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POLÍTICO , ,,
_?,;
NARCOTRAFICO
TERCEIRO MUNDO N'! Il3
VENEZUELA:
.
com maior número de exe·
•-e:.
cuçoes no mundo, uma cifra ; :-.
de 593 pessoas de 83 a 87, ' 1
ou seja, mais da metade dos
998 condenados à morte
neste per/odo, segundo re-
conheceu o ministro da Jus-
tiça, Kobie Coetsee. As esta-
tistrcas oficiais fornecidas
por Coetsee, face às pres-
sões de parlamentares da
oposição, registram um au- por irregularidades e mani-
mento substanCJal no nú- pulações nos processos Judi-
mero de condenados du- ciais, sobretudo contra cida-
rante o estado de emergên • dãos negros.
eia no pais, a partir de Junho O professor dos estudos
de 1986. legais da Universidade de
A revelação desta cifra Witwaterrand, John Bugard,
coincide com ampla campa- afirmou que a pena capital
nha contra a pena de morte na África do Sul constitui
na África do Sul, motivada um ato de violência estatal.
INDIA: PALESTINA:
egundo a Comissão
S Nacional de Informação
sobre Consumidores de
Narcóticos (The rvat1onal
Narcotics lntelligence Consumers
Commíttee-NNJCC), o mercado
norte-americano absorve
anualmente a quase totalidade de
drogas produzidas na América Latina.
Para lá se escoam 33º{, da heroína, 80%
A crescente organização dos traficantes em diversos países da América
Latina modifica as economias locais e desafia os poderes públicos
da maconha e a totalidade da cocafna
produzidas pela Bolívia, Colômbia,
A divisão internacional da produção tão os principais produtores de maco-
Jamaica, México e Peru.
de drogas segue critérios variados, que nha e heroína, devendo-se ressaltar que
O número de usuários regulares de
vão desde as cond ições climáticas e a Colõmbia ·atingiu um estágio de pro-
maconha nos Estados Unidos passa dos
geográficas, passam pela fragilidade da dutor múltiplo, pois também processa e
20 milhões de pessoas, enquanto 8 a 20
autoridade do Estado, incluem a rede de refina a pasta originada do Peru e da
milhões consomem cocaína e o número de
apoio financeiro e chegam até o desen- Bolívia, controlando, desta maneira, a
dependentes de heroína chega a 500 mil.
volvimento tecnológico e organizativo totalidade do ciclo coca-cocaína (produ-
O mercado do tráfico de drogas nos
para a produção dos narcóticos. ção do cloridrato de cocaína, a partir da
anos oitenta movimenta aproximadamente
Na Bolívia e Peru operam os grandes folha de coca). Os traficantes colombia -
100 bilhões de dólares, nos Estados
produtores de pasta de coca, que tam- nos também financiam e organizam as
Unidos, e rende aos pafses produtores da
bém a refinam. No México, Colômbia, redes de produção de drogas nos outros
América Latina mais divisas que a
Jamaica e algumas ilhas caribenhas es- países da América Latina e são os prin -
exportação de seus produtos tradicionais.
10 - terceiro mundo
Da produção da
folha da coca
ao refinamento
e consumo: um
processo complexo
que gera enormes
- .. fortunas para
os traficantes
de droga
cipais distribuidores para os Estados Latina com os Estados Unidos, com ex- especializa r-se na exploração e poste-
Unidos. A Colômbia tornou-se a porta pressivas implicações de ordem estraté- rior exportação de produtos primários.
de entrada ao mercado norte-america- gica e de segurança nacional e coletiva.
no. Po r isso, tratar o problema como sim- 1ndústria sem chaminé
As Bahamas, com suas 700 ilhas, e ples questão policial é uma simplifica-
algumas outras regiões do Caribe são ção grosseira que desconhece sua com- O Peru, Bolívia e Colômbia, em bora
um estratégico centro de apoio para a plexa realidade. O narcotráfico, na sua tenham desenvolvido setores industriais
entrada de entorpecentes no mercado ve rdadeira dimensão, é um problema em pequena escala, continuam países
norte-americano, dadas _as condições econômico, social e político, de signi fi - especializados na produção de mi nérios
geográficas, que proporcionam exce- cação transnacional, q ue desequilibra o (Peru e Bolívia) e café (Colômbia). Seus
lente infra-estrutura ao tráfico. Estado e a sociedade latino-americanos. sistemas produtivos ainda gi ram em
Neste final de século, o narcotráfico A divisão internacional do trabalho torno do ciclo de algum produto p rimá-
t ransformou-se num dos eixos mais atribuiu às economias latino-america- rio, no qual o país possui van tagens
importantes nas relações da América nas, desde o século passado, a tarefa de comparativas.
O caso boliviano é um exemplo: sua americana, a qual, de maneira subterrâ- pulações locais, em termos relativos. Os
história econômica está associada aos nea, se incorporou ao padrão de repro- produtores de folhas de coca, assim
ciclos de diferentes matérias-primas dução do capital. como a mão-de-obra empregada na
minerais. Com a chegada dos coloniza- Sem dúvida, para tanto atuaram fa- produção da pasta, melhoraram de nível
dores espanhóis, iniciou-se o ciclo da tores de ordem estrutural e conjuntural. de renda, em comparação com os
prata, tornando lendária a cidade de A produção de drogas surgiu com plantadores de produtos tradicionais. A
Potosí, onde se situava a mais impor- maior intensidade em Estados de es- produção agrícola destas regiões con-
tante mina de prata do continente, no trutura pouco consolidada, que têm por centra-se cada vez mais no cultivo de
período. Já no início do século XX, co- isso, presença débil na economia e na folhas de coca e maconha, e observa-se
meça o ciclo do estanho - com ele sur- sociedade. certa tendência à substituição dos culti-
gem os poderosos "barões do estanho" Foi uma indústria estimulada pelo vos tradicionais.
Patino, Hochschild e Aramayo, os quais vertiginoso crescimento do mercado Milhares de famílias camponesas
foram expropriados pela revolução po- externo, especialmente depois da participam do cultivo de folhas de coca.
pular de 1952, realiza& sob o comando guerra do Vietnã, que proporcionou tu- Na Bolívia, estima-se que 300 mil pes-
soas estão envolvidas no circuito da
produção e tráfico, entre produtores da
folha, uma variedade de intermediários
financeiros e comerc1a1s, qu1m1cos,
guarda-costas, pilotos e a própria mão-
de-obra ou pé-de-obra, pois muitos fa-
zem a tarefa de pisar as folhas, na fase
da mistura com os produtos químicos,
como acetona e querosene.
Os recursos gerados pela produção
de cocaína afetam significativamente a
demanda agregada nacional, especial-
me8te quando o sistema produtivo tra-
dicional está em recessão, como no caso
da Bolívia. A indústria de cocaína, em-
bora concentre a riqueza, propicia uma
rede informal, paralela e clandestina de
Na Colômbia, um dos componentes da violência é a guerra entre os narcotraficantes distribuição de renda, o que provoca
mudanças no perfil do consumidor e
do Movimento Nacionalista Revolucio- cros fantásticos, pelo seu alto conteúdo afeta, direta e indiretamente, o cresci-
nário-MNR, passando o controle da ex- de valor agregado. As altas taxas de mento do consumo de bens e serviços,
tração do estanho para as mãos do Es- retorno provocaram sua rápida expan- em especial de bens supérfluos.
tado. são em menos de dez anos, coincidindo
No final da década de 70, o ciclo do com a etapa em que o sistema produti- Economia invisível
estanho praticamente se esgotara, como vo tradicional começava a entrar em cri-
consequência da catastrófica situação se profunda. Calcula-se que a produção e o tráfi-
dos preços das matérias-primas e como co, nas diferentes etapas, injetam na
resultado de sua substituição, como in- Ilhas de prosperidade economia boliviana aproximadamente
sumo, por materiais sintéticos. 600 milhões de dólares por ano. A pro-
Apesar de diferenças importantes, a A produção de drogas modificou dução de drogas na América Latina está
evolução das economias dos países lati- substancialmente as economias bolivia- intimamente associada à economia in-
no-americanos produtores de drogas, na, peruana e colombiana (particular- formal, esse conjunto de atividades le-
na sua tendência mais global, se asse- mente o norte da costa colombiana; a gais e ilegais que não se registram nas
melharam à situação boliviana. área de Tingo María, na Amazônia pe- contas nacionais e que, por isso, esca -
Podemos dizer que a decadência dos ruana; as regiões de Santa Ana de Ya- pam às disposições emanadas da auto-
ciclos anteriores de produção de pro- cuma e Chapare, na Bolívia, e Culiacán, ridade econômica. A violenta crise eco-
dutos primários provocou, nos últimos no México). com reflexos sobre a eco- nômica dos anos 80 levou as estruturas
20 anos, sua substituição pela produção nomia regional. formais a não responder às exigências
de cocaína e maconha, dando origem a O narcotráfico converteu estas re- da população, motivando desta forma a
novo ciclo, desta vez associado às dro- giões em enclaves de prosperidade eco- economia informal: nasceu assim o em-
gas. A afirmação pode parecer forte, nômica, porque, embora tenha concen- prego informal, o comércio especulati-
mas serve para ressaltar a importância trado a renda nas mãos de alguns pou- vo, a poupança e o financiamento in-
desta nova indústria na economia latino- cos, melhorou o nível de vida das po- formal, o contrabando, a evasão fiscal, a
12 - terceiro mundo
MATERIA DE CAPA
Territórios livres
na para Peru, Bolívia, Colômbia e o Mé- girar em torno da destruição das planta-
xico. As preocupações de Washington ções de coca e da preparação de forças
com o crescente aumento da produção repressivas locais (força policial anti-
de cocaina remontam a meados da dé- drogas, autodenominada "Leopardos").
cada de 70, mas é só a partir de 1980 Entretanto, a implementação desta es-
que o governo norte-americano passa a tratégia de combate ao narcotráfico se
adotar uma posição explícita e de en- via dificultada pelo distanciamento nas
volvimento direto no combate às dro- relações dos Estados Unidos com a Bo-
gas. lívia, nos primeiros meses do governo
Em julho de 1980, o general Luiz democrático.
Garcia Meza e o coronel Arce Gómez - O governo Siles Zuazo, apoiado por
ambos acusados pela DEA-American uma coalizão de centro-esquerda, havia
Drug Enforcement Administration de optado, nas suas relações externas, por
estarem umbilicalmente comprometi- um neutralismo independente, próximo
dos com o tráfico de·cocaina - tomam o de uma posição terceiro-mundista, que
poder na Bolívia através de um violento buscava manter equidistância frente às
golpe de estado. Diante da situação, o duas superpotências. Por outro lado, a
governo norte-americano suspendeu nível interno, tratava de fazer frente à
Prisões nem sempre afetam as quadrilhas toda a ajuda militar e civil à Bohv1a e re- grave crise económico-social, fugindo
tirou o embaixador em La Paz. As rela- do receituário do FMI. Esta opção de
estabelecendo territónos livres. Desta ções entre ambos os países só voltaram autonomia relativa, tanto na política
mane ra, os Estados boliviano e colom- à normalidade com o retorno da institu- externa como na interna, e a presença
biano são questionados em sua própria cionalidade democrática, em 1982, de ministros comunistas no gabinete
essência: a territorialidade. quando assumiu o poder Hernán Siles eram vistas com desconfiança e apreen-
A divisão político-administrativa Zuazo. Pouco depois, os Estados Uni- são no Departamento de Estado norte-
criada pela nação é substituída por zo- dos nomearam, como seu embaixador americano.
em La Paz, o diplomata Edwin Corr, que No entanto, o governo Reagan se en-
nas produtoras de drogas, divididas de
acordo com os interesses da máfia e já havia colaborado na política norte- contrava frente a um dilema: ou apoiava
americana de combate às drogas no econômica e diplomaticamente o com-
onde as leis, a autoridade e até mesmo
a moeda nacional não têm validade. O Peru. Sua missão central era acabar bate ao comércio de cocaína, reconhe-
com a produção e o tráfico de cocaína. cendo e legitimando assim a posição
Estado, além de perder o controle sobre
A administração Reagan entendia "independente" da política externa do
a economia, vê questionadas a sua he-
q e a uta contra o narcotráfico deveria governo de centro-esquerda de Siles,
gemonia, a legitimidade e a autoridade.
Os barões da cocaína intervêm na
política dos países produtores, indepen-·
dentemente do sistema de governo, e
tanto podem financiar campanhas elei-
torais de governadores, senadores e
deputados, como maquinar golpes de
Na rota da droga
estado, cujos tristes exemplos são ainda
recentes, como na Bolívia e Colômbia. A apreensão de 590 quilos de sendo, antes de mais nada, um país
Desta forma, a indústria da cocaína deu D cocaína pura, descobertos em de trânsito para os entorpecentes.
Como o problema é relativamente
origem a empresários-delinquentes, dois caminhões estacionados no
narcopolíticos, narcoguerrilheiros e au- centro de Buenos Aires, em meados novo, a polícia ainda estã se organi-
toridades militares corruptas, que con- de julho, levou a polícia argentina a zando para enfrentá-lo. Para isso
vivem com a fome e a probreza de seus acreditar que desarticulou uma cone- conta com ajuda externa. Neste ano,
povos. xão da droga. Foi o maior carrega- já recebeu dos Estados Unidos cerca
mento já descoberto na Argentina de 250 mil dólares para a compra de
Um eixo nas relações com os EUA e resultou de uma longa investiga- veículos e equipamentos, inclusive
ção. O país registra um índice de to- um computador, que se destinará
A problemática do narcotráfico tor- xicomanias ainda baixo, mas cres- a formar um banco de dados especí- li
nou-se um dos eixos contemporâneos cente, e transformou-se numa rota fico sobre o narcotráfico. Outros 360
mais importantes das relações entre a alternativa importante para os nar- milhões de dólares serão dados pelos li
América Latina e os Estados Unidos. cotraficantes. A pequena dimensão Estados Unidos para que a Argentina
Para a administração Reagan, o com- do mercado interno leva a polícia ·a reforce o patrulhamento na fronteira
bate ao narcotráfico converteu-se num acreditar que a Argentina continua com a Bolívia.
dos temas chaves de sua política exter-
14 - terceiro mundo
MATÉRIA DE CAPA
ou retardava o
combate ao tráfico
rfe drogas, expon-
do-se internam ente
Destruir as
a pressões desgas-
tarloras por parte
rla sociedade norte-
americana em geral e, em pa rt icu lar, do
plantações
Partido Democrata. O camin ho encon- O governo da Bolívia anunciou a
trado pelos Estados U nidos foi o de D destin-eção de 150 milhões de
pressionar o governo Siles Zuazo, mas dólares para financiar a erradicação
sem fornecer ajuda econômica substan- de plantações de coca. O dinheiro
cial. provém de fontes nacionais e inter-
Com efeito, em agosto de 1983 a nacionais e será utilizado em diver-
administração Reagan desti nou a quan- sos projetos de reconversão agrícola Campos de coca surgem em plena selva
tia de 2,5 mil hões de dólares, para os e desenvolvimento rural, em zonas
primeiros 18 meses do programa anti- que progressivamente erradicarem O presidente da Comissão de Luta
drogas, o equivalente a 1% da a1uda mi- plantações de coca. O anúncio do contra o Narcotráfico, da câmara de
litar concedida a EI Salvador e uma plano foi feito pelo Ministro de As- deputados da Bolívia, Guido Cama -
quantia ridícula, se comparada com os suntos Agrários, Guillermo Justinia- cho, afirmou que se definirá como
recu rsos mobi lizados pelos traficantes. no, em julho. zona legal de plantação de coca -
Em agosto de 1984, atendendo a no- A eliminação dos cultivos se pro- com um máximo de 12 mil hectares-
vas pressões norte-americanas, o go- cessará a um ritmo de cinco mil a ª zona semitropical de los Yungas
verno boliviano ocupou militarmente o oito mil hectares por ano. Lavouras de La Paz. A reg ião do Chapare de
Chapare tropical, no Departamento de de outros produtos agrícolas ocupa- Cochabamba será uma área de tran-
Cochabamba, conhecida zona de produ- rão as áreas livres, seguindo o Plano sição, para substituir a coca com a
ção de cocaína. A operação visava a de- Integral de Desenvolvimento Alter- aplicação do plano Pidas e receberá
sativar várias destilarias da droga e nativo e Substituição-Pidas. grande parte dos recursos interna-
prender os principais narcotraficantes Os projetos contarão com recur- cionais. Nos demais sete departa-
locais. Foi um fracasso, uma vez que sos provenientes das Nações Unidas, mentos do país, os cultivas serão de-
encontrou as fábricas abandonadas e através do Fundo para a Fiscalização clarados ilegais e destruídos no prazo
não prendeu nenhum traficante impor- do Abuso da Droga-Unfdac, além da de um ano, pela força. Os plantado-
tante. Comunidade Econômica Européia, res disporão de um período inicial de
Agência para o Desenvolvimento In- trégua, para que destruam volunta-
Visão equivocada ternacional, dos Estados Unidos- riamente a lavoura, entrem em acor-
Usawd, e dos governos da Grã- Bre- do com o governo e recebam uma
O erro básico de percepção da políti- tanha, Holanda e Finlândia. Os pro- indenização.
ca externa de Washington é o de isolar a jetos podem ser executados, pois Como experiência-piloto, 26 co-
problemática do tráfico de cocaína de contam com o respaldo da lei apro - munidades camponesas da região de
seu contexto econômico e social. vada, em julho, pelo parlamento, es- Coroico, a 110 quilómetros de La
Da mesma maneira que, na América tipulando a redução da semeadura Paz, firmaram convênios, com base
Central, as lutas de libertação naciona l de coca no país. A lei reduz de 60 mil no projeto Agroyungas, e abriram
são vistas pelos Estados Unidos sob a a 12 mil hectares as plantações le- mão de ampliar suas plantações, em
ótica do confronto com a União Soviéti- gais. troca da substituição das já existentes
ca, sem enfocar suas causas estrut urais A Central Operária Boliviana- por lavouras de café e cítricos, pe-
internas, o caso do narcotráfico é perce- COB, que representa 80 mil campo- cuária, produção de mel e piscicul-
bido apenas como uma questao policial: neses, anunciou que apóia a lei, mas tura.
daí a ênfase dada ao combate da oferta advertiu que nela há aspectos que O projeto conta com 22 milhões
fina l do produto, via repressão. farão subsistir tensões entre os pro- de dólares das Nações Unidas. Cam-
No dia 6 de agosto de 1985, realizou- dutores rurais da folha. Os sindica - poneses de Minachi já produzem mel
se a primeira mudança de governo da listas querem que se garanta inte- e cera, depois de seguirem um curso
era democrática. O velho líder do Mo- gralmente a substituição da econo- sobre criação de abelhas e de rece-
vime nto Nacionalista Revolucioná ri o- mia da coca, que representa cerca de berem todos os implementos neces-
MNR, Victor Paz Estenssoro, assum iu o 200 milhões de dólares anuais e be- sários, através de um sistema de cré-
poder e montou o seu esquema de go- neficia a 500 mil pessoas, que sobre- dito especial, que permite o paga-
verno sobre dois eixos. na área política, vivem dessa "economia informal". mento em produtos.
a necessidade de uma aliança, o "Pacto
1988- Nº 113
terceiro mundo - 15
MATÉRIA DE CAPA DRO(; \.\
pela Democracia", com a direitista Ação bilização da taxa de câmbio (que possi- norte-americanos, em sua primeira
Democrática Nacionalista-ADN, do ex- bilitou a reversão das expectativas infla- missão "policial". O ohJetivo explicita-
ditador general Hugo Banzer cionárias dos agentes econômicos), o do: combater o narcotráfico. Segundo a
(1971-1978); na área econômica, sus- incremento das reservas em dólares e a Casa Branca, o envio de tropas foi soli-
tenta-se numa política econômica de repatriação de capitais de origem duvi- citado pelo presidente boliviano Victor
corte neoliberal, que congelou salários, dosa, que tmham sido remetidos para o Paz Estenssoro, para que colaborassem
liberou todos os preços, abriu a econo- exterior. com as forças policiais locais na luta
mia, retirou subsídios e descentralizou e Inaugurou-se, neste conte to, nova contra o narcotrM1co.
paralisou empresas estatais. Uma pollt1- fase nas relações boliviano-estaduni- O conceito de "segurança nacional"
ca econômica calcada no receituário do denses, marcada pelo sinal do entendi- foi utilizado, mais uma vez, para 1ustif1-
FMI, que conseguiu frear a hiperinfla- mento. car a operação na Bolívia, num sentido
ção, embora a um custo social elevado. mais amplo do que quando surgiu, ao
Paz Estenssoro soube lidar de form~ Segurança: conceito flex1vel final da li Guerra Mundial, quando foi
nteligente com o narcotráfico, uma vez definido como uma estratégia para en-
que o incorporou sut1lmente ao pro- Dentro da cruzada contra o narcotrá- frentar o comunismo ,ntemac,onal.
grama de estabilização econômica, atra- fico reahzada pela administração Rea- O envio de tropas norte-amencanas,
vés da assimilação dos "coca-dólares" gan, a intervenção militar limitada na no entanto, tem objetivos políticos
ao s stema financeiro e econômico. Para Bolívia, em 1ulho de 1986, constitui o maiores, pouco relacionados com a se-
gurança nacional boliviana. A nlvel in-
terno, o governo Reagan visava a neu-
tralizar pressões dos democratas, num
no de eleições legislativas. A nível ex-
terno, tratava-se de submeter a um
teste a reação da opinião pública inter-
nacional, em especial dos povos e go-
vernos latino-americanos, quanto à pre-
sença de tropas norte-americanas no
continente.
Dentro da lógica da segurança nacio-
nal que orienta os norte-amencanos,
o traficante e o guerrilheiro de esquerda
podem ser considerados "equivalen-
tes": ambos. nas palavras de uma fonte
Honduras Coronel Leonidas A rias e Juan R anón Matta vinculados ao Cartel de Medellln oficial dos EUA, "desestabilizam nossos
aliados democráticos", sendo que os
tanto, decretou a livre conversão dos ponto mais ousado, ao lado dos acordos traficantes o fazem "através da corrup-
dólares em pesos bolivianos e a taxa de estabelecidos com o México para refor- ção das instituições polít1co-1urídicas".
câmbio foi deixada às leis da oferta e da çar os controles nas fronteiras de ambos Esse obJetivo comum é o que justifica as
procura, com monitoramento à distân- países e da a1uda militar e econômica ao reiteradas acusações de Washington -
cia por parte do Banco Central da Bolí- Peru. nunca comprovadas - de que existem
via. Por outro lado, declarou-se anistia Em abril de 1986, 250 soldados do vínculos entre os narcotraficantes e al-
tnbutária, mediante o pagamento de exército norte-americano participaram guns grupos guerrilheiros que atuam na
um "imposto especial de regularização de exercícios militares com as forças América Latina. De tais acusações, o
fiscal", pelo qual, uma vez feito o pa- armadas bolivianas, em uma operação único dado comprovável é que os ba-
gamento de valores equivalentes a 3% chamada "Força Unida", sob comando rões do narcotráfico enfeitam sua ativi-
do patrimônio das pessoas naturais e do coronel B. Utter e respondendo à dade com uma pretensa ideologia na-
1uríd1cas, consideravam-se regulariza- condução e planejamento do comando cionalista e antiimperialista. Segundo tal
dos todos os débitos com a receita fe- sul dos EUA, chefiado pelo general postura, o copioso tráfico para os Esta-
deral, a qual não poderia, posterior- John Galvin, o mesmo que supervisio- dos Unidos se justificaria, pois "os nar-
mente, fiscalizar ou exigir o pagamento nou os exercícios entre militares argen- cóticos representam, no continente, tal
de impostos dos exercícios fiscais pas- tinos e norte-americanos, conhecidos como o petróleo para os países árabes,
sados. como "Mesa de Areia", e foi responsá- uma arma de libertação da América La-
A primeira medida facilitou a recicla- vel pelas manobras hondurenho-norte- tina e de destruição interna dos Estados
gem e incorporação dos "coca-dólares" americanas na fronteira com a Nicará- Unidos."
ao sistema financeiro, e a segunda gua e pelo abastecimento aos "contras". A militari1ação da repressão ao nar-
ocultou a origem das fortunas ilegais. O Em julho de 1986, pela segunda vez, cotráfico, no entanto, foi um ataque
resultado destas medidas foram a esta- desembarcam na Bolívia 170 soldados apenas parcial ao seu poderio interna-
MATÉRIA OE CAPA DROGAS
cio nal e os resulta- cano é imediatista, dá ênfase excessiva do interior da Colômbia, assassinado
dos foram de curta ao lado da oferta do produto e não leva pelos traficantes.
duração. Após em consideração as implicações sociais A internac,onalização das responsabili-
quatro meses em e econômicas que adquiriu o narcotráfi- dades visa a formar uma frente de ação,
território boliviano, co. Baseia-se no preparo das forças re- inspirada em princípios das Nações
as tropas norte- pressivas, no desenvolvimento de her- Unidas, para a solução dos problemas
americanas desati- bicidas para o extermínio das planta- sociais e humanos que se escondem no
laboratórios, localizaram 24 ções de coca e maconha, e no apoio da tráfico de drogas. O governo boliviano
pontos de embarque, sobrevoaram ou DEA. Uma resposta a este erro de per- entende que a questão envolve países
patrulharam 256 locais suspeitos e fez o cepção foi dada pelo ex-presidente boli- produtores e consumidores, pois "não é
preço da tonelada de folha de coca des- viano Walter Guevara Arce, segundo o razoável atribuir a principal responsabi-
pencar para 10 dólares, dada a pouca qual "enquanto houver em qualquer lidade da luta contra esta atividade aos
demanda pela matéria-prima. Tais re- parte do mundo - de preferência nos países produtores, quando se sabe que
sultados são questionáveis, uma vez Estados Unidos - alguém disposto a a produção está em função da demanda
que todos os laboratórios "desativados" pagar por cocaína, sempre haverá al- das nações consumidoras".
se encontravam já praticamente aban- guém, em alguma parte do mundo (de A cooperação econômica encerra a
donados antes de chegarem as tropas preferência na Bolívia), disposto a pro- estratégia boliviana, para que o com-
boliviano- norte-americanas. duzi-la e comercializá-la". bate ao narcotráfico se realize dentro de
um projeto global de desenvolvimento
Precedente perigoso Campanha internacional econômico do país produtor. Neste
sentido, em outubro de 1986, uma co-
As várias operações mencionadas Em face dos magros resultados da missão boliviano-norte-americana ela-
pela embaixada não resultaram em pri- militarização da luta contra as drogas, o borou um "plano trienal" contra o co-
são de qualquer narcotraficante impor- governo conservador de Paz Estenssoro mércio ilegal de cocaína, com as se-
tante. Um fato revelador da pouca eficá- optou por um caminho de combate ao guintes fases: a) fortalecimento e mora-
cia da militarização da repressão contra narcotráfico, através de ativa campanha lização da polícia boliviana; bl subst1tu1-
o narcotráfico foi o assassinato de uma internacional e de uma visão mais glo- ção e redução dos cultives; c) implanta-
missão científica, encabeçada pelo bo- bal da problemática. Três idéias-força - ção de um plano integral de desenvol-
tânico Noel K. Mercado, na Serra de luta continental, responsabilidade inter- vimento econômico.
Huanchaca, perto do local onde se en- nacional, cooperação econômica Deste plano trienal, os dois últimos
contrava a maior fábrica de cocaína da transparecem na ação do ministério de pontos são os mais difíceis de imple-
região. A DEA e os comandos militares Relações Exteriores boliviano. mentação.
tinham conhecimento da presença dos A contínentalização da luta já inclui um Na Bolívia, existem entre 60 e 70 mil
cientistas na área, segundo denúncia da convênio entre os países do Pacto An- famílias de camponeses, que com o pla-
Comissão Parlamentar encarregada da dino, para pôr em prática uma estraté- no substituiriam seus cultives de folha
investigação do caso. Tanto a DEA, gia comum para o combate ao tráfico de de coca por plantações de batata, cacau,
quanto os chefes militares norte-ameri- entorpecentes. O convênio tem o nome café e frutas. O plano trienal indenizaria
canos ocultaram informações a orga- de Rodrigo Lara Bonilla, o ex-ministro os produtores com 2 mil dólares por
nismos bolivianos e foram incapazes de
desativar o referido laboratório.
A facilidade da produção da pasta de
cocaína, a alta disponibilidade dos re-
cursos financeiros dos narcotraficantes
e as características da zona amazônica
possibilitaram o reinício da produção
semanas após a saída das tropas norte-
americanas.
Se foram poucos os resultados, em
termos de diminuição da produção de
drogas, a presença militar norte-ameri-
cana criou um precedente perigoso nas
relaçoes dos Estados Unidos com a
América Latina, inaugurando uma nova
dimensão de pollt1ca externa, em que
Washington passa a assumir o papel de
policia internacional.
O programa antidrogas norte-ameri-
E
econômico, especialmente as dos Esta-
dos Unidos; entretanto, sua concretiza- ricano Ronald Reagan tenha
ção tropeça na visão imediatista e elei- qualificado a "guerra contra as
toreira da administração Reagan. drogas" realizada em sua gestão como
"uma história não contada de um êxito
Primeiro avanço dos norte-americanos", o tema das
drogas é a prime·ra preocupação dos
"A conferência internacional das Na- eleitores dos Estados Unidos, neste ano
ções Unidas sobre o uso indevido e o em que se escolherá o novo presidente.
tráfico ·lícito de drogas", realizada em O tema é o eixo central da campanha
Viena, Áustria, em julho de 1987, traçou presidencial de ambos partidos e ocupa
uma ação coletiva contra as drogas. lugar de destaque nos discursos de Mi-
O plano foi qualificado como amplo e chael Dukakis, George Bush e, logica-
multid"sciplinar e visa a atacar o narco- mente, no do próprio Reagan.
tráfico nas suas múltiplas modalidades e O congresso norte-americano, de-
etapas: redução da oferta e da deman- sesperado na busca de solução para o
da, maior controle do tráfico, reabilita- problema, aprovou, por 83 votos contra
ção dos viciados, controle dos insumos 6, lei que dispõe a participação das for-
quím·cos utilizados para produzir dro- ças armadas na repressão e controle do
D roga: tema eleitoral nos Estados U nidos
gas, destruição de organizações de trafi- contrabando de drogas para os Estados
cantes e - objetivo mais importante - a Unidos. O senador pelo estado de Nova
substituição racional do cultivo de coca. Iorque Alfonso D' Amato e o presidente opositores da legalização do consu-
Reagan solicitaram a pena de morte mo de drogas. A discussão ocupa amplo
Para a Bolívia, por exemplo, a Grã-
Bretanha deu uma contribuição de 3,5 para os homicidas envolvidos com dro- espaço nos mais importantes meios de
gas. O delegado de alfândega Wiliam comunicação da sociedade norte-ameri-
milhões de dólares, e mais uma vez os
von Raab propôs, por seu lado, novas cana, os quais ressaltam a inutilidade e
EUA prometeram 75 milhões de dóla-
medjdas para colocar a nação em pé- o fracasso da "gJerra" de Reagan con-
res.
Um plano desta natureza, junto a de-guerra, implementando sua contro- tra as _drogas, demasiadamente inclina-
vertida política denominada "tolerância da a recorrer a métodos repressivos,
uma decidida ajuda econômica e forte
zero", que abrange desde a realização especialmente contra o Terceiro Mundo.
apoio político dos países produtores,
de manobras militares até a disputa A atual política de repressão ao narco-
intermediários e consumidores, parece
econômica, inundando o mercado com tráfico deixou de lado outros métodos
ser o caminho para a solução da pro-
"pseudo-drogas", que teriam por obje- mais efetivos, como a redução da de-
blemática do tráfico de drogas. Mas,
tivo desestabilizar os preços de venda manda dentro do território dos Estados
como esta solução torna-se viável ape-
dos tóxicos. Unidos, através da educação e do tra-
nas a longo prazo, as nossas análises
tamento voluntário do drogado.
das relações da América Latina com os
Estados Unidos e Europa deverão levar Guerra perdida É clara a necessidade de se fazer algo
- "qualquer coisa que seja efetiva", co-
em consideração esta "fase oculta". •
Enquanto isso, pela primeira vez em mo dizem alguns preocupados obser-
dez anos, abriu-se nos Estados Unidos vadores - contra as drogas e sua res-
* Pesquisador boliviano sobre o tema das drogas, reside
pectiva criminalidade, a qual se tornou
atualmente no Brasil e integra o corpo docente da Univer- um debate entre os partidários e os
sidade Federal do Rio de Janeiro.
18 - terceiro mundo
MATÉRIA DE CAPA
insuportável. Há dez re, Kurt Schmoke, na conferência nacio- demasiado tarde". Uma das saídas po-
anos, quando a úni- nal de prefeitos, em abril. Lá, surpreen-
deria ser, evidentemente, a legalização,
ca preocupação era dentemente, Schmoke pediu a abertura
ainda que Keating não o manifeste.
com a maconha, o de um debate nacional sobre a legaliza- É curioso que o mesmo argumento
problema das dro- ção das drogas, e repetiu a proposta
tenha sido colocado na primeira página
gas era encarado ante o congresso sobre a legalização editorial da revísta britânica "The Eco-
como apenas preo- das drogas, ocorrido na mesma época,
nomist", de 2 de abril, em relação à
cupante. O curioso do atual debate, en- quando recebeu o apoio de vários de- mudança da tática oficial quanto às dro-
tretanto, é a heterogeneidade dos parti- putados.
gas, considerando prioritária a inci-
dários da descriminalização do consu- O prefeito salientou a necessidade de dência dos narcodólares na estrutura fi.
mo: desiludidos ex-partidários da políti- se levar em conta os ensinamentos dei- nanceira global dos Estados Unidos.
ca de intolerância absoluta; economis- xados pela Lei Seca dentro da sociedade
tas, como o Prêmio Nobel Milton norte-americana, e convocou à "luta Ignorância co lossal
Friedman ou Peter Reuter, da Rand contra o império subterrâneo da droga,
Corporation; a instituição Diálogo lnte- através dos únicos meios que eles res- Sob uma perspectiva também eco-
ramericano, dirigida por Sol Linowitz e peitam· os do dinheiro". Schmoke frisou
nômica, mas com enfoque acadêmico e
Galo Plaza, ambos ex-funcionários da
O.E.A.: decanos de universidades, como
Lester Thurow, do Massachussets lns-
titute of Technology-MIT; acadêmicos
de reconhecida competência nas pes-
quisas sobre drogas, como Arnold Tre-
bach, diretor do Instituto sobre Drogas,
Criminalidade e Justiça, da Universida-
de Americana, ou Lester Grinspoon, de
Harvard, além de alguns partidários de
ideologias libertárias e esquerdistas.
Vê-se que o debate não tem envolvi-
do apenas integrantes das organizações
de consumidores de drogas, partidários
de sua legalização, mas também uma
série de representantes de todo o es-
pectro político norte-americano, que
está criando uma corrente de opinião
favorável à legalização, com diferentes
matizes e motivações. O denominador
comum, entretanto, é a constatação do
saldo deixado pela atual política de in-
tolerância: uma "guerra perdida", que Dukakis e Bush têm fei to reiteradas condenações ao tráfico de entorpecentes
serviu para aumentar os imensos lucros
dos traficantes, entupir as prisões com a necessidade de recuperar os lucros do consciente das consequências que a po-
consumidores dependentes do tóxico, tráfico de drogas, através da legalização. lítica de "guerra contra as drogas" teve
deixar áreas urbanas inteiras aterroriza- Existe, na proposta do prefeito de na política externa norte-americana,
das pelas quadrilhas, levar à violação Baltimore, o interesse de proteger a Lester C. Thurow, professor da Escola
dos direitos humanos na prática da re- economia norte-americana. Neste sen- de Administração do Massachussets
pressão e produzir uma política exterior tido, coincide, desde outra perspectiva, lnstitute of Technology-MIT, publicou
desvirtuada. com as declarações de Francis Keating, um violento artigo no "New York Ti-
secretário-assistente do Tesouro, publi- mes", em 8 de maio último, sob o título
Uma questão de finanças cadas no "Globe and Mail", de Toronto, de "A política de drogas dos Estados
em fins de abril. Sem ser partidário da Unidos: uma ignorância colossal".
Embora, no mundo acadêmico nor- legalização, Keating sustenta a necessi- Nele ponta que "aqueles que dirigem
te-americano Já venha de algum tempo dade de enfocar o tema das drogas sob nossa guerra contra as drogas não en-
a discussão sobre a legalização, e, ainda o ângulo das finanças: "É tal a quanti- tendem nada de economia, de história
antes e com mais intensidade, na Euro- dade de dinheiro que está desestabili- nem de culturas estrangeiras... Se a
pa e Canadá, o detonador da atual ce- zando a integridade das instituições fi. nossa meta é privar os criminosos dos
leuma nos Estados Unidos parece ter nanceiras dos Estados Unidos, que o grandes lucros que obtêm com o pro-
sido o discurso do prefeito de Baltimo- governo precisa atuar, antes que seja duto da venda de drogas, a teoria eco-
nôm1ca e a história ensinam que a única nalidade, que rodeia as drogas, produz mesmo tempo, os direitos constitucio-
resposta é a sua legalização". E acres- mais danos à sociedade do que o con- nais. São conscientes de que não exis-
centa: "As políticas antidrogas dos Es- sumo das mesmas. Os viciados caem na tem, na atuahdode, trabalhos acadêmi-
tados Unidos têm sido simplesmente criminalidade para financiar seus hábi- cos que sirvam como indicadores do
arrogantes. Em muitos lugares do tos e, dessa forma, se expandem a que aconteceria, caso o consumo de
mundo, os camponeses vêm cultivando prostituição, os assaltos e os roubos". drogos fosse legalizado, porque 1á se
maconha, ópio ou coca há séculos e, de Os que adotaram posições teóricas passaram dez anos de silêncio sobre o
repente, ordenamos que não plantem libertárias, como o psiquiatra Thomas assunto, sem financiamentos para a
aquilo que sempre cultivaram. Nós nun- Szasz, defendem, pelo seu lado, a lega- pesquisa. nem investimentos neste tipo
ca acataríamos uma exigência dessa lização, porque consideram que "o di- de política.
natureza para nossos produtores rurais. reito à liberdade das idéias tem como
Somos incapazes de persuadir a nossos correlatos os d1re1tos md1v1dua1s, na li- Os que se opõem
concidadãos para que deixem o consu- berdade para se fazer uso do corpo na
mo de drogas e, no entanto, nos consi- forma em que cada um considere mais Os opositores, como o administrador
deramos capazes de ordenar aos gover- conveniente, e não como determina o da OEA, John Lawn, definem que "as
nos estrangeiros que impeçam seus governo". drogas não são prejud1c1ais porque se-
camponeses de cultivá-las. As indústrias iam ilegais, mas são ilegais porque são
só desaparecem quando seus produtos A educacão dos consumidores pre1udiciais. Os que falam em legaliza-
nao têm demanda: assim, a única solu- ção defendem uma posição racista, pois
ção para o problema das drogas é não Um outro grupo, presidido por Ar- estão dispostos a condenar à morte as
consumi-las. As proibições ao cultivo nold S. Trebach. é formado por acadê- classes pobres". A produção legal e sua
que venhamos a impor no exterior micos e economistas que organizaram a venda, de acordo com eles, seria uma
constituirão uma simples Husáo". Drug Policy Foundat,on, em 1987, para ameaça à sociedade. Outros, como o
A critica ao sistema penal é outro ar- trabalhar na busca de políticas efetivas senador Alfonso D'Amato, afirmam que
gumento dos que defendem a legaliza- no tratamento do tema da droga, consi- "a legalização do consumo de drogas é
ção do consumo de drogas. Para eles, derando-se as liberdades constitucio- uma política imoral e perigosa, que au-
as leis que reprimem o tráfico e o con- nais. Os cientistas pensam que a aplica- mentaria o número de drogados e con-
sumo de entorpecentes criminalizaram ção da chamada política de "guerra verteria a sociedade norte-americana
uma área que é própria da saúde públi- contra as drogas" foi um desastre mun- em uma sociedade de zumbis".
ca. "Ao converter a droga em assunto dial, e querem desenvolver a investiga- Michel Rosenthal, presidente da
criminal, pioramos o problema", sus- ção, a educação e a informação pública, Phoenix House, um programa nacional
tenta a criminóloga de Nova Iorque. para demonstrar que os métodos pacífi- de reabilitação de viciados, diz que se
Georgette Bennett. E o economista cos são a única esperança para controlar aumentaria o consumo, com todas as
Milton Friedman observa que "a crimi- o abuso dos tóxicos, preservando-se, ao suas sequelas, criando "um exército de
pessoas fora de controle. Os que não Enquanto isso, como destaca a re- eventualmente alcança 75%, faixa que
consomem se beneficiariam, porque vista "Time", os partidários da legaliza- poderia tornar-se viciada em definitivo,
diminuiria o índice de criminalidade, ção oferecem quatro razões fundamen- se o consumo se tornasse legal; 2) a le-
enquanto que os viciados ficariam con- tais: 1) os 8 bilhões de dólares, que se galização poderia facilitar a venda de
denados a uma brutal luta solitária con- gastam anualmente em programas de drogas sintéticas ou derivadas, como
tra a dependência, o que é algo imoral e controle e repressão dentro dos Estados o crack, que gera dependência irreversí-
racista". O dr. Edward Senay, da Uni- Unidos, poderiam ser utilizados em vel, sem que existisse uma compreen-
versidade de Chicago, considera que se educação e atendimento médico, item são geral de seus efeitos perniciosos; 3)
trata de "uma experiência social muito que recebe menos de 500 milhões de os gastos em saúde causados pelo abu-
perigosa, que poderia ter consequências dólares por ano; 2) as vendas de cocaína so de drogas - estimados em 60 bilhões
desastrosas". e maconha representam uma renda de de dólares anuais - aumentariam; 4)
mais de 20 bilhões de dólares anuais remover as restrições legais poderia
20 bilhões de dólares para os chefões das drogas, que iriam à converter o consumo de drogas em um
falência com a legalização; 3) os consl,- hábito socialmente aceitável.
Charles Rangel, presidente da Co- midores norte-americanos geram lucros Nenhum dos lados, no entanto, está
missão Especial sobre o Abuso e Con- de 2 bilhões de dólares para os trafi- em condições, no presente momento,
trole de Drogas-SCNAC, do congresso cantes latino-americanos, cuja perse- de responder se a legalização reduziria a
norte-americano, opõe-se à legalização, guição afeta nossas relações com os criminalidade ou aumentaria a depen-
formulando uma série de perguntas: - países da região; 4) os programas de dência. Ao mesmo tempo, faz-se tam-
Oue drogas se permitiriam? Como se tratamento poderiam ser financiados bém necessário responder a uma per-
venderiam? Com receita médica nos com impostos sobre os entorpecentes, gunta crucial: o que acontece na socie-
hospitais e clínicas, ou em farmácias e semelhantes aos que existem sobre o dade norte-americana, para que tantos
supermercados? Haveria limites de ida- álcool e o fumo. cidadãos tenham que recorrer às drogas
de? Venda ilimitada ao consumidor ou Por sua vez, os opositores oferecem para existir? •
quantidades controladas? Como execu- também razões contra a legalização: 1)
tar um sistema desses?". As respostas drogas baratas e abundantes aumenta- * Rosa dei Olmo é uma destacada personahda<le den•·o
variam, de acordo com os vários parti- riam o vicio, pois, enquanto somente da criminologia latmo-americana, Prolossora da Universi-
dade de Caracas, frequentemente ensina em tnslllulOS e
dários da legali1ação, mas o debate mal 10% dos que bebem ficam dependentes, universidades eslrangeira s Atualmente nos Estados um.
dos, laz um sem,nãrio na Universidade George Washing-
está começando. a percentagem dos que usam drogas ton.
AMÉRICA LATINA ( Ili//
s vésperas de t entar prolongar a ditadura, o regime militar chileno enfrenta o repúdio popular à violencia governamental
Ocomplicado caminho
rumo à democracia
A organização do plebiscito para definir o futuro presidente gera participação e expectativa que podem selar
o destino da ditadura
22 - terceiro mundo
AM ÉRICA LATINA
Período raro
terceiro mundo - 23
AMÉRICA LATINA Cll!l.f:'
24 - terceiro mundo
AMÉRICA LATINA
Cessar- fogo,
o início do diálogo
A decisão da guerrilha de colocar em prática uma trégua
pode facilitar o reinício do dialogo com o governo, com a mediação
da Comissão Nacional de Reconciliação
Representantes
da URNG e do go-
verno de Vinício
Cerezo reuniram-se
em outubro do ano
passado em Madri,
nas primeiras nego-
ciações diretas en-
tre o Estado e a
guerrilha, depois de
27 anos de enfren-
tamentos. O movi-
mento insurgente
chegava à mesa de
negociações relati-
vamente fortalecido
no campo mili tar,
Grupos de defesa dos d ireit os humanos saem às ruas e reclamam justica ao govern o de Vin icio Cerezo (fot o menorl
enquanto o gover-
no o fazia empurra-
o processo de pacificação", afirmaram do pela pressão internacional.
A/do Gamboa porta-vozes da comissão, advertindo, Não houve acordo concreto, mas, a
entretanto, que o caminho a percorrer é partir de uma proposta da URNG, dis-
difícil e complexo. cutiu-se a necessidade de estabelecer
esde 1'! de julho vigora o cessar- Os comandantes da URNG propõem enlaces rápidos e secretos, como um
da
cessar-fogo
poderia ser levada
Espanha,
que,
a
na
cabo
Alemanha
Federal, Canadá e Brasil. Em relação ao
meio de comunicação entre ambos os
lados. O representante do governo, Ro -
berto Valle, sublinhou a necessidade de
acabar com a guerra, enquanto o co-
NG), mas que foi considerado uma me-
dida "oportuna" pelo governo de Viní- diálogo, o movimento armado estima mandante Rodrigo Asturias, chefe da
cio Cerezo. A secretaria de relações pú- que toda negociação deve partir da delegação guerrilheira, assinalou a ur-
blicas da presidência disse que "vê com premissa de que as causas históricas do gência de terminar com as causas que
bons olhos" a proposta da URNG "para conflito persistem e necessitam ser ana- lhe dão origem.
lisadas, para pôr fim ao derramamento As conversações de Madri se origi-
um diálogo através da Comissão Nacio-
de sangue. A URNG reivindica, assim naram do processo de negociação que
nal de Reconciliação-CNR", a qual tor-
se desenvolveu em toda a Amé rica
nou pública a decisão do comando da mesmo, seu reconhecimento como in-
terlocutor representativo e válido e a Central, impulsionado pelos acordos de
ag ru pação guerrilheira, que se dispôs a
continuidade das conversacões de ou- Esquipulas e, de certo modo, estavam
cessar as operações militares.
"Trata-se de um passo para se iniciar tubro de 1987 em Madri, Espanha. implícitas no compromisso assumido
26 - terceiro mundo
AMÉRICA LATINA
Procópio Mineiro
D esnuclearização
ARGENTINA
1988 - Nº 11 3
DESARMAMENTO ll'R \
aquilo que se eliminou não foi uma me- a fazer lobby pelo interesse público e
Nereida Daudt sa, um3 cadeira ou um telefone?", tem, como nenhuma outra entidade, a
questiona Sto-.e. qualificacão de dar uma perspectiva
científica ao Congresso norte-americano.
o participar da XII Conferêncin Em 1969, a FAS teve um papel muito
32 - terceiro mundo
Ilhas Nanshã em disputa .
A tensão aumenta ao sul do mar da China em torno de um arquipélago potencialmente rico em petróleo
A estrada inacabada
pais até Teknaf, na fronteira com a Bir-
mânia A maior parte do caminho é es-
treita e tem cinco travessias com barca-
ças, pois o delta do Ganges-Brahmapu-
Guerras e conflitos regionais somam -se à falta cfe algumas pontes para tra está constituído por braços excessi-
impedir a utilização dos 10 mil quilõmetros cfa Rocfovia Transasiatica vamente largos. para que se possa atra-
vessá-los com pontes convencionais
Nos anos 70, o segmento ocidental
Tabibul lslam cfa estrada transasiát1ca teve um movi-
mentado período, durante o qual intré-
picfos turistas europeus em busca de
m dos projetos socio-econõmi- aventuras viaiavam à lnd111 em seus Ji-
34 - terceiro mundo
Sem dúvida,
com toda seguranca.
Conta Azul Remunerada. para_sac.ar ou depositar. parecida com as oucras que estão
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200pág. Gil/Wally Salomão); Brucutu Wagner Tiso, Ney Matogrosso
E-161 Cz$ 850,00 (J.Degas/D. Corrêa); (;efsa Ro- e Assis Brasil redescobrem a obra
berto Guima); \ Quelé Meni- de Villa-Lobos. Uma recriação
COMO DIRIGIR UMA na (DJalma Luz); -·aisho-Koto desta obra-prima, a partir de ma-
EMPRESA: MICRO, : Djalma Corrêa). nuscrito inédito para piano re-
MÉDIA E GRANDE D-007 CZS 2.400,00 cém-descoberto no Museu Villa-
De: Roger Barkie e (WoR.14. Lobos. São as suftes Na Floresta,
.Josy Alzogaray RADAMÉS G N A f T A ~ CANTORIA Além da Floresta e um impro-
@NÇAMENTÉ]
80 pág. {Ao piano) ~ viso, unindo o piano Steinway aos
Com Elomar, Geraldo Azeve- modernos sintetizadores e sam-
E-167 CzS 800,00 plers. Participação especial de Ja-
Lado 1: Carinhoso (Pixin- do, Vital Farias e Xangai. Grava-
O VERÃO DOS guinha/João de Barro); Pon- do ao vivo no Teatro Castro Al- ques Morelenbaum (violoncelo) e
teio (Edu Lôbo/Capinam): Pre- ves, em Salvador. Jurirn Moreira (percussão).
PERSEG UIDOS D-002 CZS 2.300,00
ciso Aprender a Ser Só {Mar- Lado A: Novena (Geraldo
De: José Louzeiro cos/Paulo Sergio Valle); Corco-
300pág. Azevedo, Marcus Vinicius); Sete VILLA-VlOLÃO
vado(fom Jobim). Cantigas pan Voar (Vital Fa-
E-154 CzS 650,00 Lado 2: Chovendo na Ro- rias); Cantiga do Boi Incanta- Turibio Santos apresenta a
seira (fom Jobim); Manhã de do {Elomar); Kutubya {Cátia obra completa de Villa-Lobos
POLÍTICA DA REPRESSÃO Carnaval(Luiz Bonfá/Antonio de França); Ai que Saudade de
Força e Poder de uma Justiça para violão solo. Um dos acervos
Maria); Cochicho (Pixinguinha); Oca (Vital Farias); Ai d'Eu So- mais importantes do Século XX, o
de Classe Do Lago à Cachoein (Sergio dade (tradicional).
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ÃFRICA 1
, ,Í/R/(\\1\/I<\/
A
ONU, referente à independência da devido aos atrasos nos pagamentos de
~ó górdio das negociações entre Namíbia. alguns dos países-membros. Estados
Africa do Sul, Estados Unidos, Unidos, que sozinho é responsável por
Angola e Cuba, que começaram em Um bilhão de dólares um quarto do orçamento, está devendo
maio deste ano, em Londres - já é qua- às Nações Unidas mais de 400 milhões
se certa. O quase fica por conta das dú- Apesar de estar somente a uma se- de dólares. O secretário-geral Javier
vidas que podem merecer as autorida- mana das eleições norte-americanas, os Pérez de Cuellar - que por sua interven-
des de Pretór,ia em sua anunciada dis- meios diplomáticos estão certos de que ção mediadora no conflito da África
posição de se retirarem do território o calendário prosseguirá normalmente, Austral, na guerra entre Irã e o Iraque e
namibiano, finalmente, após 73 anos de independente do resultado das mesmas. no caso do Saara (ver t erceiro mun-
ocupação Rlilitar ilegal. Mas, o com- A resolução 435 prevê a realização de do n'l 112, "Sahara: A hora da negocia-
promisso está formalmente assumido: o eleições para a escolha de uma Assem- ção") está sendo visto como um forte
acordo de paz foi acertado em Genebra bléia Constituinte na Namíbia, sete me- candidato ao Prêmio Nobel da Paz -
no início de agosto, após várias discus- ses após a início da sua implementação, confia em que o papel decisivo da orga-
sões azedas da comitiva angolana com a sob a supervisão de 7.500 membros das nização mundial na conquista da paz,
delegação sul-africana, que insistia em Nações Unidas. Essa força também de- em tres regiões-chaves do Terceiro
apelar para manobras de última hora, verá supervisionar a retirada gradual Mundo, poderá ajudar a criar uma cons-
que por pouco não levam por água das tropas sul-africanas, infiltradas, se- ciência nos países que estão em atraso
abaixo os avanços, pacientemente cos- gundo informações militares, num raio com suas contribuições, para que atuali-
turados nas sucessivas rodadas de ne- de 300 quilômetros de território ango- zem os seus pagamentos.
gociação mediadas pela ONU. lano. O analista militar Helmut Romer
O cessar-fogo no Heitman, corres -
sul de Angola en- pondente da revista
trou em vigor a 8 de especializada Janés
agosto, após o Defense Weekly,
acordo a que se afama que 1.500
chegou em Gene- 1 soldados sul-africa-
bra. Sob os termos nos ainda estão ba-
dessa trégua, a seados perto de
África do Sul com- Cuito Cuanavale.
prometeu-se a re- Segundo ele, o
tirar todas as suas problema que ainda
tropas estacionadas resta resolver é a
em Angola, a partir retirada da artilha-
de 1'2 de setembro, ria sul-africana do
enquanto os gover - território angolano,
nos de Luanda e composta pelos ca-
Havana elaboram nhões G-5. Durante
um calendário oito meses, Cuito
aceitável para todas Cuanavale foi alvo
as partes - para a de bombardeios
retirada das forças por esses canhões
cubanas do territó- de longo alcance.
rio angolano. As Pelo acordo assina-
delegações concor - O chanceler Van Dunem (sem óculos) falou por Angola nas diversas negociações do, a saída militar
40 - terceiro mundo
ÁFRICA ANGOl,A - BRASIi.
A
cordialidade das relacões políticas pre-
proieto de cooperacão a médio e sentes. Países situados praticamente em
longo prazos, com o objetivo de frente um ao outro, de cada lado do
se incrementar a participacélo brasileira Atlântico Sul, Angola e Brasil tem inte-
nos programas de desenvolvimento da resse comum em criar na região
economiél angolana. O anúncio dessa clima de paz e desenvolvimento.
decisão foi feito em Brasília pelo minis-
tro angolélno Pedro de Castro Vari-Du- Pedro Van-D unem cooperacao avancacla Coincidência de interesses
nem, que esteve no Brasil por dois dias,
no início de Julho. Ambos os governos, embora com
Van-Dunem, ministro para o setor regimes políticos diferentes, são unâni-
produtivo, assistiu à assinatura do acor- mes em considerar o sistema do "a-
do de fornecimento de petróleo (20 mil partheid" da África do Sul como uma
barris/ dia) de Angola ao Brasil. Na das fontes de tensão. O Brasil tem clara·
mesma ocasião, foi assinado convênio posição de repúdio ao regime de_segre-
sobre a rolagem da parte principal da gação racial sul-africano, assim como
dívida angolana (63,5 milhões de dóla- aos constantes ataques de Pretória
res) e outros sobre a concessão de no- contra os Estados vizinhos, em especial
vos créditos brasileiros, no total de 235 Angola.
milhões de dólares (75 milhões, de curto Flecha de lima. potencial inesgotável Além das motivações históricas e po-
prazo, para bens de consumo, 60 mi- líticas, há razões econômicas na base do
lhões, de médio prazo, para máquinas e do Brasil de desempenhar um papel incremento das relações angolano-bra-
equipamentos, e 100 milhões a longo mais ativo, ainda que indireto, nas con- sileiras. Angola, cujos filhos, trazidos
prazo, para a barragem de Capanda, versações de paz do sudoeste africano, como escravos, contribuíram para o de-
que está sendo feita pela construtora bem como a vontade política do gover- senvolvimento do Brasil, quer agora
Norberto Odebrecht). Angola pagou ao no e dos empresários brasileiros de beneficiar-se desse desenvolvimento,
Brasil, referentes a estes acordos, 53,7 contribuírem para o desenvolvimento objetivando tornar-se um país à altura
milhões de dólares de juros e dos em- econômico do país impressionaram o da vastidão de seus recursos naturais.
préstimos a curto prazo, que venciam ministro angolano. De seu lado, o Brasil sabe da importân-
este ano. cia de Angola na África Austral, a região
Na capital brasileira, o ministrCJ an- Aprofundando a parceria mais rica do continente.
golano foi recebido pelo presidente da Mesmo sob um ponto de vista ime-
República interino, Ulysses Guimarães, "Criamos as condições para entrar diatista, o Brasil tem bons motivos para
que transmitiu a disposição do Brasil de em nova fase, mais avançada, da nossa apostar no relacionamento com Angola.
servir de local para as conversações so- cooperação", declarou Van-Dunem. Como assinalou o comunicado conjunto
bre a paz no sudoeste africano. O pro- Chamado pelo ministro brasileiro das divulgado depois do encontro entre Pe-
grama angolano-brasileiro de coopera- Relações Exteriores em exercício, Flecha dro Van-Dunem e Flecha de Lima, An-
ção de médio e longo prazos, disse Pe- de Lima, de "arquiteto das relações en- gola tem saldado os seus compromissos
dro Van-Dunem, deverá ficar pronto tre Brasil e Angola", o ministro angola- pontualmente.
antes da visita do presidente José Sar- no acha que os brasileiros têm tudo Produzindo 450 mil barris de petró-
ney a Angola, talvez em outubro. Em para serem os principais parceiros de leo e consumindo apenas 150 mil, o
setembro, terá lugar em Luanda um seu país. país, embora enfrente as agressões sul-
seminário com empresários brasileiros, Atualmente, o Brasil é o terceiro par- africanas, "é um risco aceitável", nas
para analisar as perspectivas de inves- ceiro comercial de Angola, depois dos palavras de Júlio Oshiro, gerente de fi-
timentos em Angola. Estados Unidos e de Portugal. Mas, o nanciamento da Cacex, citado pela im-
Os acertos financeiros, a disposição potencial de cooperação existente é prensa econômica. o
Umca dos Trabalhadores-CUT. Depois, tante do Partido. "Mas, trabalhamos em Cada setor, uma voz
AgoSlmho de Almeida Pinho, membro con1unto", assinala Pinho. E cita um
do secretariado-geral do Conselho exemplo: quando não há célula do Par- Em Angola, a organização da central
Central da União e secretário para Ad- tido no local de trabalho - hoJe em dia sindical é um pouco diferente da do
ministração e Finanças: N'zinga May são poucas as empresas que apresen- Brasil. A organização da Unta está ba-
Ekodi, diretor do Departamento Nacio- tam esse quadro -. a própria comissão seada nas representações trabalhistas
nal de Organização Sindical, e Camilo sindical explica aos trabalhadores o de cada área de produção. O movi-
Castelo Branco, chefe da Seção das programa do Partido e as metas que ele mento sindical (portanto a Unta), tem
Américas e Canadá, no Departamento pretende atingir. dez sindicatos que correspondem a dez
de Relações Internacionais da central "Em Angola, torna-se absurdo foca- ramos de atividades, explica Agostinho
smd cal, seguiram para o Uruguai. lizar a atividade sindical como instru- Pinho. Cada um tem representante no
Na redação de terceiro mundo, os mento reivindicativo, de pressão sobre órgão máximo do movimento sindical,
três dirigentes da Unta falaram sobre a o governo. O trabalhador não vai plei- no intervalo entre dois congressos dos
participação dos trabalhadores angola- tear para si próprio. Nossa ação sindical trabalhadores.
nos no programa de desenvolvimento é, pelo contrário, participativa. Os tra- A Constituição garante aos trabalha-
do país e sobre as relações do movi- balhadores engajam-se no programa do dores o direito de organização e de gre-
mento sindical com o Movimento Po- governo para ajudar a sua realização. Se ve que está regulamentado pela Lei
pular de libertação de Angola- as metas forem atingidas, o benefício é Sindical. Essa lei está sendo revisada,
MPLA/Partido do Trabalho. para toda a sociedade angolana". pois data do tempo do governo de tran-
"Quem está no poder em Angola são sição, anterior à independência. "De
os trabalhadores. Nosso governo é dos Debatendo a economia fato - assinala Pinho - o direito de gre-
trabalhadores", define Ago·stmho Pinho. ve existe, mas em Angola é muito difícil
Segundo o dirigente sindical, "as rela- Quanto à participação do operariado que uma greve venha a acontecer. Co-
ções entre a União Nacional dos Tra- na orientação da economia, Agostinho mo nós, trabalhadores, estamos de fato
42 - terceiro mundo
ÁFRICA
t erceiro mundo - 43
CULTURA 1
Relatos de um protagonista
chamam os cnchomnhos ', d11 C, be1as
Incentivado pela enorme repercussão do primeiro livro. o dirigente 'Não tem nome Tenho vários proIetos
sandinista Omar Cabezas conclui sua segunda obra mas nao me dec1cf1 Porque tem que re-
fletir o que aconteceu .. E às vezes me
soam tão mnl os t1tulos. que não en
Serg,o Ferran contro qual escolher No entanto, ao fi-
nal o tltulo terá ll ver com Cts coisas"
O hvro foi feito comhinnnrfo as gra-
Ivro testemunhal "A montanha vações - como no pnme1ro, com partes
44 - terceiro mundo
CULTURA 1 1 \ \/ \ \/)(1/:
A universidade popular
Em meio à guerra civil que lhe encolhe o orçamento, a principal
casa ~e estudos superiores salvadorenha implanta uma reforma
A/do Gamboa
A vitrine da história
O governo egípcio usa alta tecnologia para
Oriente Méd o, ao encontro das c1v1llza-
çocs eg1pcIa e helênira. ao nascimento
do cnstmnismo, ti influônc1n do lslfi, etc
Um setor especial estnrá destinado
reconstruir a biblioteca de Alexandria ao papel das c1ônc1ns na ant1gu1r1ade
Essa base de dados será nberta aos
s recursos tecnológicos mais pesquisadores do mundo inteiro, graças
O modernos de documentação, de
banco de dados e da informação
rao utilizados na reconstruçao da
mera biblioteca universal de Alexan-
a uma rede regional de serviços Ao
mesmo tempo, a biblioteca estará co-
nectadn aos centros e banros de dados
de todo o mundo cuias fontes de in-
r a por decisão do governo do Egito formaç o perm1trrão enriquecer seus
O novo centro documental, de 42 m 1 arquivos de computação. diariamente
met ros quadrados, será uma v1trine da No in cio do século XXI. o volume
tór e da cultura das c1v1llza oes fu hter rio deverá alcançar os oito milhões
t ras a imagem de sua congenere de de exemplares A maioria deles serll
o s rT' 1anos atrás tratada e armazenada cm sIstemns m
A biblioteca da antiguidade - a pri- formât1cos. como. por exemplo, os dis-
e ra biblioteca universal da história cos óucos numéricos (DON), capazes de
- fo construida no nic10 do século IV conter o equivalente a uma enciclopédia
ntes de Cristo, para "conservar os es- de vinte e cinco volumes A b blloteca
tas de todas as nações , e ao mesmo Alexandria riqueza cultural milenar con1ugarâ o papel a informática e o m1-
tempo para acolher os cientistas, flló- crof1lme. ainda que a busca das obras e
ofos e artistas do mundo mediterrâ- ram a pnmeIra pedra do futuro monu- os dados, assim como a escritura, se
neo Em pouco tempo, conseguiu obter mento arquitetônico em fins de 1unho. realizará quase exclusivamente por
pelo menos uma cópia de todas as O prédio vai estar concluído em 1995 raios laser Um pesqu1sacior ou um lei-
obras escritas em grego e traduções dos e poderá abrigar cerca de duas mil e tor poderá obter rapidamente o que
mais importantes manuscritos em ou- quinhentas pessoas publico, pesquisa- buscam. consultando as fichas digitadas
tras hnguas dores e c1entrstas de todo o mundo. em através de um terminal, e reproduzir em
Os barcos que transitavam pelo ótimas cond1çoes. Ao mesmo tempo, discos a obra selecionada. Poderá tam-
ort.o de Alexandria estavam obrigados permitirá a restauração e consulta de bém v1suahzar o documento de referên-
emprestar seus rolos de papiro ma- manuscritos originais medievais. amea- cia, em tela de alta qualidade, e repro-
nuscrito, para que os conservadores da çados de destruição duzi-lo em papel com impressor ele-
b blloteca pudessem copiá-los. Assim. Com a finalidade de elaborar desde trofotográfico. O custo total do amh1c10-
no ano 50 a C., contavam-se cerca de Já um fundo editorial, as autoridades so proJeto é de 170 milhões de dólares,
532.800 manuscritos, class1f1cados e egípcias fizeram um chamamento, no financiados pelo Programa das Naçoes
conservados segundo métodos muito começo deste ano, a todos os editores Unidas para o Desenvolvimento (Pnud)
avançados para a época Entre eles se do mundo. para que enviem ao Conse- A Unesco lançou um apelo interna-
ncontrava o "Pinakes de Callamachus", lho Nacional Superior da Biblioteca de cional em 22 de outubro de 1987, com o
um catálogo que apresentava títulos dos Alexandria dois exemplares de cada obJetivo de a1udar as autonciades egíp-
livros, com seus respectivos autores e uma de suas obras artísticas e científi- cias a obterem os fundos necessários,
incluía a análise de cada texto. Este pro- cas. ao mesmo tempo que empreendeu um
cedimento deu origem às fichas exis- estudo de viabilidade. Um concurso tn·
tentes ho1e em dia nas bibliotecas de Modernos sistemas de teletransmissão ternacional de arquitetura, por um
todo o mundo. Dois graves incêndios. montante de 500 mil dólares, será lan-
nos séculos Ili e IV d.C., destruíram essa No futuro, os editores poderão en- çado pela agência, Junto com a União
importante obra helênica. Salvaram-se viar os originais diretamente por tele- Internacional de Arquitetos. e financia-
apenas alguns expoentes. graças a tra- transmissão e de um computador a ou- do pelo Programa das Naçoes Unidas
duções feitas por poliglotas árabes tro, graças aos modernos sistemas de para o Desenvolvimento (Pnud).
telecomunicações previstos no pro1eto. O renascimento da ancestral bibliote-
A nova bibliot eca O complexo documental terá gestão ca perm1t1rá ao mundo clássico e con-
completamente informatr1ada e seus temporâneo deixarem seus rastros na
O presidente da República Árabe do catálogos serão progressivamente aces- "memória viva dos computadores", ao
Egito, Hosni Mubarak, e o diretor geral síveis, através de sistemas multidirecio- mesmo nível que a Livraria do Museu
da Organização das Naçoes Unidas para nais de telecomunicação. Um banco de Britânico, a Biblioteca Nacional France-
a Educação, a Ciência e a Cultura (Unes - dados armazenará e tratará as informa- sa ou a Livraria do Congresso America-
co), Federico Mayor Zaragoza, coloca - ções relativas à Grécia antiga e ao no, dos Estados Unidos. •
46 - terceiro mundo
O que fará o Brasil em S eul
São 167 atletas brasileiros e poucas chan-
ces de medalhas
O PODER p.48
A
de atletismo, bas-
centena de brasileiros e brasi-
quete e futebol.
leiras estarão na corrida do ouro Que não haja ne-
em Seul. Enquanto isso, aqui mesmo no cessidade de aten-
Brasil, milhões acompanharão os pas-
dimento médico
sos, os saltos, cestas, chutes e as corta-
para ninguém do
das, talvez impelidos pelo que será des-
boxe, ciclismo, es-
pejado em suas casas, graças ao pool grima, hipismo, ju-
das grandes redes de televisão que dô, levantamento
prometem, minuto a minuto, mostrar de peso, luta olím-
tudo o que está acontecendo nos XXIV pica, natação, remo
Jogos Olímpicos. ou vela: para acudi-
São 167 atletas brasileiros, dos quais
los só terão mesmo
33 mulheres, que, mesmo sabendo das os chefes de equi-
próprias limitações físicas e técnicas, pes, que são, na
tentarão galgar o tão sonhado pódio. verdade, presiden-
Eles sabem que os principais adversá- São raras medalhas, como as de Ricardo e Ronaldo Carvalho
tes de confedera-
rios são a falta de infra-estrutura espor-
Brasileiro (COB). presidido há mais de ções.
tiva no país e a vaidade de dirigentes
20 anos pelo major Sylvio de Magalhães Ao contrário do que prenuncia o pre-
que, por não terem autocrítica, se eter-
Padilha, poderiam seguir o exemplo da sidente do COB, outros esportes pode-
nizam no poder, perpetuando vícios e
China: o país asiático, com mais de um rão dar mais alguns pontos às tristes
erros antigos. estatísticas do Brasil na história das
Para a maioria dos 167 atletas, Seul bilhão de pessoas, levará uma delega-
ção de 460 atletas. E mais: o secretário- olimpíadas.
significa turismo. Nem o tão propalado
geral do Comitê Olímpico Chinês afirma
intercâmbio, utilizado como desculpa
que seu país quer ficar com a quinta Os medalháveis
para derrotas, pode ser invocado, já que
será difícil o confronto com os grandes colocação em número de medalhas.
Mais coerência do que a famosa sa- O país já participou de 14 olimpíadas,
astros, pois muitos dos nossos ficarão desde 1920, em Antuérpia, quando le-
no meio do caminho, perdidos nas fases piência. A China sabe onde deve dispu-
tar, o que pode ganhar e quantos atletas vou 32 pessoas. Sua menor delegação
classificatórias. Na verdade, O Brasil foi em Paris, nos Jogos de 1924: 13
exagera no preciosismo de levar tanta precisa levar para atingir o objetivo. Já
o Brasil, com verba da Loteria Esporti- atletas. Mesmo assim, o aproveitamen to
gente, sabendo que suas chances de pode ser considerado insuficiente para
va, transportará 2l esportes. E o próprio
medalhas são tão poucas. uma nação de dimensões continentais.
Os dirigentes do Comitê Olímpico major Padilha confessa que vê possibi-
ESPORTE OLPv!PÍADAS
De 1920 para cá, conseguimos apenas cordistas mundiais, européias e ameri- especialidade.
30 medalhas, sendo seis de ouro, sete canas, como Evelyn Ashford, Valerie Robson Caetano está em .plena for-
de prata e 17 de bronze. E, para Hooks, Marita Koch, keike Dreschler, ma. Este carioca de 23 anos ganhou os
obtêlas, o Brasil utilizou 1.568 atle- Tatiana Kazankhina, Ginka Zagorcheva, 100 e 200 metros rasos no meeting de
tas. Stefa Kostandinova, Maricica Puica e São Paulo, batendo três norte-america-
Talvez por isso o povo não demons- muitas outras. Soraya Telles, Angélica nos. Em Seul, ele vai medir forças com
tre tanto interesse. É claro que os índi- de Almeida e Claudiléia Santos devem os recordistas Carl Lewis (EUA), Ben
ces de audiência vão ao pico, pois uma ganhar experiência para outras compe- Johnson (Canadá), James Hines (EUA)
olimpíada é o clímax do que de melhor tições. .e Pietro Menea (Itália). Isso, porém, não
existe no mundo em cada esporte. Mas, Mas, o lado masculino pode faturar assusta Robson, que revela: "Sou hoje o
que ninguém espere ver o cidadão sen- alguma coisa. E as chances recaem na- melhor atleta do Brasil. Já passei dessa
tado na cadeira, copo de cerveja na mão queles que moram nos Estados Unidos, fase de ficar estudando atletas estran-
direita, bandeirinha na mão esquerda, graças a bolsas-de-estudo, e estão geiros. Por isso, se a medalha não bater
torcendo e gritando. Isso não aconteceu sempre disputando meetmgs com os no meu peito em Seul, não ficarei en-
antes e não seria agora que o cidadão melhores atletas do mundo. Isso dá vergonhado. Treino, luto e não vem um
dirigente para me dizer: cachorro, va-
leu'" E Robson conclui que Carl Lewis
só ganhou quatro medalhas, em Los
Angeles, porque os países socialistas
não foram aos jogos. "Sempre aparece
um cara novo para ganhar dos mais fa-
mosos. Desta vez, esse cara novo sou
eu", decreta.
Agberto Guimarães e Zequinha Bar-
bosa estarão na mesma prova de Joa-
quim Cruz. É até possível dar um trio
brasileiro no pódio, já que os dois vêm
obtendo excelentes resultados na Euro-
pa. Em Viarregio, Zequinha foi o pri-
meiro nos 800 metros, seguido de Ag-
berto. Eles chegaram à frente do sene-
galês Oupmane Diarra. Zequinha ainda
ficou com a medalha de prata no mee-
ting de São Paulo, perdendo para Mousa
Fal, do Senegal, e chegando na frente
do norte-americano Ocky Clark. Não
podemos descartar alguns atletas que
podem surpreender, como Adauto Do-
A musa Hortência não vai a Seul, mas o cestinha Oscar pode brilhar de novo mingues (5,000 metros) e Ivo Rodrigues,
que foi medalha de ouro na maratona
teria tais rompantes ufanistas. know-how, pois o intercâmbio e o co- de lndianápolis.
Mas, nem tudo está perdido. Pelo nhecimento da tática do adversário são
menos no terreno da hipótese. Temos as principais armas para se chegar à Basquetf
alguma chance nas seguintes modalida- medalha.
des: atletismo, basquete, boxe, futebol, Nesses casos estão Joaquim Cruz O Brasil de Oscar estréia nos Jogos
judô, luta olímpica, remo, natação, tênis (medalha de ouro nos 800 metros, nos Olímpicos de Seul contra o Canadá, dia
de mesa, vela e, com muito boa vonta- Jogos Olímpicos de Los Angeles), Ag- 17. Depois, pega a China (20). EUA (21).
de, o vôlei masculino e feminino. Fora berto Guimarães, Zequinha Barbosa e Egito (23) e Espanha (24). Desde os Jo-
desses esportes, se algum brasileiro ga- Robson Caetano. Cruz parece que vai gos Pan-Americanos de lndianápolis, o
nhar alguma coisa, vai ser fruto de seu partir para o bi olímpico. Em maio, ele basquete só tem dado alegrias ao bra-
próprio esforço ou sorte. Principal- derrotou o mitológico inglês Steve sileiro. Derrotou os Estados Unidos em
mente desta. Ovett, nos 1.500 metros. Depois, trei- casa e ficou com o ouro. No Pré-Olím-
nando nos Estados Unidos, teve pro- pico de maio, assombrou o Ginásio EI
Atletismo blemas alérgicos e foi obrigado a parar. Cilindro, em Motevidéu, conquistando o
No início de agosto, de volta às pistas, primeiro lugar ao derrotar, na final,
Ao que parece as mulheres não terão arrasou em Viarregio, Itália, ganhando Porto Rico por 101 a 92.
vez, porque se defrontarão com as re- nos 1.000 metros, prova que não é a sua Isto graças ao talento de Oscar, cha-
50 - terceiro mundo
ESPORTE OLH1PÍADAS
atleta a que ninguém dava a mínima com 4m05s45); e 800 metros livres - ele e os campeoníssimos dinamarque-
chance. Dos 16 nadadores que estarão 8m57s38 (o mundial é de Janete Evans, ses, suecos, norte-americanos, alemães
em Seul, pela lógica podemos apontar dos EUA, com 8m17s12). e soviéticos era a qualidade dos barcos.
como medalháveis Patrícia Amorim Depois de ganhar o sul-americano e o
(200/400/800 livres e revezamento), Cí- V ela pré-olímpico, Lars e Clínio partiram
cero T ortelli ( 100 metros peito/200 me- para a Europa com o barco novo. Com
tros peito), Cristiano Michelena (100, De 1980 para cá, já virou tradição o um patrocinador forte, que bancou 20
200 e 400 metros livre/1.500 reveza- Brasil conquistar medalhas na vela. Nas mil dólares para a construção de um
mento), e Jorge Fernandes (50 e 100 olimpíadas de Moscou, Marco Soares e barco competitivo, os dois foram para o
metros livres). Eduardo Penido ganharam o ouro na confronto.
Ricardo Prado já é ídolo nacional e classe 470. Alexander Welter e Lars O novo barco de Lars e Clínio, fabri-
todos o tratam por Pradinho. Ele com- Bjorskstrom, na classe totornado, tam- cado na Inglaterra, todo em fibra de vi-
pletou 23 anos no dia três de janeiro e bém levaram o ouro em 80. Torben dro, chama-se H202, que é, simples-
tem uma excelente bagagem interna- G rael, Daniel Adler e Ronaldo Senft pe- mente, a fórmula da água oxigenada.
cional, pois além de olimpíadas e pan- garam a prata na classe soling em 1984 Na recente excursão à Europa obtive-
americanos, já participou de campeo- e Rinald Conrad e Ficker, na classe ram dois segundos lugares: na Semana
natos mundiais e outras competições flying-dutchman obtiveram a medalha de Kiel (Alemanha) e num Torneio na
internacionais. No entanto, Ricardo de bronze em 1976. Suécia. O importante, nos dois casos, é
Prado não estará presente naquela que Em Seul, as grandes possibilidades qué chegaram na frente do campeão
seria sua terceira olimpíada. O nadador recaem para Torben Grael e Nélson Fal- mundial da modalidade.
brasileiro, especialista nos 200 metros cão, classe star; Lars Grael e Clínio de Torben Grael, 28 anos, conquistou o
Pradinho e Patrícia sobressaem como exceções e dependem da própria dedicação para superar a falta de infra-estrutura
costas e 200 metros quatro estilos, de- Freitas, classe tornado; Daniel Adler, pré-olímpico de vela classe star, com
sistiu de competir pois não teve tempo José Paulo Barcellos e José Augusto seu companheiro Nelson Falcão, e con-
suficiente para treinar, devido a uma Barcellos, na classe soling, e George firmou sua participação nas Olimpíadas
hepatite contraída há três meses. Mulim Rebello, o "Meu Garoto", na de Seul. Mas o campeão não se acomo-
Já a musa da natação brasileira, Pa- prancha à vela. dou e foi para a Europa disputar todos
trícia Amorim, acredita que Seul será A família Grael ficou famosa com a os torneios da classe. É verdade que ele
apenas uma etapa a mais na sua car- conquista de Torben em Los Angeles e ficou em quarto lugar em Kiel, Suécia e
reira. Realista, ela afirma que pretende com seu pai, o coronel Dickson Grael, Holanda, mas este estudante de admi-
ficar entre as 16 primeiras. Depois das que, irritado com o rumo do inquérito nistração de empresas da U FF sabe que
Olimpíadas de Montreal, em 1976, esta do caso "Riocentro", preferiu sair, fi- o importante nestes torneios é corrigir
será a primeira vez que o Brasil vai levar cando marginalizado nos meios milita- erros, pois o acerto final deve ser dedi-
uma nadadora. De lá para cá a natação res na época da ditadura. Depois surgiu cado às Olimpíadas.
evoluiu muito e a própria Patrícia ad- Lars, irmão de Torben que, com seu Da poluição da Baía de Guanabara,
mite que "ficamos marcando passo". companheiro, o dentista Clínio de Frei- no Rio de Janeiro, para o mundo. As-
Patrícia Amorim tem os seguintes re- tas, poderá ganhar mais uma medalha sim, pode ser sintetizada a carreira de
cordes sul-americanos: 200 metros li - para a família. George Mulim Rebello, o "Meu Garo-
vres - 2m05s70 (o mundial é de Heike Lars G rael percebeu que o impor- to", que vai representar 10 Brasil no
Sreriedrich, da Alemanha, com tante não era só competir. E viu que, campeonato de prancha à vela. Ele con-
1m57s55); 400 metros livres - 4m20s64 com sua técnica, poderia também ga- quistou o pré-olímpico em Búzios e
!o mundial é de Janete Evans, dos EUA, nhar. E percebeu que a diferença entre desde 81 veleja nesse esporte, tendo si-
V ôlei
52 - terceiro mundo
PRO O OES,
a muleta dos comerciantes
O comércio vive em guerra há meses, procurando atrair um consumidor cada vez mais retraído,
devido à perda do poder de compra dos salários
L
eve 3 e pague 2. Com este apelo, dinheiro, se você achar mercadoria mais
que resumia toda a filosofia de barata", e até mesmo congelamentos mento, que acabou por atingir, de ja-
um chamado plano redutor da que duram o mês inteiro - todas as ar- neiro a junho, o índice de queda de
inflação, a rede de supermercados Car- tes de estímulo à demanda estão sendo 14,4% nas vendas, segundo os dados
refour entrou na verdadeira guerra que tentadas pelo comércio, nos últimos revelados em agosto pela Associação
se desencadeou no Rio de Janeiro e em tempos. Brasileira de Supermercados-Abras.
outros grandes centros, a partir de abril, O que mais chamou a atenção nessa Com tablóides coloridos nos jornais
pela conquista de compradores novos e caça ao consumidor foi a maciça partici- de fim de semana e anúncios até de pá-
pela manutenção das quotas mensais de pação dos supermercados, normal- gina inteira nos jornais, além de propa-
vendas, ambos em progressivo declínio. mente o mais remoto ponto a registrar ganda nas emissoras de rádio e TVs, os
O alfaiate,
a nutricionista,
o comerciante
D Comer, vesti r, pagar aluguel,
a luz, a água, o condomlmo, a
escola, o transporte, as prestações -
a luta permanente pela vida está d1fl-
cil, recl amam o alfaiate de classe mé·
dia, a nutricionista, o comerciante.
O alfaiate Ewerton Gonçalves
O s preços deixam aflitas muitas donas-de-casas e não são raras as discussões Vieira passou a andar m ais, para
sondar preços e gastar um pouco
donos de supermercados lutam entre si anunciando certas vantagens, que es- menos, e se diz espantado em que
para atrair os consumidores, que estão condem determinadas desvantagens, haja tanta dificuldade para se comer
reduzindo o consumo de produtos bási- geralmente não percebidas pelos con- num pais que produz de tudo e é
cos como o arroz, a carne e as massas. sumidores, como a questão do peso dos dotado da tal extensão. "O alto custo
A promoção do Leve 3 e pague 2 teve produtos. de vida impõe uma alimentação defi-
para o Carrefour o mesmo objetivo do De 576 produtos examinados no mês ciente e isto é c~usa primária do
congelamento anterior: aumentar em de julho pelo lpem, a pedido da Secre- quadro de desnutrição e de prolifera-
10% o número de clientes. taria de Defesa do Consumidor de São ção de doenças que se verifica no
Paulo, 330 deles apresentaram irregula- pais", queixa-se a nutricionista Ma-
Radiografia da mesa ridades de até 26% no peso especificado riãngela leite Andrade, presidente
nas embalagens. Ficou comprovado do sindicato carioca da categoria,
A pesquisa divulgada pela Abras em como os consumidores são lesados na uma cidadã também às voltas com a
meados de agosto, com dados referen- compra de produtos fraudados no peso. pesquisa de preços e atenta às ofer-
tes a seis estados brasileiros, revelou A tolerância máxima permitida pela le- tas, promoções, lançamentos e des-
que a movimentação dos comerciantes gislação varia de 1% a 3%, dependendo contos.
t eve razão de ser: está-se comendo me- do tipo do produto. Desde que se entende por gente -
nos arroz (-5%), menos carne (-11%), Mas, a base do problema da fuga do o perlodo abrange 60 anos, assegura
m enos massas (-8%), que são alimentos consumidor são mesmo os reajustes ele - o presidente do Clube de Dire·
básicos. Assim, explica-se o esforço de frequentes de preços dos produtos. No tores Lojistas do Rio de Janeiro, S11·
atrair o comprador ao supermercado, oitavo aumento este ano, o cigarro, por
54 - terceiro mundo
CONSUMO SUPERMERCADOS
-,
É uma farsa que não traz benefícios
reais para o assalariado. Os super-
mercados fazem promoções de pro-
dutos supérfluos, jamais de artigos
de primeira necessidade, como os ali
mentos básicos da população: arroz,
feijão, carne. Vou a vários supermer-
cados, comprando uma coisa em ca-
da um, mas, no final, descubro que
acaba ficando um produto pelo ou-
Ewerton Mariãngela Sflvio
tro, quanto ao gasto total".
vio Cunha, jamais viu uma situação mércio alcançaram a extraordinária A mesma opinião é compartilhada
como a que enfrenta o Brasil dos cifra de dois milhões, no correr do pela nutricionista Mariângela Leite
anos oitenta: "Estamos procurando primeiro semestre. "Com isso, des- Andrade: os anunciados congela-
forçar as vendas, atraindo de toçlo moralizou-se o instituto· do cheque", mentos de preços em supermercados
jeito o comprador, mesmo sacrifi- alarma-se. "é uma coisa falsa".
cando nossa margem de lucro", ex- O comerciante observa que as Lamenta que a necessidade impo-
plica o líder comercial. condições de vida impedem que o nha à massa dos trabalhadores o
trabalhador tenha disponibilidades corte na alimentação, com a redução
Declínio para gastos, além dos estritamente das quantidades necessárias de pro-
necessários. A situação reflete-se no dutos, como o leite e a carne. "Co-
"As vendas do comércio lojista comércio. "Mesmo entendendo o nheço pessoas que baixaram o con-
vêm apresentando Beclínio desde o quadro geral de falta de dinheiro sumo semanal de leite da família, de
ano passado. Em junho de 88 tive- corremos o risco, inventamos pro- cinco para apenas dois litros. Aca-
mos uma queda de 35%, em relação moções e sistemas de pagamento, bam cortando o que é necessário
a junho de 87. O primeiro semestre para sustentar o movimento dos ne- para o organismo humano. Esta
deste ano, em comparação com o gócios", diz Sílvio Cunha. promoção de congelamentos nos su-
primeiro semestre do ano passado, O alfaiate Ewerton Gonçalves permercados é ilusória, pois conge-
mostra queda de movimento de Vieira volta-se contra as limitações lam os preços da cerveja. Por que
30,5%", exemplifica Sílvio Cunha. Ele impostas pel9 quadro econômico e não congelam os preços do queijo,
cita um dado que considera impres- pelos expedientes utilizados pelo da carne e de outros produtos essen-
sionante e, ao mesmo tempo, uma comércio em geral, particularmente ciais?", desafia a nutricionista.
verdadeira fotografia da realidade: os os supermercados: "O congelamento
cheques sem fundo passados no co- de alguns produtos não passa de L.N.
Vale-refeição
quadro dos salários
O prato de comida para cerca de 2,1
milhões de trabalhadores no pais é ga-
rantido com o uso do vale-refeição, que
barateia a alimentação em até 80%.
Aproximadamente 80% dos trabalha-
dores, com renda entre um e cinco sa-
lários mínimos, são beneficiados.
O vale-refeição foi criado a partir do
Programa de Alimentação ao Trabalha-
dor l PAT), em 1976, e é uma boa ma-
neira de enfrentar a inflação, pois é cor-
rigido pela OTN e o trabalhador paga
uma pequena parcela. No entanto, ao
invês de usá-lo nas refeições nos res-
taurantes, muitos utilizam o vale-refei-
As osc1lacoes da economia refletem-se no nlvel de emprego e preocupam Amato, da F iesp
ção para complementar o pagamento
de compras nos supermercados, devido
a sua baixa renda. Máno Negreiros
Quem tem cartão de crédito procura
ganhar da inflação, fazendo o paga-
mento das compras até 40 dias depois. s números são do próprio Mi-
O cartão 1ã é utilizado em corrida de tãxi
e até para casamento, como ocorre na
Igre1a de Santo Antonio, da paróquia da
O nistério da Indústria e Comércio
de janeiro a maio deste ano,
cairam em 3% as vendas do comércio
Paz, em Fortaleza, Ceará. lá, o preço de vare1Ista. No mesmo período, a produ-
um casamento vai de cinco a 12 OTN. O ção industrial no mesmo período só
mportante do cartão de crédito é que o apresentou algum crescimento (5%) em
usuãno - aquele que tem reserva de di- março. Em janeiro, a queda na produ-
nheiro no banco - pode distanciar o pa- ção industrial foi de O, 1%, em fevereiro
gamento da data da compra. como for- foi de 1,4%, em abril 2,5% e, em maio,
ma de driblar a inflação e sentir menos 1,7%.
os aumentos de preços quase diários O presidente da Federação das In-
das mercadorias e produtos. dústrias de São Paulo, Mário Amato,
Vale tudo para enfrentar a inflação, considera que, se o quadro não se alte-
quando se vai às compras. É necessário rar, além do aperto salarial, haverá de-
fazer uma pesquisa no mercado da re- missões em massa nos próximos me-
gião, buscar sempre as melhores ofer- ses, agravando o quadro social. A taxa
tas, promoções e descontos. É preciso, de desemprego vem se mantendo, se- blefe para inibir, desde Já, posslve,s rei-
portanto, estar sempre alerta. Do con- gundo o IBGE, entre 3% e 4%, o que, se vindicações salariais em São Paulo.
trário - e nos dias de hoje é quase ine- não é motivo de orgulho, também não Nos bons tempos do Plano Cruzado,
vitável -. poderá voltar para casa sem chega a ser alarmante. Considerando-se quando algumas categorias se atreviam
um cruzado no bolso. Isto porque os a queda de vendas no comércio e a bai- a pedir melhorias salariais, o ministro
comerciantes fazem de tudo para ven- xa produção industrial, pode-se até da Fazenda da época dizia que, se per-
der: se o consumidor não abrir o olho, concluir que o nível de emprego, com- mitisse aumentos nos salários, a de-
"eles vendem até o diabo", como filo- parado à remuneração dos que estão manda explodiria e, com ela, a inflação.
sofava uma mulher, durante as compras empregados, pouco tem sido (ainda) Era preciso conter, através dos salários,
que fazia numa loJa de lustres, no bairro afetado pela crise. Só o tempo dirá até o "ímpeto consumista" dos brasileiros,
carioca de Benfica, preocupada com os que ponto o presidente da Fiesp estaria para que o fantasma da inflação não
preços, mas tentada pelos diversos tru- falando sério, ao prever demissões em voltasse a assombrar a economia do
ques de venda da casa. • massa, ou apenas recorrendo a um país.
Estabeleceu-se, na época, o hoje um se puder imaginar. Aos que vêem no chegar aos 88% da Nova Zelândia, o
tanto esquecido gatilho salarial, que mercado externo a grande alternativa, é número de empregados ou salário de
consistia num aumento salarial de 20% preciso recordar que os Estados Unidos cada trabalhador brasileiro teria que ser,
nos salários, sempre que a inflação ul- e a Comunidade Econômica Européia-· portanto, multiplicado por mais de cinco
trapassasse esse limite. Os aumentos CEE, nossos maiores compradores, têm vezes. A diferença entre o valor final de
dos salários eram acionados pela infla- ameaçado com sobretaxas que inviabili- produção e as despesas operacionais
ção e não o contrário. Antes que o go- zariam a entrada de uma série de pro- (salários, inclusive) é, na Nova Zelândia,
verno autorizasse aumentos salariais, os dutos brasileiros. de 11 pontos. No Brasil é de 52. A gros-
preços iam por conta própria aumen- O arrocho salarial já chegou a ser so modo, pode-se constatar, a partir
tando, de tal maneira que, rapidamente, justificado com o argumento de que daí, que a margem de lucro no Brasil é
o gatilho passou a ser acionado a cada conteria supostos ímpetos consumistas, praticamente cinco vezes superior à dos
mês, até ser substituído pela URP, que mas agora o argumento é de que au- empresários neozelandeses.
vem a ser a média da inflação nos últi- mentar salários significaria demitir em Não é preciso, no entanto, ir à Nova
mos três meses. O reajuste dos salários massa. Zelândia para se descobrir a grande
continua, portanto, a ser acionado a margem de lucro dos empresários bra-
partir da inflação e não o contrário. Salário sem peso no custo sileiros, em relação aos do resto do
Tanto o gatilho, quanto a URP, pelo mundo, e o quanto é pequeno o salário
atraso com que reajustam os salários Mas, João Furtado, professor de no Brasil. Entre os países latino-ameri-
em relação à inflação, representam re- Ciência Política e Econômica da Univer- canos pesquisados por João Furtado -
dução real do poder de compra dos as-
salariados. Ainda que alguma categoria
profissional consiga, no dissídio coleti-
vo, reajustes que cubram a inflação, a
vantagem se dissipa rapidamente, na
medida em que o reajuste salarial pela
URP, defasado por natureza, não pode
cobrir por muito tempo a inflação dos
meses que se seguirão ao dissídio.
Enchova ressurge
A partir de novembro, o quanto a extração de petró-
campo petrolífero de En- leo recomeçará em maio do
chova, na Bacia de Campos, próximo ano, ante a neces-
volta a produzir, através de sidade de se faze a remoção Ladeando o deputado Chuahy, o casal Moreno ouve saudações
um sistema provisório, pou- prévia dos escombros da
plataforma. Este sistema
co mais de seis meses após
ter sua plataforma central provisório será mantido, Cônsul ganha título
seriamente danificada por quando for reconstru do o
um incêndio. Inicialmente, sistema definitivo e será co- O casal venezuelano, que tem participado do pro-
será retomada a produção nhecido como Enchova- cônsul Regulo Moreno e a grama de educação das
Oeste, e ambos farão o tra- consulesa Judith Ferro Mo- crianças e está muito identi-
de gás, num total diário de
balho conjuntamente. • reno, foi homenageado, in- ficada com os problemas da
750 mil metros cúbicos, en-
dividualmente, com o titulo América Latina", disse a de-
de Cidadão do Estado do putada Yara Vargas.
Cidadão carioca Rio de Janeiro, em soleni-
dade realizada dia 17 de
O cônsul venezuelano
agradeceu a homenagem,
1
agosto na Assembléia Le- observando que "dizem que
g·slativa fluminense. Com o Brasil está em quinto lugar
três filhos - uma moça e entre todos os países do
dois rapazes-. Regulo e Ju- mundo pelo tamanho de
dith estão no Consulado da suas fronteiras. Porém de-
Venezuela, no Rio de Ja- veriam dizer que ocupa o
neiro, desde outubro de primeiro lugar pela qualida-
1984. O título concedido à de de sua geografia humana
consulesa que é artista e pelo clima de compreen-
plástica, foi uma iniciativa da são para a convivência civili-
deputada Yara Vargas, en- zada. Falar do Brasil é falar
Louzeiro: causas populares quanto o deputado Alberto do Rio de Janeiro, a cidade
Brizola propôs a homena- cosmopolita que personifica
gem ao cônsul Regulo. o país inteiro", definiu o
O escritor e jornalista Mortos". que deu origem ao
filme "Pixote" , "Araceli, Judith "é uma mulher homenageado.
maranhense José Louzeiro
foi homenageado com o Meu Amor", "Verão dos
Título de Cidadão Honorário Perseguidos" e roteirista de
da Cidade do Rio de Janeiro, 16 longa-metragens. Des- O susto da meningite
dia 9 de agosto, em sessão fruta atualmente do sucesso
Dezenas de casos da me- paulista, Jose Anstodemo
solene na Câmara Municipal, da novela "Olho por Olho", Pinotti, defendeu a conve-
em parceria com Geraldo ningite do tipo B assustaram
por iniciativa do vereador niência de se receber a vaci-
Carneiro, na TV Manchete. São Paulo, em julho, levan-
Antonio Pereira Filho, o
do a uma movimentação sa- na e testá-la, ressaltando
Pereirinha. José Louzeiro já Louzeiro, ao agradecer a
nitária, que implicou na doa- que as 50 mil doses serão
vive no Rio de Janeiro há 34 homenagem pelo título, re-
ção de 50 mil doses da vaci- insuficientes, pois a preven-
anos. Foi onde, segundo o cordou os atalhos que per-
na específica fabricada pelo ção de um surto na popula-
vereador Pereirinha, ele "a- correu, quando chegou do
governo de Cuba. A doação, ção infantil aconselharia a
madureceu sua consciência Maranhão com 22 anos de
entretanto, viu-se atropela- aplicação de quatro milhões
das coisas da vida, desen- idade, "ameaçado de morte
da por um grande debate de doses.
volveu suas ativídades lite- por um gangs~er maranhen-
em torno da eficácia e da O único dado tranquiliza-
rárias e artísticas e aprofun- se chamado Vitorino Freire".
conveniência de receber de do(, quanto à bizarra discus-
dou seu compromisso com Lem)::>rou as reportagens
graça o produto medicinal são que se armou em torno
as lutas do nosso povo". policiais que o levaram a co-
cubano, numa discussão em da vacina cubana, é a expe-
Ex-presidente do Sindi- nhecer cidadãos "marginali-
grande parte atribuída a in- riência, como disse Pinotti,
cato · dos Escritores do Rio zados" e os muitos amigos de que a meningite B - me-
teresses contrariados das
de Janeiro, José Louzeiro é que conquistou, principal- nos contaminante que os ti-
transnacionais dos medica-
autor de 21 livros, entre eles mente nas redações dos jor- pos A e C - nunca provocou
nais cariocas em que traba- mentos.
"Lúcio Flávio, o Passageiro uma grande epidemia. •
O secretário de saúde
da Agonia", "Infância dos lhou. •
PANORAMA NACIONAL
Universidade discute
producão científica
Uma visão crítica da uni fato de que a universidade
versidade brasileira foi o brasileira concentra-se ria
tema que envolveu profis- função de transmitir e não
sionais acadêmicos de todas na de criar conhecimento:
as áreas e estudantes, du- a falta de compromisso com
rante a 40ª reunião anual da
Sociedade Brasileira para o
a inovação e a descoberta é
a responsável por vários dos
Parceira espacial
Progresso da Ciência-SBPC, males apontados, como as Iniciados em escolas es- e fornecerá diversos dos
realizada em julho, em S. práticas centralistas e a es- paciais diferentes, Brasil e instrumentos de bordo. Terá
Paulo. pécie de preguiça mental, China formalizaram um ainda direito ao uso comer-
Insuficiência de recursos, que faz com que a qualidade acordo, que os torna par- cial das informações envia-
ausência de políticas de lon- seia preterida por uma ten- ceiros do programa já co- das pelos satélites e trans-
go prazo, práticas equivoca- dência ao nivelamento por nhecido por Satélite Sino- mitidas para três estações
das - são alguns dos muitos baixo. Brasileiro de Levantamento terrestres. Outros tipos de
pontos que atrapalham a vi- Como solução, destacou- de Recursos Naturais, o Chi- componentes feitos no Bra-
da das instituições de ensino se a necessidade de se fixa- na-Brasil Earth Resources sil já foram negociados com
superior do país, na avalia- rem políticas que visem à Satellite-CBERS. Os novos a China, que também acom-
ção geral de professores e excelência de resultados, o parceiros vão criar dois en- panha o projeto e constru -
pesquisadores. A trajetória que só se torna possível com genhos orbitais de cerca de ção de mais quatro satélites
da jovem universidade bra- a identificação entre univer- 1.800 quilos, sofisticados, brasileiros, que subirão ao
sileira, um fenómeno de sidade e a pesquisa, isto é, com estabilização nos três espaço no início da próxima
pouco mais de meio século, com a adoção de um con- eixos, câmeras óticas e var- década.
envolve permanente discus- ceito de universidade que redores térmicos, para exa- O programa CBERS, no
são sobre seus rumos e sua tenha por função privilegia- miníilr a Terra e descobrir valor de 150 milhões de dó-
eficácia, entremeada de in- da a criação de conheci- depósitos subterrâneos de lares, foi um dos acordos de
tervenções negativas, como mentos. Uma política defini- minérios e água, poluição, cooperação tecnológica as-
foi o caso das consequências da de desenvolvimento tec- fenómenos meteorológicos, sinados pelo presidente Jo-
do regime militar na vida da nológico foi reclamada, pois etc., com lançamento pre- sé Sarney com as autorida-
instituição. serviria, por exemplo, de visto para 1992. des chinesas, durante sua
Um dos pontos básicos roteiro permanente para a O Brasil arcará com um viagem àquele país, no início
das dificuldades reside no pesquisa universitária. • terço do custo do programa de julho. •
Empresariado assume
o nacionalismo
Mais de 20 associacões empresariais de vârios setores economicos se unem na defesa dos interesses nacionais
Athayde. a Cebracan surge para resgatar o sonho de um pro1eto brasileiro para o Brasil com panlcipaçao empresarial
da recém-criada Câmara das Empresas para brasileiros, que leve adiante o• Ouestao de soberania
Bras lerras de Capital Nac1onal-Cebra- ideais de Teotónio Vilela, para resgata
an, segundo o seu presidente, empre- as quatro dívidas brasileiras: a interna, a Tais entidades, acentua, foram to-
ário Luiz Otávio Athayde. Já constituí- externa, a política e a social", define o madas por corporações transnacIonaIs,
da n1c1almente por mais de 20 associa- empresário. que aliciaram testas-de-ferro, para de-
oes empresariais de vários setores luiz Otávio Athayde diz que, a curto fender seus interesses ilegítimos· "Sua
conomicos, representando cerca de prazo, a Cebracan defenderá as con- ação se faz sentir em lobb1es fortlss1mos,
c nco mil empresas genuinamente bra- quistas da Constituinte e a nova Carta pressionando os três poderes a agir de
s1le1ras e que empregam mais de 800 como um todo, mesmo com suas con- acordo com sua conveniência, inclusive
mil trabalhadores, a Cebracan, explica tradições, se é que as tem. pois em úl- nos escalões inferiores".
Athayde, pretende estabelecer também tima análise espelha a realidade brasi- Estão aí as nefastas políticas nos
60 - terceiro mundo
ECONOMIA MIl'RhSA NACIONAi
Confusa internacionalizacão
62 - terceiro mundo
ECONOMIA Et!PRESA NA CIO NAL
1988- N~ 113
t erceiro mundo - 63
ECONOMIA I. \ll'Rf. S \ IJR \ S/1 /:IR\
CEBRACAN,
a luta pela
autonomia
A entidade de defesa da
empresa nacional fez sua
instalação nas dependências
do Congresso Nacional
Clóv,s Sena
Autismo:
Um mal desconhecido
Descoberto ha decadas, mas ainda pouco conhecido, o autismo pennanece um enigma para a ciencia e uma
fonte de angustia para a familia. que ve seus doentes marginalizados pela sociedade e pelo Estado
Clauda Neva
68 - tercei ro mundo
SAÚDE AVT/S",1O
vezes maior nos meninos do que nas definitivas é ·a origem da doença. Uma
meninas. corrente de especial stas tende a consi-
derar o autismo uma doença psicogéni-
A margem do Estado ca, isto é. causada por problemas psi-
cológicos, pelos quais os pais seriam os
Nos 40 anos que nos separam da responsáveis. Moacira contesta essa te-
descrição da doença. pouco se avançou se:
no conh!!cimento e divulgação do au- "Segunde essa linha de raciocínio, a
tismo. Apesar das pesquisas realizadas. criança se isola porque não suporta os
muitos países, como o Brasil, ainda não problemas do mundo externo, como,
reconhecem o autismo corro uma para dar um exemplo, o fato dos pais
doença mental especifica A consequên- viverem uma relação conflitiva. Acho
cia disso é que milhares de crianças nao difícil sustentar essa teoria, já que e au-
têm acesso à assistência médica estatal, tismo se manifesta nos primeiros meses
o que condena a maioria a viver sem de vida. Custa acreditar que nessa etapa
nenhum tlpt> de tratamE nto especializa- a criança 'prerreditadamente' decidiu se
do. isolar do mundo .. ", afirma.
Para a psicóloga Moacira Garcia Ve- Moacira " A familia precisa de apoio" Moacira ressalta, no entanto, que "a
rãnio Silva, que dirige, Junto com a as- influência do aspecto psicológico é
sistente social Judith Pereira da Cunha, sidade de recorrer a instituições psi- muitas veles yrr agravante e, como tal,
a Cra"psi- Comunidade Recreativa e quiátricas de regime asilar". deve ser lev~do em consideração. Por
Atendimento Psicossocial - voltada para Moacira explica que o autismo é en- isso, é tão importante que o aspecto
o tratamento de crianças com dificulda- quadrado como uma psicose infantil, psicológico tenha uma interferência te-
des no processo de socialização - esse é doença mental em que a pessoa cria rapêutica, através do trabalho com a
urr dos mais graves problemas enfren- uma realidade interior mais rica do que própria criançé! e, prir.cipalmente. da
tados pela família do autista. Sem apoio a exterior. Mas enfatiza que, apesar de orientação e apoio aos pais de autistas",
dos órgãos de saúde do governo, a manter-se isolada, a criança vive. à sua assinala.
criança muitas vezes é abandonada pela mr1neira, dese1os e afetos: "O autista Ela revela que existem casos de
familia que não tem recursos: "É co- apresenta a necessidade de sentir prazer crianças que ct:egaram a se alfabetizar -
mum encontrarmc,s nos hospícios. com a vida e não só consigo mesmo. nunca através de• um método de apren-
adultos wtistas sendo tratados como Por isso, é indispensável que se pi;,opicie dizagem formal - mas c,ue, no Brasil, is-
deficientes mentais". a ele o lazer, a educação especializada e so é raro, por causa da dificuldade de
A psicóloga explica que a criança au- a inserção sócio-familiar. Associado a diagnóstico precoce e da falta de clínicas
tista alcança a vida adulta, em termos qualquer intervenção terapêutica, de- especializadas. "O diagnóstico é o ponto
cronológicos, mas o seu desenvolvi- vemos lutar também para promover a de partida para que se possa traçar um
mento ocorre com lacunas e de forma organização primária dos impulsos afe- plane de tratarl'ento adequado e, dentro
desarmônica. Sendo assim, seu desem- tivos e orgânicos, bem como as condu- c!o possível, clarificar o prognóstico. Es-
penho global mostra-se aquém de sua tas primárias de sociabilidade". sa triade - diagnóstico, tratamE nto e
idade cronológica: "Por apresentar tais A psicóloga ressalta que o trata- prcgnóstico - é importantíssima e inse-
atrasos especificos, o autista é confun- rr.ento não tem uma receita pronta: " E parável Somente quando ela existe
dido muitas vezes corr o deficiente necessária a participação de diferentes como um todo integrado, o desenvol-
mental, o que leva a uma intervenção profissionais: pediatras, ne uropsiquia- vimento da criança está amparado. Não
terapêutica e/ou pedagógica inadequa- tras, psicólogos, fonoaudiólogos. tera- podemos encobrir o fato de que o de
da". peutas ocupacionais. pedagogos, assis- senvolvimento da criança ocorre, mes-
Para os pais, a necessidade de apoio tentes sociais. Através desse trabalho mo que de forma atípica, e ele de"e ser
Por parte dos órgãos estatais não se li- conjunto, se conseguem resultados. estimulado e respeitado", conclui a psi-
mita, portanto, à fase infantil: "De fato - ri-as é bom enfatizar que o comporta- colcga.
continua - o apoio assistencial ao au- mento psicótico é marcado por avanços Por apresentar uma doença com ca-
tista e sua família é de suma irrportân- e regressões. Ou seja, um dia, por al- racterísticas muito complexas, a orien-
c1a, mas não podemos esquecer que es- gum motivo, a criança entra em crise e tação de um terapeuta aos pais é um
sa criança vai crescer e, quando adulto, volta a uma etapa que Já havia SL pera - requisito fundamental para o trata-
continuará necessitando de acorr pa- do" mento do autista. A assistente social
nhamento. Só recebendo apoio durante Judith Pereira da Cunha assinala que a
toda a vida, a família tem condições de Origem desconhecida existência de uma criança com proble-
continuar assumindo o árduo trabalho mas é um foco gerador de muita ansie-
de educar e relacionar-se com ele, di- Um dos pontos mais estudados e so- dade na família, bem como de senti-
minuindo, consequentemente, a neces - bre o qual ainda não existem conclusões mentos de revolta e impotência. "Na
SAÚDE unrno
verdade, nenhuma pessoa foi preparada tros prof1s siona1s é muito importante Temos todos que
para receber um filho com uma altera- Mas a falta de maior mformaçao so- estar abertos para aceitar o impossível
ão em seu desenvolvimento No caso bre o autismo nas universidades faz da crmnça".
do autismo, as dificuldades especificas com que poucos prof1ss1ona1s da área Ehsabeth foz questão de ressaltar
1 são mais do que conhecidas, mas ca- este1am preparados para atender crian- que o resultado a ser conquistado nao é
be a nos encontrar Junto à familia pon- ças com esse problema. Para Ehsabeth que a criança fale, mas que se comum-
tos que facilitem e propiciem um me- D'Albuquerque - fonoaudiologa que ha que "Conheço o caso de uma fcimiha,
hor relacionamento. Devemos, como dez anos trabalha com crianças autistas que considerou curada a criança por-
técnic-os, au,dliá-los a encontrar solu- -. o desconhecimento leva muitos pro- que, após um tratamento equivocado,
çoes e redinamizar esse núcleo" f1ss1ona s a re1eitarem esse tipo de pa- ela conseguia dizer várias frases Na
ciente "Muitos têm medo Não conhe- verdade, eln tinha apenas memori,ado
A barreira da linguagem cem a patolQ91a, e por isso resistem a e pressões. o que é comum entre os
cuidar dessas crianças Por outro lado, autistas Paro qualquer pergunta, a res-
Para a família. o aspecto talvez mais não conseguem encarar bem o fato de posta da cr1anca era: 'Bom cf1a-como
doloroso do autismo é a d1f1culdade de que os resultados realmente, são ml- está você-e sua familia-eu vou bem-
estabelecer uma comunicação com a mmos e lentos" obrigado ' Ela falava como se fosse um
criança, principalmente através da hn- Para que o tratamento dê resultado robô"
uagem oral Romper essa barreira é Ehsabeth considera fundamental a cola- Um dos pontos que levanta mais
um trabalho que leva anos e para o boração da familia • Como a criança polêmica na questão do autismo são os
qual é fundamental a part1c1pação passa muitas horas do dia em casa o estudos segundo os quais a doença se
um fonoaud1ologo ao l:tdo de ou traba ho con unto com os pa1c; 1rmaos wanife>sta e>m gNal, nas classes com
Apego nl o apropn1do
1 ObJetOS
Aes,ate ao
contacto lía,co
Aa vezes é agreulvo
e dellrut,vo
t,
Modo e comportamento
ind1lerent1 • 1rrld1O
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70 - t reerro mundo
SAÚDE Aunrno
maior poder aquisitivo. Vários médicos haja cura, quanto mais cedo inicie um preciso ter também uma visão social cio
contestam esse fato, assinalando que, tratamento, maiores serão as cha nces problema: " Num hospital público, pór
embora essa estatística possa ter sido de sair do isolamento em que vive. exemplo, essas questões sociais se ma-
feita de forma séria, ela não espelha a Apesar da complexidade da doença, nifestam de forma mais aguda. Para
realidade. Para Elisabeth, a dificuldade o neuropsiquiatra Aníba l Coelho do uma família pobre, tratar de um autista,
de acesso à assistência médica, sobre- Amorim ressalta que isso é possível: como de qualquer outro doente, é um
tudo nos países menos desenvolvidos, "Dentro de seus limi tes, o autista pode dilema : ou compram o remédio que o
não permite avaliar qual é a verdadeira até ser 'feliz' e 'se integrar' ao mundo, doutor mandou o u compram comida.
proporção de casos de autismo nas só que à sua maneira". O dr. Aníbal - Por isso, nem no caso do tratamento do
classes mais pobres. "O lavrador do in- que trabalha no Hospital de Neuropsi- autista se pode deixar de levar em conta
terior - afirma - Jamais saberá que o fi- quiatria Infantil Pedro li - lembra, no o contexto social".
lho é autista. Para ele, a criança é 'ruim entanto, que é muito difícil para a famí- Para ele, o primeiro passo para mu -
da cabeça' e não autista, doença sobre a lia compreender esse fato. E explica dar essa situação seria realizar um tra-
qual certamente ele nunca ouviu falar" . porquê: "Num sistema como o nosso, a balho a nível dos postos de saúde e da
sociedade cobra muito da família: a rede escolar: "Só assim, poderíamos
Pressão social criança tem que ser preparada para fu- diagnosticar precocemente se a criança
tu ramente conseguir um diploma, um tem um quadro de deficiência ment al ou
Tão importante quanto estudar as bom emprego, o carro da moda, enfim, física (como surdez) e proporcionar-lhe
causas do autismo é dar uma resposta alcança r o que se entende por 'sucesso'. um tratamento adequado. A inexistên-
agora ao problema. Enquanto a ciência A questão que se coloca, então, é se cia de um trabalho desse tipo por parte
não chega a um consenso sobre suas vamos tratar o aut ista para proporcio- dos órgãos públicos faz com que, quan-
origens e melhor terapia, é importante nar- lhe bem-estar, físico e mental, ou do o autista chegue até nós, seu quadro
abrir espaços, nos quais os autistas re- para inseri-lo num mercado de trabalho esteja tão comprometido que já é muito
cebam alguma assistência. O tempo, altamente competitivo". difícil diferenciá-lo de um deficiente
nesse caso, é fundamental . Embora não O dr. Aníbal enfatiza, portant o, que é mental;', conclui dr. Aníbal. o
1988_: Nº 113
terceiro mundo - 71
SAÚDE AUTIS\/0
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'
çao, aliás. cro um verdadeiro rit ual
M Marques
Vieira
Santos é professora
sempre rejeitava".
Uma das maiores angústias de Ma-
nlene era descobrir se seu filho estava
de literatura. Tem com algum problema: "Como toda
dois filhos. David, criança autista, ele não falava sim. Eu ti·
de seis anos. e Alba, nha que advinhar tudo, desde um pro-
de 14 anos. Há cer- blema mais sôrio, atô uma simples dor
ca de três anos, de barriga"
Marilene. depois de Outra caracteristica do autismo apre-
percorrer inúmeros sentada por David era a 1mposs1b1hdade
consultórios médi- de adquirir sua 1dent1dade: "A principio
cos, soube que o ele não aceitava nem olhar no espelh o
seu filho era autista. Depois, olhava, mas nao se identificava
O seu depoi- com a imagem que via refletida". Con
mento Ilustra bem o sequência também desse problema era
drama vivido por o fato dele ser incapaz de utilizar o pro
muitas outras fami- r.1arilene ·o fundamental é dar multo amor li crianc:a· nome eu: "Quando começou a falar, no
lias máximo, David dizia: 'Alguém está com
"No começo, foi fome·. Ou então: 'As cnanças estão com
muito duro. O primeiro sentimento é de A primeira suspeita foi surdez, des- sede'".
revolta, pois é difícil para os pais aceitar cartada após os exames confirmarem Para Marilene. uma das piores fases
o fato. Além disso, eu não conhecia a que ouvia perfeitamente. "David apre- de David foi a época em que ele apre
doença e não tinha quem me orientasse. sentava outras características - conta sentou uma idéia fixa na imagem da
Passei. então. a procurar informações Marilene - que não eram as de uma cruz "Era uma obsessão. Com qualquer
sobre o assunto. a ler desde livros de criança surda. Ele se isolava constante- coisa, palitos de fósforos, canudinhos de
fonoaud1ologia até sobre patologia ce- mente (vivia atrás das portas e mesas), e refrigerantes. lápis, ele fa1ia a imagem
rebral. Comecei também a frequentar não permitia nenhum contato físico. Era da cruz. Quando não tinha ao alcance
reuniões de pais de crianças autistas e a impossível estabelecer qualquer tipo de nenhum obJeto, fazia a cruz com os de-
assistir palestras. Toda essa busca me comunicação com ele". dos. Essa fase passou sem que soubés
fez crescer muito". afirma Marilene. Até os 4 anos e meio, David não fala- semos a que atribuir aquela fixação".
Ela lembra que o primeiro fato que va: "Quando ele queria algo, nos usava HoJe. após anos de tratamento, David
lhe chamou a atenção no comporta- como instrumento. Por exemplo, se apresenta vários avanços· já faz diversas
mento de seu filho ocorreu ainda na fa- queria um copo de água, nos levava até coisas sozinho e, às vezes. até manifesta
se da amamentação: "Por mas fome a cozinha. Este talvez tenha sido um dos seus sentimentos. " Há alguns meses
que tivesse, era incapaz de mamar na aspectos mais difíceis de aceitar. E quando ele entrou em um momento de
presença de terceiros". muito duro para os pais que a criança crise. dizia o tempo todo: 'Estou caindo
Até os dois anos. "ele era muito não fale" estou caindo'. Para nós. é um grand
quietinho. Nem parecia que havia crian- O fato de não falar foi usado como avanço que ele chegue ao ponto de ex
ça na casa. Mas a partir daí, entrou nu- argumento pelos diretores para recusar pressar, ao seu modo, o que está sen
ma fase em que gritava muito". Já nes- David nas escolas: "Foi terrível. Eu me tindo".
sa época David apresentava também sentia ao mesmo tempo humilhada e Apesar de todo o sofrimento. Marile·
estereotipias. ou seja, a répetição, inde- impotente para mudar aquela situação. ne não desanima: "Sofri muito - afirm
finidamente. de um determinado mo- A única escola que o aceitou foi a 'es- - porque a carga em cima da mãe
vimento. "Ficava, por exemplo. se ba- cola da praça', onde ele ia brincar, enorme, mas me considero uma pesso
lançando. para frente e para trás, ou acompanhado da empregada ...", ironiza. feliz . Só o fato de David ter conseguid
mexendo com as mãos", lembra Ma ri Iene. Cerno tantas outras mães de autistas, ir sozinho ao banheiro. no final do an
A constatação de que David real- Marilene teve muita dificuldade para passado. foi um verdadeiro prêmio para
mente tinha algum problema sério sur- continuar trabalhando fora de casa: "A mim. Penso que o fundamental é da
giu quando começou a andar. "Ele era dependência de meu filho era total. Ele muito amor à criança. A familia dev
completamente ausente, não respondia não fazia nada sozinho, Era preciso ves- procurar aceitar a doença e se informa
quando o chamavam e não olhava nin- ti-lo, dar-lhe banho, levá-lo ao banhei- sobre ela. para que possa aJudar melh
guém nos olhos. à exceção de mim". ro;dar-lhe comida na boca. A alimenta- o filho" .
72 - terceiro mundo
LINHAS AÉREAS DE ANGOLA
A Serviço da Reconstrução Nacional
0 EJ,4PRESAS CONTROLADAS
e EMPRESAS COLIGADAS "'~1111
~~ Companhia
Vale do Rio Doce