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Relatórios de Painéis da CODAIP

Mesa 12.1 – Direitos Intelectuais novas fronteiras de criação e produção:

Sob mediação da Prof. Dra. Patrícia de Oliveira Areas, o painel iniciou-se com
a Prof. Dra. Maria Victória Rocha numa fala a respeito da prospecção de texto e
dados na diretiva sobre o direito de autor e os direitos conexos no mercado digital.
Essa prospecção é fundamental para o desenvolvimento da inteligência artificial,
contudo durante esse processo de extração de dados nem todo material usado é de
acesso livre, pois podem haver materiais protegidos por direitos de autor ou
conexos, sendo então necessário implementar uma limitação para que a prospecção
seja lícita. Ressalta que as exceções e limitações existentes no cenário atual,
sobretudo na União Europeia e nos Estados Unidos, são taxativos e insuficientes.
Urge a garantia do equilibro entre titulares de direitos e o interesse geral de livre
acesso à cultura e à educação.

A Prof.ª também mencionou a “Regra dos Três Passos”: três requisitos para
que a criação intelectual seja protegida pelo direito autoral - a utilização desta regra
apenas em casos especiais, sem prejuízo a exploração comercial da obra e sem
ferir os interesses do autor-, visando assim a manutenção do referido equilíbrio entre
os diferentes interesses públicos e privados. A Prof.ª concluiu destacando a
necessidade da Diretiva ir mais longe, pois ainda deixa inúmeras questões em
aberto.

Em seguida, o Prof. Dr. Santiago Schuster Vergara também trouxe um debate


acerca das exceções no ambiente digital. Primeiramente, destacou a importância de
conceituar o que é uma exceção aos direitos de autor, para isso deve-se esclarecer
que o sistema normativo dos direitos do autor é um sistema de autorização de
utilização de bens imateriais, então, uma exceção dentro dessa lógica é “uma regra
permissiva que desloca ou modifica a regra geral que proíbe a utilização da obra de
outrem”, ou seja, a exceção não limita, mas modifica uma regra de proibição,
deixando o direito subjetivo do autor resguardado. Ademais, explicitou os quadrantes
do ambiente digital: conectar, descobrir, acessar e compartilhar. Por fim, enfatizou o
caráter de necessidade para justificar uma exceção, para evitar a criação de
exceções sem fundamentação adequada e sem necessidade de existir, visto que a
exceção deve contribuir para a coerência do regime de direitos de autor e não
perturbá-lo.

O Prof. Dr. Marcos Wachowicz deu sequência à mesa com o tema “direito
autoral e usos livres”, com enfoque no usuário e nas situações em que ele pode ou
não utilizar livremente uma obra protegida pelo direito autoral. Ressaltou a
importância do equilíbrio que busca trazer os limites e exceções, mas que este
equilibro foi descompensado com as novas tecnologias. No Brasil não há a regra
dos 3 passos, temos duas correntes que interpretam de formas distintas o art. 46 da
Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98, fazendo com que o país tenha uma das
legislações mais restritivas de acesso do mundo no que tange ao tema.

Comentou também o Prof. sobre o uso livre de direitos autorais na


perspectiva do direito da educação, mas até que ponto é livre? Pois diante da
tecnologia atual, fica facilitado ao aluno compartilhar na internet o que foi dito pelo
professor em sala, mas e a autorização do professor para isso? O que autoriza a
legislação brasileira com relação ao aspecto do que é feito em sala de aula é de que
é uma exceção ao direito autoral para uso exclusivo do aluno, para qual a aula é
ministrada. No Brasil encontram-se 5 princípios determinantes para estabelecer os
limites do direito autoral, parâmetros esses que devem estar presentes caso a caso
para possibilitar os usos livre: sem fins lucrativos, utilização parcial de pequenos
trechos, não pode ser uma reprodução, não pode prejudicar a exploração comercial
da obra originaria e nem prejuízos injustificados ao autor. Assim, conclui o Prof.
ressaltando a importância do estabelecimento de limites e exceções para os usos
livres e justos.

Mesa 8.1 - Direito Autoral, Streaming e o mercado musical:

Mediada pela professora Bibiana Biscaia Virtuoso, o painel iniciou-se com a


fala do Prof. Sergio Branco, acerca da regulação jurídica do streaming no Brasil,
com foco no audiovisual. Comentou sobre o novo momento de transição que
estamos vivendo no qual estão tentando aplicar soluções e conceitos jurídicos e
econômicos de um mercado em outro tipo de mercado que não necessariamente
adequa-se aos moldes que deram certo num momento de transição anterior, como,
por exemplo, a transição vivenciada há 20 anos em torno da pirataria.
Além disso, discorreu sobre os efeitos que o novo modo de consumo,
juntamente com o streaming, traz para a sociedade: a atenção da audiência está
difusa, não conseguiremos mais ter fenômenos incontestáveis como antigamente
(um cantor mundialmente famoso entre todos os públicos ou uma novela assistida
pela maioria esmagadora dos brasileiros), tendo em vista a produção constante de
conteúdo nas mais diversas plataformas. A vantagem dessa nova conjuntura é o
exercício da individualidade, pois você consome o que você quiser e onde quiser,
contudo, a desvantagem é que se perde a identidade do assunto em comum das
conversas, as pessoas não conversam mais sobre as mesmas coisas – relacionadas
ao entretenimento.
Também comentou a respeito da importância de políticas públicas para
fomentar a produção audiovisual no Brasil, como as cotas de tela nos cinemas do
país, que garantem um percentual mínimo para a exibição de filmes nacionais. Por
fim, contextualizou o momento atual no modelo “cauda longa”, que é o mercado de
nicho, uma estratégia que direciona ações para as ciosas que tem pouca demanda,
para assim se consolidar nesse nicho.
O Prof. Rodrigo Moraes deu sequência à mesa e demonstrou como a ideia
que se tinha de que o digital acabaria com os agentes intermediários do ramo
musical (produtores e gravadoras) não passava de uma falácia, pois mesmo com as
plataformas digitais o artista, para falar “diretamente” com seu público, precisa
passar por muitos fatores antes, o próprio digital se tornou um intermediador.
Comentou também como é inadmissível as maiores plataformas de streaming
musical (Spotify, Deezer, Apple Music) não pagarem a título de direito conexo aos
artistas.
Encerrando o painel, o Prof. Carlos Taran ressaltou a importância da
disponibilização de mais informações a respeito dos envolvidos na produção
musical, de forma que todos aqueles que participam do sistema consigam entender
como ele funciona e assim oportunizando uma melhor remuneração aos
profissionais do ramo musical.

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