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2 TESTE DE AVALIAÇÃO FORMATIVA

› SEQUÊNCIA 2
Teste A

Nome Turma Data

Grupo I
A
Lê o texto seguinte.

Mas para que, da admiração de uma tão grande virtude vossa, passemos ao louvor ou inveja de outra
não menor, admirável é igualmente a qualidade daquele outro peixezinho, a que os latinos chamaram
torpedo. Ambos estes peixes conhecemos cá mais de fama que de vista; mas isto têm as virtudes grandes,
que quanto são maiores, mais se escondem. Está o pescador com a cana na mão, o anzol no fundo e a boia
5 sobre a água, e em lhe picando na isca o torpedo começa a lhe tremer o braço. Pode haver maior, mais
breve e mais admirável efeito? De maneira que, num momento, passa a virtude do peixezinho, da boca
ao anzol, do anzol à linha, da linha à cana e da cana ao braço do pescador.
Com muita razão disse que este vosso louvor o havia de referir com inveja. Quem dera aos pescadores
do nosso elemento, ou quem lhes pusera esta qualidade tremente, em tudo o que pescam na terra! Muito
10 pescam, mas não me espanto do muito; o que me espanta é que pesquem tanto e que tremam tão pouco.
Tanto pescar e tão pouco tremer!
Pudera-se fazer problema; onde há mais pescadores e mais modos e traças de pescar, se no mar ou
na terra? E é certo que na terra. Não quero discorrer por eles, ainda que fora grande consolação para os
peixes; baste fazer a comparação com a cana, pois é o instrumento do nosso caso. No mar, pescam as
15 canas, na terra, as varas (e tanta sorte de varas); pescam as ginetas, pescam as bengalas, pescam os bastões
e até os cetros pescam, e pescam mais que todos, porque pescam cidades e reinos inteiros. Pois é possível
que, pescando os homens cousas de tanto peso, lhes não trema a mão e o braço?! Se eu pregara aos ho-
mens e tivera a língua de Santo António, eu os fizera tremer.
Vinte e dois pescadores destes se acharam acaso a um sermão de Santo António, e às palavras do
20 Santo os fizeram tremer a todos de sorte que todos, tremendo, se lançaram a seus pés; todos, tremendo,
confessaram seus furtos; todos, tremendo, restituíram o que podiam (que isto é o que faz tremer mais
neste pecado que nos outros); todos enfim mudaram de vida e de ofício e se emendaram.
Quero acabar este discurso dos louvores e virtudes dos peixes com um, que não sei se foi ouvinte de
Santo António e aprendeu dele a pregar. A verdade é que me pregou a mim, e se eu fora outro, também
25 me convertera. Navegando de aqui para o Pará (que é bem não fiquem de fora os peixes da nossa costa),
vi correr pela tona da água de quando em quando, a saltos, um cardume de peixinhos que não conhecia;
e como me dissessem que os Portugueses lhe chamavam quatro-olhos, quis averiguar ocularmente a
razão deste nome, e achei que verdadeiramente têm quatro olhos, em tudo cabais e perfeitos. Dá graças
a Deus, lhe disse, e louva a liberalidade de sua divina providência para contigo; pois às águias, que são os
30 linces do ar, deu somente dois olhos, e aos linces, que são as águias da terra, também dois; e a ti, peixe-
zinho, quatro.
Mais me admirei ainda, considerando nesta maravilha a circunstância do lugar. Tantos instrumentos
de vista a um bichinho do mar, nas praias daquelas mesmas terras vastíssimas, onde permite Deus que
estejam vivendo em cegueira tantos milhares de gentes há tantos séculos! Oh quão altas e incompreen-
35 síveis são as razões de Deus, e quão profundo o abismo de seus juízos!
“Sermão de Santo António”, Padre António Vieira,
in Sermão de Santo António e outros textos, Oficina do Livro, 1.ª Ed., agosto de 2008

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› SEQUÊNCIA 2

Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.
1. Insere o excerto na estrutura interna e externa da obra.
2. Reflete sobre a crítica feita aos homens, tendo por base a simbologia do peixe-torpedo.
3. Explicita a alusão a Santo António.
4. Clarifica as interrogações que se coloca o pregador sobre a região do Maranhão, a partir das caracterís-
ticas do peixe quatro-olhos.

B
Comenta a afirmação a seguir apresentada, num texto de oitenta a centro e trinta palavras, baseando-te
nos conhecimentos adquiridos sobre Padre António Vieira e a sua produção literária.

O Padre António Vieira começou a desenvolver importante atividade missionária junto dos índios
brasileiros. E isso faz dele um homem notável. “É o lutador pela liberdade dos índios, nações, culturas
e povos com identidade própria, num tempo em que a regra era precisamente a da escravatura, do-
mínio e subjugação”, aponta Marcelo Rebelo de Sousa.
http://www.rtp.pt

Grupo II

Lê, agora, o seguinte texto.

Em janeiro, a UNESCO publicou um relatório sobre a avaliação global do


programa “Educação Para Todos”. Trata-se de uma avaliação intercalar do
objetivo que tinha sido apontado para que, em 2015, todas as crianças do
mundo tivessem acesso à educação primária. Os resultados são dececionantes.
5 O relatório refere que 72 milhões de crianças estão ainda fora da escola e
que, por este andar, 56 milhões ainda o estarão em 2015. E isto porquê?
Segundo Irina Bokova, diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura (UNESCO), “enquanto os países ricos alimentam a sua recuperação económica, muitos países
pobres enfrentam um cenário iminente de atrasos educacionais. Não podemos permitir-nos criar uma
10 geração perdida de crianças privadas da sua oportunidade de educação, que as poderia elevar do seu es-
tado atual de pobreza”. No mesmo sentido, o coordenador do relatório, Kevin Watkins, escreve: “os países
ricos mobilizam montanhas financeiras para estabilizar os seus sistemas financeiros e proteger a sua in-
fraestrutura social e económica, mas só conseguiram mobilizar pequenas colinas para os pobres do
mundo”. E, na verdade, estima-se que faltam 16 mil milhões de dólares para conseguir atingir o objetivo
15 da educação primária em todo o mundo em 2015.
Estes números e opiniões são eloquentes. (...) A educação é a primeira e essencial condição para a
existência de um desenvolvimento sustentado, contudo, verificamos que muitos Estados não colocam
esta prioridade entre as mais prementes. Por outro lado, os países mais desenvolvidos não apostam sufi-
cientemente em criar as bases que poderão levar os países mais pobres a sair da pobreza. (...) Assim, a
20 retórica de dinamizar o desenvolvimento local nos países pobres, para evitar as desesperadas migrações
para os países mais ricos, não é fundamentada em medidas concretas. (...)
É tempo, pois, de encararmos de que forma um sistema mundial sem solidariedade, sem justiça e
autocentrado tem contribuído para que os países mais pobres não disponham de meios que lhes permitam
assumir os destinos das suas crianças.

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› Outros Percursos... pelos Textos Argumentativos

25 É tempo de pensar que a Educação Inclusiva, para além de uma reforma educacional que se passa
em cada um dos países (ricos ou pobres), é também uma postura ética mundial. Uma postura que recusa
o fatalismo da exclusão escolar ou o acesso a uma Escola tão debilitada que seja incapaz de promover a
mobilidade social.
Já sabíamos que era difícil pensar uma Escola Inclusiva numa sociedade que não o fosse. Sabemos
30 agora, pelos dados deste relatório, que o caminho da inclusão não deve respeitar fronteiras. Não são ape-
nas as crises que são mundiais; as soluções também têm que o ser. (...)
16 milhões de dólares!?...
David Rodrigues, in A Página da Educação, Ed. Profedições, primavera de 2010 (adaptado e com supressões)

1. Seleciona, em cada um dos itens, a opção que permite obter uma afirmação adequada ao sentido do texto.

1.1. A utilização das aspas em “Educação Para Todos” (linha 2) justifica-se por...
a) se tratar de uma frase que não pertence ao autor do texto.
b) ser um título de um livro.
c) ser o nome de um projeto.
d) se referir a uma secção da UNESCO.
1.2. A locução sublinhada em “para que, em 2015, todas as crianças do mundo tivessem acesso à edu-
cação primária”(linhas 3-4) introduz uma oração...
a) final.
b) consecutiva.
c) concessiva.
d) completiva.
1.3. Em “Os resultados são dececionantes.” (linha 4), a palavra sublinhada desempenha a função sin-
tática de...
a) complemento direto.
b) sujeito.
c) predicativo do complemento direto.
d) predicativo do sujeito.
1.4. O constituinte sublinhado em “que as poderia elevar do seu estado atual de pobreza” (linhas 10-11)
substitui o grupo nominal...
a) “oportunidade de educação.”
b) “crianças.”
c) “geração.”
d) “geração perdida.”
1.5. No segmento textual “os países ricos mobilizam montanhas financeiras” (linhas 11-12), a palavra
sublinhada desempenha a função sintática de...
a) modificador apositivo do nome.
b) modificador restritivo do nome.
c) predicativo do sujeito.
d) complemento direto.

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› SEQUÊNCIA 2

1.6. O tipo de sujeito em “Estes números e opiniões são eloquentes.” (linha 16) é...
a) composto.
b) simples.
c) nulo expletivo.
d) nulo indeterminado.
1.7. O recurso retórico presente na expressão “… um sistema mundial sem solidariedade, sem justiça
e autocentrado” (linhas 22-23) é uma...
a) metáfora.
b) adjetivação.
c) enumeração.
d) perífrase.

2. Faz corresponder a cada um dos cinco elementos da coluna A um elemento da coluna B, de modo a
obteres afirmações verdadeiras.

COLUNA A COLUNA B

2.1. Com a utilização da construção a) o enunciador pretende exprimir, simultaneamente,


sintática “enquanto os países perplexidade e incredulidade.
ricos…” muitos países pobres” b) o enunciador socorre-se de um verbo transitivo
(linhas 8-9), … indireto.
2.2. Ao utilizar o complexo verbal c) o enunciador destaca a realização em simultâneo de
“Não podemos permitir-nos duas ações.
criar…” (linha 9), … d) o enunciador utiliza a modalidade deôntica com valor
2.3. Na expressão “Estes números de proibição.
e opiniões são eloquentes.” e) o enunciador emprega um verbo copulativo.
(linha 16), … f) o enunciador utiliza um marcador discursivo com valor
2.4. Na expressão “Assim, a retórica conclusivo.
de dinamizar…” (linhas 19-20), … g) o enunciador pretende exprimir interesse e
persistência.
2.5. Com a pontuação do
parágrafo final (linha 32), … h) o enunciador utiliza um marcador discursivo com
valor consecutivo.

Grupo III

Ao longo da História são diversos os exemplos de povos ou grupos discriminados em virtude da


etnia a que pertencem, da religião que professam, da opinião política que defendem.

Tendo presente a sociedade tua contemporânea, apresenta uma reflexão sobre este tema.
Redige um texto expositivo-argumentativo, com duzentas a trezentas palavras, onde fundamentes
o teu ponto de vista com dois argumentos e com, pelo menos, um exemplo significativo.

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