis do Twitter fechados.
Muitos dos conteúdos alí observados dão conta do embate politico existente dentro do
contexto familiar, refletindo, também, nesse contexto, a frustração política que muitos
destes jovens passaram a vivenciar no período eleitoral e, posteriormente, a partir da
vitória do governo de extrema direita.

Desta forma, notamos uma forte afinidade dos jovens com o discurso social do
candidato petista Fernando Haddad67. Ainda, após as eleições e a posse do novo governo
eleito de extrema direita, observamos o aumento expressivo na quantidade de conteúdos
midiatizados de forma crítica, irônica, amedrontada, e em tom de preocupação em relação
à conduta do novo governo de extrema direita

No espaço urbano, a violência racial e de gênero passam a ser mais flagrantes,


tanto na ETEC-MLK quanto nos deslocamentos dos jovens até a escola. Enquanto que
no espaço digital, os jovens vivenciam o acirramento em torno de conteúdos de ódio e
intolerância política por parte da extrema direita. A profusão de fakenews e o uso das
redes sociais como forma de discurso político da extrema direita impactaram a prática de
consumo midiático destes jovens, segundo foi possível observar.

67
Na disputa dos segundo turno das eleições presidenciais de 2018, estiveram os candidatos Fernando
Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT), e Jair Bolsonaro, do Partido Social Liberal (PSL)

158
Atentos e críticos, os jovens passaram a se preocupar também com a verificação
da veracidade das fontes das notícias e informações que compartilham– ratificando a
adoção de práticas informais de checagem de fakenews, anteriormente mencionadas
durante a entrevista. Assim, quando perguntamos sobre consumo midiático, relacionamos
também algumas práticas conhecidas de checagem, como o cruzamento de fontes
diferentes para a mesma notícia; a credibilidade da fonte da notícia – autor e veículo; o
exagero em adjetivos e exageros em manchetes e títulos; a leitura completa antes do
compartilhamento; a busca reversa pela imagem associada à postagem e, por fim, o acesso
a sites especializados, como boatos.org.

Para ELA03, a checagem de fakenews, é importante, e costumeira: Sim, pratico


a maioria, principalmente checar a fonte, o portal, se é confiavel ou não, a manchete
sensacionalista. A imagem, nunca usei e nem sabia dos portais que combatem fakenews.(
Entrevistada ELA03). Já ELA04 não costuma realizar checagem quando usa a mídia
para consumo pessoal, mas costuma fazer quando esse uso está orientado à realização de
trabalhos escolares: Cruzamento de fontes sim, leitura complete também, mas só quando
me interesso, tipo por exemplo; me interesso e ai vou pesquisar mais, quando tem algum
trabalho que precisa. Em noticia mesmo não faço isso, é mais pra trabalho mesmo
(Entrevistada ELA04).

ELA05, ELA06, ELA07, ELA08 e ELA09, embora declarem praticar as


checagens mais informais, admitem não saber da existência dos sites especializados como
boatos.org. Segundo ELA09: vejo a fonte, e me aprofundo na noticia em varios meios
para ver diferentes pontos de vista. Cruzar as fontes e checar a credibilidade sim, os
adjetivos não; nunca pensei. A manchete com certeza; busca reversade foto nunca fiz; e
os sites contra boatos também não conhecia. (Entrevistada ELA09). A prática da
checagem de fakenews é uma prática incorporada ao consumo midiático pós-massivo.
Para ELA10, ELE03 e ELE06, que afirmam consumir notícias apenas pela televisão
aberta – em formato massivo –, não faz sentido checar a informação, pois se de una
televisão, só pode ser verdade, a televisão não ia transmitir notícia falsa.( Entrevistado
ELE06). Dos 23 jovens que afirmam preocupação com fakenews, nos parece que apenas
ELA12 e ELE07 de fato praticam a checagem de maneira apropriada: indo diretamente
consultar no site Boatos.org ou e-farsas.net, se aquela notícia procede.

159
Ao midiatizar o retrato político do seu tempo, o jovem midiatiza também sua
reflexão e ressignificação cotidianas da cidadania que constitui e opera socialmente.
Cidadania que se esfarela pela dureza das reformas impostas na economia, no trabalho e
na previdência; na saúde e na educação em nível federal.

No calor das eleições presidenciais de 2018 e posterior posse do presidente eleito


– época em que realizamos o trabalho de pesquisa de campo – foram diversas as postagens
relacionando pronunciamentos, medidas legais e impactos sociais do novo governo. Em
muitas delas, junto com a reprodução da notícia, aparecem comentários autorais
denunciando e ironizando a perspectiva política de extrema direita. Como no post a
seguir, registrado no Twitter de ELA04:

Imagem 6 - ELA04- Vila Matilde – Twitter – comentário crítico e compartilhamento de post de extrema
direita, difamando candidato da esquerda, sua esposa e a candidata a vice-presidente.

Fonte: O autor (2020).

De fato, a polarização e a grande incidência de conteúdos falsos e difamatórios de


cunho extremista de direita observados na campanha eleitoral, mobilizaram intensamente
os jovens nas redes sociais. Na imagem a seguir, a sequência de dois posts de ELA11, no
Twitter, ilustram a atitude da jovem, em relação ao contexto político:

160
Imagem 7 - ELA11- Aricanduva – Twitter, 2 conteúdos criticando o candidato de extrema direita e
apoiando o candidato de esquerda
Fonte: O autor (2020).

Outro bom exemplo é a publicação compartilhada no Facebook por ELA05,


mencionando as formas enviesadas de comunicação da extrema direita em eleições:

Imagem 41 - ELA05- Vila Matilde – Facebook – compartilhamento mensagem critica a Bolsonaro.

Fonte: o autor (2020).

ELA06 compartilha em seu Twitter conteúdo que explicita claramente as


diferenças políticas entre o ex-presidente Lula do PT e o candidato Jair Bolsonaro,
destacando uma citação de cada um deles . Este conteúdo foi comentado 139 vezes, teve
20 .300 compartilhamentos, e 60.600 curtidas. No post, não há imagem, e o texto diz:
‘Lula’: “ a fome só vai acabar quando todo brasileiro fizer 3 refeições por dia” ‘Bozo’:
“só vai haver fome no Brasil quando houver pessoas esqueléticas na rua” E vai tomar no
cu quem acha que não tem diferença de um governo pra outro.” Ainda, ELA09, também

161
no Twitter, se mostra bastante irritada com o post do Presidente eleito, sobre os cortes e
redirecionamentos politicos dados à educação superior no Brasil:

Imagem 42 - ELA09 – Tatuapé – TWITTER: Política / Educação

Fonte: o autor, (2020).

A crítica à política extremista de direita praticada pelo governo do Presidente


Bolsonaro, e também decepção com ela, é unânime entre todos os que postaram
conteúdos acerca da política nacional, desde o período das eleições. Inclusive entre os
jovens que não integram as minorias ameaçadas pela violência do novo governo, como
é o caso de ELA15, que reside na Vila Carrão, se auto-declara branca e heterossexual.
ELA15 localiza o sentimento da postagem com a frase “está se sentindo decepcionada” e
escreve a mensagem: “Parabéns ae pra quem voltou naquela coisa, agr tá todo mundo
tendo crise de ansiedade. Obg por serem egoístas e não pensarem nas minorias”.

ELE04, por exemplo, midiatiza manchete e comentário que deixam clara a


distorção politica corrente no país. Publicada no Twitter do Jornal Estado de São Paulo,
a manchete diz respeito do receio da área militar, de que o discurso do ex-presidente Lula
pudesse incitar a violência civil. Na imagem a seguir, o registro da postagem do Estadão,
que recebeu 97 comentários, 16.300 compartilhamentos e 41.100 curtidas, com a legenda
de ELE04 :

162
Imagem 43: ELE04 - Penha – Twitter – contraponto do discurso opressor da direita e discurso midiático
oficial.

Fonte: O autor, (2020).

4 FORMAS DE AÇÃO CIDADÃ JUVENIL NO ESPAÇO SOCIAL – URBANO


E DIGITAL – DA “ZL” PAULISTANA.

Nas práticas de mobilização cidadã verificadas junto aos 26 jovens desta pesquisa,
tivemos a oportunidade de observar a ocorrência de duas formas de ação pelo espaço
social digital dos 59 perfis ativos nas redes sociais Instagram, Facebook e Twitter. Aqui,
desconsideramos as diferentes características midiáticas de cada rede, para nos
concentrarmos nas ações de cidadania verificadas pelo questionário, entrevistas e
observação realizados. Divisamos então, duas modalidades de ação, a partir do
comportamento cotidiano destes jovens em espaço social digital: 1) A comunicação
cidadã nas redes sociais através da qual o jovem compartilha, autora e remedia nas redes
sociais conteúdos relacionados à cidadania ou se engaja em campanhas digitais (abaixo-
assinados, petições, etc.; 2) A ação cidadã fora das redes sociais na qual o jovem participa
e atua realizando uma ação cidadã

4.1 COMUNICAÇÃO CIDADÃ NAS REDES SOCIAIS

Como forma de ação cidadã, a comunicação cidadã nas redes diz respeito ao
processo midiático cotidiano, de compartilhar, autorar e remediar conteúdos que
promovam a cidadania defendida pelo jovem, a partir de seu espaço social digital.. O que

163
significa muitas vezes, para estes jovens, apenas o compartilhamento de uma causa, sem
que haja maior comprometimento direto com a cidadania midiatizada em seu perfil. O
Facebook se mostra mais associado a esta prática, tanto pela condição mais exposta dos
jovens, ante seus contatos familiares, escolares e institucionais, quanto pela autonomia
com que este jovem configura sua cidadania. Na imagem a seguir, dois posts de ELA07,
em seu Facebook, Ambos os posts são relacionados ao cachorro “Manchinha”, um vira-
lata, morto de forma cruel e violenta pelos seguranças do supermercado Carrefour de
Osasco –região distante da Zona Leste, onde ELA07 reside e estuda. Na imagem à
eaquerda, ELA07 compartilha notícia do Estadao, sobre iniciativa de uma fábrica de
cervejas, para gerar renda para a causa da proteção aos animais. Na imagem à direita,
ELA07 compartilha outra postagem do Estadao, noticiando o desfecho jurídico da
crueldade infringida ao cão “Manchinha”. Não são eventos próximos a ELA07, pela
localização no espaço social urbano de São Paulo, mas mobilizam a jovem a compartilhar
a postagem, a partir da causa de proteção aos animais, como aspecto de cidadania.

Imagem 44 - Ela 07- Itaquera – Twitter – 2 compartilhamentos de ações de resposta ao caso do “cachorro
do Carrefour”.

Fonte: O autor, (2020).

É pelo Instagram e Facebook, que a condição de remediação de conteúdos


associados à uma causa cidadã se torna mais frequente. A característica temporal dos
stories – conteúdos disponibilizados por apenas 24 horas, sendo deletados
automaticamente em seguida – favorece a prática da remediação. No processo, se
imbricam consumo cultural e cidadania política a partir das associações praticadas pelo

164
jovem, que podem relacionar seu universo de consumo cultural – games, séries, filmes,
música, quadrinhos, animações, etc – de forma a dar um sentido e orientação claros para
a remediação praticada.

No Twitter, também notamos a remediação como forma de comunicação cidadã


efetiva, embora pela privacidade de todos os 15 perfis observados, a remediação não se
dá de maneira tão frequente quanto a autoria. Na imagem a seguir vemos conteúdo
remediado por ELE01 em seu Facebook, relacionando a situação precária do
desmatamento da Amazônia, com cenas do filme e videogame “Jogos Vorazes”:

Imagem 45: ELE01 – Sapopemba – Facebook; Compartilhamento - Remediação: filme Jogos


Vorazes + crítica política ao Presidente eleito, em função das devastações ambientais e queimadas
registradas até maio de 2019.

Fonte: O autor, (2020).

Na comunicação cidadã nas redes sociais, em alguns, os jovens não apenas remediam,
mas criam seu próprio conteúdo autoral, vinculando-se pessoalmente à causa cidadã que
promovem. Não se trata de remediação – apropriação e ressignificação de conteúdos – mas
de criar ele próprio, a postagem completa, seja áudio, vídeo, imagem, texto ou a combinação
destes elementos.

165
Na imagem a seguir, postagem autoral de ELA10, acerca do Dia Internacional da
Mulher, e a situação extrema de violência de gênero, mobilizando uma comunicação cidadã
de caráter autoral:

Imagem 46: ELA10 – Penha – Twitter Autoral - Violência de gênero – dia internacional da mulher.

Fonte: O autor, (2020).

Além disso, pudemos observar, nessa modalidade de ação cidadã nas redes, a
predisposição dos jovens da pesquisa a se engajarem em abaixo-assinados e petições on
line68, Change,org, Avaaz.org, são alguns dos websites que oferecem condição de
produzir um abaixo-assinado ou uma petição pública que são conhecidos destes jovens,
que costumam divulgar suas ações e campanhas. Nesta condição, o jovem tanto pode
assinar petições e abaixo-assinados que visualiza, como criar seu próprio instrumento
coletivo, divulgando-o para atingir sua meta em assinaturas.

A seguir, quatro situações observadas nos perfis de ELE03 e ELA07, de


compartilhamento de abaixo-assinados de causas com as quais se mobilizam; e ELA07 e
ELA15, divulgando os abaixo-assinados criados pelas duas jovens para causa de maus
tratos animais e ecologia.

68
Outras formas de ação cidadã pelas redes sociais têm sido o crowndfounding/ crowndsourcing, prática
autônoma e coletiva pela qual diversos indivíduos contribuem com recursos financeiros para materialização
de uma ação cidadã efetiva no espaço social urbano. No entanto, nenhum dos jovens da pesquisa declararam
participação nessa modalidade.

166
Imagem 47 - quatro publicações mobilizadoras para participação em abaixo-assinados para causas
relevantes aos sujeitos, promovidos por ELE03, ELA07 e ELA15.

Fonte: O autor, (2020).

Todas estas ações cidadã, foram observadas no Facebook – que por ser a rede
social com mais usuários das três, e ainda, a que, entre as três, oferece mais condições de
exposição pública e, portanto, se torna o espaço social digital ideal para estas ações.
ELE03 compartilha e endossa petição coletiva no site change.org, para levar à justiça
americana dois jovens que cortaram as orelhas de um filhote de cachorro. ELA07, e
ELA15, através da plataforma Avaaz.org, criaram elas mesmas, seus abaixo-assinados.
ELA07, em defesa de um cão no prédio vizinho, que fica todo o dia preso e solitário na
sacada. ELA15 criou um abaixo-assinado em protesto contra o desmatamento da
Amazônia. ELA07 também compartilhou petição coletiva da Avaaz.org que reivindicava
a reabertura do projeto social GURI, do Governo do Estado de São Paulo, voltado a
menores carentes no estado.

Para ELE05, a premissa de participação coletiva é mobilizadora nas causas em


que acredita e defende mudanças:

167
[...] por exemplo, está surgindo a petição para irem atrás do cachorro
do carrefour. ... e ano que vem vai ter a marcha da maconha, pra
pressionar o uso medicinal, então é uma causa que eu apoio e vou atras
pra poder defender minha posição. Mesma coisa esse caso do
cachorro, é uma causa a favor dos animais, então eu fico atrás e vendo
pela internet, pelos amigos, alguns mandaram a petição pra assinar,
então eu fui junto, e pretendo compartilhar também, ainda não deu
porque recebi ontem a notícia, mas vou sim (Entrevistado ELE05)

4.2 AÇÃO CIDADÃ FORA DAS REDES

Outra forma de ação cidadã efetiva do jovem se dá pelo compartilhamento em seu


espaço social digital, das ações cidadãs que este jovem realmente pratica em seu espaço
social urbano. Consideramos que neste caso, o jovem está dinamizando sua ação cidadã
fora das redes ao mesmo tempo em que está midiatizando suas ações da cidadania. Fora
das redes sociais, quatro jovens desenvolvem ações de cidadania, através de voluntariado
praticado no espaço social urbano.

Em dezembro de 2018, ELA10, ELA14 e ELA15 realizaram juntas uma formação


voluntária em parceria com a ETEC MLK, por iniciativa de seus professores. Através do
Grupo “Apenas hum sorriso” as jovens aprenderam o ofício de palhaço motivacional a
partir de uma formação aplicada por um mês que incluiu formatura e batismo de cada
jovem por seu “nome de palhaço”. A ação cidadã proporcionou às três jovens uma
condição intensa de pertencimento e descobertas pessoais relacionada a um trabalho
voluntário efetivo.

Embora não tenhamos observado no decorrer do período, outras recorrências


midiáticas de ação destas jovens nas práticas voluntárias do Grupo “Apenas hum sorriso”,
pudemos observar que as três jovens postaram no Facebook, depoimentos com imagens
e vídeos sobre a formação e seu encerramento, como vemos nas três imagens a seguir:

168
Imagem 8 - ELA10 – Penha –Facebook – Post onde ELA10 foi marcada; relata a emoção desta mãe,
pela conquista da filha e colegas, ao concluírem a formação

Fonte: O autor, (2020).

No registro observado pelo perfil de ELA10 no Facebook, vemos a postagem realizada


por sua mãe, na qual ELA10 está marcada e por isso figura em seu perfil. Nas duas
imagens a seguir, temos ELA15 e ELA14, em depoimentos autorais, a respeito da
formação realizada:

169
Imagem 49 - ELA15– Vila Carrão – Facebook – Post depoimento de ELA15, sobre a formação
vo;luntária realizada ao final de 2018.

Fonte: O autor (2020).

Enquanto ELA15 relata pessoalmente o quanto sua cultura cívica se ampliou pela
formação a partir das pessoas a quem se integrou, das capacidades que desenvolveu e da
perspectiva de ação cidadã representada pelo voluntariado, ELA14 se mostra mais
engajada ao projeto, pelo conteúdo que publica, referenciando a continuidade do projeto
em função da confiança e credibilidade alcançada, e comemorando a formatura de “mais
19 palhaços voluntários”:

170
Imagem 50 – ELA14 – Itaquera – Facebook – Post onde ELA14 comemora a formação voluntária
recebida

Fonte: O autor, (2020).

Além das três jovens, ELE02 – Tatuapé – desenvolve um projeto voluntário de


esportes na escola estadual, onde fez o ensino fundamental II. Aos sábados pela manhã,
ELE02 e um colega se reúnem com crianças de 10 a 14 anos para ensinarem a prática
esportiva do basquete, por quatro horas. No entanto, diferente das três jovens que se
formaram palhaças voluntárias, ELE02 não publica nada sobre seu projeto voluntário em
seus perfis de rede.

Ao contrário, ELE02 prefere não publicar:


É um projeto ainda novo, faz alguns meses só que começamos.
Fomos falar com o professor de educação física, que gostou da
idéia e confiou na gente, abrindo acesso a quadra e aos materiais

171
para os treinos. É muito bacana poder ensinar o esporte as
crianças, mas não penso em publicar nada nas redes ainda. A
gente tem um trabalho grande pra fazer funcionar todo sábado.(
Entrevistado ELE02).

Ainda, pudemos perceber nos perfis de ELE04 e ELA07 no Twitter, o mesmo


tipo de relato midiatizado de ação cidadã que ocorreu a partir de uma situação imprevista,
não planejanda, mas que motivou engajamento e ação por parte tanto ELE04 quanto
ELA07, sinalizando uma disposição para a cidadania ativa. Na imagem a seguir, vemos
três posts publicados por ELE04, relatando participação em manifestação de oposição ao
presidente recém eleito:

Imagem 51 – ELE04– TWITTER – Registro de deslocamento urbano de caráter político.

Fonte: O autor,(2020).

Nessa perspectiva, também percebemos uma ação cidadã efetiva no relato de


ELA07, a partir dos episódios de racismo que presenciou pela primeira vez, com um
colega negro que a acompanhava na rua, quando foram abordados por revista policial nas
proximidades da ETEC-MLK, conforme já referido anteriormente.

São três posts sequenciais, em que ELA07 ilustra a dimensão da experiência


inédita em relação ao racismo. No primeiro post, ELA07 escreve: “Meu argumento pro

172
policial foi, meu pai é advogado, e ele nem é... menti e respondi, realizei meu sonho de
princesa”. Este post apresenta dois comentários e sete curtidas.

No post seguinte, ELA07 responde ao amigo negro mencionando-o no texto:


“Sempre vou enfrentar policiais malvados pra te defender ****”. E no post final, ELA07
reproduz a postagem onde compreende pela 1º vez o racismo que não via e reflete sobre
sua condição de jovem branca: “É uma realidade que eu nunca vou viver mano. Quando
eu falei que aquela situação era surreal e ele falou “não é não” a única coisa que eu pensei
foi “como assim? Foi a coisa mais RIDÍCULA que eu presenciei e isso me deixa muito
triste, principalmente saber que pra alguns faz parte”. A jovem segue seu texto: “É uma
realidade que eu não tenho a mínima noção de como seja, nunca me trataram dessa forma
e eu não imagino como seja. Me sinto totalmente incapaz de poder fazer alguma coisa pra
mudar, é horrível”.

Interessante que, embora ELA07 tenha publicado que não sabia o que fazer no
momento, sua atitude imediata foi de se interpor entre a opressão policial e seu colega
negro: “Eu nunca tinha presenciado uma situação de racismo tão discrepante, a cena mais
horrível da minha vida Como milituda respondi pro policia e levei meu primeiro
enquadro, faria novamente” Este post recebeu 18 curtidas para ELA07.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A comunicação individual de massa, exercida pelos jovens dessa pesquisa, em


redes conectadas, se hibridiza no sentido em que ao ser acessada, viabiliza tanto práticas
de cidadania como de consumo, e ainda o cruzamento destas duas. Longe de promover
a alienação midiática do jovem, ou, ainda, sua desconexão política, ao contrário, a
condição midiática pós-massiva estimula um comportamento midiático participativo que
tende a evoluir, tanto quanto evoluem as condições conectivas e midiáticas em questão.,
A mobilidade conectiva do smartphone ilustra muito bem a prerrogativa digital de
participação política e cidadã por parte destes jovens, observados na pesquisa.

Tanto no sentido do respeito à diferença e à singularidade, quanto no sentido de


fortalecimento do coletivo, plural e inclusivo, a condição midiática pós-massiva viabiliza
espaços sociais digitais para este jovens que operam como articuladores politico destas

173
diferenças. Articulações que se materializam através do interesse demonstrado pelos
jovens no consumo das redes sociais para a visibilidade e posicionamento sobre questões
vinculadas às relações raciais e de gênero e à desigualdade social.

Na perspectiva da cultura do consumo – frequentemente norteada pelo


individualismo e exclusividade – podemos observar o surgimento, nestes jovens, de uma
consciência coletiva orientada ao consumo – comunalismo – operando a definição do que
se consome, por quais formas este consumo é praticado, e a perspectiva de retorno social
coletivo como resultado desta prática. Neste sentido, o acesso global/local das redes
sociais digitais, propicia ao jovem uma condição de referenciação de si como parte de
diversos coletivos transnacionais, como via de acesso ao consumo, tanto quanto ao
fortalecimento de sua cidadania.

Como perspectiva de comunicação e ação cidadã efetivas, verificamos que a


conexão pública midiatizada destes jovens, parece de fato nortear suas práticas cotidianas
de informação e formação cultural cívica. Práticas necessárias para os jovens construírem
posicionamentos politicos autônomos em frente a posições e valores em disputa na
família, na escola e em seus próprios grupos juvenis de referência. O fato de que estes
jovens estão mais perto da idade adulta e suas responsabilidades políticas do que da
diversão infantil, favorece a postura analítica e autônoma de formação cívica da
cidadania.

Ainda que, nessa pesquisa, tenhamos assumido a premissa de uma conexão digital
intermitente, sem limites de alcance geográfico, volume de dados ou quantidade de
pessoas conectadas, não podemos desconsiderar a condição dos algoritmos que
direcionam a lógica dos acessos, dos conteúdos, e da interação midiática pós-massiva. Da
mesma forma, entendemos também que as barreiras econômicas de acesso e
conectividade eclipsam o conceito amplo de democracia participativa pela perspectiva do
consumo.. E, neste aspecto, devemos sempre considerar o consumo com uma certa
cautela, pelo fato de que estas três redes sociais digitais observadas – Instagram, Facebook
e Twitter – serem empresas privadas, com objetivos de mercado, que se sobressaem,
antes mesmo de se considerar que tenham vocação política para promover a interação
entre o jovem e sua esfera política de cidadania.

174
Das experiências dos 26 jovens que constituíram o campo empírico desta tese,
pudemos observar ainda, que a conexão pública midiatizada, operada em modo midiático
pós-massivo, fortalece tanto condição de uma cidadania autônoma orientada pelo espaço
urbano e operada a partir da perspectiva comunalista e coletiva, quanto abre a condição
da diferença individual na construção de uma cidadania global. No entanto, o estudo
também trouxe evidências de que a condição midiática pós-massiva de consumo dos
jovens parece apontar para a predominância de mobilizações e ações desses jovens
circunscritas a redes sociais digitais e seu exercício ainda incipiente em contextos sociais
e urbanos que extrapolem os espaços sociais digitais.

175
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180
5 APÊNDICE A - Termo de parceria e protocolo de pesquisa firmado entre o
doutorando e a coordenadoria de corpo técnico da ETEC- MARTIM-LUTHER-
KING, em SÃO PAULO- SP, Zona Leste – região metropolitana da cidade.

São Paulo,01 de outubro de 2018.

Para: Sr. Vagner Sarti


Corpo técnico administrativo ETEC Martin luther King
De: Renato Vercesi Mader
Docente na graduação e pós graduação em Publicidade, Design, Tech, na ESPM-SP.
Mestre e doutorando do PPGCOM – ESPM- SP – Em construção de tese e pesquisa.

Referente à: PARCERIA E PROTOCOLOS DE PESQUISA NECESSARIOS PARA REALIZAÇÃO


PESQUISA DE CAMPO JUNTO AO CORPO DISCENTE DO ENSINO TÉCNICO INTEGRADO AO
ENSINO MÉDIO.
Na qualidade de doutorando do Programa de Pós Graduação em Comunicação e Consumo pela
ESPM-SP, venho por meio desta, solicitar parceria para com a ETEC – Escola Técnica Martin Luther
King, situada à Rua Apucarana, 815, Tatuapé, São Paulo – capital, para realização de pesquisa acadêmica,
junto aos alunos do ensino técnico integrado ao Ensino médio, de 1º e 2º anos do ciclo.
Através do projeto de pesquisa “Juventude, Comunicação e Cidadania: Formas de representação
e representatividade política do jovem urbano, à partir de sua prática comunicacional cotidiana”,
pretendemos, no período de outubro a dezembro de 2018, investigar as praticas cotidianas de
comunicação digital destes jovens, afim de compreender os sentidos contemporâneos da cidadania.
Para tanto, solicito autorização à coordenação da ETEC MARTIN LUTHER KING para que eu
– e talvez um assistente de pesquisa – possamos frequentar as dependências escolares, de outubro a
dezembro de 2018, afim de aplicar os procedimentos metodológicos de pesquisa, relacionados a trabalhos
desta natureza.
Para estruturar esta parceria de forma a contribuir em modo produtivo com a instituição, coloco-
me a disposição para possível inserção de um módulo de questões da mesma forma, abrir a possibilidade
para que questões relacionadas a temática da cidadania – e que sejam sensíveis à instituição – possam ser
contempladas pelos instrumentos de pesquisa utilizados no processo de coleta e análise de dados.
Ainda, comprometo-me a compartir os resultados obtidos, após sua defesa pública, em
apresentação específica, dentro da ETEC Martin Luther King, da forma que melhor convier à instituição.
O QUE ESTAMOS INVESTIGANDO:
O que de fato se destaca no coditiano deste jovem, como valores cidadãos?
Como este jovem se articula em representação e representatividade de suas causas cidadãs?
Como a comunicação praticada diariamente via digital, reflete e evidencia esta cidadania?
COMO ESTAMOS INVESTIGANDO:
Pretendemos nos utilizar dos seguintes instrumentos de pesquisa:
- Questionário de perfil biográfico, cultural e de repertório:
- Respostas via internet – pode ser realizado em lab. Informática
- O questionário apresenta duração de até uma hora/aula,
- Será uma participação por aluno, de forma individual e privativa.
Após participar do questionário, cada um dos jovens será identificado apenas por um número em todos os
registros de pesquisa:
- Aplicação por um ou dois pesquisadores, obedecendo estritamente os espaços e horários de
circulação designados pela coordenação.
- Entrevista individual de percepção de valores individuais e coletivos.
- Entrevista gravada em áudio, com duração de até uma hora/aula;
- Uma participação por aluno de forma individual;
- Realização por um ou dois pesquisadores, obedecendo estritamente os espaços e horários de
circulação designados pela coordenação.
- Grupo focal de discussão acerca de temáticas cidadãs:
- Duração de até duas horas aula;
- Uma participação por aluno em grupos de 4 ou 5 alunos;
- Realização por um ou dois pesquisadores, obedecendo estritamente os espaços e horários de
circulação
designados pela coordenação.

181
- Observação netnográfica dos perfis sociais dos jovens:
- Perfil de observação da pesquisa será apresentado previamente junto ao aluno;
- Não haverá contato algum entre o perfil de observação e os perfis dos jovens;
- Serão observadas até 03 redes sociais no máximo por aluno, dependendo de seu uso – Instagram
Youtube – Twitter – Facebook;
- O que será monitorado por rede:
Instagram: Temática das imagens/textos publicadas; reações e comentários.
Youtube: Temáticas de conteúdo seguidas e publicadas; reações e comentários.
Twitter: postagens e interações recebidas e realizadas;
Facebook: postagens e conteúdos comentados, compartilhados, recebidos e realizados;
- Como será realizado o monitoramento por rede:
Realização remota, por 90 dias corridos, no modo de observação participativa.
Coleta e arquivamento individual e remoto, realizado sem contato direto com os jovens – vídeos, imagens
e textos públicos nas redes pesquisadas.
Inserção do material coletado em vídeos, imagens e textos em possível software de análise de mídias
sociais.
- Como serão tratados os dados coletados:
Identidade dos jovens pesquisados sob sigilo: a partir da realização do primeiro questionário, pelo qual
cada jovem receberá um número de identificação e será somente relacionado a partir do número
correspondente, em todas as publicações, análises, e relatórios realizados.
Em hipótese alguma, será divulgada a relação entre nomes de alunos e números de registro da pesquisa,
assegurando que cada formulário on line, uma vez tabulado, será deletada sua versão on line.
Todas as identidades mencionadas, relatadas ou compartilhadas, serão apagadas quando em publicações e
apresentações de pesquisa. Para conseguir cumprir o proposto, em termos de horas envolvidas na
montagem dos instrumentos de pesquisa, aplicação e coleta de dados, propomos, a partir da conveniência
à Etec Martin Luther King, um percurso de 10 semanas, considerando 03 semanas de outubro, 04 de
novembro de 2018 e 03 semanas de dezembro de 2018.
Desta forma apresentamos esta solicitação de parceria e protocolos de pesquisa relacionados afim de que,
uma vez em acordo mútuo, possamos assinar duas vias de igual teor, considerando a confecção do texto
de autorizacão para os pais e responsáveis, afim de que a pesquisa possa ser iniciada com o
preenchimento de questionário on line, como primeiro contato.
Assinam em ambas as vias:
Renato Mader – pesquisador PPGCOM-ESPM-SP – Doutorando
Vagner Sarti. – coordenador Corpo técnico administrativo ETEC Martin Luther King.

182
APÊNDICE B – Termo de autorização do pai ou responsável pelos alunos de 1ª e 2ª séries do Ensino
Médio Técnico em Administração de Empresas e Marketing, para participação na pesquisa de campo
realizada durante os anos de 2018 e 2019.
À partir dos protocolos de pesquisa desenvolvidos por Kozinets, desenvolvemos toda a
documentação que legitima, autoriza e explica toda a condução da pesquisa, de forma a obtermos
autorização por escrito de pais e responsáveis pelos sujeitos participantes. A seguir a reprodução completa
do termo que foi devidamente preenchido e assinado por 35 dos 80 alunos que receberam o documento:
Autorização de participação de Alunos na pesquisa Juventude e Cidadania

Eu, ___________________________________________ (nome do responsável),


____________ (nacionalidade),_________________ (estado civil), residente na
__________________________________________________(endereço completo), Município de
___________________, Estado de ___________________, portador(a) do RG nº _________________ e
do CPF nº _________________, abaixo assinado(a), representante legal do menor
___________________________________________________ (nome do menor), RG nº.
_________________, e do CPF nº _________________, AUTORIZO o MENOR a participar da
pesquisa Juventude e Cidadania, detalhada a seguir, em todas as suas fases, conduzido pelo
professor universitário da ESPM-SP, Mestre Renato Vercesi Mader, doutorando pelo PPGCOM-
ESPM-SP, para conclusão de doutorado em comunicação e consumo, com autorização e endosso
desta insituição de ensino.
A presente autorização é outorgada, sem qualquer ônus, em caráter definitivo, irrevogável e irretratável,
por prazo indeterminado, sem qualquer limitação de uso, espacial, territorial ou restrição de qualquer
natureza.
São Paulo, _____ de ________________ de 2018
________________________________ _________________________
Assinatura Responsável Legal Assinatura aluno
Telefone e email para contato, caso haja necessidade de pai /responsável querer mais detalhes sobre
o processo de pesquisa. 011- 99240-7415 renato.mader@gmail.com
Tenho ciência de que esta pesquisa:
TEM A FINALIDADE DE:
compreender as formas pelas quais os jovens relacionam sua cidadania em suas práticas diárias de
comunicação através das mídias sociais. Esperamos conhecer as causas cidadãs que são importantes ao
jovem urbano, morador da grande são paulo, bem como de que forma este jovem comunica sua cidadania
pelas mídias sociais a que frequenta.
ATRAVÉS DOS SEGUINTES PROCEDIMENTOS:
Questionário de perfil, biografia e estilo de vida: a ser preenchido em laboratório de informatica, na
ETEC Martin Luther King, com a presença do professor pesquisador, e acompanhamento da instituição.
Serão questão de localização socio-cultural, familiar, econômica e intelectual.
TODAS AS RESPOSTAS SERÃO TRATADAS DE FORMA ANÔNIMA, A PARTIR DO SEU
PREENCHIMENTO. NÃO HÁ FORMA DE IDENTIFICAR O ALUNO COM A RESPOSTA, A
PARTIR DO MOMENTO EM QUE O ALUNO FINALIZA SUAS RESPOSTAS.
Entrevista: Será uma entrevista de cerca de uma hora de duração, na qual iremos conhecer a
compreensão do termo e da prática da cidadania, da comunicação cidadã, das formas pelas quais o jovem
se reconhece cidadão, que representa e é representado perante a sociedade.
Grupo focal: Será uma sessão de cerca de uma hora de duração, constituída de conversas e debates por
cerca de uma hora, entre grupos de até cinco alunos, com temáticas específicas acerca da cidadania e suas
manifestações no cotidiano.
Observação netnográfica: Observação anônima e discreta, dos perfis de redes sociais envolvendo as
redes Twitter, Instagram, Facebook e/ou Youtube, considerando sempre as duas ou três redes sociais mais
frequentadas pelo jovem.
IMPORTANTE: A observação netnográfica trata anonimamente os dados privados, a identidade, e a
menção a outras pessoas, recorrendo a apagamento das expressões faciais, nomes e outras formas de
identificação de pessioas dentro de posts, comentários, e interações públicas, realizadas nestas redes
sociais onde o jovem esteja. Para isso, é preciso que o perfil de pesquisa seja aceito como parte da rede
social do jovem pesquisado.
APENAS COMO OBSERVADOR, NÃO INTERAGINDO DE FORMA ALGUMA COM O
JOVEM, SEUS CONHECIDOS, OU OS CONTEUDOS RELACIONADOS.

183
Em relação a RISCOS POSSÍVEIS ENVOLVIDOS NA PESQUISA:
ESTA PESQUISA NÃO ENVOLVE RISCOS PREVISÍVEIS OU DESCONFORTOS:
Os riscos envolvidos não são maiores do que aqueles envolvidos em atividades diárias, como falar ao
telefone ou usar correio eletrônico. Uma vez que alguns dos temas relacionados a cidadania podem ser
sensíveis, é possível que algumas situações relatadas tornem-se pessoais ou emocionais.
Em relação a benefícios ou compensações pela participação na pesquisa:
A PARTICIPAÇÃO NESTA PESQUISA É VOLUNTÁRIA: Sua participação não irá beneficiar o aluno
de forma alguma - material, financeiro ou de desempenho escolar. Contudo sua participação irá nos
ajudar a compreender as formas pelas quais a juventude se relaciona com sua identidade, sua consciência
cidadã em sua comunicação cotidiana através das redes sociais.
Em relação a SIGILO e CONFIDENCIALIDADE:
TODOS os dados pessoais de identidade, localização, parentesco, ou quaisquer dados privados, pessoais e
sigilosos, serão alterados, deletados, ou apagados quando em imagens, de forma que todos os dados
coletados pela pesquisa, sejam sempre anônimos, relacionados apenas a pseudônimo, NUNCA à
identidade real dos jovens pesquisados.
Em relação a custos para o participante voluntário:
Não haverá qualquer despesa financeira ou de qualquer ordem, para o jovem participante voluntário, toda
a condição de produção da pesquisa ocorre por conta do pesquisador.
Em relação aos direitos do participantes voluntários desta pesquisa:
A participação é totalmente voluntária, sem obrigação alguma de participação.
O jovem tem a qualquer tempo o direito de desistir da participação e sair da pesquisa sem que haja motivo
para isso.
Qualquer nova informação sobre esta pesquisa e seus procedimentos será imediatamente informada ao
jovem voluntário participante.
SÃO PAULO, OUTUBRO DE 2018.

184
APÊNDICE C – Apresentação formal da pesquisa de campo junto ao corpo discente – 80 alunos de
1ª e 2ª séries do Ensino Médio Técnico em Administração e Marketing

Após assinatura de termo de parceria e protocolos de pesquisa e devidas aprovações de todos os


instrumentos metodológicos de pesquisa relacionados a este campo, apresentamos o projeto a 80 alunos:
40 alunos, de duas turmas da 1º série de ensino médio técnico de administração e marketing e 40 alunos
de duas turmas da 2º série de Ensino médio técnico de administração e marketing, de forma a explicar o
convite, as razões da pesquisa, sua metodologia e a necessidade de termos a autorização de participação
assinada pelos pais ou responsáveis para a participação. Apresentamos o seguinte conteúdo em 13 telas:

185
APÊNDICE D – Formulário de pesquisa Survey

Aos alunos que trouxeram a autorização de participação preenchida por pais ou responsáveis legais, 35
deles, aplicamos o seguinte questionário on line, em formulário google:
Juventude e cidadania . etapa 1: questionário
ESTE QUESTIONARIO É PARTE DA PESQUISA JUVENTUDE E CIDADANIA, CONDUZIDA
PARA A TESE DE DOUTORADO DO PROFESSOR RENATO MADER, PARA PARTICIPAR É
PRECISO ASSINAR O TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE PARTICIPAÇÃO.
CASO DESEJE PARTICIPAR, ENVIE UM EMAIL PARA renato.mader@gmail.com E
AGENDAREMOS UMA DATA PARA SUA PARTICIPAÇÃO. ESTE QUESTIONARIO É A
PRIMEIRA ETAPA DE PESQUISA, TEM A FUNÇÃO DE MAPEAR SOCIALMENTE O UNIVERSO
JOVEM, IDENTIFICAR SUAS FORMAS DE PRODUÇÃO E CONSUMO DE INFORMAÇÃO NO
ÂMBITO DIGITAL.
* Required
1. Email address *
PARTE 1: Quem é você?
ALGUMAS INFORMAÇÕES INICIAIS SOBRE VOCÊ,
POR GENTILEZA PREENCHA TODAS AS RESPOSTAS.
2. Sexo *
Masculino. Feminino
3. Idade *
☐14 ☐15 ☐16 ☐17 ☐18 ☐19 ☐20 ☐21 ☐22 ☐23 ☐24 ☐+ de 24
4. Em que série estuda? *
☐1º médio ☐2º médio ☐3º médio
5. Em qual região da cidade você mora? *

186
6. Quem mora com você ?
(relacione a quantidade de pessoas, e o grau de parentesco de cada um)
__________________________________________________________________
7. Qual a formação escolar de seus pais e a profissão atual de ambos?
__________________________________________________________________
8. Quais destes itens você possui para uso individual e exclusivo seu?
(Marcar quantas forem necessárias).
☐TELEFONE CELULAR SMART PHONE COM ACESSO A INTERNET
☐COMPUTADOR DE MESA
☐COMPUTADOR LAPTOP
☐VIDEO GAME (PSP/ XBOX /NINTENDO)
☐DVD/VIDEO
☐APARELHO DE SOM
☐APARELHO DE TELEVISÃO
☐TABLET
☐TELEFONE FIXO
☐Não tenho nenhum destes equipamentos para meu uso individual e exclusive
9. Em sua casa você dispõe de: *
(Marcar quantas forem necessárias.)
☐ Televisão por assinatura NET, SKY, etc. ☐ Internet banda larga NET, VIVO, etc.
☐ Netflix, Amazon TV, etc.
10. Sobre quais destes assuntos vocês conversam em casa? Assinale quantos forem os temas *
☐Política ☐Corrupção ☐Direitos Humanos ☐ Direitos da Criança e do Adolescente
☐Violência contra Mulher ☐Violência contra criança ☐Preconceito racial
☐Discriminação de gênero ☐Pobreza ☐Roubo e assaltos ☐Transporte público
☐Saúde pública ☐Direito ao livre pensar ☐Direitos e deveres do cidadão
☐Questões Familiares ☐Questões da escola ☐Questões do bairro/comunidade
☐Questões pessoais ☐Nenhum destes temas fazem parte da conversa em casa.
11. Quem você procura, se precisar falar sobre os assuntos da questão anterior. *
_______________________
PARTE 2: Como você se conecta?
PRECISAMOS SABER MAIS SOBRE A FORMA COMO VOCE SE CONECTA E SE UTILIZA DA
INTERNET. (SUAS RESPOSTAS SÃO CONFIDENCIAIS, NÃO ENTRAREMOS EM CONTATO
DIRETO COM VOCÊ DE FORMA ALGUMA, VIA INTERNET).
Respostas obrigatórias, se for o caso escreva "não", mas não deixe de responder nenhuma questão.
12. Você se conecta na internet:
(Escolha as alternativas que mais representam suas formas de conexão no dia a dia. *
☐pelo MEU PROPRIO CELULAR SMARTPHONE com 4G ILIMITADO
☐pelo MEU PROPRIO CELULAR SMARTPHONE com 4G Pré - pago LIMITADO.
☐pelo MEU PROPRIO TABLET, com 4G ILIMITADO
☐pelo MEU PROPRIO TABLET, com 4G pré – pago LIMITADO.
☐pelo MEU DESKTOP DE CASA, VIA BANDA LARGA.
☐pelo MEU VIDEOGRAME, VIA BANDA LARGA DE CASA.
☐Outro:
13. MEU CELULAR é DA MARCA/modelo: *
_________________________
14. Quantos aparelhos celulares você já teve na sua vida, e de quanto em quanto tempo
costuma trocar de aparelho? *
_________________________
15. Em quais redes sociais você tem perfil ativo? (assinale quantas forem necessário) *
☐Twitter ☐Instagram ☐Snapchat ☐Facebook ☐Youtube ☐Tumblr
☐não tenho perfil cadastrado em redes sociais, mas frequento o youtube.
☐Prefiro redes de trabalho como GITHUB e SLACK. ☐Other:
16. TWITTER: se sim, colocar o perfil, se não apenas responder nao. *
_____________________________________

187
17. INSTAGRAM: se sim, colocar o perfil, se não apenas responder nao. *
_____________________________________
18. SNAPCHAT: se sim, colocar o perfil, se não apenas responder nao. *
_____________________________________
19. FACEBOOK: se sim, colocar o perfil, se não apenas responder nao. *
_____________________________________
20. YOUTUBE: se sim, colocar o perfil, se não apenas responder nao. *
_____________________________________
21. TUMBLR: se sim, colocar o perfil, se não apenas responder nao. *
_____________________________________
22. OUTRAS: se sim, identifique rede e perfil, se não apenas responder nao. *
_____________________________________
PARTE 3: DIGITAL CITIZENSHIP SCALE SURVEY:
NA internet, EU...
A SEGUIR, ALGUMAS AFIRMAÇÕES EM PRIMEIRA PESSOA, PARA ENTENDERMOS A
FORMA COMO VOCÊ CONSIDERA A INTERNET E SUA CONEXÃO DE INFORMAÇÕES.
ESTÃO EM ESCALA DE VALOR ENTRE 0 A 7, SENDO ZERO TOTALMENTE FALSO, SETE
TOTALMENTE VERDADEIRO.
Todas as questões desta seção são obrigatórias.
23. Sei USAR A INTERNET PARA ENCONTRAR TODAS as informações que eu preciso.*
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
24. Sei USAR A INTERNET PARA ENCONTRAR e BAIXAR todos os aplicativos (app) que me são
úteis. *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
25. Sei USAR OS DISPOSITIVOS DIGITAIS (por exemplo: celular, smartphone, Tablets, PCs, Laptops)
PARA atingir meus objetivos. *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
26. Eu POSSO ACESSAR A INTERNET SEMPRE que quiser, através de várias formas. (Ex.:
celulares / smartphones, Tablets, Laptops, PCs) *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
QUANDO ESTOU ON LINE, EU GOSTO DE ...
A SEGUIR, ALGUMAS AFIRMAÇÕES EM PRIMEIRA PESSOA, PARA ENTENDERMOS A
FORMA COMO VOCÊ CONSIDERA A INTERNET E SUA CONEXÃO DE INFORMAÇÕES.
ESTÃO EM ESCALA DE VALOR ENTRE 0 A 7, SENDO ZERO TOTALMENTE FALSO, SETE
TOTALMENTE VERDADEIRO.
Todas as questões desta seção são obrigatórias.
27. Gosto de FAZER COMENTÁRIOS sempre que possível, sobre CONTEÚDOS DE OUTRAS
PESSOAS nos sites de notícias, blogs ou redes sociais que visito. *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
28. Gosto de ME COMUNICAR via messenger, ou outro instantâneo, com os outros. *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
29. Gosto de COLABORAR COM OUTROS, (Mais pela internet e ON LINE do que fora da
internet). * 0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
30. Gosto de PODER ENVIAR MENSAGENS ORIGINAIS MINHAS (áudio fotos vídeos) para me
expressar na internet. (sentimentos / pensamentos / ideias / opiniões). *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
O QUE ESTAR CONECTADO SIGNIFICA? A SEGUIR, ALGUMAS AFIRMAÇÕES EM PRIMEIRA
PESSOA, PARA ENTENDERMOS A FORMA COMO VOCÊ CONSIDERA A INTERNET E SUA
CONEXÃO DE INFORMAÇÕES.
ESTÃO EM ESCALA DE VALOR ENTRE 0 A 7, SENDO ZERO TOTALMENTE FALSO, SETE
TOTALMENTE VERDADEIRO.
Todas as questões desta seção são obrigatórias.
31. Minha participação online é uma MANEIRA EFETIVA DE PROVOCAR MUDANÇA em algo em
que acredito ser injusto ou desonesto. *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
32. Quando uso a internet, SOU LEVADO A REPENSAR MINHAS CRENÇAS sobre uma questão ou
tópico específico. * 0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
33. MINHA PARTICIPAÇÃO ON LINE É UMA FORMA EFICAZ DE ME ENVOLVER COM
QUESTÕES POLÍTICAS OU SOCIAIS. *

188
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
34. MINHA PARTICIPAÇÃO ON LINE PROMOVE O ENGAJAMENTO em ação presencial *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
35. ACREDITO QUE A INTERNET REFLETE OS MESMOS PRECONCEITOS E DOMINÂNCIA,
presentes nas estruturas de poder offline.*
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
36. Quando ESTOU ON LINE, SOU MAIS COMPROMETIDO SOCIAL OU OLITICAMENTE, do que
quando estou offline. *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
37. Uso a internet PARA PODER PARTICIPAR DE MOVIMENTO SOCIAL, MUDANÇA SOCIAL
OU PROTESTO SOCIAL. *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
O QUE VOCÊ REALIZA PELA INTERNET?
A SEGUIR, ALGUMAS AFIRMAÇÕES EM PRIMEIRA PESSOA, PARA ENTENDERMOS A
FORMA COMO VOCÊ CONSIDERA A INTERNET E SUA CONEXÃO DE INFORMAÇÕES.
ESTÃO EM ESCALA DE VALOR ENTRE 0 A 7, SENDO ZERO TOTALMENTE FALSO, SETE
TOTALMENTE VERDADEIRO.
Todas as questões desta seção são obrigatórias.
38. Eu ASSISTO A REUNIÕES POLÍTICAS OU DEBATES PÚBLICOS sobre assuntos locais,
municipais ou escolares através de algum método online.*
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
39. Eu TRABALHO COM OUTRAS PESSOAS DE FORMA ON LINE PARA RESOLVER
PROBLEMAS locais, nacionais ou globais. *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
40. Eu ORGANIZO PETIÇÕES SOBRE QUESTÕES sociais, culturais, políticas ou econômicas online.*
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
41. Eu PUBLICO REGULARMENTE PENSAMENTOS relacionados a questões políticas ou
sociais online.*
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
42. Eu, às vezes, ENTRO EM CONTATO COM FUNCIONÁRIOS DO GOVERNO sobre uma questão
que é importante para mim ATRAVÉS DE MÉTODOS ONLINE.*
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
43. Eu EXPRESSO MINHAS OPINIÕES ONLINE para DESAFIAR PERSPECTIVAS dominantes ou o
status quo em relação a questões políticas ou sociais. *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
44. Eu ASSINO PETIÇÕES ONLINE SOBRE questões sociais, culturais, políticas ou
econômicas. *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
45. Eu TRABALHO OU SOU VOLUNTÁRIO, ATRAVÉS DE MÉTODOS ONLINE,
de um Partido político ou candidato. *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
46. Eu PERTENÇO A GRUPOS ONLINE envolvidos em questões políticas ou sociais. *
0 1 2 3 4 5 6 7 0 = totalmente falso 7 = totalmente verdadeiro
Autorias digitais
Queremos saber se além de redes sociais, você também produz alguma página, canal, ou perfil sobre tema
que seja importante pra você.
47. Se tiver algum canal digital ativo, descreva aqui, e se possível, forneça o link de acesso,
caso contrário, escreva "Não", pois é uma etapa de resposta obrigatória. *
_________________________________________________________________________
TERMINAMOS A ETAPA DE QUESTIONÁRIO.
Agradecemos muito sua participação, neste questionário, convidamos você a continuar as etapas
seguintes, de entrevista individual e grupo focal de discussão.
Com sua participação, você está nos auxiliando a compreender as formas pelas quais o jovem urbano se
relaciona sua cidadania com sua atividade digital cotidiana. Muito obrigado.

189
6 APÊNDICE E – Roteiro final de entrevista aplicado a 26 sujeitos participantes
A partir das duas entrevistas exploratórias, aprimoramos o roteiro final da entrevista a partir das seguintes
questões:

1- Quem é você:
Como é seu dia de semana?
Quais são seus hábitos de estudo?
Como é seu final de semana?
Quais são seus hábitos de lazer e estudo no final de semana?
E, quanto ao lazer: você assiste algo na televisão? O que assiste? Qual periodicidade?
Netflix, você assiste? O que prefere assistir na Netflix?
E jornal, noticiário, como você fica informado do que importa pra você?
Rádio, televisão, internet, whatsapp?
2- Privacidade//fakenews:
Você não tem receio de se expor na internet?
O que você considera publicar sobre você na internet?
O que você considera confidencial, privado, que é apenas de seu interesse?
Você tem receio de fakenews, quando está nas redes sociais?
Quais medidas você toma? Conhece o boatos.org?
3- Temáticas cidadãs:
Nesta régua você vê algum assunto relacionado a cidadania?
_RACISMO_ASSÉDIO_VIOLÊNCIA_SOLIDÃO_POBREZA_FOME_DOENÇA_
_RISCOSOCIAL_DESEMPREGO_CORRUPÇÃO_FAVORITISMO
Qual destes temas mobiliza você? Como você se mobiliza a partir deste tema?
A quem procura em casa, quando precisa conversar sobre eles?
Vamos exibir um vídeo _ da tribo ubuntu, africana, sobre o coletivo social tribal_

Após ver o vídeo, você pode nos dizer destas dimensões todas que fazem parte da sua vida, em
qual delas você se sente seguro de pertencer, de ter sua voz ativa no conjunto coletivo?
_FAMILIA_ESCOLA_TURMA_TRIBO_GRUPO_BANDO_CLUBE_CIDADE_
_ ESTADO_PAÍS_MUNDO_PLANETA.

4- Redes sociais digitais e internet:


Qual destas redes você frequenta?
_Pinterest_Linkedin_Facebook_snapchat_behance_instagram
Como você acha que o uso destas redes sociais pode influenciar na sua percepção de mundo?

5- Certo e errado: a ética cidadã na construção do jovem.


“Certo” e “errado” são conceitos importantes na definição de cidadania?
Como você procura avaliar o que é certo e o que é errado, naquilo que observa da
sociedade em que vivemos?
O que é cidadania para você?
O que faz parte da cidadania?
E o que é ser cidadão?
Você acha que as “telas” de sua vida, televisão, celular, tablete, ajudam você a exercer sua
cidadania?
Você acredita que está sendo cidadão, quando está nas redes sociais/internet?

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