Você está na página 1de 34

ENGENHARIA ELECTRÓNICA E DE

TELECOMUNICAÇÕES
Electrónica Analógica I

Aula 03 – Materiais Semicondutores

2021
Docente: Eng. António Filipe 1
Condutores
O cobre é um bom condutor, e a razão disso fica clara quando olhamos
para sua estrutura atómica. Ele possui apenas um electrão na sua órbita
de valência (a órbita mais externa). A força de atração deste electrão
pelo núcleo é muito pequena e ele é considerado um electrão livre.

Docente: Eng. António Filipe 2


Condutores
Como o electrão livre é levemente atraído pela parte central, uma força
externa pode facilmente deslocá-lo do átomo de cobre. Por isso o átomo
de cobre é um bom condutor. Uma pequena tensão pode fazer com que
o electrão livre num fio de cobre circule de um átomo para o outro. Os
melhores condutores (prata, cobre e ouro) possuem um simples electrão
de valência.

Docente: Eng. António Filipe 3


Semicondutores
Um semicondutor é um elemento de valência quatro, ou seja, ele possui
4 electrões na órbita mais externa do átomo.
Os condutores possuem 1 electrão de valência, os semicondutores
possuem 4 electrões de valência e os isolantes possuem 8. Desta forma,
podemos dizer que os semicondutores são materiais de condutibilidade
intermediária, entre os isolantes e condutores.
Nota-se facilmente que o número de electrões na órbita de valência é o
que define a condutibilidade do material.

Docente: Eng. António Filipe 4


O Germânio
O germânio é um exemplo de semicondutor. Como podemos ver na
figura, em um átomo de germânio temos 32 protões e em suas órbitas
possui 32 eletrões divididos em 2 na primeira, 8 na segunda, 18 na
terceira e 4 na órbita de valência.

Docente: Eng. António Filipe 5


O Silício
O silício também é exemplo dum semicondutor. Actualmente ele é mais
usado devido a sua abundância na natureza e facilidade de extração.
Cerca de 28% da crosta terrestre é composta de silício.

Docente: Eng. António Filipe 6


Cristais de Silício
Quando átomos de silício se combinam para formar um sólido, eles são
arranjados segundo um padrão ordenado chamado de cristal. Cada
átomo de silício cede 1 eletrão aos outros átomos, assim a órbita de
valência fica com 8 eletrões como mostra a figura.

Docente: Eng. António Filipe 7


Cristais de Silício
Sempre que um átomo fica com 8 eletrões de valência ele torna-se
quimicamente estável.
Cada electrão vizinho cede um electrão para o átomo central. Este tipo
de ligação química é conhecido como ligação covalente.
A órbita de valência não pode sustentar mais de 8 electrões, por isso ela
é descrita como preenchida ou saturada quando contém 8 electrões, e
eles são denominados de eletrões de ligação.
Por causa destes electrões de ligação, um cristal de silício é um isolante
quase perfeito na temperatura ambiente (aproximadamente 25oC).

Docente: Eng. António Filipe 8


Influência da Energia Térmica
Com a temperatura ambiente acima do zero absoluto (-273oC), a energia
térmica do ar faz os átomos do cristal vibrarem. Quanto mais alta a
temperatura mais forte são vibrações. Estas podem ocasionalmente
deslocar um eletrão da órbita de valência. Quando isso ocorre, o eletrão
liberado ganha energia suficiente para passar para a outra órbita maior
como mostra a figura a seguir.
Nessa órbita maior, ele se torna um eletrão livre, e a sua saída gera um
vazio chamado lacuna. Essa lacuna se comporta como uma carga
positiva pois ele pode atrair e capturar qualquer electrão nas
proximidades.

Docente: Eng. António Filipe 9


Influência da Energia Térmica

Num cristal de silício puro, são gerados iguais números de lacunas e


eletrões livres pela acção da energia térmica. Os eletrões livres se
movem aleatoriamente, e quando se aproxima duma lacuna ele é atraído
e capturado, e a essa união denomina-se recombinação.

Docente: Eng. António Filipe 10


Semicondutores Intrínsecos
Um semicondutor intrínseco é um semicondutor puro. Diz-se que um
cristal é um semicondutor intrínseco quando todos os átomos forem do
mesmo material. Um semicondutor intrínseco a temperatura ambiente
comporta-se como um isolante pois ele só tem alguns eletrões livres e
lacunas gerados pelo aquecimento.
A figura a seguir ilustra um semicondutor intrínseco com algumas
lacunas e eletrões livres gerados por calor. A tensão aplicada força os
eletrões livres a se deslocarem para a esquerda do cristal e as lacunas
para a direita. Quando os eletrões chegam ao final do lado esquerdo do
cristal eles passam para o fio e circulam até o terminal positivo da
bateria. Por outro lado os electrões livres no terminal negativo da bateria
circularão para a direita do cristal e recombinar-se-ão com as lacunas.
Docente: Eng. António Filipe 11
Semicondutores Intrínsecos
Deste modo, ocorre um fluxo de eletrões e lacunas dentro do
semicondutor. É desta forma que surge corrente no semicondutor. Os
eletrões livres e as lacunas são chamado de portatores porque
transportam cargas de um lugar para o outro.

Docente: Eng. António Filipe 12


Dopagem de Semicondutores
Dopagem é uma forma de aumentar a condutibilidade dos
semicondutores adicionando impurezas aos átomos de um cristal
intrínseco. Um semicondutor dopado é chamado de semicondutor
extrínseco.
Aumentando os Eletrões livres
Na indústria, o cristal é primeiramente fundido de forma a quebrar as
ligações, e de forma a aumentar eletrões livres é adicionado átomos
pentavalentes (antimónio e fósforo) ao silício em fusão. Átomos
pentavalentes possuem 5 eletrões de valência, e são comumente
chamados de impurezas doadoras porque elas doam um eletrão extra ao
cristal de silício.

Docente: Eng. António Filipe 13


Dopagem de Semicondutores
Quando o cristal esfria e solidifica, o átomo pentavalente fica no centro
rodeado por quatro átomos de silício. Como cada átomo de silício cede
1 electrão, haverá excesso de electrões na camada de valência, assim
este electrão torna-se um electrão livre.
Aumentado as Lacunas
É possível aumentarmos o número de lacunas no semicondutor
dopando-o com impurezas trivalentes (alumínio, boro, gálio). De forma
similar ao caso anterior, o átomo da impureza fica no centro rodeado de
átomos de silício, no entanto esta ligação gera uma lacuna visto que só
teremos 7 eletrões de valência.

Docente: Eng. António Filipe 14


Dopagem de Semicondutores

Docente: Eng. António Filipe 15


Tipos de Semicondutores Extrínsecos
O semicondutor tipo N
O semicondutor dopado com impurezas pentavalentes é chamado de
semicondutor tipo n, onde n está relacionado com negativo (eletrões livres).
Como os eletrões livres excedem em número as lacunas no semicondutor tipo
n, os eletrões livres são chamados de portadores maioritários e as lacunas de
portadores minoritários.
O semicondutor tipo P
O semicondutor dopado com impurezas trivalentes é chamado de
semicondutor tipo p, onde p está relacionado com positivo (lacunas). Como as
lacunas excedem em número os eletrões livres no semicondutor tipo p, as
lacunas são chamadas de portadores maioritários e os eletrões livres de
portadores minoritários.
Docente: Eng. António Filipe 16
O Díodo
Um pedaço de semicondutor tipo n ou tipo p, por si só tem a mesma
utilidade de um resistor de carbono, mas quando um fabricante dopa um
cristal de modo que metade dele seja do tipo p e a outra metade do tipo
n, um facto novo acontece.
A borda entre o tipo p e n é chamada de juncão pn, e ela deu origem a
todos tipos de invenções incluindo os díodos, transístores e circuitos
integrados.
A juncão de dois cristais de tipo n e tipo p é chamado de díodo de
juncão.

Docente: Eng. António Filipe 17


O Díodo
Cada círculo com sinal de mais
representa um átomo pentavalente e
cada sinal de menos é um electrão
livre que ele forneceu para o
semicondutor.
De forma similar, cada círculo com
sinal de menos representa um átomo
trivalente e cada sinal de mais é uma
lacuna na sua órbita de valência.

Docente: Eng. António Filipe 18


A camada de Depleção
Por causa da repulsão entre eles, os eletrões tendem a se espalhar em
todas as direções, e alguns atravessam a juncão. Quando um eletrão
penetra na região p, com tantas lacunas a sua volta ele cai numa lacuna,
desta forma a lacuna desaparece e o eletrão passa a ser um electrão de
valência e faz com que a lacuna que o capturou torne-se um ião
negativo.
A figura a seguir mostra esses iões em cada lado da juncão, onde os
sinais de mais dentro dos círculos são os iões positivos e os sinais de
menos dentro dos círculos são os iões negativos. Estes iões ficam presos
na estrutura do cristal por causa das ligações covalentes e não podem
mover-se.

Docente: Eng. António Filipe 19


A camada de Depleção
Cada par de iões positivos e negativos na juncão é chamado de dipolo.
Como o número de dipolos aumenta, a região próxima da juncão fica
vazia de portadores. Chamamos a essa região de camada de depleção.

Docente: Eng. António Filipe 20


A Barreira de Potencial
Cada dipolo possui um campo elétrico entre o ião positivo e negativo.
Portanto quando eletrões livres adicionais penetram na região da
camada de depleção, o campo elétrico tenta empurrá-los de volta para a
região n.
O campo elétrico entre os iões é equivalente a uma diferença de
potencial chamada de barreira de potencial. À temperatura de 25oC, a
barreira de potencial é aproximadamente igual a 0,3 V para díodos de
germânio e 0,7 V para díodos de silício.

Docente: Eng. António Filipe 21


Polarização Directa do Díodo
A conexão mostrada na figura, terminal
negativo da fonte conectado ao material
tipo n e o terminal positivo ligado ao
material do tipo p é chamada
polarização directa.
A bateria força os eletrões e as lacunas a
se mover em direção à junção, desta
forma, iões positivos são gerados na
extrema direita do cristal e eles puxam
os eletrões do circuito externo para o
cristal. Desta forma teremos fluxo de
corrente elétrica se o valor da tensão da
fonte superar a barreira de potencial.

Docente: Eng. António Filipe 22


Polarização Reversa do Díodo
Com a posição da bateria invertida em
relação a posição anterior conforme
mostra a figura, chamamos a esta
conexão de polarização reversa.
O terminal negativo da bateria atrai as
lacunas e o positivo atrai os eletrões
livres, assim os eletrões livres
circulam afastando-se da juncão e a
camada de depleção fica cada vez
maior. Desta forma não há fluxo de
corrente elétrica.

Docente: Eng. António Filipe 23


Polarização Reversa do Díodo
Os díodos possuem tensões nominais máximas. Existe um limite de
valor de tensão reversa que um díodo pode suportar antes de ser
destruído. Se continuarmos a aumentar a tensão reversa, atingiremos a
sua tensão de ruptura.
Para os díodos retificadores (aqueles fabricados para conduzir melhor
dum lado do que do outro), a tensão de ruptura é usualmente maior que
50 V.

Docente: Eng. António Filipe 24


Tipos de Díodos
Existem diversos tipos de díodos no mercado para aplicações
diversificadas, mas dentro todos, nesta disciplina trataremos de apenas 2
deles:
• Díodos Rectificadores;
• Díodo Zener.

Docente: Eng. António Filipe 25


Díodos Rectificadores
Díodo rectificador é o tipo de díodo
mais comum e muitas vezes ele é
chamado simplesmente de díodo. Ele é
fabricado com o intuito de converter
corrente alternada em corrente contínua.
Ele é constituído da juncão de material
tipo p e tipo n assim como mostra a
figura.
O lado p é chamado de ânodo, e o lado
n é chamado de cátodo.

Docente: Eng. António Filipe 26


A curva do Díodo
Quando directamente polarizado, para
pequenos valores de tensão a corrente
começa a fluir, mas ainda é muito
pequena. Quando a tensão atinge o valor
de 0,7 V, o mais leve aumento na tensão
do díodo produz um grande aumento na
corrente.
O valor na qual a corrente começa a
aumentar rapidamente é chamado de
tensão de joelho. Para díodo de silício, a
tensão de joelho é igual a barreira de
potencial, aproximadamente 0,7 V. Um
díodo de germânio tem uma tensão de
joelho de 0,3 V.

Docente: Eng. António Filipe 27


Resistor de limitação de corrente
Acima da tensão de joelho, a corrente no díodo aumenta rapidamente. A
razão é que uma vez vencida a barreira de potencial, tudo o que impede
a corrente é a resistência das regiões p e n. A soma dessas resistências é
chamada de resistência do corpo do díodo.

A resistência do corpo depende do nível de dopagem e das dimensões


das regiões p e n. Tipicamente este valor para um díodo retificador é
menor que 1 Ω.
Como forma a limitar a corrente podemos colocar um resistor em série
com o díodo, assim como ilustra a figura a seguir. A este resistor
chamamos de resistor de limitação de corrente.
Docente: Eng. António Filipe 28
Resistor de limitação de corrente
O resistor R evita que o valor nominal
máximo da corrente seja atingida.
Desta forma, sabendo que o díodo gera uma
queda de tensão, a corrente será:

Docente: Eng. António Filipe 29


O díodo Ideal
Para simplificação dos cálculos, em alguns momentos assume-se o
díodo como uma chave, em que durante a polarização directa ele não
possui nenhuma resistência (chave fechada), e durante a polarização
reversa a sua resistência é infinita (chave aberta).

Docente: Eng. António Filipe 30


Interpretação da folha de dados (datasheet)
Consideremos o díodo de referencia 1N4001.
Tensão de ruptura reversa:

Estes 3 símbolos de ruptura diferentes especificam a ruptura sobre


certas condições de operação. Nós só precisamos saber que a tensão de
ruptura deste díodo é de 50 V.

Docente: Eng. António Filipe 31


Interpretação da folha de dados (datasheet)
A corrente máxima directa:

O díodo pode funcionar com no máximo 1 A de corrente no sentido


directo quando usado como rectificador.

Docente: Eng. António Filipe 32


Interpretação da folha de dados (datasheet)
Queda de tensão directa:

O díodo em questão tem uma queda de tensão directa de 0,93 V quando


a corrente for de 1 A e a temperatura de 25oC, e esta queda pode ser no
máximo 1,1 V, mas poucos díodos atingem este valor.

Docente: Eng. António Filipe 33


Interpretação da folha de dados (datasheet)
Corrente reversa máxima:

Essa é a corrente reversa com uma tensão cc nominal (50 V para um


1N4001). E podemos ver que esta corrente depende da temperatura da
juncão.

Docente: Eng. António Filipe 34

Você também pode gostar